terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

Lição 7- Jesus, Sumo Sacerdote de uma Ordem Superior




A Supremacia de Cristo
o
 capítulo sete, o autor detalhou a relação entre a ordem sacerdote  Melquisedeque e o sacerdócio de Jesus, sempre contrastando f M com o sacerdócio levítico. Ele tem consciência de que o assunto parecia envolto em abstrações, razão essa que, neste capítulo, ele começará a mostrar as implicações práticas do sacerdócio de Jesus.
      “Ora, a suma do que temos dito é que temos um sumo sacerdote tal, que está assentado nos céus à destra do trono da Majestade” (v. 1). Em primeiro lugar, destaca o autor, nosso Sumo Sacerdote está assentado à destra do "trono da Majestade". Na cultura judaica, essa era outra íorm a de dizer que o sacerdócio de Jesus possuía realeza. Essa é a mesma linguagem usada no Salmo 110, que é uma poesia profética sobre o sacerdócio do Messias. A expressão “assentado nos céus” é outra forma de dizer que Cristo terminou, de fato, a obra da redenção e que estava de vez qualificado para ser Sumo Sacerdote.
       “Ministro do santuário e do verdadeiro tabernáculo, o qual o Senhor fundou, e não o homem" (v. 2). F. F. Bruce observa que, daqui para frente, o autor passa a discorrer sobre os temas da aliança, santuário e sacrifício, que estavam intimamente ligados ao sacerdócio arônico. Dessa forma, o sacerdócio arônico dá lugar àquele que é segundo a ordem de Melquisedeque; o antigo pacto dá lugar ao novo, e o santuário terrestre é substituído pelo celeste.1 Esse novo santuário, que é parte do verdadeiro tabernáculo, é obra de Deus, e não do homem. Embora esse novo santuário não seja revestido de materialidade, como era o santuário terrestre, ele é muito mais real e glorioso. Richard Taylor destaca que

"o tabernáculo celestial está em contraste com o terreno, como o espiritual está em contraste com o material, o tabernáculo terreno era rico em seu apelo material, mas pobre em sua habilidade de mudar ou satisfazer a alma em seu relacionamento pessoal com Deus. O tabernáculo celestial, em contraste, é privado de esplendor terreno e materialidade, mas completo em sua substância espiritual”.2
        É nesse tabernáculo celeste que os cristãos podem agora ser apresentados diante de Deus pelo Sumo Sacerdote, Jesus. Ele, portanto, é o ministro desse verdadeiro santuário celestial. A palavra grega leitourgos, traduzida aqui como ministro, ocorre cinco vezes no texto grego.3 Na Septuaginta, versão que o autor recorre com frequência, era usada para referir-se ao serviço sacerdotal. No Novo Testamento, a sua forma verbal foi usada no contexto da adoração cristã:
      “Enquanto eles ministravam (leitourgeo) perante o Senhor e jejuavam, disse o Espírito Santo: Separai-me a Bamabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado" (At 13.2). Esse fato revela que Jesus, ao contrário do sistema sacerdotal levítico, que se tomara obsoleto, continua seu serviço em favor dos filhos de Deus. "Porque todo sumo sacerdote é constituído para oferecer dons e sacrifícios; pelo que era necessário que este também tivesse alguma coisa que oferecer” (v. 3). O autor já havia discorrido sobre dons e sacrifícios em Hebreus 5.1. Aqui, ele aponta em que sentido a sua argumentação avançara daqui para frente. O sacerdote levita oferecia as ofertas de cereais no santuário, as quais eram usadas como uma forma de agradecimento e consagração a Deus. Por outro lado, os sacrifícios são uma referência às ofertas de sangue, que fazia expiação pelo pecado. No capítulo 7.27, o autor já havia falado que a oferta oferecida por Jesus fora sua própria vida.
        “Ora, se ele estivesse na terra, nem tampouco sacerdote seria, havendo ainda sacerdotes que oferecem dons segundo a lei" (v. 4). A construção verbal usada aqui (imperfeito do indicativo ativo) demonstra que o sistema sacerdotal levítico ainda estava em vigor quando o autor redigiu sua carta.4 Por outro lado, esse versículo mostra a incompatibilidade existente entre as duas ordens sacerdotais — Levi e Melquisedeque. Ambas não podiam coexistir uma ao lado da outra. Embora se tenha tomado obsoleta — pois uma nova ordem sacerdotal havia sido estabelecida — , o sistema sacerdotal levítico ainda continuava em vigor nos dias em que o autor redigia sua carta. A lógica é simples: se Jesus não podia oficiar como sacerdote aqui na terra, visto não ser Ele da tribo de Levi, e havia ainda os que exerciam esse ministério, o seu oficio só poderia ser exercido no tabernáculo celestial. Logo, isso tornava totalmente antiquado todo o sistema sacerdotal levítico.
         “Os quais servem de exemplar e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: Olha, faze tudo conforme o modelo que, no monte, se te mostrou” (v. 5). O autor usa os termos gregos hypodeigma e skia, traduzidas aqui como exemplo e sombra respectivamente. Mas os termos figura e sombra refletem melhor o original. Alguns intérpretes têm argumentado que o autor de Hebreus tomou emprestado do platonismo judaico alexandrino as figuras de um santuário celeste, onde o terrestre é apenas uma sombra. Nos seus diálogos, Platão descreve um mundo ideal do qual o mundo físico seria apenas uma cópia imperfeita, o que ele denominava de simulacro. Todavia, é possível percebermos claramente na argumentação do autor de Hebreus que há um pano de fundo cultural hebraico, e não grego. Isso é perfeitamente visto quando vemos Deus dizer a Moisés para fazer o Tabernáculo de acordo com o modelo (gr. typos) que o profeta vira no monte (Êx 25.40). Moisés, e não Platão, serviu de inspiração para o autor dessa carta. Donald Guthrie observa acertadamente que cada detalhe exposto na sombra, que era um tipo, tinha o propósito de aproximar-se da realidade, isto é, do antítipo. Nesse aspecto, o autor tencionava mostrar por contraste a maior excelência com que o santuário celeste revestia-se.5
        “Mas agora alcançou ele ministério tanto mais excelente, quanto é mediador de um melhor concerto, que está confirmado em melhores promessas" (v. 6). O autor continua fazendo o contraste entre o sacerdócio levítico e o de Cristo. Não sendo apenas uma sombra, mas a própria realidade, o ministério de Cristo é mais excelente do que o levítico em tudo. A palavra “alcançou” traduz o termo grego tynká- nô, que mantém o sentido de obter, receber e conseguir. Ao usar esse verbo no tempo perfeito, que é uma referência a uma ação passada com efeitos no presente, o autor tenciona mostrar que o ministério de Jesus continuava em pleno exercício quando ele redigia seu texto. Mais uma vez aqui, como fizera em 8.2, o autor usa a palavra leitourgia (liturgia) em referência ao serviço, ministério e serviço sagrado.6 Nesse ministério sagrado, Cristo é o mediador de uma melhor aliança. Ele é a ponte entre o homem e Deus, tomando desnecessária a existência de intermediários. A superioridade das promessas da Nova Aliança em relação à antiga não são em relação à garantia de cumprimento, mas, sim, ao conteúdo. Deus sempre cumpriu suas promessas, tanto na Antiga Aliança como na nova. Todavia, na cruz do Calvário, Ele proveu uma aliança substancialmente superior à antiga.
        “Porque, se aquele primeiro fora irrepreensível, nunca se teria buscado lugar para o segundo" (v. 7). O contexto do cristianismo primitivo mostra o conflito entre judaizantes e cristãos. Os primeiros, como demonstra o livro de Atos dos Apóstolos no capítulo 15, insistiam em manter de pé as crenças e práticas do antigo judaísmo. Por outro lado, o segundo grupo, representado pelos apóstolos, via que algumas práticas existentes dentro dessas duas tradições eram mutuamente excludentes. O autor tem consciência do peso que essa tradição judaica possuía dentro da comunidade judaico-cristã para a qual ele endereçaria sua carta. Ele não procura desvalorizar a Antiga Aliança, pois sabe que a mesma teve sua finalidade; todavia, ela era imperfeita e incompleta, possuindo um papel transitório. Esse fato já havia sido revelado pelos profetas quando Deus disse que substituiria o primeiro concerto por um segundo.
       “Porque, repreendendo-os, lhes diz: Eis que virão dias, diz o Senhor, em que com a casa de Israel e com a casa de Judá estabelecerei um novo concerto” (v. 8). A promessa do estabelecimento de um novo concerto fora feita pelo Senhor ao profeta Jeremias (Jrí31.31-34). A partir das Escrituras do Antigo Testamento, o autor detnonstra que esse novo pacto havia sido estabelecido com Cristo. A expressão grega syntelesô epi ton oikon Israel, traduzida aqui como "estabelecerei minha aliança com a casa de Israel”, demonstra a disposição de Deus em cumprir o seu plano salvífico em favor de seu povo.7
       “Não segundo o concerto que fiz com seus pais, no dia em que os tomei pela mão, para os tirar da terra do Egito; como não permaneceram naquele meu concerto, eu para eles não atentei, diz o Senhor” (v. 9). Orton Wiley põe em evidência a superioridade da Mova Aliança em relação à Antiga.
1. A primeira Aliança era falha; a nova é perfeita. A primeira era temporária e feita com vistas a Outro que havia de vir; a segunda é a expressão final e duradoura da graça de Deus.
2. A Antiga Aliança era e tratava com os homens coletivamente; a segunda trata com o indivíduo e fundamenta-se, afinal, na promessa feita a Abraão pessoalmente e à sua semente, como indivíduos.
 3. A aliança anterior relacionava-se às coisas materiais e baseava-se em promessas seculares. Devia haver uma herança material, a terra de Canaã. O Senhor entregaria os inimigos do seu povo na mão deste e alargaria as suas fronteiras. A nova aliança é espiritual, pois as coisas materiais não podem satisfazer a alma do homem.
4. A aliança mosaica estabeleceu um padrão ou regra de vida, mas não podia dar o poder nem a disposição para obedecer aos mandamentos que Deus impunha ao Seu povo. Pela nova aliança, a Lei de Deus é escrita interiormente no coração do homem; assim, não apenas ilumina a mente com a possibilidade de conhecer ao Senhor, mas proporciona a disposição para a obediência interior.
 5. A antiga aliança não podia, com suas ofertas contínuas, remover o pecado. Os sacerdotes ofereciam o que nada lhes custara. A nova aliança foi estabelecida por Cristo, que se manifestou uma vez por todas, para aniquilar, pelo sacrifício de si mesmo, o pecado (Hb 9.26 - ARA).
6. A antiga aliança se limitava aos filhos de Abraão segundo a carne; a nova é universal em seu escopo, pois os que são de são descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl 3.29). Visto que a fé real era a única condição da aceitação de Abraão, é, portanto, a única condição exigida dos filhos espirituais desse patriarca. A aliança mosaica, com suas obras, é posta de lado para sempre como condição básica de aceitação da parte de Deus: Essa é a razão por que provém da fé, para que seja segundo a graça (Rm 4.16a - ARA).8
       “Porque este é o concerto que, depois daqueles dias, farei com a casa de Israel, diz o Senhor: porei as minhas leis no seu entendimento e em seu coração as escreverei; e eu lhes serei por Deus, e eles me serão por povo” (v. 10). A promessa de uma aliança superior, onde a Lei de Deus seria gravada por dentro, e não por fora, encontra eco em outras partes do Antigo Testamento: “E vos darei um coração novo a porei dentro de vós um espírito novo; e tirarei o coração de pedra da vossa carne e vos darei um coração de carne. E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos, e guardeis os meus juizes, e os observeis” (Ez 36.26,27). Fritz Laubach observa que
"a inacreditável novidade desta aliança reside em que a obediência à Palavra de Deus será concretizada integralmente, porque todos os membros do povo de Deus sem exceção possuirão o entendimento correto de Deus. A antiga lei de Moisés estava escrita em tábuas (Êx 31.18; 34.27,28) ou num livro (Êx 24.7). Ela se contrapunha ao povo como um poder que demandava. Agora, porém, todos os membros desse povo de Deus trazem essa lei no coração, estão interiormente unificados com ela, de maneira que coincidem num só ato o conhecimento da lei e o seu cumprimento”.9
        “E não ensinará cada um a seu próximo, nem cada um ao seu irmão, dizendo: Conhece o Senhor; porque todos me conhecerão, desde o menor deles até ao maior” (v. 11). A Antiga Aliança, rica em símbolos, porém pobre em produzir relacionamento com Deus, é substituída pela Nova Aliança. Na Nova Aliança, todos têm a oportunidade de conhecer o Senhor. Esse fato toma-se possível porque o Espírito Santo, que, na Antiga Aliança, se manifestava sobre pessoas especiais — profetas, sacerdotes e reis — viria sobre toda carne.
       "E nos últimos dias acontecerá, diz Deus, que do meu Espírito derramarei sobre toda a carne; e os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos jovens terão visões, e os vossos velhos terão sonhos” (At 2.17). O apóstolo Paulo escreveu uma longa exposição à igreja de Corinto, mostrando como se davam essas manifestações espirituais no contexto da igreja (1 Co 12-14). Se, na Antiga Aliança, somente o profeta falava em nome de Deus, na Nova Aliança, embora existindo ainda o ministério profético (Ef 4.11), o dom da profecia estava disponível a todos os crentes (1 Co 83 14.31). O apóstolo João afirma essa mesma verdade quando diz:
       "E a unção que vós recebestes dele fica em vós, e não tendes necessidade de que alguém vos ensine; mas, como a sua unção vos ensina todas as coisas, e é verdadeira, e não é mentira, como ela vos ensinou, assim nele permanecereis” (1 Jo 2.27).
        “Porque serei misericordioso para com as suas iniquidades e de seus pecados e de suas prevaricações não me lembrarei mais" (v. 12). A Antiga Aliança sobrevivia de sombras. Dessa forma, o problema do pecado jamais fora tratado de uma forma completa. Na Nova Aliança, por estar fundamentado em um superior sacrifício, o de Cristo, o problema do pecado é totalmente tratado. Esse versículo mostra a grandeza da graça e a misericórdia divina em tratar com o problema do pecador, mesmo esse não sendo merecedor de coisa alguma nem tampouco capaz de alguma coisa por si mesmo. Paulo afirma essa mesma verdade: “E, quando vós estáveis mortos nos pecados e na incircuncisão da vossa carne, vos vivificou juntamente com ele, perdoando-vos todas as ofensas, havendo riscado a cédula que era contra nós nas suas ordenanças, a qual de alguma maneira nos era contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na cruz” (Cl 2.13,14).
        “Dizendo novo concerto, envelheceu o primeiro. Ora, o que foi tomado velho e se envelhece perto está de acabar" (v. 13). O sistema de sacrifí­cios ainda  continuava em vigor quando o autor de Hebreus escreveu essas palavras. Todavia, como um autor inspirado, ele sabia que, espiritualmente, tudo aquilo já havia sido destituído de valor. Uma Nova Aliança, que era a própria realidade e cumprimento das promessas e da qual a Antiga Aliança era apenas um tipo, havia sido estabelecida uma vez por todas.

A Supremacia de Cristo

A Excelencia da Nova Aliança em CRISTO - Orton H Wiley - Comentário Exaustivo da carta aos Hebreus - Editora Central Gospel


7 - FIADOR DE UM MELHOR TESTAMENTO
Neste capítulo intermediário da Epístola aos Hebreus, o autor dela traça um estudo mmucioso da nova ordem de sacerdócio e de suas relações para com a aliança de Arão e a Lei Mosaica. Tendo despertado o interesse pelo assunto nas suas três alusões ao sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 5.6, 1 O; 6.20), passa agora a estudá-lo intensamente. O estudo continua no decorrer da maior parte de três capítulos, e trata dos vários aspectos do sacerdócio. Esta nova ordem sacerdotal, portanto, toma-se o ponto central, o eixo em tomo do qual o autor da Epístola constrói o seu grande argumento temático em favor do sacerdócio de CRISTO. O escritor extrai o material de um obscuro evento da antiga história dos hebreus: três versículos do Gênesis (14.18-20) e um dos Salmos (110.4). Das referências a Melquisedeque, podemos 'dizer que o Gênesis tem o relato histórico; a alusão, nos Salmos, é profética, e a de Hebreus édoutrinária(7.1-10).

A ORDEM DE MELQUISEDEQUE: UM SACERDÓCIO ETERNO
O argumento que o escritor de Hebreus propõe em favor da superioridade da ordem de Melquisedeque só pode ser apreciado por aqueles que compreendem quão tenazmente os israelitas daqueles dias se apegavam às suas ideias sobre o sacerdócio levítico e sua importância. Falhar aqui seria destruir o próprio fundamento do ensino do autor a respeito da superioridade de CRISTO sobre Arão.

1. O evento histórico. 
O escritor da Epístola resume toda a passagem histórica do Gênesis 14.18-20 em uma única longa sentença: Porque este Melquisedeque, rei de Salém, sacerdote do DEUS Altíssimo, que saiu ao encontro de Abraão, quando voltava da matança dos reis, e o abençoou, para o qual também Abraão separou o dízimo de tudo {primeiramente se interpreta rei de justiça, depois também é rei de Salém, ou seja, rei de paz; sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência, entretanto, feito semelhante ao Filho de DEUS), permanece sacerdote perpetuamente. Hebreus 7.1-3 ARA Aqueles versículos do Gênesis são a única fonte histórica do argumento do autor de Hebreus, e, por estranho que pareça, grande parte do argumento é extraída do que não se disse. Diversas informações se destacam claramente aqui: 1. O nome Melquisedeque se origina de Malchi tsedeck, que significa rei justo, provavelmente por causa do caráter reto de seu governo. O título rei de Salém significa rei de paz. Westcott observou que o genitivo, em cada um dos casos, indica as características do soberano: ele é um rei de justiça e um rei de paz, aquele em quem e por meio de quem a justiça e a paz se realizam. "O caráter pessoal do reisacerdote chama atenção para o reino que ele administrava; sendo justo em si mesmo, mantinha paz sob seu domínio".

2. De Melquisedeque não se sabe a genealogia:
Sem pai, sem mãe, sem genealogia; que não teve princípio de dias, nem fim de existência (Hb 7.3 ARA).
Assim, toda a história de Melquisedeque, exceto este único evento registrado, é oculta a nós, sem dúvida por desígnio divino. A base do argumento do escritor de Hebreus, portanto, é que Melquisedeque se destaca como rei-sacerdote não por herança ou descendência, mas por seus próprios méritos. Além disso, não havendo registro nem do início nem do término do seu reinado, torna-se um símbolo digno do sacerdócio eterno de CRISTO. 3. O autor da Epístola disse ainda que Melquisedeque foi feito semelhante ao Filho de DEUS. Assim, a vida d~ Melquisedeque e a de Abraão em relação a CRISTO mostram a ordenação providencial que lança os alicerces de um sacerdócio eterno fora da ordem levítica e no qual a realeza e o sacerdócio reúnem-se em uma só pessoa. Estes são os argumentos que o autor desenvolverá depois. É fato significativo que as sementes da decadência de Israel e da inauguração da nova ordem jazem ocultas na literatura tida pelo povo judeu como sagrada e divinamente inspirada.
Suponhamos que aqueles três versículos de Gênesis não tivessem existido. A narrativa, em relação a outros aspectos, continuaria inalterada. Suponhamos que soubéssemos agora, pela primeira ve:z, pela decifração de alguma antiga inscrição, que o pai dos fiéis [Abraão] -ao qual todo o judaísmo contempla como seu fundador; o recipiente das promessas que são o seu documento de propriedade - a quem DEUS, como dissemos, revelou-se diretamente, o único que foi chamado Seu amigo, esteve realmente em contacto com um sacerdote mais antigo de sua própria religião, pagou-lhe tributo e curvou a cabeça sob sua bênção. Que uso fariam os assaltantes da fé de uma revelação como esta? Que agonias de sobressaltos torturariam aquela boa gente, tão fraca que empalidecesse quando soubéssemos que, exatamente por esta época, Hamurabi promulgou um código de Lei que pode ter inRuenciado as leis de Israel? Não obstante, sabemos que tais sobressaltos seriam ridículos e sem fundamento. Todo o bem procede de DEUS, e os seus santos no Antigo e no Novo Testamento acolhem-no e tiram proveito dele. (CHADWICK, Epistle to the Hebrews, p. 97) A pessoa de Melquisedeque tem sido fonte de muita especulação, Já em 135 a.C., o rabi IsmaeP apresentou a teoria de que Melquisedeque era filho de Sem, o filho de Noé, que preservara a verdadeira religião em sua própria pessoa e em seu próprio reino. Fílon achava que Melquisedeque era simplesmente a razão divina funcionando de maneira sacerdotal, exercendo controle sobre as paixões e inspirando pensamentos exaltados sobre DEUS. Orígenes, do período cristão primitivo, julgava Melquisedeque um ser angélico; alguns diziam que era o anjo Miguel. Talvez o primeiro a sugerir uma teoria que recebeu alguma aceitação em tempos modernos foi Hierakas, cerca do século 3 d.C., que considerava Melquisedeque uma encarnação temporária do ESPÍRITO SANTO; uma teofania com referência especial à terceira pessoa da Trindade. Dentre as primeiras heresias da Igreja, tivemos a dos melquisedequitas (200 d.C.)  que tinham Melquisedeque como o original de que CRISTO era cópia. Em Hebreus 7.3, não está escrito que Melquisedeque não tinha pai nem mãe, mas que era sem pai nem mãe conhecidos, sem genealogia, não havendo também notícia de seu nascimento e de sua morte - o que assinala decisivo contraste com o costume dos semitas, que mantinham registros minuciosos, como se verifica pelos capítulos genealógicos da Bíblia. Provavelmente, o esclarecimento para isso resida em que a verdadeira religião de Noé foi transmitida por meio da linhagem de Sem até Melquisedeque e seu reino, que compreendia em si o sacerdócio patriarcal.

O SALMO PROFÉTICO
O SENHOR jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre) segundo a ordem de Melquisedeque. Salmo 110.4 ARA.
Este salmo profético é o único elo entre o evento histórico em Gênesis e sua aplicação em Hebreus. O escritor da Epístola faz uso dele da maneira mais complera, conferindo importância a cada palavra:
1) para sempre, com sua ideia de finalidade;
2) ftito semelhante ao Filho de DEUS (Hb 7.3 ARA), revelando a orientação providencial que veio a harmonizar Melquisedeque com o Redentor que havia de vir;
3) o juramento que confirmou o sacerdócio do Filho de DEUS; e
4) o silêncio concernente à genealogia de Melquisedeque, que não somente fala do sacerdócio eterno de CRISTO, mas cria uma atmosfera de mistério, que alça o acontecimento todo do reino natural para o espiritual. Notável também, naturalmente, é a conjugação de realeza e sacerdócio, fato conhecido em Israel, em que o sacerdócio dependia inteiramente da linhagem. Sendo a dispensação uma aliança ou pacto, o sacerdote é, por força, a figura central, pois a dispensação é, em certo sentido, um sacerdócio. A ordem sacerdotal, por conseguinte, é da maior importância. Por este motivo, quando se colocam a antiga e a nova dispensações em grande contraste, este focaliza as divergentes ordens de sacerdócio. A nova aliança está para a antiga como o sacerdócio segundo Melquisedeque está para a ordem levítica. Não obstante, a expressão sacerdote para sempre (Sl 110.4 ARA) é, provavelmente, de extrema relevância para o escritor de Hebreus, pois torna-se o selo da finalidade quanto aos atos sacerdotais de CRISTO ao santificar o povo (Hb 10.10 ARA) e assinala a eternidade da aliança (Hb 7.22 ARA), pertencendo-lhe ambos por virtude de Sua vida indissolúvel (Hb 7.3,8,16 ARA). Esta Ele tem porque é o Filho de DEUS (Hb 7.3 ARA). O sacerdócio, portanto, resolve-se na natureza da pessoa. Como Melquisedeque é apresentado sem conexões genealógicas e, todavia, era sacerdote, assim também CRISTO é sacerdote por Seus próprios méritos, em virtude de Suas qualificações, e não de Suas relações humanas, como o sacerdócio levítico. Quando Davi, com espírito profético, vê da semente que lhe é prometida que, como Mdquisedeque, Ele conjugará a dignidade real com a sacerdotal, certamente não prediz nestas palavras uma associação meramente exterior e mecânica das duas dignidades, mas tem diante de si a figura de um homem em que, como em Melquisedeque, o poder real seria consagrado e penetrado pela virtude santificadora dadignidade e obra sacerdotais, a figura, portanto, de um Rei que verdadeiramente governaria em paz. (ÜLSHAUSEN, Bíblica! commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 218) 

A GRANDEZA DE MELQUISEDEQUE
Considerai, pois, como era grande esse.Hebreus 7.4a ARA
A palavra considerai traz em si a ideia de contemplação diligente ou de fixar a atenção nas coisas que estão para ser ditas. O escritor da Epístola aos Hebreus quer que consideremos Melquisedeque em sua dignidade e preeminência. Para isso, vai conduzindo-nos passo a passo. Ele sabe que uma compreensão adequada daquele que foi feito  semelhante ao Filho de DEUS (Hb 7.3 ARA) levará a uma apreciação ll mais profunda da nova ordem de sacerdócio, a qual, mediante uma nova aliança, eleva à perfeição tudo o que fora antecipado mas não se realizara sob a antiga aliança. Chegamos, assim, ao âmago da Epístola, o sacerdócio do Filho de DEUS, que permanece para sempre.
Vai demonstrar que Melquisedeque é superior a Abraão (Hb 7.4-10 ARA), a Arão e ao sacerdócio levítico (Hb 7.11-14 ARA), e a Moisés e à Lei que foi dada pela dispensação dos anjos (Hb 7.15-19 ARA). Para os judeus, era como se uma auréola de glória envolvesse Abraão, o antigo patriarca. Ele era o pai da nação hebraica; a ele foram feitas as promessas que tornaram Israel o povo eleito de DEUS. Por intermédio dele, viria a semente em que seriam benditas todas as nações da terra, e o seio de Abraão era conhecido como a morada dos bem-aventurados que partiram. Essa grandeza o escritor de Hebreus reconhece espontaneamente, mas declara que Melquisedeque é maior. Extrai o argumento em favor desta superioridade dos dois atos sacerdotais executados por Melquisedeque em relação a Abraão. Assim, Melquisedeque ficou situado na história hebraica_ de maneira tál que jamais poderia ser posto de lado. Estes dois atos sacerdotais foram:
(1) Abraão ter pago dízimos a Melquisedeque;
(2) Melquisedeque ter abençoado Abraão. 1. Abraão pagou dízimos a Melquisedeque Era um antigo costume entre muitos povos antigos consagrar um décimo dos despojos de guerra aos objetosi:le sua adoração. Este dízimo não era segundo alguma provisão de Lei, mas uma oferta eucarística àqueles que esses povos julgavam ter-lhes concedido a vitória. O argumento do autor pode ser resumido da seguinte maneira: 1. Melquisedeque, que não pertencia a nenhuma classe sacerdotal com direito legal de receber dízimos, agiu não por Lei, mas em virtude da grandeza de sua pessoa.
2. Os levitas recebem dízimos de seus irmãos, sendo eles próprios, no entanto, mortais. Contudo, Abraão pagou dízimos Àquele de quem se testifica que vive (Hb 7.8c ARA).
3. Combinando os dois conceitos acima, o escritor de Hebreus consolida o argumento pela declaração de que o próprio Levi deve ter reconhecido a superioridade de Melquisedeque e, conquanto ainda não tivesse nascido, em certo sentido pode-se dizer que pagou dízimos em Abraão.

2. Melquisedeque abençoou Abraão
O autor da Epístola pressupõe que os leitores aceitarão sem contestação que o menor é abençoado pelo maior. A bênção pronunciada por Melquisedeque sobre Abraão e o fato de que este a aceitou colocaram suas posições relativas fora de dúvida. Não se considera aqui a natureza dessa bênção. O escritor tem em vista apenas mostrar a superioridade de Melquisedeque sobre Abraão. Paulo, em sua Epístola aos Gálatas, evidentemente refere-se a isto quando diz: Para que a bênção de Abraão chegasse aos gentios, em JESUS CRISTO, a fim de que recebêssemos, pela fé, o ESPÍRITO prometido (Gl 3.14 ARA). O apóstolo reforça o argumento dizendo que as promessas foram feitas a Abraão e à sua semente, e interpreta esta semente como CRISTO: Não diz: E aos descendentes, como se falando de muitos, porém como de um só: E ao teu descendente, que é CRISTO (Gl3.16 ARA). E conclui dizendo: E, se sois de CRISTO, então, sois descendência de Abraão e herdeiros conforme a promessa (Gl3.29). Como Abraão se curvou submisso para receber a bênção de Melquisedeque, devemos curvar-nos em humilde submissão a JESUS, o nosso Sumo Sacerdote para sempre, e receber, pela fé, a Sua bênção, que é dom do Consolador, a presença constante do ESPÍRITO SANTO.
É interessante notar que o autor da Epístola aos Hebreus não faz menção do pão e do vinho, que se acham tão intimamente relacionados com o sacerdócio no versículo: E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do DEUS Altíssimo (Gn 14.18). Pode ser que tenha compreendido que o historiador considerasse este pão e este vinho como leve repasto para Abraão e seus homens, ou que estivessem fora do propósito de seu argumento. Mesmo assim, porém, o pão e o vinho, tão intimamente relacionados com o sacerdócio, podem ter sido uma profecia dos elementos sacramentais que nosso Senhor haveria de usar como emblemas da nova aliança. A semelhança reside em que foi após a ligeira refeição da Ceia Pascal: JESUS tomando o pão e havendo dtulo graças, partiu-o e deu-lho, dizendo: Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fozei isso em memória de mim. Semelhantemente, tomou o cálice, depois da ceia, dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós. Lucas 22.19,20. As igrejas tradicionais, naturalmente, dão grande imponância a isto, mas, mesmo nas em que não se dá grande ênfase aos sacramentos, eles se tornam memoriais de toda a obra de CRISTO. Assim, desconinam-se diante de nós amplas perspectivas de realizações sob a nova ordem de sacerdócio, que encontrarão pleno cumprimento na gloriosa segunda vinda de JESUS.

A SUPERIORIDADE DA NOVA DISPENSAÇÃO: UM SACERDÓCIO ESPIRITUAL
Tendo provado a superioridade de Melquisedeque sobre Abraão, a tarefa seguinte é prová-lo superior a Arão e à Lei que foi recebida sob o sacerdócio levítico. O argumento é dividido em duas seções: o fracasso da ordem levítica (Hb 7.11-13 ARA) e o nascimento de um novo sacerdócio sob a ordem de Melquisedeque (Hb 7.14-19 ARA).

1. O insucesso da ordem levítica
Se, portanto, a peifeição houvera sido mediante o sacertMcio levítico (pois nele baseado o povo recebeu a Lei), que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Hebreus 7.11 ARA
O objetivo do escritor de Hebreus não é discutir a natureza da perfeição; ele já o fez nos capítulos anteriores. Neste ponto, simplesmente visa a demonstrar que ela não poderia vir com o sacerdócio levítico. Davidson observou que "a perfeição é sempre relativa. Uma instituição chega à perfeição quando realiza a finalidade para a qual foi instituída e produz resultado que corresponde ao seu ideal". O que o autor da Epístola considerou perfeição em Hebreus 7.11 está claramente expresso no versículo 19, isto é, a aproximação dos homens com DEUS. Isto o sacerdócio levítico não poderia conseguir porque não podia rtmover o pecado, e este é incompatível com a santidade de DEUS. Tem de haver um sacerdócio superior, para que se obtenha uma melhor esperança.

2. A expressão parentética
A expressão parentética pois nele baseado o povo recebeu a Lei é introduzida pelo autor da Epístola para apontar para a pergunta original e salientá-la. O sacerdócio de Arão foi na verdade instituído por DEUS, mas
constituído com base na Lei. Conquanto as palavras nele baseado (conforme se encontram em nossa tradução) melhor expressem o poder formal ou formativo desta Lei concernente ao sacerdócio, as palavras em grego são epi autes, significando literalmente acima ou em cima de. Por isso, devemos entender não que o povo recebia a Lei dos sacerdotes, mas que o próprio sacerdócio era constituído e preservado intacto pelas Leis que DEUS impusera ao povo, a fim de manter a autoridade daquele. Diz-se, portanto, que o povo era legislado ou sujeito à Lei, e a palavra nenomothetetai (vcvol-lo8ényrm), recebeu, no perfeito, indica que esta condição continuava até o tempo atual. É, pois, fácil compreender por que o escritor da Epístola aos Hebreus declara que um sacerdócio, precis;mdo ser mantido pela Lei, é muito inferior àquele que procede do poder de uma vida eterna.

3. A pergunta do autor da Epístola.
Que necessidade haveria ainda de que se levantasse outro sacerdote, segundo a ordem de Melquisedeque, e que não fosse contado segundo a ordem de Arão? Hebreus 7.11 b ARA.
Haveria necessidade porque DEUS mesmo proveu uma diferente ordem ou espécie de sacerdócio, tendo-a anunciado profeticamente por Davi e confirmado por juramento. Este fato indica, a um tempo, o insucesso do sacerdócio levítico para realizar o seu objetivo e a introdução de uma ordem nova e transcendente, que traz uma esperança superior. Aráo era o símbolo de CRISTO, bem como Melquisedeque, pois CRISTO foi chamado por DEUS, c~mo Aráo o foi'(Hb 5.4). Mas a obra de Arão era apenas simbólica, não espiritual. Daí ser necessária uma nova ordem ou um novo tipo de sacerdócio: (1) para tornar real, em experiência espiritual, aquilo que fora tipificado por Arão e pelo sacerdócio levítico; (2) para levar o sacerdócio para além dos limites da vida terrena de CRISTO. Arão simbolizou CRISTO em Sua humilhação; Melquisedeque, em Sua vida glorificada no céu. Arão era sacerdote da morte; Melquisedeque, da vida. Arão representava a cruz; Melquisedeque, O trono. Arão representava a expiação consumada de CRISTO na terra;Melquisedeque, a Sua intercessão contínua no trono dos céus. Arão não poderia concluir ou aperfeiçoar sua obra por motivo da morte; CRISTO, porém, tem um sacerdócio imutável - Ele é sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque (Sl110.4 ARA). Torna-se claro que existe vasta distinção entre as duas ordens de sacerdócio realizadas por CRISTO: uma que Ele realizou sob humilhação na terra, como expiação pelos pecados da humanidade; outra administrada com poder de Seu trono nos céus. Mas a obra de nosso Sumo Sacerdote é uma, e a menor, a simbolizada por Arão, está compreendida na maior, que é simbolizada por Melquisedeque. O inverso é igualmente verdade, pois aquilo que é realizado por CRISTO no trono é por virtude daquilo que, em Sua humilhação, Ele realizou na cruz. A obra operada por CRISTO sob o símbolo de Arão diz respeito à remoção do pecado; a que se efetuou sob o símbolo de Melquisedeque, à vida eterna e ao amor. A verdade contida neste simbolismo é frequentemente expressa em termos mais abstratos, como os  aspectos negativos e positivos de uma única experiência de santificação completa. Pela obra operada por meio de Arão, entende-se a purificação do pecado inato; pela operada por Melquisedeque, a plenitude do amor divino. Ambas são efetuadas pelo ESPÍRITO SANTO, que purifica o coração, para que Ele possa assumir a Sua presença constante nele. Tampouco devemos esquecer que não é pelo coração santifi. cado que a obra de DEUS avança, mas por Aquele que habita nele. Nisto, e não no que Ele operou dentro de nós, é que reside o segredo do progresso na vida cristã. É por não reconhecer esta grande verdade que muitos deixam de entrar neste pleno privilégio em CRISTO, dando, ao mesmo tempo, origem a graves erros de doutrina. A santificação é mais do que negação do pecado; tem um lado positivo ilimitado, em que a saúde moral promove o crescimento, a força e o engrandecimento [ ... ] Existe uma diferença na santificação completa nos seus começos, na sua infância e na sua maturidade, como estado avançado, ratificado e confirmado de pureza [ ... ] A santificação não aniquila coisa alguma no coração, a não ser a existência de prática do pecado. Perfeição em qualidade, como é o caso do perfeito amor, não exclui aumento em quantidade. (Wooo, Purity and maturity) Recorda-se de termos verificado que a santificação implica tanto a morte ao pecado como a vida de justiça. E quando falamos de santificação completa como a primeira parte dela, dizemos que é alcançada imediatamente- é uma obra instantânea ( ... ] Mas, com relação à segunda parte desta grande obra, a saber, a vida de justiça, compreendendo todas as perfeições santas e esforços piedosos, é considerada como inteiramente progressiva. (PECK, Christian perfection, p. 212) Sheridan Baker disse que, logo após entrar na vida santificada, começou a desviar sua atenção daquilo que fora feito por ele para as coisas que via diante de si. Via, como tantos outros, que o estado de pureza e plenitude geral do ESPÍRITO eram de pouca estima comparados com "toda a plenitude de DEUS" e o viver no reino do fazer infinitamente mais do que tudo quanto pedimos ou pensamos (Ef 3.20 ARA). Desde então, declarou ele, "tenho procurado continuamente não o perdão ou a pureza, ou a graça já recebida, mas cada vez mais da natureza de CRISTO". Foi esta compreensão da plenitude da graça no sacerdócio de Melquisedeque que levou o piedo~o John Fletchér a dizer: "Para mim, é pouca coisa ser purificado de todo pecado. Quero ficar cheio de toda a plenitude de DEUS". William Bramwell, um dos primeiros pregadores metodistas, exclamava: "Ser justificado é grandioso; ser santificado é grandioso. Mas o que não será estar cheio da plenitude de DEUS!" Há os que, tendo entrado nesta graciosa experiência da santificação completa, deixaram que sua mente se ocupasse tanto com a maravilhosa purificação interiormente operada que, por algum tempo, deixaram de compreender, em toda a sua extensão, os seus privilégios em CRISTO. Até então, CRISTO era apenas o seu Arão, não a plenitude do sacerdócio de Melquisedeque. Que revelação maravilhosa foi para a minha alma quando, ao estudar esta preciosa Epístola aos Hebreus, esta grande verdade recaiu sobre mim como raios brilhantes vindos do céu! CRISTO é Sacerdote para sempre! Sua obra sacerdotal não cessou quando fomos purificados do pecado. Seu propósito é fazer de nosso coração os aposentos de Sua presença divina, onde Sua glória se há de revelar cada vez mais. É como quando, da falência de uma casa comercial, diz-se que os bens vão para as mãos de um síndico [uma espécie de tutor], que se encarrega de todos os negócios dela. Assim, nossa vida, desde o encontro com CRISTO em diante, deve seguir por intermédio do Síndico, nosso Sumo Sacerdote, que, como Filho, aperfeiçoou-se para sempre. Que transformação isso operou em meu pensamento; que fardo tirou do meu coração e que conforto e segurança trouxe à minha vida! Tampouco deixou Ele de guiar-me pelo Seu ESPÍRITO em tempos de perplexidade ou de fortalecer-me pelo Seu poder em todos os conflitos e em todas as aflições da vida. Que alegria saber que Ele cuida de nós melhor do que podemos cuidar de nós mesmos! Não se trata de nova obra da graça; é uma nova compreensão da verdade mediante o esclarecimento do ESPÍRITO, uma das surpresas gloriosas da consagração do "fardo desconhecido". Alguns procuram o batismo do ESPÍRITO SANTO como um dom. de poder para o serviço, sob o símbolo de Melquisedeque, e esquecern-se da obra preliminar de CRISTO de purificação sob o símbolo de Arão. Todavia, a obra de CRISTO sobre o trono é por virtude de Sua obra na cruz e do sangue ali derramado para a purificação do pecado. CRISTO não pode reinar integralmente no coração do homem sem esta purificação, pois a carne não está sujeita à Lei de DEUS. Há os que consideram a santificação limitada à obra da purificação, compreendendo o batismo do ESPÍRITO SANTO como obra adicional da graça, ou, pelo menos, um dom de poder. A santificação, porém, é mais do que purificação; é purificação a fim de que o ESPÍRITO venha habitar em nosso interior. Não pode haver santificação sem a presença santificadora dele.

4. Uma mudança de sacerdócio impõe alteração na Lei.
Pois, quando se muda o sacerdócio, necessariamente há também mudança de Lei. Porque aquele de quem são ditas estas coisas pertence a outra tribo, da qual ninguém prestou serviço ao altar. Hebreus 7.12,13 ARA
Visto que o sacerdócio levítico era constituído, regulado e mantido pela Lei Mosaica, uma alteração na espécie ou ordem do sacerdócio ocasionaria, necessariamente, uma alteração na Lei que o mantinha. Isto é evidente. O autor de Hebreus aborda o assunto cautelosamente, usando palavras suaves e gerais, como metatithemenes, sendo mudado ou quando se muda, e metathesis, mudança. Tendo, porém, dado este passo inicial, o escritor mostrará depois (Hb 7.18) que esta alteração significa a anulação completa da Lei que afeta a constituição e o serviço do sacerdócio levítico.  A respeito da palavra meteskeken, no versículo que, nas versões Almeida Revista e Atualizada e Almeida Revista e Corrigida, está traduzida como pertence a, sendo, às vezes, igualmente traduzida como tem parte em, o bispo W estcott diz: "A escolha desta palavra aponta para a assunção ~oluntária da humanidade pelo Senhor. Não se diz simplesmente que Ele nasceu em outra tribo; por Sua própria vontade Ele assim nasceu" (WESTCOTT, Commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 184).

O SURGIMENTO DA NOVA ORDEM DE SACERDÓCIO
Pois é evidente que nosso Senhor procedeu :de judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de lvfelquisedeque, se levanta outro sacerdote, constituído não conforme a Lei de mandamento carnal mas segundo o poder de vida indissolúvel Porquanto se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque. Portanto, por um úzdo, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua .fraqueza e inutilidade (pois a Lei nunca aperfeiçoou coisa alguma), e, por outro lado, se introduz esperança superior, pela qual nos chegamos a DEUS. · Hebreus 7.14-19 ARA O argumento em favor desta ordem de sacerdócio é apresentado em duas seções. A primeira é caracterizada pelas palavras pois é evidente  (v. 14); a segunda, por e isto é ainda muito mais evidente(v. 15). Para destacar melhor o argumento, o escritor de Hebreus usa dois vocábulos gregos distintos. Para a primeira expressão, usa prodelon, que significa algo evidenciado por fatos; para a segunda, katadelon, que expressa conclusão extraída de interferências apropriadas.

1. Pois é evidente que nosso Senhor procedeu de judá, tribo à qual Moisés nunca atribuiu sacerdotes (Hb 7.14 ARÁ) Esta se trata de uma evidência claramente corroborada pelos regisrros genealógicos mantidos com tanta meticulosidade pelos judeus. E também nada se destaca mais claramente nas Escrituras do que o fato de que o Messias deveria ser da linhagem de Davi e da tribo de Judá. No entanto, Moisés nada disse a respeito desta tribo quanto ao sacerdócio. Só pode haver uma conclusão: a introdução de um novo tipo de sacerdócio, vindo da linhagem real, significa a exclusão de Aráo e de sua casa do oficio sacerdotal.
2. E isto é ainda muito mais evidente, quando, à semelhança de Melquisedeque, se levanta outro sacerdote, constituído não conforme a Lei de mandamento carnal mas segundo o poder de vida indissolúvel Porquanto se testifica: Tu és sacerdote para sempre, segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 7.15-17 ARA) Esta evidência se encontra na declaração das Escrituras de que DEUS mesmo testifica de Um que é sacerdote para sempre, segundo a nova ordem, a de Melquisedeque. Esta palavra das Escrituras nenhum judeu poria em dúvida. A nova ordem é mais espiritual do que legal; mais real do que sacerdotal; eterna, ao invés de transitória. O escritor da Epístola introduz também o pensamento de que, conquanto a perfeição não tivesse sido atingida pelo sacerdócio levítico, jamais houve desígnio de que ela fosse alcançada por esta ordem. Ele demonstrará depois que este sacerdócio mantido pela Lei era apenas a sombra das coisas porvir (Hb 10.1) e aguardava o de CRISTO, cujo sacrifido expiatório poderia purificar os homens de todo  pecado e levá-los à presença de DEUS.
O autor de Hebreus não diz que esta Lei não tinha valor; diz apenas que era fraca e, portanto, poderia meramente preparar o caminho para algo melhor. Paulo tomou deste pensamento e chamou à legislação mosaica nosso aio, para nos conduzir a CRISTO (Gl3.24). Este progresso do argumento faz com que a transitoriedade do sacerdócio levítico repouse sobre dois contrastes notáveis: (1) entre a Lei e o poder; e (2) entre o mandamento carnal e a vida eterna. No primeiro contraste, demonstra-se que o sacerdócio levítico assenta-se unicamente sobre a Lei formal ou positiva, pelo que se entende uma segunda promulgação da Lei, visando a proteger ou perpetuar algo mais fundamental .. É, portanto, transitória, e pode ser revogada quando o seu objetivo for atingido. Por isso, os sacerdotes !evíticos eram apenas "legais", enquanto o verdadeiro sacerdócio messiânico de CRISTO repousava sobre a Lei fundamental da qualificação espiritual e da capacidade inerente para o cargo. O segundo contraste, entre o mandamento carnal e a vida eterna, leva o pensamento ainda mais longe. Usa-se aqui a palavra mandamento, pois o escritor de Hebreus evidentemente não se está referindo a toda a Lei Mosaica, mas apenas àquela porção que se refere ao sacerdócio. A palavra carnal chama atenção para o fato de que todas as exigências do sacerdócio levítico eram de natureza física ou carnal. Não se faz menção a aptidões morais ou espirituais. Caracteriza-se pela linhagem externa, perfeição física e pureza cerimonial. Um mandamento, portanto, baseado exclusivamente nos requisitos carnais de um corpo sujeito à morte deve, por força, ser transitório em sua própria natureza. Em contraste e oposição a isto se estabelece uma vida eterna e indissolúvel. Crtsto, na verdade, entregou a Sua vida como sacrifício pelo pecado, m~ teve poder também para retomá-la Qo 10.18). Tu és sacerdote para sempre (Hb 7.17 ARA) não significa apenas que, na perspectiva futura, o sacerdócio jamais cessará, mas também que, na passada, ele não teve princípio. O sacerdócio do Filho repousa na eternidade de DEUS. Sacerdote para sempre, Ele vive e opera no poder da vida divina. Quem quer que leia Hebreus 7.18,19 lembra-se de Gálatas 4.9 e Romanos 8.3. "Não há que duvidar que se trata de uma daquelas coincidências que, dificilmente, poder-se-iam dar onde não houvesse comunidade de pensamento e expressão" (Alford). Julgamos, contudo, descobrir ainda mais; nada menos que um autor comum. A semelhança de nosso contexto estende-se a uma similitude entre o versículo 16 [de Hebreus 7] e Romanos 8.2, onde Porque a Lei do ESPÍRITO de vida, em CRISTO JESUS, me livrou da Lei do pecado e da morte parece ser a mesma verdade expressa ao chamar CRISTO sacerdote, que não foi feito segundo a Lei do mandamento carnal, mas segundo a virtude da vida incorruptível (Hb 7.16). É a mesma verdade prestando serviço em Romanos 8, entre os cristãos gentios, como aqui presta serviço entre os cristãos judeus. É o mesmo autor falando em duas situações, como é a mesma verdade para duas relações diferentes. (LOWRIE, An explanation ofthe Hebrews, p. 247,248).

A ANULAÇÃO DO MANDAMENTO
Portanto, por um lado, se revoga a anterior ordenança, por causa de sua fraqueza e inutilidade. Hebreus 7.18 ARA
Esta passagem assinala a conclusão do escritor de Hebreus a respeito do sacerdócio levítico. Observemos sucintamente os estágios do argumento.

1. Iniciou-se com a simples pergunta: que necessidade haveria de outra espécie de sacerdócio?

2. Segue-se, então, a verdade óbvia de que, se fosse alterado o sacerdócio, teria de haver também uma alteração na Lei que o constituiu e regulou.

3. A evidência em favor de uma nova ordem de sacerdócio é apresentada da seguinte forma: (a) pelo fato de que o novo sacerdócio deveria provir de Judá, que não é da ordem levítica; (b) pela declaração das Escrituras de que DEUS testificou a respeito de Seu Filho: Tu és sacerdote para sempre (Hb 7.21 ARA).

4. O argumento é, assim, reduzido ao caráter fundamental das duas ordens de sacerdócio: o levítico, constituído segundo a Lei da ordenança carnal; o messiânico, segundo o poder da vida eterna. A estes pode acrescentar-se uni sumário geral: Pois a Lei nunca aperfeiçoou coisa alguma (Hb 7.19 ARA), servindo de transição para o assunto seguinte.

5. Por outro lado, introduz-se esperança superior (v. 19b). Como no versículo 16, existe igualmente nestes dois um duplo contraste, em que o mandamento é suplantado por uma esperança superior, e sua fraqueza e inutilidade pelo poder por meio do qual nos aproximamos de DEUS. Deve-se fazer, pois, clara distinção entre a Lei moral que procede da natureza de DEUS e vigorou desde o tempo da criação do homem e o que aqui se chama ordenança, pela qual o sacerdócio de Arão foi instituído e regulado.
Paulo se referiu à Lei moral quando disse: Assim, a Lei é santa; e o mandamento, santo, justo e bom (Rm 7.12); o autor da Epístola (em Hebreus 7.18) está referindo-se à Lei cerimonial no que dizia respeito ao sacerdócio de Arão, ao dizer que foi abrogada por causa de sua fraqueza e inutilidade. A Lei não pode aperfeiçoar coisa alguma-seja a Lei moral, seja a cerimonial, mas por razões muito diversas. A Lei moral é perfeita por ser a vontade de DEUS para o homem, mas estava enferma pela carne (Rm 8.3). Tais eram os seus padrões, que os homens pecaminosos não lhe poderiam prestar perfeita obediência. DEUS só poderia, portanto, condenar os desobedientes, não os ajudar. Por outro lado, a Lei cerimonial era fraca em si mesma, e,sendo ela própria imperfeita, não poderia tornar perfeitos os ofertantes (Hb 10.1 ARA).
Para compreender as diferenças, então, entre as ordens sacerdotais de Arão e de Melquisedeque e suas consequentes alianças, é necessário comparar a vida com a Lei. As criaturas de DEUS agem de acordo com a natureza que lhes fdi dada. A árvore boa produz bons frutos, e a árvore má, maus. Assim também o homem, em seu estado original, agia de acordo com a santidade de sua vida. Mas ele foi criado como ser moral e espiritual capaz de escolher entre o bem e o mal, no estado probatório. ' Quando o homem caiu em pecado, sua vida se perverteu, pelo que lemos que a Lei foi ordenada por causa das transgressões (Gl3.19), isto é, uma Lei chamada ordenança ou mandamento foi acrescentada, para fazer cumprir outra [a moral]. A Lei, pois, torna manifestos os erros de uma vida, mas é importante para corrigi-los. Uma vida santa irá manifestar-se em pensamentos e ações santos. A santidade sempre se manifesta em amor; o amor, quando genuíno, conduz sempre à santidade. Arão era sacerdote segundo um mandamento carnal; CRISTO é sacerdote segundo a virtude da vida incorruptível (Hb 7 .16b). Ora, lemos que o mandamento era santo, justo e bom (Rm 7.12). A obra de CRISTO, portanto, não é adicionar mais itens à Lei, porém transformar de tal modo a vida que a leve a harmonizar-se com a Lei de DEUS. Somente quando percebemos que esta nova ordem de sacerdócio age como vida dentro de nós, tornando-se a nossa própria vida, começamos a apreciar a profundidade do sacerdócio de CRISTO segundo a ordem de Melquisedeque. Ficamos tão fortalecidos pela inspiração daquele que é a Vida, que a vida dele dentro de nós se torna a nossa existência; e, em Sua manifestação, a nossa vida é a dele manifesta por nosso intermédio. Quando a carne é crucificada, então, e só então, podemos dizer como o apóstolo Paulo: já estou crucificado com CRISTO; e vivo, não mais eu, mas CRISTO vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de DEUS, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim (Gl 2.20). Podemos dizer, pois, que Arão ministravaexteriormente; CRISTO, interiormente. Arão ministrava por meio de sacrifícios simbólicos; CRISTO ministra o ESPÍRITO. O ministério de JESUS é a manifestação da santidade e da justiça procedentes de Seu ser. Visto que Ele tem a virtude da vida incorruptível (Hb 7 .16), não é necessário haver interrupção ou enfraquecimento do ESPÍRITO naqueles nos quais Ele habita.

A ESPERANÇA SUPERIOR
(Pois a Lei nenhuma coisa aperfeiçoou), e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a DEUS. Hebreus 7.19
Ainda que a Lei não tenha aperfeiçoado coisa alguma, na verdade serviu para introduzir uma esperança melhor. Visto que a esperança é objetiva, esta melhor esperança deve ser assim considerada.

1. A esperança objetiva Esta esperança melhor introduz aquela perfeição que DEUS providenciou para o homem por intermédio do Cordeiro que foi morto desde a fundação do mundo (Ap 13.8). Inclui purificação de codo pecado e restauração da comunhão do homem com DEUS. Isto foi realizado pelo nosso Sumo Sacerdote, mediante Sua morte na cruz, Sua ressurreição, ascensão e Seu assentamento no trono à destra do Pai. O sangue de animais oferecido pelo sacerdócio levítico não podia remover o pecado, mas o sangue expiatório de CRISTO, o Filho de DEUS, purifica-nos de todo pecado (1 Jo 1.7). Os sacrifícios cerimoniais eram deficientes, pois dependiam inteiramente da eficácia do sangue de CRISTO, que ainda havia de ser derramado. Os salvos sob a dispensação do Antigo Testamento não o foram pelos sacrifícios sacerdotais, mas pela fé no sangue de CRISTO, o qual aqueles sacrifícios representavam. Quando, pois, o sangue de CRISTO foi derramado na cruz, todo o sistema cerimonial de sacrifícios, com o sacerdócio por meio do qual eram oferecidos, tendo servido à sua finalidade simbólica, foi revogado. Dissolveu-se na esperança superior, o sangue expiatório de JESUS CRISTO, o Filho de DEUS, nosso eterno Sumo Sacerdote.

2. A esperança subjetiva
O escritor de Hebreus, tendo apresentado a esperança objetiva como o sacrifício expiatório de CRISTO, dá atenção também à subjetiva, com as palavras pela qual chegamos a DEUS (Hb 7.19). Sob o sacerdócio levítico, DEUS se manifestou na forma de uma ordenança fixa; sob a nova ordem de sacerdócio, o Pai se une com o homem na pessoa do Filho, que assumiu a nossa natureza e habitou nela (Hb 2.16b). Assim, a esperança superior conduz os homens à presença de DEUS mediante JESUS CRISTO (1 Pe 3.18). As palavras chegamos a DEUS também apontam o caminho para as verdades mais profundas que o autor da Epístola vai apresentar, concernentes ao rompimento do véu e à entrada no Santíssimo, onde habitam a harmonia e a comunhão proporcionadas pelo ESPÍRITO SANTO.

O FIADOR DE UMA ALIANÇA SUPERIOR: UM SACERDÓCIO PERPÉTUO
O paralelo seguinte que o escritor de Hebreus traçou entre as ordens levítica e a de Melquisedeque trata do juramento pelo qual este último sacerdócio foi confirmado:
E, visto que não é sem prestar juramento (porque aqueles, sem juramento, são feitos sacerdotes, mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: O Senhor jurou e não se arrependerá: Tu és sacerdote para sempre); por isso mesmo, JESUS se tem tornado fiador de superior aliança. Hebreus 7.20-22 ARA
Seguimos os passos pelos quais o escritor provou a fraqueza e inutilidade (Hb 7.18ARA) do sacerdócio levítico, e, partindo daqui, analisaremos sucintamente os passos pelos quais ele chegou à conclusão de que CRISTO é o Fiador de uma superior aliança, que torna possível a salvação total.

1. O sacerdócio levíúco não alcançou a perfeição, portanto qualquer alteração nele demandou uma alteração na Lei.

2. O novo sacerdócio, pertencente mais à vida que à Lei, necessariamente encontra expressão na nova aliança.

3. A perpetuidade do sacerdócio é confirmada por juramento; portanto, este sacerdócio torna possível uma aliança melhor.

4. Esta depende da continuidade da intercessão de CRISTO junto ao Pai por nós; por conseguinte, esta alian~a melhor torna possível a salvação total ou perfeita.
Três tópicos exigem consideração aqui: a natureza do juramento; o significado da palavra fiador, e a perpetuidade da aliança. Estes tópicos, em conjunto, preparam-nos para o próximo assunto - a salvação total.

1. A natureza do juramento
E, visto como não é sem prestar juramento (porque certamente aqueles, sem juramento, foram feitos sacerdotes, mas este, com juramento, por aquele que lhe disse: jurou o Senhor e não se arrependerá: Tu és sacerdote eternamente, segundo a ordem de Melquisedeque). Hebreus 7.20,21
Em Hebreus 7.1-10, foi demonstrado que o sacerdócio segundo a ordem de Melquisedeque é representado pelo salmista como símbolo do sacerdócio messiânico e, por isso, superior à ordem de Arão. Em Hebreus 7.11-19, o escritor da Epístola prova que o sacerdócio levítico e a Lei Mosaica (pela qual foi constituído e regulado), sendo simbólicos e preparatórios, eram apenas um estágio imperfeito, destinado a ser abolido. Em Hebreus 7. 20-24 e 28, o escritor demonstrará que JESUS é o Messias. Logo, em oposição tanto ao sacerdócio levítico como à Lei Mosaica, Ele é o Sacerdote perfeito, que introduz um testamento superior ou uma aliança perfeita. A palavra juramento vem do grego horkomosias e pode significar juramento ou a prestação de juramento, no sentido da declaração que o acompanha.
As palavras pros auton, na Authorized Version, estão traduzidas como a Ele, e, na American Revised Version, dele (junto him e o J him, respectivamente). Westcott observou, contudo, que estas palavras têm um duplo significado com relação às duas partes do versículo citado (v. 21).
A primeira tem CRISTO como seu objeto, significando, portanto, com respeito a Ele, enquanto a segunda parte é dirigida diretamente a Ele, sendo, assim, corretamente traduzida como a Ele, lhe [a Ele disse; lhe dme]. Mas que necessidade de juramento havia? A Palavra de DEUS não é em si mesma infalível e imutável, tanto quanto um juramento pode fazê-la? Podem-se apresentar diversas razões:

1. Este novo sacerdócio, instituído com a solenidade de um juramento, que não foi prestado com relação ao sacerdócio de Arão, indica que ele foi uma designação mais importante, introduzindo, pois, um testamento melhor. Visto ser um costume de longa tradição confirmar as nossas transações mais importantes com uma declaração juramentada, é evidente que DEUS tencionou demonstrar com estas palavras solenes a importância do sacerdócio messiânico sobre o levítico.

2. A importância do juramento reside também na declaração à qual se ligava, a saber, que CRISTO era Sacerdote para sempre - um sacerdócio imutável de vida indissolúvel. Quanto ao sacerdócio levítico, DEUS não fez menção de perpetuidade.
3. Aos dotados de profunda visão espiritual, o juramento assinala a diferença entre a aliança das obras e a da fé; entre a obediência à Lei e as gloriosas promessas do evangelho.
Referindo-se outra vez ao juramento que DEUS fez a Abraão - jurei, por mim mesmo, diz o SENHOR[ ... ] que deveras te abençoarei e certamente multiplicarei a tua descendência como as estrelas dos céus e como a areia na praia do mar [ ... ] (Gn 22.16,17 ARA) -, o escritor de Hebreus nos remete ao significado da declaração do Senhor Eu o farei. Assim, a Lei externada pelas obras, que assinalou o· insucesso da primeira aliança, é substituída pela Lei da fé. Nenhum mérito cabe ao homem, pois toda a jactância é excluída por esta Lei da fé (Rm 3.26-28). A justiça é o dom de DEUS mediante JESUS CRISTO, nosso Senhor (Rm 5.17).

2. O Fiador de superior aliança
Por isso mesmo, JESUS se tem tornado fiador de superior aliança. Hebreus 7.22 ARA
A palavra grega egguos ( Eyyuoç), traduzida como fiador, encontra-se apenas aqui no Novo Testamento, sendo igualmente rara até no grego clássico. Sua origem é obscura, porém o uso de termos afins claramente lhe fixa o significado como fiador. Mas qual a importância desta palavra e qual o seu real significado? Quanto à importância, está indicada pela relação entre as palavras visto que (v. 20 ARA) e por isso mesmo, nos presentes versículos: E, visto que não é sem prestar juramento [que Ele foi feito sacerdote] [ ... ]por isso mesmo, JESUS se tem tornado fiador de superior aliança (v. 20, 22). O juramento, assim, caracteriza o sacerdócio e o Fiador como sendo eternos e imutáveis, e a superioridade deste testamento sobre o antigo é o que o Dr. Whedon chama a medida da veracidade incomensurável de DEUS. Esta superior aliança, da qual JESUS é o Fiador, foi confirmada e reiterada com o Seu próprio sangue (Hb 9 .15-17). A respeito destes versículos, disse o Dr. Sampson: O fato de que o autor da Epístola, expositor infalível, extrai o argumento desta circunstância vem a favor da mais elevada teoria da inspiração das Escrituras. Parece indicar que devemos analisar todo e cada traço e característica da linguagem sagrada, cada aspecto, cada palavra, como regisrrados por intenção divina, dela tendo o significado. (SAMPSON, A critica! commentary on the Epistle to the Hebrews, p. 275). A palavra fiador tem sido teologicamente interpretada de forrna errônea, devendo, portanto, receber cautelosa consideração.

1 -CRISTO não é o Fiador diante de DEUS pela boa conduta do homem, mas o Fiador de uma aliança que DEUS fez com o homem. Daí, como observou o Dr. Adam Clarke, o ensino "de que CRISTO foi fiador da primeira aliança, para pagar o débito, e da segunda, para cumprir o dever", é absurdo e perigoso. O testamento melhor ou a aliança superior não é fundamentado em obras - essa era a fragilidade da antiga aliança; ele o é no sentido de testamento em que DEUS, mediante a morte de Seu Filho, fez provisão para o povo, a ser recebida exclusivamente pela fé. Assim, a fraqueza da carne é vencida pelo poder de DEUS, que JESUS concede por intermédio do ESPÍRITO SANTO em resposta à fé singela no sangue de CRISTO, derramado por muitos, para remissão dos pecados (Mt 26.28).

2-O texto (Hb 7.22) não diz que CRISTO será o Fiador da aliança; Ele o é. Isto foi realizado pela Sua encarnação - Sua vida, morte, ressurreição e ascensão. Visto, porém, que é o sacerdócio que estamos considerando, só se menciona a Sua intercessão junto ao Pai como consumação. CRISTO é o Fiador de uma superior aliança, pois, em Sua humanidade glorificada, foi até a presença de DEUS por nós.
Disse o bispo Westcott: Diversas vezes, o fiador se compromete em que alguma coisa será feita; porém, o CRISTO ressurreto testemunha que alguma coisa é; a certeza não é do futuro, mas do que é presente, embora não visto. Deve-se observar que não está escrito que JESUS é Fiador do homem perante DEUS, mas de uma aliança de DEUS com o homem. (WESTCOTI, Commentary on lhe Epistle to the Hebrews, p. 191) Como o uso da palavra fiador ( i:yyuoç) tem sido feito de forma abusiva ou em sentido não-escljturístico e perigoso, não será inoportuno examinar um pouco mais do seu significado. O vocábulo grego significa penhor e supõe-se ser assim chamado porque fica alojado com ou nas mãos do credor. É quase o mesmo significado que fiança ou caução [ ... ] Dessa forma, portanto, a palavra que traduzimos como fiador não pode ser aplicada no sentido acima, pois CRISTO - como Fiador- jamais assegurou que faria todas estas coisas por eles, a menos que os homens cumprissem as condições desta"'melhor aliança, isto é, arrependessem-se do pecado, desviassem-se dele, cressem no Filho de DEUS e, tendo recebido a graça, caminhassem como filhos da Luz e fossem fiéis até a mone! Não satisfazer essas condições seria absurdo e impossível; daí, a glosa e comentário de alguns aqui ser também absurdo e perigoso, a saber, "que CRISTO foi o Fiador da primeira aliança, para pagar o débito, e da segunda, para cumprir o dever". (CLARKE, lhe Epistle to the Hebrews, cap. 7). Qual foi este juramento de DEUS? Quando foi feito? Um antigo comemador responde: "Não é outro, senão o propósito do decreto divino, que, de modo algum, deve ser subvenido". Ele tem razão. Talvez, porém, possamos reconhecer no juramento também a certeza imutável dada pelo Pai eterno à consciência do Filho eterno, a quem Ele se dirige. Não tem data no tempo e não é tanto um evento como a certeza permanente feita manifesta. E isto confere sublime força ao presente: Tu és (Hb 7.21}. Por isso mesmo, JESUS se tem tornado fiador de superior aliança (v. 22}, diz a Epístola, recorrendo ao nome próprio para maior ênfase, usando, para o mesmo objeto, a palavra fiador (que não se encontra em outra parte do Novo Testamento em grego ou inglês}, em vez de mediador, o que é freqüente, e introduzindo o pensamento, novo nesta conexão, de uma aliança a atestar, em lugar de causa a pleitear. Esta também está entre os pensamentos a serem logo renovados e amplificados. (CHADWICK, Epistle to the Hebrews, p. 101,102) Macknight diz que a palavra não é aplicável, neste sentido (isto é, fiador pelo bom comportamento de outrem), aos sumos sacerdotes judaicos, pois, para ser fiador idôneo, é necessário ter o poder para compelir a parte a cumprir aquilo pelo que tornou o outro seu fiador; ou, no caso de não cumpri-lo, o fiador deve ser capaz de fàzê-lo ele próprio. Sendo este o caso, quem dirá que os sumos sacerdotes judaicos eram fiadores dos israelitas diante de DEUS, cumprindo a parte deles na aliança da Lei? Ou fiadores junto ao povo pelo cumprimento da parte de DEUS na aliança? Tampouco, pois, é provável que, nesse sentido, JESUS fosse o Fiador da nova aliança. Isso porque, uma vez que esta não exige obediência perfeita, mas apenas a obediência da fé, se a obediência da fé não for prestada pelos próprios homens, por ninguém poderá ser prestada em seu lugar; a menos que suponhamos que os homens pudessem ser salvos sem fé individual. Devo concluir, portanto, que os que falam de JESUS como o Fiador da nova aliança devem concordar que Ele requer obediência perfeita, a qual, não estando ao alcance dos crentes prestar, JESUS a prestou por eles. Mas não será isto o mesmo que fàzer da aliança da graça um concerto de obras, contrariamente ao teor das Escrituras? Por estas razões, acho que os comentadores gregos deram o verdadeiro significado a eyyvoç nesta passagem, quando a explicaram como mediador. (CLARKE, Commentary on the Epistle to the Hebrews)

3. A perpetuidade da aliança
Ora, aqueles são feitos sacerdotes em maior número, porque são impedidos pela morte de continuar; este, no entanto, porque continua para sempre, tem o seu sacerdócio imutável. Hebreus 7.23,24 ARA
O escritor da Epístola aos Hebreus demonstrou que o novo sacerdócio é superior ao antigo por ter sido confirmado com um juramento; e, sendo um sacerdócio superior, introduziu um testamento ou uma aliança superior: a da fé, em vez de a das obras. O autor comenta agora, pelo uso da conjunção kai (KcÜ), outro aspecto da nova aliança, isto é, a sua perpetuidade. As palavras ora, aqueles, referindo-se aos muitos sacerdotes da antiga ordem, destinam-se a dar ênfase àquilo que não poderia ser contestado: que são impedidos pela morte de continuar. O argumento, rodavia, é apresentado não apenas para explicar a existência de muitos sacerdotes, mas também para provar a natureza temporária daquela ordem [levítica], devido à fraqueza e enfermidade (-inerentes à carne). Todo o sistema do sacerdócio levítico e a aliança que representava caracterizavam-se pela mudança, fragilidade e morte. Em contraste, JESUS tem um sacerdócio imutável em virtude de Sua vida indissolúvel. Seu ofício é perpétuo. Jamais poderá passar para outro. Assim, após discorrer sobre a suprema dignidade do sacerdócio de CRISTO, por ter sido confirmado com juramento de DEUS, o escritor de Hebreus evidencia que JESUS é o Autor de um testamento superior de uma vida indissolúvel; e Ele é soberano em capacidade, porque o Seu é um sacerdócio perpétuo, ininterrupto na administração e sem sucessor.

A SALVAÇÃO PERFEITA: UM SACERDÓCIO EFICAZ
Em nossa interpretação das experiências espirituais, associadas aos diferentes aspectos da pessoa e obra de CRISTO, examinamos o seguinte:

1. Em conexão com a divindade de CRISTO, temos a grande salvação e a consequente advertência contra a negligência.

2. Em conexão com a humanidade de CRISTO e Sua humilhação, temos a santificação, com uma advertência contra o endurecer o coração.

3. A respeito de CRISTO como apóstolo, temos o descanso da fé e uma advertência contra a incredulidade.

4. A respeito do sacerdócio de CRISTO, temos a salvação eterna e uma advertência contra a indiferença ou o ser tardios em ouvir.
5. No que conceme às promessas melhores, temos a perfeição cristã e uma advertência contra a indolência ou falta de progresso.
Chegamos agora ao aspecto da experiência espiritual conhecido como salvação completa ou perfeita; aqui, porém, não encontramos advertência. Em lugar disso, os versículos seguintes enumeram os atributos
de CRISTO que o tornam perfeito, o Sacerdote eficaz que pode salvar totalmente.
Seguem-se ainda dois aspectos e duas advertências:

1. O Santíssimo em conexão com a obra do Sumo Sacerdote no santuário. Aqui é que se menciona o sangue da expiação, e a advertência que se segue é contra o pecado voluntário.

2. Finalmente, temos a palavra santidade e a exortação para seguir a paz com todos e a santificação [ou santidade], sem a qual ninguém verá o Senhor (Hb 12.14 ARA). Isto é ainda sintetizado no propósito supremo da Epístola: Por isso, foi que também JESUS, para santificar o povo, pelo seu próprio sangue, sofreu fora da porta. Saiamos, pois, a ele, fora do arraial levando o seu vitupério (Hb 13.12,13 ARA). Temos aqui a advertência: Tende cuidado, não recuseis ao que fala (Hb 12.25a ARA). Visto que tal se declara em conexão com a nossa herança eterna e o Juízo Final, pode bem ser considerada advertência contra a apostasia final.

PERFEITAMENTE SALVOS
Por isso, também pode salvar totalmente os que por ele se chegam a DEUS, vivendo sempre para interceder por eles. Hebreus 7.25 ARA
Este versículo é introduzido naturalmente pelo que o precede, o qual apresenta o sacerdócio imutável de CRISTO. E é porque Ele vive sempre para interceder por nós que nos pode salvar completamente, perfeitamente outotalmente. O escritor de Hebreus demonstrou que a perfeição não veio pelo sacerdócio levítico, e disse, ,de fato, senão· por palavras, que a perfeição veio mediante CRISTO. No versículo anterior, ele não usa a palavra perfeição, mas o termo mais geral sozein (awl:nv), salvar, ao qual acrescenta a expressão eis to panteles, que significa completamente, perfeitamente e totalmente, como antes indicamos. Trata-se de expressão enfática, atribuindo a CRISTO uma salvação que inclui rodas as perfeições possíveis, rodos os fins beneficentes, perdão dos pecados, santificação, e por fim a vida eterna (Rm 6.22b). Este texto [Hb 7.25] justifica a alusão a JESUS como o Santificador que aparece em Hebreus 2.11, e esta santificação, em seu significado mais amplo, inclui a purificação de todo pecado e a presença do ESPÍRITO SANTO.

OUTRO USO DA PALAVRA TOTALMENTE
A locução grega eis to panteles, aqui traduzida como totalmente, encontra-se em outro lugar no Novo Testamento, traduzida como de modo algum. Lemos que estava ali uma mulher que tinha um espírito de enfermidade havia já dezoito anos; e andava curvada e não podia de modo algum endireitar-se (Lc 13.11 ARA; grifo do autor), sendo a locução grega idêntica à encontrada em Hebreus 7.25. A mulher não podia endireitar-se completamente ou perfeitamente. Como, pela cura milagrosa, ela pôde endireitar-se até a sua plena estatura fisicamente, assim, o autor da Epístola aos Hebreus nos diz que JESUS possibilita aos homens endireitarem-se até a sua plena estatura espiritual. DEUS jamais destrói nos homens uma faculdade que Ele criou. Mas, purificado de rodo pecado e de toda injustiça, o homem pode endireitar-se até alcançar sua plena estatura. Não sabemos até que nível o,ESPÍRITO de santidade pode elevar e manter a alma que se entrega inteiramente a Ele; sabemos, porém, que, quaisquer que sejam os patamares atingidos, eles devem-se à nova vida, aperfeiçoada em CRISTO pela obediência e pelo sofrimento, e agora transmitida ao Seu povo pelo poder do ESPÍRITO SANTO.

O PODER DA INTERCESSÃO
A palavra intercessão, que revela o meio pelo qual CRISTO salva total e perfeitamente, está repleta de profundo significado e conforto espiritual. O vocábulo grego entugchanein (evruyxávav), encontrado também no uso clássico, significa principalmente encontrar com ou tratar com alguém sobre assuntos de interesse comum. Encontra-se, em conexão com a palavra hyper, em Romanos 8.26, onde lemos que o ESPÍRITO SANTO faz intercessão por nós com gemidos inexpimíveis. Contrariamente aos sacerdotes levíticos, que precisavam oferecer sacrifícios todos os dias por si mesmos, CRISTO fez um único sacrifício supremo para sempre; foi o que fez quando, por intermédio do ESPÍRITO eterno, entregou-se a si mesmo sem mancha a DEUS (Hb 9.11). Eis o porquê de o Seu caráter e sacrifício serem perfeitos; resta-lhe agora apenas pronunciar a palavra, e a obra se faz. Como pela Sua palavra foram feitos os mundos e Ele agora sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder (Hb 1.3b), assim também, por aquela palavra, pode Ele salvar da perdição total para a salvação completa. Se com tal facilidade nosso Senhor nos céus atende às necessidades do Seu povo, não deveríamos com maior frequência e toda confiança ousadamente aproximar-nos do trono da graça, para que possamos alcançar misericórdia e achar graça, a fim de sermos ajudados em tempo oportuno? (Hb 4.16).

AS CARACTERÍSTICAS DA NOVA DISPENSAÇÃO: UM SACERDÓCIO IDÔNEO
O autor da Epístola chega ao clímax de sua escrita e descreve, para si mesmo e para nós, o Sacerdote ideal, que é CRISTO (Hb 7.26-28). O Sumo Sacerdote que se identifica conosco, isto é, que convém às nossas necessidad~s, deve ter três tipos de perfeição: a do caráter, a de Sua oferta e a da intercessão. Antes de analisar estas qualificações, contudo, convém observar que esta é a primeira vez que o autor da Epístola usa o termo sumo sacerdote em conexão com a ordem de Melquisedeque. Antes disto, é usado unicamente em conexão com o sacerdócio arônico. CRISTO não é apenas o antítipo do sumo sacerdócio arônico; é também o sacerdote de uma dispensação iateiramente diversa. Quando, portanto, estes dois aspectos de CRISTO (rei e sacerdote] se combinam, como acontece aqui, é necessário atentar para a distinção. O escritor falará sobre a grande expiação de CRISTO, o Seu sacrifício supremo e o Seu ingresso além do véu até a presença de DEUS. Demonstrará assim que CRISTO preencheu não apenas o simbolismo que se ligava ao sumo sacerdócio da ordem de Arão. CRISTO foi também Sacerdote de uma nova ordem, cuja distinção reside nisto:
1. Arão foi sacerdote na fraqueza da carne; CRISTO é o Filho eterno de DEUS. .
2. Arão tinha um santuário mundano ou terreno; CRISTO ministra de Seu trono nos céus.
3. O sangue de sacrifícios de animais, que jamais poderia remover o pecado, foi anulado no sacrifício de CRISTO de uma vez por todas. Por isso, CRISTO é o Ministro de um santuário celestial e o Fiador de uma aliança melhor. Observemos as três perfeições deste Sumo Sacerdote ideal.

1. CRISTO foi perfeito quanto ao Seu caráter e à Sua vocação.
Com efeito, nos convinha um sumo sacerdote como este, santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus. Hebreus 7.26 ARA
Encontram-se neste versículo cinco declarações a respeito da perfeição de JESUS, nosso Sumo Sacerdote, e cada uma delas elll aposição à palavra toioutos, um tal ou assim como este.
1. CRISTO era santo interior e exteriormente. O vocábulo sam neste contexto não é hagios {áyLoç), que significa separados para DEUS, mas hosios {óaLoç), que é separado da contaminação.
2. Ele era inculpável. A palavra grega é akakos, o antônimo de maldade e, portanto, afirma que nada do que fosse vil ou inferior estava ligado a Ele. Ele era sem mácula em todas as manifestações de Sua vida.
3. Ele era sem mácula, palavra que vem de amiantos, isto é, que não traz em si mancha devido ao pecado. Isto talvez seja uma alusão à necessidade de perfeição física nos sacrifícios do Antigo Testamento.
4. Ele era separado dos pecadores; e, realmente humano. Como Homem entre os homens, manteve-se isento dos pecados. Nota-se que as qualidades precedentes são apenas variações de ênfase sobre uma única qualidade suprema, a santidade como isenção de pecado. A elas, acrescenta-se que:
5. Ele foi Jeito mais alto do que os céus sem dúvida, uma referência à entrada do sumo sacerdote no Santíssimo no Dia da Expiação.
Verificar-se-á adiante que uma das principais características do nosso Sumo Sacerdote é que Ele ministra do trono no santuário celeste.

2. CRISTO foi perfeito como oferta sacrificial.
Que não tem necessidade, como os sumos sacerdotes, de oferecer todos os dias sacrifícios, primeiro, por seus próprios pecados, depois, pelos do povo; porque fez isto uma vez por todas, quando a si mesmo se ofereceu. Hebreus 7.27 ARA
Esta é a segunda evidência da perfeição de CRISTO. Ao contrário dos sumos sacerdotes levíticos, E~e não tinha pecados a expiar e, portanto, tornou-se a Propiciação única pelos outros. Os contrastes são distintos: os sacerdotes levíticos ofereciam sacrifícios diariamente; CRISTO ofereceu um, de uma vez por todas. Os sacrifícios deles não podiam tornar os comungantes perfeitos; o sangue que JESUS derramou nos purifica de todo pecado e de toda injustiça.
Como nos versículos anteriores, temos a primeira menção de um Sumo Sacerdote associado à ordem de Melquisedeque, em Hebreus 7.27 temos a primeira referência a CRISTO como o Sacrifício perfeito.
O verbo oferecer deve ser complementado pelas palavras a DEUS, indicando, dessa forma, que CRISTO se ofereceu sobre o altar de DEUS. CRISTO foi tanto o Ofertante como a Oferta perfeita. Em Hebreus 2.9 (ARA), lemos que CRISTO, tendo sido feito menor que os anjos, por causa do sofrimento da morte, foi coroado de glória e de honra. Vemos que Sua glória e Sua honra se manifestaram quando Ele provou a morte por todos os homens.

3. CRISTO e a Sua obra intercessória perfeita.
 Porque a Lei constitui sumos sacerdotes a homens sujeitos à fraqueza, mas a palavra do juramento, que foi posterior à Lei, constitui o Filho, perfeito para sempre. Hebreus 7.28 ARA

Este versículo é uma recapitulação das verdades anteriores apresentadas, mas aqui resumidas e expressas em sua forma final:

1. A Lei constituiu como sumos sacerdotes homens sujeitos à fraqueza, a qual, na presente acepção, inclui tanto as limitações naturais da humanidade finita como as imperfeições pessoais do sumo sacerdote.

2. A palavra do juramento, pelo que se entende a prestação de juramento, foi subsequente à Lei e, portanto, deve tomar conhecimento dela. É o que faz revogando-a (Hb 7.18), pois uma mudança no sacerdócio implica mudança da Lei (Hb 7.12).

3. Este Sumo Sacerdote maior é o Filho, perfeito para sempre. A palavra Filho, no original, está sem o artigo definido. Refere-se à filiação encarnada de CRISTO; acepção que o escritor de Hebreus tornou clara nos capítulos anteriores da Epístola. O Verbo, o Filho eterno, tendo encarnado como DEUS-Homem, viveu a vida de homem entre os homens, durante os dias da Sua carne e, por meio de Sua experiência humana, tornou-se misericordioso e fiel sumo sacerdote naquilo que é de DEUS (Hb 2 .17). A palavra consagrado, que aparece em lugar de perfeito na versão inglesa, é muito imprópria e causa grande confusão de ideias. O vocábulo grego teteleiomenon está no particípio passivo perfeito de teteleioo ( n:n:i\.cíw) e significa foi aperfeiçoado e ainda continua a ser perfeito.
A perfeição, teleiosis, não foi atingida pelo sacerdócio levítico, mas foi realizada pelo Filho, que foi aperfeiçoado para sempre. Deste modo, a perfeição do Filho se torna a antítese direta da imperfeição dos sacerdotes arônicos. Como, porém, conseguiu CRISTO ser indefectível? Ele aprendeu a obediência pehs coisas que sofreu e, tendo sido aperfeiçoado, tornou-se o Autor da salvação eterna para todos os que lhe obedecem (Hb 5.8b,9 ARA).
Agora, contudo, tendo enfrentado e vencido a morte como o último inimigo, tornando-se assim o Primogênito dentre os mortos, CRISTO ascendeu aos céus, levando, em Seu estado glorificado, a Sua humanidade - e a nossa - ao trono de DEUS. Por causa da Sua expiação, concluída sobre a terra, e Sua presença intercessória à destra de DEUS, o Pai concedeu o ESPÍRITO SANTO como Dádiva à Igreja de CRISTO, querendo isto dizer que Ele habita no meio do Seu povo em poder santificador. Quando Ele voltar segunda vez, nós também ressurgiremos no poder e na glória da ressurreiç~o e seremos semelhantes a ele; porque assim como é o veremos (1 Jo 3.2c). Que triunfo maravilhoso de CRISTO! Que esperança gloriosa para o Seu povo!

FONTE : Apazdosenhor.org




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