terça-feira, 31 de outubro de 2017

Lição 6 - A Centralidade da Graça (Sola Gratia)






TEXTO ÁUREO
Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isso não vem de vós; é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie. Efésios 2.8,9

TEXTO BÍBLICO BÁSICO
Efésios 2. 1-10
1 E VOS vivificou, estando vós mortos em ofensas e pecados,
2 Em que noutro tempo andastes segundo o curso deste mundo, segundo o príncipe das potestades do ar, do espírito que agora opera nos filhos da desobediência.
3 Entre os quais todos nós também antes andávamos nos desejos da nossa carne, fazendo a vontade da carne e dos pensamentos; e éramos por natureza filhos da ira, como os outros também.
4 Mas Deus, que é riquíssimo em misericórdia, pelo seu muito amor com que nos amou,
5 Estando nós ainda mortos em nossas ofensas, nos vivificou juntamente com Cristo ( pela graça sois salvos ),
6 E nos ressuscitou juntamente com ele e nos fez assentar nos lugares celestiais, em Cristo Jesus;
7 Para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas da sua graça pela sua benignidade para conosco em Cristo Jesus.
8 Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus.
9 Não vem das obras, para que ninguém se glorie;
10 Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus preparou para que andássemos nelas.

Palavra introdutória
Como mencionamos na lição anterior, o ser humano, via de regra, não se sente confortável com o fato de depender de outrem para satisfazer suas necessidades e anseios — elementares ou profundos —, e esse desconforto estende-se a todas as áreas da vida. De modo geral, o homem não consegue aceitar que a salvação de sua alma não depende, em nada, dele mesmo, mas única e exclusivamente de Deus.

Nesta lição, veremos que na Idade Média, sobretudo, a doutrina da salvação pela Graça foi completamente abandonada, sendo restabelecida pela teologia reformada.

1. O ENTENDIMENTO ROMANO QUANTO À PARTICIPAÇÃO HUMANA NA SALVAÇÃO
Muitos cristãos reformados acreditam que os católicos apregoam a salvação pelas obras, enquanto os protestantes anunciam a salvação pela Graça. Apesar de ser um entendimento comum, é preciso dizer que ele não é verdadeiro: os romanistas não ensinam que somos salvos apenas pelas obras que praticamos.

Onde está, afinal, o ponto de cisão entre romanistas e reformados? Está em uma única palavra: sola (somente). Enquanto os reformados sustentam que somos salvos somente pela Graça, a Igreja Romana entende que há participação humana nesse processo. É o que veremos a seguir.

1.1. A doutrina das indulgências
Resumidamente, pode-se dizer que a Igreja Romana entendia que as indulgências (It. indulgentia = gentil) serviam para reparar, total ou parcialmente, os males decorrentes do pecado — sendo que o pecado já é perdoado no sacramento da confissão.

Em outras palavras, significa dizer que, para os romanistas, as indulgências (obtidas pela prática de boas obras) não estavam relacionadas ao perdão dos pecados, mas ao perdão da pena temporal causada pelo pecado — elas seriam semelhantes ao ladrão que, conseguindo o perdão daquele que foi roubado, deve restituir o dono com o dinheiro equivalente ao que foi extorquido.

1.1.1. Refutação reformista à doutrina das indulgências
Lutero discorreu sobre as práticas abusivas de venda de indulgências. Em suas teses, ele afirmou que o arrependimento requerido por Cristo para o perdão dos pecados envolve arrependimento espiritual interior, não apenas a confissão sacramental exterior.

No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5; seções 1—5), o pensamento romano também é contestado. Nele, são abordados temas como: (1) a indulgência, além de grosseira mistificação, é blasfemo vilipêndio da redenção operada no sacrifício de Cristo, como a Escritura o comprova (seção #2); (2) as indulgências contradizem a Graça, pois são convertidas em compensações erroneamente concebidas por meritórias diante de Deus (seção #5).

O comércio de indulgências refere-se aos abusos cometidos pelo Clero na concessão de indulgências. Os primeiros registros dessa
prática arbitrária remontam ao século 13. Nesse período (séc. 13 - 16), surgiu a figura do perdoador profissional. Johann Tetzel chegou às raias do absurdo, ao afirmar que quando uma moeda tilintava no cofre, uma alma saía do Purgatório.

1.2. A doutrina do purgatório
A doutrina do purgatório foi aprovada no Concílio de Florença (1438—1445) e definitivamente confirmada no Concílio de Trento (1549—1563); todavia, ela já era ensinada desde 1070.

Segundo essa doutrina, advinda de uma antiga crença pagã, os cristãos parcialmente santificados — no caso, a maioria — passariam por uma espécie de purificação para, somente depois, entrarem na comunhão eterna. Vale destacar que, para a Igreja Romana, o Purgatório não é um lugar, mas sim um estado.

Para os romanistas, todo ser humano traz consigo certa desordem interior, que deve ser extinta nesta vida. Na confissão — ainda segundo a Igreja Romana —, o homem recebe o perdão dos seus pecados, mas, na grande maioria das vezes, a raiz de iniquidade não é totalmente removida, e, por isso, ele (o homem) acaba reincidindo nas mesmas faltas. Apenas no Purgatório essa desordem interior é totalmente destruída, possibilitando a alma chegar ao céu em plena comunhão com Deus, que rejeita todo pecado.

1.2.1. Refutação reformista à doutrina do purgatório
No terceiro volume das Institutos da Religião Cristã, de Calvino (capítulo 5; seções 6—10), o pensamento romano é contestado. A sexta seção, inclusive, recebeu o seguinte título: Dadas suas sérias consequências e a natureza blasfema de que se reveste, forçoso se faz refutar a doutrina do purgatório.

Nas seções subsequentes, são abordados temas como: 
  (1) é improcedente o respaldo que se deriva de Mateus 12.32 à doutrina do purgatório, bem como de passagens paralelas e de Mateus 5.25,26 (seção #1);
 (2) tampouco Filipenses 2.10, Apocalipse 5.13 e 2 Macabeus 12.43 respaldam o Purgatório (seção #8);
  (3) tampouco 1Coríntios 3.12-15 oferece fundamento à doutrina do purgatório (seção #9).

2. SOM GRATIA
Lutero defendeu arduamente a ideia de que o pecador é incapaz de, por si só, prover ou apropriar-se da salvação. Assim, atacou todo sistema de indulgências, peregrinações e penitências adotado pela Igreja Medieval, opondo-se, do mesmo modo, à doutrina do purgatório.

O monge agostiniano compreendeu que, para derrotar a ideia de
meritocracia apregoada por Roma, ele teria de ir à raiz da  controvérsia: a graça divina (Ef 2.8,9).

2.1. Definição do termo
Esse termo indica, antes de tudo, que o onipotente Deus Trino, o Criador dos céus e da terra, o Soberano da salvação, oferece Sua graça remidora a homens e mulheres, culpados e indignos, de modo tal, que se lhes torna impossível não responder a esse favor imerecido com regozijo e submissão voluntária.
A teologia reformada entende que, quando o cristão verdadeiramente experimenta a graça soberana do Altíssimo, ele compreende também seu real significado: se a Graça não for livre e soberana, ela não é Graça.

2.2. As epístolas paulinas
Paulo, não os reformadores, foi quem maior destaque deu ao tema graça. Das 155 referências existentes em relação ao favor imerecido concedido por Deus aos homens, 133 são dele. A Graça abre e fecha boa parte de suas epístolas; sendo a nota primordial de seus escritos (1Co 3.10; 2 Co 4.15; 8.1; Fp 1.7; Cl 1.6; 1Ts 5.28; 2 Ts 2.16; 1Tm 1.14; 2 Tm 1.9; Tt 2.11; 3.7).
Vejamos o que ele destacou em três de suas cartas (aos romanos, aos gaiatas e aos efésios).

2.2.1. Romanos
A carta aos romanos é um dos livros neotestamentários que mais enfatiza a maravilhosa graça divina. O tema central da epístola é: o justo Senhor justifica e, por fim, une judeus e gentios pela Graça, mediante a fé, tornando-nos, todos, coerdeiros do Reino dos céus (Rm 4.16) — esse capítulo de Romanos (4), aliás, é central para a afirmação de que a justificação ocorre somente pela graça de Deus, mediante a fé. Além disso, nessa carta, Paulo diz que a Graça determina a paz entre os homens e Deus (Rm 5.2); traz verdadeira libertação do domínio do pecado (Rm 5.20,21; 6.14) e capacita os cristãos a servirem à Igreja (Rm 12.6).

2.2.2. Gálatas
Paulo utilizou duas personagens veterotestamentárias (Sara e Agar) para apresentar aos gaiatas as diferenças entre os dois Concertos: a Lei e a Graça (Gl 4.21-31). Com essa ilustração, o apóstolo reiterou a impotência da Lei no que diz respeito à justificação do homem (Gl 3.10-14). O apóstolo concluiu a alegoria dizendo que a observância à Torah é desnecessária, pois somos filhos não da escrava (a Lei), mas da livre (a Graça) (Gl 4.31).

2.2.3. Efésios
Paulo diz, em sua carta aos efésios, que o homem está morto em seus delitos e pecados (Ef 2.1,2). Não se deve entender com essa afirmativa que todas as pessoas são igualmente más, ou que todas são tão más quanto poderiam ser, ou que todas estão destituídas de quaisquer virtudes, ou que a natureza humana é má em si mesma.
O homem natural, pela graça comum de Deus, pode, sim, ser um bom cidadão, cultivar virtudes elevadas e ter valores morais sólidos; todavia, nada do que ele faça nesta vida pode livrá-lo de seu pecado original (Rm 3.23; 6.23), senão a graça salvífica (Ef 2.8,9).

Se a fé é o meio humano pelo qual alcançamos a salvação (Ef 2.8), a Graça é o recurso divino no qual depositamos a nossa fé.

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: TUDO, TÃO SOMENTE PELA GRAÇA
O princípio da sola gratia, extraído da Escritura, traz--nos dois entendimentos fundamentais:
 (1) todos, invariavelmente, estamos sujeitos ao pecado e temos inclinações pecaminosas; (2) todos, indistintamente, somos incapazes de alcançar as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) por méritos próprios — tudo é fruto da Graça.

3.1. Não se podem comprar bênçãos: nem materiais, nem espirituais; nem para esta vida, nem para a eterna

A concessão de indulgências em troca de dinheiro, na Igreja Romana medieval, acabou se transformando em um mércio de bênçãos espirituais — bênçãos essas que jamais puderam (e jamais poderão) ser negociadas, tais como: perdão, remissão de pecados e expiação.

Infelizmente, a comercialização da fé não é um fenómeno que ficou restrito às cercanias medievais. Nos dias atuais, muitas comunidades ditas cristãs aperfeiçoaram essa antiga prática romanista.

Os atuais mercadores da fé não vendem a salvação, mas supostas relíquias que, segundo eles, teriam poderes sobrenaturais — como pedaços da arca de Noé, da arca da aliança, da capa de Elias e até da cruz de nosso Salvador. Os atuais mercadores da fé, desconsiderando a supremacia da obra de Cristo, têm vendido, até, visitas a idosos e enfermos.

Na Era das Trevas, a Igreja Romana comercializava bênçãos espirituais e eternas; na pós-modernidade, comunidades protestantes têm comercializado bênçãos materiais e terrenas; a ambos os grupos, a teologia reformada grita: sola gratia!

Sem a graça divinal, não haveria preservação da vida, provisão de ordem alguma, consciência, livre volição, cura, perdão ou qualquer
outro elemento capaz de conferir beleza ou sentido à existência.

O Eterno concede Sua maravilhosa Graça ao homem, democrática,
livre e ininterruptamente, sem que haja nele (no homem) a possibilidade de oferecer-Lhe o que quer que seja em retribuição (Ef 2.8); pois, como bem observou Paulo: todas as coisas são Dele, e por Ele, e para Ele (Rm 11.36).

CONCLUSÃO
A doutrina das indulgências e a doutrina do purgatório relativizaram a doutrina da salvação unicamente pela Graça, retomada por Lutero e desdobrada, com fervor, pelos teólogos reformados.

Que esse entendimento seja, para a Igreja de Cristo, o grande legado da Reforma Protestante: alcançamos as bênçãos divinas (materiais e/ou espirituais; para esta vida e/ou para a vindoura) pela Graça, somente.

✏FONTE: https://sub-ebd.blogspot.com.br/2017





                           📗  II SÓ A GRAÇA 

1. O Segundo pilar da fé evangélica está intrinsicamente ligado ao primeiro .

 2. Se a fé é o meio humano pelo qual podemos ser salvos , então a graça é o recurso divino no qual colocamos a nossa fé .
Romanos 1:17 (RA) 17 visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé.

3. Como a justiça divina poderia ser cumprida se ainda somos pecadores ? 

4. Como poderíamos ser salvos se como pecadores , somos condenados pela lei de Deus ?

5. Mas a graça de Deus foi ele cumprir a sua justiça por nós.

 6. O segredo do céu - a encarnação, a morte, o hades , a ressurreição, e a oferta de graça . 

7. Graça  é a justiça do evangelho que só pode ser alcançada por meio da fé . 

8. Ao entender isto Lutero não podia se conformar com o absurdo da venda das indulgências. 

9. Porque ninguém será salvo por mérito próprio, por obras, sacrifícios penitências ou compra de indulgências. A única causa eficaz da salvação é a graça de Deus sobre o pecador. 

 10. Você não pode comprar um terreno no céu , nem com dinheiro, nem com qualquer outra coisa . Só a graça pode lhe dar a salvação eterna .
 Efésios 2:8-9 (RA) 8 Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus; 9 não de obras, para que ninguém se glorie.

11.  Hoje é dia em que a graça de Deus precisa ser recebida com fé.

 12. Menos do que isto é um ultraje diante da bondade de Deus . 
Hebreus 10:29 (NTLH) 29 Então, o que será que vai acontecer com os que desprezam o Filho de Deus e consideram como coisa sem valor o sangue da aliança de Deus, que os purificou? E o que acontecerá com quem insulta o Espírito do Deus, que o ama? Imaginem como será pior ainda o castigo que essa pessoa vai merecer!

13. O Senhor quer que você receba o seu presente gracioso.    
                            
"Podem matar o ganso (em alemão, sua língua natal, huss é ganso), mas daqui a cem anos, Deus suscitará um cisne que não poderão queimar".

Paschoal Piragine Jr 1 31/10/16


                                          📗A Reforma Protestante  
                                                              
                                                             GB Treinamento Ministerial 21
6. As Indulgências e as 95 Teses
 a. A indulgência é a remissão (parcial ou total) do castigo temporal imputado a alguém por causa dos seus pecados. Naquele tempo qualquer pessoa poderia comprar uma indulgência, para si mesmo, ou para um parente já morto que estivesse no Purgatório.
b. Os Católicos falam de céu, inferno e de um terceiro lugar chamado de purgatório. Purgatório foi teorizado no pontificado do Papa Gregório I, em 593. É o lugar para onde você vai se não foi mal o suficiente para ir para o inferno ou bom suficiente para ir direto ao céu e precisa ser purificado um pouco antes de entrar. No purgatório, almas atingem o nível de santidade necessário para entrar no céu.
 c. Os oficias da igreja argumentavam que os sacerdotes estavam fazendo bem mais “boas obras” que eram necessário e assim, a sua “conta” com Deus tinha mais crédito do que se precisava para pagar por seus pecados. Então, por que não vender aqueles que sobravam para pessoas precisando de uma ajuda? E assim entrou a idéia de indulgências. Você poderia comprar o crédito de boas obras feito por uma outra pessoa da igreja. 
d. Com a aprovação do papa, os bispos podiam vender suas indulgências. A transação era feita através de um papel representando a indulgência que certificava que a boas obras do bispo tinham “pago” a dívida de boas obras do indivíduo ou de um parente já morto que estava ainda sofrendo no purgatório. 
e. As indulgências foram criadas pela igreja por uma só  razão: gerar dinheiro.
f. Quem estava na liderança da venda de indulgências na Alemanha era um monge Dominicano, bem conhecido por sua imoralidade e bebedeira, seu nome era Johann Tetzel.
a. Ele foi recrutado para viajar através dos territórios episcopais do arcebispo Alberto de Mogúncia, promovendo e vendendo indulgências com o objetivo de financiar as reformas da Basílica de São Pedro, em Roma e foi esse abuso que deixou Lutero revoltado. 
 i. “Quando a moeda no cofre soar,  A alma do purgatório irá saltar”.
ii. Uma certa história diz que após Tetzel ajuntar uma grande soma de dinheiro da venda de indulgências em Leipzig, um homem se aproximou dele e perguntou se ele poderia comprar uma indulgência por um pecado futuro, que ele estava planejando cometer. Tetzel disse que sim, e eles ajustaram o preço. Após isso, o homem atacou e roubou Tetzel, explicando que este era o pecado futuro que ele tinha em mente!
 b. Lutero viu esse tráfico de indulgências como um abuso que poderia confundir as pessoas e levá-las a confiar apenas nas indulgências, deixando de lado a confissão e o arrependimento verdadeiro.
 c. Dia 31 de outubro de 1517 foram pregadas as 95 Teses na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg, com um convite aberto ao debate sobre elas. Essas teses condenavam a avareza e o paganismo na Igreja como um abuso, e pediam um debate teológico sobre o que as Indulgências significavam.
  d. Ainda que as teses fossem escritas em latim e só destinadas para o debate acadêmico, elas tiveram o efeito de dinamite para os outros, que começaram a fazer cópias nas prensas de impressão, tanto em latim como em alemão. Em vez de ser um debate de eruditos, a povo alemão ficou interado do assunto.

                                📗SOMENTE A GRAÇA (SOLA GRATIA)      

      O homem inicia e participa de seu perdão e salvação, ou é Deus quem inicia e completa a salvação de pecadores, de modo que toda a obra seja atribuída somente à graça soberana (sola gratia)? Em resposta a Diatribe, de Desiderius Erasmus, o livro A Escravidão da Vontade, escrito por Lutero, coloca-se inequivocamente ao lado da graça soberana.
Lutero insistia que um pecador é incapaz de prover ou mesmo de se apropriar da salvação. Ao dizer isso, Lutero atacou o sistema de indulgências, peregrinações, penitências, jejuns, purgatório e mariolatria da igreja católica. Ele percebeu que a única maneira de derrotar o sistema baseado em obras da igreja católica era atingir a raiz da controvérsia: graça gratuita versus livre-arbítrio.

O vocábulo graça é comumente definido como o favor imerecido de Deus, mas essa definição não é tão abrangente. William Newman, um batista calvinista do século XIX, definiu graça assim: "É o favor espontâneo de Deus... outorgado... ao indigno". [9] Aqueles que recebem graça não são apenas pecadores indignos e sem esperança; são rebeldes hostis que estão contra Deus, possuem coração mau e uma péssima lista de obras. Deus não está obrigado a ser amável e gracioso para com eles. Eles são pecadores e merecem o inferno. No entanto, de acordo com sua natureza, Deus derrama um amor totalmente imerecido sobre eles - e, quando Deus faz isso, a vida deles é mudada para sempre. Como diz Efésios 2.4-5, é motivado por um coração cheio de misericórdia e grande amor que Deus salva - resgata, livra, liberta - pecadores, pela graça. Embora eles sejam indignos de amor e repulsivos para Deus, por causa do pecado, ele lhes mostra amor. Deus lhes perdoa os pecados, dá-lhes conhecimento de si mesmo e move-os a responder com sinceridade à sua graça. Ao usarmos a expressão graça gratuita e soberana, estamos dizendo que o supremo Deus do céu e da terra - o Deus trino e soberano da salvação - deseja, espontaneamente, e aplica graça salvadora a pecadores culpados e desprezíveis, transformando suas vidas de tal modo que se regozijem nele e vivam para servi-lo.

A teologia reformada ensina que, se experimentarmos essa graça soberana, entenderemos o que ela realmente significa. Compreenderemos que, se a graça não é lvire e soberana, ela não é graça. Deus nos salva não por causa de alguma coisa possível ou factual, prevista ou preordenada em nós. Ele nos salva totalmente de acordo com seu soberano e amável beneplácito.

Um dos livros do Novo Testamento que enfatiza de modo especial a soberana e maravilhosa graça de Deus é a Epístola aos Romanos. De acordo com o apóstolo Paulo, essa graça torna judeus e gentios co-herdeiros do reino de Deus, com o fiel Abraão (Rm 4.16). Estabelece a paz entre Deus e pecadores que são inimigos dele (Rm 5.2). Visto que somente essa graça é mais poderosa do que as forças do pecado, ela traz liberdade verdadeira e duradoura do domínio do pecado (Rm 5.20-21;6-14). A graça de Deus capacita os cristãos com diferentes dons para servirem na igreja de Deus (Rm 12.6). Por fim, ela vencerá a morte. Essa graça é o precursor da vida eterna para todos os que a recebem (Rm 5.20-21), porque chega às eras anteriores à criação do tempo e, sem respeito ao mérito humano, escolhe homens e mulheres para a salvação (Rm 11.5-6).

Esta idéia de que a salvação deve tudo à graça de Deus é o tema preponderante não apenas em Romanos, mas em todas as epístolas de Paulo. Por exemplo, ele começou sua carta aos crentes de Filipos com uma oração em favor da igreja, dizendo: "Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus" (1.6). Samuel Rutherford escreveu: "A semente de Deus produzirá a colheita de Deus". [10] A salvação não um mérito nem uma realização nossa. Essa é a razão por que Paulo orava, com alegria e ações de graça, cada vez que se lembrava dos crentes de Filipos. Se o homem houvesse começado a obra de salvação, estivesse continuando-a e tivesse de completá-la, o louvor de Paulo seria silenciado. Contudo, visto que a salvação resulta da obra divina que persiste dia a dia, apesar das lutas e da demora do homem, uma obra que certamente será aperfeiçoada no grande dia, tudo isso visa ao louvor e à glória do Deus trino. Essa é a razão por que Paulo agradecia a Deus por todas as doutrinas da graça e se alegrava quando pensava no fato de que os crentes haviam sido atraídos a Cristo. Ao apegar-nos à graça de Deus, podemos, como Paulo, ser crentes jubilosos que confessam vitoriosamente: "Se Deus é por nós, quem será contra nós?" (Rm 8.31).

A graça nos chama (Gl 1.15), nos regenera (Tt 3.5), nos justifica (Rm 3.24), nos santifica (Hb 13.20-21) e nos preserva (1 Pe 1.3-5). Precisamos de graça para nos perdoar, nos converter a Deus, curar nosso coração corrompido e nos fortalecer em tempos de tribulação e conflito espiritual. Somente por meio da graça gratuita e soberana de Deus podemos ter um relacionamento salvífico com ele. Somente por meio da graça, podemos ser chamados à conversão (Ef 2.8-10), à santidade (2Pe 3.18), a servir a Deus (Fp 3.12) ou a sofrer (2Co 1.12).

A graça soberana destrói o nosso orgulho. Ela nos envergonha e nos humilha. Queremos ser os sujeitos, e não os objetos, da salvação. Quer ser ativos, e não passivos, no processo. Resistimos à verdade de que somente Deus é o autor e consumador da fé. Por natureza, nos rebelamos contra a graça soberana, mas Deus sabe como destruir a nossa rebelião e nos tornar amigos dessa grande doutrina. Quando Deus ensina aos pecadores que o seu íntio é corrompido, a graça soberana se torna a mais estimulante de todas as doutrinas.

Desde a eleição à glorificação, a graça reina em esplêndido isolamento. João 1.16 nos diz que recebemos "graça sobre graça"; isso significa, literalmente, "graça diante de graça ou graça sobreposta a graça". A graça segue a graça, em nossa vida, como as ondas seguem umas às outras até à praia. A graça é o princípio divino pelo qual Deus nos salva; é a provisão divina na pessoa e obra de Jesus Cristo; é a prerrogativa divina manifestando-se na eleição, na chamada e na regeneração; é o poder de Deus capacitando-nos, gratuitamente, a aceitar a Cristo, para que vivamos, soframos e morramos por amor a ele e sejamos preservados nele para a eternidade.

Os calvinistas entendem que, sem a graça soberana, todos seriam eternamente perdidos. A salvação é uma obra plenamente da graça e de Deus. A vida tem de vir de Deus, antes que um pecador possa ressuscitar dos mortos.

A graça gratuita reivindica expressão na igreja contemporânea. Decisões humanas, manipulação das multidões e convites para vir à frente não produzem conversões genuínas. Somente o antigo evangelho da graça soberana pode capturar a transformar pecadores pelo poder da Palavra e do Espírito de Deus.

Quão bem entendemos e vivemos de acordo com o sola gratia? Já aprendemos, por experiência pessoal, que a graça faz tudo por nós? Quando visitamos uma amiga idosa em um abrigo de idosos, algum tempo atrás, observei que ela não tinha nada fixado nas paredes de seu quarto, exceto um cartaz em que ela escrevera: Riquezas de Deus por causa de Cristo.

"Isso significa muito para mim, porque vivo tão-somente pela graça", ela disse.

Isso é verdade a respeito de todos nós? Somos filhos e filhas da Reforma que cantam, de coração, "Preciosa graça"? Muitos declaram concordar com a graça soberana, mas ela raramente muda as suas vidas. Quão ricos são aqueles que experimentam em verdade as palavras deste hino:

Oh! Quão grande devedor à graça
Sou, cada dia, compelido a sentir-me!
Que a tua graça, como uma algema,
Prenda a ti meu coração vagante.
Sinto-o inclinado a vaguear, Senhor,
Inclinado a deixar o Deus que amo.
Toma meu coração, toma-o e sela-o,
Sela-o para as tuas cortes no céu! [11]

✏FONTE : Escola Bereana – ADVEC SEDE




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