segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Lição 8: Uma Aliança superior



EM CONSTRUÇÃO



 Comentário de Hebreus 8.1
 o
 capítulo sete, o autor detalhou a relação entre a ordem sacerdote  Melquisedeque e o sacerdócio de Jesus, sempre contrastando  com o sacerdócio levítico. Ele tem consciência de que o assunto parecia envolto em abstrações, razão essa que, neste capítulo, ele começará a mostrar as implicações práticas do sacerdócio de Jesus.
“Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade” (v. 1). Em primeiro lugar, destaca o autor, nosso Sumo Sacerdote está assentado à destra do "trono da Majestade". Na cultura judaica, essa era outra forma  de dizer que o sacerdócio de Jesus possuía realeza. Essa é a mesma linguagem usada no Salmo 110, que é uma poesia profética sobre o sacerdócio do Messias. A expressão “assentado nos céus” é outra forma de dizer que Cristo terminou, de fato, a obra da redenção e que estava de vez qualificado para ser Sumo Sacerdote.
       “Ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem" (v. 2). F. F. Bruce observa que, daqui para frente, o autor passa a discorrer sobre os temas da aliança, santuário e sacrifício, que estavam intimamente ligados ao sacerdócio arônico. Dessa forma, o sacerdócio arônico dá lugar àquele que é segundo a ordem de Melquisedeque; o antigo pacto dá lugar ao novo, e o santuário terrestre é substituído pelo celeste.1 Esse novo santuário, que é parte do verdadeiro tabernáculo, é obra de Deus, e não do homem. Embora esse novo santuário não seja revestido de materialidade, como era o santuário terrestre, ele é muito mais real e glorioso.
Richard Taylor destaca que
"o tabernáculo celestial está em contraste com o terreno, como o espiritual está em contraste com o material, o tabernáculo terreno era rico em seu apelo material, mas pobre em sua habilidade de mudar ou satisfazer a alma em seu relacionamento pessoal com Deus. O tabernáculo celestial, em contraste, é privado de esplendor terreno e materialidade, mas completo em sua substância espiritual”.2
        É nesse tabernáculo celeste que os cristãos podem agora ser apresentados diante de Deus pelo Sumo Sacerdote, Jesus. Ele, portanto, é o ministro desse verdadeiro santuário celestial. A palavra grega leitourgos, traduzida aqui como ministro, ocorre cinco vezes no texto grego.3 Na Septuaginta, versão que o autor recorre com frequência, era usada para referir-se ao serviço sacerdotal. No Novo Testamento, a sua forma verbal foi usada no contexto da adoração cristã: “Enquanto eles ministravam (leitourgeo) perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Bamabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2). Esse fato revela que Jesus, ao contrário do sistema sacerdotal levítico, que se tomara obsoleto, continua seu serviço em favor dos filhos de Deus.
        "Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer” (v. 3). O autor já havia discorrido sobre dons e sacrifícios em Hebreus 5.1. Aqui, ele aponta em que sentido a sua argumentação avançara daqui para frente. O sacerdote levita oferecia as ofertas de cereais no santuário, as quais eram usadas como uma forma de agradecimento e consagração a Deus. Por outro lado, os sacrifícios são uma referência às ofertas de sangue, que fazia expiação pelo pecado. No capítulo 7.27, o autor já havia falado que a oferta oferecida por Jesus fora sua própria vida.
        “Ora, se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons segundo a lei" (v. 4). A construção verbal usada aqui (imperfeito do indicativo ativo) demonstra que o sistema sacerdotal levítico ainda estava em vigor quando o autor redigiu sua carta.4 Por outro lado, esse versículo mostra a incompatibilidade existente entre as duas ordens sacerdotais — Levi e Melquisedeque. Ambas não podiam coexistir uma ao lado da outra. Embora se tenha tomado obsoleta — pois uma nova ordem sacerdotal havia sido estabelecida — , o sistema sacerdotal levítico ainda continuava em vigor nos dias em que o autor redigia sua carta. A lógica é simples: se Jesus não podia oficiar como sacerdote aqui na terra, visto não ser Ele da tribo de Levi, e havia ainda os que exerciam esse ministério, o seu oficio só poderia ser exercido no tabernáculo celestial. Logo, isso tornava totalmente antiquado todo o sistema sacerdotal levítico.
       Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que, no monte, se te mostrou” (v. 5). O autor usa os termos gregos hypodeigma e skia, traduzidas aqui como exemplo e sombra respectivamente. Mas os termos figura e sombra refletem melhor o original. Alguns intérpretes têm argumentado que o autor de Hebreus tomou emprestado do platonismo judaico alexandrino as figuras de um santuário celeste, onde o terrestre é apenas uma sombra. Nos seus diálogos, Platão descreve um mundo ideal do qual o mundo físico seria apenas uma cópia imperfeita, o que ele denominava de simulacro. Todavia, é possível percebermos claramente na argumentação do autor de Hebreus que há um pano de fundo cultural hebraico, e não grego. Isso é perfeitamente visto quando vemos Deus dizer a Moisés para fazer o Tabernáculo de acordo com o modelo (gr. typos) que o profeta vira no monte (Êx 25.40). Moisés, e não Platão, serviu de inspiração para o autor dessa carta. Donald Guthrie observa acertadamente que cada detalhe exposto na sombra, que era um tipo, tinha o propósito de aproximar-se da realidade, isto é, do antítipo. Nesse aspecto, o autor tencionava mostrar por contraste a maior excelência com que o santuário celeste revestia-se.5
        “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas" (v. 6). O autor continua fazendo o contraste entre o sacerdócio levítico e o de Cristo. Não sendo apenas uma sombra, mas a própria realidade, o ministério de Cristo é mais excelente do que o levítico em tudo. A palavra “alcançou” traduz o termo grego tynká- nô, que mantém o sentido de obter, receber e conseguir. Ao usar esse verbo no tempo perfeito, que é uma referência a uma ação passada com efeitos no presente, o autor tenciona mostrar que o ministério de Jesus continuava em pleno exercício quando ele redigia seu texto. Mais uma vez aqui, como fizera em 8.2, o autor usa a palavra leitourgia (liturgia) em referência ao serviço, ministério e serviço sagrado.6 Nesse ministério sagrado, Cristo é o mediador de uma melhor aliança. Ele é a ponte entre o homem e Deus, tomando desnecessária a existência de intermediários. A superioridade das promessas da Nova Aliança em relação à antiga não são em relação à garantia de cumprimento, mas, sim, ao conteúdo. Deus sempre cumpriu suas promessas, tanto na Antiga Aliança como na nova. Todavia, na cruz do Calvário, Ele proveu uma aliança substancialmente superior à antiga.
       “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo" (v. 7). O contexto do cristianismo primitivo mostra o conflito entre judaizantes e cristãos. Os primeiros, como demonstra o livro de Atos dos Apóstolos no capítulo 15, insistiam em manter de pé as crenças e práticas do antigo judaísmo. Por outro lado, o segundo grupo, representado pelos apóstolos, via que algumas práticas existentes dentro dessas duas tradições eram mutuamente excludentes. O autor tem consciência do peso que essa tradição judaica possuía dentro da comunidade judaico-cristã para a qual ele endereçaria sua carta. Ele não procura desvalorizar a Antiga Aliança, pois sabe que a mesma teve sua finalidade; todavia, ela era imperfeita e incompleta, possuindo um papel transitório. Esse fato já havia sido revelado pelos profetas quando Deus disse que substituiria o primeiro concerto por um segundo.
      “Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto” (v. 8). A promessa do estabelecimento de um novo concerto fora feita pelo Senhor ao profeta Jeremias (Jrí31.31-34). A partir das Escrituras do Antigo Testamento, o autor detnonstra que esse novo pacto havia sido estabelecido com Cristo. A expressão grega syntelesô epi ton oikon Israel, traduzida aqui como "estabelecerei minha aliança com a casa de Israel”, demonstra a disposição de Deus em cumprir o seu plano salvífico em favor de seu povo.7
       “Não segundo o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquele meu concerto, eu para eles não atentei, diz o Senhor” (v. 9). Orton Wiley põe em evidência a superioridade da Mova Aliança em relação à Antiga.
1. A primeira Aliança era falha; a nova é perfeita. A primeira era temporária e feita com vistas a Outro que havia de vir; a segunda é a expressão final e duradoura da graça de Deus.
2. A Antiga Aliança era e tratava com os homens coletivamente; a segunda trata com o indivíduo e fundamenta-se, afinal, na promessa feita a Abraão pessoalmente e à sua semente, como indivíduos.
3. A aliança anterior relacionava-se às coisas materiais e baseava-se em promessas seculares. Devia haver uma herança material, a terra de Canaã. O Senhor entregaria os inimigos do seu povo na mão deste e alargaria as suas fronteiras. A nova aliança é espiritual, pois as coisas materiais não podem satisfazer a alma do homem.
 4. A aliança mosaica estabeleceu um padrão ou regra de vida, mas não podia dar o poder nem a disposição para obedecer aos mandamentos que Deus impunha ao Seu povo. Pela nova aliança, a Lei de Deus é escrita interiormente no coração do homem; assim, não apenas ilumina a mente com a possibilidade de conhecer ao Senhor, mas proporciona a disposição para a obediência interior.
 5. A antiga aliança não podia, com suas ofertas contínuas, remover o pecado. Os sacerdotes ofereciam o que nada lhes custara. A nova aliança foi estabelecida por Cristo, que se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (Hb 9.26 - ARA).
6. A antiga aliança se limitava aos filhos de Abraão segundo a carne; a nova é universal em seu escopo, pois os que são de são descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl 3.29). Visto que a fé real era a única condição da aceitação de Abraão, é, portanto, a única condição exigida dos filhos espirituais desse patriarca. A aliança mosaica, com suas obras, é posta de lado para sempre como condição básica de aceitação da parte de Deus: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4.16a - ARA).8
        “Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, farei com a casa de Israel, diz o Senhor: porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo” (v. 10). A promessa de uma aliança superior, onde a Lei de Deus seria gravada por dentro, e não por fora, encontra eco em outras partes do Antigo Testamento: “E vos darei um coração novo a porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juizes, e os observeis” (Ez 36.26,27).
        Fritz Laubach observa que
"a inacreditável novidade desta aliança reside em que a obediência à Palavra de Deus será concretizada integralmente, porque todos os membros do povo de Deus sem exceção possuirão o entendimento correto de Deus. A antiga lei de Moisés estava escrita em tábuas (Êx 31.18; 34.27,28) ou num livro (Êx 24.7). Ela se contrapunha ao povo como um poder que demandava. Agora, porém, todos os membros desse povo de Deus trazem essa lei no coração, estão interiormente unificados com ela, de maneira que coincidem num só ato o conhecimento da lei e o seu cumprimento”.9
        “E não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior” (v. 11). A Antiga Aliança, rica em símbolos, porém pobre em produzir relacionamento com Deus, é substituída pela Nova Aliança. Na Nova Aliança, todos têm a oportunidade de conhecer o Senhor. Esse fato toma-se possível porque o Espírito Santo, que, na Antiga Aliança, se manifestava sobre pessoas especiais — profetas, sacerdotes e reis — viria sobre toda carne.
         "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos” (At 2.17). O apóstolo Paulo escreveu uma longa exposição à igreja de Corinto, mostrando como se davam essas manifestações espirituais no contexto da igreja (1 Co 12-14). Se, na Antiga Aliança, somente o profeta falava em nome de Deus, na Nova Aliança, embora existindo ainda o ministério profético (Ef 4.11), o dom da profecia estava disponível a todos os crentes (1 Co 14.31). O apóstolo João afirma essa mesma verdade quando diz: "E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1 Jo 2.27).
         “Porque serei misericordioso para com as suas iniquidades e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais" (v. 12). A Antiga Aliança sobrevivia de sombras. Dessa forma, o problema do pecado jamais fora tratado de uma forma completa. Na Nova Aliança, por estar fundamentado em um superior sacrifício, o de Cristo, o problema do pecado é totalmente tratado. Esse versículo mostra a grandeza da graça e a misericórdia divina em tratar com o problema do pecador, mesmo esse não sendo merecedor de coisa alguma nem tampouco capaz de alguma coisa por si mesmo. Paulo afirma essa mesma verdade: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.13,14).
        “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tomado velho e se envelhece perto está de acabar" (v. 13). O sistema de sacrifí­cios ainda continuava em vigor quando o autor de Hebreus escreveu essas palavras. Todavia, como um autor inspirado, ele sabia que, espiritualmente, tudo aquilo já havia sido destituído de valor. Uma Nova Aliança, que era a própria realidade e cumprimento das promessas e da qual a Antiga Aliança era apenas um tipo, havia sido estabelecida uma vez por todas.

A Supremacia de Cristo


A Excelência da Nova Aliança em CRISTO


O MINISTÉRIO SUPERIOR E A NOVA ALIANÇA
Nos capítulos anteriores, o autor da Epístola provou a necessidade de uma nova ordem de sacerdócio, baseado escrituristicamente sobre as alusões a Melquisedeque, Testamento. Demonstrará agora a necessidade de uma nova ordem de serviço, fundada em uma comparação entre Arão e CRISTO. Esta nova seção é geralmente considerada como se estendendo de Hebreus 8.1 a 10.18 e inclui uma análise dos dois ministérios (Hb 8.3-6); as duas alianças ou dispensaçóes (Hb 8.7-13); os dois tabernáculos (Hb 9-1-12); as duas ofertas (Hb 9.13-28); e os dois sacrifícios (Hb 10.1-18). Devem ser considerados também os dois véus (Hb 10.19-22), mas estes versículos em geral são classificados na seção exortativa. O presente capítulo será analisado dentro das quatro divisões seguintes: a transição; o Ministro do santuário; o Mediador da aliança superior; e as provisões da nova aliança.

A TRANSIÇÃO
O escritor de Hebreus, tendo sintetizado o pensamento dos capítulos anteriores a respeito da perfeição do sacerdócio de CRISTO, passa imediatamente a uma análise da perfeição do Seu ministério.
Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra do trono da Majestade nos céus. (Hebreus 8.1)
Estes versículos de transição a respeito da realeza e do sacerdócio de CRISTO são baseados no Salmo 110. lb,4b: Assenta-te à minhn mao direita, até que ponha os teus inimigos por escabelo dos teus pés. Tu es um sacerdote eterno, segundo a ordem de Melquisedeque (v. 4b).

1. Ora, o essencial das coisas que temos dito é que possuímos tal sumo sacerdote ( H b 8 .1)
A palavra kephalaion tem sido interpretada pelos comentadores, tanto os antigos como os modernos, de duas maneiras direrentes: (1) como suma, no sentido de sumário [como vemos na arc: Ora, a suma do que temos dito]; e (2 ) como * essencial, no sentido de ponto principal do argumento [como vemos na a r a : Ora, o essencial das coisas que temos dito], Vaughan viu a última interpretação como um ponto-chave e
assim interpreta esta porção do versículo: "Como ponto capital das coisas que estão sendo ditas”; ideia que constitui a pedra angular do pensamento; e ainda como “ponto principal que coroa nossa exposição. Este ponto supremo éexpresso nas palavras: possuímos tal sumo sacerdote.
A palavra tal significa a dignidade e a glória da pessoa de CRISTO, anteriormente descrito como santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e mais sublime do que os céus (Hb 7.26). É um Sacerdote tal
que nos convém, que é próprio para nós. Gloriosa como é esta verdade, não  raro é considerada meramente como exposição doutrinária, e não como método prático de vida. O autor da Epístola, porém, não está tratando de abstrações, revelando ao coração de seus irmãos e a toda a humanidade a plenitude da salvação que provém de DEUS e procurando orientar convencionalmente a sua fé. Ele deseja que compreendam que, se pela confissão que fizeram do Senhor crucificado, que ressuscitou e ascendeu aos céus, tornaram-se proscritos da comunidade de Israel e já não mais sáo considerados fiéis quanto às ministraçôes no templo terreno, não ficaram, por isso, sem o eterno Sumo Sacerdote de sua confissão, que ministra no santuário celestial. Ministrando nos céus, tudo o que JESUS é e faz é celestial; e esta vida celeste JESUS revela ao coração do Seu povo', habitando nele mediante o Seu ESPÍRITO SANTO. O trono a destra da Majestade, nas alturas (Hb 1.3) não deve mais, portanto, ser contemplado à distância e com temor; ao contrário, o povo é levado a aproximar-se de DEUS com afeição filial. O nosso Sumo Sacerdote é tal que podemos fazer entrega total de nossa vida a Ele e viver, dia a dia, mediante a Sua intercessão sacerdotal. Temos tal sumo sacerdote não apenas em teoria, mas em experiência pessoal, e por Ele vivemos na presença de DEUS dentro do SANTO dos Santos, além do véu.

2. Que se assentou à destra do trono (Hb 8.1b ara)
As declarações feitas a respeito do Sumo Sacerdote e Seu ministério parecem ter sido agrupadas de modo a serem imediatamente assimiladas e relacionadas umas com as outras. Daí termos o trono, a majestade e os céus, que representam a Sua autoridade real; e estão intimamente relacionadas às Suas funções sacerdotais no verdadeiro tabernáculo, igualmente nos céus. As palavras que se assentou a destra do trono sugerem um ato voluntário de Um que assume o trono em virtude da tarefa realizada ou de um alvo plenamente atingido; ao passo que à destra sugere lugar de honra e poder, bem como de satisfação e deleite. O direito de CRISTO ao trono é a recompensa de Sua realização pessoal. Vimos que o Filho tornou-se Homem e, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra, para que, pela graça de DEUS a dignidade e autoridade de rei; como Rei, administra a aliança feita conosco nos dias da Sua humilhação. Corno Sumo Sacerdote, na Sua humanidade glorificada, Ele representa o homem para DEUS e, na Sua natureza divina, Ele simboliza DEUS para o homem. Tudo o que faz, quer como Sacerdote, quer como Rei, é celestial. E esta vida celestial Ele nos comunica por intermédio do ESPÍRITO. Assim é que estabelece dentro do coração do Seu povo o Remo dos céus, o qual, em seu estágio inicial, é descrito com o justiça, e paz, e alegria no ESPÍRITO SANTO (R m 14.17).
Como ministro do santuário e do verdadeiro tabemáculo que o Senhor erigiu, não  o homem. Hebreus 8.2. Tendo sido apresentado o aspecto real de CRISTO, a atenção é agora dirigida para o Seu sacerdócio ideal. Ele é ministro do santuário e do verdadeiro tabemáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem (Hb 8.2). Embora assentado à destra do trono de DEUS, CRISTO é ainda Sacerdote, revestido de autoridade real; Rei com a paciente benignidade de um Sacerdote. O sacerdote não  deve apenas trazer a oferta; deve também ministrar num santuário, um local de aproximação de DEUS. O santuário de CRISTO está nos céus, no verdadeiro tabemáculo que DEUS erigiu. Ministra CRISTO conforme as realidades espirituais do céu, e ali representa Seu povo e leva-o à presença de DEUS mediante o ESPÍRITO. O vocábulo grego para santuário em Hebreus 8.2 não é o termo comum ho naos (ó v a ó ç), mas ton hagion (tc ü v áyícov), dos santos-, e, visto que as funções sacerdotais de CRISTO estão em conformidade com todas as manifestações da presença  divina, acrescenta-se o termo mais genérico skenes, tabemáculo. Disse Westcott: “A idéa geral éa da imediata presença de DEUS e a cena de Sua manifestação aos que o adoravam. Tendo CRISTO entrado no SANTO dos Santos pelo Seu próprio sangue, o autor da Epístola mostrará, depois, que Ele preparou um novo e vivo caminho para o Santíssimo e habita além do véu. Nós também podemos entrar pelo Seu sangue ali, onde habita a presença santificadora do ESPÍRITO SANTO. É para termos essa vida de santidade que o escritor de Hebreus nos insta a entrar.

1 . O sumo sacerdote e sua oferta
Pois todo sumo sacerdote é constituído para oferecer tanto dons como sacrifícios; por isso, era necessário que também esse sumo sacerdote tivesse o que oferecer. Hebreus 8.3 ara.
Segue-se, portanto, que CRISTO, sendo Sumo Sacerdote, deve ter o que oferecer, e o escritor de Hebreus nos disse, de modo preliminar, que esta oferta é Ele mesmo (Hb 7.27). Mas será apenas quando tomar o assunto do tabernáculo maior e mais perfeito que o autor da Epístola completará o seu pensamento e apresentará, de maneira adequada, a oferta suprema de CRISTO. E o que faz sob o simbolismo do grande Dia da Expiação, de modo que Levítico 10 deverá estar sempre associado a Hebreus 9 e 10, sendo o primeiro o capítulo central da expiação no Antigo Testamento, e os segundos os importantes capítulos neotestamentários da expiação. E interessante observar que, no texto grego de Hebreus 8.3, evidencia-se uma verdade crucial, nem sempre perfeitamente reconhecida nas traduções inglesas. A palavra prospherein, oferecer, na acepção aplicada aos sacerdotes judeus, é um iterativo, infinito presente, para expressar que eles levavam as suas ofertas repetidamente, jamais cessando de levá-las todos os anos. A palavra, contudo, aplicada à oferta de CRISTO é prosenegkei, do mesmo radical, mas aqui usado no subjuntivo aoristo e, portanto, de sentido meticuloso, significando apenas uma oferta de JESUS, sem repetição desse ato. Este fato o autor da Epístola trata mais integralmente nos capítulos 9 e 10.

2. O santuário celestial
O versículo seguinte assinala um passo adiante no progresso do argumento: Ora, se ele estivesse na terra, nem mesmo sacerdote seria, visto existirem aqueles que oferecem os dons segundo a lei (Hb 8.4 a r a ) . Os sacerdotes levitas eram divinamente designados para servir no tabernáculo terreno; por isso, teria sido ilegal que outro, ainda que superior a eles, servisse em seu lugar. O argumento é este:
1. CRISTO não poderia ser Sacerdote na terra, pois não pertencia à linhagem levítica. O escritor é enfático: [pela Lei], Ele não seria sacerdote de nenhuma espécie, muito menos sumo sacerdote, incumbido tão- somente daprosphora, a oferta do sangue no SANTO dos Santos no grande Dia da Expiação.
2. Os dons e sacrifícios dos sacerdotes levitas eram também prescritos pela Lei Mosaica, entendendo-se que esta era de autoridade divina para a instituição como um todo, incluindo o ritual, bem como o dever. Visto que JESUS não poderia ser Sacerdote na terra, nem a Sua oferta ser aceitável no tabernáculo terreno, é muito evidente que o Seu sacerdócio superior demandava um santuário celeste, e a Sua oferta o maior e mais perfeito tabernáculo (Hb 9.11 ara) . Assim, a necessidade do santuário celeste é apresentada pela ineficiência e impropriedade do tabernáculo terreno.

3 . O original e a sombra
Continua a progredir o pensamento do autor da Epístola quanto aos sacerdotes levitas, os quais ministram em figura e sombra das coisas celestes, assim como fo i M oisés divinam ente instruído, quando estava para construir o tabernáculo; pois diz ele: Vê que faças todas as coisas de acordo com o modelo que te fo i mostrado no monte (Hb 8.5 ara) . Nesse versículo, há uma referência a Êxodo 25.9,40, onde se acha claramente expresso que o tabemáculo e o seu mobiliário, revelados a Moisés, eram apenas uma cópia do que lhe fora mostrado no monte. O santuário celeste é que é o original; o terreno era apenas cópia ou sombra. Por esta razão, o autor da Epístola descreve os sacerdotes levitas como prestando serviço em um reino de sombras e em um santuário feito por mãos humanas. Conquanto o serviço do tabemáculo terreno fosse apenas sombra da realidade celeste, era pelo menos isso. Seus sacerdotes simbolizavam o grande Sacerdote, e seus sacrifícios, o sacrifício de CRISTO na cruz.
O escritor de Hebreus sugere ainda que, como havia um sacerdócio com um sistema de sacrifícios instituídos por Moisés, assim deve haver um Sacerdote no santuário real (Hb 8.1), e Aquele que o ocupa deve ter o que oferecer (Hb 8.3). Os verdadeiros fatos, portanto, são um Sumo Sacerdote segundo a ordem eterna, um santuário celeste e uma oferta aceitável a DEUS. Esta última, como já vimos, era CRISTO, que, mediante o ESPÍRITO eterno, ofereceu-se sem mancha a DEUS.

4 . Uma apologética cristã
Os versículos precedentes oferecem uma forte apologia da doutrina cristã em oposição ao judaísmo. Os judeus poderiam argumentar: (1) que o culto da tradição de Aráo, com seu esplêndido ritual, tinha sido a sua inspiração desde a infância; (2) que o Sacerdote cristão estava tão aíàstado e invisível, que nada havia para inspirar adoração. Contudo, como lembrou o bispo Chadwick: “A forç e a magia de um culto pomposo, um conjunto complicado de vestes e incenso e um sacrifíio visíel, exerceram sempre influêcia sobre a Igreja, e ela, não raro, tentou incorporálos aos seus prórios méodos”. O escritor da Epístola aponta para um caminho melhor. Este caminho superior coloca o espiritual em oposição ao magnificente e enfrenta todas essas influências com uma fé vivificante no invisível, até que a oferta de CRISTO se torne mais solene porque oferecida além do véu; é grandiosa demais, na verdade, para ter como cenário a terra. CRISTO está onde o salmista predisse que Ele estaria, assentado à destra de DEUS e invisível a nós, porque subiu àquele assento terrível na luz inacessível e ali permanecerá até que os Seus inimigos sejam postos debaixo dos Seus pés (cf. SI 110.1).
O Mediador de uma aliança melhor
O autor da Epístola leva a sua discussão ao clímax, quanto ao ministério de CRISTO, com as palavras: Agora, com efeito, obteve JESUS ministério tanto mais excelente, quanto é ele também Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas (Hb 8.6). Este versículo assinala a transição não para um estudo da oferta ou do santuário, mas para CRISTO como Mediador de uma aliança melhor. O autor da Epístola já falara de CRISTO como o Fiador da aliança, pelo que se entende a garantia de sua validade; falara também de CRISTO como o Ministro do santuário celeste pelo qual devemos achegar-nos a DEUS. Fala agora de CRISTO como o Mediador de uma aliança superior, sem o qual o homem pecaminoso não  resistiria na presença de DEUS.

1. CRISTO como o Mediador de superior aliança
Agora, com efeito, obteve JESUS ministério tanto mais excelente, quanto é ele também M ediador de superior aliança... Hebreus 8.6 aara
Disse o Dr. Pope: Nenhuma idéia é mais fundamental na teologia cristã do que a da intercessão; e nenhuma tão obviamente depende, para uma concepção adequada, de sua relação com a Pessoa única e indivisível de CRISTO. Com referência ao nosso presente propósito, a palavra pode ser analisada sob três aspectos. Na união de Suas naturezas humana e divina, nosso Senhor é, no mais profundo sentido da palavra e em virtude de Sua natureza dupla, um Mediador, mas isto somente por causa da reconciliação intercessória das duas partes mediante o Seu sacrifício como um terceiro entre os dois. E, combinando estes, Sua pessoa encarnada é a Mediadora da aliança cristã em todos os seus atos. Por isso, a nossa doutrina pode relacionar-se com a encarnação, a expiação e o ministério redentor de CRISTO. (Pope, The Person of Christ, p. 43)
Seguindo o esboço feito por esse escritor e colocando em proeminência parte do rico pensamento dele a respeito da importância do Mediador, ressaltamos que:
1 — Na encarnação, a intercessão encontra o seu significado mais alto e mais pleno. A natureza humana é realmente levada à comunhão com o Ser divino na pessoa de CRISTO. Na união de DEUS com o homem, a paz se torna “uma realidade consumada e bendita”. Nunca é demais salientar isto, contanto que apenas nos lembremos de que o penhor eterno de reconciliação foi dado ao homem tãosomente no pressuposto de uma expiação, que, na natureza humana, CRISTO ofereceria pela nossa raça. (Pope, The Person of Christ)
2 — CRISTO, sendo DEUS e Homem em uma só pessoa, tornou-se o Reconciliador, pois a natureza humana que assumiu Ele ofereceu como sacrifício na cruz do Calvário para fazer expiação pelos pecados do povo. A Sua natureza humana, portanto, tornou-se o instrumento, bem como o penhor de nossa redenção. Este, porém, é o mistério da pessoa intercessória: que cada natureza dá a sua própria virtude à obra propiciatória, ao passo que essa virtude é o resultado de sua intervenção como terceira pessoa [como mediadora]. [Essa pessoa intercessora] E divina em seu valór, humana em seu caráter apropriado, divino- umana ao reconciliar DEUS e os homens. (Pope, The Person of Christ)
A divindade da pessoa divino-humana de CRISTO confere à oferta que Ele apresentou na cruz um valor e uma aceitaçáo ilimitados; a própria Oferta foi o preço de resgate pago “naquele ouro fino do santuáio, a Sua vida” (Pope, The Person of Christ).
3 — CRISTO se tornou, assim, o nosso Redentor vivo. A Sua oferta, no sentido mais elevado, foi um sacrifício vivo, pois a Lei do Seu ser foi tal que, mesmo morrendo, Ele voltou a viver. Este é o aspecto mais amplo da intercessão “que representa a Pessoa de CRISTO realizando, na terra e no cé, a uniã entre DEUS e os homens” (Pope, The Person of Christ). Elevamo-nos, se tal palavra pode ser usada, da encarnação como penhor de paz e da expiação como a redenção desse penhor, para o ministério intercessório do próprio Senhor, no qual ambas se acham unidas. (Pope, The Person of Christ).

2. As superiores promessas
Mediador de superior aliança instituída com base em superiores promessas. Hebreus 8.6b ara
A primeira aliança foi estabelecida sobre promessas humanas de obediência à Lei, contudo, como observa o apóstolo Paulo, isto falhou por causa da fraqueza da carne (Rm 8.3). A nova aliança se baseia em melhores promessas, isto é, nas promessas de DEUS unicamente, e estas confirmadas por juramento. Trata-se, pois, de uma aliança da graça, em vez de aliança das obras, em que a fidelidade de DEUS substitui a fraqueza humana. Contudo, ao falar da primeira aliança, deve-se ter em mente que, anteriormente à mosaica, houve outras:
1. Houve, primeiro, a aliança tácita entre Criador e criatura, assumindo DEUS certas responsabilidades para com o homem e impondo-lhe as correspondentes obediência e confiança (Gn 1.26-30; 2.16,17).
2. A primeira aliança [oficialmente] expressa foi com Noé (Gn 9.8-17), cujo sinal foi o arco-íris. Enquanto houvesse arco-íris, a aliança permaneceria.
3. A seguinte foi feita com Abraão e a sua semente, e era de natureza pessoal, dada na qualidade de uma promessa e condicionada à fé. Esta aliança foi comentada por Paulo: A Lei, que veio quatrocentos e trinta anos depois, não a pode ab-rogar, de form a que venha a desfazer a promessa (G1 3.17 a r a ) .
4. A posterior foi a mosaica, que foi a primeira aliança nacional. Por esta razão, é conhecida como a primeira ou a antiga aliança, embora, talvez, o significado fosse mais exato se a palavra prote, tivesse sido traduzida como anterior. Contudo, era comum em grego que o termo primeiro fosse usado em contraste com deutera, e isto poderá explicar a sua acepção aqui.

3. O insucesso da primeira aliança
Porque, se aquela primeira aliança tivesse sido sem defeito, de maneira alguma estaria sendo buscado lugar para uma segunda. E, de fato, repreendendo-os, diz: Eis a í vêm dias, diz o Senhor, e firm arei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Hebreus 8.7,8
O autor da Epístola observou que a primeira aliança foi falha e que isso ofereceu motivo de buscar-se uma nova. Para as palavras repreendendo-os (Hb 8.8), há duas versões ou variantes: a primeira é autous (aúxoíç), que em nossa traduçáo aparece como o pronome átono os [= a eles]; a segunda é a forma neutra autois (auxoíç), encontrada no texto do Vaticano. De acordo com a primeira variante, a falha da antiga aliança seria devido aos israelitas somente; de acordo com a segunda [palavra, autois], no neutro, a alusão seria aos particulares da Lei, que não  podem levar à consumação os desígnios de DEUS para a humanidade. Que uma das falhas residia na desobediência "humana, está claramente expresso no pronunciamento divino: Como não permaneceram naquele meu concerto, eu para eles não atentei, diz o Senhor (Hb 8.9b). Contudo, visto que se buscava uma nova aliança, é evidente que a antiga era deficiente em certo grau, o que se verifica sob dois aspectos: (1) não  tinha poder para habilitar os homens a cumprir a obediência requerida; (2) não podia apagar os pecados que se seguiam à desobediência dos votos da aliança. Era inadequada e, embora concedida divinamente, não era o desígnio final de DEUS para o homem. Sendo assim, a realização de uma nova aliança deve ser interpretada como definitiva e na efetivação da qual deve estar incluída a consumação final. Esta consumação CRISTO realizou quando, por Seu próprio sangue derramado na cruz do Calvário, Ele entrou no SANTO dos Santos celeste e tornou-se o nosso Sumo Sacerdote para sempre.

4. O oráculo do Antigo Testamento e a nova aliança
Indicar que a aliança de DEUS com Moisés deveria ser rebaixada pelo valor de outra posterior pareceria, para a maior parte dos judeus, nada menos que sacrilégio. Perguntariam eles: “Como se poderia dizer que a primeira aliança não era infalíel quando se sabia que fora concedida por ordenaçã divina?” O autor da Epítola tem de sustentar a sua tese por uma citação das prórias Escrituras hebraicas e, para isso, recorre ao oráulo de Jeremias, que declara: Eis aí vêm dias, diz o Senhor, em que firm arei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá (Hb 8.8 ara; cf. Jr 31.31 ara) . Deve-se observar que essas palavras não são mera inferência do oráculo, mas a própria declaração de DEUS. DEUS mesmo diz: Firmarei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judd\ daí o autor da Epístola argumenta que, se a primeira aliança tivesse sido perfeitamente adequada, não haveria necessidade de uma segunda. A nova aliança é, pois, superior por operar uma experiência interior real de santidade mediante o dom do ESPÍRITO SANTO, não se limitando a uma nação; podendo ser difundida universalmente. Paulo mencionou esses pontos quando disse que a Lei estava enferma pela carne (Rm 8.3) e os que são da f é são filhos de Abraão e, portanto, herdeiros das promessas (Gl 3.7). Declarou ainda que a bênção de Abraão, que veio sobre os gentios por JESUS CRISTO, foi para que, pela fé, nós recebamos a promessa do ESPÍRITO (Gl 3.14). Em suma, a nova aliança ocupa um lugar não preenchido pela primeira e abrange toda a vontade de DEUS para os homens.

5. Comparação entre antiga e nova alianças
Efirm farei nova aliança com a casa de Israel e com a casa de Judá. Não segundo a aliança que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os conduzir até fora da terra do Egito; pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor. Hebreus 8.8b,9 ara
A expressão não segundo deve ser compreendida no sentido de não à semelhança de ou não na escala da primeira aliança. A nova não deveria nem mesmo assemelhar-se à antiga, sendo de uma natureza inteiramente diversa. As palavras com seus pais transmitem a ideia de um benefício para os pais. Já a frase no dia em que os tomei pela mão evoca a ideia do ato de estender a mão a uma criança ou pessoa idosa. Sugere que a aliança feita com Israel por intermédio de Moisés foi estabelecida com um povo imaturo e não era o plano definitivo de DEUS para o Seu povo.
A última sentença— pois eles não continuaram na minha aliança, e eu não atentei para eles, diz o Senhor — é uma citação de Jeremias 31.32, como aparece na Septuaginta. O bispo Chadwick observou que, no original hebraico, essas palavras têm este sentido literal: “Embora eu lhes fosse como marido, e com pesar o digo: Eiíera!” A alienaçã e o divócio sã aludidos e reforçdos pelas palavras que justificam a expressão:  Eu não atentei para eles. O tempo verbal de emelesa expressa um ato de abandono único: “Deixei, desisti de cuidar deles”. Visto que a nova aliança não deveria, de forma alguma, assemelhar-se àantiga, podemos notar, sucintamente e com proveito, os seguintes contrastes antes de passar àanáise completa das provisõs do novo concerto:

1. A primeira aliança era falha; a nova éperfeita. A primeira era temporáia e feita com vistas a um Outro que havia de vir; a segunda éa expressã final e duradoura da graç de DEUS.

2. A antiga aliança era nacional e tratava com os homens coletivamente; a nova trata com o indivíuo e fundamenta-se, afinal, na promessa feita a Abraã pessoalmente e àsua semente, como indivíuos.

3. A aliança anterior relacionava-se a coisas materiais e baseava-se em promessas seculares. Devia haver uma heranç material, a terra de Canaã O Senhor entregaria os inimigos do Seu povo na mão deste e alargaria suas fronteiras. A nova aliança éespiritual, pois as coisas materiais não podem satisfazer a alma do homem.

4. A aliança mosaica estabeleceu um padrã ou regra de vida, mas não podia dar o poder nem a disposiçã para obedecer aos mandamentos que DEUS impunha ao Seu povo. Pela nova aliança, a Lei de DEUS é escrita interiormente no coraçáo do homem; assim, não apenas ilumina a mente com a possibilidade de conhecer o Senhor, mas proporciona a disposição para obediência interior.

5. A antiga aliança não podia, com suas ofertas contínuas, remover o pecado. Os sacerdotes ofereciam o que nada lhes custara. A nova aliança foi estabelecida por CRISTO, que se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (Hb 9.26 ara) .

6. A antiga aliança se limitava aos filhos de Abraão segundo a carne; a nova é universal em seu escopo, pois os que são de CRISTO são descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl 3.29). Visto que a fé real era a única condição da aceitação de Abraão, é, portanto, a única condição exigida dos filhos espirituais desse patriarca. A aliança mosaica, com suas obras, é posta de lado para sempre como condição básica de aceitação da parte de DEUS: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4.16a a r a ) .

AS PROVISÕES DA NOVA ALIANÇA
Porque esta é a aliança que firm arei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coraçáo as inscreverei; e eu serei o seu DEUS, e eles serão o meu povo. E não ensinará jam ais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior. Pois, para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jam ais me lembrarei. Hebreus 8.10-12
As diversas linhas de pensamento traçadas pelo autor da Epístola ' encontram seu foco na gloriosa verdade da nova aliança. As provisões desta são apresentadas, primeiro, como empreendimento do Mediador em Hebreus 8.10-12; e, depois, são comentados os benefícios advindos dela ao povo de DEUS em Hebreus 10.15-18. Na presente passagem (Hb 8.10-12), o que o Mediador realizou é apresentado como preparação para um estudo da oblação perfeita de JESUS, apresentada sob o simbolismo do Dia da Expiação. Este era o exercício sacerdotal supremo sob a dispensação levítica e símbolo do que foi realmente feito ao achegarmo-nos a DEUS. O melhor esboço deste texto (Hb 8.10-12) talvez seja o de Andrew Murray, que os dispõe divididos em três partes: (1) a bênção central da aliança; (2) a bênção suprema da aliança, e (3) a bênção inicial da aliança. Este esboço acompanha a disposição escriturística e ilustra também o método geral de apresentação da verdade. Nosso Senhor, na conversa que teve com Nicodemos, apresentou a  necessidade do novo nascimento e, depois, da Sua própria morte como meio de torná-lo possível. E o apóstolo Pedro falou primeiro sobre as bênçãos do Pentecostes e, depois, sobre a maneira como esta graça é obtida. Paulo seguiu a mesma ordem em seu discurso em Antioquia da Pisídia. Esta ordem tem o endosso das Escrituras e da razão, pois os homens têm sempre de convencer-se das bênçãos, antes que empreendam esforços sinceros para consegui-las. Devemos agora voltar nossa atenção para a divisão do esboço supramencionado, de maneira mais particular.

1. A bênção central da aliança
Porque esta é a aliança que firm arei com a casa de Israel, depois daqueles dias, diz o Senhor: na sua mente imprimirei as minhas leis, também sobre o seu coração as inscreverei. Hebreus 8.10 aara
A Lei de DEUS, escrita no coração e na mente dos homens, forma a ideia central da aliança. Na primeira, a Lei era imposta; ela falhou porque não havia disposição de coração para obediência. A Lei era boa, mas o coração não estava voltado para ela. Pela nova aliança, DEUS transforma a Lei externa em vida interior e, mediante o dom do ESPÍRITO SANTO, de tal maneira purifica e renova o coração do homem que, do seu íntimo, este cumpre a vontade de DEUS. Além disso, o fato de a Lei ser gravada na mente humana sugere uma tal comunicação da verdade divina, que possibilita ao homem aliançado não apenas amar o Senhor com todas as suas forças, mas também interpretar e expressar, com inteligência, esse amor por um viver santo. Uma vez que a característica vital da nova aliança é vida espiritual no ser interior do homem, o coração deste se abre para DEUS e entende o que é agradável ao Senhor. Isto o leva imediatamente ao conhecimento pessoal de DEUS. E conhecê-lo contribuiu para o homem amar Aquele que é o próprio Amor. O amor que o ESPÍRITO SANTO derrama no coração purificado pelo sangue de JESUS torna-se a energia que é a fonte de alegre obediência à Lei de DEUS. O amor torna-se, assim, o cumprimento da Lei e, de modo algum, rebaixa o padrão divino ou enfraquece a lei moral.

2 . A bênção suprema da aliança
E eu serei o seu DEUS, e eles serão o meu povo.Hebreus 8.10b ara .
A bênção suprema da nova aliança é a comunhão pessoal com DEUS. Ele se torna o objeto supremo da afeição do Seu povo, o qual recebe a certeza interior de pertencer inteiramente a DEUS. Essa gloriosa comunhão é realizada por meio da Lei gravada na mente e no coração do povo de DEUS. Visto, porém, que a mente carnal não está sujeita à Lei de DEUS (Rm 8.7), o coração deve ser purificado antes que seja perfeitamente harmonizado com a vontade de DEUS. Afinal, só os puros de coraçáo veem a DEUS, e sem a santidade ninguém verá o Senhor (H b 1 2 .1 4 ). Esse fato de ter o coraçáo purificado de todo pecado e a Lei de DEUS nele gravada é uma experiência consciente, pessoal, operada na alma pelo ESPÍRITO SANTO. Mas o nosso descanso não é na experiência; repousamos em DEUS, a quem a experiência da pureza de coraçáo nos possibilitou ver e com quem o ESPÍRITO da santidade nos leva a uma comunhão consciente. Deste modo, o coraçáo purificado e renovado se torna a “sala de audiêcias” de DEUS, o úico a quem adoramos e servimos. *

3. A bênção inicial da aliança
Pois, para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia e dos seus pecados jam ais me lembrarei. Hebreus 8.12 ara.
Visto que a misericórdia é o motivo não só da remissão dos pecados, mas da Lei de DEUS escrita no coração e da conseqüente comunhão com Ele, é a primeira bênção da aliança, seguindo-se-lhe as bênçãos centrais e supremas. Se a remissão dos pecados parece ser um mero aditamento nestas duas apresentações da nova aliança, deve-se ter em mente que Israel foi redimido da culpa do pecado pelo sangue do cordeiro pascal aspergido sobre as ombreiras das portas, sendo conduzido liberto da servidão pela mão forte e pelo braço estendido de DEUS. A Epístola aos Hebreus, conforme já explicamos, não aborda a Páscoa, apenas a aspersão do sangue sobre o altar e o concerto do Sinai (Ex 24). O propósito é revelar o verdadeiro Cordeiro pascal e o Dia da Expiação.
O termo iniqüidades, em Hebreus 8.12, pode referir-se principalmente às transgressões de Israel, que pecou de maneira grave em especial no deserto, mas é suficientemente amplo para estender-se à purificação de todo pecado cometido, inclusive o original, herdado. De qualquer modo, sugeriu-se que a frase para com as suas iniqüidades, usarei de misericórdia é uma revelação da graça divina, e a dos seus pecados jamais me lembrarei fala do esquecimento divino em que estes pecados seriam lançados. O termo hileos (íàeclJç), misericordioso, merece maior consideração. Tem um significado mais profundo em Hebreus 8.12 do que se lhe atribui comumente, pois aqui significa ser propício. No caso do publicano que batia no peito dizendo Ó DEUS, tem misericórdia de mim, pecador (Lc 18.13c), a palavra usada foi hilastheti, que significa propiciar, isto é, mostrar misericórdia em virtude de um castigo pelo qual foi oferecido um substituto. Com efeito, eis o que o publicando disse: “Sou um pecador; nã sou o Cordeiro oferecido no altar de bronze; portanto, por amor ao Substituto que por mim morreu, sêpropíio, sêmisericordioso para comigo, o pecador”.
Houve casos no Antigo Testamento em que se demonstrou misericódia sem exigir a puniçã legal pelo pecado, como a Abner e a Absalã. Contudo, em ambos os casos, os resultados foram desastrosos. Sob a nova alianç, poré, CRISTO mesmo tornou-se a nossa Propiciação (íAaCTxfÍQiov), de sorte que DEUS pode ser, ao mesmo tempo, Justo e o Justificador daqueles que creem em JESUS (Rm 3.24-26).

4 . A conclusão do capítulo
Quando ele diz N ova, torna antiquada a prim eira. Ora, aquilo que se torna antiquado e envelhecido está prestes a desaparecer. Hebreus 8.13 ara O grego tem dois pares de palavras para expressar o velho e o novo. Kainos, novo e palaios velho, são termos relativos, sendo nova uma coisa acrescentada a algo já existente. Assim, a nova aliança é kainos, nova, no sentido de que foi feita após a primeira, que agora se torna palais, velha. J i as palavras neos (veóç) e geraios (yeçaióç) denotam, respectivamente, que uma coisa é nova no sentido de ser jovem, fresca em si mesma, e velha ou idosa em si mesma. As palavras palaios e geraios, que significam velho, sáo usadas neste texto. Quando DEUS falou de uma nova aliança (kainos), cerca de 600 a.C., declarou como velha {palais) a primeira. Não foi JESUS que fez a aliança envelhecer; há séculos, ela havia sido estabelecida, por isso, o autor da Epístola usou a palavra geraios referindo-se ao envelhecimento desta aliança, prestes a desaparecer.* Indiretamente, ele estava dizendo aos leitores: “Você querem voltar àvelha alianç, que envelheceu e estápara desaparecer? JESUS éo Mediador de algo superior; no santuáio celestial. Ele ministra nã apenas as palavras, mas o Espíito”. A frase na sua mente imprimirei as minhas leis (Hb 8.10b ara) é, em seguida, amplificada na declaração: E não ensinará jam ais cada um ao seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece ao Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior (Hb 8.11). No sentido mais imediato, é pela remissão dos pecados e pela inscrição da Lei divina dentro do coração humano que os crentes conhecem o Pai em experiência pessoal. Não se trata de mero conhecimento sobre DEUS, como aquele que se poderia obter ouvindo a Lei externa, mas familiaridade com o próprio DEUS em CRISTO. Existe também um sentido mais objetivo em que esse texto pode ser interpretado. No Antigo Testamento, a revelação não  foi completa, mas DEUS falou muitas vezes e de muitas maneiras (Hb 1.1); assim, as palavras dos profetas, de Moisés em diante, deviam ser transmitidas a grupos cada vez maiores. E ainda, a Lei de Moisés, sendo dada em preceitos e mandamentos, exigia interpretação, levando à formação dos escribas, que se dedicavam a esta tarefa. Em JESUS CRISTO, contudo, a revelação tornou-se completa. E, mediante o ESPÍRITO SANTO concedido no Pentecostes, a Palavra de DEUS foi rapidamente anunciada e difundida. Mas esta, transmitida oralmente durante algum tempo, logo se fixou em um cânone de Escrituras, inspiradas pelo ESPÍRITO SANTO. A nossa Bíblia, pois, é a um tempo a Palavra de DEUS e um registro dessa Palavra, e por isto tão-somente é que se torna o fundamento de nossa fé e prática. Por esta Palavra apenas, que não é de interpretação particular, podemos até julgar os que se levantam para pregar. Neste sentido, então, podemos dizer que, desde o menor até o maior, desde as crianças até os teólogos e intérpretes, a Palavra de DEUS, em Sua capacidade de salvar, é acessível a todos.

Orton H Wiley - Comentário Exaustivo da carta aos Hebreus
- Editora Central Gospel
Fonte: Apazdosenhor,org
 


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