segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Lição 5 - A Obra Salvífica de Jesus Cristo



                                      CAPÍTULO 5

             A OBRA SALVÍFICA DE JESUS CRISTO

A
 obra terrena de Jesus foi de um valor e alcance inimagináveis. Além de fazer muitos sinais e maravilhas (Hb 2.4), curar enfermos (Mt 9.35), ressuscitar mortos (Lc 7.15; Jo 11.41-45), acalmar tempestades (Mt 8.24-26), multiplicar pães e peixes (Mt 14.13-21) e muitos mais a ponto de não caber em livros (Jo 21.25), sua maior obra dentre todas foi a sua morte na cruz com todas as implicações que ela traz para a humanidade e para o universo criado.58 É o que veremos neste capítulo e no seguinte.
          Nenhum esforço humano é possível para retirar o homem da condição de pecador afastado de Deus, exceto pela obra salvadora de Cristo. Através da salvação efetuada por Cristo na cruz, o pecado é removido, e a paz com Deus é estabelecida, e, pelo resgate efetuado, o pecador é redimido e liberto da escravidão, sendo absolvido perante o tribunal de justiça divino, pois Cristo já suportou seu castigo e tomou sobre si o pecado do homem. Sendo assim, em sua morte, Cristo é vitorioso e garante a todos a redenção eterna.
          A obra salvífica de Cristo custou-lhe um alto preço: o seu próprio sangue derramado na cruz. Sua obra garante-nos a salvação porque foi uma oferta completa, perfeita e definitiva. Por causa disso, temos a certeza da salvação e a garantia da vida eterna e desfrutamos antecipadamente, aqui na terra, dos benefícios dessa salvação.
                                           
                                                O SACRIFÍCIO DE JESUS
        A encarnação de Jesus, já estudada no capítulo 3, foi apenas uma parte da obra de Cristo. Ela não seria completa se não envolvesse o ministério terreno, o desprezo, o sacrifício, o sofrimento e a morte de Jesus; esse conjunto é o que chamamos de obra de Cristo. Sua obra completou-se com sua ressurreição e ascensão aos céus (Jo 19.30; 1 Co 15.1-4).
       No Antigo Testamento, a palavra para “sacrifício” é qorbãn, como aquilo que é trazido para perto e tem o propósito de fazer expiação (em hebraico, é kapper). Existem outras palavras correlatas e de menor importância como, por exemplo, zebhah (sacrifício), olã (oferta queimada, aquilo que acende) e outras variantes. Alguns sacrifícios eram oferecidos diariamente, outros aos sábados, nas luas novas, no dia da expiação e ainda nas festas judaicas das Semanas, dos Tabernáculos (ou Cabanas) e também na festa da Páscoa. O principal propósito dos sacrifícios era fazer a expiação pelos pecados, mas também havia os de gratidão, de ação de graças, de paz e de alguns outros rituais judaicos que não cabe descrição aqui. Todos esses variados sacrifícios apontam, ainda que comparativamente inadequados, para o sacrifício final e definitivo de Cristo.
          Além da Páscoa, com seu significado já abordado em capítulo anterior, o sacrifício com significado especial era o anual Dia da Expiação, quando o sumo sacerdote oferecia sacrifícios de animais e fazia expiação para si mesmo, para os outros levitas e para as demais tribos de Israel (Lv 16). A oferta teria que ser custosa, demonstrando que se oferecia a vida da vítima, derramando seu sangue para fazer expiação (Lv 17.11). Os diversos aspectos rituais e liturgias com seus significados incutiam na mente do povo a seriedade da condição pecaminosa e da necessidade que tinham de uma expiação completa. Todavia, os sacrifícios de animais eram incompletos e não podiam expiar o pecado humano por inteiro; por isso, o sacrifício de Cristo assume uma relevância de dimensões eternas por ser completo e perfeito.
          As Escrituras afirmam que foi necessária a morte sacrificial de Jesus para cumprir um propósito eterno (Ap 13.8) e para que Deus pudesse perdoar o pecado e garantir a salvação do homem.59 A serpente levantada no deserto também é comparada ao levantamento de Cristo na cruz (Jo 3.14). Jesus foi rejeitado (cf. Lc 17.25) e Ele mesmo disse que lhe era necessário sofrer, morrer e ressuscitar (Mt 16.21; At 17.3) e que estava consagrado para o sacrifício (Jo 17.19). Nossa união com Cristo pela fé, possibilitada por seu sacrifício, manifestou o amor de Deus, libertando-nos do sofrimento causado pelo pecado em nós mesmos e no mundo.
         O problema do pecado não se resolve apenas com o arrependimento do pecador porque a justiça de Deus também precisa ser satisfeita. Dessa forma, torna-se necessário que o pecador cumpra a pena. Como o pecador não tinha as mínimas condições de pagar essa pena por ser imperfeito por causa do próprio pecado, fez-se necessário que alguém, em condições de satisfazer a perfeição do sacrifício, entrasse em cena. Esse alguém somente poderia ser Deus, mas também teria de ser homem, e quem poderia cumprir essa exigência seria unicamente Jesus, o homem perfeito, o Deus encarnado. Assim, para Deus resolver o problema da exigência da Lei e da justiça divina, Ele fez com que seu Filho pagasse a pena imposta. A pena imposta pela Lei foi a morte, pois essa era a pena máxima que alguém poderia pagar ou ofertar. Nenhum dinheiro seria suficiente para satisfazer a justiça, a não ser a morte de Cristo.
        A morte de Cristo satisfez ainda outra necessidade: De que forma tirar o pecado do homem como se ele nunca o tivesse praticado? Lançando esse pecado sobre o ser perfeito, que é Cristo.60 Portanto, trata-se de uma morte vicária que nos representando na cruz (2 Co 5.14), resgatando-nos da “maldição da Lei, fazendo-se, Ele próprio, maldição em nosso lugar” (Gl 3.13). No Antigo Testamento, foi afirmado que quem fosse morto num madeiro seria maldito de Deus (Dt 21.22-23).
         O sistema de sacrifícios do Antigo Testamento foi instituído para tentar alcançar méritos diante de Deus, mas esse sistema tornou-se antiquado (Hb 8.13) com a nova aliança, que foi instituída com o sacrifício de Cristo. Não existem mais méritos pessoais, mas apenas e exclusivamente o mérito de Cristo (Gl 2.21). Ele, sim, é capaz de cobrir todo e qualquer pecado e restabelecer a comunhão do ser humano com Deus. Dessa forma, o único mérito aceito por Deus nesse novo relacionamento com a humanidade é, exclusivamente, o sacrifício de Cristo.
          A morte de Cristo tem algumas conotações que é preciso esclarecer.61 Ela é o ato de redenção do pecador através da obra vicária de Cristo, que possibilitou a expiação e a propiciação e, por fim, promoveu nossa reconciliação com Deus. Cada um desses aspectos será abordado neste e no próximo capítulo.
        Ela é vicária, isto é, substitutiva, no sentido de alguém que toma o lugar de outro, como bem afirma Isaías: “[...] mas o Senhor fez cair sobre ele a iniquidade de nós todos” (Is 53.6 – conforme ainda 2 Co 5.21; 1 Pe 2.24; 3.18). Portanto, Cristo morreu pelos nossos pecados; Ele, porém, era sem pecado. O sistema sacrificial e a Lei apenas nos mostraram o caminho perfeito para a obra de Cristo (Gl 3.24) que foi tão completa que Ele mesmo foi o sacerdote, o ofertante (Ele deu a si mesmo) e a oferta. A cruz é o sinal que aponta para essa realidade. A centralidade da cruz está presente até mesmo no Apocalipse, pois retrata a Jesus como “o primogênito dos mortos” (1.5) e aquEle que foi morto, mas agora vive para sempre (1.18). “Àquele que nos ama, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, e nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai, a ele, glória e poder para todo o sempre” (1.5,6). As palavras ditas na atmosfera de adoração que João vê diante do trono são: “foste morto e com o teu sangue compraste para Deus homens de toda tribo, e língua, e povo, e nação” (5.9). João também chama Jesus 28 vezes de “o Cordeiro”62, numa clara alusão à sua morte vicária. Povos de todas as tribos, línguas e nações, “toda criatura que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e que está no mar, e a todas as coisas que neles há” (5.13), bem como “muitos anjos ao redor do trono, e dos animais, e dos anciãos” (5.11) proclamam dizendo ao que está assentado no trono que Ele “é o Cordeiro” e “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças” (5.12).
          Sua morte também é a propiciação (Rm 3.25; 1 Jo 2.2; Hb 2.17) do pecado, cujo sentido do hebraico kipper e do latim propitio é afastar a ira através de um sacrifício; num sentido pagão, significaria que se está pacificando ou apaziguando um deus irado e vingativo; teologicamente, porém, significa o cumprimento da Lei divina que havia sido violada, permitindo, agora, o transbordar do amor de Deus e também de suas bênçãos sobre o pecador (Sl 7.38). Dessa forma, a propiciação não apenas satisfaz a Lei, mas também torna Deus magnânimo para com o pecador.63 A propiciação torna o ser humano pecador arrependido favorável diante de Deus. Paulo afirma que “[...] sendo justificados pelo seu sangue, seremos por ele salvos da ira” (Rm 5.9). A ira de Deus é o que provoca o desespero e o terror do pecado no homem pecador e leva-o ao arrependimento.64 Ora, a santidade da ira de Deus não suporta o pecado; entretanto, Ele mesmo tomou a providência para que a sua própria ira fosse aplacada, demonstrando mais uma vez seu amor e misericórdia, pois “[...] que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4.10). Dessa forma, a propiciação é um resultado da expiação, pois somente a morte de Jesus supera o paradoxo entre o amor e a ira de Deus.65 A
                              
                                NOSSA RECONCILIAÇÃO COM DEUS PAI
         A palavra “reconciliação” provém do verbo grego katallasso e significa “mudar de inimizade para amizade”, “reconciliar”. Para expressar uma reconciliação completa, usa-se o verbo apokatallasso, utilizado em Efésios 2.16 (“e, pela cruz, reconciliar ambos [judeus e gentios] com Deus em um corpo”) e Colossenses 1.20 (“[...] por meio dele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas”). O substantivo katallage (Rm 5.11; 11.15) dá a ideia de mudar de um lugar para o outro. Reconciliação implica em estabelecer, por iniciativa de Deus, uma relação sadia com Ele.
          A reconciliação é uma obra da graça de Deus somente possível como consequência da obra de Cristo. Ela é necessária porque nosso relacionamento com Deus estava rompido, pois o homem pecador não pode ter comunhão com o Deus santo (Is 6.5). A reconciliação é consequência da conversão, da regeneração e da justificação, pois o pecado tornou o homem hostil e repugnante para com Deus, e foi assim que uma inimizade foi estabelecida (Cl 1.21; Tg 4.4), e nem mesmo com os sacrifícios do Antigo Testamento poderia haver uma reconciliação, pois eles apenas apaziguaram o problema. Por isso, foi necessário o sacrifício de Cristo, que se tornou inimizade (Ef 2.15-16) em nosso lugar para que Deus viesse a agradar-se de nós (Rm 5.10), eliminando, assim, a causa da inimizade e abrindo-nos um novo e vivo caminho para o Pai (Hb 10.20).
        A expiação é a própria oferta de Cristo a Deus pelo pecado; a reconciliação é o resultado prático humano da expiação efetuada por Cristo; logo, a reconciliação é consequência da expiação. Todavia, não é Deus quem se reconcilia com o homem; é o homem que precisa reconciliar-se com Deus, pois sua comunhão foi interrompida por causa do pecado. O problema da hostilidade era do homem para com Deus, cujo problema foi resolvido com a obra de Cristo. O autor da reconciliação do homem com Deus é o próprio Deus; é Ele quem toma a iniciativa; e o agente da reconciliação é Cristo através de sua obra.
          A reconciliação é necessária por causa do estado de alienação (separação) de Deus. No estado de alienação, o ser humano encontra-se fora de seu centro divino do qual seu próprio centro pertence de forma dependente. Quando a serpente enganou o homem no Jardim do Éden, este foi induzido a achar que poderia viver fora deste centro divino e centrar-se em si mesmo, o que alguns teólogos chamam de hybris.66 Assim, o homem tentou autoelevar-se à esfera do divino. O homem foi tentado a ser maior do que o centro divino do qual dependia, e essa tentativa quebrou a dependência humana deste centro divino e alienou-o da presença de Deus. Como a existência humana plena só é possível a partir de Deus, é essencial que o estado de alienação seja revertido para o estado de reconciliação.
         Dentro da reconciliação que Jesus fez para com o homem pecador, está também o seu ministério intercessor, o qual Ele exerceu quando andou na terra e que ainda exerce por nós diante do Pai (Hb 7.25; Rm 8.27). Ele orou para que a alegria dos discípulos fosse completa (Jo 17.13); para que não fossem tirados do mundo, mas, sim, guardados do mal (Jo 17.15); para que formassem uma unidade (Jo 17.21) e também por aqueles que viriam a crer, abrangendo a todos nós (Jo 17.20). Atualmente, Ele defende-nos das acusações de quem quer que seja e intercede por nós diante do Pai, não permitindo que nada nos separe do seu amor (Rm 8.33-35), compadecendo-se de nossas fraquezas (Hb 4.15; 9.24).
          A partir da reconciliação, o crente experimenta os benefícios dela, que são: no sentido vertical, a comunhão com Deus; no sentido horizontal, a benção de ser um novo ser que se reconcilia também com os seus semelhantes; e também com a própria natureza, não sendo mais hostil a ela no sentido de depredá-la ou explorá-la de forma inconsequente. “Porque, se nós, sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos pela sua vida. E não somente isto, mas também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação” (Rm 5.10-11).
           A eliminação da causa da inimizade aquieta e apazigua nosso coração, pois toda acusação e culpa são eliminadas e removidas, estabelecendo-se uma amizade com Deus através de Cristo. Os reconciliados por Cristo recebem o ministério da reconciliação, e de suas bocas procedem palavras de reconciliação (2 Co 5.18-19). Ela é tão abrangente que todo o Universo, céus e terra estão envolvidos (Cl 1.20). Pelo fato de que agora estamos reconciliados com Deus, é-nos permitido estar vivificados (Ef 2.1, 5; Rm 5.17). Esse é o estado em que, dentro de nós, o Espírito Santo opera produzindo vida espiritual que se converte em fonte transbordante (Sl 84.6). Essa vivificação produz no crente sede e desejo ardente pela presença de Deus (Sl 42.1-2; 63.1; 143.6), faz dele uma fonte de água viva (Jo 4.10; 7.38), fá-lo produzir muitos frutos (Jo 15.5) e o desejo que todos conheçam a salvação que há em Cristo (Mt 5.20; Lc 4.19; At 5.42; 20.27; 1 Co 9.16).
                                               
                                                  A REDENÇÃO ETERNA
          Uma das principais conquistas da morte de Cristo foi ela promover a redenção, ou nos redimiu, do verbo grego lytron,67 que significa libertar do cativeiro, da escravidão ou da condenação da morte através do pagamento de um preço de resgate. Dessa forma, redenção tem um duplo sentido: pagar o preço e dar a liberdade, sendo que a morte de Jesus pagou o preço e libertou o pecador (Mt 10.28). Redenção é o ato de redimir ou remir, que significa libertação, reabilitação, reparo e salvação. Através de um valor pago em dinheiro, adquire-se algo de novo — é o ato de resgatar, de tirar do poder alheio, do cativeiro. É estabelecer um recurso para salvar uma pessoa de uma situação de extrema aflição. É livrar-se de um passado sombrio e das penas do Inferno.
         Os seres humanos são escravos do pecado e fazem tudo o que o pecado determina que eles façam. Eles estão presos e impossibilitados de, por si só, serem livres dessa situação. O pecado normalmente é concebido como falha moral e ética — como errar o alvo proposto por Deus —, mas seu conceito vai muito além disso. Ele é o estado de alienação (separação) entre Deus e a criatura, presentes na expulsão do Paraíso, na hostilidade entre o ser humano e a natureza, na constante perversão da imagem de Deus no ser humano (Rm 1.22-25), transformando-a em ídolos, na procura de desejos distorcidos e prejudiciais para si e para os outros. O homem não se contenta com a condição de criatura e quer ser igual a Deus (Gn 3.5) e ainda adorar ídolos (Rm 1.23-25).
          O pecado causa muitas feridas e traz sofrimentos dolorosos (Sl 31.9-10; 51.1-6), dor e morte ao ser humano, condição esta degradante e muito deprimente. Em síntese, pecado é tudo aquilo que prejudica o homem. O pecado que se comete não fere a Deus ou diminui o seu poder. O Senhor jamais quis isso para o homem, o que lhe faz sentir tristeza pelo pecado (2 Co 7.10). O pecado é o ato pessoal de afastamento de Deus, trazendo angústia e uma propensão à tragédia sobre o ser humano, sem que ele nem mesmo tenha consciência clara desse estado. Ele precisará da “luz dos gentios” (Cristo, conforme Is 9.2; 42.6; 49.6) iluminando sua mente para discernir sua condição, e confiando em Cristo para resolver essa situação (Rm 1.17) e encontrar paz (Ef 2.16).
        O que caracteriza o pecado não é meramente a desobediência à Lei, mas, sim, o fato de os atos pecaminosos expressarem a alienação (inimizade, conforme Ef 2.16) do ser humano em relação a Deus (2 Co 5.18), ao próximo (Mt 5.24) e a si mesmo. A única forma de vencer a alienação é aplicar em tudo a lei do amor, que, segundo Jesus, é o resumo da Lei. Assim, o pecado é vencido aplicando-se contra ele as palavras de Jesus; e a angústia é vencida no amor, como escreveu João: “No amor, não há temor [medo, angústia]; antes, o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor” (1 Jo 4.18).
         Através da redenção de Cristo, o dominador (pecado — Jo 8.34; 7.14) que escravizava não tem mais poder sobre o antes dominado (pecador). Ele derramou seu próprio sangue para sermos redimidos (Rm 3.24; Ef 1.7). A redenção praticada por Cristo, por causa do elevado preço envolvido, é motivo para o crente glorificar a Deus (1 Co 6.20), pois sua vida agora demonstra que ele não está mais aprisionado na escravidão de outrora. Os privilégios da redenção incluem o perdão dos pecados (Ef 1.7), a justiça (Rm 5.17), o Reino e a vida eterna (Ap 5. 9,10). Paulo escreveu que, antes de aceitarmos a Cristo, éramos “escravos do pecado” (Rm 6.17), mas a cruz de Cristo possibilitou a libertação dos escravos desse poder de morte (Rm 6.23). Prisioneiros de guerra poderiam ser libertos através do pagamento de um resgate, assim como escravos poderiam ser soltos através de um resgate; assim, a liberdade é adquirida através de um valor pago que cobre o valor do redimido.
        A redenção tem um significado triplo, que pode ser: 1) pagar o preço do resgate (Hb 9.12); 2) remover o pecador do mercado de escravos (Gl 3.13); e 3) livrar completamente um escravo ou prisioneiro, dando liberdade completa e definitiva (Cl 1.14). A redenção de escravos na antiguidade poderia ter conotações variadas, mas o preço pago por Cristo efetuou as três condições acima juntas para nós.
 Há um incrível poder na cruz de Cristo. Poder para despertar a consciência mais adormecida e derreter o coração mais duro; para purificar o impuro; para reconciliar aquele que está afastado, restaurando-o à comunhão com Deus; para redimir o prisioneiro de suas algemas e levantar do lixo o mendigo; [...] para transformar nossas personalidades instáveis à imagem de Cristo. [...] Tudo isso faz parte da salvação que Deus opera nos homens e mulheres através do kerygma de Cristo crucificado. A palavra da cruz é poder de Deus” (1 Co 1.18).68
      Segundo afirmação bíblica, Cristo não nos redimiu “nem por sangue de bodes e bezerros, mas por seu próprio sangue, entrou uma vez no santuário, havendo efetuado uma eterna redenção” (Hb 9.12). Portanto, a redenção é a libertação de um escravo ou livramento de algum mal mediante um resgate (Mt 20.28). Nessa redenção, “Cristo nos resgatou da maldição da Lei” (Gl 3.13); da própria Lei em si (Rm 6.14; 7.4); do poder do pecado (Rm 6.2,6); de Satanás (Hb 2.14-15);69 e dos males oriundos da pecaminosidade, da corrupção humana e do corpo mortal (Gl 1.4).70 Assim, Ele “se deu a si mesmo em preço de redenção por todos” (1 Tm 2.6).
         Para diferenciar os vários aspectos da salvação quanto ao seu significado, podemos afirmar que “a expiação é do pecado do pecador; a redenção é da pessoa do pecador; e a propiciação tem a ver com Deus em relação ao pecado já perdoado,”71 pois agora sua ira não existe mais. Numa sequência lógica, porém não cronológica — pois a redenção (a obra de salvação) de Cristo é composta de um evento único —, podemos afirmar que a obra vicária (substitutiva) de Cristo, na qual Ele tomou nosso lugar, possibilita a expiação (cobrir o pecado). Estando o pecado coberto, existe a possibilidade da propiciação (remover a ira pelo pecado), pois Deus agora já não enxerga o pecado, mas, sim, a justiça de Cristo. Portanto, isso não fere sua santidade, que, por sinal, possibilita a reconciliação (reatar o relacionamento quebrado pela alienação do pecado).72 Duffield e Cleave resumem esses aspectos da seguinte maneira:
        Quando falamos [da morte de Cristo] como vicária, pensamos em substituição; quando falamos de expiação, pensamos em cobertura; como propiciação, pensamos em apaziguamento; como reconciliação, pensamos em reatamento da amizade; e como resgate, pensamos em redenção.73
         A condição de redimido não traz apenas benefícios para o crente no tempo presente, mas também é a garantia da vida eterna, de morar para sempre com Cristo e de desfrutar do Paraíso celestial, algo somente possível para o crente através da morte de Cristo, que nos proporciona a certeza da salvação eterna. Portanto, a abrangência de sua morte invade a vida eterna, extrapolando as dimensões terrenas, temporais e espaciais.
                       
                             A IMPORTÂNCIA DA RESSURREIÇÃO DE JESUS
                                                              CRISTO
         De acordo com as Escrituras, Jesus Cristo “ressuscitou para nossa justificação” (Rm 4.25). Assim, tanto sua morte quanto sua ressurreição complementam uma a outra, e uma não poderia haver sem a outra para que a obra fosse completa. Se não tivesse ressuscitado, Ele não passaria de um mártir cristão como tantos outros. “E, se Cristo não ressuscitou, é vã a vossa fé, e ainda permaneceis nos vossos pecados” (1 Co 15.17). Sua ressurreição também é a garantia do perdão dos pecados: “[...] Se, com a tua boca, confessares ao Senhor Jesus e, em teu coração, creres que Deus o ressuscitou dos mortos, serás salvo” (Rm 10.9).
          O novo nascimento do crente fundamenta-se na ressurreição de Jesus: “Bendito seja o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que, segundo a sua grande misericórdia, nos gerou de novo para uma viva esperança, pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos” (1 Pe 1.3). A ressurreição de Jesus prova a grande força do poder de Deus (Ef 1.19-20) e que nós, crentes, também seremos ressuscitados (1 Ts 4.14; 2 Co 4.14), pois a morte foi vencida através de sua ressurreição (1 Co 15.54-57; Hb 2.14).
          A ressurreição de Cristo atesta o fato de que Ele é Filho de Deus (Rm 1.34). O apóstolo Paulo afirma que, se ele não tivesse ressuscitado, a pregação seria vãmente inútil (1 Co 15.14), pois o túmulo vazio deu certeza aos discípulos de que Ele era o Filho de Deus e que o evangelho era a verdade para a qual eles deram suas vidas. Se Ele não tivesse ressuscitado, nossa fé seria inútil (v. 14); os apóstolos teriam sido falsas testemunhas (v. 15); os crentes continuariam em seus pecados (1 Co 15.17); e os que morreram pereceriam no Inferno (vv. 18-19). Todavia, eles foram testemunhas oculares de sua ressurreição (At 1.21-22).
          Tanto o nascimento de Jesus quanto sua ressurreição são fatos milagrosos. Dessa forma, foi o milagre da ressurreição de Jesus que deu coragem aos discípulos amedrontados e escondidos por causa de sua morte. Eles encheram-se de ousadia para pregar o evangelho e virar o mundo de então de cabeça para baixo.
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              A OBRA DA SALVAÇÃO

TEXTO ÁUREO
"E, quando Jesus tomou o vinagre, disse: Está consumado. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito." (Jo 19.30)

VERDADE PRÁTICA
A obra salvífica de Cristo nos deu o privilégio de achegarmo-nos a Deus sem culpa e chamá-lo de "Pai".

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
A Obra Salvífica de Cristo
O estudo da obra salvífica de Cristo deve começar pelo Antigo Testamento, onde descobrimos, nas ações e palavras divinas, a natureza redentora de Deus. Descobrimos tipos e predições específicos daquEle que estava para vir e do que Ele estava para fazer. Parte de nossas descobertas provém da terminologia empregada no Antigo Testamento para descrever a salvação, tanto a natural quanto a espiritual.
Qualquer um que tenha estudado o Antigo Testamento hebraico sabe quão rico é o seu vocabulário. Os escritores sagrados empregam várias palavras que fazem referência ao conceito geral de 'livramento' ou "salvação', seja no sentido natural, jurídico ou espiritual. O enfoque recai em dois verbosnatsal yasha. O primeiro ocorre 212 vezes, mas Deus revelou a Moisés ter descido para 'livrar' Israel das mãos dos egípcios (ÊX 3.8). Senaqueribe escreveu ao rei de Jerusalém: 'O Deus de Ezequias não livrará o seu povo das minhas mãos' (2 Cr 32.17). Frequentemente, o salmista implorava o salvamento divino (SI 22.21; 35.17; 69.14). O emprego do verbo indica haver em vista uma 'salvação' física, pessoal ou nacional" (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, pp. 335,336).

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
A Reconciliação com Deus Mediante o Sacrifício de Jesus Cristo
Diferente de outros termos bíblicos e teológicos, 'reconciliação' aparece em nosso vocabulário comum. É um termo tirado do âmbito social. Todo relacionamento interrompido clama por reconciliação. O Novo Testamento ensina com clareza que a obra salvífica de Cristo é um trabalho de reconciliação. Pela sua morte. Ele removeu todas as barreiras entre Deus e nós. O grupo de palavras empregado no Novo Testamento (gr. allassõ) ocorre raramente na Septuaginta e é incomum no Novo Testamento, até mesmo no sentido religioso. O verbo básico significa 'mudar', 'fazer uma coisa cessar e outra tomar o seu lugar'. O Novo Testamento emprega-o seis vezes, sem referência à doutrina da reconciliação (por exemplo, At 6.14). Somente Paulo dá conotação religiosa a esse grupo de palavras. O verbo katallassõ e o substantivo katallagê transmitem com exatidão a ideia de 'trocar' ou 'reconciliar', da maneira como se conciliam os livros contábeis. No Novo Testamento, o assunto em pauta é primariamente o relacionamento entre Deus e a humanidade. A obra reconciliadora de Cristo restaura-nos ao favor de Deus porque 'foi tirada a diferença entre os livros contábeis (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 355).

CONHEÇA MAIS
Redenção
A palavra Redenção significa "Recurso capaz de salvar alguém de uma situação aflitiva'. [...] Jesus comprou-nos por um bom preço. Por causa da morte de Cristo, diante de qualquer exigência da Lei da justiça divina com respeito a todos os que creem em Jesus, Deus pode agora dizer:"... livra-os...já achei resgate' (Jó 33.24). Jesus subiu ao Gólgota para aniquilar o pecado pelo sacrifício de si mesmo (Hb 9.26)." Leia mais em "A Santa Trindade: O Pai, o Filho e o Espirito Santo" de Eurico Bergsten, CPAD, p.65.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO
A Redenção
No Novo Testamento, Jesus é tanto o 'Resgatador' quanto o 'resgate'; os pecadores perdidos são os 'resgatados'. Ele declara que veio 'para dar a sua vida em resgate [gr. lutron] de muitos' (Mt 20.28; Mc 10.45). Era um 'livramento [gr. apolurõsis] efetivado mediante a morte de Cristo, que libertou da ira retributiva de Deus e da penalidade merecida do pecado'. Paulo liga nossa justificação e o perdão dos pecados à redenção que há em Cristo (Rm 3.24; Cl 1.14). Diz que Cristo 'para nós foi feito por Deus sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção' (1Co 1.30). Diz, também que Cristo 'se deu a si mesmo com preço de redenção [gr. antilutron] por todos' (1Tm 2.6). O Novo Testamento demonstra claramente que Ele proporcionou a redenção mediante o seu sangue, pois era impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10.4). Cristo nos comprou de volta para Deus, e o preço foi o seu sangue (Ap 5,9)" (HORTON, Stanley M. Teologia Sistemática: Uma perspectiva pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p. 357).

SUBSÍDIO ADICIONAL

Fonte: Ensinador Cristão – n° 72
Hoje, se podemos nos achegar a Deus e chamá-lo de "Pai" o mérito desse privilégio está na obra salvífica de Jesus Cristo. O sangue derramado pelo Filho na cruz foi o alto preço que nosso Senhor pagou no lugar de nossas transgressões para que, por intermédio de sua crucificação, morte e, posterior ressurreição, fôssemos justificados.

A obra salvífica de Cristo proveu reconciliação dos homens com Deus

"Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não lhes imputando os seus pecados, e pôs em nós a palavra da reconciliação." (2Co 5.19). Esse ministério de reconciliação do ser humano com Deus se deu por meio da obra salvífica e completa de Jesus Cristo. Aqui, é importante destacar que essa obra não é extensiva somente a um "grupo de eleitos" previamente selecionados por "decreto divino", condenando assim os demais seres humanos à perdição total. Não, a obra salvífica de Jesus Cristo é extensiva a todos os que se arrependerem e crerem no Unigénito de Deus. Desde sempre, a vontade do Pai é que "todos os homens se salvem e venham ao conhecimento da verdade. Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo". Assim, por meio de Jesus Cristo, o Pai dá oportunidade ao homem de arrepender-se dos seus pecados e de reconhecer Cristo Jesus como Senhor, Salvador e Rei.

A obra salvífica de Cristo proveu redenção para o pecador arrependido

Está no interior humano a impossibilidade de dar a segunda chance para quem cometeu uma falta gravíssima contra o outro. Quando falamos em falta gravíssima, referimo-nos, por exemplo, a uma pessoa que comete um assassinato contra a filha de um pai ou toma do outros bens de valor imaterial. Como achar normal que se exija do pai o perdão ao assassino de sua filha?
Ou que se perdoe a pessoa que deu um golpe que trará consequências irreparáveis?
Humanamente é muito difícil e, para muitos, é loucura! Essa é a situação do pecador diante de Deus, pois se fosse possível estar no lugar de Deus, qualquer pessoa diria que o mais justo era condenar o transgressor. Mas o Altíssimo, por intermédio do seu Filho, preferiu prover outro caminho: o do perdão. A redenção efetuada pelo nosso Senhor, por meio de sua obra salvífica, nos redimiu e constrangeu-nos a manifestarmos esse amor aos nossos semelhantes.



                           Calvinismo e Arminianismo.


Muitos têm seguido cegamente a João Calvino teólogo francês, radicado na Suíça, falecido em 1564 —, o qual pregava a predestinação como uma eleição arbitrária de indivíduos; como graça irresistível e impossibilidade de perda da salvação.
Outros têm seguido as idéias de Jacobus Arminius, teólogo holandês falecido em 1609, o qual pregava doutrinas conflitantes quanto à salvação e a sua segurança. Um perigo fatal a que pode levar o arminianismo é o crente depender de suas obras, de sua conduta, de seu porte, de sua obediência pessoal, para a sua salvação (Hb 9.12). Nesse extremo campeia a falsa santidade, sendo o homem enganado pelo seu próprio coração (Jr 17.9).
No caso da predestinação e da livre-escolha, no tocante à salvação, a tendência humana é rejeitar uma ou outra. Os arminianistas extremistas rejeitam a predestinação, e os calvimstas extremistas rejeitam o livre-arbítrio.
Entretanto, um exame atento e livre de preconceito da Palavra de DEUS mostra que, através da obra redentora de JESUS, DEUS destinou de antemão (predestinou) todos os homens à salvação: “quem quiser, tome de graça da água da vida” (Ap 22.17; Is 45.22; 55.1; Mt 11.28,29; 2 Co 6.2; I Tm 2.4). De acordo com João 12.32, todos podem ser atraídos a CRISTO. Mas nem todos querem seguir a CRISTO.
A predestinação segundo os predestinalistas. Estes dizem que o homem, decaído como está, no seu estado de depravação total, é incapaz de fazer livre-escolha concernente a sua salvação, pois está incapacitado espiritualmente para isso. Então DEUS elege o homem para a salvação. Segundo essa teoria, DEUS elege uns para a salvação, comunicando-lhes também a fé. Os demais, não-escolhidos, estão perdidos. Isso eqüivale a dizer que CRISTO morreu apenas pelos “escolhidos”.
Do raciocínio acima decorre outro: que a graça de DEUS é irresistível, isto é, a graça de DEUS não pode ser recusada por aqueles a quem DEUS escolhe salvar. Segundo o predestinalismo, a salvação é um decreto divino, e a conversão é simplesmente o início da execução desse decreto. O termo “decreto” é extraído de textos como Romanos 8.28: “E sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam a DEUS, daqueles que são chamados por seu decreto”.
Afirmam também os predestinalistas que a vida eterna em CRISTO é um dom de DEUS, e que uma vez recebida não pode ser jamais perdida em conseqüência de qualquer ato ou determinação da vontade humana. E que se, de fato, o crente nasceu de novo, está eternamente salvo. Caso venha a desviar-se, comprometerá, sim, o seu galardão, mas jamais perderá a sua salvação, nem cairá em apostasia. Ê como alguém que, estando a bordo de um navio, escorrega e cai, porém continua a bordo.
Finalmente, dizem que o crente salvo “está escondido com CRISTO em DEUS” (Cl 3.3), e que o Inimigo jamais o achará, nem jamais o arrebatará dessa posição. Em abono dessa predestinação fatalista, os predestinalistas citam textos como João 6.37; 10.28,29; Romanos 8.28-30; Efésios 1.4,5; 2 Ts 2.13; Eclesiastes 3.14; Filipenses 1.6; I Pedro 1.2; e Apocalipse 17.8 — mas sem interpretá-los à luz de seus respectivos contextos imediato e remoto.
Ora, proceder como acima exposto é adaptar a Bíblia ao raciocínio humano; ou seja, ao modo humano de pensar, como se a Palavra de DEUS dependesse de argumentos humanos.
A Bíblia é contrária ao predestinalismo. A Palavra de DEUS não afirma que CRISTO morreu apenas pelos eleitos. CRISTO morreu por todos, e não somente pelos eleitos (I Tm 2.4,6; I Jo 2.2; 2 Pe 3.9; Ato 2.21; 10.43;Tt 2.11; Hb 2.9; Jo 3.15,16; 2 Co 5.14; Ap 22.17). Ora, aqui não se trata somente de “eleitos”, mas de “todos” que quiserem ser salvos. O falso ensino de que CRISTO teria morrido apenas pelos eleitos pode conduzir a um desinteresse pela evangelização, haja vista DEUS já ter separados os perdidos que vão para o inferno.
Qualquer pessoa que crê em JESUS torna-se um dos escolhidos de DEUS, pois somos eleitos em CRISTO (Ef 1.4). Em Mateus 22.1-14, vemos que todos os convidados foram “chamados”; porém “escolhidos” foram os que aceitaram o convite do rei. No versículo 14, a expressão “muitos são chamados, mas poucos escolhidos” revela, portanto, que das multidões que ouvem o evangelho apenas uma pequena parte crê em CRISTO e o segue.
DEUS elegeu para si um povo chamado Igreja, e não indivíduos, isoladamente. Somos predestinados porque somos parte da Igreja de DEUS; não somos parte da Igreja porque fomos antes, individualmente, predestinados. Se, na Igreja, como Corpo de CRISTO, alguém individualmente se desvia, e não volta, a eleição da Igreja não se altera.
De igual modo foi a eleição de Israel. O Senhor elegeu aquele povo para si; não indivíduos de per si. E tanto que milhares de israelitas se desviaram, porém a eleição de Israel, como povo, prosseguiu.
A livre-escolha do homem é uma realidade inconteste. A Bíblia acentua a cada passo a responsabilidade do homem no tocante à sua salvação. DEUS oferece a salvação e, mediante o seu ESPÍRITO, convence o pecador do seu pecado, da justiça e do juízo O homem aceita a salvação ou rejeita-a (Is 1.19,20; Js 24.15; Dt 30.19; Jo 1.11,12; 3.15,16,19; Ap 22.17; Lc 13.34; Ato 7.51; I Rs 18.21; I Tm 4.1; 2 Cr 15.2; Mac 16.16; Hb 2.3; 3.12; 12.25).
Não existe graça irresistível. O homem através dos tempos tem resistido a DEUS, por sua incredulidade e rebeldia (At 7.51; I Ts 5.19; Pv 1.23-30; Mt 23.37; 2 Pe 2.21; Hb 6.6,7; Tg 5.19). Ora, a ação do ESPÍRITO SANTO no pecador, para que se salve, é persuasiva, e não compulsória: “Assim que, sabendo o temor que se deve ao Senhor, persuadimos os homens à fé, mas somos manifestos a DEUS; e espero que, na vossa consciência, sejamos também manifestos” (2 Co 5.11).
Um cristão salvo pode vir a se perder; pode, sim, desviar-se, cair em pecado e perecer, caso não se arrependa ante a insistência do ESPÍRITO SANTO (Ez 18.24,26; 33.18; Hb 3.12-14; 5.9; I Tm 4.1; 5.15; 12.25; 2 Pe 3.17; 2.20-22; Rm 11.21,22; ITs 5.15; Dt 30.19; I Cr 28.9; 2 Cr 15.2; I Co 10.12; Jo 15.6). Essa verdade fica amda mais evidente quando consideramos o “se” condicional quanto à salvação (Hb 2.3; 3.6,14; Cl 1.22,23), bem como a condição: “ao que vencer”, que aparece sete vezes em Apocalipse 2 e 3.
As palavras de JESUS em João 6.37 — “Todo o que o Pai me dá, esse virá a mim, e o que vem a mim de maneira nenhuma o lançarei fora” — significam que DEUS destinou à salvação, não somente este ou aquele indivíduo, mas sim todo aquele que nEle crê (Jo 3.16). Ou seja, tal passagem refere-se ao fato de DEUS aceitar o pecador quando este vem a Ele.
Outro texto empregado pelos predestinalistas é João 10.27,28: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem; e dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará das minhas mãos”. Note
que o versículo 27 mostra as condições da ovelha, para que ela nunca venha a perecer, nem sair das mãos de JESUS e do Pai (cf. Jo 6.67).
Se não há perigo de queda definitiva para o crente, por que a Bíblia adverte com tanta ênfase para que ninguém caia (I Co 10.12; Hb 3.12; Jo 15.6; I Tm 4.1 [“apostatarão”]; 2Ts 2.3 [“apostasia”]; Pv 16.18; 28.14; Ap 2.4,5)?
Porque; se viverdes segundo a carne, morrereis... (Rm 8.13).
Portanto, irmãos, procurai Jazer cada vez mais firme a vossa vocação e eleição; porque, fazendo isto, nunca jamais tropeçareis (2 Pe 1.10).
Antes, subjugo o meu corpo e o reduzo à servidão, para que, pregando aos outros, eu mesmo não venha de alguma maneira afcar reprovado (l Co 9.27).
... porquanto vos desvíastes do Se^OR, o Senhor não será convosco ÍNm 14.43).
O verdadeiro signifcado da predestinação. Em I Timóteo 2.4, está escrito: “TDeus] quer que todos os homens se salvem”. Nisto está incluído o mundo inteiro que queira. De fato, todos os que verdadeiramente crêem, se salvam; somos testemunhas disso. O Senhor predestinou à salvação todo aquele que aceitar a JESUS. A própria aceitação já é um dom de DEUS, para que ninguém se glorie julgando que assim contribuiu para a sua salvação.
A predestinação fatalista da alma, como ensinada pelos calvmistas, bem como a dependente de obras humanas, propalada pelos arminianistas, não têm apoio na Palavra de DEUS. O termo original de onde provém a nossa palavra “predestinação” (gr. proorizo) significa “destinar de antemão”, “predeterminar”, “preestabelecer”, “prefixar”, “preeleger”, etc.
Esse vocábulo aparece seis vezes no Novo Testamento, variavelmente traduzido, dependendo da versão utilizada. Na versão Revista e Corrigida (ARC), a palavra aparece nas seguintes passagens:
Atos 4.28 — “anteriormente determinado”.
Romanos 8.29 — “predestinou”.
Romanos 8.30 — “predestinou”.
I Coríntios 2.7 — “ordenou antes”.
Efésios 1.5—“predestinou”.
Efésios 1.11 — “predestinados”.
A predestinação que a Bíblia realmente ensina não é a de uns para a vida eterna e a de outros para a perdição eterna. A predestinação é para os que quiserem ser salvos, conforme lemos em 2 Tessalonicenses 2.13 e 2 Timóteo 2.10: “DEUS nos escolheu desde o princípio para a salvação”; “Escolhidos para que também alcancem a salvação”.
Eleição é o ato divino pelo qual DEUS escolhe ou elege um povo para si, para salvá-lo (2Ts 2.13). Predestinação é o ato de DEUS determinar o futuro desse povo. No Novo Testamento, esse povo é a Igreja, o Corpo de CRISTO, o povo salvo (Ef 1.22,23).
Na predestinação de DEUS para a Igreja está a sua conformação à imagem do Filho de DEUS (Rm 8.29), a sua chamada para a salvação (Rm 8.30), a sua justificação (Rm 8.30) e a sua glorificação (Rm 8.30). Essa conformação depende de chamada, justificação e glorificação do crente. E depende, ainda, da santidade de DEUS (Ef 1.4) e da adoção de filhos (Ef 1.5).
Outrossim, a eleição divina não consiste somente na soberania de DEUS, mas também na sua graça (Rm 11.5).
A real segurança da salvação. O crente está seguro quanto à sua salvação enquanto permanecer em CRISTO (Jo 15.1-6). Não há segurança fora de JESUS e do seu aprisco. Não há segurança espiritual para ninguém, estando em pecado (cf. Rm 8.13; Hb 3.6; 5.9). JESUS guarda o crente do pecado; e não no pecado.
Somos mantidos em CRISTO pelo seu poder, mediante a nossa fé nEle (I Pe 1.5; Jd v.20; 2 Co I.24b). A salvação é eterna para os que obedecem ao Senhor (Hb 5.9; I Co 15.1,2). Estamos em pé pela fé em CRISTO, e não pela predestinação: “tu estás em pé pela fé” (Rm 11.20); “se é que permaneceis firmes e fundados na fé” (Cl 1.22,23); “DEUS é salvador de todos, mas principalmente dos fiéis [lit. “dos que crêem”]” (I Tm 4.10).
Há vários outros textos que também mostram a segurança do crente somente enquanto este está em CRISTO:
Pois que tão encarecidamente me amou, também eu o livrarei; pô-lo-ei num alto retiro, porque conheceu o meu nome (Sl 91.14).
Tenho posto o Senhor continuamente diante de mim; por isso que ele está à minha mão direita, nunca vacilarei (Sl 16.8).
Porque nos tornamos participantes de CRISTO, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim (Hb 3.14).
...eu sei em quem tenho crido e estou certo de que é poderoso para guardar o meu depósito até àquele Dia (2 Tm 1.12).
[Senhor JESUS CRISTO, j o qual vos confirmará também até ao fim, para serdes irrepreensíveis no Dia de nosso Senhor JESUS CRISTO (l Co 1.8).
O crente deve obedecer a DEUS; não para que a sua obediência o salve ou o mantenha salvo, mas como uma expressão da sua salvação, do seu amor e da sua gratidão para com aquEle que o salvou. Não nos tornamos salvos por aquilo que fazemos ou deixamos de fazer, mas pela fé em JESUS CRISTO (At 16.31). A conservação da salvação também vem pela fé em CRISTO, pois está escrito: “O justo viverá da fé” (Rm I.17)
Conclusão. A doutrina da predestinação como ensinada pelo calvinismo só leva em conta a soberania de DEUS, e não a sua graça (Rm 11.5; Tt 2.11) e a sua justiça (SI 145.17; Rm 3.21; 1.17; 10.3). Em Ezequiel 18.23 ;33.11 vemos que DEUS quer que o ímpio se converta, e não apenas os eleitos e predestinados. DEUS jamais predestinaria alguém ao inferno sem lhe dar oportunidade de salvação. Isso aviltaria a natureza dEle.
Se todos já estão predestinados quanto ao seu destino eterno, então não há lugar para escolha, decisão ou livre-arbítrio por parte do homem. Entretanto, temos essa escolha mencionada e exposta em vários textos bíblicos, como vimos.
Que DEUS nos conceda cada dia uma visão espiritual cada vez mais ampla e profunda, a fim de compreendermos a sublimidade da gloriosa salvação que JESUS CRISTO consumou; da qual, pela graça de DEUS, já somos participantes. Glória, pois, a Ele!
A doutrina da predestinação situando o crente na presciência de DEUS não está na Bíblia para motivar choques de idéias, especulações ou coisas semelhantes; mas para, de modo carinhoso, DEUS encorajar o crente. Através dela, o Senhor está mostrando que antes que o mundo existisse, e o homem nascesse, Ele antecedeu- se e antecipou-se a tudo, prevendo problemas e dificuldades em nosso caminho e nos mostrando que é poderoso para nos levar a salvo para o seu Remo celestial (2Tm 4.18, ARA).
Tendo por certo isto mesmo: que aquele que em vós começou a boa obra a aperfeiçoará até ao Dia de JESUS CRISTO (Fp 1.6).
Ora, àquele que é poderoso para vos guardar de tropeçar e apresentar-vos irrepreensíveis, com alegria, perante a sua glória (..) seja glória e majestade; domínio c poder, antes de todos os séculos, agora e para todo o sempre. Amém! Qd vv.24,25).
A DOUTRINA DA CHAMADA DIVINA PARA A SALVAÇÃO
Essa chamada não se refere apenas à salvação, mas também ao plano de DEUS para a vida do crente, como lemos em Efésios 4.1-15, especialmente nos versículos11 a 15:
E ele [CRISTO] mesmo deu uns apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de CRISTO, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de DEUS, a varão perfeito, à medida da estatura completa de CRISTO, para que não sejamos mais meninos inconstantes... Antes, seguindo a verdade em caridade, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, CRISTO.
Em Efésios I.18 vemos também nessa chamada a esperança divina para a qual DEUS nos chamou: “tendo iluminados os olhos do vosso entendimento, para que saibais qual seja a esperança da sua vocação e quais as riquezas da glória da sua herança nos santos”. Na nossa chamada para a salvação temos o cumprimento da nossa eleição: “Assim, os derradeiros serão primeiros, e os primeiros, derradeiros, porque muitos são chamados, mas poucos, escolhidos” (Mt 20.16). Leia também Mateus 22.14.

A DOUTRINA DA JUSTIFICAÇÃO
Justificação é o ato judicial de DEUS, pelo qual Ele declara justo diante dEle o pecador que põe sua fé para a salvação em JESUS, ficando assim isento de culpa e condenação (Rm 8.30). A justificação é um ato e também um processo, como a santificação experimental na vida do crente; ela é primeiramente um ato de DEUS.
O que é justificar? E DEUS declarar justo diante dEle o transgressor que crê em JESUS como o seu Salvador pessoal (Rm 4.3-5; 8.33). Justificar, como DEUS justifica, é mais que perdoar. Em teologia sistemática, a justificação precede a santificação, mas na Bíblia a santificação precede a justificação (I Co 6.11), que também é um processo — “justificação de vida” (Rm 5.18).
Diferenças entre justificar e perdoar. O perdão remove a condenação do pecado; a justificação nos declara justos diante de DEUS; isto é, como se nunca tivéssemos pecado! Quão maravilhosa é a graça de DEUS! Aleluia!
Somente DEUS pode perdoar e também justificar a um só tempo. O homem jamais pode fazer isso; ele pode relativamente perdoar, mas não justificar — declarar justo um transgressor da lei. Como é possível um DEUS perfeitamente justo perdoar e também justificar o ímpio, transgressor, sobrecarregado de delitos e pecados?
Mediante o seu amor, DEUS substituiu o culpado pelo inocente. O imaculado Cordeiro de DEUS, no Calvário, pelo amor divino, nos substituiu, levando sobre si os nossos pecados.
Verdades fundamentais da justificação pela fé, As verdades fundamentais da justificação pela fé em DEUS são: (I) a sua origem, que é a graça de DEUS (Rm 3.24;Tt 3.7); a sua base, o sangue de JESUS (Rm 5.9); o seu meio, a fé (Rm 5.1; 3.25); o seu testemunho perante os homens são as obras (Tg 2.24); e a sua causa instrumental é a ressurreição de JESUS CRISTO (Rm 4.25).

A DOUTRINA DO JULGAMENTO DO CRENTE
A doutrina do julgamento do crente é geralmente estudada, em teologia sistemática, sob a escatologia. Trata-se do Tribunal de CRISTO, isto é, o julgamento da igreja após o seu arrebatamento (2 Co 5.10; Rm 14.10; I Jo 4.17). É o dia da prestação de conta da nossa vida; da nossa mordomia cristã, da nossa diaconia ante o citado Tribunal.
Segundo a Palavra de DEUS, o julgamento do crente é tríplice. No passado, o crente foi julgado em CRISTO, no Calvário, como pecador (2 Co 5.21). No presente, ele é julgado como filho de DEUS, durante a sua vida (I Co 11.31). No futuro, será julgado como servo de DEUS, quanto à sua fidelidade no serviço prestado a DEUS (2 Co 5.10).
Não será um julgamento de pecados do crente (Rm 8.1; Jo 5.24), mas das obras do crente (Ap 22.12; 14.13). Todos os crentes serão julgados, e não apenas alguns. Este autor e o leitor — eu e tu — também: todos havemos de
comparecer ante o tribunal de CRISTO” (Rm 14.10). “... para que cada um receba segundo o que tiver feito por meio do corpo, ou bem ou mal” (2 Co 5.10).
Os critérios do julgamento. Os critérios de julgamento do crente no Tribunal de CRISTO envolvem: a “lei da liberdade cristã” (Tg 2.12), haja vista sermos livres para fazermos ou não a vontade de DEUS (vamos responder por essa liberdade diante do Senhor naquele dia); a qualidade do trabalho que fazemos para DEUS (Mt 20.1-16); vemos neste ensino de JESUS que muitos crentes trabalharão a vida toda (“o dia todo”, v. 12), mas receberão a recompensa de quem trabalhou apenas “uma hora”. Não será primeiramente a quantidade de trabalho que será julgada, e sim primeiramente a qualidade desse trabalho.
Outros critérios de julgamento serão: o “material” empregado no trabalho feito para DEUS (I Co 3.8,12-15); a conduta do crente por meio do seu corpo (2 Co 5.10
; o modo como tratamos nossos irmãos na fé (Rm 14.10; Tg 5.9; Ef 6.8; Cl 3.25); e os motivos secretos do nosso coração que nos levaram aos respectivos atos (I Co 4.5; Rm 2.16).
Um aviso a todos os que ensinam na casa de DEUS: o seu julgamento será maior, mais rigoroso e mais exigente:
Meus irmãos, muitos de vós não sejam mestres; sabendo que receberemos mais duro juízo lg 3.1).
Qualquer; pois, que violar um destes menores mandamentos e assim ensinar aos homens será chamado o menor no Reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no Reino dos céus (Mt 5.19).

A DOUTRINA DA GLORIFICAÇÃO FUTURA DOS SALVOS
Em Romanos 8.30 DEUS tem tanta certeza da realização da nossa glorificação, que declara o fato no tempo passado! Isso também ocorre com outros grandes milagres da salvação, como a cura divina, também declarados pelos profetas no tempo passado do verbo: “Mas ele foi ferido pelas nossas transgressões e moído pelas nossas iniqüidades; o castigo que nos traz a paz estava sobre ele, e, pelas suas pisaduras, fomos sarados” (Is 53.5).
Uma forma de glória divina era, possivelmente, o vestuário original de Adão e Eva antes de pecarem (Gn 2.25; Rm 3.23; Sm 104.1,2; I Pe 1.7). Maior ainda será a glória da Igreja (Mt 13.43; Cl 3.4; Rm 8.18; I Co 15.43; Fp 3.21). A salvação começa com a redenção da alma; prossegue com a redenção do corpo; e culmina com a glorificação do crente integral. Daí o autor de Hebreus ter chamado essa gloriosa obra de DEUS de “uma tão grande salvação” (Hb 2.3).
Ainda quanto à nossa glorificação integral, a Palavra de DEUS menciona a salvação nas eras divinas e futuras. João Batista, inspirado pelo ESPÍRITO, disse que JESUS é o Cordeiro que tira o pecado do mundo — kosmos. Isso só acontecerá plenamente no futuro.
Em Efésios 2.7, vemos isso, onde a palavra para “eras” é aiõnios, termo que se traduz por “séculos” em I Timóteo 1.17:
[DEUS nos vivificou juntamente com CRISTO e nos fez assentar nos lugares celestiais] para mostrar nos séculos vindouros as abundantes riquezas de sua graça, pela sua benignidade para conosco em CRISTO JESUS.
Ora, ao Rei dos séculos, imortal, invisível, ao único DEUS seja honra eglória para todo o sempre. Amém!

A Obra Salvífica de CRISTO - Daniel B.Pecota (TEOLOGIA SISTEMÁTICA STANLEY M. HORTON)
CAPÍTULO DEZ
A Obra Salvífica de CRISTO (Daniel B. Pecota)

Teorias da Expiação
Teoria da Influência Moral
A teoria da influência moral (também chamada teoria do amor de DEUS ou exemplarismo) é geralmente atribuída a Pedro Abelardo. Ao ressaltar o amor de DEUS, rejeita qualquer ideia de haver em DEUS uma exigência pela liquidação da dívida do pecado. DEUS não exigiu pagamento pelo pecado, mas com amor perdoou graciosamente. Na encarnação e na cruz, vemos uma demonstração do amor assoberbador de DEUS, visão que nos leva à gratidão e ao amor e, portanto, nos incita ao arrependimento, à fé e a um desejo de mudar nossa conduta. A teoria da influência moral não vê na cruz nenhum propósito ou efeito expiador.
Não devemos, porém, rejeitar esta teoria sem examiná-la, pois contém alguma verdade. Não é verdade que exemplos de coragem e bondade nos inspiram a mudar de comportamento e a ser também corajosos e bondosos? Não podemos olhar a cruz sem sentir inspiração. O conhecido hino Ao Contemplar a Tua Cruz dá expressão a essa teoria.
Não obstante enfatize corretamente o amor de DEUS, o exemplarismo é lastimavelmente inadequado para explicar a razão da cruz. Ignora totalmente a santidade e justiça de DEUS, bem como as declarações bíblicas que apontam a morte de CRISTO como uma obra de expiação ou até mesmo de propiciação (Rm 3.25,26; Hb 2.17; 1 Jo 2.2). Além disso, não demonstra como a mera emoção levará ao arrependimento. Não explica como os santos do Antigo Testamento vieram a ser salvos. Alister McGrath diz: "Talvez uma das [suas] dificuldades mais graves... seja a total ambiguidade da cruz. Se a única coisa que a cruz nos ensina é que DEUS nos ama, por que Ele tratou de revelar o fato de modo tão ambíguo?" Se CRISTO, na cruz, nada mais fez do que nos influenciar, sua morte é mera encenação para nos comover. A Bíblia assevera muito mais do que isso.
Teoria do Resgate
A teoria do resgate enfatiza a vitória de CRISTO sobre Satanás. E chamada às vezes "resgate a Satanás" ou teoria dramática. Por causa do nosso pecado, estamos sob o domínio de Satanás. Mas DEUS, por nos amar, ofereceu o seu Filho ao diabo como preço do resgate para nos libertar. O maligno ficou mais do que feliz com a troca, mas desconhecia o fato de que não conseguiria manter CRISTO no Hades, e, com a ressurreição, perdeu tanto o resgate quanto seus presos originais. Os pais da Igreja não se preocuparam com o fato de que essa transação envolveria DEUS num logro (pois Ele certamente sabia o resultado final). Para eles, significava apenas que DEUS era mais sábio e mais forte que Satanás. A humanidade de JESUS era a isca que escondia o anzol da sua , divindade, e o diabo a engoliu. A culpa era dele, não de DEUS.
Depois de Anselmo, essa teoria desapareceu, mas em anos recentes um teólogo sueco, Gustaf Aulen (1879-1978), revivificou os aspectos positivos da teoria na sua obra clássica Chrístus Victor, que enfatiza a verdade bíblica de que a morte de CRISTO realmente derrotou o diabo (Hb 2.14; Cl 2.15; Ap 5.5). A morte e o inferno foram vencidos (1 Co 15.54-57; Ap 1.18). O Descendente da mulher esmagou a cabeça da serpente (Gn 3.15). Ver a expiação como a vitória sobre todas as forças do mal deve ser sempre parte vital da nossa proclamação vitoriosa do Evangelho. Não devemos descartar aquela verdade, embora rejeitemos a ideia que DEUS usasse de astucioso engano para levar Satanás à derrota.

Teoria da Satisfação
Anselmo propôs uma teoria que deu forma a quase totalidade do pensamento católico e protestante sobre o assunto até ao tempo presente. Escreveu, em parte contra os judeus de seus dias, que negavam uma encarnação genuína, seu tratado Cur DEUS Homo ("Por que DEUS se Tornou Homem"). Oferece uma das primeiras e bem-pensadas teorias da expiação, usualmente chamada teoria da satisfação. Diz que as pessoas, ao pecarem, ultrajam a honra do DEUS soberano e infinito. A ofensa contra um soberano não pode passar sem castigo, e exige satisfação. Mas como poderemos nós pagar essa multa se o Soberano ultrajado é o DEUS infinito Ao mesmo tempo, o amor de DEUS pleiteia em favor do pecador. Como o aparente conflito em DEUS será resolvido? Nós cometemos o pecado, e por isso devemos uma satisfação. Porém, como somente DEUS poderia pagar o preço e somente nós devemos pagá-lo, apenas um DEUS-homem poderia dar uma satisfação pela ofensa contra a honra de DEUS e pagar o preço infinito do perdão.
A teoria da satisfação apresenta muitos aspectos recomendáveis. Focaliza sua atenção naquilo que DEUS (e não Satanás) exige na expiação. Adota um conceito muito mais profundo da gravidade do pecado que as teorias da influência moral e do resgate. Propõe uma teoria da satisfação, ideia esta que explica mais adequadamente as questões bíblicas.
Mas a teoria da satisfação apresenta também suas fraquezas. Torna DEUS um senhor feudal cujos vassalos o desonraram gravemente. E Ele não pode deixar tal coisa passar sem castigo, para conservar sua posição. Anselmo deixou de levar em conta a possibilidade de que um soberano pudesse ser misericordioso sem prejudicar sua posição de superioridade. A teoria parece subentender um conflito entre os atributos de DEUS, o que a Bíblia não pode confirmar. Além disso, assume uma dimensão quantitativa: sendo os pecados virtualmente infinitos em número e na sua natureza - porque cometidos contra um DEUS infinito - sacrifício também deve ser quantitativa e qualitativamente infinito. Embora esta explicação não deva ser totalmente rejeitada, a ênfase bíblica não recai numa transação comercial, mas na ação de um DEUS amoroso e gracioso. Não somos simples circunstantes a receber os benefícios indiretos de uma transação realizada entre DEUS e seu Filho. Somos, sim, a razão de tudo isso. Embora a teoria de Anselmo tenha suas fraquezas, estas não anulam o sentido fundamental - uma expiação que presta contas.

Teoria Governamental
A teoria governamental deve sua origem a Hugo Grotius (1583-1645), jurista, estadista e teólogo holandês. Ele considerava DEUS um Legislador que tanto promulga quanto sustenta as leis do Universo. A Lei é o resultado da vontade de DEUS, e Ele tem a liberdade para "alterá-la ou até mesmo ab-rogá-la". A Lei declara inequivocamente: "A alma que pecar, essa morrerá". A justiça rigorosa exige a morte eterna dos pecadores.
Como poderia DEUS impor respeito à Lei e, ao mesmo tempo, demonstrar clemência aos pecadores? Perdoá-los simplesmente, o que Ele poderia ter feito, não sustentaria a Lei. Ele mesmo a sustentou, não aplacando um princípio de ira judicial em sua natureza, mas apresentando a morte de CRISTO como "um exemplo público da profundidade do pecado e de até que ponto DEUS iria para sustentar a ordem moral-do Universo". Os efeitos da morte de CRISTO não se aplicariam diretamente a nós, mas apenas de modo secundário, sendo que Ele não teria morrido em nosso lugar, somente em nosso favor. Assim, o enfoque primário não era a salvação dos pecadores, mas a guarda da Lei. Na cruz, DEUS mostrou que pode abominar a ilegalidade e, ao mesmo tempo, manter a Lei e perdoar os iníquos.
Embora a teoria governamental contenha um núcleo de verdade, pois "a penalidade imposta a CRISTO também é instrumento para garantir os interesses do governo divino", não expressa o âmago do ensino bíblico, e nisso vemos a objeção principal. Ela presta um desserviço a muitas passagens bíblicas que, interpretadas no sentido mais óbvio, indicariam o tema da substituição na morte de CRISTO (Mt 20.28; 26.28; Jo 10.14,15; 2 Co 5.21; Ef 5.25). Também deixa de explicar a razão da escolha de uma pessoa sem pecado para demonstrar o desejo de DEUS em sustentar a Lei. Por que não executar o pior dos pecadores? Por que CRISTO, e não Barrabás? Este último certamente seria um exemplo mais claro da profundidade do desejo que DEUS sentia de demonstrar quão detestável lhe era a ilegalidade. Além disso, a teoria governamental não considera plenamente a depravação da raça. Assim como a teoria da influência moral, toma por certo que um mero exemplo bastará para nos capacitar a levar adiante um modo de vida fiel à Lei. Nada poderia estar mais distante da verdade bíblica.

Teoria da Substituição Penal
Refletindo o pensamento básico dos reformadores, o evangelicalismo afirma a ideia da substituição penal para explicar o significado da morte de CRISTO. Declara que CRISTO suportou em nosso lugar a total penalidade que deveríamos pagar. 'Ou seja, sua morte foi vicária, totalmente em favor dos outros. Significa que Ele sofreu, não meramente para nosso benefício ou vantagem, mas em nosso lugar (gr. anti - "ao invés de", como em Mc 10.45 e 2 Co 5.14).
O Novo Testamento jamais emprega a expressão "substituição penal", mas de todas as teorias esta parece representar mais adequadamente os ensinos da Bíblia. Leva a sério a Bíblia, que retrata a santidade e a justiça de DEUS expressa na sua ira judicial. Considera plenamente o que a Bíblia diz a respeito de nossa depravação e a consequente incapacidade de nos salvarmos. Aceita literalmente as declarações que dizem tipologicamente (no sistema sacrificial), profeticamente (nas predições diretas) e historicamente (no registro do Novo Testamento) que CRISTO "tomou o nosso lugar".
Devemos expressar com cuidado esta opinião, porque nem todos concordam com a teoria da substituição penal. Podemos responder a algumas objeções, como as seguintes:
Sendo que o pecado não é externo, pode ser transferido de uma pessoa para outra? Fazer assim seria, na realidade, imoral. Entenda-se, porém, que não se trata de uma transferência mecânica de pecados, mas da identificação (a raça pecaminosa) que CRISTO assumiu conosco, e diminuir-se-á a intensidade da objeção. CRISTO tornou-se igual a nós, mas sem pecado. Seria possível, então, dizer também que é imoral a transferência da justiça de CRISTO a nós? Precisamos compreender que DEUS é o sacrifício. Em JESUS, DEUS assumiu a culpa e suportou a penalidade. 
A teoria da substituição penal subentende um conflito na Deidade: CRISTO, Salvador amoroso, precisa arrancar o perdão do punho cerrado de um Pai irado, cuja justiça está acima do seu amor. A verdade, porém, é que as Escrituras claramente excluem essa dupla objeção. O Pai amou tanto ao mundo que enviou o Filho. João diz: "Nisto está a caridade: não em que nós tenhamos amado a DEUS, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados" (1 Jo 4.10). João 3.36 diz: "Aquele que crê no Filho tem a vida eterna, mas aquele que não crê no Filho não verá a vida, mas a ira de DEUS sobre ele permanece". O amor e a ira aparecem juntos com relação ao envio de JESUS a Terra. Nenhuma dessas qualidades aparece acima da outra.
A teoria da substituição minimiza a livre graça de DEUS ao sugerir que Ele não perdoaria, e realmente não poderia perdoar, a não ser que fosse aplacado por um sacrifício. Embora haja nesta objeção alguma verdade, é falha por não reconhecer que a obra expiadora de CRISTO é o próprio perdão de DEUS, onde Ele demonstra que é perdoador e que realmente perdoa. Os que levantam objeções à teoria da substituição penal precisam reconhecer as implicações de semelhante decisão. Quem realmente suporta a penalidade pelo pecado: CRISTO ou nós? Precisamos decidir entre os dois caminhos da redenção. O Cristianismo é uma religião de redenção? Se não for, onde está a nossa esperança? Caso afirmativo, fica implícita a substituição.

Aspectos da Obra Salvífica de CRISTO
O Sacrifício
Embora algumas ideias já tenham sido estudadas, faz-se necessário examinar mais de perto alguns aspectos da obra redentora de CRISTO. Várias palavras bíblicas a caracterizam. Ninguém que leia as Escrituras de modo perceptivo pode fugir à realidade de que o sacrifício está no âmago da redenção, tanto no Antigo quanto no Novo Testamento. A figura de um cordeiro ou cabrito sacrificado como parte do drama da salvação e da redenção remonta à Páscoa (Ex 12.1-13). DEUS veria o sangue aspergido e "passaria por cima" daqueles que eram protegidos por sua marca. Quando o crente do Antigo Testamento colocava as suas mãos no sacrifício, o significado era muito mais que identificação (isto é: "Meu sacrifício"). Era um substituto sacrificial (isto é: "Sacrifico isto em meu lugar").
Embora não se deva forçar demais as comparações, a figura é claramente transferida a CRISTO no Novo Testamento. João Batista apresentou-o, anunciando: "Eis o Cordeiro de DEUS, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29). Em Atos 8, Filipe aplica às boas novas a respeito de JESUS a profecia de Isaías que diz que o Servo seria levado como um cordeiro ao matadouro (Is 53.7). Paulo se refere a CRISTO como "nossa páscoa" (1 Co 5.7). Pedro afirma que fomos redimidos "com o precioso sangue de CRISTO, como de um cordeiro imaculado e incontaminado" (1 Pe 1.19). Até mesmo nas regiões celestiais, o Leão da tribo de Judá era louvado e adorado como o Cordeiro que fora morto (Ap 5). Embora alguns possam achar "sanguinário" o conceito do sacrifício, removê-lo arranca da Bíblia o seu próprio âmago.
Os termos "propiciação" e "expiação" relacionam-se estreitamente com o conceito de sacrifício e procuram informar o efeito do sacrifício de CRISTO. No Antigo Testamento, refletem kippere seus derivados; no Novo, hilaskomai e seus derivados. Os dois grupos de palavras significam "aplacar", "pacificar" ou "conciliar" (isto é, propiciar) e "encobrir com um preço" ou "fazer expiação por" (a fim de remover pecado ou ofensa da presença de alguém: expiar). As vezes a decisão de escolher um significado em preferência a outro tem mais a ver com a posição teológica que com o significado básico da palavra. Por exemplo, podemos tomar uma decisão teológica a respeito do que a Bíblia quer dizer com ira de DEUS. Precisa ela ser aplacada?
Colin Brown refere-se a um "amplo segmento de estudiosos bíblicos que sustentam que o sacrifício na Bíblia tem mais a ver com a expiação que com a propiciação". G. C. Berkouwer refere-se à declaração de Adolph Harnack, no sentido de a ortodoxia conferir em DEUS o "horrível privilégio" de não ter "condições de perdoar por amor". Leon Morris assim expressa o consenso geral dos evangélicos: "O ensino bíblico consistente é que o pecado do homem tem incorrido na ira de DEUS... evitada pela oferta expiadora de CRISTO. Deste ponto de vista, sua obra salvífica é corretamente chamada propiciação". Nem a Septuaginta nem o Novo Testamento esvaziaram o pleno significado de hilaskomai como "propiciação".
A Bíblia abandona a crueza frequentemente associada à propiciação nos rituais pagãos. O Senhor não é uma divindade malévola e caprichosa, cuja natureza permanece tão inescrutável que nunca se sabe como Ele agirá. Mas sua ira não deixa de ser uma realidade. A Bíblia, no entanto, ensina que DEUS, em seu amor, misericórdia e fidelidade às suas promessas, forneceu os meios pelos quais a sua ira seria aplacada. No caso do ensino neotestamentário, DEUS não somente forneceu os meios como também veio a sê-los. 1 João 4.10 diz: "Nisto está a caridade: não em que nós tenhamos amado a DEUS, mas em quem ele nos amou e enviou seu Filho para propiciação [gr. hilasmos] pelos nossos pecados".
Todos os léxicos demonstram que kipper e hilaskomai significam "propiciar" e "expiar". A diferença está na interpretação de seu significado nas matérias bíblicas que tratam da expiação. Se aceitarmos o que a Bíblia diz a respeito da ira de DEUS, uma solução possível se apresenta. As palavras têm uma referência vertical e uma horizontal. Quando o contexto focaliza a expiação em relação a DEUS, falam da propiciação. Mas significam expiação quando o enfoque recai em nós e em nosso pecado. Não escolhemos "ou/ou", mas "tanto/ quanto". O contexto histórico e literário determina o significado apropriado.
Uma pergunta pode surgir. Se JESUS suportou a penalidade da nossa culpa ao tomar sobre si a ira de DEUS e cobrir o nosso pecado, teria sofrido exatamente as mesmas consequências e o mesmo tipo e grau de castigo que aqueles em favor dos quais morreu sofreriam cumulativamente? Afinal de contas, Ele era um só, e nós somos muitos. Assim como a muitíssimas interrogações desse tipo, não há uma resposta definitiva. A Bíblia não faz nenhuma tentativa nesse sentido. Lembremo-nos, no entanto, que não temos na cruz um evento mecânico ou uma transação comercial. A obra da salvação atua no plano espiritual, e não há analogias para explicar tudo isso.
Primeiramente, o sofrimento, pela sua própria natureza, não está sujeito a cálculo matemático nem a ser pesado na balança. Em certo sentido, sofrer o pior caso de braço quebrado é sofrer todos os casos. Morrer uma só morte excruciante e agonizante é morrer todas elas. Em segundo lugar, é preciso relembrar o caráter e a natureza do sofrimento pessoal. CRISTO era perfeito em santidade e, portanto, não possuía nenhum senso de culpa ou remorso pessoal, que teríamos ao saber que estávamos sofrendo o justo castigo pelos nossos pecados. Há algo de heróico na incisiva repreensão do ladrão da cruz ao seu companheiro de crimes: "Tu nem ainda temes a DEUS, estando na mesma condenação? E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez" (Lc 23.40,41). A perfeição de CRISTO não lhe diminuiu o sofrimento, e até pode tê-lo intensificado, por saber Ele que era imerecido. Sua oração, pedindo que não lhe fosse necessário "beber o cálice" não era um gesto teatral. Ele bem sabia o sofrimento que o esperava. O fato de Ele ter sofrido como DEUS certamente lança luz sobre a questão.

A Reconciliação
Diferente de outros termos bíblicos e teológicos, "reconciliação" aparece em nosso vocabulário comum. E um termo tirado do âmbito social. Todo relacionamento interrompido clama por reconciliação. O Novo Testamento ensina com clareza que a obra salvífica de CRISTO é um trabalho de reconciliação. Pela sua morte, Ele removeu todas as barreiras entre DEUS e nós. O grupo de palavras empregado no Novo Testamento (gr. allassõ) ocorre raramente na Septuaginta e é incomum no Novo Testamento, até mesmo no sentido religioso. O verbo básico significa "mudar", "fazer uma coisa cessar e outra tomar o seu lugar". O Novo Testamento emprega-o seis vezes, sem referência à doutrina da reconciliação (por exemplo, At 6.14; 1 Co 15.51,52). Somente Paulo dá conotação religiosa a esse grupo de palavras. O verbo katallassõ e o substantivo katallagê transmitem com exatidão a ideia de "trocar" ou "reconciliar", da maneira como se conciliam os livros contábeis. No Novo Testamento, o assunto em pauta é primariamente o relacionamento entre DEUS e a humanidade. A obra reconciliadora de CRISTO restaura-nos ao favor de DEUS porque "foi tirada a diferença entre os livros contábeis".
Os textos mais relevantes são Romanos 5.9-11 e 2 Coríntios 5.16-21. Em Romanos, Paulo coloca a ênfase na certeza de salvação. Usando duas vezes a expressão "quanto mais", ele assevera que a obra de CRISTO nos salvará da ira de DEUS (Rm 5.9) e que quando ainda éramos inimigos (Cl 1.21-22) a sua morte nos reconciliou com DEUS. Logo, o fato de Ele estar vivo garante a nossa salvação (Rm 5.10). Podemos regozijar-nos em nossa reconciliação com DEUS por meio de CRISTO (5.11). Se em Romanos a ênfase recai sobre o que DEUS fez "por nós" em CRISTO, em 2 Coríntios incide sobre DEUS como agente principal da reconciliação (cf. Cl 1.19,20) . O sermos novas criaturas provém de DEUS "que nos reconciliou consigo mesmo por JESUS CRISTO" (2 Co 5.18) e que "estava em CRISTO reconciliando consigo o mundo" (5.19). Estes versículos enfatizam o que pode ser chamado reconciliação ativa: isto é, para que a reconciliação aconteça, a parte lesada desempenha papel primário. Se a pessoa lesada não demonstrar a disposição de acolher quem a lesou, não poderá haver reconciliação.
Observe como acontece a reconciliação nos relacionamentos humanos, entre marido e mulher, por exemplo. Se eu pecasse contra minha esposa e assim provocasse um rompimento em nossa relação, mesmo que eu tomasse a iniciativa e pedisse com sinceridade a reconciliação - com presentes, flores ou rogando de joelhos - seria necessário ela me perdoar de coração para que a restauração pudesse acontecer. Ela teria de tomar a iniciativa, pois sua atitude é fator crucial. Em CRISTO, DEUS nos garante que já tomou a iniciativa. Ele já nos perdoou. Agora, devemos corresponder, reconhecendo que já rasgou de cima a baixo o véu que nos separava dEle, e entrar com ousadia na sua presença perdoadora. Essa é a parte que devemos cumprir, aceitando o que DEUS tem feito através de CRISTO. Se não ocorrerem as duas ações, a reconciliação jamais acontecerá.

A Redenção
A Bíblia também emprega a metáfora do resgate ou da redenção para descrever a obra salvífica de CRISTO. O tema aparece muito mais frequentemente no Antigo Testamento que no Novo. O tema aparece muitas vezes no Antigo Testamento, referindo-se aos ritos da "redenção" no tocante às pessoas ou aos bens (cf. Lv 25; Rt 3 e 4, que empregam a palavra hebraica ga'al). O "parente redentor" funciona como um go'el. O próprio Javé é o Redentor (heb. go'el) do seu povo (Is 41.14; 43.14), e eles são os redimidos (heb. ge'ulim, Is 35.9; 62.12). O Senhor tomou medidas para redimir (heb. padhah) os primogênitos (Êx 13.13-15). Ele redimiu Israel do Egito (Êx 6.6; Dt 7.8; 13.5) e também os remirá do exílio (Jr 31.11). Às vezes DEUS redime um indivíduo (SI 49.15; 71.23); ou um indivíduo ora, pedindo a redenção divina (SI 26.11; 69.18). Mas a obra divina na redenção é primariamente moral no seu escopo. Em alguns textos bíblicos, a redenção claramente diz respeito aos assuntos morais. Salmos 130.8 diz: "Ele remirá a Israel de todas as suas iniquidades". Isaías diz que somente os "remidos", os "resgatados", andarão pelo chamado "O Caminho SANTO" (Is 35.8-10). Diz ainda que a "filha de Sião" será chamada "povo santo, os remidos do Senhor" (62.11,12).
No Novo Testamento, JESUS é tanto o "Resgatador" quanto o "resgate"; os pecadores perdidos são os "resgatados". Ele declara que veio "para dar a sua vida em resgate [gr. lutron] de muitos" (Mt 20.28; Mc 10.45). Era um "livramento [gr. apolutrõsis] efetivado mediante a morte de CRISTO, que libertou da ira retributiva de DEUS e da penalidade merecida do pecado". Paulo liga nossa justificação e o perdão dos pecados à redenção que há em CRISTO (Rm 3.24; Cl 1.14, apolutrõsis nestes dois textos). Diz que CRISTO "para nós foi feito por DEUS sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção" (1 Co 1.30). Diz, também que CRISTO "se deu a si mesmo em preço de redenção [gr. antilutron] por todos" (1 Tm 2.6). O Novo Testamento demonstra claramente que Ele proporcionou a redenção mediante o seu sangue (Ef 1.7; Hb 9.12; 1 Pe 1.18-19; Ap 5.9), pois era impossível que o sangue dos touros e dos bodes tirasse os pecados (Hb 10.4). CRISTO nos comprou (1 Co 6.20; 7.23, gr. agorazõ) de volta para DEUS, e o preço foi o seu sangue (Ap 5.9).
Sendo que as palavras subentendem o livramento de um estado de escravidão mediante o pagamento de um preço, então, de que fomos libertos? A contemplação dessas coisas é motivo de grande alegria! CRISTO nos livrou do justo juízo de DEUS que realmente merecíamos, por causa dos nossos pecados (Rm 3.24,25). Ele nos livrou das consequências inevitáveis de se quebrar a lei de DEUS, que nos sujeitava à ira divina. Embora não façamos tudo quanto a Lei requer, já não estamos debaixo de uma maldição. CRISTO tomou sobre si essa maldição (Gl 3.10-13). A sua redenção conseguiu para nós o perdão dos pecados (Ef 1.7) e nos libertou deles (Hb 9.15). Ele, ao entregar-se por nós, remiu-nos "de toda iniquidade [gr. anomia]" (Tt 2.14), mas não para usar a "liberdade para dar ocasião à carne" (Gl 5.13) ou como "cobertura da malícia" (1 Pe 2.16). (Anomia é a mesma palavra que Paulo usa em 2,Tessalonicenses 2.3, ao referir-se ao "homem do pecado".) O propósito de CRISTO ao redimir-nos é "purificar para si um povo seu especial, zeloso de boas obras" (Tt 2.14).
Pedro diz que "fostes resgatados da vossa vã maneira de viver que, por tradição, recebestes dos vossos pais" (1 Pe 1.18). Não podemos ter certeza de quem são os "pais". Seriam pagãos, judeus, ou ambos? Ambos, provavelmente, pois o Novo Testamento considera fúteis os modos pagãos (At 14.15; Rm 1.21; Ef 4.17) e também vê certa futilidade nas práticas externas da religião judaica (At 15.10; Gl 2.16; 5.1; Hb 9.10,25,26; 10.3,4). Haverá, também, uma redenção final dos gemidos e dores da era presente quando acontecer a ressurreição, e veremos o resultado de termos sido adotados como filhos de DEUS mediante a obra de CRISTO na nossa redenção (Rm 8.22,23).
Os evangélicos crêem que o Novo Testamento ensina haver CRISTO pago o preço pleno do resgate para nos libertar. Sua é a obra objetiva da expiação, cujos benefícios, quando aplicados a nós, não deixam nada a ser completado por nós. E uma obra definitiva, não poderá ser repetida. Uma obra incomparável, que jamais será imitada ou compartilhada por outros.

O Alcance da Obra Salvífica de CRISTO
Há entre os cristãos uma diferença significativa de opiniões quanto à extensão da obra salvífica de CRISTO. Por quem Ele morreu? Os evangélicos, de modo global, rejeitam a doutrina do universalismo absoluto (isto é, o amor divino não permitirá que nenhum ser humano ou mesmo o diabo e os anjos caídos permaneçam eternamente separados dEle). O universalismo postula que a obra salvífica de CRISTO abrange todas as pessoas, sem exceção. Além dos textos bíblicos que demonstram ser a natureza de DEUS de amor e de misericórdia, o versículo chave do universalismo é Atos 3.21, onde Pedro diz que JESUS deve permanecer no Céu "até aos tempos da restauração de tudo". Alguns entendem que a expressão grega apokastaseõs pantõn ("restauração de todas as coisas") tem significado absoluto, ao invés de simplesmente "todas as coisas, das quais DEUS falou pela boca de todos os seus santos profetas". Embora as Escrituras realmente se refiram a uma restauração futura (Rm 8.18-25; 1 Co 15.24-26; 2 Pe 3.13), não podemos, à luz dos os ensinos bíblicos sobre o destino eterno dos seres humanos e dos anjos, usar esse versículo para apoiar o universalismo. Fazer assim seria uma violência exegética contra o que a Bíblia tem a dizer deste assunto.
Entre os evangélicos, a diferença acha-se na escolha entre o particularismo, ou expiação limitada (CRISTO morreu somente pelas pessoas soberanamente eleitas por DEUS), e o universalismo qualificado (CRISTO morreu por todos, mas sua obra salvífica é levada a efeito somente naqueles que se arrependem e creem). O fato de existir uma nítida diferença de opinião entre crentes bíblicos igualmente devotos aconselha-nos a evitar a dogmatização extrema que temos visto no passado e ainda hoje. Os dois pontos de vista, cada um pertencente a uma doutrina específica da eleição, têm sua base na Bíblia e na lógica. Os dois concordam que a questão não é de aplicação. Nem todos serão salvos. Os dois concordam que, direta ou indiretamente, todas as pessoas receberão benefícios da obra salvífica de CRISTO. O ponto de discórdia está na intenção divina: tornar a salvação possível a todos ou somente para os eleitos?
Os particularistas olham para os textos bíblicos que dizem que CRISTO morreu pelas ovelhas (Jo 10.11, 15), pela Igreja (Ef 5.25; At 20.28) ou por "muitos" (Mc 10.45). Citam também numerosas passagens que, em seus respectivos contextos, claramente associam os que crêem à obra expiadora de CRISTO (Jo 17.9; Gl 1.4; 3.13; 2 Tm 1.9; Tt 2.3; 1 Pe 2.24). Os particularistas argumentam: (1) Se CRISTO morreu por todos, DEUS estaria sendo injusto se alguém perecesse pelos seus próprios pecados, pois CRISTO tomou sobre si a penalidade total, pelos pecados de todos. DEUS não cobraria duas vezes a mesma dívida. (2) A doutrina da expiação ilimitada leva logicamente ao universalismo, pois pensar de outra maneira lançaria dúvidas sobre a eficácia da obra de CRISTO, que era para "todos". (3) A exegese e a hermenêutica sadias deixam claro que a linguagem universal nem sempre é absoluta (cf. Lc 2.1; Jo 12.32; Rm 5.18; Cl 3.11).
Os defensores do universalismo qualificado argumentam: (1) Somente este dá sentido à oferta sincera do Evangelho a todas as pessoas. Os oponentes respondem que a ordem no sentido de pregar o Evangelho a todos acha-se na Grande Comissão. Uma vez que a Bíblia ensina a eleição e não sabemos quais são os eleitos (cf. At 18.10: "Tenho muito povo nesta cidade [Corinto]"), devemos pregar a todos. Mas seria esta uma oferta genuína da parte de DEUS, que diz: "Todo aquele que desejar", quando Ele sabe que isso não é realmente possível? (2) Antes da ascensão do calvinismo, o universalismo qualificado havia sido a opinião majoritária desde o início da Igreja. "Entre os reformadores, a doutrina encontra-se em Lutero, Melanchthon, Bullinger, Latimer, Cranner, Coverdale e até mesmo Calvino, em alguns de seus comentários. Por exemplo, Calvino diz... a respeito de Marcos 14.24, 'que por muitos é derramado: Com a palavra muitos, Marcos quer dizer, não uma mera parte do mundo, mas a raça humana inteira'". (3) As acusações de que, se fosse verdade uma expiação ilimitada DEUS seria injusto e que o universalismo seria a conclusão lógica, não podem ser sustentadas. Até mesmo os eleitos precisam crer para ser salvos. A aplicação da obra de CRISTO não é automática. Se alguém optar por não crer, não significa que CRISTO não tenha morrido por ele ou que se pode lançar suspeitas sobre o caráter de DEUS.
O ponto crucial da defesa, no entanto, é não se poder facilmente desconsiderar o significado óbvio dos textos universalistas. Diz Millard Erickson: "A hipótese da expiação universal consegue levar em conta um segmento maior do testemunho bíblico com menos distorção que a hipótese da expiação limitada". Por exemplo, Hebreus 2.9 diz que JESUS, pela graça de DEUS, provou a morte para "todos". Fica bastante fácil argumentar que o contexto (2.10-13) não significa todos de modo absoluto, mas os "muitos filhos" que JESUS traz à glória. Semelhante conclusão, no entanto, vai além da credibilidade exegética. Além disso, há um sentido universal no contexto (2.5-8,15). Quando a Bíblia diz que "DEUS amou o mundo de tal maneira" (Jo 3.16) ou que CRISTO é "o Cordeiro de DEUS, que tira o pecado do mundo" (Jo 1.29) ou que Ele é "o Salvador do mundo" (1 Jo 4.14), significa isso mesmo.
Certamente a Bíblia emprega a palavra "mundo" num sentido qualitativo, referindo-se ao sistema maligno que Satanás domina. Mas CRISTO não morreu em favor de um sistema. Entregou sua vida em favor das pessoas que dele fazem parte. Em texto algum do Novo Testamento, "mundo" se refere à Igreja ou aos eleitos. Paulo diz que JESUS "Se deu a si mesmo em preço de redenção por todos" (1 Tm 2.6) e que DEUS "quer que todos os homens se salvem" (1 Tm 2.4). Em 1 João 2.1,2, temos uma separação explícita entre os crentes e o mundo e uma afirmação de que JESUS CRISTO, o Justo, "é a propiciação" (v. 2) para ambos. H. C. Thiessen reflete o pensamento do Sínodo de Dort (1618-19): "Concluímos que a expiação é ilimitada no sentido de estar à disposição de todos; é limitada no sentido de ser eficaz somente para aqueles que crêem. Está à disposição de todos, mas é eficiente apenas para os eleitos".

A Ordem da Salvação
DEUS, por sua infinita bondade e justiça, enviou seu Filho unigénito à cruz a fim de suportar a penalidade total do pecado e poder perdoar livremente e com justiça todos quantos comparecerem diante dEle. Como isso acontece na vida de uma pessoa? Pensar a respeito da aplicação da obra de CRISTO a nós leva a considerar a chamada ordo salutis ("ordem da salvação"), expressão que remonta a 1737, atribuída ao teólogo luterano Jakob Karpov, embora a ideia propriamente dita seja mais antiga. Qual a ordem lógica (não a cronológica) na qual experimentamos o processo de passar de um estado pecaminoso para o da plena salvação? A Bíblia não oferece uma ordem específica, embora se ache embrionariamente em Efésios 1.11-14 e em Romanos 8.28-30, onde Paulo alista a presciência, a predestinação, o chamamento, a justificação e a glorificação, sendo cada conceito edificado na ideia anterior.
O catolicismo romano direciona essa ordem aos sacramentos, isto é: ao batismo, no qual a pessoa experimenta a regeneração; à confirmação, na qual a pessoa recebe o ESPÍRITO SANTO; à eucaristia, a participação da presença física de CRISTO; à penitência, o perdão dos pecados não-mortais; e à extrema-unção, quando a pessoa recebe a certeza da entrada no Reino de DEUS.
Entre os protestantes, a diferença está primariamente entre a abordagem reformada e (de modo geral) a wesleyana. A opinião que seguimos depende da nossa doutrina da depravação. Subentenderia esta uma incapacidade total, onde a pessoa necessita da obra regeneradora do ESPÍRITO SANTO para tornar-se capaz de se arrepender e crer - a posição reformada? Neste caso, a ordem seria eleição, predestinação, presciência, chamamento, regeneração, arrependimento, fé, justificação, adoção, santificação e glorificação. Ou subentende que, por continuarmos a levar em nós a imagem de DEUS, mesmo no estado caído, temos a capacidade de corresponder com arrependimento e fé quando DEUS nos atrai a si? Neste caso, a ordem seria presciência, eleição, predestinação, chamamento, arrependimento, fé, regeneração e os demais. A diferença encontra-se na ordem dos três primeiros, que se referem à atividade de DEUS na eternidade, e no posicionamento da regeneração nessa ordem. A segunda das duas ordens é o ponto de vista adotado nesse capítulo.

A Eleição
Evidentemente, a Bíblia ensina uma escolha feita por DEUS: a eleição divina. O Antigo Testamento diz que DEUS escolheu Abraão (Ne 9.7), o povo de Israel (Dt 7.6; 14-2; At 13.17), Davi (1 Rs 11.34), Jerusalém (2 Rs 23.27) e o Servo (Is 42.1; 43.10). No Novo Testamento, a escolha divina inclui anjos (1 Tm 5.21), CRISTO (Mt 12.18; 1 Pe 2.4,6), um remanescente de Israel (Rm 11.5) e os crentes, isto é, os eleitos, quer individual (Rm 16.13; 2 Jo 1.1,13) ou coletivamente (Rm 8.33; 1 Pe 2.9). Sempre a iniciativa é de DEUS. Ele não escolheu Israel pela grandeza da nação (Dt 7.7). JESUS diz aos seus discípulos: "Não me escolhestes vós a mim, mas eu vos escolhi a vós" (Jo 15.16). Paulo deixa bem claro esse fato em Romanos 9.6-24, ao declarar que DEUS escolhera apenas os descendentes de Isaque para serem seus filhos (vv. 7-8) e que, antes do nascimento, Ele escolheu Jacó, e não o seu gêmeo, Esaú, "para que o propósito de DEUS, segundo a eleição, ficasse firme" (v. II).
Precisamos notar as ênfases de Paulo. Uma delas é que ser filho de DEUS depende da livre e soberana expressão de sua misericórdia, e não de algo que sejamos ou façamos.
Paulo enfatiza a misericórdia divina que inclui os gentios juntamente com os judeus (Rm 9.24-26; 10.12). O calvinismo , entende que esse trecho bíblico afirma a doutrina de uma escolha arbitrária de DEUS, que não leva em conta a responsabilidade e participação humanas. Essa, porém, não é a única possibilidade. Na mesma seção bíblica (Rm 9-11), surgem evidências da participação e responsabilidade humanas (cf. 9.30-33; 10.3-6,9-11,13,14,16; 11.20,22,23). Paulo afirma: "DEUS, pois, compadece-se de quem quer e endurece a quem quer" (9.18). Diz ainda que Israel havia experimentado "o endurecimento em parte" (11.25), mas o contexto parece relacioná-lo à sua desobediência, obstinação e incredulidade (10.21; 11.20). Além disso, Paulo declara que a razão por que "DEUS encerrou a todos debaixo da desobediência" é "para com todos usar de misericórdia" (11.32). Portanto, não somos forçados a uma única conclusão, isto é, a eleição incondicional.
Qualquer estudo sobre a eleição deve sempre começar por JESUS. E toda conclusão teológica que não fizer referência ao coração e aos ensinos do Salvador, seja tida forçosamente por suspeita. Sua natureza reflete o DEUS que elege, e em JESUS não achamos nenhum particularismo. NEle, achamos o amor. Por isso, é relevante que em quatro ocasiões Paulo vincule o amor à eleição ou à predestinação: "Sabendo, amados irmãos, que a vossa eleição [gr. eklogên] é de DEUS" (1 Ts 1.4). "Como eleitos [gr. eklektoi] de DEUS, santos e amados..". (Cl 3.12) - nesse contexto, amados por DEUS. "Como também nos elegeu [gr. exelaxato] nele antes da fundação do mundo... e nos predestinou para filhos de adoção por JESUS CRISTO, para si mesmo, segundo o beneplácito [gr. eudokia] de sua vontade" (Ef 1.4,5). Embora a intenção divina não esteja ausente nesta última palavra grega (eudokia), ela inclui também um sentido de calor que não fica tão evidente em thelõ ou boulomai. A forma verbal aparece em Mateus 3.17, onde o Pai diz: "Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo [gr. eudokêsa]".
Finalmente, Paulo diz: "Mas devemos sempre dar graças a DEUS, por vós, irmãos amados do Senhor, por vos ter DEUS elegido [gr. heilato] desde o princípio para a salvação, em santificação do ESPÍRITO e fé da verdade" (2 Ts 2.13). O DEUS que elege é o DEUS que ama, e Ele ama o mundo. Tornar-se-ia válido o conceito de um DEUS que arbitrariamente escolhe alguns e desconsidera os demais, deixando-os ir à perdição eterna, diante de um DEUS que ama o mundo?
Em JESUS vemos também a presciência. Ele sabia que morreria numa cruz (Jo 12.32) e conhecia alguns pormenores de sua morte (Mc 10.33,34). Sabia que Judas o trairia (Jo 13.18-27) e que Pedro o negaria (Mc 14-19-31). Mas certamente não devemos atribuir causalidade à sua presciência. Depois de curado o coxo, Pedro declarou que os judeus em Jerusalém haviam agido na ignorância ao crucificar JESUS, mas que também a morte de CRISTO cumprira o que DEUS falara através dos profetas (At 3.17,18). DEUS não os levou a crucificar JESUS, a culpa ainda era deles (At 4.27,28). Portanto, quando a Bíblia liga nossa eleição à presciência (1 Pe 1.2) não devemos ver nisso a causalidade. DEUS não precisa predestinar para saber de antemão. A declaração, em Romanos 8.29, de que os que DEUS "dantes conheceu, também os predestinou" não apoia semelhante ideia: a presciência seria um termo sem significado.
Não poderíamos considerar a presciência e a predestinação como dois lados de uma mesma moeda? O lado de cima, a presciência, olha em direção a DEUS, refletindo o que Ele sabe. Mas, no tocante a nossa parte na salvação, a Bíblia não dá o mínimo indício do que DEUS sabia com antecedência. Se, porém, sustentarmos uma doutrina de onisciência total, sua presciência por certo incluiria o nosso arrependimento e fé em correspondência ao seu chamamento. Esta declaração, não compromete a atuação soberana de DEUS, na tentativa de fazê-la depender de alguma coisa que fazemos. Mas se a Bíblia não declara o que DEUS conheceu de antemão, claramente se refere a quem (Rm 8.29). A predestinação, o lado de baixo da moeda, olha em direção aos seres humanos e demonstra a operação soberana da vontade de DEUS.
Além disso, têm-se dito que o verbo "conhecer de antemão" (gr. proginõskõ) sugere algo mais que a mera cognição mental. Tanto o Antigo quanto o Novo Testamento empregam a palavra "conhecer" para referir a intimidade do relacionamento entre marido e mulher (Gn 4.1; Lc 1.34) e para conhecer aquilo que vai além de meros fatos a respeito de uma pessoa. O Senhor, falando através de Amós, diz a Israel: "... a vós somente conheci" (3.2). Paulo disse: "... para conhecê-lo [CRISTO]" (Fp 3.10). Ao dirigir-se aos "pais", João diz que "já conhecestes aquele que é desde o princípio" (1 Jo 2.13,14). Estes exemplos por certo demonstram que "conhecer", na Bíblia, pode incluir amor e relacionamento. Poderíamos, então, ver na presciência de DEUS sobre nós uma expressão de seu amor e solicitude? E DEUS ama a todas as pessoas no mundo. Ele realmente possui presciência cognitiva de todos os pensamentos e ações de todas as pessoas. Quando, porém, a Bíblia se refere àqueles que creem no seu Filho, a presciência é aplicada a eles e a eles somente. Um Pai amoroso apresenta uma Noiva ao seu Filho amado.
Aqueles que DEUS conheceu de antemão (Rm 8.29; 1 Pe 1.1), Ele os elegeu em CRISTO (Ef 1.4) e os predestinou "para serem conformes à imagem de seu Filho" (Rm 8.29) e "para louvor da sua glória" (Ef 1.11,12). Em consonância ao seu propósito soberano e amoroso assim expresso: "... não querendo que alguns se percam, senão que todos venham a arrepender-se" (2 Pe 3.9), Ele chama as pessoas a si mesmo (Is 55.1-8; Mt 11.28). No Antigo Testamento, o chamamento divino tinha a ver em primeiro lugar com o povo de Israel, a partir de Abraão, seu ancestral. No Novo Testamento, o chamamento veio a ser mais universal e individualista, primariamente com o propósito salvífico, embora seja diferente a ênfase. Às vezes o chamamento refere-se à (1) conclamação para seguir a JESUS (Mt 4.21; Mc 2.14, 17; cf. Lc 18.22); (2) a uma chamada divina, ativa e interior, quando se refere aos crentes (Rm 8.30; Ef 4.1; 2 Tm 1.9); (3) a uma descrição daqueles que correspondem (ou seja, "os que são chamados" [1 Co 1.24]); ou (4) ao propósito para o qual DEUS os chamou (por exemplo, para serem "santos" [Rm 1.7; 1 Co 1.2]).
Ao concluir a parábola das bodas (Mt 22.1-14), JESUS disse que "muitos são chamados [gr. klêtoi], mas poucos,, escolhidos [gr. eklektoi]" (v. 13), num contexto que certamente tem em vista o destino eterno (v. 13). "Demonstra que, pelo menos do ponto de vista da resposta humana, o círculo dos chamados e o dos eleitos não coincidem necessariamente entre si". A própria palavra "chamada" subentende uma resposta, e, se correspondermos a ela, tornamo-nos eleitos de DEUS. Se o propósito eterno de DEUS estiver em perspectiva (cf. Ef 1.4), estaremos entre os eleitos.
Quando DEUS nos chama para si, visando a salvação, é sempre uma chamada da graça, independente de qualquer distinção que façamos entre a graça "preveniente" e a graça "eficaz". Poderemos resistir a essa chamada graciosa? O calvinismo ensina que não, pois a operação de DEUS sempre alcança os seus propósitos. Sua graça é eficaz. Assim como DEUS chamou irresistivelmente a criação à existência, também Ele chama irresistivelmente as pessoas à redenção. Se aceitarmos a ordo salutis, proposta pelos calvinistas, na qual a regeneração segue o chamamento, mas antecede o arrependimento e a fé, certamente a graça é irresistível. A pessoa já nasceu de novo. A ideia de resistir, em semelhante caso, já não faz sentido.
Poder-se-ia afirmar, então, que a expressão "graça irresistível" é tecnicamente imprópria? Parece ser um oximoro, como "bondade cruel", porque a própria natureza da graça subentende que um dom gratuito é oferecido, e tal presente pode ser aceito ou rejeitado. E assim acontece, mesmo sendo o presente oferecido por um Soberano gracioso, amoroso e pessoal. E sua soberania não será ameaçada ou diminuída se recusarmos o dom gratuito. Este fato é evidente no Antigo Testamento. O Senhor diz: "Estendi as mãos todo o dia a um povo rebelde" (Is 65.2). E: "chamei, e não respondestes; falei, e não ouvistes" (Is 65.12). Os profetas deixam claro que quando o povo não acolhia bem as expressões da graça de DEUS, nem por isso ficava ameaçada a sua soberania. Estêvão fustiga os seus ouvintes: "Homens de dura cerviz e incircuncisos de coração e ouvido, vós sempre resistis ao ESPÍRITO SANTO; assim, vós sois como vossos pais" (At 7.51). Parece claro que Estêvão tinha em vista a resistência à obra do ESPÍRITO SANTO, que queria levá-los a DEUS. O fato de alguns deles (inclusive Saulo de Tarso) terem crido posteriormente não serve como evidência em favor da doutrina da graça irresistível.
Além disso, necessário é dizer que, fosse impossível resistir à graça de DEUS, os incrédulos pereceriam, não por não quererem corresponder, mas por não poderem. A graça de DEUS não seria eficaz para eles. Neste caso, DEUS pareceria mais um soberano caprichoso que brinca com os seus súditos que um DEUS de amor e graça. Sua promessa: "todo aquele , que quer" seria uma brincadeira de inigualável crueldade, pois Ele é quem estaria brincando. Mas o DEUS e Pai de nosso Senhor JESUS CRISTO não brinca conosco. Quando os braços de nosso Senhor JESUS CRISTO se estenderam na cruz, Ele abrangeu a todos, pois DEUS ama o mundo. DEUS é amor, e a própria natureza do amor subentende que ele pode ser resistido ou rejeitado. Pela sua própria natureza, o amor é vulnerável. Não lhe diminuímos a magnífica grandeza ou a soberania se cremos possível recusar seu amor e graça, que buscam atrair todas as pessoas a si mesmos. A situação é a inversa. DEUS, cujo amor anseia que todos cheguem a Ele mas não os obriga irresistivelmente a vir e cujo coração fica magoado com a recusa, forçosamente é de uma grandeza que ultrapassa a nossa imaginação.
Há somente uma resposta apropriada a tamanho amor: arrepender-nos e crer. Claro está que não podemos produzir tais ações sem a capacitação divina. Por outro lado, não são produzidas em nós sem o nosso consentimento. Evitemos as expressões extremadas do sinergismo (a "operação em conjunto") edomonergismo (a"operaçãoisolada"). Omonergismo tem suas raízes no agostinianismo, e afirma que a pessoa, para ser salva, não é capaz de fazer absolutamente nada para levar a efeito a sua salvação. A conversão é uma obra que somente DEUS leva a efeito. Se o pecador optar por arrepender-se e crer, DEUS é o único agente ativo. Se o pecador optar por não se arrepender ou não crer, a culpa é inteiramente deste.
Formas extremadas de sinergismo remontam a Pelágio, que negava a depravação essencial da humanidade. Na sua expressão evangélica moderada, entretanto, remonta a Armínio e, de modo mais expressivo, a Wesley, sendo que estes dois teólogos enfatizavam nossa capacidade de escolher livremente, mesmo nas questões que afetam o nosso destino eterno. Somos depravados; no entanto, nem mesmo os mais depravados entre nós perderam totalmente a imagem de DEUS. O sinergista evangélico afirma que somente DEUS salva, mas acredita que as exortações universais ao arrependimento e à fé fazem sentido apenas se pudermos, na realidade, aceitar ou rejeitar a salvação. A salvação provém inteiramente da graça de DEUS, mas declarar este fato não exige que diminuamos a nossa responsabilidade quando confrontados pelo Evangelho.

O Arrependimento e a Fé
O arrependimento e a fé são os dois elementos essenciais da conversão. Envolvem uma "virada contra" (o arrependimento) e uma "virada para" (a fé). As palavras primárias, no Antigo Testamento, para expressar a ideia de arrependimento são shuv ("virar para trás", "voltar") e nicham ("arrepender-se", "consolar"). Shuv ocorre mais de cem vezes no sentido teológico, seja quanto ao desviar-se de DEUS (1 Sm 15.11; Jr 3.19), seja no sentido de voltar para DEUS Qr 3.7; Os 6.1). A pessoa também pode desviar-se do bem (Ez 18.24, 26) ou desviar-se do mal (Is 59.20; Ez 3.19), isto é, arrepender-se. O verbo nicham tem um aspecto emocional que não fica evidente em shuv; mas ambas as palavras transmitem a ideia do arrependimento.
O Novo Testamento emprega epistrephõ no sentido de "voltar-se" para DEUS (At 15.19; 2 Co 3.16) e metanoeõ/ metanoia para a idéia de "arrependimento" (At 2.38; 17.30; 20.21; Rm 2.4). Utiliza-se de metanoeõ para expressar o significado de shuv, que indica uma ênfase à mente e à vontade. Mas também é certo que metanoia, no Novo Testamento, é mais que uma mudança intelectual. Ressalta o fato de uma reviravolta da pessoa inteira, que passa a operar uma mudança fundamental de atitudes básicas.
Embora o arrependimento por si só não possa nos salvar, é impossível ler o Novo Testamento sem tomar consciência da ênfase deste sobre aquele. DEUS "anuncia agora a todos os homens, em todo lugar, que se arrependam" (At 17.30). A mensagem inicial de João Batista (Mt 3.2), de JESUS (Mt 4.17) e dos apóstolos (At 2.38) era "Arrependei-vos!"85 Todos devem arrepender-se, porque todos pecaram e destituídos estão da glória de DEUS (Rm 3.23).
Embora o arrependimento envolva as emoções e o intelecto, é a vontade que está mais profundamente envolvida. Quanto a isso, basta citarmos como exemplos os dois Herodes. O evangelho de Marcos apresenta o enigma de Herodes Antipas, um déspota imoral que encarcerou João Batista por ter este denunciado o casamento com a esposa de seu irmão Filipe, mas ao mesmo tempo "Herodes temia a João, sabendo que era varão justo e santo" (Mc 6.20). Segundo parece, Herodes acreditava em algum tipo de ressurreição (6.16). Portanto, possuía algum entendimento teológico. Dificilmente poderíamos imaginar que João Batista não lhe tenha proporcionado uma oportunidade de se arrepender.
Paulo confrontou Herodes Agripa II com a própria crença do rei nas declarações proféticas a respeito do Messias, mas o rei não quis ser persuadido a tornar-se cristão (At 26.28). Não quis arrepender-se, embora não negasse a veracidade do que Paulo lhe dizia a respeito de CRISTO. Todos nós precisamos dizer, assim como o filho pródigo: "Levantar-me-ei, e irei ter com meu pai" (Lc 15.18). A conversão subentende "voltar-se contra" o pecado, mas igualmente "voltar-se para" DEUS. Embora não devamos sugerir uma dicotomia absoluta entre as duas ações (pois só quem confia em DEUS dá o passo do arrependimento), não está fora de propósito uma distinção. Quando cremos em DEUS e confiamos totalmente nEle, voltamo-nos para Ele.
Entre as declarações bíblicas sobre o assunto, esta é a fundamental: "Abraão creu [heb. 'aman] no Senhor, e foi-lhe imputado isto por justiça" (Gn 15.6).86 Moisés ligou a rebelião e desobediência dos israelitas à sua falta de confiança no Senhor (Dt 9.23,24). A infidelidade de Israel (Jr 3.6-14) forma um nítido contraste com a fidelidade de DEUS (Dt 7.9; SI 89.1-8; Os 2.2,5; cf Os 2.20). A fé abrange a confiança. Podemos "depender" do Senhor ou nEle "fiar-nos" (heb. batach) com confiança. Quem assim fizer será bem-aventurado (Jr 17.7). Alegramo-nos porque podemos confiar no seu nome (SI 33.21) e no seu amor inabalável (SI 13.5). Podemos também "refugiar-nos" (heb. chasah) nEle, conceito este que afirma a fé (SI 18.30; ver também Is 57.13).
No Novo Testamento, o verbo pisteuõ ("creio, confio") e o substantivo pistis ("fé") ocorrem cerca de 480 vezes.87 Poucas vezes o substantivo reflete a ideia da fidelidade como no Antigo Testamento (por exemplo, Mt 23.23; Rm 3.3; Gl 5.22; Tt 2.10; Ap 13.10). Pelo contrário, normalmente funciona como um termo técnico, usado quase exclusivamente para se referir à confiança ilimitada (com obediência e total dependência) em DEUS (Rm 4.24), em CRISTO (At 16.31), no Evangelho (Mc 1.15) ou no nome de CRISTO (Jo 1.12). Tudo isso deixa claro que, na Bíblia, a fé não é "um salto no escuro".
Somos salvos pela graça mediante a fé (Ef 2.8). Crer no Filho de DEUS leva à vida eterna (Jo 3.16). Sem fé, não poderemos agradar a DEUS (Hb 11.6). A fé, portanto, é a atitude da nossa dependência confiante e obediente em DEUS e na sua fidelidade. Essa fé caracteriza todo filho de DEUS fiel. E o nosso sangue espiritual (Gl 2.20).
Pode-se argumentar que a fé salvífica é um dom de DEUS, até mesmo dizer que a presença de anseios religiosos, inclusive entre os pagãos, nada tem a ver com a presença ou exercício da fé. A maioria dos evangélicos, no entanto, afirma que semelhantes anseios, universalmente presentes, constituem-se evidências favoráveis à existência de um DEUS, a quem se dirigem. Seriam tais anseios inválidos em si mesmos, à parte da atividade divina direta?
Não podemos, obviamente, exercer a fé salvífica à parte da capacitação divina. Mas ensina a Bíblia que, quando cremos, estamos simplesmente devolvendo o dom de DEUS? Seria necessário, para protegermos o ensino bíblico da salvação pela graça mediante a fé somente, insistir que a fé não é realmente nossa, mas de DEUS? Alguns citam determinados versículos como evidências em favor de semelhante opinião. J. I. Packer diz: "DEUS, portanto, é o autor de toda a fé salvífica (Ef 2.8; Fp 1.29)". H. C. Thiessen afirma que há "um lado divino da fé, e um lado humano", e então declara: "A fé é um dom de DEUS (Rm 12.3; 2 Pe 1.1) outorgado soberanamente pelo ESPÍRITO de DEUS (1 Co 12.9; cf. Gl 5.22). Paulo diz que todos os aspectos da salvação são um dom de DEUS (Ef 2.8), e por certo a fé está incluída aí".
E necessário perguntar, no entanto: Indicam todas as referências citadas inequivocamente a fé "salvífica"? Parece que Romanos 12.3 e 1 Coríntios 12.9 não se referem a ela, e Gálatas 5.22 certamente não. A fé considerada nesses versículos é a fé (ou fidelidade) demonstrada pelos crentes na contínua experiência cristã. O versículo em Efésios desperta dúvidas, porque "fé" é feminino e "isso" é neutro (em grego). Normalmente, o pronome concorda com o antecedente quanto ao seu gênero. Paulo quer dizer que a questão inteira de sermos salvos é dádiva de DEUS, ao invés de conquistarmos a salvação pelas nossas boas obras. Louis Berkhof diz: "A verdadeira fé salvífica é a que tem seu centro no coração e está arraigada na vida regenerada". Poderíamos olhar para aqueles versículos de modo diferente? Por exemplo: "A fé... é a resposta do homem. E DEUS quem possibilita a fé, mas a fé (o ato de crer) não é de DEUS, mas do homem". A fé não é obra, mas sim a mão estendida que se abre para aceitar a dádiva divina da salvação.

A Regeneração
Quando correspondemos ao chamado divino e ao convite do ESPÍRITO e da Palavra, DEUS realiza atos soberanos que nos introduzem na família do seu Reino: regenera os que estão mortos nos seus delitos e pecados; justifica os que estão condenados diante de um DEUS santo; e adota os filhos do inimigo. Embora estes atos ocorram simultaneamente naquele que crê, é possível examiná-los separadamente.
A regeneração é a ação decisiva e instantânea do ESPÍRITO SANTO, mediante a qual Ele cria de novo a natureza interior. O substantivo grego (palingenesia) traduzido por "regeneração" aparece apenas duas vezes no Novo Testamento. Mateus 19.28 emprega-o com referência aos tempos do fim. Somente em Tito 3.5 se refere à renovação espiritual do indivíduo. Embora o Antigo Testamento tenha em vista a nação de Israel, a Bíblia emprega várias figuras de linguagem para descrever o que acontece. O Senhor "tirará da sua carne o coração de pedra e lhes dará um coração de carne" (Ez 11.19). DEUS diz: "Espalharei água pura sobre vós, e ficareis purificados... E vos darei um coração novo e porei dentro de vós um espírito novo... E porei dentro de vós o meu espírito e farei que andeis nos meus estatutos" (Ez 36.25-27). DEUS colocará a sua lei "no seu interior e a escreverá no seu coração" (Jr 31.33). Ele "circuncidará o teu coração... para amares ao Senhor" (Dt 30.6).
O Novo Testamento apresenta a figura do ser criado de novo (2 Co 5.17) e a da renovação (Tt 3.5), porém a mais comum é a de "nascer" (gr. gennaõ, "gerar" ou "dar à luz"). JESUS disse: "Na verdade, na verdade te digo que aquele que não nascer de novo não pode ver o Reino de DEUS" (Jo 3.3). Pedro declara que DEUS, em sua grande misericórdia; "nos gerou de novo para uma viva esperança" (1 Pe 1.3). E uma obra que somente DEUS realiza. Nascer de novo diz respeito a uma transformação radical. Mas ainda se faz mister um processo de amadurecimento. A regeneração é o início do nosso crescimento no conhecimento de DEUS, na nossa experiência de CRISTO e do ESPÍRITO e no nosso caráter moral.

A Justificação
Assim como a regeneração leva a efeito uma mudança em nossa natureza, a justificação modifica a nossa situação diante de DEUS. O termo "justificação" refere-se ao ato mediante o qual, com base na obra infinitamente justa e satisfatória de CRISTO na cruz, DEUS declara os pecadores condenados livres de toda a culpa do pecado e de suas conseqüências eternas, declarando-os plenamente justos aos seus olhos. O DEUS que detesta "o que justifica o ímpio" (Pv 17.15) mantém sua própria justiça ao justificá-lo, porque CRISTO já pagou a penalidade integral do pecado (Rm 3.21-26). Constamos, portanto, diante de DEUS como plenamente absolvidos.
Para descrever a ação de DEUS a justificar-nos, os termos empregados pelo Antigo Testamento (heb. tsaddíq: Ex 23.7; Dt 25.1; 1 Rs 8.32; Pv 17.15) e pelo Novo Testamento (gr. dikaioõ: Mt 12.37; Rm 3.20; 8.33,34) sugerem um contexto judicial e forense. Não devemos, no entanto, considerá-la uma ficção jurídica, como se estivéssemos justos sem, no entanto sê-lo. Por estarmos nEle (Ef 1.4, 7, 11), JESUS CRISTO tornou-se a nossa justiça (1 Co 1.30). DEUS credita ou contabiliza (gr. logizomai) sua justiça em nosso favor. Ela é imputada a nós.
Em Romanos 4, Paulo cita dois exemplos do Antigo Testamento como argumento em favor da justiça imputada. A respeito de Abraão, diz que "creu ele no Senhor, e foi-lhe imputado [heb. chashav] isto por justiça" (Gn 15.6). Isto ocorreu antes de Abraão ter obedecido a DEUS no tocante à circuncisão, sinal da aliança. De modo talvez ainda mais dramático, Paulo cita Salmos 32.2, no qual Davi pronuncia uma bênção sobre "o homem a quem o Senhor não imputa maldade" (Rm 4.8; ver também 2 Co 5.19). Já é glorioso receber em nossa conta corrente a retidão de uma pessoa perfeita, independente de qualquer bem que porventura façamos. Mas é ainda mais glorioso não sermos considerados culpados de nossos pecados e más ações. DEUS, ao nos justi' ficar, tem graciosamente feito as duas coisas - e de modo lícito, pois o sacrifício de CRISTO pagou o preço.
Como ocorre a justificação, em relação ao crente? A Bíblia deixa duas coisas bem claras. Em primeiro lugar, não é por causa de nenhuma boa obra de nossa parte. Realmente, "CRISTO morreu debalde" se a justiça provém da obediência à Lei (Gl 2.21). Quem procura ser justificado mediante a Lei está sujeito à maldição (Gl 3.10), foi "separado de CRISTO" e "caiu da graça" (Gl 5.4). Quem imagina estar mais justificado depois de servir ao Senhor durante cinco ou 55 anos ou pensa que boas obras obtêm mérito diante de DEUS, deixou de compreender o ensino bíblico.
Em segundo lugar, no próprio âmago do Evangelho encontra-se a verdade de que a justificação tem sua origem na livre graça de DEUS (Rm 3.24) e sua provisão no sangue que CRISTO derramou na cruz (Rm 5.19), e nós a recebemos mediante a fé (Ef 2.8). É comum, quando ocorre a idéia da justificação no Novo Testamento, a fé (ou o crer) achar-se ligada a ela (cf. At 13.39; Rm 3.26,28,30; 4.3,5; 5.1; Gl 2.16; 3.8). A fé nunca é o fundamento da justificação. O Novo Testamento jamais afirma que a justificação é dia pistin ("em troca da fé"), mas sempre dia pisteos, ("mediante a fé"). A Bíblia não considera meritória a fé, mas simplesmente como a mão vazia estendida para aceitar o dom gratuito de DEUS. A fé tem sido sempre o meio de se receber a justificação, mesmo no caso dos santos do Antigo Testamento (cf.- Gl 3.6-9).
Tendo sido justificados pela graça, mediante a fé, experimentamos grandes benefícios de agora em diante. "Temos paz com DEUS" (Rm 5.1) e estamos preservados "da ira de DEUS" (Rm 5.9). Temos a certeza da glorificação final (Rm 8.30) e a libertação presente e futura da condenação (Rm 8.33,34; ver também 8.1). A justificação nos toma "herdeiros, segundo a esperança da vida eterna" (Tt 3.7). Em louvor à justificação, Charles Wesley escreveu:
Não temo agora a condenação;
Sou do Senhor e Ele é meu;
Vivo em JESUS minha salvação,
Vestido da justiça que vem de DEUS.

A Adoção
DEUS, no entanto, vai além de nos colocar em situação correta diante dEle. Conduz-nos também a um novo relacionamento, pois nos adota em sua família. A "adoção", um termo jurídico, é o ato da graça soberana mediante o qual DEUS concede todos os direitos, privilégios e obrigações da afiliação àqueles que aceitam JESUS CRISTO. Embora o termo não apareça no Antigo Testamento, a idéia se acha ali (Pv 17.2). A palavra grega huiothesia, "adoção", aparece cinco vezes no Novo Testamento, somente nos escritos de Paulo e sempre no sentido religioso. Ressalve-se que, ao sermos feitos filhos de DEUS, não nos tornamos divinos. A divindade pertence ao único DEUS verdadeiro.
A doutrina da adoção, no Novo Testamento, leva-nos, desde a eternidade passada e através do presente, até a eternidade futura (se for apropriada semelhante expressão). Paulo diz que DEUS "nos elegeu nele [em CRISTO] antes da fundação do mundo" e "nos predestinou para filhos de adoção por JESUS CRISTO" (Ef 1.4,5). Diz também, a respeito de nossa experiência presente: "Porque não recebestes o espírito de escravidão, para, outra vez, estardes em temor, mas recebestes o espírito de adoção de filhos [huiothesia], pelo qual clamamos [em nosso próprio idioma]: Aba [aramaico: Pai], Pai [gr. ho patêr]" (Rm 8.15). Somos plenamente filhos, embora ainda não sejamos totalmente maduros. Mas, no futuro, ao deixarmos de lado a mortalidade, receberemos "a adoção, a saber, a redenção do nosso corpo" (Rm 8.23). A adoção é uma realidade presente, mas será plenamente realizada na ressurreição dentre os mortos. DEUS nos concede privilégios de família mediante a obra salvífica do seu Filho incomparável, daquEle que não se envergonha de nos chamar irmãos (Hb 2.11).
A Perseverança
Se a doutrina da eleição provoca a ira dos incrédulos, entre os crentes a doutrina da perseverança surte o mesmo efeito. As caricaturas que os proponentes das várias opiniões pintam dos conceitos de seus oponentes usualmente não têm base na realidade. Alguns da persuasão wesleyana-arminiana insistem acreditarem os calvinistas que, uma vez salvos, podem cometer os pecados que quiserem, tantas vezes quantas quiserem, e ainda continuarem salvos-como se acreditassem que a obra santificadora do ESPÍRITO e da Palavra não os afeta. Por outro lado, calvinistas insistem que os wesleyanos-arminianos acreditam que qualquer pecado cometido compromete a salvação, de modo que "caem dentro e fora" da salvação cada vez que pecam-como se acreditassem que o amor, paciência e graça de DEUS são tão frágeis que rompem à mínima pressão. Qualquer pessoa bíblica e teologicamente alerta reconhecerá a mentira em cada uma dessas caricaturas. A presença de extremos tem levado a generalizações lastimáveis.
Naturalmente, é impossível aceitar como igualmente verdadeiras as posições calvinista e wesleyana. Ou a Bíblia oferece à pessoa verdadeiramente salva a garantia de que, por mais longe que se afaste da prática do cristianismo bíblico, não se apartará definitivamente da fé, ou essa garantia não existe. Ambas as posições não podem ser verdadeiras. Mas é possível buscar uma orientação bíblica mais equilibrada.
Biblicamente, perseverança não significa que todo aquele que professar a fé em CRISTO e se tornar parte de uma comunidade de crentes tem a segurança eterna. Em 1 João 2.18,19, lemos que o surto de "anticristos" demonstra que "é já a última hora. Saíram de nós, mas não eram de nós; porque, se fossem de nós, ficariam conosco; mas isto é para que se manifestasse que não são todos de nós". Este é um dos textos prediletos dos calvinistas, para apoiar o argumento de que os que "saem" da fé a ponto de se perderam eram apenas crentes nominais. Alguns argumentam que Simão, o mago (At 8.9-24), é um exemplo de semelhante pessoa. Os não-calvinistas não prestam nenhum serviço à sua posição teológica quando procuram diminuir o impacto dessas declarações. Nem todas as pessoas em nossas igrejas e nem todos os que oferecem evidências exteriores de fé são crentes de verdade. JESUS disse a alguns que reivindicavam possuir poderes espirituais extraordinários (e Ele não negava o fato) nunca os haver conhecido (Mt 7.21-23). Declarações desse tipo não visam aterrorizar o coração do crente genuíno e sincero, mas advertir aqueles que dependem de realizações exteriores para ter a certeza da salvação.
De acordo com as Escrituras, a perseverança refere-se à operação contínua do ESPÍRITO SANTO, mediante a qual a obra que DEUS começou em nosso coração será levada a bom termo (Fp 1.6). Parece que ninguém, seja qual for a sua orientação teológica, é capaz de levantar objeções a semelhante declaração. E gostaríamos que o assunto pudesse ser deixado como está. Porém, tendo em vista a necessidade da exegese da bíblica com integridade, tal desejo revela-se impossível. O que diz a Bíblia, especificamente, a esse respeito?
Há relevante apoio, no Novo Testamento, à posição calvinista. JESUS não perderá nada de tudo quanto DEUS lhe deu (Jo 6.38-40). As ovelhas jamais perecerão (10.27-30). DEUS sempre atende as orações de JESUS (11.42), e Ele orou ao Pai que guardasse e protegesse os seus seguidores (17.11). Somos conservados por CRISTO (1 Jo 5.18). O ESPÍRITO SANTO em nós é o selo e a garantia da nossa redenção futura (2 Co 1.22; 5.5; Ef 1.14). DEUS guardará o que confiarmos a Ele (2 Tm 1.12). Ele é poderoso para salvar em todo o tempo aqueles que nEle creem (Hb 7.24,25). O seu poder nos guarda (1 Pe 1.5). DEUS em nós é maior do que qualquer coisa fora de nós (1 Jo 4-4). Que garantias grandiosas! Nenhum crente pode (nem deve) viver sem elas. E, se fosse apenas isto que o Novo Testamento tivesse a dizer, a posição do calvinismo estaria segura e inabalável.
Porém há mais. Os wesleyanos-arminianos aceitam sem hesitação a relevância e garantias dos textos supra. Mas parece que os calvinistas às vezes apelam a métodos tortuosos, na exegese e na hermenêutica, a fim de evitar as implicações de outros textos neotestamentários. Não é possível apenas a apostasia formal, mas também a real (Hb 6.4-6; 10.26-31). A palavra grega apostasia ("apostasia", "rebelião") provém de aphistêmi ("partir", "ir embora") e transmite o conceito de modificar a posição em que a pessoa está de pé. Millard Erickson diz: "O escritor... está tratando de uma situação hipotética... JESUS [Jo 10.28] está nos dizendo o que vai acontecer: as suas ovelhas não perecerão. Então, pode-se entender que a Bíblia diz que poderíamos apostatar, porém, mediante o poder de CRISTO para nos conservar, isso não nos acontecerá".
Se tal pode acontecer, por que a possibilidade existiria somente em hipótese? Erickson e a maioria dos calvinistas referem-se a Hebreus 6.9 como evidência: "Mas de vós, ó amados, esperamos coisas melhores e coisas que acompanham a salvação, ainda que assim falamos". Semelhante justificativa fica sendo tênue à luz de Hebreus 6.11,12: "Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que, pela fé e paciência, herdam as promessas". Continuar na fé e na prática confirma nossa esperança e herança. E realmente possível fazer uma exegese de Hebreus 10.26-31, mesmo a despeito do v. 39, de modo a concluir que se refira meramente a uma possibilidade lógica, e não real?
Prosseguindo nesse raciocínio, citemos a advertência de JESUS: "O amor de muitos se esfriará. Mas aquele que perseverar até ao fim será salvo" (Mt 24.12,13). Ele diz que olhar para trás nos torna indignos do Reino (Lc 9.62) e adverte: "Lembrai-vos da mulher de Ló" (Lc 17.32). JESUS diz ainda que, se a pessoa não permanecer nEle, será cortada (Jo 15.6; cf. Rm 11.17-21; 1 Co 9.27). Paulo diz que podemos ser alienados de CRISTO e cair da graça (Gl 5.4); que alguns naufragaram na fé (1 Tm 1.19); que alguns abandonarão (gr. aphistêmi) a fé (1 Tm 4.1); e que "se o negarmos, também ele nos negará" (2 Tm 2.12). O escritor aos Hebreus diz que "a casa [de DEUS] somos nós, se tão-somente conservarmos firme a confiança e a glória da esperança até ao fim" (3.6); que devemos cuidar para que ninguém entre nós tenha "um coração mau e infiel, para se apartar [gr. aphistamai] do DEUS vivo" (3.12); e que "nos tornamos participantes de CRISTO, se retivermos firmemente o princípio da nossa confiança até ao fim" (3.14).
Pedro menciona aqueles que "depois de terem escapado das corrupções do mundo, pelo conhecimento do Senhor e Salvador JESUS CRISTO, forem outra vez envolvidos nelas e vencidos, tornou-se-lhes o último estado pior do que o primeiro. Porque melhor lhes fora não conhecerem o caminho da justiça do que, conhecendo-o, desviarem-se do santo mandamento que lhes fora dado. Deste modo, sobreveio-lhes o que por um verdadeiro provérbio se diz: O cão voltou ao seu próprio vômito; a porca lavada, ao espojadouro de lama" (2 Pe 2.20-22).
João diz que a vida eterna não é possessão do crente, independente de ele ter a CRISTO (1 Jo 5.11,12). O Pai "deu também ao Filho ter a vida em si mesmo" no mesmo sentido em que o Pai tem vida por seu próprio direito e natureza (Jo 5.26). A nós não foi concedido esse direito. A vida eterna é a vida de CRISTO em nós, e nós a possuímos somente à medida que estamos "em CRISTO".
Os calvinistas, dizendo que essas advertências são essencialmente hipotéticas para os crentes verdadeiros, empregam várias ilustrações. Erickson refere-se a pais que temem que seus filhos saiam correndo para a rua e sejam atropelados por um automóvel. Eles têm duas opções: construir um muro alto que impossibilite a saída de dentro do quintal (mas isto restringiria a liberdade da criança); ou podem advertir a criança contra o perigo de sair correndo para a rua (neste caso, a criança poderia fazer isso, mas não o fará). Se, porém, os automóveis (os perigos) realmente não existem, e se a criança sabe disso, funcionará realmente a advertência como dissuasão?
Permita-me uma outra analogia. Vamos imaginar que estamos dirigindo nosso carro pela estrada, à noite. Em diferentes trechos, passamos por sinais de advertência: "Curva fechada!" "Ponte caída!" "Deslizamento!" "Estrada estreita e sinuosa!" "Declive forte!" "Obras na estrada!" E nenhum desses perigos acaba surgindo. Iremos pensar que foi uma brincadeira de mau gosto, ou algum louco colocou aqueles sinais. De que maneira seriam advertências, se não correspondessem à realidade?
Os calvinistas argumentam ter a certeza da salvação em virtude de sua posição teológica, ao contrário dos wesleyanos-arminianos. Mas seria essa a verdade? Tendo em vista passagens bíblicas como os capítulos 6 e 10 de Hebreus e as demais mencionadas, como podem os calvinistas alegar maior certeza de salvação que os arminianos? Como poderão ter certeza de estar entre os eleitos antes de chegar ao Céu? Se a pessoa pode chegar tão perto do Reino quanto descrito na Epístola aos Hebreus, em 2 Pedro e em Mateus 7.22 e ainda não estar "dentro" do Reino, de onde provém essa certeza maior? Na realidade, a certeza da salvação dada a todos os crentes verdadeiros mediante o ESPÍRITO SANTO que em nós habita, é que, pela graça mediante a fé, estamos em CRISTO, nossa redenção e justiça. E, estando nEle, temos a segurança eterna. Esta verdade aplica-se aos calvinistas e também aos wesleyanos-arminianos. Ambos os pontos de vista concordam que não ousamos presumir, mas não precisamos ter medo.
Um modo apropriado de encerrar esse capítulo é com adoração, usando as palavras do hino imortal de Isaac Watts.
Ao contemplar a tua cruz E o que sofreste ali, Senhor,  Sei que não há, ó meu JESUS, Um bem maior que o teu amor.  Não me desejo gloriar  Em nada mais senão em ti; Pois que morreste em meu lugar, Teu, sempre teu, serei aqui. De tua fronte, mãos e pés,  De teu ferido coração,  Teu sangue, em dores tão cruéis, Deste por minha redenção. Ao contemplar a tua cruz,  O teu sofrer, o teu penar,  Quão leve sinto, ó meu JESUS,  A que em meus ombros vem pesar! Tudo que eu possa consagrar  Ao teu serviço, ao teu louvor, Em nada poderei pagar  Ao que me dás em teu amor!"

 FONTE: http://www.apazdosenhor.org.br/profhenrique/licao5-aods-4tr17-a-obra-salvifica-de-cristo.htm






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