TEXTO ÁUREO
Porque não foi aos anjos que sujeitou o mundo futuro,
de que falamos.Hebreus 2.5
OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
• identificar os ensinos dos
reformadores no que diz respeito ao homem;
• entender que o homem foi feito por um
ato especial da Trindade Santa;
• descrever os principais motivos de Deus
ter criado o homem.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Existem certos professores cujo conhecimento bíblico
baseia-se em generalidades. O ensino que ministram, mal comparando, é uma
metralhadora que dispara em todas as direções, sem, contudo, atingir um alvo
específico.
Na Escola Dominical, o trabalho didático não pode
seguir nessa direção. É preciso trabalhar com objetivos de ensino e
aprendizagem previamente estabelecidos, como disse Paulo: Assim corro também
eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar (1 Co 9.26).
Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra introdutória
Quem é o homem? De onde ele veio? O que os
reformadores afirmaram sobre ele? O que a Bíblia diz sobre o assunto? Ele é um
ser essencialmente bom e o meio o corrompe ou ele é essencialmente mau e corrompe
tudo que está a sua volta?
Nesta lição, trataremos desse ser distinto e especial, a
quem o Altíssimo coroou de glória e honra (SI 8.5).
1. A BÍBLIA DIZ QUE O HOMEM FOI CRIADO POR ATO DIRETO DE
DEUS
Desde o século passado, o tema sobre a origem do
homem e da vida alcançou grande destaque no meio acadêmico. Cientistas
debruçaram-se sobre o assunto, na tentativa de trazer soluções para o enigma.
As teorias sobre a origem da vida, de modo geral, pautam-se em duas vertentes:
a evolucionista e a criacionista.
1.1. O evolucionismo
Teoria elaborada pelo cientista britânico Charles Darwin
(1B09—1882), autor da obra intitulada "Á origem das espécies", que
afirma ter o ente humano surgido pela seleção natural das espécies que
habitavam o planeta. Suas conclusões apesar de terem sacudido o mundo —
principalmente, na primeira metade do século 20 —, jamais foram unanimemente
aceitas como verdadeiras.
Algumas questões constituem-se em objeções concisas à teoria
da evolução das espécies, tais como: Se O corpo do homem surgiu de um processo
natural, o que dizer da sua alma? Quem deu origem ao processo inicial de vida,
que desencadeou os demais estágios? Onde estão os dados que comprovam a
passagem da vida do reino vegetal para o reino animal? Onde estão os elos
perdidos? Tais questionamentos, dentre outros, levaram as ciências biológicas
(e afins) a questionarem vigorosamente a teoria da evolução das espécies.
1.2. A teoria do big bang
Elaborada a partir da primeira metade do século passado,
essa teoria preconiza que o universo surgiu a partir de uma imensa explosão
ocorrida entre dez e vinte bilhões de anos atrás. A comunidade científica
jamais apoiou unanimemente tal postulado. Atualmente, inclusive, esse modelo
cosmológico perdeu seu caráter hegemônico, ostentado desde os anos iniciais da
década de 1970.
1.3. O criacionismo
Apesar das inúmeras tentativas ateístas e materialistas de
explicar o surgimento do homem no cosmos ao longo dos anos, a premissa bíblica
contida no livro de Génesis permanece inalterada, forte e convincente: No
princípio, criou Deus os céus e a terra (Gn 1.1).
O homem foi chamado à existência por um ato do Criador (Gn
1.27). Sua parte imaterial veio à existência sem que fosse utilizada qualquer
espécie de matéria-prima; por isso a palavra hebraica usada para designar esse
ato criativo é bara, que significa criar do nada. Já a palavra
hebraica usada para indicar a criação do seu corpo físico é asah, que
denota a utilização de material preexistente, reforçando o argumento bíblico de
que o homem foi feito a partir do barro (Gn 2.7).
Parece-me que Darwin está em processo de ser
descartado, porém, talvez em deferência ao respeitável senhor, que repousa
confortavelmente na Abadia de Westminster ao lado de Sir Isaac Newton, isso
está sendo feito tão discreta e delicadamente, com um
mínimo de publicidade (Thomas Bethell).
2. A CRIAÇÃO DO HOMEM FOI UM 'ACONTECIMENTO ESPECIAL
O primeiro capítulo do livro de Gênesis
informa-nos que as plantas e os animais foram criados segundo a sua espécie (Gn
1.12,21,24,25); o homem, todavia, foi feito de maneira especial e diferenciada
(Gn 1.26,27; 2.7).
O termo imagem e semelhança (Gn 1.26) tem relação com Sua
imagem natural e moral (não física), pois Deus, sendo Espírito, não possui
forma corpórea (Jo 4.24).
Ao que tudo indica, o Criador extraiu elementos de Si mesmo
e os imprimiu no homem, tornando-o, assim, Seu representante no Universo.
Em termos gerais, pode-se dizer que a imagem de Deus tatuada
no homem significa que ele possui as características destacadas a seguir.
2.1. Racionalidade
Por imagem natural de Deus, devemos entender, dentre outras
coisas, a capacidade de raciocínio que torna o homem extremamente diferente dos
animais.
Exemplificando: só o homem cria, inventa,
utiliza ferramentas, formula teorias, toma decisões, desenvolve-se em diversas
áreas do conhecimento e faz história.
2.2. Personalidade
A personalidade humana é formada por razão, sentimentos e
volição (ou vontade). Não há na Criação outro ser, além do homem, que possua
tais atributos. Deus dotou-o dessas características porque desejava criar
alguém com quem pudesse ter comunhão.
2.3. Espiritualidade
Só o homem anela pela presença de Deus e deseja ardentemente
prestar-lhe culto (SI 42.1,2; Rm 12.1,2). Ao estudarmos a história das
civilizações, encontramos um ser voltado para o Sagrado e para a devoção às
entidades, às quais ele atribui poderes sobrenaturais — por esse motivo, há
inúmeras religiões e seitas que se contrapõem às Escrituras Sagradas.
2.4. Infinitude
A eternidade é um atributo exclusivo do Criador; o homem, no
entanto, foi feito para a infinitude. Os animais são extintos quando morrem; o
homem, todavia, é um ser imorredouro. Ao final desta existência, ele é
projetado para o seu destino eterno (Ec 12.7), definido por suas escolhas
pessoais, em vida, no que tange à cruz de Cristo (1Co 15.19; Hb 9.27).
Quando a Escritura atribui traços físicos a Deus,
está simplesmente utilizando-se de antropomorfismos (atribuição de forma ou caráter
humanos a objetos e/ou seres não humanos), uma vez que é impossível compreender
a ação do Altíssimo, sem o uso desses recursos.
3. PROPÓSITOS DE DEUS AO CRIAR O HOMEM
Para o homem, é muito importante saber sobre o propósito
divino de sua criação, uma vez que a resposta a essa pergunta está intimamente
ligada ao que ele é, essencialmente, o que pode ser descrito sobre o homem, de
maneira resumida, é que ele foi criado do pó da terra e que se tornou alma
vi-vante pelo sopro de Deus (Gn 1.27; 2.7).
A criação do homem ocorreu, principalmente, pelas razões
que se seguem.
• Ele foi criado para a glória de Deus — É
consenso entre os estudiosos da Bíblia que Deus não tinha qualquer necessidade
de criar o homem. Contudo, decidiu fazê-lo por um motivo claro: para o louvor
da sua glória (Ef 1.11,12). É por isso que o apóstolo abortivo recomenda: quer
comais, quer bebais ou façais outra qualquer coisa, fazei tudo para a glória de
Deus (1 Co 10.31).
• Ele foi criado para refletir o domínio de Deus —
Deus é soberano sobre a Criação e elegeu o homem para ser o reflexo do Seu
domínio e do Seu poder sobre o Universo. Por esse motivo, encontramos no
primeiro capítulo de Génesis a expressão "e domine sobre" (Gn
1.26b,28).
• Ele foi criado para ser o mordomo do mundo — O
privilégio de ter sido criado de forma distinta e especial faz dele, depois de
Deus, o principal responsável pela Criação.
4. O PECADO NO ÉDEN
A Queda é um dos temas mais importantes da teologia cristã.
Ela demarca a entrada do pecado no mundo e é a razão de todas as tragédias e
desgraças da espécie humana. A falta de conhecimento sobre sua natureza cria o
cenário ideal para a ignorância quanto ao amor e a graça de Deus. Quem não
entende a Queda, também não entenderá a Cruz.
Infelizmente, o homem não permaneceu no elevado estado para
o qual fora originalmente criado. Pela desobediência, o ser feito à imagem e
semelhança de Deus comeu do fruto proibido, da árvore da ciência do bem e do
mal (Gn 3).
A Queda expressa o momento histórico da origem
do mal na dimensão humana. O homem tornou-se alguém totalmente depravado e
incapaz de praticar o bem por sua livre escolha. A partir de então, ele jamais
foi o mesmo (Rm 3.11).
4.1. Condições reinantes
Segundo o relato bíblico (Gn 3), Eva foi enganada por
Satanás, prefigurado em serpente, e, em seguida, ofereceu o fruto proibido a
Adão, que o comeu. Paulo diz que Adão não foi enganado, mas a mulher, sendo
enganada, caiu em transgressão (1Tm 2.14).
Pode-se depreender disso que o pecado foi consciente. A
existência da árvore da ciência do Bem e do mal é uma representação do
livre-arbítrlo humano, ou seja, do direito de o homem escolher livremente a
quem servir e obedecer.
4.2. O resultado da desobediência
Paulo disse: como por intermédio de um homem o pecado entrou
no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os
homens, por isso que todos pecaram (Rm 5.12,19).
A raça humana estava seminalmente ligada ao primeiro casal.
Adão e Eva, ao pecarem, levaram consigo toda humanidade, sem exceção,
precipitando-a no rompimento da comunhão com o Eterno e na total depravação. O
homem tornou-se irremediavelmente incapaz de promover o bem e, por méritos
próprios, retomar o acesso à presença de Deus.
4.3. Características do pecado
A entrada do pecado no mundo é responsável por todas as
mazelas e desgraças humanas. Desde então, o homem vive em permanente estado de
agonia e tristeza. Isaías declara que os ímpios não têm paz (Is 48.22), e o
apóstolo Paulo lembra que a tribulação e a angústia estão sobre toda alma que
faz o mal (Rm 2.9).
5. A SOLUÇÃO PARA O PECADO DA HUMANIDADE
Os reformadores combateram veementemente o estilo de
vida, as doutrinas, a liturgia e as práticas da Igreja Romana; porém, o tema
salvação do pecador constituiu-se no grande motivo de cisão entre ambos os
segmentos.
Como vimos nas lições 3—6, os postulados soteriológicos
defendidos pelos reformadores, em total consonância com as Escrituras Sagradas,
são observados nos pontos destacados a seguir.
5.1. A justificação unicamente pela fé
Apoiados nas Escrituras Sagradas, os reformadores pontuaram
que a justificação do homem diante de Deus só pode ocorrer pela fé, e só por
meio dela (da fé) o pecador pode ser justificado (Rm 1.17; 3.22; 5.1,2,9,18,19;
Ef 2.8,9).
5.2. A singularidade das Escrituras
Diferentemente do que defendem os romanistas, os reformados
afirmam que só a Escritura contém os princípios que podem trazer o homem de
volta à comunhão com Deus. Isso independe de decisões tornadas em concílio ou
de qualquer tradição religiosa. A Bíblia, sozinha, revela tudo o que é
necessário à salvação e constitui-se no manual de fé e prática de todo cristão
(2 Tm 3.15-17).
5.3. A centralidade de Cristo
As Escrituras afirmam que o homem só pode ser salvo por
Cristo (Lc 19.10; At 4.12; Jo 3.16-18). A salvação operada pelo Espírito Santo
só ocorre pela obra expiatória do Filho Unigênito de Deus, sem qualquer outra
espécie de intermediação (Jo 3.14,15; 14.6; Hb 9.14; 10.12).
5.4. A centralidade da Graça
No contrapé dos ensinos da época, os reformadores ensinaram
que somente a obra sobrenatural do Espírito Santo, operada unicamente pela
Graça, independente de quaisquer méritos humanos, pode redimir o perdido e
salvá-lo da condenação eterna (Rm 3.20, 24; Rm 5.18; Ef 2.8,9).
CONCLUSÃO
A morte de Cristo estendeu a graça divina a todos os homens.
Assim, todos, indistintamente, podem obter o perdão do Pai e restabelecer a
comunhão perdida no Éden: Aquele que crê no Filho tem a vida eterna (Jo 3.36a).
Ter a vida significa viver na presença de Deus e desfrutar
da Sua comunhão; isso nem mesmo a morte pode impedir (Jo 11.25,26).
📌 REVISTA
CENTRAL GOSPEL
Lição 09 - A Reforma e a Condição Humana (Pr. Anderson Pereira)
Texto Bíblico: Gn 1.26-28; Hb 2.5-9.
Texto Áureo: Hb 2.5
1. OBJETIVOS DA LIÇÃO
Ø Identificar
os ensinos dos reformadores no que diz respeito ao homem;
Ø Entender que o homem foi feito por um ato
especial da Trindade Santa; e
Ø Descrever os principais motivos de Deus ter
criado o homem.
2. “HOMEM” CRIAÇÃO DE DEUS
De todas
as coisas que Deus fez, só de uma delas, o homem, diz-se ter sido feita “à
imagem de Deus”. O que isso significa? Podemos usar a seguinte definição: o
fato de ser o homem à imagem de Deus significa que ele é semelhante a Deus e o
representa. Quando Deus diz: façamos o homem à nossa semelhança (Gn 1.26) isso
significa que ele pretende fazer uma criatura diferente das outras criadas,
semelhante a si. As palavras hebraicas que exprimem imagem” (tselem) e
“semelhança” (demút) se referem a algo similar, mas não idêntico, à coisa que
representa ou de que é uma “imagem”.
3
EVOLUCIONISMO
Charles Robert Darwin foi um naturalista
britânico que alcançou fama ao convencer a comunidade científica da ocorrência
da evolução e propor uma teoria para explicar como ela se dá por meio da
seleção natural e sexual. Esta teoria culminou no que é, agora, considerado o
paradigma central para explicação de diversos fenômenos na Biologia. Foi
laureado com a medalha Wollaston concedida pela Sociedade Geológica de Londres,
em 1859. Darwin começou a se interessar por História Natural na universidade
enquanto era estudante de Medicina e, depois, Teologia. A sua viagem de cinco
anos a bordo do brigue HMS Beagle e escritos posteriores trouxeram-lhe
reconhecimento como geólogo e fama como escritor. Suas observações da natureza
levaram-no ao estudo da diversificação das espécies e, em 1838, ao
desenvolvimento da Teoria da Seleção Natural Consciente de que outros antes
dele tinham sido severamente punidos por sugerir ideias como aquela, ele as
confiou apenas a amigos próximos e continuou a sua pesquisa tentando antecipar
possíveis objeções. Contudo, a informação de que Alfred Russel Wallace tinha
desenvolvido uma ideia similar forçou a publicação conjunta das suas teorias em
1858. Em seu livro de 1859, "A Origem
das Espécies", ele introduziu a ideia de evolução a partir de um ancestral
comum, por meio de seleção natural. Esta se tornou a explicação científica
dominante para a diversidade de espécies na natureza. Ele ingressou na Royal
Society e continuou a sua pesquisa, escrevendo uma série de livros sobre
plantas e animais, incluindo a espécie humana, notavelmente "A
descendência do Homem e Seleção em relação ao Sexo" (1871) e "A
Expressão da Emoção em Homens e Animais" (1872). Em reconhecimento à
importância do seu trabalho, Darwin foi enterrado na Abadia de Westminster,
próximo a Charles Lyell, William Herschel e Isaac Newton. Foi uma das cinco
pessoas não ligadas à família real inglesa a ter um funeral de Estado no século
XIX.
4. CONTRARIANDO
DARWIN
A
Teoria da Evolução é apresentada com tanta confiança que muitos acreditam que
seja mais do que teoria. Livros didáticos, revistas e programas científicos na
televisão dão a impressão que todos aceitam essa teoria como a única e mais
adequada explicação das origens da vida, inclusive da vida humana. Se a Teoria
da Macroevolução for um fato comprovado, a Bíblia seria absolutamente falsa,
pois ela afirma que Deus criou o universo e tudo que nele há (At 17.25-28; Hb
11.3). A nossa fé seria vazia e sem valor, pois a Teoria da Evolução contraria
os princípios fundamentais das Escrituras e até nega a existência de Deus. Essa
teoria, que domina e limita o pensamento de muitos cientistas hoje, nunca foi e
jamais será comprovada. Há mais de 2.000 anos que alguns filósofos sugeriram
algumas teorias da evolução. Nos últimos 200 anos, as ideias propostas por
Charles Darwin têm se tornado artigos de fé que servem como a base da religião
de muitos na comunidade científica. Mas são teorias e interpretações, não
fatos. Nem todos os cientistas professam fé na evolução. Lynn Margulis,
professora emérita de Biologia na Universidade de Massachusetts diz que a
história, futuramente, julgará o neodarwinismo uma "pequena seita
religiosa do século XX, dentro da fé religiosa geral da biologia
anglo-saxônica". Ela, como muitos outros cientistas, reconhece a falta de
provas apoiando a teoria da macroevolução.
A noção de macro evolução (ninguém nega a microevolução, pequenas
mudanças em organismos já existentes) sugere que a vida surgiu e se desenvolve
por acaso, sem ação inteligente. Até hoje, nem provas científicas, nem
evidências arqueológicas irrefutáveis foram apresentadas para sustentar essa
explicação. Os proponentes da teoria ficam cada vez mais frustrados. Darwin
achou que mais pesquisas e o desenvolvimento tecnológico forneceriam as
evidências que faltavam na época dele. Aconteceu ao contrário. Quase dois
séculos passaram, e as evidências mostram mais e mais a fraqueza da sua teoria.
G. A. Kerkut, bioquímico inglês e autor do livro As Implicações da Evolução,
admitiu que "a evidência que apoia [a Teoria da Macroevolução] não é forte
o bastante para nos permitir a considerá-la mais do que uma hipótese
funcional". Jerry Coyne, do Departamento de Ecologia e Evolução da
Universidade de Chicago diz: "Concluímos - inesperadamente - que há poucas
provas que sustentam a teoria neodarwiniana: seus alicerces teóricos são
fracos, assim como as evidências experimentais que a apoiam". A Bíblia não menciona a Teoria da Evolução,
mas apresenta como fato a criação por Deus. A explicação bíblica, também, fica
fora dos limites dos laboratórios científicos. A grande maioria dos seres
humanos olha para a evidência ao seu redor e aceita, por fé, a ideia de criação
por Deus: "Porque os atributos invisíveis de Deus" são
"percebidos por meio das coisas que foram criadas" (Romanos 1:20). A
nossa fé é bem colocada, e nada teme da investigação científica. E a fé dos
evolucionistas? "Diz o insensato no seu coração: Não há Deus" (Sl
14.1).
4.
A TEORIA DO “BIG BANG”
A busca pela compreensão sobre como foi desencadeado
o processo que originou o universo atual, proporcionou – e ainda proporciona –
vários debates, pesquisas e teorias que possam explicar tal fenômeno. É um tema
que desperta grande curiosidade dos humanos desde os tempos mais remotos e gera
grandes polêmicas, envolvendo conceitos religiosos, filosóficos e científicos.
Até o momento, a explicação mais aceita sobre a origem do universo entre a
comunidade cientifica é baseada na Teoria da Grande Explosão, em inglês, Big
Bang. Ela apoia-se, em parte, na teoria da relatividade do físico Albert
Einstein (1879-1955) e nos estudos dos astrônomos Edwin Hubble (1889-1953) e
Milton Humason (18911972), os quais demonstraram que o universo não é estático
e se encontra em constante expansão, ou seja, as galáxias estão se afastando
umas das outras. Portanto, no passado elas deveriam estar mais próximas que
hoje, e, até mesmo, formando um único ponto. A Teoria do Big Bang foi anunciada
em 1948 pelo cientista russo naturalizado estadunidense, George Gamow
(1904-1968) e o padre e astrônomo belga Georges Lemaître (1894-1966). Segundo
eles, o universo teria surgido após uma grande explosão cósmica, entre 10 e 20
bilhões de anos atrás. O termo explosão refere-se a uma grande liberação de
energia, criando o espaço-tempo. Até então, havia uma mistura de partículas
subatômicas (quarks, elétrons, neutrinos e suas partículas) que se moviam em
todos os sentidos com velocidades próximas à da luz. As primeiras partículas
pesadas, prótons e nêutrons, associaram-se para formarem os núcleos de átomos
leves, como hidrogênio, hélio e lítio, que estão entre os principais elementos
químicos do universo. Ao expandir-se, o universo também se resfriou, passando
da cor violeta à amarela, depois laranja e vermelha. Cerca de 1 milhão de anos
após o instante inicial, a matéria e a radiação luminosa se separaram e o
Universo tornouse transparente: com a união dos elétrons aos núcleos atômicos,
a luz pode caminhar livremente. Cerca de 1 bilhão de anos depois do Big Bang,
os elementos químicos começaram a se unir dando origem às galáxias. Essa é a
explicação sistemática da origem do universo, conforme a Teoria do Big Bang.
Aceita pela maioria dos cientistas, entretanto, muito contestada por alguns
pesquisadores. Portanto, a origem do universo é um tema que gera muitas
opiniões divergentes, sendo necessária uma análise crítica de cada vertente que
possa explicar esse acontecimento.
5. A CRIAÇÃO DO HOMEM FOI UM ACONTECIMENTO
ESPECIAL A.
O homem foi criado diretamente por Deus Ao
observar o primeiro relato bíblico da criação, não se pode chegar à outra
conclusão senão que o homem é resultado da intervenção direta de Deus. Observe
o versículo: “Criou Deus, pois, o homem…” (Gn 1.27). Esse versículo inibe a
possibilidade da utilização de um processo evolutivo para a formação do homem.
Deus não utilizou formas “preexistentes” ou subumanas de vida para formar Adão.
Assim Deus não soprou o fôlego da vida em um “macaco-quase-homem” que veio a
ser o primeiro homem. No segundo relato da criação podemos percebem que Deus
não se utilizou de formas orgânicas menos desenvolvidas para formar o homem,
mas “formou o Senhor Deus o homem do pó da terra”. Dessa maneira podemos dizer
que “essa passagem reforça o fato da criação especial a partir de materiais
inorgânicos, não apoiando a ideia de uma criação derivada de alguma forma de
vida prévia1”. Entretanto, alguns atestam que a referência ao pó da terra pode
ser considerada como uma forma alegórica para um ser vivo preexistente. Mas
devemos desconsiderar essa possibilidade, pois o próprio Deus afirmou que o
homem voltaria ao pó quando morresse, mas o homem nunca volta a um estado
animal na sua morte (Gn 3.19). Portanto, temos que admitir, se cremos que a
Palavra de Deus é infalível e inerrante como ela afirma ser, que não existe
outra possibilidade verdadeira para a origem do homem fora das escrituras. Deus
criou o homem de fato, e isso não pode ser negado.
B. O homem foi criado
em distinção das outras criaturas
Outro fato que
deve ser percebido na criação do homem é que ele não foi criado nem derivado de
outras criaturas. Na descrição de Gênesis, Deus cria o reino vegetal distinto
do animal, e o homem distinto de ambos. Observe: “E disse: Produza a terra
relva, ervas, que deem fruto semente, e árvores frutíferas que deem fruto
segundo a sua espécie, cujo a semente esteja nele” (Gn 1.11). Essa
identificação exata de Deus em relação ao reino vegetal inclui até mesmo a
condição da semente do fruto das árvores. Mas não se encontra aqui nenhuma
referência ou semelhança com os animais ou o homem, mas declara que sua
reprodução é única e exclusiva segundo a sua espécie, ou como declara o próximo
versículo “conforme a sua espécie”. Fato similar acontece com os animais
marinhos e as aves: “Criou, pois, Deus os grandes animais marinhos e todos os
seres viventes que rastejam, os quais povoavam as águas, segundo as suas
espécies” (Gn 1.21). Note que cada ser criado por Deus é criado segundo a sua
espécie. E o mesmo acontece com os animais selváticos: “E fez Deus os animais
selváticos, segundo a sua espécie, e os animais domésticos, conforme a sua
espécie, e todos os répteis da terra, conforme a sua espécie.” (Gn 1.25).
Assim, cada categoria de animal foi criada em conformidade com sua própria
espécie, bem como a sua reprodução de acordo com essa conformidade. Segue-se
que não se pode afirmar a partir do relato bíblico que houve nalgum momento da
criação um processo evolutivo, mas cada animal foi criado segundo a sua
espécie. E, tendo isso como fundamento, na criação do homem não podemos atribuir
a utilização de um outro ser vivo para a sua formação. Pois além de ser criado
a partir do pó da terra, não pertence à espécie de nenhum outro ser vivo.
Portanto, o homem é distinto de qualquer outra forma de vida
C. O homem foi
colocado numa posição exaltada
O fato de que o homem não pertence à
categoria dos animais pode ser percebido em função da criação distinta dos
outros seres vivos, como uma espécie distinta de ser vivo e pela posição
distinta que tem das demais criaturas. Essa distinção em termos de posição pode
ser observada na declaração: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa
semelhança; tenha ele domínio sobre os peixes do mar, sobre as aves dos céus,
sobre os animais domésticos, sobre toa a terra e sobre todos os répteis que
rastejam pela terra” (Gn 1.26). Essa identificação demonstra que existe algo
especial, não somente na criação, mas na formação. Além da intervenção
especial, o homem é criado à imagem e semelhança de Deus. Isso faz toda diferença
entre o homem e os outros seres vivos. Mas é ainda reforçado por sua posição
exaltada, pois é criado para ter domínio sobre todos os outros seres vivos.
Portanto, o homem está colocado numa posição privilegiada em relação a demais
criaturas. Essa posição exaltada é ainda demonstrada de forma poética em
Salmos, quando Davi escreve uma exaltação das obras de Deus dizendo: “Quando
contemplo os teus céus, obra de teus dedos, e a lua e as estrelas que
estabeleceste, que é o homem para que dele te lembres? E o filho do homem, que
o visites? Fizeste-o, no entanto, por um pouco, menor do que Deus, e de glória
e de honra o coroaste. Deste-lhe domínio sobre as obras de tua mão, e sob teus
pés tudo lhe puseste” (Sl 8.3-6). Portanto, o homem é considerado como ápice da
criação, a coroa da criação, e por isso tem sua distinção de todas as outras
criações e criaturas e está acima de todas elas. Outro fator que evidencia essa verdade é que
como a criação do homem a Obra Criativa de Deus chegou ao fim. Isso pode ser observado
pela frase dita pelo próprio Deus após a criação do homem: “Viu Deus tudo
quanto fizera, e eis que era muito bom” (Gn 1.31).
7. O HOMEM E O PECADO
A. Criou Deus ... o
Homem à Sua Imagem O homem foi feito diferente das outras criaturas terrestres
(Gn 1.27-28). Ele foi criado semelhante a Deus, com a capacidade de raciocinar,
amar e tomar decisões morais. Deus colocou o homem numa posição especial, acima
das outras criaturas terrestres (Gn 1.28-30), abaixo dos anjos (Hb 2.7) e
sujeito a Deus (Gn 2.15-17).
B. Deus Queria um
Relacionamento Especial com os Homens
Desde o princípio, um fato fundamental tem governado a
relação do homem com Deus: o homem que faz bem será aceito por Deus (Gn 4.7).
Alguns homens faziam bem, e andavam em comunhão com Deus. Enoque andou com Deus
e foi poupado do sofrimento da morte (Gn 5.22-24). Noé andou com Deus e foi
poupado do dilúvio que destruiu os homens maus (Gn 6.9). Abraão se mostrou
fiel, e foi escolhido por Deus para ser o pai de uma nação especial (Gn
12.1-3). Deus separou os descendentes de Abraão e lhes deu instruções especiais
para que fossem um povo santo (Lv 11.44-45). Esta relação especial dependia da
obediência do povo. “O SENHOR te constituirá para si em povo santo, como te tem
jurado, quando guardares os mandamentos do SENHOR, teu Deus, e andares nos seus
caminhos” (Dt 28.9). Davi bem expressou a base da comunhão entre Deus e o
homem: “A intimidade do Senhor é para os que o temem, aos quais ele dará a
conhecer a sua aliança” (Sl 25.14).
C. O Pecado Criou uma
Barreira
O pecado do homem o separa de Deus. Quando o primeiro casal
pecou, foi expulso do jardim, onde Deus andava (Gn 3.23; 2.17; 3.8). Isaías viu
este problema em relação ao povo de Israel: “Eis que a mão do SENHOR não está
encolhida, para que não possa salvar; nem surdo o seu ouvido, para não poder
ouvir. Mas as vossas iniquidades fazem separação entre vós e o vosso Deus; e os
vossos pecados encobrem o seu rosto de vós, para que vos não ouça” (Is 59.1-2).
D. O Pecado, a Morte e o Sangue
O pecado traz a morte: “porque o salário do pecado é a
morte” (Rm 6.23). Junto com este fato, devemos compreender o papel do sangue na
remissão dos pecados. Quando Deus deu permissão para os homens comerem a carne
de animais, ele não lhes deu o sangue como alimento. Ele disse: “Carne, porém,
com sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (Gn 9.4). O sangue está
ligado à vida, e o derramamento de sangue está ligado à morte e, por isso, ao
pecado. O pecado traz o derramamento de sangue. Quando Adão e Eva pecaram, Deus
matou animais para “cobrir” a vergonha do casal culpado (Gn 3.21). Na época dos
patriarcas, os servos de Deus faziam sacrifícios de animais pelo pecado (Jó
1.5; 42.:8). Sob a lei dada ao povo no monte Sinai, os israelitas faziam
sacrifícios que incluíam o derramamento de sangue (Lv 6.30; etc.). Os
sacrifícios do Antigo Testamento foram necessários, porém ineficazes (Hb
10.3-4). O sangue de animais não foi suficiente para perdoar os pecados dos
homens.
O Antigo Testamento diagnosticou o problema – o pecado – mas
não trouxe o remédio. Qualquer pessoa doente que procura a ajuda de um médico
quer duas coisas: o diagnóstico e o remédio. O Velho Testamento só responde à
primeira necessidade, mostrando claramente o problema do pecado. Paulo disse:
“Ora, sabemos que tudo o que a lei diz, aos que vivem na lei o diz para que se
cale toda boca, e todo o mundo seja culpável perante Deus.... pela lei vem o
pleno conhecimento do pecado” (Romanos 3:19-20). A segunda necessidade, o
remédio, encontra-se na Nova Aliança que nos fala sobre o sangue de Jesus Cristo.
“Mas a Escritura encerrou tudo sob o pecado, para que, mediante a fé em Jesus
Cristo, fosse a promessa concedida aos que creem” (Gl 3.22; cf. Hb 9.28).
E. A Importância da
Obediência
Um tema importante no Novo Testamento é o valor dos exemplos
do Velho Testamento para o desenvolvimento da nossa fé. Abraão demonstrou a fé
pelas obras de obediência (Tg 2.21-24). Por outro lado, Paulo avisou do perigo
de seguir os maus exemplos de desobediência no Antigo Testamento (1 Co
10.6-12). Estes exemplos são de grande valor para nós, porque a obediência no
Novo Testamento se torna até mais importante do que naquela época (Hb 2.1-3;
10.28-29).
Pelo estudo do Antigo
Testamento, aprendemos lições importantes sobre a obediência. Entre elas:
·
Fazer o
que Deus não ordenou traz a morte. Quando Nadabe e Abiú entraram no
tabernáculo com fogo que Deus não autorizou, ele matou os dois (Lv 10.1-2).
Quando Uzá estendeu a mão para segurar a arca da aliança, um ato que Deus não
autorizou, ele foi morto na hora (1 Cr 13.9-10). Davi e os outros só
compreenderam o erro quando fizeram o que deveriam ter feito antes – buscar a
vontade de Deus na Palavra (1 Crônicas 15:13).
·
Precisamos
da permissão de Deus para nós, não somente para outras pessoas em outras
situações. Duas vezes, Deus autorizou que levantassem censo para contar o povo
dele (Nm 1.2; 26.2). Em outra ocasião, Davi decidiu fazer um censo (2 Sm 24; 1
Cr 21). Mas Deus não autorizou que Davi levantasse o censo. A consequência foi
desastrosa. 70.000 homens morreram por causa deste ato não autorizado (1 Cr
21.:14). Hoje, muitas pessoas buscam, na palavra revelada aos israelitas no
Antigo Testamento, uma base para suas doutrinas e obras. Tentar se justificar
com instruções dadas a outros povos em outras épocas pode ser desastroso!
· Obedecer, mesmo quando as ordens de Deus não
fazem sentido, traz as bênçãos prometidas. Josué olhava para Jericó quando Deus
falou para ele da tática para conquistar esta cidade fortificada (Js 5.13 –
6.5). A estratégia – rodear a cidade 13 vezes, tocar trombetas e gritar – não
faz nenhum sentido em termos de tática militar. Mas Josué e o povo obedeceram,
e Deus foi fiel. Entregou a cidade nas mãos deles (Js 6.20).
·
Pecados, mesmo escondidos, trazem o castigo.
Durante a conquista de Jericó, Acã tomou algumas coisas proibidas e as escondeu
debaixo da sua tenda. O pecado dele levou à derrota do povo na batalha contra a
pequena cidade de Ai (Js 7). Devemos ter cuidado. Os nossos pecados, até os
ocultos, podem trazer consequências para nós e podem prejudicar outros na
família ou na igreja. Enquanto consideramos lições importantes sobre a
obediência, não devemos esquecer de um dos fatos fundamentais da Bíblia. Deus
merece a adoração porque ele nos criou. “Louvem o nome do Senhor, pois mandou
ele, e foram criados” (Sl 148.5).
8. CONCLUSÃO
Entre as mensagens do
Antigo Testamento, destacamos estas: 1. Deus existe. 2. Ele criou o homem e o
colocou numa posição especial. 3. O pecado nos afasta do Criador. 4. Precisamos
de uma solução para os pecados. 5. O Antigo Testamento não resolve este
problema principal do homem. As pessoas que viviam debaixo da lei ainda
aguardavam o Salvador.
QUE DEUS VOS
ABENÇOE!
ARREPENDIMENTO, UMA METANOIA DO ESPÍRITO.
No Antigo Testamento, arrependimento
significa girar ou retornar e dedicar-se para Deus ao abandonar o pecado,
voltando-se para Ele de todo o coração, alma e forças (Ne 1.9; Is 19.22).143
Essa é a maneira característica do Antigo Testamento para expressar o
arrependimento do homem para com Deus. No Novo Testamento, significa uma
mudança (metanoia) de mente e transformação de pensamentos, de consciência e de
atitudes, abandonando o pecado e voltando-se para Deus, no sentido de dar meia
volta na direção em que se estava e tomar outra direção. No arrependimento,
sente-se tristeza pelo pecado (2 Co 7.10) e é necessário o seu abandono para
abraçar a vontade de Deus.
O arrependimento “é a negação de uma
direção de pensamento e ação, e a afirmação da direção oposta. Aquilo que se
nega é o cativeiro [do pecado], e aquilo que se afirma é o novo ser criado pela
presença de Deus”.144 O arrependimento livra-nos das amarras do pecado e da
culpa que escravizam e tiram a alegria de viver; o arrependimento leva-nos a
experimentar cura substancial dos pensamentos e da consciência cauterizada pelo
pecado (1 Tm 4.2). Leva, ainda, a desenvolver satisfação e uma autoestima
sadia, sem orgulho nem autodesmerecimento, resultando em alegria e paz no
coração.
Jesus afirmou que, para fazer parte do seu
Reino, era necessário o arrependimento (Mt 4.17). Arrependimento não é uma
reforma apenas, mas também uma entrega total à ação do Espírito Santo para
promover as mudanças e transformações mais profundas na alma humana. Zaqueu
teve um arrependimento tão genuíno que prometeu devolver quatro vezes mais a
quem ele havia roubado (Lc 19.8). Arrependimento é diferente de remorso. Este é
momentâneo e passageiro, e aquele deve atingir o mais escuro compartimento do
coração humano numa mudança radical de atitudes.
O arrependimento é acompanhado do
sentimento de culpa e do reconhecimento da falta praticada (Sl 51.1-4); de um
sincero pedido de perdão (Sl 51.10-12); do abandono do erro (Pv 28.13) e da
produção de frutos de arrependimento (Mt 3.8; At 26.20). O arrependimento está
incluso no processo de conversão e abrange o ser humano por inteiro: o intelecto
(Mt 21.30), as emoções (Lc 18.13) e a vontade (Lc 15.18-19). Portanto, a
conversão é uma ruptura com antigas tradições e modos de vida abomináveis e
pecaminosos.
Para que haja perdão de pecados, é
necessário arrependimento (Lc 24.47). Isso implica em nascer de novo e
converter-se completamente para Deus. Não se trata apenas de uma decisão da
mente, mas envolve o ser humano por inteiro. O desejo de Deus é sempre perdoar
e amar, e sua atitude em favor da humanidade morrendo numa cruz confirma-nos
esse desejo; contudo, a retribuição do homem para com o amor de Deus foi a
desobediência e o pecado, e, depois da Queda, não havia possibilidade de perdão
para a humanidade caída, a não ser que alguém que fosse superior ao homem
pudesse sofrer o castigo em seu lugar. Após a queda do ser humano, o mundo
estava coberto de destruição e ira; no entanto, não foi a ira que levou Jesus à
cruz, mas o seu indescritível amor.
Os efeitos do processo Redentor de Cristo
são reais e verdadeiros. Isso pode ser confirmado não apenas a partir da
Bíblia, mas também porque os efeitos são vistos na vida de muitos, e isso nos
garante que o arrependimento, a confissão e o perdão são realidades que nos
transformam. Sem a cruz, a confissão seria apenas mais um tipo de terapia; ela,
porém, é muito mais, na medida em que promove mudanças reais em nosso
relacionamento com Deus, com o próximo e conosco; é um meio de cura e
transformação para o/a homem/mulher interior.145
A
proclamação do evangelho através da pregação é um método sublime de convencer o
pecador ao arrependimento. A mensagem mais clássica quanto a isso é o primeiro
sermão de Pedro, quando foram batizadas 3 mil pessoas. Sua mensagem foi jogar
em rosto (imputação de culpa) o que haviam feito com Cristo e seus milagres,
sofrimento, morte, ressurreição e glorificação. Porém, o ponto central foi sua
morte e ressurreição. Como fruto desse primeiro sermão, os ouvintes foram
compungidos (At 2.37 – ARA), aflitos (NVI) — em outras traduções, poderia ser
tocados, feridos, picados. Essa palavra provém do grego nusso, que significa
espetar, como se um punhal tivesse atravessado o coração deles. Um desespero
santo tomou conta do público, mas Pedro não lhes deu nenhum consolo passageiro,
nenhuma promessa de vitória fácil. Veio, sim, a proclamação para o
arrependimento (At 2.38), que, tendo sido aceita pelos presentes, serviu de
base para o batismo, o consolo permanente.
Para dar o extraordinário efeito de
arrependimento nos ouvintes, como relatado em vários textos de Atos dos
Apóstolos, o kerygma (pregação) apostólico “consistia de três partes:
1) uma
proclamação da morte, ressurreição e exaltação de Jesus;
2) a consideração de Jesus como Senhor e
também como Cristo; e
3) uma convocação ao arrependimento e a
receber perdão de pecados. Assim, o kerygma, em sua plenitude, reunia uma
proclamação histórica, uma consideração teológica e uma convocação ética.”146
O
resultado dessa pregação, além do arrependimento verificado, foi a confissão de
pecados (At 2.37). A Bíblia admoesta-nos a confessar nossos pecados uns aos
outros e a orar uns pelos outros (Tg 5.16). Ela afirma-nos também que há um só
mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem (ver 1 Tm 2.5). Ambas as
instruções são encontradas na Bíblia, e uma não exclui a outra. A Igreja de
Cristo é denominada como uma comunhão de santos, mas também uma comunhão de
pecadores, no sentido de que ninguém ainda alcançou a plenitude da santidade,
ou seja, todos ainda carecem de progresso na caminhada cristã.
O arrependimento atesta o reconhecimento
não apenas do pecado, mas também da condição pecaminosa em que se encontra o
homem. Contudo, remorso apenas não lhe garante vitória sobre o pecado — nesse
sentido, o ato da confissão é de suma importância. Nele expõem-se as limitações
a um conselheiro espiritual, e juntos agregam-se forças mútuas no desejo de
prosseguir. Não confessar as falhas aos outros indica uma indisposição ao
desejo real de mudança, especialmente quando não se consegue obter vitória
sozinho sobre determinadas práticas nocivas. A confissão denota aceitação do
julgamento e do castigo na intenção de receber perdão e esperança de
transformação. Nesse processo, sente-se que a culpa foi superada, e uma nova
coragem de ser torna-se possível.
Confessar nossas necessidades diante de
irmãos e irmãs que nos orientarão no caminho correto dá-nos a certeza de que
não estamos sozinhos. O orgulho e o medo que se apega em nós quando pensamos em
confissão apega-se também aos outros; contudo, somos todos igualmente pecadores
e, no ato da confissão mútua, o poder de cura é liberado, e nossa condição
humana já não é mais negada, e sim transformada.147
O indivíduo que conhece, mediante a
confissão privada, o perdão e o livramento de persistentes hábitos
importunadores regozija-se grandemente nessa prova da misericórdia divina. Sempre
existirão áreas na vida do cristão que não foram submetidas ao senhorio de
Cristo e que, portanto, não passaram pelo processo de arrependimento (Hb
12.17). Por isso, a Bíblia enfatiza a necessidade de constantemente
julgarmo-nos a nós mesmos (1 Co 11.31) e percebermos aquilo que sorrateiramente
contamina o coração e que quer afastar-nos de Deus, pois “enganoso é o coração,
mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?” (Jr 17.9).
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