terça-feira, 31 de outubro de 2017

Lição 6 – A Abrangência Universal da Salvação






                                                       CAPÍTULO 6
                            A ABRANGÊNCIA UNIVERSAL DA SALVAÇÃO
N
ada na história é comparável ao que Cristo fez. Sua encarnação é única no mundo; sua vida foi plena de sentido; sua morte foi a salvação completa da humanidade e do cosmo, e sua ressurreição aponta para o fato de que os que creem em sua obra salvadora alcançarão, um dia, a plenitude da glória eterna. Ela é eficaz porque foi completada de uma vez por todas pelo “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1.29). Somente um cordeiro tão perfeito, um sacrifício tão completo e um Deus tão amoroso poderiam realizar esta obra e trazer luz para os que habitavam em trevas (Mt 4.16).
                       
                                         A UNIVERSALIDADE DO PECADO
        A obra expiatória de Cristo tornou-se necessária por causa da universalidade do pecado que atingiu toda a raça humana e também por causa da seriedade do pecado porque este corrompeu o ser humano e prejudicou sua comunhão com Deus. Também é necessária por causa da incapacidade do homem de resolver por si mesmo esses problemas. Portanto, a universalidade, a seriedade e a incapacidade humana apontam para Cristo como único possível para fazer a expiação. Assim, fez-se necessária a obra expiatória de Cristo, que Ele padecesse ou se sacrificasse para aniquilar o poder do pecado (Rm 5.21), a adversidade advinda dEle e também sua morte. O sacrifício expiatório de Jesus teve lugar na cruz do Calvário e foi a substituição do justo pelo pecador. Ele pagou o preço por nossos pecados, tomou-os sobre si, venceu a morte e ressuscitou (Is 53). A expiação é a suprema expressão do amor do Pai para com a humanidade através de Jesus Cristo (Jo 3.16).
         Em sua morte, Cristo salientou a seriedade do pecado e a severidade da justiça de Deus, triunfou sobre as forças do pecado e da morte, liberando-nos de seus poderes, ofereceu satisfação ao Pai por nossos pecados e mostrou o grande amor de Deus à humanidade. Dessa forma, a expiação implica em que a “humanidade de Jesus significa que sua morte expiatória é aplicável aos seres humanos; sua deidade significa que sua morte pode servir para expiar os pecados de toda a humanidade.”74
        Todos foram afastados de Deus por causa do pecado (Rm 3.23); todos se inclinam para o mal (Sl 14.3; Mc 10.18); não há homem justo sobre a terra (Ec 7.20). O pecado é tão terrível para o ser humano que a Bíblia afirma que ele tem o poder de afastar as pessoas de Deus e impedir as orações (Is 59.2) e ainda de tornarem as pessoas alvos de sua ira (Hb 10.27). Somado a isso, o homem sofreu perda física, psíquica, social e espiritual. Além disso, a natureza também foi atingida pelo pecado e sofreu sérias consequências (Gn 3.17-19), assim como ainda sofre por causa da degradação, poluição e destruição do homem que, em sua ganância, a destrói, fazendo-a gemer (Rm 8.22), aguardando novos céus e nova terra (1 Pe 3.13) através da sua redenção.
        Portanto, sua morte é a expiação dos pecados, do hebraico kapar,75 que significa cobrir (no sentido de ocultar) o pecado. Isaías escreveu que “ao Senhor agradou o moê-lo, fazendo-o enfermar; quando a sua alma se puser por expiação do pecado [...]” (Is 53.10). Se alguém pecasse no Antigo Testamento, precisaria oferecer um animal pela culpa para “cobrir” a ofensa (Lv 6.2-7), significando que o pecado foi coberto por uma vítima inocente e, portanto, não seria mais visto, tornando-se invisível aos olhos de Deus. Esse mesmo princípio individual era usado para os pecados da nação (Lv 4.13-20). Nesse sentido, o sacrifício de Cristo é infinitamente mais abrangente, pois Ele não apenas cobre os pecados, como também os remove completamente, apagando-os e, portanto, perdoando-os (Hb 10.4-10) como se nunca houvessem sido cometidos.76
        Pode-se dividir a expiação em quatro representações conforme Strong:77 moral, originada no amor desinteresseiro de Deus em assegurar a libertação do pecador (Jo 3.16); comercial, um pagamento de resgate libertando da escravidão (Mc 10.45); legal, como um ato de obediência à Lei violada pelo pecado e uma apresentação da justiça de Deus (Mt 3.15; Gl 4.4-5); e sacrificial, como obra de mediação sacerdotal reconciliando o homem com Deus, removendo a inimizade através da oferta pelo pecado a favor dos transgressores e satisfazendo a exigência da justiça e santidade de Deus (Hb 10.11-12).
       Além de fazer a expiação pelo pecado de todos, Jesus também foi o Sumo Sacerdote que entrou no santuário celestial perante Deus, com seu próprio sangue, efetuando, de uma vez por todas, uma redenção eterna (Hb 9.11,12,24). Para provar que, a partir da morte de Cristo, não era mais necessário oferecer sacrifício de animais, o véu do templo, que dava acesso ao Santo dos Santos, onde ficava o propiciatório em que se oferecia a oferta de sangue, foi rasgado de alto a baixo (Mt 27.51), dando acesso pleno a todo ser humano à presença de Deus pelo novo e vivo caminho, consagrado pela sua carne rasgada por nós (Hb 10.19-20). Assim, podemos ter plena confiança de que seremos aceitos e amados, pois fomos purificados da má consciência e das obras mortas e, com todo coração, aproximamo-nos mais de Deus (Hb 10.22).
 A expiação é suficiente para todos; ela é eficiente para aqueles que crêem em Cristo. A expiação propriamente dita, à medida que coloca a base para o trato redentor de Deus com os homens, é ilimitada; a aplicação da expiação é limitada àqueles que crêem verdadeiramente em Cristo. Ele é o salvador em potencial de todos os homens; mas é efetivamente só dos crentes. “Porque para isto trabalhamos e lutamos, pois esperamos no Deus vivo, que é o Salvador de todos os homens, principalmente dos fiéis” (1 Tm 4.10).78
           
                               2. O ALCANCE DA OBRA EXPIATÓRIA DE CRISTO
        A vida tem muitas coisas boas, mas também é repleta de sofrimentos que levam à angústia, desespero e dor. Isso aumenta ainda mais a necessidade de salvação daqueles que vivem em precárias condições humanas — como sendo algo complementar à necessidade da salvação espiritual —, pois, diante de um ser humano que sofre nesse mundo, há um grito de liberdade que encontra seu eco na cruz de Cristo. Esse grito está expresso na Oração do Pai Nosso quando Jesus ensina-nos a expressar em oração “livra-nos do mal” (Mt 6.13). O próprio salmista Davi revela que Deus iria levantar-se com “salvação” em defesa do necessitado em consequência do seu gemido (Sl 12.5; 72.12-14). Da mesma forma, a natureza geme esperando a redenção (Rm 8.22) diante das vergonhosas violências e depredações praticadas contra ela como consequência do pecado do homem.
         Muitos se encontram em extrema miséria, fome, injustiça social, violência e pobreza em todos os sentidos.79 Pobres são os que “foram privados de fazer escolhas por si mesmos — a escolha de ter alimento sobre a mesa, de ter água pura e limpa, de receber educação, de estar livre da violência, de ter assistência médica, de ter moradia.”80 São também pobres os que não tem acesso à Palavra de Deus por falta de alguém para anunciar-lhes essa Palavra ou, então, por falta de recursos para tê-la; portanto, pobres são os que desconhecem o evangelho das Boas-Novas. A resposta de Deus a esse mundo que sofre somos nós, os cristãos, que conhecemos o evangelho que liberta, tanto através da obra de Cristo quanto das boas obras dos salvos (Tg 2.1617).81
         Pobreza e pecado é o resultado dos conflitos humanos. “São uns que dependem dos outros: são os ricos que empobrecem os pobres; são os sãos que servem de obstáculo aos deficientes; são as pessoas boas que estigmatizam os fracos como pecadores. Quase sempre é a posse, a que os que possuem se agarram, e da qual eles excluem os que não a possuem. A posse pode ser dinheiro, saúde ou força, pode significar justiça ou o ser-bom; também pode significar a condição do homem varão. Sempre é o poder que está em jogo. Onde quer que estes dons da vida sejam apropriados por uns poucos, surgem as impiedosas lutas de distribuição em torno das oportunidades de trabalho, de propriedade e de vida, e nestas lutas sempre o que é próprio é “o bom” e o que é do outro é “o mau”. Só existe a possibilidade de se ser amigo ou inimigo, sem outras alternativas. Aqui o diabo anda solto, e o fim é [a morte].”82
          A obra expiatória de Cristo tem alcance também sobre essa triste realidade. Foi exatamente para esses pobres que serve a obra expiatória de Cristo quando as escrituras afirmam que “Ouvi, meus amados irmãos. Porventura, não escolheu Deus aos pobres deste mundo para serem ricos na fé e herdeiros do Reino que prometeu aos que o amam? Mas vós desonrastes o pobre” (Tg 2.5-6a). As escrituras são claras quando afirmam que Jesus ratificou aquilo que o profeta dissera, ou seja, que Ele veio exatamente para aqueles que são pobres, necessitados e moribundos: “O Espírito do Senhor é sobre mim, pois que me ungiu para evangelizar os pobres, enviou-me a curar os quebrantados do coração, a apregoar liberdade aos cativos, a dar vista aos cegos, a pôr em liberdade os oprimidos, a anunciar o ano aceitável do Senhor” (Lc 4.1819). Portanto, se somos salvos, é nossa missão unirmo-nos a Cristo para completar a obra que Ele começou (Cl 1.24), tanto na evangelização, como na prática do evangelho e até mesmo na Teologia.
       Se a situação histórica de [pobreza], fome e desnutrição não se converte no ponto de partida de qualquer teologia cristã hoje, mesmo nos países ricos e dominadores, a teologia não poderá situar e concretizar historicamente seus temas fundamentais. Suas perguntas não serão perguntas reais. Passarão ao lado do homem real. [...] Realmente, frente aos problemas do mundo de hoje, muitos escritos de teologia se reduzem a um cinismo.83
       Diante de tantas necessidades humanas, somos confrontados pelo evangelho a anunciar as Boas-Novas para que sua obra expiatória alcance não somente os quatro cantos da terra, mas também todas as dimensões da existência humana e ainda o mais profundo do ser humano, que sofre por causa do pecado e suas consequências.
       A dimensão da salvação extensiva aos necessitados tem a ver com o caráter coletivo da salvação84 no sentido de que as boas obras para com o próximo acompanham a salvação conforme descrito na epístola de Tiago. Entretanto, biblicamente falando, não somos compostos por uma massa humana, mas, sim, por uma família de Deus, que se preserva e cuida uns dos outros.
       Unindo-se todos os sentidos dados à salvação no Antigo e no Novo Testamento conforme descrito no primeiro capítulo deste livro, tem-se uma abrangência tão grande quanto à fertilidade do solo, dos rebanhos, das pessoas; a garantia de prosperidade, saúde e segurança; o livramento da perseguição de inimigos; a possibilidade de felicidade; o livramento da miséria e da dor; o suprimento de necessidades básicas (“pão nosso de cada dia”); e, especialmente, a salvação da condenação do pecado. “A Bíblia não sustenta a separação entre cura física e espiritual, entre o bem-estar e a salvação, entre a sanidade do corpo e a redenção da alma.”85 Sabe-se que a existência humana é feita de contradições, ambiguidades e paradoxos. Por esse motivo, alcança-se a salvação na esfera humana, material e física de maneira substancial, ou seja, incompleta e sujeita a precariedade. Isso, no entanto, não prejudica a dimensão espiritual, presente e escatológica, da salvação que vence e vencerá tudo o que ameaça a vida e impõe-se acima da morte e da destruição. Por isso, a salvação ultrapassa as dimensões terrenas, embora esteja presente nela também; pelo fato de o pão da vida ser muito mais do que o pão de cada dia é que, quando quiseram proclamar Jesus rei por ter multiplicado pães e peixes, Ele negou-se a deixar isso acontecer (Jo 6.15).86
        A progressividade da salvação aqui nesta terra, através do novo ser em Cristo, dá-se na capacidade de exercitar a fé viva naquEle que experimentou a angústia mais profunda da culpa e condenação de nossos pecados na cruz para trazer-nos justificação; a angústia mais profunda da morte e do destino para trazer-nos vida; e também da angústia mais profunda de vazio e insignificância do abandono na cruz para encher-nos de significado.
       Todos os salvos participam do novo ser em Cristo através da fé, mas ninguém é completamente curado e livre da ansiedade87 e das consequências do pecado; portanto, ninguém pode experimentar ainda uma plenificação completa desse novo ser em Cristo. Vivemos na tensão do “já agora” experimentando a cura e salvação na medida em que permitimos que a coragem de ser nova criatura em Cristo vá dominando o não-ser, pois nele a qualidade curativa é completa e ilimitada.88 Também vivemos dentro da perspectiva do “ainda não” escatológico quando, finalmente, seremos semelhantes a Ele (1 Jo 3.2) e completamente livres da ansiedade e do medo.
        A perspectiva escatológica da salvação não impede que a vivamos aqui, como já descrito anteriormente. Por esse motivo, podemos experimentar as consequências positivas dela desde já, as quais são: o abandono de esforços humanos para agradar a Deus; o restabelecimento da comunhão indescritível com Deus; estabelece-se um relacionamento amoroso entre Pai e filho; experimenta-se a libertação das garras do pecado; há a libertação da consciência e dos pensamentos pecaminosos e perniciosos; recebe-se a cura substancial dos problemas psicológicos (autoaceitação, autoestima, etc.) e dos relacionamentos; e vive-se com mais confiança, contentamento e gratidão.
        Quando recebemos a morte de Cristo como nossa redenção, tornamo-nos aceitos nEle e amados do Pai (Ef 1.6); a justiça dEle torna-nos justos (Rm 3.21); somos santificados pelo Espírito Santo, desenvolvemos o caráter de Cristo e produzimos o fruto do Espírito (Gl 5.22-23). Temos o perdão de Deus, a purificação do pecado (At 2.38; 3.19) e ainda a esperança da redenção completa, quando o que é corruptível revestir-se de incorruptibilidade (1 Co 15.53-54) e a trombeta soar, quando mortos e vivos subirão para o encontro com o Senhor nos ares (1 Ts 5.13-18).
        Mas, certamente, uma das maiores e mais densas consequências da obra expiatória de Cristo, já nesta terra, é a alegria da salvação, que, juntamente com a justiça e a paz, constituem a natureza do Reino de Deus (Rm 14.17). Jesus afirmou que, quando esse tempo de salvação efetiva chegasse, a alegria seria permanente, não podendo ser ameaçada por nenhuma contingência (Jo 16.22). Alegria é a explosão de vida abundante operada por Jesus e um estado de ânimo que produz confiança, concretiza anseios e experiências gratificantes. Está claro que a perfeita alegria é futura; ela, porém, já é antecipada através da salvação na vida cotidiana, pois o evangelho são novas de grande alegria (Lc 2.10; 10.17; Is 51.11).89 Jesus orou para que os discípulos e todos os que iriam crer tivessem alegria completa (Jo 17.13).
      Há uma amplitude muito grande e completa na salvação operada por Cristo. Ela envolve todos os homens e o homem por inteiro, abrangendo espírito, alma e corpo (1 Ts 5.23). A salvação alcança o mundo todo em todas as dimensões (Jo 3.16). Além disso, através da expiação de Cristo, é possível a redenção, a reconciliação, a justificação, a adoção, o perdão dos pecadores e todas as demais garantias salvíficas. Todavia, convém destacar: essa grande salvação precisa ser aceita livremente pela fé para tornar-se efetiva.
       O esforço próprio para manter-se puro e sem pecado sempre fracassou. O sistema sacrificial foi apenas uma indicação para o sacrifício perfeito de Cristo. Sendo assim, o homem não consegue resolver o problema do seu pecado porque não pode mantê-lo oculto (Nm 32.23), nem tem condições de purificar-se (Sl 20.9), e a lei é incapaz de justificá-lo (Rm 3.20; Cl 2.16). Portanto, suas tentativas são fracassadas, exigindo a vinda do próprio Filho de Deus para resolver a questão.
           
                         3. CRISTO OFERECE SALVAÇÃO A TODO O MUNDO
       A maior consequência da salvação operada por Jesus é o perdão dos pecados e a reconciliação do pecador com Deus. Mas, através da salvação de Cristo, Deus faz-se presente na cura dos enfermos (Mt 4.23), na ressurreição dos mortos, no anúncio do evangelho aos pobres, na libertação das várias opressões que assolam o ser humano (Jo 12.46), na transformação de vidas que o evangelho opera, na vida eterna (Jo 6.47; Rm 1.16) e na chegada do Reino de Deus (Mt 10.7; Mc 1.15).
       A Bíblia afirma que a salvação é para todos (Jo 3.15; 1 Tm 4.10), em qualquer circunstância (Lc 23.43), com o esforço humano mínimo (At 15.9; Rm 3.28; 11.6) de apenas crer de coração e confessar com a boca a Cristo como Salvador (Rm 10.9; 1 Co 1.21). Mas, além disso, a salvação que Cristo oferece é uma experiência bastante abrangente para o ser humano, envolvendo todas as dimensões da vida, trazendo paz à alma através do perdão dos pecados, alívio da consciência acusadora, libertação de cadeias e prisões da alma, cura de traumas e doenças emocionais (Hb 10.39), cura de doenças físicas, um espírito renovado, novas perspectivas de vida, forças para enfrentar as circunstâncias adversas, um aguçado senso de justiça e, especialmente, a prática constante do amor (Jo 13.34). A oferta de salvação que Cristo trouxe é a evidência da instalação de seu Reino nos corações dos seres humanos que, outrora, viviam em tristeza e pobreza, cativos, cegos e oprimidos (Is 61.1ss; Lc 4.18).
       Nós, como cristãos, temos uma enorme responsabilidade em compartilhar a salvação com o mundo. Esse compartilhar evidencia-se de variadas formas que estão alinhados com o ide de Jesus (Mt 28.19) e são: a evangelização e o discipulado das pessoas em nosso círculo de contatos reais ou virtuais (At 5.42); o comprometimento com missões mundiais colaborando com as igrejas locais que sustentam missionários (At 13.2); o envolvimento político e comunitário em conselhos, comissões e entidades que promovem a justiça social e a dignidade humana (Mt 5.20); o disponibilizar-se para ouvir o clamor dos que tem fome e sede de justiça (Mt 5.6) e que se encontram desprovidos do que é básico para sua subsistência (Mt 19.21; Lc 14.13; 2 Co 9.9; Gl 2.10); a minimização do desespero humano; o combate contra a marginalização e a violência (Lc 4.18); e a oposição profética à idolatria do materialismo, do consumismo, do individualismo e da exploração que subvertem os valores do evangelho e levam milhões de pessoas aos abismos da miséria (Mt 6.31-33; 21.12).
       A salvação que Cristo oferece é tão abrangente que, além de ser uma experiência espiritual individual, primordial e libertadora, traz consigo implicações de ordem cultural, social, política e econômica que vão muito além do indivíduo, estendendo-se por toda a ordem de coisas criadas.
       Portanto, todo cristão tem um compromisso moral e ético de promover a pregação dessa salvação que Cristo oferece gratuitamente a todo mundo — se realmente ele foi alcançado pela salvação que há em Cristo. Para oferecê-la, Ele veio ao mundo demonstrando que fez efetivamente de tudo para que o Deus Pai amoroso e sua salvação tornassem-se conhecidas. Assim sendo, esse gesto de Cristo constrange-nos a também tornar conhecida sua obra a todo o mundo, em todos os lugares, a todas as pessoas, em todas as situações (2 Tm 4.2) para que se cumpra o que escreveu o apóstolo João:
“Depois destas coisas, olhei, e eis aqui uma multidão, a qual ninguém podia contar, de todas as nações, e tribos, e povos, e línguas, que estavam diante do trono e perante o Cordeiro, trajando vestes brancas e com palmas nas suas mãos; e clamavam com grande voz, dizendo: Salvação ao nosso Deus, que está assentado no trono, e ao Cordeiro” (Ap 7.9-10).

“Como, pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não ouviram? E como ouvirão, se não há quem pregue?” (Rm 10.14).

✏A Obra da Salvação Claiton Ivan Pommerening



SUBSÍDIO DIDÁTICO
          Professor (a), é importante que você, antes de explicar o que é a obra expiatória de Cristo, reflita, juntamente com seus alunos, a respeito da sua necessidade. Então, inicie o tópico fazendo as seguintes indagações: "Por que a obra expiatória de Cristo foi necessária?" "O que é a obra expiatória de Cristo?" Ouça os alunos com atenção e incentive a participação de todos. Explique que a obra expiatória de Cristo foi necessária devido ao pecado de Adão e Eva contra Deus que afetou toda a criação, toda a humanidade (Rm 3.23). Deus é Santo e todo pecado provoca a sua ira e o seu juízo, por isso, a única solução para o pecado era, e é, a morte de Cristo na cruz. Quando falamos a respeito do sacrifício de Cristo na cruz, estamos nos referindo ao cancelamento pleno do pecado com base na justiça do Filho Unigênito de Deus. Estamos também nos referindo à restauração da comunhão do pecador com o Deus Santo mediante a sua graça.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
O Alcance da Obra Salvífica de Cristo
   Há entre os cristãos uma diferença significativa de opiniões quanto à extensão da obra salvífica de Cristo. Por quem Ele morreu? Os evangélicos, de modo global, rejeitam a doutrina do universalismo absoluto (isto é, o amor divino não permitirá que nenhum ser humano ou mesmo o Diabo e os anjos caídos permaneçam eternamente separados dEle).
       O universalismo postula que a obra salvífica de Cristo abrange todas as pessoas, sem exceção. Além dos textos bíblicos que demonstram ser a natureza de Deus de amor e de misericórdia, o versículo chave do universalismo é Atos 3.21, onde Pedro diz que Jesus deve permanecer no Céu 'até aos tempos da restauração de tudo'. Alguns entendem que a expressão grega apokastaseõs parttõn (restauração e todas as coisas) tem significado absoluto, ao invés de simplesmente 'todas as coisas, das quais Deus falou pela boca de todos os seus santos profetas'. Embora as Escrituras realmente se refiram a uma restauração futura, não podemos, à luz dos ensinos bíblicos sobre o destino eterno dos seres humanos e dos anjos, usar este versículo para apoiar o universalismo. Fazer assim seria uma violência exegética contra o que a Bíblia tem a dizer deste assunto (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática; Uma perspectiva pentecostal 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 358).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
O Perdão de Cristo
        A doutrina do perdão, proeminente tanto no Antigo Testamento quanto no Novo Testamento, refere-se ao estado ou ao ato de perdão, remissão de pecados, ou à restauração de um relacionamento amigável. Central à doutrina do Antigo Testamento está o conceito de cobrir o pecado da vista de Deus, representado pela palavra heb. kapar. Isto é indicado pelas várias traduções da palavra tais como 'apaziguar', 'ser misericordioso', 'fazer reconciliação', e o uso mais proeminente na expressão 'fazer expiação', que ocorre 70 vezes na versão KJV em inglês. Em Levítico 4.20, ela é agrupada com uma outra palavra proeminente do Antigo Testamento empregada para perdão, com o significado de "enviar ou deixar partir'. Consequentemente, em Levítico 4.20 está declarado: 'O sacerdote por eles fará propiciação [de karpar], e lhes será perdoado [de salah] o pecado. Uma terceira palavra heb., na'as, ocorre frequentemente com a ideia de 'levantar' ou 'dispersar' o pecado.
[...] Fica claro que o perdão depende de um pagamento justo, de uma penalidade pelo pecado. Os sacrifícios do Antigo Testamento proporcionaram tipicamente e profeticamente uma expectativa do sacrifício final de Cristo. O perdão como um relacionamento entre Deus e o homem depende dos atributos divinos de justiça, amor e misericórdia, e é baseado na obra de Deus ao providenciar um sacrifício apropriado (Dicionário Bíblico Wycliffe 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2009, p. 1501).

SUBSÍDIO ADICIONAL

Fonte: Ensinador Cristão – n° 72
      A salvação em Cristo abrange poucas pessoas escolhidas por decreto de Deus ou qualquer ser humano que se arrepende de seus pecados e crê no Unigénito Filho do Pai?
      Esta lição retoma uma discussão de séculos, que no lugar de origem dela se encontra superada, mas floresceu aqui no Brasil. Em primeiro lugar é importante ressaltar que não podemos fazer da boa exposição teológica um campo de batalha e de agressões pessoais, pois quem se compreende tanto arminiano quanto calvinista herdarão o mesmo céu. Entretanto, é verdade que nós, os pentecostais, nos identificamos mais com a teologia clássica arminiana, que infelizmente, é desconhecida por muitos pentecostais.

Uma teologia que destaca o caráter amoroso e justo de Deus
Diferentemente do que muitos pensam a teologia arminiana não está centrada no livre-arbítrio, mas na ênfase ao caráter amoroso e justo de Deus. Segundo o teólogo Roger E. Olson, na obra Teologia Arminiana: Mitos e Realidades, a preocupação primária de Jacó Armínio foi o compromisso com a bondade de Deus, sendo Jesus Cristo a maior e melhor prova de que o caráter de Deus foi revelado nas Escrituras compassivo, misericordioso, amável e justo. Ora, a epístola de Paulo aos Colossensses diz que em Cristo "habita corporalmente toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9). De modo que um dos Evangelhos narra essa mesma verdade da carta paulina, pronunciada e confirmada pelo próprio Senhor (Jo 12.44,45; cf; Jo 14.9-14). Por isso, como fez Roger Olson, pode-se arrematar sobre Armínio: "Sua teologia é cristocêntrica".
Uma teologia que destaca a vontade universal de Deus para a salvação
Baseado nessa compaixão, misericórdia, amor e justiça é que o plano salvífico de Deus, executado por Jesus Cristo, provê salvação a todo o ser humano. Em Jesus, Deus se mostra misericordioso, bondoso, amoroso e justo; logo, não haveria o porquê de o Pai enviar seu Filho, fazê-lo passar por todo processo de crucificação, morte e ressurreição, ordenando que os discípulos, após serem batizados no Espírito Santo, proclamassem o Evangelho a toda a criatura (Mc 16.15; cf. At 1.8). A partir dessa ordem, estava clara a intenção de Deus de salvar todos os seres humanos e, com base em sua bondade, amor e justiça, dá a oportunidade de ele rejeitar ou não a promessa bendita de Salvação. Aqui, o livre-arbítrio torna-se secundário, pois o que se destaca são o amor e a bondade de Deus. 

                                   📗3. A natureza da expiação.

                                                                           Myer Pearlman

           A morte de Cristo é: "Cristo morreu", expressa o fato histórico da crucificação; "por nossos pecados", interpreta o fato. Em que sentido morreu Jesus por nossos pecados? Como é explicado o fato no Novo Testamento? A resposta encontra-se nas seguintes palavras-chave aplicadas à morte de Cristo: Expiação, Propiciação, Substituição, Redenção e Reconciliação.
(a) Expiação. A palavra expiação no hebraico significa literalmente 'cobrir', e é traduzida pelas seguintes palavras: fazer expiação, purificar, quitar, reconciliar, fazer reconciliação, pacificar, ser misericordioso. A expiação, no original, inclui a idéia de cobrir, tanto os pecados (Sal. 78:38;79:9; Lev. 5:18) como também o pecador. (Lev. 4:20.) Expiar o pecado é ocultar o pecado da vista de Deus de modo que o pecador perca seu poder de provocar a ira divina. Citamos aqui o Pr. Alfred Cave: A idéia expressa pelo original hebraico da palavra traduzida "expiar", era "cobrir" e "cobertura", não no sentido de torná-lo invisível a Jeová , mas no sentido de ocupar sua vista com outra coisa, de neutralizar o pecado, por assim dizer, de desarmá-lo, de torná-lo inerte para provocar a justa ira de Deus. Expiar o pecado... era arrojar, por assim dizer, um véu sobre o pecado tão provocante, de modo que o véu., e não o pecado, fosse visível; era colocar lado a lado com o pecado algo tão atraente que cativasse completamente a atenção. A figura que o Novo Testamento usa ao falar das vestes novas (de justiça), usa-a o Antigo Testamento ao falar da "expiação". Quando se fazia expiação sob a lei, era como se o olho divino, que se havia acendido pela presença do pecado e a impureza, fosse aquietado pela vestidura posta ao seu derredor; ou, usando uma figura muito mais moderna, porém igualmente apropriada, era como se o pecador, exposto a uma descarga elétrica da ira divina, houvesse sido repentinamente envolto e isolado. A exposição significa cobrir de tal maneira o pecador, que seu pecado era invisível ou inexistente no sentido de que já não podia estar entre ele e seu Criador. Quando o sangue era aplicado ao altar pelo sacerdote, o israelita sentia a segurança de que a promessa feita a seus antecessores se faria real para ele. "Vendo eu sangue, passarei por cima de vós" (Êxo. 12:13). Quais eram o efeitos da expiação ou da cobertura? O pecado era apagado (Jer. 18:23; Isa. 43:25; 44:22); removido (Isa.6:7); coberto (Sal. 32:1); lançado nas profundidades do mar (Miq. 7:19); perdoado (Sal. 78:38). Todos esses termos ensinam que o pecado é coberto de modo que seus efeitos sejam removidos, afastados da vista, invalidados, desfeitos. Jeová já não vê nem sofre influência alguma dele. A morte de Cristo foi uma morte expiatória, porque seu propósito era apagar o pecado. (Heb. 9:26, 28; 2:17; 10:12-14; 9:14.) Foi uma morte sacrificial ou uma morte que tinha relação com o pecado. Qual era essa relação? "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1Ped. 2:24). "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós, para que nele fôssemos feitos justiça de Deus" (2 Cor. 5:21) Expiar o pecado significa levá-lo embora, de modo que ele é afastado do transgressor, o qual é considerado, então, como justificado de toda a injustiça, purificado de contaminação e santificado para pertencer ao povo de Deus. Uma palavra hebraica usada para descrever a purificação significa, literalmente, "quitar o pecado". Pela morte expiatória de Cristo os pecadores são purificados do pecado e logo feitos participantes da natureza de Cristo. Eles morrem para o pecado a fim de viverem para Cristo.

(b) Propiciação. Crê-se que a palavra propiciação tem sua origem em uma palavra latina "propõe", que significa "perto de". Assim se nota que a palavra significa juntar, tornar favorável. O sacrifício de propiciação traz o homem para perto de Deus, reconcilia-o com Deus fazendo expiação por suas transgressões, ganhando a graça e favor. (Em sua misericórdia, Deus aceita o dom propiciatório e restaura o pecador a seu amor. Esse também é o sentido da palavra grega como é usada no Novo Testamento. Propiciar é aplacar a ira de um Deus santo pela oferenda dum sacrifício expiatório. Cristo é descrito como sendo essa propiciação (Rom. 3:25: 1 João 2:4; 4). O pecado mantém o homem distanciado de Deus; mas Cristo tratou de tal maneira o assunto do pecado, a favor do homem, que o seu poder separador foi anulado. Portanto, agora o homem pode "chegar-se" a Deus "em seu nome". O acesso a Deus, o mais sublime dos privilégios, foi comprado por grande preço: o sangue de Cristo. Assim escreve o Dr. James Denney: E assim como no Antigo Testamento todo objeto usado na adoração tinha que ser aspergido com sangue expiatório, assim também todas as partes da adoração cristã; todas as nossas aproximações a Deus devem descansar conscientemente sobre a expiação. Deve-se sentir que é um privilégio de inestimável valor; deve ser permeado com o sentimento da paixão de Cristo e com o amor com que ele nos amou quando sofreu por nossos pecados de uma vez para sempre, o justo pelos injustos para chegar-nos a Deus. A palavra "propiciação" em Romanos 3:25 é tradução da palavra grega "hilasterion", que se encontra também em Heb. 9:5 onde é traduzida como "propiciatório". No hebraico, "propiciatório" significa literalmente "coberta", e, tanto no hebraico como no grego, a palavra expressa o pensamento de um sacrifício (*). Refere-se à arca da aliança (Êxo. 25:10-22) que estava composta de duas partes: primeira, a arca, representando o trono do justo governante de Israel, contendo as tábuas da lei como a expressão de sua justa vontade; segunda, a coberta, ou tampa, conhecida como "propiciatório", coroada com figuras angélicas chamadas querubins. Duas lições salientes eram comunicadas por essa mobília: primeira, as tábuas da lei ensinavam que Deus era um Deus justo que não passaria por alto o pecado e que devia executar seus decretos e castigar os ímpios. Como podia uma nação pecaminosa viver ante sua face? O propiciatório, que cobria a lei, era o lugar onde se aspergia o sangue uma vez por ano para fazer expiação pelos pecados do povo. Era o lugar onde o pecado era coberto, e ensinava a lição de que Deus, que é justo, pode perfeitamente perdoar o pecado por causa dum sacrifício expiatório. Por meio do sangue expiatório, aquilo que é um trono de juízo se converte em trono de graça. A arca e o propiciatório ilustram o problema resolvido pela expia ao. O problema e sua solução são declarados em Rom. 3: 24-26, onde lemos: "sendo justificados gratuitamente pela sua graça, pela redenção que há em Cristo Jesus, ao qual Deus propôs para propiciação (um sacrifício expiatório) pela fé no seu sangue, para demonstrar a sua justiça pela remissão dos pecados dantes cometidos (demonstrar que a aparente demora em executar o juízo não significa que Deus passou por alto o pecado) sob a paciência de Deus; para demonstração da sua justiça, neste tempo presente (sua maneira de fazer justos os pecadores), para que ele seja justo (infligir o devido castigo pelo pecado), e justificador (remover o castigo pelo pecado) daquele que tem fé em Jesus". Como pode Deus realmente infligir o castigo do pecado e ao mesmo tempo cancelar esse castigo? Deus mesmo tomou o castigo na pessoa de seu Filho, e desta maneira abriu o caminho para o perdão do culpado. Sua lei foi honrada e o pecador foi salvo. O pecado foi expiado e Deus foi propiciado. Os homens podem entender como Deus pode ser justo e castigar, ser misericordioso e perdoar; mas a maneira como pode Deus ser justo no ato de justificar ao culpado, é para eles um enigma. O Calvário resolve o problema. É preciso esclarecer o fato de que a propiciação foi uma verdadeira transação, porque alguns ensinam que a expiação foi simplesmente uma demonstração do amor de Deus e de Cristo, com a intenção de comover o pecador ao arrependimento. Esse certamente é um dos efeitos da expiação (1 João 3:16), mas não representa o todo da expiação. Por exemplo, poderíamos pular para dentro dum rio e afogarmo-nos à vista de uma pessoa muito pobre a fim de convencê-la do nosso amor por ela; mas esse ato não pagaria o aluguel da casa nem a conta do fornecedor que ele devesse! A obra expiatória de Cristo foi uma verdadeira transação que removeu um verdadeiro obstáculo entre nós e Deus, e pagou a dívida que não podíamos pagar.

(c) Substituição. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram substitutos por natureza; eram considerados como algo a que se procedia, no altar, para o israelita, que não podia fazê-lo por si mesmo. O altar representava o pecador; a vitima era o substituto do israelita para ser aceita em seu favor. Da mesma forma Cristo, na cruz, fez por nós o que não podíamos fazer por nos mesmos, e qualquer que seja a nossa necessidade, somos aceitos "por sua causa". Se oferecemos a Deus nosso arrependimento, gratidão ou consagração, fazemo-lo "em seu nome", pois ele é o Sacrifício por meio do qual chegamos a Deus o Pai. O pensamento de substituição é saliente nos sacrifícios do Antigo Testamento, onde o sangue da vitima é considerado como uma coberta ou como fazendo expiação pela alma do ofertante. No capítulo em que os sacrifícios do Antigo Testamento alcançam seu maior significado (Isa. 53) lemos: "Verdadeiramente" ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si... mas ele foi ferido pelas nossas transgressões, e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e pelas suas pisaduras fomos sarados, (vers. 4, 5). Todas essas expressões apresentam o Servo de Jeová como levando o castigo que devia cair sobre outros, a fim de "justificar a muitos"; e "levar as iniqüidades deles". Cristo, sendo o Filho de Deus, pôde oferecer um sacrifício de valor eterno e infinito. Havendo assumido a natureza humana, Pôde identificar-se com o gênero humano e assim sofrer o castigo que era nosso, a fim de que pudéssemos escapar. Isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Ele que era sem pecado por natureza, que nunca havia cometido um pecado sequer em sua vida, se fez pecador (ou tomou o lugar do pecador). Nas palavras de Paulo: "Aquele que não conheceu pecado, o fez pecado por nós" (2 Cor. 5:21). Nas palavras de Pedro: "Levando ele mesmo em seu corpo os nossos pecados sobre o madeiro" (1 Ped. 2:24).

(d) Redenção. A palavra redimir, tanto no Antigo como no Novo Testamento, significa tornar a comprar por um preço; livrar da servidão por preço, comprar no mercado e retirar do mercado. O senhor Jesus é um Redentor e sua obra expiatória é descrita como uma redenção. (Mat. 20:28; Apoc. 5:9; 14:3, 4; Gál. 3:13; 4:5; Tito 2:14; 1 Ped. 1:18.) A mais interessante ilustração de redenção se encontra no Antigo Testamento, na lei sobre a redenção dum parente. (Lev. 25:47-49.) Segundo essa lei, um homem que houvesse vendido sua propriedade e se houvesse vendido a si mesmo como escravo, por causa de alguma dívida, podia recuperar, tanto sua terra como sua liberdade, em qualquer tempo, sob a condição de que fosse redimido por um homem que possuísse as seguintes qualidades: Primeira, deveria ser parente do homem; segunda deveria estar disposto a redimi-lo ou comprá-lo novamente; terceira, deveria ter com que pagar o preço. O Senhor Jesus Cristo reuniu em si essas três qualidades: Fez-se nosso parente, assumindo nossa natureza; estava disposto a dar tudo para redimir-nos (2 Cor. 8:9); e, sendo divino, pôde pagar o preço... seu próprio sangue precioso. O fato da redenção destaca o alto preço da salvação e, por conseguinte, deve ser levado em grande consideração. Quando certos crentes em Corinto se descuidaram de sua maneira de viver, Paulo assim os admoestou: "não sabeis... que não sois de vós mesmos? porque fostes comprados por bom preço; glorificai pois a Deus no vosso corpo e no vosso espírito, os quais pertencem a Deus" (1 Cor. 6:19. 20). Certa vez Jesus disse: "Que aproveitaria ao homem ganhar todo o mundo e perder a sua alma? Ou que daria o homem pelo resgate da sua alma?" (Mar. 8:36, 37). Com essa expressão ele quis dizer que a alma, a verdadeira vida do homem, podia perder-se ou arruinar-se; e perdendo-se não podia haver compensação por ela, porque não havia meios de tornar a comprá-la. Os homens ricos poderão jactar-se de suas riquezas e nelas confiar, porém o poder delas é limitado. O Salmista disse: "Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e seus recursos se esgotariam antes) por isso tão pouco viver para sempre ou deixar de ver a corrupção" (Sal 49: 7-9). Mas uma vez que as almas de multidões já foram "confiscadas", por assim dizer, por viverem no pecado, e não podem ser redimidas por meios humanos, que se pode fazer em favor delas? O Filho do homem veio ao mundo "para dar a sua vida em resgate (ou para redenção) de muitos (Mat. 20:28). O supremo objetivo de sua vinda ao mundo foi dar sua vida como preço de resgate para que aqueles, cujas almas foram "confiscadas", pudessem recuperá-las. As vidas (espirituais) de muitos, "confiscadas", são libertadas pela rendição da vida por parte de Cristo. Pedro disse a seus leitores que eles foram resgatados de sua vã maneira de viver, que por tradição (pela rotina ou costumes), receberam dos seus pais (1 Pedro 1:18). A palavra "vã" significa "vazia", ou aquilo que não satisfaz. A vida, antes de entrar em contato com a morte de Cristo, é inútil e vã é andar às apalpadelas, procurando uma coisa que nunca poderá ser encontrada. Com todos os esforços não logra descobrir a realidade; não tem fruto permanente. "Que adianta tudo isso?" exclamam muitas pessoas. Cristo nos redimiu dessa servidão. Quando o poder da morte expiatória de Cristo tem contato com a vida de alguém, essa vida desfruta de grande satisfação. não está mais escravizada às tradições de ancestrais ou limitada à rotina ou aos costumes estabelecidos. Antes, as ações do cristão surgem duma nova vida que veio a existir pelo poder da morte de Cristo. A morte de Cristo, sendo uma morte pelo pecado, liberta e "toma a criar" a alma.

(e) Reconciliação. "Tudo isto provém de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Jesus Cristo, e nos deu o ministério da reconciliação; isto é, Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados; e pôs em nos a palavra da reconciliação" (2 Cor. 5: 18, 19.) Quando éramos inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte do seu Filho (Rom. 5:10). Homens que em outro tempo eram estranhos entre si e inimigos no entendimento pelas suas obras más, agora no corpo da sua carne, pela morte, foram reconciliados (Col. 1:21). Muitas vezes a expiação é mal entendida e, por conseguinte, mal interpretada. Alguns imaginam que a expiação significa que Deus estava irado com o pecador, e que se afastou, mal-humorado, até que se aplacasse a ira, quando seu Filho se ofereceu a pagar a pena. Em outras palavras, pensam eles, Deus teve que ser reconciliado com o pecador. Essa idéia, entretanto é uma caricatura da verdadeira doutrina. Através das Escrituras vemos que é Deus, a parte ofendida, quem toma a iniciativa em prover expiação pelo homem. Foi Deus quem vestiu nossos primeiros pais; é o Senhor quem ordena os sacrifícios expiatórios; foi Deus quem enviou e deu seu Filho em sacrifício pela humanidade. O próprio Deus é o Autor da redenção do homem. Ainda que sua majestade tenha sido ofendida pelo pecado do homem, sua santidade, naturalmente, deve reagir contra o pecado, contudo, ele não deseja que o pecador pereça (Ezeq. 33:11), e, sim, que se arrependa e seja salvo. Paulo não disse que Deus foi reconciliado com o homem, mas sim que Deus fez algo a fim de reconciliar consigo o homem. Esse ato de reconciliação é uma obra consumada; é uma obra realizada em beneficio dos homens, de maneira que, à vista de Deus, o mundo inteiro está reconciliado. Resta somente que o evangelista a proclame e que o indivíduo a receba. A morte de Cristo tornou possível a reconciliação de todo o gênero humano com Deus; cada indivíduo deve torná-la real. Essa, em essência, é a mensagem do evangelho; a morte de Cristo foi uma obra consumada de reconciliação, efetuada independente de nós, a um custo inestimável, para a qual são chamados os homens mediante um ministério de reconciliação.

4. A eficácia da expiação.

Que efeito tem para o homem a obra expiatória de Cristo? Que produz ela em sua experiência?
(a) Perdão da transgressão. Por meio de sua obra expiatória, Jesus Cristo pagou a dívida que nos não podíamos saldar e assegurou a remissão dos pecados passados. Assim, o passado pecaminoso para o cristão não é mais aquele peso horrendo que conduzia, pois seus pecados foram apagados, carregados e cancelados. (João 1:29; Efés. 1:7; Heb. 9:22-28; Apo. 1:5.) Começou a vida de novo, confiando em que os pecados do passado nunca o encontrarão no juízo. (João 1^:24.)

(b) Livramento do pecado. Por meio da expiação o crente é liberto, não somente da culpa dos pecados, mas também pode ser liberto do poder do pecado. O assunto é tratado em Romanos, caps. 6 a 8. Paulo antecipa uma objeção que alguns dos seus oponentes judeus devem ter suscitado muitas vezes a saber, que se a pessoa fosse salva meramente por crer em Jesus, essa pessoa teria opinião leviana sobre o pecado, dizendo: "Se permanecermos no pecado, sua graça abundará" (Rom. 6:1). Paulo repudia tal pensamento e assinala que aquele que verdadeiramente crê em Cristo, rompeu com o pecado. O rompimento tão decisivo que é descrito como "morte". A viva fé no Salvador crucificado resulta na crucificação da velha natureza pecaminosa. O homem que crê com todos os poderes de sua alma (é essa a verdadeira crença) que Cristo morreu por seus pecados, terá uma tal convicção sobre a condição terrível do pecado, e o repudiará com todo o seu ser. A cruz significa a sentença de morte sobre o pecado. Mas o tentador está ativo e a natureza humana é fraca; por isso é necessária uma vigilância constante e uma crucificação diária dos impulsos pecaminosos. (Rom. 6:11.) E a vitória é assegurada "Porque o pecado não terá domínio sobre vós, pois não estais debaixo da lei, mas debaixo da graça" (Rom. 6:14.) Isto é, a lei significa que algo deve ser feito pelo pecador; não podendo pagar a dívida ou cumprir a exigência da lei, ele permanece cativo pelo pecado. Por outro lado, graça significa que algo foi feito a favor do pecador... a obra consumada do Calvário. Conforme o pecador crê no que foi feito a seu favor, assim ele recebe o que foi feito. Sua fé tem um poderoso aliado na Pessoa do Espírito Santo, que habita nele. O Espírito Santo ajuda-o a repudiar as tendências pecaminosas; ajuda-o na oração e dá-lhe a certeza de sua liberdade e vitória como um filho de Deus. (Rom. 8). Na verdade, Cristo morreu para remover o obstáculo do pecado, para que o Espírito de Deus possa entrar na vida humana (Gál. 3:13, 14). Sendo salvo pela graça de Deus, revelada na cruz, o crente recebe uma experiência de purificação e vivificação espiritual (Tito 3: 5-7). Havendo morrido para a antiga vida de pecado, a pessoa nasce de novo, para uma nova vida... nasce da água (experimentando a purificação) e nasce do Espírito (recebendo a vida divina). (João 3:5.)

(c) Libertação da morte. A morte tem um significado tanto físico como espiritual. No sentido físico denota a cessação da vida física, conseqüente de enfermidade, decadência natural ou de causa violenta. é porém, mais usada no sentido espiritual, isto é, como o castigo imposto por Deus sobre o pecado humano. A palavra expressa a condição espiritual de separação de Deus e do desagrado divino por causa do pecado. O impenitente que morrer fora do favor de Deus permanecerá eternamente separado dele no outro mundo, sendo conhecida essa separação como a "segunda morte". Este aviso: "No dia em que dela comeres, certamente morrerás", não se teria cumprido se a morte fosse apenas o ato físico de morrer, pois Adão e Eva continuaram a viver depois daquele dia. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de Deus, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências. Quando as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.

Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expiação à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.) Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se toma uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido Jesus afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).

(d) O dom da vida eterna. Cristo morreu para que nos não perecêssemos (a palavra é usada no sentido bíblico de ruína espiritual), mas "tenhamos a vida eterna" (João 3:14-16. Vide Rom. 6;23.) A vida eterna significa mais do que mera existência; significa vida no favor de Deus e comunhão com ele. Morto em transgressões e pecados, o homem está fora do favor de Deus; pelo sacrifício de Cristo, o pecado é expiado e ele restaurado à plena comunhão com Deus. Estar no favor de Deus e em comunhão com ele é ter vida eterna, pois é a vida com ele que é o Eterno. Essa vida é possuída agora porque os crentes estão em comunhão com Deus; a vida eterna é descrita como futura (Tito 1:2; Rom. 6:22), porque a vida futura trará perfeita comunhão com Deus. "E verão o seu rosto" (Apo. 22:4).

(e) A vida vitoriosa. A cruz é o dínamo que produz no coração humano essa resposta que constitui a vida cristã. A expressão "eu viverei para ele que morreu por mim", diz bem o dinamismo da cruz. A vida cristã é a reação da alma ante o amor de Cristo. A cruz de Cristo inspira o verdadeiro arrependimento, o qual é arrependimento para com Deus. O pecado muitas vezes é seguido de remorso, vergonha e ira; mas somente quando houver tristeza por ter ofendido a Deus, há verdadeiro arrependimento. Esse conhecimento interno não se produz por vontade própria, pois a própria natureza do pecado tende a obscurecer a mente e a endurecer o coração. O pecador precisa de um motivo poderoso para arrepender-se — algo que o faça ver e sentir que seu pecado ofendeu e injuriou profundamente a Deus. Mas o decreto é profundamente certo quando recordamos que a palavra "morte" implicava todas as conseqüências penais do pecado — separação de Deus, iniqüidade, inclinação para o mal, debilidade física, e, finalmente, a morte física e as suas conseqüências. Quando as Escrituras dizem que Cristo morreu por nossos pecados, querem dizer que Cristo se submeteu, não somente à morte física mas também à morte que significa a pena do pecado. Ele se humilhou a si mesmo no sofrimento da morte "para que, pela graça de Deus, provasse a morte por todos" (Heb. 2:9). Por causa de sua natureza e pela disposição divina, ele pôde efetuar esse plano,. não podemos compreender o "como" da questão, porque evidentemente nisto nos defrontamos com um grande mistério divino. A verdade, porém, é que aceitamos muitos fatos neste universo sem entender o "como" de tais fatos. Nenhuma pessoa ajuizada recusa os benefícios da eletricidade somente porque não a entende plenamente ou porque não compreende as leis do seu funcionamento.

Da mesma forma, ninguém precisa recusar os benefícios da expiação pelo fato de não poder, pelo raciocínio, reduzir essa expia ao à simplicidade de. um problema matemático. Visto que a morte é a penalidade do pecado, e Cristo deu-se a si mesmo pelos nossos pecados, ele realizou esse ato ao morrer. Concentrado naquelas poucas horas de sua morte sobre a cruz estava todo o horrendo significado da morte e a negrura do castigo, e isso explica a exclamação: "Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?" Essas não são palavras de um mártir, porque os mártires são geralmente sustentados pelo conhecimento interno da presença de Deus; são palavras de Um que efetuou um ato que implica separação divina. Esse ato consumou-se quando ele levou os nossos pecados. (2 Cor. 5:21.)Embora seja verdade que também os que crêem nele tenham que sofrer a morte física (Rom. 8:10), mesmo assim, para eles o estigma (ou a pena) é tirado da morte, e esta se torna uma porta para outra vida mais ampla. Neste sentido Jesus afirmou: "Todo aquele que vive, e crê em mim, nunca morrerá" (João 11:26).A cruz de Cristo fornece esse motivo, pois ela demonstra a natureza horrenda do pecado, pelo fato de ter causado a morte do Filho de Deus. Ela declara o terrível castigo sobre o pecado; mas revela também o amor e a graça de Deus. Está muito certo o que alguém disse: "Todos os verdadeiros penitentes são filhos da cruz. Seu arrependimento não é deles mesmos; é a reação para com Deus produzida em suas almas pela demonstração do que o pecado é para ele, e o que faz o seu amor para alcançar e ganhar os pecadores."

Está escrito acerca de certos santos que vieram da grande tribulação, que "Lavaram os seus vestidos e os branquearam no sangue do Cordeiro" (Apoc. 7:14). A referência é ao poder santificador da morte de Cristo. Eles haviam resistido ao pecado, e agora eram puros. De onde receberam a força para vencer o pecado? O poder do amor de Cristo revelado no Calvário os constrangeu. O poder da cruz, descendo em seus corações, os capacitou para vencerem o pecado. (Vide Gál. 2:20.) "E eles o venceram pelo sangue do Cordeiro e pela palavra do seu testemunho; e não amaram as suas vidas até à morte" (Apoc. 12:11). O amor de Deus os constrangeu e ajudou-os a vencer. A pressão sobre eles foi grande, mas, com o sangue do Cordeiro como o motivo que os impulsionava, eram invencíveis. "Tendo em vista a cruz sobre a qual Jesus morreu, não puderam "trair sua causa pela covardia, e não amaram mais as suas vidas do que ele amou a sua. Eles pertenciam a Cristo, como ele pertencia a eles".

A vida vitoriosa inclui a vitória sobre Satanás. O Novo Testamento declara que Cristo venceu os demônios. (Luc. 10:17-20; João 12:31, 32; 14:30; Col. 2:15; Heb. 2:14, 15; Apoc. 12: 11.) Os crentes têm a vitória sobre o diabo enquanto tiverem o Vencedor sobre o diabo!

✏Conhecendo as Doutrinas da Bíblia
Myer Pearlman



* Não foi possível identificar algumas palavras aqui. Trecho truncado. (N. de revisão)



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