segunda-feira, 16 de outubro de 2017

Lição 04 – A Singularidade das Escrituras: Sola Scriptura


    Lição 04 – A singularidade das Escrituras (Sola Scriptura)

Central gospel
Assunto: Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Trimestre: 4° de 2017
Comentarista: Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora: Central Gospel
2 Timóteo 3.14-17
         TEXTO BÍBLICO BÁSICO

14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido,
15 E que desde a tua meninice sabes as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que há em Cristo Jesus.
16 Toda a Escritura é divinamente inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça;
17 Para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.


 Romanos 15.1-4
1 MAS nós, que somos fortes, devemos suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos.
2 Portanto cada um de nós agrade ao seu próximo no que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te injuriavam.
4 Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos esperança.
                               
                                  TEXTO ÁUREO
Examinais as Escrituras, porque vós cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. João 5.39

                               SUBSÍDIOS PARA O ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Salmo 119.47,48, 92-94,97: A tua lei é a minha meditação em todo o dia
3ª feira - Lucas 16.19-31: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos
4ª feira - Mateus 5.17-20: Nem um jota ou um til se omitirá da Lei
5ª feira - Atos 17.10-12: De bom grado receberam a Palavra
6ª feira – Gálatas 1.10-1.7: O Evangelho não é segundo os homens Sábado - 2 Pedro 1.19-21: Homens santos, Inspirados pelo Espírito Santo

                                   OBJETIVOS
Ao término do estudo bíblico, o aluno deverá:
•  saber em que consiste a Tradição (oral e escrita) da Igreja;
•  compreender o princípio de sola Scriptura;
• entender que a Escritura é a única autoridade normativa, segundo a qual a Igreja deve moldar a sua fé.
                 
                                  ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor,
Como mencionado na lição anterior, entre a terceira e a sexta lições dessa revista, apresentaremos um panorama geral da teologia reformada, especialmente no que tange à soteriologia dos reformadores.

Assim, para uma melhor compreensão do conteúdo, sempre que necessário, recorreremos ao Concílio de Trento, à Confissão de Fé de Westminster (CFW) e ao Concílio Vaticano II.

Ao Concílio de Trento, por apresenta-nos, com evidências documentais, a posição romana no período em que a teologia reformada floresceu; à CFW, por ser considerada a obra-prima da teologia reformada; e, ao Concílio Vaticano II, porque, a partir deste, o catolicismo passou a adotar uma postura menos conservadora, mais ecuménica.
Excelente aula!
                        COMENTÁRIO
                    Palavra introdutória

Nesta lição, especificamente, discorreremos sobre a centralidade das Escrituras na Reforma, trazendo, no decorrer do estudo, uma reflexão sobre os desvios teológicos atuais — especialmente entre os cristãos de confissão protestante —, que poderiam ser evitados, se a herança dos reformadores fosse o princípio norteador de nossas práticas e intenções.

                            1. A TRADIÇÃO CRISTÃ

A Tradição( lt.traditto, tradere = entregar; passar adiante) sempre foi uma autoridade espiritual presente na teologia cristã (medieval e hodierna), uma vez que representa a continuidade e permanência da doutrina e cosmovisão da Cristandade.

A Tradição é corretamente qualificada de oral; no entanto, no decorrer dos tempos, ela também foi fixada por escrito (sendo registrada, muitas vezes, em documentos pontifícios, como as bulas e encíclicas papais, por exemplo).

Para uma melhor apreensão do conteúdo desta  lição,  vejamos,  resumidamente, em que consistem as tradições oral e escrita da Igreja.

1.1. A tradição oral
Entende-se por tradição oral tudo aquilo que a Igreja recebeu dos apóstolos — e que a eles foi confiado pelo próprio Cristo —,- deste modo, está essencialmente radicada no testemunho daqueles a quem Jesus deixou a missão de anunciar o Evangelho (Mc 16.15), testemunho esse assumido por seus sucessores (2 Tm 2.2).
O entendimento romano é este: a Igreja não pode ser guiada unicamente pela revelação escrita (a Bíblia), mas precisa ser dirigida também pela revelação oral, pois, sem essa última, nem mesmo o texto bíblico existiria do modo como o conhecemos hoje, uma vez que ele (o texto) foi vivido e — apenas décadas depois — redigido pela Igreja.

 O termo Igreja Católica é posterior ao Concílio deTrento (1545-1563), uma forma de diferenciá-la da Igreja Protestante. Antes da Reforma, só existia o que se convencionou chamar de Cristandade.

1.2. A tradição escrita
Diz respeito ao texto bíblico — produto da tradição oral —, escrito pelos quatro evangelistas e por outros autores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo.

Vale ressaltar, neste ponto, que boa parte da tradição oral não foi registrada, sequer, em livros apócrifos; algumas são transmitidas, ainda hoje, por bispos e papas, estando presentes apenas em documentos pontifícios. Exemplo: a assunção e virgindade eterna de Maria. De acordo com o Magistério da Igreja Romana, tais eventos não são citados explicitamente na Bíblia, porque, segundo o corpo clerical, o objetivo do texto sagrado é falar de Jesus.

1.3. A posição ocupada pelas Escrituras na Igreja Medieval
Por muitos séculos, a Igreja Romana considerou a autoridade da tradição oral superior à autoridade das Escrituras. Isso explica a razão de, nos dias de Lutero, os fiéis terem-se desviado dos valores primordiais do cristianismo: suas práticas não estavam baseadas única e exclusivamente nos escritos sagrados; muitos ensinamentos, inclusive, não eram interpretações do texto bíblico, mas instrumentos de manipulação do Clero, utilizados para alcançar os objetivos pretendidos.

O fato de a Igreja Romana sobrepor a autoridade da Tradição à autoridade das Escrituras levou os fiéis a adotarem práticas absolutamente contrárias aos ensinamentos bíblicos, tais como: as orações aos santos, a mariolatria (veneração a Maria, mãe do Senhor), a transubstanciação, o batismo de crianças, o pagamento de indulgências e a autoridade papal, por exemplo.
                 
                            2. SOM SCRIPTURA

Aprioristicamente, é preciso dizer que a Tradição jamais foi rejeitada pelo simples fato de ser tradição; os autores sagrados, inclusive, tanto destacam sua importância (2 Ts 2.15) quanto criticam o mau uso dela (Mt 15.2,3,6; Mc 7.3,5,8,9,13).

A partir desse entendimento, precisamos responder ao seguinte questionamento: o que a Igreja de Cristo precisa rejeitar, então? A resposta é simples: todo conjunto de ideias e valores culturais, morais e espirituais que contradigam, de algum modo, a Palavra de Deus.
Os reformadores, indiscutivelmente, consideravam a autoridade dos Credos (Apostólico; Niceno e Calcedoniano); entretanto, opuseram-se à autoridade da tradição oral, independente da tradição escrita; eles defendiam que a única e infalível autoridade dentro da Igreja é a Bíblia.

2.1. O marco histórico do conceito de sola Scriptura
Lutero divergia dos ensinos de sua época, que eram baseados na Tradição (bulas, declarações, concílios, dentre outros documentos pontifícios). Ao ser ameaçado de excomunhão e morte, caso não se re-tratasse formalmente de suas posições expressas nas 95 teses afixadas na Catedral de Wittenberg, Lutero disse: Não posso submeter minha fé quer ao Papa quer aos concílios, porque é claro como o dia, que eles têm frequentemente errado e se contradito um ao outro (...)• Esse evento serve de marco histórico para o conceito de sola Scriptura (somente a Escritura).

2.2. Em que consiste o conceito de sola Scriptura
Apologistas romanos, desde a Reforma, por ignorância — culposa ou dolosa tentam distorcer, de forma irónica, a doutrina de sola Scriptura a seu bel prazer. Deste modo, é importante dizer que a teologia reformada, quando utiliza a expressão sola Scriptura, não está rejeitando a realidade de que a Palavra de Deus, antes de ser escriturada, foi transmitida oralmente aos homens; também não está negando que o Eterno revela-se à humanidade por meio de elementos naturais (revelação geral, não salvífica); do mesmo modo, não está minimizando a atuação do Espírito Santo na vida do crente; tampouco está questionando a necessidade de haver, na Igreja, mestres, pastores e evangelistas.
grito "sola Scriptura!" declara, fundamentalmente, que a Palavra de Deus — anunciada ao longo dos séculos por profetas e apóstolos — encontra-se, hoje, registrada nas Sagradas Escrituras, e que essa revelação escrita é clara o suficiente para ensinar ao povo de Deus quanto à salvação e à santificação.

A teologia reformada entende que a tradição oral pode, sim, ser útil na compreensão das origens do cristianismo — desde que se possa demonstrar que ela (a tradição oral) tem origem no ensino apostólico — ; entretanto, também defende que nenhum tratado teológico, nenhuma opinião religiosa, nenhum concílio que contradiga as Escrituras pode servir de fundamento para a fé cristã.
Sola Scriptura significa, antes de tudo, que as Escrituras Sagradas (do Antigo e do Novo Testamento) são a única regra de fé e prática para os cristãos, pela simples razão de elas — e tão somente elas — serem inspiradas por Deus.


2.3. A base bíblica da doutrina reformada
Obviamente, não encontraremos no texto bíblico qualquer menção ao termo sola Scriptura — ao menos não como frase declarativa. Entretanto, o próprio texto sagrado revela-nos duas realidades indiscutíveis:
• a Bíblia é inspirada por Deus;
• por meio dela, o Senhor fala de maneira autoritativa e definitiva ao Seu povo (Jo 5.24; 20.30,31; 2 Pé 1.20,21; 2 Tm 3.14-17; l Co 14.37,38).

2.4. O texto canónico
Não se pode falar em sola Scriptura, um dos fundamentos teológicos da Reforma Protestante, sem mencionar a diferença existente entre a Bíblia Romana e a Bíblia Protestante.
Desde os tempos de Lutero, tem havido um sério debate sobre se a coleção de livros apócrifos deve ou não pertencer à Bíblia. A divergência crucial surgiu em torno de 11 obras literárias do período do Antigo Testamento [sete livros (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, l e 2 Ma-cabeus) e quatro partes de outros tomos (adições a Daniel e adições a Ester)].
Os judeus e os protestantes, unanimemente, consideram-
-nos como não canónicos, e os católicos romanos declararam-
-nos canónicos, ou canónicos de segunda chamada, no Concílio de Trento (1546).
Sempre houve escritos seculares que tentaram tratar os livros apócrifos como tendo o mesmo grau de autoridade que um texto canónico, ou como tendo ainda maior autoridade. Contudo, precisamos lembrar-nos de que confiar em informações contidas em livros que foram considerados espúrios, desde os primórdios do cristianismo, é um ato de grande insensatez.

3. ADVERTÊNCIA À IGREJA REFORMADA: QUEM TEM A RESPOSTA DEFINITIVA?

3.1. O Papa não tem a resposta definitiva
A partir do quarto século, com Constantino, os ritos cristãos começaram a ser definidos pelos líderes da Igreja — naquela época, havia cinco patriarcas (ou bispos) nas principais cidades do Império Romano, que se declaravam herdeiros dos apóstolos de Cristo. A partir do quinto século, definiu-se, então, que o bispo de Roma seria o mais importante dentre eles e seria chamado de Papa (gr.pappas, palavra carinhosa para pai). O sumo pontífice atuaria como vigário (It. vicariu = substituto) de Cristo na terra, sendo, deste modo, o líder supremo da Igreja.
Em linhas gerais, a Igreja Romana defende que o Papa — sucessor daquele que recebeu as chaves do Reino dos céus (Mt 16.19) — é infalível quando, a partir do trono de Pedro, fala nas condições ex cathedra sobre fé, moral e/ou costumes. Na prática, tal declaração normativa não tem qualquer valor, pois, só quem pode dizer se um Papa falou ex cathedra ou não é o próprio Papa.

3.2. As denominações protestantes não têm a resposta definitiva
Existe a crença entre os cristãos modernos de que a denominação cristã da qual fazemos parte está sempre certa. Isso também é uma inverdade, pois ninguém está isento de erros neste mundo. Os concílios são compostos por pessoas que, por mais conhecedoras das Escrituras que sejam, estão sujeitas a falhas. Obviamente, quanto maior for o apego dos líderes à sã doutrina, quanto maior for sua capacidade de aplicar os ensinamentos bíblicos às circunstâncias da vida, maiores chances terão de bem dirigir a Igreja de Cristo.

Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura (Confissão de Fé de Westminster).

                                               CONCLUSÃO

Mas, afinal, se nem a Tradição, nem o Papa, nem as denominações cristãs têm a palavra final, qual é a autoridade normativa, segundo a qual a Igreja deve moldar a sua fé? Para a Igreja Reformada, não são os costumes (por mais arraigados que estejam), não é a opinião das pessoas (por mais intelectualizadas que sejam), nem a história das instituições (por mais respeitáveis que sejam) que deve nortear a nossa fé, mas sim o Espírito Santo, que fala na Escritura.

Fonte :   https://sub-ebd.blogspot.com.br 



     ADVEC – ASSEMBLEIA DE DEUS VITÓRIA EM CRISTO | TAQUARA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL – CLASSE DOS PROFESSORES LPD n.º 52 – Reforma Protestante 
                                                          4.º Trimestre de 2017

Lição 04 – A Singularidade das Escrituras: Sola Scriptura (Dc. Werner Freitas)
 Texto Bíblico: 2 Tm 3.14-17, Rm 15.1-4
 Texto Áureo: Jo 5.39
1.
                      INTRODUÇÃO
Iniciamos citando um acontecimento fundamental para a origem do conceito em questão: a resposta de Lutero na Dieta de Worms (1521), que ao ser indagado se iria se retratar de suas posições expressas nas 95 teses, respondeu: “A menos que eu seja convencido pelas Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém.” Em outras palavras, Lutero declarou que só aceitaria o que pudesse ser provado pelas Escrituras: “Sola Scriptura”. Aceitando somente a Escritura, Lutero deduziu que a salvação era somente pela graça (Sola Gratia), somente pela fé (Sola Fide) na pessoa e obra de Cristo (Solus Christus), redundando em glória somente a Deus (Soli Deo gloria), divergindo, assim, do que era ensinado na sua época e que era baseado na tradição, bulas e declarações de concílios. Em outras palavras, o conceito de Sola Scriptura é fundamental para o edifício da teologia da Reforma. No texto bíblico que embasa esta lição está escrito “permanece” (2 Tm 3.14), ou seja, uma clara advertência para não fugir, não sair dela – não ser atraído por aquilo que não tem inspiração.
2. 
                                        A TRADIÇÃO CRISTÃ
A tradição representa a continuidade e a permanência da doutrina da cristã, que se manifestou de forma oral e também por escrita. O próprio evangelho foi transmitido a muitos de forma oral prioritária e urgentemente através da imperativa declaração: Ide e pregai! Assim os apóstolos transmitiram aquilo que receberam diretamente do nosso Senhor Jesus Cristo, sendo também observável na história de Israel como citado nos primeiros versos do Salmo 78. Já a tradição escrita se apoia na inspiração fiel e verdadeira do Espírito Santo nas sagradas letras não havendo uma “nova renovação ou revelação” do Cânon que foi deixado para nos fazer sábio para a salvação pela fé no único Senhor e Salvador Cristo Jesus e Sua obra redentora.
3.   
                              SOLA SCRIPTURA
Quando o termo “Sola Scriptura” foi proposto não estava jamais rejeitando a tradição (2 Ts 2.15) mas afirmando que a mesma deveria ser “provada no fogo” da Palavra, pois muitos conceitos tradicionais foram inseridos em bulas e outros documentos pontífices que contrariam claramente as doutrinas básicas da Palavra de Deus (Mt 15.2-6). Uma igreja que é marcada pela presença do Espírito da Verdade que guia em toda a verdade (Jo 16.13,14) não permite de forma alguma a inserção de ensinos e tradições que causem adultério, substração ou adição das escrituras, mas ela tem impressa a Palavra do Eterno em sua mente e em seu coração e a considera como autoridade máxima e insubstituível para correção, ensino, exortação, instrução e pregação em justiça onde somente Jesus Cristo, o Verbo Vivo é manifesto, revelado e glorificado. Página 2 de 2 4.

                     CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que “Sola Scriptura” significa que a única regra de fé e prática para os cristãos são as Escrituras Sagradas do Antigo e do Novo Testamento, pela simples razão de que elas, e somente elas, são inspiradas por Deus e através dela é norteada pelo Espírito Santo que testifica, revela e glorifica o Filho de Deus.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bíblia de Estudo de Genebra, 2 ed. Barueri, SP, Sociedade Bíblica do Brasil, Cultura Cristã, 2009. COSTA SANTOS, R. R. Introdução Bíblica – a vontade de Deus através de Sua Palavra escrita, Pindamonhangaba. IBAD, 2006. FRAME, J. M. A confissão de fé de Westminster, São Paulo: Vida Nova, 1988. LLOYDE-JONES, D. M. Igreja Católica: uma radiografia. Sermão proferido em Westminster Chapel, Londres em maio de 1963. LOPES, A. N. Sola Scriptura. Disponível em: < www.ipb.com.br > acessado em 09 de outubro de 2017

FONTE: ADVEC – ASSEMBLEIA DE DEUS VITÓRIA EM CRISTO | TAQUARA ESCOLA 

                             ✏ SOLA SCRIPTURA


         O brado da Reforma Protestante ecoou de dentro da Escritura. A Reforma não foi a abertura de um novo caminho religioso, mas uma volta às antigas veredas. Não foi uma nova forma de ver a revelação divina, mas uma volta às Escrituras do Antigo e do Novo Testamento. Não foi a adoção de novas doutrinas, mas uma volta à doutrina dos apóstolos. O resgate da autoridade e da centralidade das Escrituras foi o pilar principal da Reforma. Destacaremos aqui quatro pontos importantes:
Em primeiro lugar, a Escritura é a única fonte que nos mostra o que devemos crer. A Bíblia é a nossa única regra de fé. A tradição não está em pé de igualdade com a Bíblia. Os dogmas e decisões dos concílios eclesiásticos precisam estar debaixo da autoridade da Bíblia. A igreja está sob a autoridade da Bíblia. Nenhum igreja ou concílio pode determinar o que devemos crer. O conteúdo de nossa fé vem da Palavra de Deus e dela somente. Nossa base doutrinária procede não da interpretação pessoal deste ou daquele teólogo, mas da Escritura. A Bíblia e só ela é a palavra de Deus infalível, inerrante e suficiente. Não aceitamos nenhuma revelação forânea às Escrituras. Não temos novas revelações. Mesmo que um anjo descesse do céu, para pregar outro evangelho, deveria ser rejeitado como anátema. A palavra de Deus jamais caduca nem fica obsoleta.
Em segundo lugar, a Escritura é a única autoridade que nos ensina o que devemos fazer. A Bíblia é a nossa única regra de prática. Nossa fé determina nossas ações. O que cremos pavimenta o caminho do que fazemos. A teologia é mãe da ética. O credo desemboca na conduta. Assim como um homem crê, assim ele é. Nossas experiências não suplantam a verdade revelada. A Bíblia regula e julga nossas experiências em vez de nossas experiências relativizarem a Bíblia. Não é o que eu sinto que é a norma do meu viver, mas o que Deus diz em sua palavra. Não é que a igreja diz em suas encíclicas ou dogmas que constitui o fundamento de nossas ações, mas o que está registrado na palavra de Deus. A verdade de Deus não é apenas um preceito a ser crido, mas também e, sobretudo, uma norma a ser praticada.
Em terceiro lugar, a Escritura é a única revelação divina que nos aponta para Jesus, o nosso Salvador. Tanto o Antigo como o Novo Testamento enfatizam a pessoa e a obra de Jesus Cristo. O Antigo Testamento mostra Deus separando um povo para si e por meio dele, preparando o mundo para a chegada do Messias. O Novo Testamento mostra como esse Messias veio e o que ele fez para salvar o seu povo. O Antigo Testamento mostra o Cristo da profecia; o Novo Testamento revela o Cristo da história. Patriarcas, profetas, reis e sacerdotes foram um tipo de Cristo. O tabernáculo, o templo, os rituais e as festas judaicas apontavam para Jesus. Tudo era sombra da realidade que se cumpriu em Jesus. Ele é o eixo das Escrituras, o centro da história, o Salvador do mundo. As Escrituras testificam de Jesus e apontam-no como o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos.
Em quarto lugar, a Escritura é o único conteúdo da pregação da igreja. Não pregamos ao mundo palavras de homens, mas a palavra de Deus. Ela é inspirada, viva, eficaz e penetrante. Ela é inerrante em seu conteúdo, infalível em seu propósito e suficiente em sua mensagem. Não podemos tirar nada dela nem a ela acrescentar coisa alguma. Precisamos pregar toda a Bíblia e só a Bíblia. Não criamos a mensagem, apenas a transmitimos. A palavra é o conteúdo da nossa pregação. Ela é o trigo nutritivo da verdade. Ela é mais preciosa do que o ouro e mais doce do que o mel. É remédio para o enfermo, alimento para o faminto, água para o sedento e luz para o errante. Ela é a espada de dois gumes. Por ela avançamos contra as forças do mal e por ela nos defendemos dos ataques do inimigo. Sua mensagem é penetrante e sempre oportuna. A Escritura não pode falhar. Os céus bem como a terra passarão, mas a palavra de Deus jamais vai passar. Ela é eterna. Ela nos basta. Permanece o lema da Reforma: Sola Scriptura!

FONTE : http://hernandesdiaslopes.com.br

                    ✏Sola Scriptura - Somente as Escrituras

Por Morgana Mendonça dos Santos

       O Quinque Solae é como tornou-se conhecido os cinco pilares da Reforma Protestante, ou seja, os cinco pontos fundamentais do pensamento da Reforma Protestante. São esses: Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia, Solo Christus e Soli Deo Glória. Nossa ênfase nesse texto é Sola Scriptura, somente as Escrituras. O grito latino para combater a situação desviada que vivia a igreja no século XVI. Poderia me ater a toda questão histórica, política, filosófica, social e religiosa do tempo, mas preferi nesse pequeno ensaio enfatizar a natureza das Escrituras Sagradas. Paulo na sua carta ao jovem Timóteo declara um dos pontos centrais da doutrina que tem como reflexo a Reforma Protestante.
“Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” - 2 Timóteo 3.16-17
Paulo afirma a divindade, inspiração e suficiência das Escrituras. A Reforma Protestante não foi um movimento criado pelo homem, o próprio Deus em Sua soberania e providência, em um momento tão crítico por onde a igreja caminhava, levantou o monge agostiniano Martinho Lutero para no dia 31 de outubro de 1517 fixar nas portas do Castelo de Wittenberg, suas 95 teses, contra aquilo que a Igreja Católica Romana estava pregando. O papa Leão X querendo reconstruir a basílica de São Pedro, cria as indulgências como um meio para arrecadar fundos financeiros de forma ilegítima e antibíblica para a construção. Lutero, ao deparar com esse desvio, conclama o Somente as Escrituras, desejando não dividir a igreja nem desvia-la da verdade, pelo contrário, levar a igreja de volta ao antigo evangelho, ao verdadeiro evangelho, as Escrituras Sagradas, a doutrina dos apóstolos.
Em alguns momentos importantes, algumas citações do reformador que nos leva para mais próximo do sentimento que florescia cada dia mais em seu coração:
“Um simples leigo armado com as Escrituras é maior que o mais corajoso Papa sem elas.” — Disputa teológica com João Maier, em 14 de julho de 1519.
“A menos que possa ser refutado e convencido pelo testemunho da Escritura e por claros argumentos (visto que não creio no papa, nem nos concílios; é evidente que todos eles frequentemente erram e se contradizem); estou conquistado pela Santa Escritura citada por mim, minha consciência está cativa à Palavra de Deus. Não posso e não me retratarei, pois é inseguro e perigoso fazer algo contra a consciência... Que Deus me ajude. Amém!” Discurso de Lutero na Dieta de Worms (1521).
Portanto, no que se refere a natureza das Escrituras, de forma bem objetiva temos cinco pontos:

1. As Escrituras são INSPIRADAS: A palavra grega para "inspirado" significa literalmente "respirado por Deus para fora".
“sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo.” - 2 Pedro 1.20-21
Em seu livro Sola Scriptura, Paulo Anglada afirma: "As Escrituras tem natureza divino-humana - elas são a Palavra de Deus escrita em linguagem humana, por pessoas em pleno uso de suas faculdades. Contudo, tais pessoas foram de tal modo dirigidas pelo Espírito Santo que tudo o que registraram nas Escrituras é livre de erro, constituindo-se em revelação infalível e inerrante de Deus ao homem." [1]
Na Confissão de Fé de Westminster lemos sobre o conceito de inspiração das Escrituras: "O Antigo Testamento em hebraico (língua original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus, lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança pela paciência e conforto das Escrituras." [2]

2. As Escrituras são INERRANTES: "Inerrante" significa simplesmente "sem erros" ou "verdadeiro".
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, de modo nenhum passará da lei um só jota ou um só til, até que tudo seja cumprido.” - Mateus 5.17-18
“A tua palavra é fiel a toda prova, por isso o teu servo a ama.” - Salmos 119.140
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” - João 17.17
"Inerrância" trata-se de um conceito estreitamente relacionado, mas é um termo mais recente e menos largamente, aceito. Traz a conotação de que a Bíblia não contém nenhum erro de ação (erros materiais), nem contradições internas (erros formais). No entanto, devemos compreender que tratamos aqui com referência aos originais e não as cópias. Na baixa crítica, isto é, na manuscritologia bíblica, entendemos a questão sobre erros voluntários ou involuntários dos copistas, ou seja, na cópia dos manuscritos por diversos fatores. Os conceitos de inerrância e infalibilidade sur¬giram em discussões teológicas concernentes à inspiração das Escrituras. Outros reformadores também declararam:
"As Escrituras nunca erram…. onde as Sagradas Escrituras estabelecem algo que deve ser crido, ali não devemos desviar-nos de suas palavras." - Martinho Lutero
"O registro seguro e infalível". "A regra certa e inerrante". "A Palavra infalível de Deus". "Isenta de toda mancha ou defeito". - João Calvino
Provavelmente, os dois acontecimentos mais significativos no tocante à doutrina da infalibilidade e da inerrância foram a declaração sobre as Escrituras na Aliança de Lausanne (1974) e a Declaração de Chicago (1978) do Concílio Internacional da Inerrância Bíblica.


3. As Escrituras são INFALÍVEIS: "Infalibilidade" pode ser chamada de conseqüência subjetiva da inspiração divina, isto é, define a Escritura como confiável e fidedigna para aqueles que se voltam para ela em busca da verdade de Deus. Como fonte da verdade, a Bíblia é "indefectível" (ou seja, não pode falhar ou insurgir-se contra o padrão da verdade). Conseqüentemente, nunca falhará ou decepcionará qualquer um que confie nela.
“Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora dito da parte do Senhor pelo profeta.” - Mateus 1.22
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.” - Marcos 13.31

4. As Escrituras são AUTORITATIVAS: É divina, logo, não pode ser igualada a tradição, nem muito menos ao magistério. Nem aos pronunciamentos "ex cathedra" do sumo pontífice. As Escrituras tem origem e caráter divino, ou seja, está acima irrevogavelmente.
“Por isso nós também, sem cessar, damos graças a Deus, porquanto vós, havendo recebido a palavra de Deus que de nós ouvistes, a recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo ela é na verdade) como palavra de Deus, a qual também opera em vós que credes.” - 1 Tessalonicenses 2.13
Em alguns dos seus artigos, Alderi Souza escreve:
"A autoridade da Escritura é superior à da Igreja e da tradição. Contra a afirmação católica: 'a Igreja ensina' ou 'a tradição ensina', os reformadores afirmavam: 'a Escritura ensina'." [3]
Paulo Anglada, no seu livro Sola Scriptura, nos traz uma boa definição: "A autoridade da Bíblia decorre da sua origem divina. Ela é reconhecida pelo crente plenamente pelo testemunho interno do Espírito Santo, e não pode ser limitada de forma alguma. (...) Devemos ter cuidado com os grandes usurpadores da autoridade das Escrituras: o tradicionalismo, o emocionalismo e o racionalismo. (...) A fé reformada repudia a teologia liberal racionalista, que nega a autoridade das Escrituras; rejeita a neo-ortodoxia existencialista, que torna subjetiva a autoridade da Bíblia; e se recusa a aceitar a posição neo-evangélica, que limita a autoridade da Palavra de Deus ao seu conteúdo salvífico". [4]
E juntos com a Confissão de Fé de Westminster, declaramos: "A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus". [5] 

5. As Escrituras são SUFICIENTES: O próprio Apóstolo Paulo, falando a Timóteo, enfatizou a suficiência das Escrituras. Apontando para o seu proveito no ensino, na repreensão, na correção, na instrução em justiça, dessa forma o cristão esta preparado para toda boa obra.
“Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás nem diminuirás.” - Deuteronômio 12.32
“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.” - Deuteronômio 4.2
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” - Gálatas 1.8
Anglada, mais uma vez, corrobora com a veracidade da suficiência: "Embora as Escrituras não sejam exaustivas, elas são suficientes em matéria de fé e prática. Nelas o homem encontra tudo o que deve crer e tudo o que Deus requer dele para que seja salvo, sirva-o, adore-o e viva de modo que lhe seja agradável. Damo-nos por satisfeitos com as Escrituras e repudiamos as tradições humanas e supostas novas revelações do Espírito". [6]
Na Confissão Belga, de forma uníssona concordamos e afirmamos: "Cremos que a sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade de Deus e que ensina suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para ser salvo. Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de adoração que Deus requer de nós. Por isso, não é lícito a ninguém, nem mesmo a apóstolos, nada ensinar que seja diferente daquilo que agora nos ensina a Sagrada Escritura.; sim, nem que seja 'um anjo vindo do céu', como afirma o apóstolo Paulo (Gl 1.8). A proibição de acrescentar ou retirar qualquer coisa da Palavra de Deus (Dt 12.32), é evidência que a doutrina nela contida é perfeitíssima e completíssima em todos os sentidos. Não nos é permitido considerar quaisquer escritos de homens, por mais santos que tenham sido, como de igual valor ao das Escrituras Divinas; nem devemos considerar que costumes, maiorias, antigüidade, sucessão de tempos e de pessoas, concílios, decretos ou estatutos tenham o mesmo valor de verdade de Deus, porque a verdade está acima de tudo." [7]
E, diante desse contexto, onde a igreja já não valorizava as Escrituras, que os reformadores bradaram o Sola Escriptura e Tota Scriptura, lutaram e viveram com esse ardor, essa chama que não apagava dia após dia. Martirizados, ou levados às últimas instâncias, marcaram seu tempo e sua época com a sua vida. A piedade acompanhava apráxis. Para nós, um grade exemplo de fé e prática, sejamos desafiados a restaurar as antigas verdades, um dever de cada geração.
“E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos a vós mesmos. Pois se alguém é ouvinte da palavra e não cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural; porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era. Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será bem-aventurado no que fizer.” - Tiago 1.22-25
Seguindo um lema dos reformadores: “Ecclesia reformata, semper reformanda”.


             ✏A Doutrina Reformada da Autoridade  Suprema das Escrituras

      Paulo Anglada 
      A doutrina que me proponho a considerar neste artigo foi de fundamental importância na Reforma Protestante do Século XVI. Em contraposição, por um lado, à doutrina católica romana de uma tradição oral apostólica e, por outro lado, ao misticismo dos assim chamados entusiastas ou reformadores radicais, os Reformadores defenderam a doutrina da autoridade suprema das Escrituras. Essa foi, portanto, a sua resposta à autoridade da tradição eclesiástica e do misticismo pessoal.
A autoridade suprema das Escrituras também é uma doutrina puritano-presbiteriana. A ela os puritanos tiveram que apelar freqüentemente na luta que foram obrigados a travar contra as imposições litúrgicas da Igreja Anglicana.1  A Confissão de Fé de Westminster professa a referida doutrina em três parágrafos do seu primeiro capítulo. No quarto parágrafo, ela trata da origem ou fundamento da autoridade das Escrituras:
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
O parágrafo quinto aborda a questão da certeza ou convicção pessoal da autoridade das Escrituras:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações.
O décimo e último parágrafo desse capítulo confere às Escrituras (a voz do Espírito Santo) a palavra final para toda e qualquer questão religiosa, reconhecendo-a como supremo tribunal de recursos em matéria de fé e prática:
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares; o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
Em dias como os que estamos vivendo, em que cresce a impressão de que o evangelicalismo moderno (particularmente o brasileiro) manifesta profunda crise teológica, eclesiástica e litúrgica,2 convém considerar novamente essa importante doutrina reformado-puritana. Convém uma palavra de alerta contra antigas e novas tendências de usurpar ou limitar a autoridade da Palavra de Deus. Tal é o propósito deste artigo.

                                                            I. Definição
O que queriam dizer os Reformadores ao professarem a doutrina da autoridade das Escrituras? Que, por serem divinamente inspiradas, elas são verídicas em todas as suas afirmativas. Segundo esta doutrina, as Escrituras são a fonte infalível de informação que estabelece definitivamente qualquer assunto nelas tratado: a única regra infalível de fé e de prática, o supremo tribunal de recursos ao qual a Igreja pode apelar para a resolução de qualquer controvérsia religiosa.
Isto não significa que as Escrituras sejam o único instrumento de revelação divina. Os atributos de Deus se revelam por meio da criação: a revelação natural (cf. Sl 19:1-4 e Rm 1:18-20). Uma versão da sua lei moral foi registrada em nosso coração: a consciência (cf. Rm 2:14-15), "uma espiã de Deus em nosso peito," "uma embaixadora de Deus em nossa alma," como os puritanos costumavam chamá-la.3 A própria pessoa de Deus, o ser de Deus, revela-se de modo especialíssimo no Verbo encarnado, a segunda pessoa da Trindade (cf. Jo 14.19; Cl 1.15 e 3.9).
Mas, visto que Cristo nos fala agora pelo seu Espírito por meio das Escrituras, e que as revelações da criação e da consciência não são nem perfeitas e nem suficientes por causa da queda, que corrompeu tanto uma como outra, a palavra final, suficiente e autoritativa de Deus para esta dispensação são as Escrituras Sagradas.

                                                               II. Base Bíblica
A base bíblica da doutrina reformada da autoridade suprema das Escrituras é tanto inferencial como direta.

A. Base Inferencial
É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito da inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da mera inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2 Pe 1.20), mas da ação sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2 Tm 3.16 e 2 Pe 1.21), infere-se que são autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras procede da sua autoria divina: "porque é a Palavra de Deus."
Isto não significa que cada palavra foi ditada pelo Espírito Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os autores bíblicos não escreveram mecanicamente. As Escrituras não foram psicografadas, ou melhor, "pneumografadas." Os diversos livros que compõem o cânon revelam claramente as características culturais, intelectuais, estilísticas e circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como João ou Pedro. Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o livro de Atos. Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e grego. Os autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos nas mãos de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as suas características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência humana também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram de tal modo dirigidos e supervisionados
pelo Espírito Santo que tudo o que foi registrado por eles nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e autoritativa de Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre instrumentalidade dos escritores.4
O fato é que, por procederem de Deus, as Escrituras reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis, retas, puras, duram para sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15).5

 B. Base Direta
Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se fundamenta apenas em inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam autoridade suprema.
Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar palavras de Deus, introduzindo suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas, dizendo: "assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor," ou "palavra que veio da parte do Senhor."6  No Novo Testamento, vários textos do Antigo Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss).7
A autoridade apostólica também evidencia a autoridade suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava graças a Deus pelo fato de os tessalonicenses terem recebido as suas palavras "não como palavra de homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está operando eficazmente em vós, os que credes" (1 Ts 2:13). Que autoridade teria Paulo para exortar aos gálatas no sentido de rejeitarem qualquer evangelho que fosse além do evangelho que ele lhes havia anunciado, ainda que viesse a ser pregado por anjos? Só há uma resposta razoável: ele sabia que o evangelho por ele anunciado não era segundo o homem; porque não o havia aprendido de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo (Gl 1:8-12). 
Jesus também atesta a autoridade suprema das Escrituras: pelo modo como a usa, para estabelecer qualquer controvérsia: "está escrito"8 (exemplos: Mt 4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar explicitamente a autoridade das mesmas, dizendo em João 10:35 que "a Escritura não pode falhar."9 

                              III. Usurpações da Autoridade das Escrituras
Apesar da sólida base bíblico-teológica em favor da doutrina reformada da autoridade suprema das Escrituras, hoje, como no passado, deparamo-nos com a mesma tendência geral de diminuir a autoridade das Escrituras. E isso ocorre de duas maneiras: por um lado, há a propensão em admitir fontes adicionais ou suplementares de autoridade, que tendem a usurpar a autoridade da Palavra de Deus. Por outro lado, há a tendência de limitar a autoridade das Escrituras, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
Com relação à primeira dessas tendências, pelo menos três fontes suplementares usurpadoras da autoridade das Escrituras podem ser identificadas: a tradição (degenerada em tradicionalismo), a emoção (degenerada em emocionalismo) e a razão (degenerada no racionalismo). Sempre que um desses elementos é indevidamente enfatizado, a autoridade das Escrituras é questionada, diminuída ou mesmo suplantada.

A. A Tradição Degenerada em Tradicionalismo
Este foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor Jesus. A religião judaica havia se tornado incrivelmente tradicionalista. Havendo cessado a revelação, os judeus, já no segundo século antes de Cristo, produziram uma infinidade de tradições ou interpretações da Lei, conhecidas como Mishnah. Essas tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e fariseus por séculos, até serem registradas nos séculos IV e V A.D., passando a ser conhecidas como o Talmude,10  a interpretação judaica oficial do Antigo Testamento até o dia de hoje. Muitas dessas tradições judaicas eram, entretanto, distorções do ensino do Antigo Testamento. Mas tornaram-se tão autoritativas, que suplantaram a autoridade do Antigo Testamento. Jesus acusou severamente os escribas e fariseus da sua época, dizendo:
Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a vossa própria tradição... invalidando a palavra de Deus pela vossa própria tradição que vós mesmos transmitistes... (Mc 7.7-9,13).11  
O Apóstolo Paulo também denunciou essa tendência. Escrevendo aos colossenses, ele advertiu:
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo... Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo, por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e doutrinas dos homens? (Cl 2.8,20-22).
Quinze séculos depois, os Reformadores se depararam com o mesmo problema: as tradições contidas nos livros apócrifos e pseudepígrafos, nos escritos dos pais da igreja, nas decisões conciliares e nas bulas papais também degeneraram em tradicionalismo. As tradições eclesiásticas adquiriram autoridade que não possuíam, usurpando a autoridade bíblica. É neste contexto que se deve entender a doutrina reformada da autoridade das Escrituras. Trata-se, primordialmente, de uma reação à posição da Igreja Católica. 
Isto não significa, entretanto, que a tradição eclesiástica seja necessariamente ruim. Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou está de acordo com ele, não sendo considerada normativa (autoritativa) a não ser que reflita realmente o ensino bíblico, então não é má. Os próprios Reformadores produziram, registraram e empregaram confissões de fé e catecismos (os quais também são tradições eclesiásticas). Para eles, contudo, esses símbolos de fé não têm autoridade própria, só sendo normativos na medida em que refletem fielmente a autoridade das Escrituras.
O problema, portanto, não está na tradição, mas na sua degeneração, no tradicionalismo, que atribui à tradição autoridade inerente. O tradicionalismo atribui autoridade às tradições, pelo simples fato de serem antigas ou geralmente observadas, e não por serem bíblicas. Essa tendência acaba sempre usurpando a autoridade das Escrituras.

 B. A Emoção Degenerada em Emocionalismo
Outra fonte de autoridade que sempre ameaça a autoridade das Escrituras é a emoção, quando degenerada em emocionalismo. Isto quase inevitavelmente conduz ao misticismo. Na esfera religiosa, freqüentemente é dado um valor exagerado à intuição, ao sentimento, ao convencimento subjetivo. Quando tal ênfase ocorre, facilmente esse sentimento subjetivo de convicção, pessoal e interno, é explicado misticamente, em termos de iluminação espiritual e revelação divina direta, seja por meio do Espírito, seja pela instrumentalidade de anjos, sonhos, visões, arrebatamentos, etc.
Não é que Deus não tenha se revelado por esses meios. Ele de fato o fez. Foi, em parte, através desses meios que a revelação especial foi comunicada à Igreja e registrada no cânon pelo processo de inspiração. O que se está afirmando é que o misticismo copia, forja essas formas reais de revelação do passado, para reivindicar autoridade que na verdade não é divina, mas humana (quando não diabólica). Essa tendência não é de modo algum nova. Eis as palavras do Senhor através do profeta Jeremias:
Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvido às palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor... Até quando sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só o engano do próprio coração?... O profeta que tem sonho conte-o como apenas sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor (Jr 23.16,26,28).
Séculos depois o Apóstolo Paulo enfrentou o mesmo problema. Ele próprio foi instrumento de revelações espirituais verdadeiras, inspirado que foi para escrever suas cartas canônicas. Nessa condição, ele sabia muito bem o que eram sonhos, visões, revelações e arrebatamentos. Mas, ainda assim, advertiu aos colossenses, dizendo: "Ninguém se faça árbitro contra vós outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões, enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal" (Cl 2:18). Tanto Jesus como os apóstolos advertem a Igreja repetidamente contra os falsos profetas, os quais ensinam como se fossem apóstolos de Cristo, mas que não passam de enganadores.
Pois bem, sempre que tal coisa ocorre, a autoridade das Escrituras é ameaçada. O misticismo, como degeneração das emoções (não se pode esquecer que também as emoções foram corrompidas pelo pecado) tende sempre a usurpar, a competir com a autoridade das Escrituras, chegando mesmo freqüentemente a suplantá-la. Na época dos Reformadores não foi diferente. Eles combateram grupos místicos por eles chamados de entusiastas12  que reivindicavam autoridade espiritual interior, luz interior, revelações espirituais adicionais que suplantavam ou mesmo negavam a autoridade das Escrituras. Esta tem sido igualmente uma das características mais comuns das seitas modernas, tais como mormonismo, testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, etc. Entre os movimentos pentecostais e carismáticos também não é incomum a emoção degenerar em emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador da autoridade das Escrituras. C. A Razão Degenerada em Racionalismo
A ênfase exagerada na razão também tende a usurpar a autoridade das Escrituras. O homem, devido a sua natureza pecaminosa, sempre tem resistido a submeter sua razão à autoridade da Palavra de Deus. A tendência é sempre tê-la (a razão) como fonte suprema de autoridade. Isto foi conseqüência da queda. Na verdade, foi também a causa, tanto da queda de Satanás como de nossos primeiros pais. Ambos caíram por darem mais crédito às suas conclusões do que à palavra de Deus. Desde então, essa soberba mental, essa altivez intelectual tem tendido sempre a minar a autoridade da Palavra de Deus, oral (antes de ser registrada) ou escrita.
Por que o ser humano, tendo conhecimento de Deus, não o glorifica como Deus nem lhe é grato? O Apóstolo Paulo explica: porque, suprimindo a verdade de Deus (Rm 1:18), "...se tornaram nulos em seus próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se por sábios, tornaram-se loucos... pois eles mudaram a verdade de Deus em mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador...’’ (Rm 1:21-22,25).
Esta tem sido, sem dúvida, a causa de uma infinidade de heresias e erros surgidos no curso da história da Igreja. A heresia de Marcião, o gnosticismo, o arianismo, o docetismo, o unitarianismo, e mesmo o arminianismo são todos erros provocados pela dificuldade do homem em submeter sua razão à revelação bíblica. Todos preferiram uma explicação racional, lógica, em lugar da explicação bíblica que lhes parecia inaceitável. Assim, Marcião concebeu dois deuses, um do Antigo e outro do Novo Testamento. Por isso, também o gnosticismo fez distinção moral entre matéria e espírito. Já o arianismo originou-se da dificuldade de Ario em aceitar a eternidade de Cristo. Do mesmo modo, o docetismo surgiu da dificuldade de alguns em admitir um Cristo verdadeiramente divinohumano. O unitarianismo, por sua vez, decorre da recusa em aceitar a doutrina bíblica da Trindade, enquanto que o arminianismo surgiu da dificuldade de Armínio em conciliar a doutrina da soberania de Deus com a doutrina da responsabilidade humana (rejeitando a primeira).
A tendência da razão em usurpar a autoridade das Escrituras tem sido especialmente forte nos últimos dois séculos. O desenvolvimento científico e tecnológico instigou a soberba intelectual do homem. Assim, passou-se a acreditar apenas no que possa ser constatado, comprovado, pela razão e pela lógica. A ciência tornou-se a autoridade suprema, a única regra de fé e prática. E a Igreja passou a fazer concessões e mais concessões, na tentativa de harmonizar as Escrituras com a razão e com a ciência. O relato bíblico da criação foi desacreditado pela teoria da evolução; os milagres relatados nas Escrituras foram rejeitados como mitos; e muitos estudiosos das Escrituras passaram a assumir uma postura crítica, não mais submissa aos seus ensinos. Foi assim que surgiu o método de interpretação histórico-crítico em substituição ao método históricogramatical. Nele, é a suprema razão humana que determina o que é escriturístico ou mera tradição posterior, o que é milagre ou mito, o que é verdadeiro ou falso nas Escrituras.
Mas antes de se atribuir tanta autoridade à ciência, convém considerar a sua história. Quão falível e mutável é! A grande maioria dos "fatos" científicos de dois séculos atrás já foram rejeitados pela própria ciência. Além disso, com que freqüência meras teorias e hipóteses científicas são tomadas como fatos científicos comprovados!13
                                
                                    IV. Limitações da Autoridade das Escrituras
Além das tendências que acabei de considerar, propensas a usurpar a autoridade das Escrituras, existem outras, que tendem a limitar a autoridade bíblica, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo. É o que têm feito a teologia liberal, a neoortodoxia e o neo-evangelicalismo, com relação a três dos principais aspectos da doutrina da autoridade das Escrituras. Estas três concepções de "autoridade" bíblica precisam ser entendidas. Elas estão sendo bastante divulgadas em nossos dias, e são, em certo sentido, até mais perigosas do que as tendências anteriormente mencionadas, por serem mais sutis. Este assunto pode ser melhor entendido considerando-se os três principais
aspectos da doutrina da autoridade das Escrituras: sua origem (ou base), certeza (ou convicção) e escopo (ou abrangência).

A. Origem ou Base da Autoridade das Escrituras
A origem ou base da autoridade das Escrituras, como já foi mencionado, encontra-se na sua autoria divina. As Escrituras são autoritativas porque são de origem divina: o Espírito Santo é o seu autor primário. Para os Reformadores, as Escrituras são autoritativas porque são a Palavra de Deus inspirada. Por isso são infalíveis, inerrantes, claras, suficientes, etc.
A teologia liberal (racionalista) nega a própria base da autoridade da Escritura, negando a sua origem divina. Para ela, as Escrituras são mero produto do espírito humano, expressando verdades divinas conforme discernidas pelos seus autores, bem como erros e falhas características do homem. Sua autoridade, portanto, não é divina nem inerente, mas humana, devendo ser determinada pelo julgamento da razão crítica. Eis o que afirmam: "A verdade divina não é encontrada em um livro antigo, mas na obra contínua do Espírito na comunidade, conforme discernida pelo julgamento crítico racional."14  De acordo com a teologia liberal, "nós estamos em uma nova situação histórica, com uma nova consciência da nossa autonomia e responsabilidade para repensar as coisas por nós mesmos. Não podemos mais apelar à inquestionável autoridade de um livro inspirado."15 

B. Certeza da Autoridade das Escrituras
A certeza ou convicção da autoridade das Escrituras16 provém do testemunho interno do Espírito Santo. A excelência do seu conteúdo, a eficácia da sua doutrina e a sua extraordinária unidade são algumas das características das Escrituras que demonstram a sua autoridade divina. Contudo, admitimos que "a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações."17 
O testemunho da Igreja com relação à excelência das Escrituras pode se constituir no meio pelo qual somos persuadidos da sua autoridade, mas não na base ou fundamento da nossa persuasão. A nossa persuasão da autoridade da Bíblia dá-se por meio do testemunho interno do Espírito Santo com relação à sua inspiração. Na concepção reformada, se alguém crê, de fato, na autoridade suprema das Escrituras como regra de fé e prática, o faz como resultado da ação do Espírito Santo. É ele, e só ele, quem pode persuadir alguém da autoridade da Bíblia.
Essa persuasão não significa de modo algum uma revelação adicional do Espírito. Significa, sim, que a ação do Espírito na alma de uma pessoa, iluminando seu coração e sua mente em trevas, regenerando-a, fazendo-a nova criatura, dissipa as trevas espirituais da sua mente, remove a obscuridade do seu coração, permitindo que reconheça a autoridade divina das Escrituras. O Apóstolo Paulo trata deste assunto escrevendo aos coríntios. Ele explica, na sua primeira carta, que, "o homem natural não aceita as cousas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se discernem espiritualmente" (1 Co 2.14). O homem natural, em estado de pecado, perdeu a sua capacidade original de compreender as coisas espirituais. Ele não pode, portanto, reconhecer a autoridade das Escrituras; ele não tem capacidade para isso. Na sua segunda carta aos coríntios o Apóstolo é ainda mais explícito, ao observar que,
...se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus... Porque Deus que disse: de trevas resplandecerá luz —, ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo (2 Co 4.34,6).
O que Paulo afirma aqui é que o homem natural, o incrédulo, está cego como resultado da obra do diabo, que o fez cair. Nesse estado, ele está como um deficiente visual, que não consegue perceber nem mesmo a luz do sol. Pode-se compreender melhor o testemunho interno do Espírito com esta ilustração. O testemunho do Espírito não é uma nova luz no coração, mas a sua ação através da qual ele abre os olhos de um pecador, permitindo-lhe reconhecer a verdade que lá estava, mas não podia ser vista por causa da sua cegueira espiritual.
Deve-se ter em mente, entretanto — e esse é o ponto enfatizado aqui —, que esse testemunho interno do Espírito Santo diz respeito à certeza do crente com relação à plena autoridade das Escrituras, e não à própria autoridade inerente das Escrituras. A convicção de um crente de que as Escrituras têm autoridade é subjetiva, mas a autoridade das Escrituras é objetiva. Esteja-se ou não convencido da sua autoridade, a Bíblia é e continua objetivamente autoritativa. A neo-ortodoxia existencialista confunde estas coisas e defende a subjetividade da própria autoridade da Bíblia. Para eles, a revelação bíblica só é verdade divina quando fala ao nosso coração. Como dizem, "as Escrituras não são, mas se tornam a Palavra de Deus" quando existencializadas.18 

C. Escopo da Autoridade das Escrituras
Essas posições da teologia liberal e da neo-ortodoxia com relação à origem e à certeza da autoridade das Escrituras são seríssimas. Contudo, talvez mais séria ainda (por ser mais sutil) é a questão relacionada ao escopo da autoridade das Escrituras.
Uma nova concepção da autoridade das Escrituras tem surgido entre os eruditos evangélicos (inclusive reformados de renome, tais como G. C. Berkouwer19), conhecida como neo-evangélica. O neo-evangelicalismo limita o escopo (a área) da autoridade das Escrituras ao seu propósito salvífico. Segundo essa concepção, a autoridade das Escrituras limita-se à revelação de assuntos diretamente relacionados à salvação, a assuntos religiosos.20 
A doutrina neo-evangélica faz diferença entre o conteúdo salvífico das Escrituras e o seu contexto salvífico, reivindicando autoridade e inerrância apenas para o primeiro. Mas tal posição não reflete nem se coaduna com a posição reformada e protestante histórica. Para esta, o escopo da autoridade das Escrituras é todo o seu cânon. É verdade que a Bíblia não se propõe a ser um compêndio científico ou um livro histórico. Mas, ainda assim, todas as afirmativas nelas contidas, sejam elas de caráter teológico, prático, histórico ou científico, são inerrantes e autoritativas.21 
Os principais problemas relacionados com a posição neo-evangélica quanto à autoridade das Escrituras são os seguintes: Primeiro, como distinguir o conteúdo salvífico do seu contexto salvífico? É impossível. As Escrituras são a Palavra de Deus revelada na história.
Segundo, como delimitar o que está ou não está diretamente relacionado ao propósito salvífico, se o propósito da obra da redenção não é meramente salvar o homem, mas restaurar o cosmo? Que porções das Escrituras ficariam de fora do escopo da salvação? Como Ridderbos admite, "a Bíblia não é apenas o livro da conversão, mas também o livro da história e o livro da Criação..."22 Que áreas da vida humana ficariam de fora da obra da redenção? A arte, a ciência, a história, a ética, a moral? Quem delimitaria as fronteiras entre o que está ou não incluído no propósito salvífico? Admitir, portanto, o conceito neoevangélico de autoridade das Escrituras é cair na cilada liberal do cânon dentro do cânon, e colocar a razão humana como juiz supremo de fé e prática, pois neste caso competirá ao homem determinar o que é ou não propósito salvífico.

                                                         Conclusão
  
          Em última instância, a questão da autoridade das Escrituras pode ser resumida na seguinte pergunta: quem tem a última palavra, Deus, falando através das Escrituras, ou o homem, por meio de suas tradições, sentimentos ou razão? A resposta dos Reformadores foi clara. Embora reconhecendo que o propósito especial das Escrituras não é histórico, moral ou científico, mas salvífico, eles não diminuíram a sua autoridade de forma alguma: nem por adições ou suplementos, nem por reduções ou limitações de qualquer natureza. A fé reformado-puritana reconhece a autoridade de todo o conteúdo das Escrituras, e sua plena suficiência e suprema autoridade em matéria de fé e práticas eclesiásticas.
Tão importante foi a redescoberta destas doutrinas pelos Reformadores, que pode-se afirmar que, da aplicação prática das mesmas, decorreu, em grande parte, a profunda reforma doutrinária, eclesiástica e litúrgica que deu origem às igrejas protestantes. Todas as doutrinas foram submetidas à autoridade das Escrituras. Todos os elementos de culto, cerimônias e práticas eclesiásticas foram submetidos ao escrutínio da Palavra de Deus. A própria vida (trabalho, lazer, educação, casamento, etc.) foi avaliada pelo ensino suficiente e autoritativo das Escrituras. Muito entulho doutrinário teve que ser rejeitado. Muitas tradições e práticas religiosas acumuladas no curso dos séculos foram reprovadas quando submetidas ao teste da suficiência e da autoridade suprema das Escrituras. E a profunda reforma religiosa do século XVI foi assim empreendida.
Mas muito tempo já se passou desde então. O evangelicalismo moderno recebeu, especialmente do século passado, um legado teológico, eclesiástico e litúrgico que precisa ser urgentemente submetido ao teste da doutrina reformada da autoridade suprema das Escrituras. É tempo de reconsiderar as implicações desta doutrina. É tempo de reavaliar a nossa fé, nossas práticas eclesiásticas e nossas próprias vidas à luz desta doutrina. Afinal, admitimos que a Igreja reformada deve estar sempre se reformando — não pela conformação constante às últimas novidades, mas pelo retorno e conformação contínuos ao ensino das Escrituras.
Sabendo que a nossa natureza pecaminosa nos impulsiona em direção ao erro e ao pecado, conhecendo o engano e a corrupção do nosso próprio coração, reconhecendo os dias difíceis pelos quais passa o evangelicalismo moderno (particularmente no Brasil), e a ojeriza doutrinária, a exegese superficial e a ignorância histórica que em grande parte caracterizam o evangelicalismo moderno no nosso país, não temos o direito de assumir que nossa fé e práticas eclesiásticas sejam corretas, simplesmente por serem geralmente assim consideradas. É necessário submeter nossa fé e práticas eclesiásticas à autoridade suprema das Escrituras.
Assim fazendo, não é improvável que nós, à semelhança dos Reformadores, também tenhamos que rejeitar considerável entulho teológico, eclesiástico e litúrgico acumulados nos últimos séculos. Não é improvável que venhamos a nos surpreender, ao descobrir um evangelicalismo profundamente tradicionalista, subjetivo e racionalista. Mas não é improvável também que venhamos a presenciar uma nova e profunda reforma religiosa em nosso país. Que assim seja! 
FONTE: https://bereianos.blogspot.com.br

📌FONTE : Escola Bereana - ADVEC – sede

          SOMENTE A ESCRITURA (SOLA SCRIPTURA)

      No final da época medieval, homens como John Wycliffe e John Huss chamaram as pessoas a retornarem à Escritura. Quando desafiado pelos oficiais eclesiásticos hostis, Huss respondeu diversas vezes aos seus oponentes: "Mostrem-me com base nas Escrituras, e eu me arrependerei e voltarei atrás". A devoção de Huss à Escritura custou-lhe a vida, porque esse princípio o compelia a atacar tanto o curialismo (o príncipio sobre o qual se fundamenta a autoridade papal) como o conciliarismo (o princípio sobre o qual repousa a suprema autoridade da tradição eclesiástica e das assembléias do prelado).

Os reformadores desenvolveram de várias maneiras significativas a ênfase de Huss sobre as Escrituras:

Autoridade. Os reformadores contenderam que todas as coisas têm de ser testadas pela "Escritura somente" (sola Scriptura). Isso explica por que os reformadores aceitaram algumas partes dos ensinos da Igreja Católica e outras partes não. Eles acreditavam que as Escrituras têm de reger a igreja, porque ela é a Palavra e a voz de Deus (verbum Dei). Portanto, sua autoridade é absoluta, e não derivada, eles diziam. João Calvino disse que a Escritura possui tanta autoridade como se o próprio Deus "estivesse proferindo afirmações". [2] Um cristão deve confiar nas promessas da Escritura e ser governado por elas, [3] e a igreja deve submeter-se completamente à autoridade da Escritura. [4] De fato, todos os outros tipos de autoridade - civil, do papa ou dos credos - têm de subordinar-se à Escritura.

O calvinista crê que toda a Escritura é a Palavra de Deus e, por isso, se esforça por submeter-se a ela. O calvinista entende que não pode julgar a Escritura; pelo contrário, ela deve nos julgar.

* Infabilidade e inerrância. Os reformadores ensinavam que a infabilidade da Bíblia é ampla, pois cada palavra de cada sentença é o sopro de Deus vivo. Eles honravam 2 Timóteo 3.16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Além disso, somente a Escritura é inerrante." "Aprendi a sustentar apenas a Escritura Sagrada como inerrante", disse Martinho Lutero citando a carta de Agostinho a Jerônimo. [5]

De acordo com Fred Klooster, este ponto de vista a respeito da Escritura como "única e completa" (sola e tota Scriptura) é exclusivamente reformado. [6] Isso levou os calvinistas a enfatizar que somente a Escritura pode impor-se à consciência dos crentes (Confissão de Fé de Westminster, 1.10, 20.2, 31.4).

* Auto-interpretação e auto-confirmação. Os teólogos reformados também ressaltaram a harmonia entre a Escritura e o Espírito Santo (Spiritus cum verbo). O Espírito Santo é o verdadeiro expositor da Bíblia (disse Ulrich Zwingli), que capacita a igreja a reconhecer que a Escritura interpreta a Escritura (Confissão de Fé de Westminster, 1.6). A chave da interpretação pertence a toda a comunidade de cristãos, e não somente a Pedro e aos seus supostos sucessores em Roma. Embora a tradição possa ajudar na interpretação, o significado verdadeiro e espiritual da Escritura é o seu sentido natural e literal, e não o sentido alegórico, a não ser que a passagem específica da Escritura que está sendo estudada possua uma natureza claramente alegórica. O caráter autoconfirmativo da Escritura, como enfatizou Calvino, era igualmente importante. Esse ensino sustenta que o ensino bíblico é confirmado pelo testemunho interno do Espírito no coração do crente (Institutas, 1.7.2-4; cf. Confissão de Fé de Westminster, 1.5). Calvino concluiu: "Isto deve permanecer como um fato estabelecido: aqueles a quem o Espírito ensina interiormente descansam firmemente na Escritura; a Escritura é confirmada por ela mesma; e não é correto que ela seja tornada dependente de exibição de argumentação, visto que é por meio do testemunho do Espírito que a Escritura obtém em nossa mente a certeza que ela merece". [7]

* Libertação. Os reformadores libertaram a Bíblia da hierarquia católica romana em pelo menos três maneiras: por meio da tradução em vernáculo, como a Bíblia alemã de Lutero; por meio da pregação expositiva, recomeçada por Zwingli; e por meio da exegese gramático-histórica, mais bem exemplificada pelos comentários de Calvino. Eles ensinavam que a Bíblia é a regra de prática que guia nossos deveres diários. A Escritura é Deus falando conosco como um pai fala com seus filhos, disse Calvino.

* Poder. Os reformadores ensinavam que Deus nos deu a Escritura como sua Palavra de verdade e de poder. Como sua Palavra de verdade, podemos confiar na Escritura quanto a esta vida e quanto à eternidade. Como a Palavra de poder, podemos estudar a Escritura para que ela transforme e renove a nossa mente, por meio do Espírito de Deus. Esse poder tem de ser manifestado em nossas vidas, lares, igrejas e comunidades. Enquanto outros livros podem nos informar e até reformar-nos, somente um livro pode transformar-nos e conformar-nos à imagem de Cristo. Somente assim seremos verdadeiramente filhos e filhas de Deus e herdeiros da Reforma.

Como entendemos o princípio de sola Scriptura?
 Examinamos, amamos, vivemos e oramos a respeito das Escrituras Sagradas? A Bíblia é a bússola que nos orienta através das tempestades e das ondas que enfrentamos na vida? A Escritura é o espelho pelo qual nos vestimos (Tg 1.22-27), a regra pela qual agimos (Gl 6.16), a água com a qual nos lavamos (Sl 119.9), o fogo que nos aquece (Lc 24.32), a comida que nos alimenta (Jó 23.12), a espada com que lutamos (Ef 6.17), o conselheiro que resolve nossas dúvidas e temores (Sl 119.24) e a herança que nos enriquece (Sl 119.111-112)?
Estamos aprendendo das Escrituras, como disse John Flavel, "a melhor maneira de vivermos, a mais nobre maneira de sofrermos e mais vantajosa maneira de morrermos"? [8]

O sola Scriptura se tornou a nossa divisa, levando-nos a, como Lutero e Calvino, tornar-nos cativos, em nossa consciência, da própria Palavra de Deus?











Confissão de Fé de Westminster⬇️

  1. 18 CAPÍTULO
I DA ESCRITURA SAGRADA

I.              Ainda que a luz da natureza e as obras da criação e da providência de tal maneira manifestem a bondade, a sabedoria e o poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis (Rm 2:14,15; Rm 1:19,20; Rm 1:32; Rm 2:1; Sl 19:1-3), contudo não são suficientes para dar aquele conhecimento de Deus e da sua vontade, que são necessários para a salvação (1Co 1:21;1Co 2:13,14); por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade (Hb 1:1); e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido em fazer escrever todo esta (Pv 22: 19-21; Lc 1: 3,4; Rm 15:4; Mt 4: 4,7,10: Is 8: 19,20); o que torna indispensável a Escritura Sagrada (2Tm 3:15; 2Pe 1:19), tendo cessado aqueles antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo (Hb 1:1,2).

II.            Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento, que são os seguintes:

ANTIGO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO
Gênesis (Gn) II Crônicas (2Cr) Daniel (Dn) Mateus (Mt) Efésios (Ef) Hebreus (Hb) Êxodo (Ex) Esdras (Ed) Oséias (Os) Marcos (Mc) Filipenses (Fp) Tiago (Tg) Levítico (Lv) Neemias (Ne) Joel (Jl) Lucas (Lc) Colossenses (Cl) I Pedro (1Pe) Números (Nm) Ester (Et) Amós (Am) João (Jo) I Tessalonicenses (1Ts) II Pedro (2Pe) Deuteronômio (Dt) Jó (Jó) Obadias (Ob) Atos (At) II Tessalonicenses (2Ts) I João (1Jo) Josué (Js) Salmos (Sl) Jonas (Jn) Romanos (Rm) I Timóteo (1Tm) II João (2Jo) Juízes (Jz) Provérbios (Pv) Miquéias (Mq) I Coríntios (1Co) II Timóteo (2Tm) III João (3Jo) Rute (Rt) Eclesiastes (Ec) Naum (Na) II Coríntios (2Co) Tito (Tt) Judas (Jd) I Samuel (1Sm) Cântico dos Cânticos (Ct) Habacuque (Hc) Gálatas (Gl) Filemon (Fm) Apocalipse (Ap) II Samuel (2Sm) Isaías (Is) Sofonias (Sf) I Reis (1Rs) Jeremias (Jr) Ageu (Ag) II Reis (2Rs) Lamentações (Lm) Zacarias (Zc) I Crônicas (1Cr) Ezequiel (Ez) Malaquias (Ml)
  1. 18. 19 Todos os quais foram dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática (Lc 16:29,31; Ef 2:20; Ap 22:18,19; 2Tm 3:16).
III. Os livros geralmente chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da Escritura; e, portanto, não são de nenhuma autoridade na Igreja de Deus, nem de modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como qualquer outro escrito humano (Lc 24:27,44; Rm. 3:2; 2Pe 1:21).
IV. A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a própria verdade) que é o seu Autor; portanto, deve ser recebida porque é a Palavra de Deus (2Pe 1:19,21; 2Tm 3:16; 1Jo 5:9, 1Ts 2:13).

V. Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a uma alta e reverente estima da Escritura Sagrada (1Tm 3:15); a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que com a Palavra testifica em nossos corações (1Jo 2:20,27; Jo 16:13,14; 1Co 2:10-12; Is 59:21).

VI. Todo o conselho de Deus concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória e para a salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode ser, por boa e necessária consequência, deduzido dela, a qual nada se acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por tradições dos homens (2Tm 3:15-17; Gl 1:8,9; 2Ts 2:2); no entanto, reconhecemos ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora compreensão das coisas reveladas na palavra (Jo 6:45; 1Co 2:9-12), e que há algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que sempre devem ser observadas (1Co 11:13,14; 1Co 14:26,40).

VII. Na Escritura, não são todas as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos (2Pe 3:16); contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para a salvação, em um ou outro lugar da Escritura são tão claramente apresentadas e explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas (Sl 119:109,130).

VIII. O Velho Testamento em Hebraico (que era a língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, portanto, autênticos (Mt 5:18); e assim, em todas as controvérsias religiosas, a Igreja deve apelar para eles (Is 8:20; At 15:15; Jo 5:39,46); mas, não sendo
19. 20 essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las (Jo 5:39), esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde chegarem (1Co 14:6,9,11,12,24,27,28) a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável (Cl 3:16) e, através da paciência e conforto das Escrituras, possam ter esperança (Rm 15:4).

IX. A regra infalível de interpretação da Escritura é a própria Escritura; portanto, quando houver questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura (sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e compreendido por outros textos que falem mais claramente (2Pe 1:20,21; At 15:15,16).

X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, e em cuja sentença devemos descansar, não pode ser outro, senão o Espírito Santo falando na Escritura (Mt 22:29,31; Ef 2:20 com At 28:25).


fonte: https://pt.slideshare.net/Igreja_Presbiteriana_Sobral/



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