
CAPÍTULO 13
GLORIFICADOS EM CRISTO
A
|
glorificação
dos salvos é o clímax e o ato final do processo de salvação. Além de ser o
evento mais sublime para os salvos, é também o lugar em que a doutrina da
salvação e a escatologia encontrar-se-ão. Trata-se de um evento tão glorioso
que afetará a própria criação, que será renovada e redimensionada (Ap 21.5)
para receber a Jerusalém Celestial, a futura habitação dos salvos remidos. Isso
acontecerá na segunda vinda de Cristo, e salvos experimentarão a transformação
completa da corruptibilidade humana e serão revestidos da glória de Deus.
PEREGRINOS NA
TERRA
O anseio verdadeiro de todo crente é poder
chegar ao seu destino final, que é o céu. Esse anseio é totalmente possível
através da plenitude da salvação que se dará nesse momento quando a essência do
ser humano atingirá seu clímax de potencialidades positivas e santas e quando
cessarão as coisas próprias da humanidade decaída. Todavia, enquanto espera
esse dia glorioso, o crente é conduzido a peregrinar (Sl 119.19; Hb 11.13) na
terra da mesma forma como tantos heróis da fé já o fizeram, como escreve o
autor aos Hebreus: “Todos estes [Abraão, Sara, Isaque, Jacó, Moisés, etc.]
morreram na fé, sem terem recebido as promessas, mas, vendo-as de longe, e
crendo nelas, e abraçando-as, confessaram que eram estrangeiros e peregrinos na
terra. Porque os que isso dizem claramente mostram que buscam uma pátria” (Hb
11.13.14). O peregrinar é cheio de vida e alegrias no Senhor, mas também é
permeado por circunstâncias difíceis, as quais nos desafiam a respostas,
soluções, resignações, processos de cura, resiliência e fé. É o olhar fito no
além que dá as condições necessárias para suportar as dificuldades, assim como
fez Abraão, que, “pela fé, habitou na terra da promessa, como em terra alheia,
morando em cabanas com Isaque e Jacó, herdeiros com ele da mesma promessa” (Hb
11.9).
O crente Abraão é o modelo bíblico ideal
dessa realidade, pois fez da peregrinação o seu estilo de vida (Hb 11.9). Da
mesma forma, nós, cristãos, somos peregrinos aqui e precisamos adquirir esse
estilo de vida. Por esse motivo, não podemos ficar embaraçados com as coisas do
mundo, nem permitir que elas ocupem o lugar que pertence ao Senhor em nossos
corações (Mt 6.21). Isso não significa relaxamento quanto ao trabalho, estudos
e família, mas, sim, um direcionamento correto do coração, buscando, em
primeiro lugar, as coisas que são de cima (Cl 3.1).
A Bíblia refere-se ao fato de que os
crentes não são deste mundo (Jo 17.16) e anseiam por sua pátria celestial, como
disse Paulo: “Mas a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o
Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20). Dessa forma, nossos valores não
podem conformar-se com este mundo, e nosso estilo de vida deve refletir o
exemplo de Jesus presente nos evangelhos, marcado pela prática da justiça, do
acolhimento aos que sofrem, de libertação dos oprimidos do Diabo e,
especialmente, em praticar em todos os atos o amor de Deus, que será uma das
poucas coisas da terra presentes no céu (1 Co 13.13). Assim, antecipa-se o
Reino de Deus na terra na tensão entre o que vivemos agora e o que há de vir
(Mt 6.33), pois sabemos que tudo aqui na terra é transitório e passageiro.
A
certeza da transitoriedade de todas as coisas é o que alimenta a fé cristã.
Todas as igrejas que são vivas em sua liturgia e aplicam o evangelho ao seu
cotidiano, como no caso dos pentecostais, são as que mais intensamente aguardam
o desenrolar escatológico, exatamente como escreve Moltmann:
O cristianismo é total e visceralmente
escatologia, e não só como apêndice; ele é perspectiva e tendência para frente,
e, por isso mesmo, renovação, e transformação do presente. O escatológico não é
algo que se adiciona ao cristianismo, mas é simplesmente o meio em que se move
a fé cristã, aquilo que dá o tom a tudo o que há nele.
O peregrino é aquele que está de
passagem por uma terra que não lhe pertence. Ele caminha em direção a um país
que seu coração almeja e, então, sacrifica-se para isso, não tendo lugar
permanente por onde caminha, não experimentando conforto e ainda carregando o
mínimo de bagagem para tornar o trajeto mais fácil. “Amados, peço-vos
[exorto-vos], como a peregrinos e forasteiros, que vos abstenhais das concupiscências
da carne, que combatem contra a alma” (1 Pe 2.11).
Paulo exorta-nos a termos o mesmo
sentimento que houve em Cristo, o de esvaziar-se (Fp 2.5) para poder cumprir o
propósito de Deus, que é servir. Isso significa que devemos abandonar toda
prepotência, orgulho e apego a títulos, cargos e posições para servir às
pessoas necessitadas à nossa volta em obediência completa a Jesus (Jo 13.1ss;
Fp 2.7-8); o que passar disso assume a prepotência de querer ser igual a Deus
(Fp 2.6).
Aqui, somos constantemente levados à
ganância, ao consumismo, ao poder e às riquezas, as quais estão traindo a
esperança futura de muitos crentes na vinda de Cristo e também nas
bem-aventuranças eternas, fazendo com que queiram desfrutar (embora seja lícito
dentro de limites) inadvertida e completamente focados nas coisas da terra,
esquecendo-se das celestiais, que, de fato, tem valor eterno. Jesus disse para
buscarmos “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas
[nos] serão acrescentadas” (ver Mt 6.33).
Essa mudança de foco por parte daqueles
que deveriam estar esperando e ansiando pelo Reino vindouro torna-se num
secularismo religioso,184 o qual afasta as esperanças do Reino, fazendo-os
focar em ídolos criados pelos homens. Nesse sentido, os ídolos podem ser
qualquer coisa que tome o lugar do Senhor como prioridade última na vida. O
ídolo sempre é opaco, ou seja, ele ofusca aquilo que se quer buscar, passando a
apontar para si mesmo. O ídolo serve como um substituto muito fútil para Deus.
A religiosidade e as denominações religiosas podem, inclusive, tornar-se um
ídolo quando passam a manipular o povo para obter vantagens próprias e adquirir
poder (não do Espírito Santo, mas de forças humanas), ou, quando elas tornam-se
um fim em si mesmas.185
Algumas religiões atuais que crescem
vertiginosamente — em especial as neopentecostais — secularizaram Deus a um
mero atendedor de desejos humanos e instrumentalizaram-no para fins de
interesses duvidosos, extirpando qualquer possibilidade de esperança futura,
pois a religião nem sempre está em busca de Deus e nem sempre cumpre seu
propósito de religare186 com Deus. Isso faz com que um falso reino de Deus seja
implantado aqui e agora. O deus-ídolo que a religião criou para atender esses
desejos humanos, alguns até legítimos, porém obtusos, não coincide com o Deus
bíblico187 e escatológico.
Há, portanto, uma imensa crise de
esperança futura do Reino de Deus, fazendo muitos acharem que esse Reino não é
mais necessário. O neopentecostalismo já criou seus anticristos, que proclamam
que o reino já chegou materialmente. Trata-se de um reino que está
esplendidamente cheio de promessas de riqueza e que já está na concretude da
espoliação religiosa, da exploração de mentes e corações idólatras. Houve uma
aliança perfeita entre a ganância do mundo capitalista expressa nos desejos do
povo e na ganância por poder de líderes religiosos inescrupulosos que constroem
grandes impérios de um reino idolátrico. Trata-se de uma sutil combinação
malévola entre esses líderes e o povo idólatra num imenso e falso conto de
fadas religioso, praticando-se, assim, um ateísmo prático onde se fala de Deus,
mas Ele é totalmente desnecessário.
É lógico que o fenômeno de buscar
refúgio188 em igrejas para obter favores de Deus (sejam eles financeiros ou de
sanidade física) também reflete a falta de políticas públicas que deem conta
dos milhares de pobres e desamparados que não têm acesso à medicina de forma
digna e têm de submeter-se às promessas de curandeirismo evangélico. É óbvio
que não somos contra a cura como um milagre legítimo através dos vários dons e
ministérios conferidos por Cristo à sua igreja, mas também não podemos
concordar com ilusões e curas midiáticas que apenas atraem mais povo para a
igreja e, assim, extorquem-no de alguma forma.
Aqueles que professam a fé cristã não escapam ao
feitiço da religião do mercado. [...] O sistema religioso, [muitas vezes o
mesmo] que regula e controla o mercado exerce hoje uma influência muito
significativa sobre o povo de Deus das diferentes igrejas e confissões cristãs.
Isso equivale a dizer que, consciente ou inconscientemente, a espiritualidade
dessa parte do povo de Deus vive em aliança com os ídolos do mercado.189
Cientes de que somos peregrinos na
terra, aguardamos a pátria celestial, mantendo-nos fieis ao que a Palavra de
Deus ensina para, então, ficarmos livres dessas formas de secularismo e ateísmo
prático. A vida simples de Cristo, que nos serve de exemplo, tinha um único
objetivo apenas: fazer a vontade do Pai (Jo 5.30). Ele fazia dessa vontade sua
vida e, portanto, não tinha preocupações desnecessárias e nem as complicadas
demandas que esvaziam a simplicidade cristã de desfrutar a vida de maneira
despretensiosa e, ao mesmo tempo, de esperar a gloriosa morada celestial.
É preciso,
entretanto, ter equilíbrio entre o que se espera no além e as demandas normais
da vida. Não se pode viver apenas de forma etérea e esquecer as necessidades e
obrigações que temos nesta vida — como outrora, em que até mesmo os estudos
eram desmotivados —, mas também não podemos render-nos aos encantos do mundo
como visto acima. Nesse sentido, Albano afirma que:
Outrora, para muitos pentecostais, a salvação era
entendida como sinônimo de fuga do mundo. Assim, depreciava-se a criação e
assumia-se uma postura de desconfiança frente à vida nesta terra. Essa
espiritualidade podia ser resumida pela palavra não! Hoje, essa concepção vem
mudando, tem havido uma espiritualidade marcada pelo sim à vida. Isso ocorre
por obra do Espírito Santo, cuja atuação nas igrejas Assembleias de Deus, sobretudo,
no âmbito da educação teológica tem favorecido a abertura à estética, artes e
às questões públicas e políticas. Portanto, vivencia-se a salvação que conduz
ao encontro do mundo, em liberdade, santidade e responsabilidade (cf. Jo
17.15-18; Rm 8).190
A postura de esperança faz-nos buscar
uma vida simples como Jesus ensinou e viveu (Mt 6.19-21), confiando nos
cuidados que Deus tem para com seus filhos. Somos também livres das fúteis
tentações da Teologia da Prosperidade, que inverte (1 Co 15.19) a ordem certa
de prioridades do Reino de Deus e faz-nos querer buscar as coisas que perecem
(Mt 6.21), esquecendo-nos das que hão de vir (Ap 22.6).
A GLORIOSA ESPERANÇA DA RESSURREIÇÃO
DOS
SANTOS
Os salvos em Cristo têm uma esperança gloriosa
de ressurreição para estarem para sempre com Ele (1 Ts 4.14; Is 26.19). Essa é
uma das promessas futuras do crente possíveis por causa da ressurreição do
próprio Jesus. Do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos.
Ele “transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo
glorioso, segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas”
(Fp 3.21). Nosso corpo, hoje sujeito a enfermidades e fraquezas, será revestido
de incorruptibilidade na ressurreição (1 Co 15.54) e nunca mais haverá fatos
que levem à morte, pois a ressurreição será a vitória final sobre a morte (1 Co
15.55).
Aqueles que foram salvos pelo sacrifício de
Cristo serão levados para o Reino de Deus, que será um eterno desfrutar de
alegrias, delícias e bem-estar na presença de todos os salvos de todos os
tempos, e o mais importante: estaremos para sempre com o nosso Senhor e
Salvador Jesus Cristo, cuja presença encherá a terra com sua glória e
majestade, conforme a visão de João: “E a cidade não necessita de sol nem de
lua, para que nela resplandeçam, porque a glória de Deus a tem alumiado, e o
Cordeiro é a sua lâmpada” (Ap 21.23).
A ressurreição será o início de um
estado de eterna satisfação em Deus, que suplantará incomparavelmente qualquer
aflição deste tempo presente (Rm 8.18). O sofrimento será completamente
extirpado como afirmou João: “E Deus limpará de seus olhos toda lágrima, e não
haverá mais morte, nem pranto, nem clamor, nem dor, porque já as primeiras
coisas são passadas” (Ap 21.4). Diante da doce esperança do porvir, conta-se de
um crente bem idoso que, na iminência de estar com o Senhor, foi perguntado se,
durante a vida, ele não se sentiu tentado a deixar de servir a Deus. Ele
respondeu: “Se eu quisesse, eu não poderia; se eu pudesse, eu não quereria.”
Ele tinha seus olhos inteiramente voltados para Cristo.
O anseio pela vida eterna concretizada
na ressurreição dos mortos esteve subjetivamente presente nos heróis da fé do
Antigo Testamento, quando as escrituras afirmam que:
Todos estes
morreram na fé, sem terem recebido as
promessas, mas, vendo-as de longe, e crendo nelas, e abraçando-as, confessaram
que eram estrangeiros e peregrinos na terra. Porque os que isso dizem
claramente mostram que buscam uma pátria. E se, na verdade, se lembrassem
daquela de onde haviam saído, teriam oportunidade de voltar. Mas, agora,
desejam uma melhor, isto é, a celestial. Pelo que também Deus não se envergonha
deles, de se chamar seu Deus, porque já lhes preparou uma cidade. (Hb 11.13-16)
A ressurreição de Jesus e a futura ressurreição
dos salvos fazem com que tiremos os olhos das circunstâncias muitas vezes
difíceis e voltemos nossos olhos para o além. Isso não pode significar a fuga
de enfrentamentos que aqui temos de passar, mas significa uma alegre esperança
de que tudo passará, encorajando-nos ainda mais para enfrentarmos as batalhas e
tendo certeza da presença de Deus e seu fortalecimento (Rm 8.11). “Se esperamos
em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1 Co
15.19).
A PLENA SALVAÇÃO NOS CÉUS
Para compreender a glorificação dos
salvos ou sua plenitude nos céus, é preciso antes compreender que a salvação
desfrutada aqui na terra, embora potencialmente completa, é também precária na
tensão entre a salvação já operada, o “aqui agora”, e a salvação plena no
futuro, o “ainda não” escatológico. Dessa forma, todos os demais aspectos da
salvação já experimentados até agora alcançarão sua plenitude no “ainda não”
escatológico. Então, a justificação poderá ser comprovada, pois hoje é aceita
por fé; o amor de Deus será experimentado com todas as suas satisfações e
gozos; a regeneração, aqui relativa, será completa; a santificação, aqui vivida
limitadamente e sujeita ao pecado, será perfeita; a reconciliação com o Pai,
agora sujeita aos percalços da desconfiança e da incerteza, será uma doce
realidade; a adoção, aqui vivida às vezes com afastamentos do Pai, lá será
desfrutada em sua paternidade infinita. Paulo e Judas afirmam também a completa
inculpabilidade e irrepreensibilidade (Ef 1.4; Fp 1.9-11; 1 Co 1.8; Jd 24) na
glorificação futura. Isso acontecerá porque não haverá mais tentações pelo fato
de o pecado e o mal terem sido vencidos definitivamente.
O cristão experimentará a sua plenitude
em termos de sua espiritualidade, moralidade, conhecimento (1 Co 13.12) e de
seus sentimentos e emoções, num completo estado de satisfação individual e
relacional. As intrigas, inimizades, ciúmes, invejas, toda sorte de infortúnios
causados por terceiros em nós — ou que nós mesmos causamos e provocamos em nós
mesmos e nos outros — e as angústias próprias da vida não estarão mais
presentes, pois a perfeição do amor de Deus invadirá todas as consciências e
atitudes, de tal forma que, todas as contingências, dificuldades e limitações
humanas serão superadas, pois a transformação atingirá todas as dimensões
humanas como escreveu Paulo em 1 Coríntios 15.52-55.
Paul Tillich (1886–1965) enumera três
tipos de angústias que serão superadas totalmente na entrada no Reino eterno:
do destino e da morte; da vacuidade ou insignificação, no aspecto da busca por
um lugar de sentido na vida; e da culpa e condenação, que, mesmo nos salvos,
pode gerar dúvidas e ansiedades.191 Todos esses processos são subjetivos e
presentes em todo ser humano, sendo apaziguados, porém não totalmente
superados, pela certeza da salvação e, dessa forma, substancialmente presentes
e vivenciados; por isso, gememos esperando ser revestidos da habitação divina
nos céus (ver 1 Co 5.2).
A salvação plena nos céus foi
efetuada pela obra de Cristo na cruz e é garantida pelo Espírito Santo que nos
foi dado (2 Co 5.5). Ele é a garantia dessa herança eterna e da redenção eterna
nos céus (Ef 1.13-14). Lá experimentaremos a completa transformação e também a
ausência de pecados cometidos por nós, bem como a completa ausência de enfermidades,
moléstias, catástrofes, decepções ou qualquer tristeza humana (Ap 21.4). Ali
tudo será alegria eterna, paz, fé, esperança e amor (1 Co 13.13).
Aqui nesta vida, vivemos na tensão entre
as possibilidades precárias do Reino de Deus na terra e a alegre esperança da
vida eterna nos céus, onde estaremos para sempre com o Senhor, desfrutando das
delícias preparadas para nós (Mt 25.10), porque aquilo que de melhor ou pior
existe nesta vida não é comparável ao melhor da glória reservada para nós (Rm
8.18). Isso é definido por Gottfried Brakemeier da seguinte forma:
A
perfeição que vai substituir o provisório (1 Co 13.11), a vinda da nova
Jerusalém (Ap 21), o banquete da alegria com o Jesus ressurreto (Mc 14.25),
isso está por vir, exigindo sejam superados o pecado, o mal e a morte. Ainda
assim, a novidade futura se antecipa. A evangelização aos pobres, a libertação
dos cativos, a restauração da vista aos cegos (Mt 11.2), em suma, a renovação
de pessoas e mundo visibiliza já agora a salvação que está por vir.192
Pelo fato de a vida ser precária e não
plena, há um anseio no coração humano que deseja ardentemente estar na casa do
Pai porque, nessa casa, acontece a cura das dores, há segurança e conforto e a
alma encontra um lar onde pode repousar. Esse anseio está presente até mesmo no
ateu que busca preencher esse lugar de forma inadequada, encontrando
felicidades temporárias, como também no mais piedoso crente, pois todo ser
humano almeja estar neste lugar, a casa do Pai para onde desejar voltar e
desfrutar da sua presença. “O lar é onde você realmente está seguro; é onde
pode receber o que deseja. Você precisa [do Espírito Santo] para se manter
nele, de modo que não vá embora novamente. Quando, entretanto, voltar para casa
e ficar em casa, encontrará o amor que trará descanso ao seu coração.”193
Uma grande realidade e mistério que deve
ser vivenciado com relação à peregrinação para a vida eterna é que, apesar de
ansiarmos pela pátria celestial, ela é vivida onde Deus está. Assim, podemos
viver como Jesus ensinou: “Estai em mim, e eu, em vós” (Jo 15.4). A oração da
intimidade com o Pai é a possibilidade de antecipação de nossa volta a casa
para estar com Ele. O lugar que a alma humana anseia profundamente estar,
conforme afirma Nouwen:
[Essa presença de Jesus] é a presença ativa de
Deus no centro do meu viver — o movimento do Espírito de Deus dentro de nós —
que nos dá vida, a vida eterna. “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só
por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo,
a quem enviaste” (Jo 17.3). Seja como for, o que será a vida depois da
morte? Quando vivemos em comunhão com Deus, pertencemos à própria casa de Deus,
onde não há mais nenhum antes ou depois. A morte deixa de ser a linha
divisória. A morte perde seu poder sobre aqueles que pertencem a Deus, porque
Deus é o Deus dos vivos e não dos mortos. [Mt 22.33]. Logo que tenhamos provado
a alegria e a paz que vem do fato de sermos abraçados pelo amor de Deus,
saberemos que tudo está bem e estará bem.194
A satisfação que o filho pródigo
encontrou ao voltar para casa, a saudade da segurança paterna, o abraço
fraterno, a sensação de bem-estar e o carinho do pai servem de exemplo, não
apenas para os que se desviam da igreja, mas também para os que permanecem nela
e precisam descansar suas almas em Deus em meio a um mundo caótico, com suas
incertezas, insatisfações e frustrações.
Continuamos à espera de que um dia
encontraremos o homem que traga paz à nossa vida insatisfeita, o emprego em que
possamos fazer uso e demonstrar o nosso potencial, o livro que explicará tudo,
e o lugar onde nos sintamos realmente em casa. Essas falsas esperanças
levam-nos a fazer exigências esgotantes e preparam-nos para a hostilidade
amarga e perigosa, quando começamos a perceber que nada nem ninguém é capaz de
satisfazer inteiramente as nossas expectativas absolutistas.195
Embora a oração seja o meio pelo qual
antecipamos o estar na casa do Pai, almejamos por estarmos definitivamente na
casa dEle. A busca desejosa por esse lugar revela que nosso lugar não é aqui. A
nostalgia do céu não permite que vis tentações tirem nosso foco do lugar de
delícias, do país das maravilhas, do porto seguro, do outro lado da vida, do
lugar onde as lutas cessarão. Em breve, voltaremos ao lar.
A esperança da plena salvação nos céus
é que manteve e mantém a fé em Deus viva, dos que já partiram e da nossa, que
ainda militamos, apesar das circunstâncias adversas e das circunstâncias
mundanas e secularizadas, como citado anteriormente, que se tornam em ídolos
que exigem nosso tempo e dedicação, e que nos servem de tentação para
afastar-nos do propósito maior do tesouro no céu (Mt 6). “Mas a nossa cidade
está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que
transformará o nosso corpo abatido, para ser conforme o seu corpo glorioso,
segundo o seu eficaz poder de sujeitar também a si todas as coisas” (Fp
3.20-21). Eu quero ir para casa. Venha comigo!
Pelo fato de a salvação que há em Cristo
ser um evento passado, presente e futuro, e também completo, perfeito e
integral, é que o autor bíblico chama-a de “tão grande salvação” (Hb 2.3);
alguns de seus aspectos são imensuráveis e inexplicáveis e, por melhor que se
tente fazê-lo (1 Tm 1.17), eles transcendem a compreensão humana e somente nos
serão revelados em sua totalidade no Reino vindouro.
184 Filosoficamente,
o secularismo é a separação entre igreja e estado, mas também um sistema em que
a fé e os sistemas religiosos tornam-se desprezíveis, aceitando-se apenas fatos
e experiências que dizem respeito à vida presente, menosprezando a
espiritualidade e a transcendentalidade.
A Obra da Salvação Claiton Ivan Pommerening
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
A nossa
salvação traz-nos a um novo relacionamento que é muito melhor do que aquele que
Adão e Eva desfrutavam antes da Queda. A descrição da Nova Jerusalém demonstra
que Deus tem para nós um lugar melhor do que o Jardim do Éden, com todas as
bênçãos do Éden intensificadas. Deus é tão bom! Ele sempre nos restaura a algo
melhor do aquilo que perdemos. Desfrutamos da comunhão com Ele agora, mas o
futuro reserva-nos a 'comunhão intensificada com o Pai, o Filho e o Espírito
Santo e com todos os santos'. A vida na Nova Jerusalém será emocionante. Nosso
Deus infinito nunca ficará sem novas alegrias e bênçãos para oferecer aos
redimidos. E posto que as portas da cidade sempre estarão abertas (Ap 21.25;
cf. Is 60.11), quem sabe o que os novos céus e terra terão para
explorarmos?" (HORTON, Stanley. Teologia Sistemática, 1 .ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 1996, p. 645).
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
As Escrituras prometem que o céu será
um Reino de perfeita bem-aventurança. Nos novos céus e na nova terra não haverá
lugar para lágrimas, dor, tristeza e pranto. Lá o povo de Deus habitará com Ele
por toda a eternidade, completamente livre de todos os efeitos do pecado e do mal.
Deus é retratado secando pessoalmente as lágrimas dos remidos. No céu, a morte
estará completamente aniquilada (1Co 15. 26). Ali não haverá doença, fome,
problemas ou tragédias. Haverá apenas a alegria completa e bênçãos
eternas" (LAHAYE, Tim. Enciclopédia Popular de Profecia Bíblica, 1 .ed.
Rio de Janeiro: CPAD, 2008, p. 112).
SUBSÍDIO
ADICIONAL
Fonte:
Ensinador Cristão – n° 72
Uma das características da
soteriologia pentecostal é a devoção à espera do porvir. Por causa dessa
devoção, os pentecostais são acusados injustamente de escapistas, pessoas
despreocupadas com as grandes questões do nosso tempo e não engajadas em
determinadas agendas políticas. É verdade que os pentecostais, somos
"pessimistas" em relação à natureza humana e à sua capacidade de
fazer o caminho ético necessário à vida. Esse pessimismo, em parte, reluz
mediante a doutrina do pecado original, bem como a certeza escatológica de que
só quando Cristo Jesus retornar gloriosamente é que o mundo experimentará uma
paz perfeita Ap 21.4. Para nós, a salvação em Cristo será plenamente realizada
quando estivermos para sempre com Cristo Fp 3.20,21. Ora, como diz a Palavra 1
Co 15.19. Para nós, os pentecostais, essa espera é inegociável; tal esperança
move a nossa fé.
Nenhum comentário:
Postar um comentário