CAPÍTULO 8
SALVAÇÃO E LIVRE-ARBÍTRIO
L
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ivre-arbítrio
significa a tomada de decisão humana para a salvação conquistada por Jesus na
cruz do calvário. A salvação é oferecida a todos os seres humanos indistinta e
gratuitamente (Ap 22.17) e por uma escolha pessoal e livre de cada um. Todos os
que a aceitam serão salvos e predestinados à vida eterna, pois Ele quer que
todos sejam salvos (2 Pe 3.9). Essa maneira de pensar a Soteriologia é
professada pelos pentecostais e teve sua origem em Jacó Armínio (1560–1609),
sendo também explicada depois por John Wesley (1703–91) e John William Fletcher
(1729–85). Logo, a doutrina calvinista é rejeitada por estes, tornando-se
incompatível com a Teologia Pentecostal, não necessariamente por não poder
conviver com esta, mas especialmente porque o calvinismo nega algumas dinâmicas
do pentecostalismo, como será visto adiante, sendo, assim, irreconciliáveis.
Essa declaração é necessária porque o calvinismo é, majoritariamente,
cessacionista.111 Portanto, de forma subjetiva, estão fazendo os pentecostais
abdicarem da doutrina mais cara ao pentecostalismo, que é o batismo no Espírito
Santo.
Os
pentecostais também rejeitam a doutrina de Calvino por ela ser fatalista, muito
acomodatícia quanto ao evangelismo, supondo certa injustiça em Deus, além de
sugerir uma robotização humana; pode levar à acomodação quanto à santificação e
ao empenho para a salvação de outros. Por isso, aproximam-se mais da doutrina
de Armínio, mas isso não significa que toda a Teologia arminiana possa ser
aceita sem qualquer problema. Este capítulo, entretanto, não se propõe a
encontrar essas falhas, mas simplesmente apontar a coerência existente entre a
doutrina arminiana e a Teologia Pentecostal.
É
bom recomendar que não se façam disputas entre calvinismo e arminianismo, mas
que se exercite a tolerância cristã e o respeito nas questões divergentes, que
são muitas. Até porque os irmãos calvinistas são acusados por alguns, dada a
ênfase fundamentalista de suas doutrinas, que são intolerantes; eles são
levados ao orgulho espiritual por serem os predestinados;112 sua ação
evangelística é quase nula e isolam-se das demais igrejas.113 O calvinismo
também confessa uma pureza doutrinária acima das demais teologias evangélicas,
pureza esta que acaba tornando-se um meio de auto-salvação. Apesar disso, há,
também, alguns pontos de contato entre as doutrinas. Silas Daniel afirmou “que
o calvinismo honra a Deus tanto quanto o arminianismo, claramente estou me
referindo ao calvinismo majoritário, compatibilista (o outro extremo é o
fatalista).” Há pontos de contato especialmente no pentecostalismo mais
popular, onde há “certo fatalismo quando se trata de ‘causas e consequências’”,
especialmente diante de grandes tragédias. A frase “Deus assim quis” é muito
comum sem levar em conta a lógica da afirmação em alguns contextos.”114
A
título de resumo do calvinismo, pode afirmar-se que este segue a linha de
pensamento de Agostinho quanto à salvação, onde a liberdade das escolhas
humanas está limitada à vontade de Deus, afirmando que o homem é cativo ou de
Deus ou do Diabo. Essa mesma linha de pensamento foi esboçada por Martinho
Lutero (1486–1546) no início da Reforma (séc. XVI), embora Filipe Melâncton
(1497–1560), seu sucessor, apoiasse o sinergismo.115
Armínio escreveu que não poderia
concordar com o calvinismo, chamandoo, então, de repugnante, tendo em vista
algumas contrariedades que são: Deus jamais criaria algo, como a predestinação,
para a condenação, com o propósito de não ser unicamente bom, ou seja, “que
Deus criou algo para a perdição eterna para o louvor da sua justiça”; se Deus
predestinasse alguém à perdição, seria para demonstrar a glória de sua
misericórdia e da sua justiça, mas Ele não pode demonstrar tal glória através
de um ato contrário à sua misericórdia e justiça, como a predestinação à
condenação; se Deus condenasse os seres humanos desde a sua criação, Ele
quereria o maior mal para as suas criaturas e teria predeterminado, desde a
eternidade, o mal para elas, mesmo antes de conceder-lhes qualquer bem; assim,
Deus quis condenar e, para que pudesse fazer isso, Ele quis criar, embora a
própria criação é uma demonstração de sua bondade; entretanto, contrariando
essa ideia espúria, Deus confere bênçãos e benefícios sobre o mau e o injusto e
até sobre aqueles que são merecedores de punição; o pecado é chamado de
desobediência e rebelião; logo, Deus teria colocado alguns sob uma necessidade
inevitável de pecar, o que seria impossível; a condenação é consequência do
pecado; este, entretanto, sendo causa, não pode ser colocado como meio pelo
qual Deus executa o decreto ou a vontade de reprovação dos seres humanos; a
predestinação tem um paradoxo intransponível, que é o fato de os pecadores
destinados à condenação terem sido condenados antes mesmo de Jesus ter sido
predestinado, muito embora Ele tenha sido morto desde a fundação do mundo para
ser o salvador; isso desonra a Cristo e sua obra; se a salvação de alguns já
tinha sido preordenada, Ele, então, foi apenas um ministro e um instrumento
para dar-nos a salvação, assumindo um protagonismo secundário, e sua morte foi
desnecessária, pois, quem fosse destinado à salvação seria salvo do mesmo
jeito.116
Recentemente, tem havido uma aproximação
ao calvinismo por parte de alguns pentecostais mais intelectualizados, mas isso
se deve mais a uma lacuna pentecostal histórica quanto à educação teológica
sólida, que deixou uma classe intelectualizada mais abandonada,117 do que
propriamente a habilidade de fazer coadunar as duas teologias.
A ELEIÇÃO BÍBLICA É SEGUNDO A PRESCIÊNCIA DIVINA
Eleição é a escolha que Deus faz para com
grupos ou indivíduos com fins específicos determinados por Ele — no caso aqui
abordado, para a salvação. Uma das palavras hebraicas para eleição, yãdha’,118
tem uma conotação amorosa no sentido de que Deus elege não simplesmente por uma
mera escolha, mas especialmente porque seus afetos levam-no a escolher as
pessoas para a salvação. Essa mesma palavra é usada quando o Antigo Testamento
refere-se a um casal que teve relações sexuais, ou seja, há um envolvimento de
afetos. A eleição amorosa também está presente num termo grego usado por Paulo
(Rm 8.29), proginõskõ, que expressa o sentido de que Deus amou de antemão.
Tendo em vista esse amor, Paulo escreveu poeticamente: “Quem nos separará do
amor de Cristo? A tribulação, ou a angústia, ou a perseguição, ou a fome, ou a
nudez, ou o perigo, ou a espada? Como está escrito: Por amor de ti somos entregues à morte todo o
dia: fomos reputados como ovelhas para o matadouro. Mas em todas estas coisas
somos mais do que vencedores, por aquele que nos amou” (Rm 8.35-37). Assim,
segundo a doutrina arminiana, Deus elegeu e destinou todos para a salvação (Jo
3.14-16; 1 Pe 2.9), “para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a
vida eterna” (Jo 3.15).
No Antigo Testamento, a Eleição tem um
significado mais específico do que no Novo Testamento. Exemplo disso é a
escolha de Abraão e sua descendência, que, depois, vieram a formar a nação de
Israel. Deus chamou o patriarca e fez-lhe promessas, e este livremente
respondeu ao chamado; porém, diante dele, estava a possibilidade de não atender
ao convite. A eleição de Israel (Is 51.2; Os 11.1) e alguns indivíduos dela, de
maneira específica, é pontual na história porque Deus tinha o propósito de,
através dessa nação, trazer o Salvador. Por ser uma eleição pontual, ela não
pode servir de base, em se tratando de salvação, para estabelecer uma eleição
absoluta e específica apenas para determinadas pessoas e outras não. A
liberdade de escolha para obedecer que Deus deu para Israel e a desobediência e
rebeldia do povo fizeram eles perderem algumas das bênçãos prometidas (Jr 6.30;
7.29) e, assim, servissem-nos de exemplo para não repetirmos os mesmos erros (1
Co 10.6,11).
Por mais que pareça, a eleição não trouxe
privilégios para a nação de Israel, mas, sim, responsabilidades. No entanto,
por não conseguir cumprir sua parte na eleição, Israel nunca deixou de ser alvo
do amor de Deus, embora sofresse as consequências (destruição da nação) por não
agirem como povo escolhido.
A eleição divina é o ato pelo qual Deus
chama os pecadores para a salvação em Cristo e torna-os santos (Rm 8.29-30).
Essa eleição é proclamada através da pregação do evangelho (Jo 1.11; At 13.46;
1 Co 1.9), e Deus deseja que todos sejam salvos e respondam afirmativamente ao
chamado para a salvação (At 2.37; 1 Tm 2.4; 2 Pe 3.9). Os que crerem serão
salvos; os que não crerem, porém, serão condenados (Mc 16.16). Alguns, ao
ouvirem o evangelho, se endurecem ainda mais em seus pecados (Jo 1.11; At
17.32) e perdem a oportunidade de salvação.
Presciência é a capacidade que Deus tem
de saber todas as coisas de antemão (At 22.14; Rm 9.23) e também de interferir
na história humana (Ne 9.21; Sl 3.5; 9.4; Hb 1.3). Ele é soberano (Jó 42),
provedor (Sl 104) e também sabe quem irá responder positivamente ao convite
para a salvação (Rm 8.30; Ef 1.5). Ele proveu a salvação para todos, mas nem
todos atendem ao seu convite, pois Ele mesmo, em sua bondade, deu para seus
filhos a possibilidade da escolha. Assim, Deus cortou Israel (Mt 21.43) por
escolha deles e enxertou os salvos em seu lugar, e foram esses salvos que se
tornaram o Israel de Deus (Rm 11.17-24). Em sua soberania, estamos sob os
cuidados e a presciência de Deus, mas também desfrutamos paradoxalmente da
liberdade do livre-arbítrio dado por Ele, e isso aumenta a responsabilidade humana
em obedecer aos seus mandamentos (Ap 3.20). “Mas o justo viverá da fé; e, se
ele recuar, a minha alma não tem prazer nele” (Hb 10.38).
Eleição é uma decisão de Deus desde a
eternidade, mas é condicionada à vontade humana. Entretanto, essa vontade não
prejudica em nada a vontade de Deus. Ele não é pego de surpresa diante da livre
vontade humana, pois Ele previu essa vontade. Podemos com toda a certeza
afirmar que o que Deus predestinou foi, de fato, a vontade humana, no sentido
de ela ser completamente livre, ou seja, Ele criou o homem determinando que
este teria liberdade de escolhas. “Mas devemos sempre dar graças a Deus, por
vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter Deus elegido desde o princípio para a
salvação, em santificação do Espírito e fé da verdade” (2 Ts 2.13)
Antonio Gilberto ensina que “na Bíblia,
mencionam-se a eleição divina coletiva, como a de Israel (Is 45.4; 41.8-9) e a
da Igreja (Ef 1.4); e a individual, como a de Abraão (Ne 7.9) e a de cada
crente (Rm 8.29).”119 Severino Pedro propõe outra forma. Ele classifica a
eleição de quatro maneiras: preventiva, quando Deus usa de vários meios para
impedir o mal na vida dos que são chamados e atendem à sua salvação (Gn 20.6);
permissiva, que diz respeito às coisas que Deus não proíbe nem restringe, mas
fica na vontade do homem (Dt 8.2); diretiva, que se baseia na vontade perfeita
de Deus dirigindo a vontade humana (Gn 50.20); e determinativa, que é quando
Deus decide e executa conforme a sua soberana vontade (Jó 42.2).120
ARMÍNIO E O LIVRE-ARBÍTRIO
O livre-arbítrio foi desenvolvido por
Jacó Armínio após ele ter sido chamado a refutar os escritos do teólogo Dirck
Volkertsz. Koornhert (1522– 90), quando este atacou a doutrina calvinista da
predestinação;121 mas, ao estudar profundamente o assunto e as soteriologias
sinergistas dos pais da igreja como, por exemplo, Ambrósio (337–97 d.C.) e
Tertuliano (160–220 d.C.), Armínio chegou à conclusão que Koornhert tinha razão
e passou a defender a doutrina hoje chamada arminiana. Entretanto, perceba que
mesmo o arminianismo é uma doutrina que estuda a predestinação humana, cujo
ponto mais divergente do calvinismo é a atuação da graça para a salvação do homem,
no sentido de se a decisão é humana ou divina para isso. A doutrina arminiana
desse ponto afirma que, “não apenas, portanto, a cruz de Cristo é necessária
para solicitar e obter a redenção, como a fé na cruz também é necessária para
obter a posse dessa redenção.”122
Jacó Armínio (Jakob Hermanszoon) nasceu
na Holanda em 1560, foi pastor de uma igreja em Amsterdã e recebeu o título de
doutor em Teologia pela Universidade de Leiden. Sua principal defesa
doutrinária é o livre-arbítrio humano. Por causa de seu posicionamento,
enfrentou forte oposição, perseguição e falsas acusações por parte dos
calvinistas. Sua reação, porém, sempre foi de uma postura tolerante e não
combativa, embora convicto de suas opiniões.
Armínio escreveu inúmeras obras. Em
português, temos três grandes volumes traduzidos pela CPAD que defendem o
sinergismo na salvação (crença na cooperação divino-humana) contra o monergismo
(Deus é quem determina a salvação e quem se salvará, excluindo a participação
humana). A monergista foi retomada por João Calvino e seus seguidores a partir
de Agostinho de Hipona.
O
livre-arbítrio é a possibilidade que os seres humanos têm de fazer escolhas e
tomar decisões que afetam seu destino eterno, especificamente quando se trata
de sua salvação, ou seja, cabe a cada um deixar-se convencer pelo Espírito
Santo e ser salvo por Jesus ou não, embora Deus dê para todos a oportunidade da
salvação. Se não houvesse livre-arbítrio, a culpa humana seria algo quase
impossível, pois não haveria também liberdade de escolha. No Jardim do Éden,
Deus outorgou a possibilidade da escolha ao homem (Gn 2.16-17). A Caim, Ele
afirmou que o pecado jaz à porta como primeira evidência de escolhas após o
Jardim do Éden (Gn 4); a Israel, Ele deu a prerrogativa da escolha (Dt 30.19),
e à toda a humanidade, Ele também deu a possibilidade de escolher entre
salvação e perdição (Mc 16.16).
Uma vez que escolhemos a Deus, abrimos
voluntariamente mão da dádiva do livre-arbítrio. A partir daí, não temos mais
escolhas no sentido salvífico da questão. Deus é quem nos direciona, e
continuar fazendo as próprias escolhas sem a direção divina não significa exercer
livre-arbítrio, mas, sim, desobediência. Abrir mão do livre-arbítrio para viver
e ser direcionado por Deus é uma das mais lindas provas de amor que podemos dar
a Ele, muito embora ainda continuemos livres.
Deus criou-nos a sua imagem e semelhança
(Gn 1.26); logo, por ser Ele um ser livre, seus filhos também escolhem
livremente; a Israel, Ele incentivou escolher ouvir a sua voz (Dt 30.19-20). Em
Adão, todos são predestinados para a perdição e, em Cristo, todos são
predestinados para a salvação: “Porque, assim como todos morrem em Adão, assim
também todos serão vivificados em Cristo” (1 Co 15.22; Jo 1.12). O Pr. Esequias
Soares, na apresentação de “As Obras de Armínio”, fez um resumo da doutrina
arminiana da seguinte forma:
No Brasil,
prevalece o entendimento da teologia de Armínio no tocante à salvação,
respaldado nos seguintes pontos: a predestinação se fundamenta na presciência
de Deus, e não é um determinismo divino que aponta quem vai para o céu ou não;
Cristo morreu por todos indistintamente, mas apenas aqueles que crerem serão
salvos; a pessoa que vai ser salva depende da graça de Deus, pois, por si
mesma, não tem a capacidade de crer; a graça de Deus no tocante à salvação pode
ser resistida pelo pecador.
Alguns pontos centrais do arminianismo
devem ser expostos, os quais são: que o homem não regenerado é escravo do
pecado e incapaz de servir a Deus com suas próprias forças (Rm 3.10-12; Ef
2.1-10). É através da graça preveniente que a depravação total, resultante do
pecado original, pode ser suplantada, de maneira que o ser humano poderá,
então, corresponder com arrependimento e fé quando Deus atraí-lo a si. O
livre-arbítrio é decorrente da ação da graça preveniente. Vem de Deus a
capacidade de arrepender-se e ter fé para ser salvo.123 É a graça que inicia a
salvação promovendo-a, aperfeiçoando-a e consumando-a, pois é ela que ordena os
interesses, os sentimentos e a vontade; é ela que provê bons pensamentos,
inspira bons desejos e ações, e faz a vontade inclinar-se para a ação de bons
pensamentos e bons desejos.124
O ponto
principal da teologia arminiana é, sem dúvida, o conceito de graça resistível
da regeneração. A graça é necessária à salvação, mas ela não é condição
suficiente e nem garante que a salvação acontecerá. Nesse sentido, Armínio
afirma que: Aqueles que são obedientes à vocação ou ao chamado de Deus
livremente submeteram-se à graça; eles, porém, foram instigados, impelidos,
atraídos e assistidos pela graça. E, no momento preciso em que eles realmente
se submeteram, possuíam a capacidade de não se submeterem.125
Dessa
forma, segundo Armínio, a graça preveniente capacita o homem a submeter-se a
Cristo, mas o homem não precisa desejar a Cristo, pois o pecador até é capaz de
desejar a Cristo, mas ele pode ainda não querer fazer isso. A capacidade de
desejar é dada pelo Espírito Santo — portanto, uma obra monergista —,126 pois é
Ele que instiga, mas o desejar real, o atender ao desejo, o consentir, é obra
sinergista do pecador atuando em cooperação com o Espírito Santo e a graça
preveniente de Deus. Assim, “conceder a graça é obra apenas de Deus; consentir
com ela é obra do homem, que agora tem o poder de cooperar ou não com ela”.127
Nesse sentido, Armínio ainda afirma que:
Todas as
pessoas não regeneradas têm liberdade de escolha, e uma capacidade de resistir
ao Espírito Santo, de rejeitar a graça oferecida por Deus, ou de desprezar o
conselho de Deus contra elas mesmas, de se recusar a aceitar o Evangelho da
graça, e de não abrir àquEle que bate à porta do coração; e essas pessoas
podem, realmente, fazer essas coisas, sem nenhuma diferença entre os eleitos e
os reprovados. [...] A eficácia da graça de salvação não é consistente com
aquele ato onipotente de Deus, pelo qual Ele age tão interiormente na mente e
no coração do homem que aquele sobre quem tal ato acontece não pode deixar de
consentir com Deus, que o chama; ou, o que a mesma coisa, a graça não é uma
força irresistível.128
Armínio, portanto, defende a sinergia
entre a atuação do Espírito Santo e a vontade humana quando afirma que o evangelho
consiste da junção entre arrependimento e fé e “parcialmente da promessa de
Deus de conceder o perdão dos pecados, a graça do Espírito e a vida eterna.129
Após a morte de Armínio (19 de outubro
de 1609), alguns seguidores redigiram uma declaração de fé em cinco artigos que
continham as principais ideias de Armínio, chamada de Os Remonstrantes.130 Eles
criaram o acrônimo FACTS, grafado em inglês, que traduzidos são: Livre pela
Graça para crer, Expiação para Todos, Eleição Condicional, Depravação Total e
Segurança em Cristo.131 Desses, destacamos dois artigos que interessam ao nosso
estudo e que são descritos parcialmente abaixo:
Artigo 3º - O homem não tem a fé salvadora de
si mesmo nem pelo poder do seu próprio livre-arbítrio, uma vez que está no
estado de apostasia e o pecado não pode pensar, desejar ou fazer qualquer bem
que seja verdadeiramente bem (como é o caso da fé salvadora) por e mediante si
mesmo; mas é necessário que ele seja regenerado por Deus, em Cristo, por meio
do seu Santo Espírito, e renovado no entendimento, afeições ou vontade e em
todos os poderes, a fim de que possa entender corretamente, meditar, desejar e
realizar o que é verdadeiramente bom, de acordo com a palavra de Cristo, “Sem
mim, nada podeis fazer” (Jo 15.5).
Artigo 4º - [A] graça
de Deus é o início, desenvolvimento e a finalização de todo o bem, também o
homem regenerado não pode, à parte dessa graça prévia ou auxiliadora,
despertadora, consequente e cooperativa, pensar, desejar ou fazer o bem ou
resistir a qualquer tentação para o mal; assim é que todas as boas obras ou
atividades que podem ser concebidas devem ser atribuídas à graça de Deus em
Cristo. Mas, com relação ao modo dessa graça, ela não é irresistível, desde que
está escrito a respeito de muitos que resistiram ao Espírito Santo (At 7.51) e
em outras partes em muitos lugares.132
Uma das coisas que muito aproximam a
doutrina arminiana do jeito de ser pentecostal é que, com a rejeição do
determinismo divino por parte deste, tem-se uma possibilidade mais concreta de
estabelecer-se um relacionamento pessoal, dinâmico e responsivo entre Deus, as
criaturas humanas e o mundo.133
ELEIÇÃO DIVINA E
LIVRE-ARBÍTRIO
Paradoxalmente,
a Bíblia afirma a predestinação e o livre-arbítrio em relação à salvação.
“A ênfase inconsequente à soberania de
Deus no tocante à salvação leva a pessoa a crer que a sua conduta e
procedimento nada têm a ver com a sua salvação. Por outro lado, a ênfase
inconsequente ao livre-arbítrio do homem conduz ao engano de uma salvação
dependente de obras, conduta e obediência humanas.”134
A
eleição é uma escolha soberana de Deus (Ef 1.5,9), que tem por base o seu amor
por todos os seres humanos (1 Tm 2.3-4). Não pode ser obra alcançável por
qualquer mérito (Rm 9.11, 15-18) e é feita exclusivamente em Cristo (Ef 1.4).
Essa eleição é operada para que nos tornemos a imagem de Cristo (Rm 8.29) e
para andarmos em santidade.
Deus elegeu a cada um de nós com
propósitos específicos (Ef 1.18) e deseja que esses propósitos sejam atendidos.
Ele também nos chamou para sermos de Cristo (Rm 1.6; 1 Co 1.9), para a
santificação (Rm 1.7; 1 Pe 1.15; 1 Ts 4.7; Ef 1.4), para a liberdade (Gl 5.13),
para a paz (1 Co 7.15), para o sofrimento (Rm 8.17-18) e para a glória (Rm
8.30).
A
graça preveniente (Rm 5.18), estendida a todos os seres humanos, abrelhes a
oportunidade de crerem no evangelho. Isso descarta a possibilidade de a eleição
ser uma ação fatalista de Deus, destinada apenas a alguns indivíduos, enquanto
os demais se perderão no Inferno por uma escolha divina. Se isso fosse verdade,
Deus seria muito cruel e atestaria contra seu amor. Por isso, Ele dá a
oportunidade para que todos sejam salvos indistintamente (At 17.30), pois Deus
não faz acepção de pessoas (At 10.34). Assim, a escolha humana colabora quanto
à consequência eterna (Mc 16.16).
Vários textos bíblicos apontam para o
fato de que o ser humano é livre para escolher: “[...] para que todo aquele que
nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3.16); “[...] o que vem a mim
de maneira nenhuma o lançarei fora” (Jo 6.37); “[...] todo aquele que invocar o
nome do Senhor será salvo” (Rm 10.13);135 etc. Como Deus afirmaria todas essas
coisas se os salvos já tivessem sido escolhidos? Deus não quer filhos que sejam
robôs autômatos controlados por Ele, ou que se salvem simplesmente porque Ele
predestinou apenas alguns para a salvação. O desejo dEle é que todos se salvem.
O Senhor prefere a gratuidade do coração humano, que se volta para Ele não por
aquilo que Ele dá ou determina previamente, mas por aquilo que Ele é. Nisso,
Ele é glorificado.
É
saudável para a Teologia e para a fé cristã que alguns temas permaneçam em
tensão polarizada, pois nem tudo o que diz respeito a Deus é explicável, nem é
possível destrinchar racionalmente — se o fosse, Ele deixaria de ser Deus e,
então, o mistério seria perdido. Nesse sentido, algumas coisas divinas são
paradoxais e, humanamente falando, não podem conviver de forma lógica. Ser
paradoxal, no sentido de transcender a mente humana, é uma característica
divina. Montar um “quebra-cabeça” divino com alguns textos bíblicos é forçar o
texto a dizer o que ele não diz. Por isso, é preciso respeito quando existem
paradoxos intransponíveis. Isso nos torna mais humildes diante do mistério. A
melhor forma de lidarmos com questões complexas é deslocarmos essas questões
para a vida, para a subjetividade da experiência e, assim, aprenderemos a
tolerar quem pensa de forma diferente.
Abaixo, segue um quadro comparativo
entre as três principais correntes da doutrina da salvação,136 quanto a vários
temas que demonstram as tensões e questões conflitantes entre elas:
1 Pelágio
foi um monge (séculos IV e V) que ensinava que os seres humanos nasciam
inocentes, sem a mancha do pecado original e nem com o pecado herdado. Ele
acreditava que o pecado de Adão não tinha afetado as gerações futuras da
humanidade, sendo conhecida como Pelagianismo. Sua doutrina afirmava ainda que:
o pecado de Adão agrediu somente a ele, e não toda a raça humana; as crianças
recém-nascidas estão no mesmo estado que Adão antes da Queda; toda a raça
humana não morre por causa do pecado de Adão; e não irá ressuscitar por causa
da ressurreição de Cristo; a lei oferece, tanto quanto o evangelho, entrada no
Reino dos céus; antes mesmo da vinda de Cristo, havia homens completamente sem
pecado.
111 Os
cessacionistas não podem crer na revelação e inspiração interior porque isso
vai contra suas teorias e teologias dogmatizadas e afirmadas há séculos. Essas
teorias não têm mais respostas às perguntas modernas. Certamente que a
ortodoxia é necessária, bem como a antiguidade dos preceitos religiosos diante
da volatilidade e liquidez da atualidade, em que nada mais é estável, causando
grande desconforto e insegurança nesse sentido. A religião cristalizada — nesse
caso o calvinismo — é importante, pois estabiliza o sujeito e torna-se uma das
últimas instituições não afetadas pelo pósmodernismo. 112 Muito embora se
afirme em alguns círculos pentecostais, especialmente no Brasil, que os
calvinistas praticam o “parisitismo teológico”, ou seja, para sobreviver
teologicamente e enquanto igreja, precisam firmar-se numa teologia diferente,
eles, nesse sentido, estão “evangelizando” os pentecostais. Deve-se destacar
também que a ortodoxia cristã tem uma grande dívida para com a teologia
reformada na luta contra as teologias liberais. 113 Algumas correntes
neocalvinistas podem ser mais moderadas e possíveis de um diálogo com
pentecostais, mas não deixam de afirmar o cessacionismo. 114 SIQUEIRA,
Gutierres Fernandes. Arminiano de Coração e Intelecto: uma entrevista com Silas
Daniel. Disponível em: <
http://teologiapentecostal.blogspot.com.br/2015/01/arminiano-de-coracao-e-intelectouma.html>.
Acesso em 13 de junho de 2017. 115 Sinergismo é a cooperação divina e humana
para alguns aspectos presentes na salvação. 116 ARMÍNIO, Jacó. As Obras de
Armínio. Vol. 1. Rio de Janeiro: CPAD, 2015a. p. 204205, 209, 211. 117
Obviamente que a CPAD, maior editora evangélica da América Latina, tem
preenchido um espaço importante na Teologia Pentecostal que não foi feito pela
academia pentecostal porque esta, até bem pouco tempo, foi reduzida a um
pequeno grupo de pensadores que, por causa da abrangência geográfica das
Assembleias de Deus, não deram conta de alcançar a todos. Há uma urgência sem
precedentes nas ADs brasileiras pelo estabelecimento de instâncias educacionais
que deem conta de nossa teologia. 118 Outro termo hebraico utilizado é bãhar,
que significa selecionar deliberadamente alguém. 119 GILBERTO, 2008, p. 367.
120 SILVA, Severino Pedro da. A Doutrina da Predestinação. 2. ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 1989. p. 47-48. 121 CEC/CGADB. Celebração dos 500 anos da
Reforma Protestante. Rio de Janeiro: CPAD, 2016. p. 32. 122 ARMÍNIO, 2015a, p.
76. 123 DANIEL, Silas. Em defesa do Arminianismo. Obreiro Aprovado, Rio de
Janeiro,
CPAD, Ano
36, n. 68, p. 18-34. 124 ARMÍNIO, 2015b, p. 406. 125 SPROUL, R. C. Sola Gratia:
a controvérsia sobre o livre-arbítrio na história. São Paulo: Cultura Cristã,
2001. p. 143-144. 126 Monergismo é a ideia de que somente uma parte opera para
a salvação — nesse caso, Deus. Sinergismo é a cooperação recíproca entre Deus e
o homem. 127 SPROUL, 2001, p. 145. 128 ARMÍNIO, 2015b, p. 429-430. 129 ARMÍNIO,
2015a, p. 200. 130 Os cinco pontos de Os Remonstrantes são uma forma de
combater os cinco pontos do calvinismo conhecidos como TULIP, acróstico da
língua inglesa que significa: depravação total, eleição incondicional, expiação
limitada, graça irresistível e perseverança dos santos. HANCO, Herman;
KOEKSEMA, Homer; BAREN, Gise V. Van. Os Cinco Pontos do Calvinismo. Brasília:
Monergismo, 2013. 131 DANIEL, Silas. Arminianismo: a mecânica da salvação. Rio
de Janeiro: CPAD, 2017. p. 8. 132 SPROUL, 2001, p. 149-150. 133 PINNOCK, Clark
H. (Org.). The Grace of God, the Will of man. Grand Rapids: Academie/Zondervan,
1988. p. 15. 134 GILBERTO, 2008, p. 368. 135 Transcrevo outros textos bíblicos
que corroboram com o arminianismo: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que
deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas
tenha a vida eterna” (Jo 3.16). “Porque não me envergonho do evangelho de
Cristo, pois é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê, primeiro
do judeu e também do grego” (Rm 1.16). “Visto como, na sabedoria de Deus, o
mundo não conheceu a Deus pela sua sabedoria, aprouve a Deus salvar os crentes
pela loucura da pregação” (1 Co 1.21). 136 É lógico que há muitas variantes
desses três modelos. Procuramos falar aqui das correntes clássicas, sem levar
em conta o semipelagianismo e os vários calvinismos como o neopuritano, o
neo-ortodoxo, o neocalvinista, o hiper-calvinista, o fatalista. Além disso,
sabe-se que “os tipos ideais possuem uma coerência, que evidentemente não é
possível encontrar na realidade.” (MARIZ, Cecília Loreto. A Sociologia da
Religião de Max Weber. In: TEIXEIRA, Faustino (Org.). Sociologia da religião:
enfoques teóricos. Petrópolis: Vozes, 2007. p. 78)
A Obra da Salvação Claiton
Ivan Pommerening
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
Qualquer estudo sobre a eleição deve
sempre começar por Jesus. E toda conclusão teológica que não fizer referência
ao coração e aos ensinos do Salvador, seja tida forçosamente por suspeita. Sua
natureza reflete o Deus que elege, e em Jesus não achamos nenhum
particularismo. Nele, achamos o amor. Por isso, é relevante que em quatro
ocasiões Paulo vincule o amor à eleição ou à predestinação: 'Sabendo, amados
irmãos, que a vossa eleição [gr. eklogên] é de Deus' (1Ts 1.4). 'Como eleitos
[gr. eklektoí] de Deus, santos e amados... '. (Cl 3.12) - nesse contexto, amados
por Deus. 'Como também nos elegeu [gr. exelaxato] nele antes da fundação do
mundo... e nos predestinou para filhos de adoção por Jesus Cristo, para si
mesmo, segundo o beneplácito [gr. eudokia] de sua vontade' (Ef 1.4,5). Embora a
intenção divina não esteja ausente nesta última palavra grega (eudokia), ela
inclui também um sentido de calor que não fica tão evidente em thelõ ou
boulomai. A forma verbal aparece em Mateus 3.17, onde o Pai diz: 'Este é o meu
Filho amado, em quem me comprazo [gr. eudokêsa]'. Finalmente, Paulo diz: 'Mas
devemos sempre dar graças a Deus, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter
Deus elegido [gr. heilato] desde o princípio para a salvação, em santificação
do Espírito e fé da verdade' (2 Ts 2.13). O Deus que elege é o Deus que ama, e
Ele ama o mundo. Tornar-se-ia válido o conceito de um Deus que arbitrariamente
escolheu alguns e desconsidera os demais, deixando-os ir à perdição eterna,
diante de um Deus que ama o mundo?”(HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática:
Uma perspectiva pentecostal. 1. ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp. 363,364).
CONHEÇA
MAIS
Eleição divina e
livre-arbítrio
Na Bíblia
temos tanto a predestinação divina como a livre-escolha humana, em relação à
salvação; mas não uma predestinação em que uns são destinados à vida eterna, e
outros, à perdição eterna, [...]. “Por outro lado, a ênfase inconsequente à
livre-vontade do homem conduz ao engano de uma salvação dependente de obras,
conduta e obediência humanas.” Leia mais em Teologia Sistemática Pentecostal,
CPAD, pp.368,69.
SUBSÍDIO
TEOLÓGICO
“Ainda de acordo com a ideia de que o
relacionamento entre o divino e o humano é uma via de mão dupla, a posição
compatibilista de Lewis, que aventa o que chamei de ‘coexistência pacífica
entre soberania divina e livre-arbítrio” ou 'compatibilidade incognoscível', é
exemplificada pelo autor de As Crónicas de Nárnia, com a ideia de perdão. A
necessidade de tal ato da parte de Deus, 'move' a divindade e, 'Nesse
sentido', diz ele, 'a ação divina é consequência do nosso comportamento, [e] é
por ele condicionada e induzida'. Lewis então questiona retoricamente: 'Será
que Isso significa que podemos 'influenciar' Deus?' O anglicano acredita que é
até possível responder afirmativamente caso se quiser e diz que, se isso for
dessa forma, é preciso então que se flexibilize a noção de 'impassibilidade'
divina, 'de forma que admita isso', aventando a hipótese de que o comportamento
humano, de alguma forma, 'influencia' o Criador, 'pois sabemos que Deus perdoa
muito mais do que entendemos o significado de 'impassível'. Assim é que, a
respeito dessa questão, Lewis diz que prefere 'dizer que, antes de existirem
todos os mundos, Seu ato providencial e criativo (porque são uma coisa só) leva
em conta todas as situações engendradas pelos atos de suas criaturas'. Mas, questiona,
'se Deus leva em conta nossos pecados, por que não nossas súplicas?' Isso
significa que a oração, a súplica, move a Deus, Numa palavra, 'Deus e o homem
não se excluem mutuamente, como o homem exclui ao seu semelhante no ponto de
junção, por assim dizer, entre Criador e criatura; no ponto em que o mistério
da criação — infinito para Deus e incessante no tempo para nós — ocorre de
fato'. Isso significa que, 'Deus fez (ou disse) tal coisa' e eu fiz (ou disse)
tal coisa' podem ambos ser verdadeiros'. Esta, inclusive, é a forma arminiana e
pentecostal de crer. A soberania divina coexiste com o livre-arbítrio e
qualquer tentativa de explicar como isso ocorre leva a equívocos e discussões
desnecessárias" (CARVALHO, César Moisés.
O Sermão do Monte: A justiça sob a ática
de Jesus. 1. ed. Rio de Janeiro; CPAD, 2017, pp.114,115).
SUBSÍDIO
ADICIONAL
Fonte: Ensinador
Cristão – n° 72
Prezado (a)
professor (a), na aula desta semana é importante remontar a biografia de Jacó
Armínio. Por isso o estudo de livros de história da Igreja é importante. Há
também boas literaturas teológicas sobre Armínio, uma delas já mencionada em
artigo anterior. A CPAD também tem as obras de autoria de Armínio publicadas em
língua portuguesa a disposição dos irmãos: As Obras de Armínio, 3 Volumes.
Assim, faremos um breve resumo sobre a importância desse grande teólogo.
Jacó Armínio
era um teólogo holandês que se posicionou contrário a algumas doutrinas de
linha calvinista com o objetivo de destacar mais o caráter amoroso, bondoso e
justo de Deus que foram manifestos na pessoa bendita de Jesus Cristo. Por isso,
Armínio foi acusado injustamente de ensinar muitas heresias. Contra ele, foram
usados argumentos frágeis e insustentáveis se analisados de maneira séria.
Infelizmente, esse "espírito" é comum ainda hoje. A fé cristã não é
uma expressão homogénea. Embora tenhamos pontos de fé comuns, que nos une,
também temos pontos que nos traz discordâncias pontuais: batismo, escatologia,
batismo no Espírito. Mas temos de fazer um alerta importante! Por exemplo,
antes de existirem tradicionais-históricos, pentecostais, neopentecostais e
outros, já havia milhares de cristãos fiéis ao Senhor. Isso significa que a
história da Igreja não começou com uma pessoa ou denominação somente. Por isso
não se justifica guerras teológicas, brigas denominacionais e, até mesmo,
rompimentos de amizade por causa disso. A Palavra de Deus não é para trazer
contendas e rivalidades.
É importante
salientar que Jacó Armínio não acrescentou nada novo à teologia cristã no
sentido doutrinário. Para fortalecer esse parecer, o estudioso holandês usou em
seu método os pais da Igreja, escritos medievais e muitos outros protestantes
que lhe antecederam, mostrando que eles defendiam a mesma doutrina cristã.
Alguns nomes que fazem parte da belíssima história protestante podem ser
arrolados ao lado de Armínio em visões similares e bem idênticas ao do teólogo
holandês: Melanchton, um líder luterano; Erasmo, reformador católico; Balthasar
Hubmaier e Menno Simons, líderes anabatistas do século XVI. Jacó Armínio morreu
no auge da controvérsia teológica na Holanda, em 1609.
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