Lição 04 – A singularidade das Escrituras (Sola Scriptura)
Central
gospel
Assunto: Reforma Protestante: história, ensinos e legado.
Lição: Jovens e Adultos
Comentarista: Pr. Gilmar Vieira Chaves
Editora: Central Gospel
2 Timóteo 3.14-17
TEXTO BÍBLICO BÁSICO
14 Tu, porém, permanece naquilo que
aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido,
15 E que desde a tua meninice sabes
as sagradas Escrituras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela fé que
há em Cristo Jesus.
16 Toda a Escritura é divinamente
inspirada, e proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para
instruir em justiça;
17 Para que o homem de Deus seja
perfeito, e perfeitamente instruído para toda a boa obra.
Romanos 15.1-4
1 MAS nós, que somos fortes, devemos
suportar as fraquezas dos fracos, e não agradar a nós mesmos.
2 Portanto cada um de nós agrade ao
seu próximo no que é bom para edificação.
3 Porque também Cristo não agradou a
si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te
injuriavam.
4 Porque tudo o que dantes foi
escrito, para nosso ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação
das Escrituras tenhamos esperança.
TEXTO ÁUREO
Examinais as Escrituras, porque vós
cuidais ter nelas a vida eterna, e são elas que de mim testificam. João 5.39
SUBSÍDIOS PARA O
ESTUDO DIÁRIO
2ª feira - Salmo
119.47,48, 92-94,97: A tua lei é a minha meditação em todo o dia
3ª feira - Lucas
16.19-31: Eles têm Moisés e os Profetas; ouçam-nos
4ª feira - Mateus
5.17-20: Nem um jota ou um til se omitirá da Lei
5ª feira - Atos
17.10-12: De bom grado receberam a Palavra
6ª feira – Gálatas
1.10-1.7: O Evangelho não é segundo os homens Sábado - 2 Pedro
1.19-21: Homens santos, Inspirados pelo Espírito Santo
OBJETIVOS
Ao término do
estudo bíblico, o aluno deverá:
• saber em que
consiste a Tradição (oral e escrita) da Igreja;
• compreender o princípio
de sola Scriptura;
• entender que a
Escritura é a única autoridade normativa, segundo a qual a Igreja deve moldar a
sua fé.
ORIENTAÇÕES PEDAGÓGICAS
Caro professor,
Como mencionado na lição anterior,
entre a terceira e a sexta lições dessa revista, apresentaremos um panorama
geral da teologia reformada, especialmente no que tange à soteriologia dos
reformadores.
Assim, para uma melhor compreensão do
conteúdo, sempre que necessário, recorreremos ao Concílio de Trento, à
Confissão de Fé de Westminster (CFW) e ao Concílio Vaticano II.
Ao Concílio de Trento, por
apresenta-nos, com evidências documentais, a posição romana no período em que a
teologia reformada floresceu; à CFW, por ser considerada a obra-prima da
teologia reformada; e, ao Concílio Vaticano II, porque, a partir deste, o catolicismo
passou a adotar uma postura menos conservadora, mais ecuménica.
Excelente aula!
COMENTÁRIO
Palavra
introdutória
Nesta lição, especificamente,
discorreremos sobre a centralidade das Escrituras na Reforma, trazendo, no
decorrer do estudo, uma reflexão sobre os desvios teológicos atuais —
especialmente entre os cristãos de confissão protestante —, que poderiam ser
evitados, se a herança dos reformadores fosse o princípio norteador de nossas
práticas e intenções.
1. A TRADIÇÃO CRISTÃ
A Tradição( lt.traditto, tradere =
entregar; passar adiante) sempre foi uma autoridade espiritual presente na
teologia cristã (medieval e hodierna), uma vez que representa a continuidade e
permanência da doutrina e cosmovisão da Cristandade.
A Tradição é corretamente
qualificada de oral; no entanto, no decorrer dos tempos, ela também foi fixada
por escrito (sendo registrada, muitas vezes, em documentos pontifícios, como as
bulas e encíclicas papais, por exemplo).
Para uma melhor apreensão do conteúdo
desta lição, vejamos, resumidamente, em que consistem as
tradições oral e escrita da Igreja.
1.1. A tradição oral
Entende-se por tradição oral tudo
aquilo que a Igreja recebeu dos apóstolos — e que a eles foi confiado pelo
próprio Cristo —,- deste modo, está essencialmente radicada no testemunho
daqueles a quem Jesus deixou a missão de anunciar o Evangelho (Mc 16.15),
testemunho esse assumido por seus sucessores (2 Tm 2.2).
O entendimento romano é este: a
Igreja não pode ser guiada unicamente pela revelação escrita (a Bíblia), mas
precisa ser dirigida também pela revelação oral, pois, sem essa última, nem
mesmo o texto bíblico existiria do modo como o conhecemos hoje, uma vez que ele
(o texto) foi vivido e — apenas décadas depois — redigido pela Igreja.
O termo Igreja Católica é posterior ao Concílio
deTrento (1545-1563), uma forma de diferenciá-la da Igreja Protestante. Antes
da Reforma, só existia o que se convencionou chamar de Cristandade.
1.2. A tradição escrita
Diz respeito ao texto bíblico —
produto da tradição oral —, escrito pelos quatro evangelistas e por outros
autores sagrados, inspirados pelo Espírito Santo.
Vale ressaltar, neste ponto, que boa
parte da tradição oral não foi registrada, sequer, em livros apócrifos; algumas
são transmitidas, ainda hoje, por bispos e papas, estando presentes apenas em
documentos pontifícios. Exemplo: a assunção e virgindade eterna de Maria. De
acordo com o Magistério da Igreja Romana, tais eventos não são citados
explicitamente na Bíblia, porque, segundo o corpo clerical, o objetivo do texto
sagrado é falar de Jesus.
1.3. A posição ocupada pelas
Escrituras na Igreja Medieval
Por muitos séculos, a Igreja Romana
considerou a autoridade da tradição oral superior à autoridade das Escrituras.
Isso explica a razão de, nos dias de Lutero, os fiéis terem-se desviado dos
valores primordiais do cristianismo: suas práticas não estavam baseadas única e
exclusivamente nos escritos sagrados; muitos ensinamentos, inclusive, não eram
interpretações do texto bíblico, mas instrumentos de manipulação do Clero,
utilizados para alcançar os objetivos pretendidos.
O fato de a Igreja Romana
sobrepor a autoridade da Tradição à autoridade das Escrituras levou os fiéis a
adotarem práticas absolutamente contrárias aos ensinamentos bíblicos, tais
como: as orações aos santos, a mariolatria (veneração a Maria, mãe do Senhor),
a transubstanciação, o batismo de crianças, o pagamento de indulgências e a
autoridade papal, por exemplo.
2. SOM SCRIPTURA
Aprioristicamente, é preciso dizer que
a Tradição jamais foi rejeitada pelo simples fato de ser tradição; os autores
sagrados, inclusive, tanto destacam sua importância (2 Ts 2.15) quanto criticam
o mau uso dela (Mt 15.2,3,6; Mc 7.3,5,8,9,13).
A partir desse entendimento,
precisamos responder ao seguinte questionamento: o que a Igreja de Cristo
precisa rejeitar, então? A resposta é simples: todo conjunto de ideias e
valores culturais, morais e espirituais que contradigam, de algum modo, a
Palavra de Deus.
Os reformadores, indiscutivelmente,
consideravam a autoridade dos Credos (Apostólico; Niceno e Calcedoniano);
entretanto, opuseram-se à autoridade da tradição oral, independente da tradição
escrita; eles defendiam que a única e infalível autoridade dentro da Igreja é a
Bíblia.
2.1. O marco histórico do conceito de
sola Scriptura
Lutero divergia dos ensinos de sua
época, que eram baseados na Tradição (bulas, declarações, concílios, dentre
outros documentos pontifícios). Ao ser ameaçado de excomunhão e morte, caso não
se re-tratasse formalmente de suas posições expressas nas 95 teses afixadas na
Catedral de Wittenberg, Lutero disse: Não posso submeter minha fé quer ao Papa
quer aos concílios, porque é claro como o dia, que eles têm frequentemente
errado e se contradito um ao outro (...)• Esse evento serve de marco histórico
para o conceito de sola Scriptura (somente a Escritura).
2.2. Em que consiste o conceito de
sola Scriptura
Apologistas romanos, desde a Reforma,
por ignorância — culposa ou dolosa tentam distorcer, de forma irónica, a
doutrina de sola Scriptura a seu bel prazer. Deste modo, é importante
dizer que a teologia reformada, quando utiliza a expressão sola Scriptura, não
está rejeitando a realidade de que a Palavra de Deus, antes de ser escriturada,
foi transmitida oralmente aos homens; também não está negando que o Eterno
revela-se à humanidade por meio de elementos naturais (revelação geral, não
salvífica); do mesmo modo, não está minimizando a atuação do Espírito Santo na
vida do crente; tampouco está questionando a necessidade de haver, na Igreja,
mestres, pastores e evangelistas.
O grito "sola
Scriptura!" declara, fundamentalmente, que a Palavra de Deus — anunciada
ao longo dos séculos por profetas e apóstolos — encontra-se, hoje, registrada
nas Sagradas Escrituras, e que essa revelação escrita é clara o suficiente para
ensinar ao povo de Deus quanto à salvação e à santificação.
A teologia reformada entende que
a tradição oral pode, sim, ser útil na compreensão das origens do cristianismo
— desde que se possa demonstrar que ela (a tradição oral) tem origem no
ensino apostólico — ; entretanto, também defende que nenhum tratado
teológico, nenhuma opinião religiosa, nenhum concílio que contradiga as
Escrituras pode servir de fundamento para a fé cristã.
Sola Scriptura
significa, antes de tudo, que as Escrituras Sagradas (do Antigo e do Novo
Testamento) são a única regra de fé e prática para os cristãos, pela simples
razão de elas — e tão somente elas — serem inspiradas por Deus.
2.3. A base bíblica da doutrina
reformada
Obviamente, não encontraremos no
texto bíblico qualquer menção ao termo sola Scriptura — ao menos não como frase
declarativa. Entretanto, o próprio texto sagrado revela-nos duas realidades
indiscutíveis:
• a Bíblia é inspirada por Deus;
• por meio dela, o Senhor fala de
maneira autoritativa e definitiva ao Seu povo (Jo 5.24; 20.30,31; 2 Pé 1.20,21;
2 Tm 3.14-17; l Co 14.37,38).
2.4. O texto canónico
Não se pode falar em sola Scriptura,
um dos fundamentos teológicos da Reforma Protestante, sem mencionar a diferença
existente entre a Bíblia Romana e a Bíblia Protestante.
Desde os tempos de Lutero, tem havido
um sério debate sobre se a coleção de livros apócrifos deve ou não pertencer à
Bíblia. A divergência crucial surgiu em torno de 11 obras literárias do período
do Antigo Testamento [sete livros (Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico,
Baruque, l e 2 Ma-cabeus) e quatro partes de outros tomos (adições a Daniel e
adições a Ester)].
Os judeus e os protestantes,
unanimemente, consideram-
-nos como não canónicos, e os
católicos romanos declararam-
-nos canónicos, ou canónicos de
segunda chamada, no Concílio de Trento (1546).
Sempre houve escritos seculares que
tentaram tratar os livros apócrifos como tendo o mesmo grau de autoridade que
um texto canónico, ou como tendo ainda maior autoridade. Contudo, precisamos
lembrar-nos de que confiar em informações contidas em livros que foram
considerados espúrios, desde os primórdios do cristianismo, é um ato de grande
insensatez.
3. ADVERTÊNCIA À IGREJA
REFORMADA: QUEM TEM A RESPOSTA DEFINITIVA?
3.1. O Papa não tem a resposta
definitiva
A partir do quarto século, com
Constantino, os ritos cristãos começaram a ser definidos pelos líderes da
Igreja — naquela época, havia cinco patriarcas (ou bispos) nas principais cidades
do Império Romano, que se declaravam herdeiros dos apóstolos de Cristo. A
partir do quinto século, definiu-se, então, que o bispo de Roma seria o mais
importante dentre eles e seria chamado de Papa (gr.pappas, palavra
carinhosa para pai). O sumo pontífice atuaria como vigário (It. vicariu =
substituto) de Cristo na terra, sendo, deste modo, o líder supremo da Igreja.
Em linhas gerais, a Igreja Romana
defende que o Papa — sucessor daquele que recebeu as chaves do Reino dos céus
(Mt 16.19) — é infalível quando, a partir do trono de Pedro, fala nas
condições ex cathedra sobre fé, moral e/ou costumes. Na
prática, tal declaração normativa não tem qualquer valor, pois, só quem pode
dizer se um Papa falou ex cathedra ou não é o próprio Papa.
3.2. As denominações protestantes não
têm a resposta definitiva
Existe a crença entre os cristãos
modernos de que a denominação cristã da qual fazemos parte está sempre certa.
Isso também é uma inverdade, pois ninguém está isento de erros neste mundo. Os
concílios são compostos por pessoas que, por mais conhecedoras das Escrituras
que sejam, estão sujeitas a falhas. Obviamente, quanto maior for o apego dos
líderes à sã doutrina, quanto maior for sua capacidade de aplicar os
ensinamentos bíblicos às circunstâncias da vida, maiores chances terão de bem
dirigir a Igreja de Cristo.
O Juiz Supremo,
pelo qual todas as controvérsias religiosas têm de ser determinadas, e por quem
serão examinados todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos
escritores, todas as doutrinas de homens e opiniões particulares, o Juiz
Supremo, em cuja sentença nos devemos firmar, não pode ser outro senão o
Espírito Santo falando na Escritura (Confissão de Fé de Westminster).
CONCLUSÃO
Mas, afinal, se nem a Tradição, nem o
Papa, nem as denominações cristãs têm a palavra final, qual é a autoridade
normativa, segundo a qual a Igreja deve moldar a sua fé? Para a Igreja
Reformada, não são os costumes (por mais arraigados que estejam), não é a
opinião das pessoas (por mais intelectualizadas que sejam), nem a história das
instituições (por mais respeitáveis que sejam) que deve nortear a nossa fé, mas
sim o Espírito Santo, que fala na Escritura.
Fonte : https://sub-ebd.blogspot.com.br
ADVEC – ASSEMBLEIA DE DEUS VITÓRIA EM CRISTO | TAQUARA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL – CLASSE DOS PROFESSORES LPD n.º 52 – Reforma Protestante
4.º Trimestre de 2017
ADVEC – ASSEMBLEIA DE DEUS VITÓRIA EM CRISTO | TAQUARA ESCOLA BÍBLICA DOMINICAL – CLASSE DOS PROFESSORES LPD n.º 52 – Reforma Protestante
4.º Trimestre de 2017
Lição 04 – A Singularidade das Escrituras: Sola Scriptura (Dc. Werner
Freitas)
Texto Bíblico: 2 Tm 3.14-17, Rm
15.1-4
Texto Áureo: Jo 5.39
1.
INTRODUÇÃO
Iniciamos citando um acontecimento
fundamental para a origem do conceito em questão: a resposta de Lutero na Dieta
de Worms (1521), que ao ser indagado se iria se retratar de suas posições
expressas nas 95 teses, respondeu: “A menos que eu seja convencido pelas
Escrituras e pela razão pura e já que não aceito a autoridade do papa e dos
concílios, pois eles se contradizem mutuamente, minha consciência é cativa da
Palavra de Deus. Eu não posso e não vou me retratar de nada, pois não é seguro
nem certo ir contra a consciência. Deus me ajude. Amém.” Em outras palavras,
Lutero declarou que só aceitaria o que pudesse ser provado pelas Escrituras:
“Sola Scriptura”. Aceitando somente a Escritura, Lutero deduziu que a salvação
era somente pela graça (Sola Gratia), somente pela fé (Sola Fide) na pessoa e
obra de Cristo (Solus Christus), redundando em glória somente a Deus (Soli Deo
gloria), divergindo, assim, do que era ensinado na sua época e que era baseado
na tradição, bulas e declarações de concílios. Em outras palavras, o conceito
de Sola Scriptura é fundamental para o edifício da teologia da Reforma. No
texto bíblico que embasa esta lição está escrito “permanece” (2 Tm 3.14), ou
seja, uma clara advertência para não fugir, não sair dela – não ser atraído por
aquilo que não tem inspiração.
2.
A
TRADIÇÃO CRISTÃ
A tradição representa a
continuidade e a permanência da doutrina da cristã, que se manifestou de forma
oral e também por escrita. O próprio evangelho foi transmitido a muitos de
forma oral prioritária e urgentemente através da imperativa declaração: Ide e
pregai! Assim os apóstolos transmitiram aquilo que receberam diretamente do
nosso Senhor Jesus Cristo, sendo também observável na história de Israel como
citado nos primeiros versos do Salmo 78. Já a tradição escrita se apoia na
inspiração fiel e verdadeira do Espírito Santo nas sagradas letras não havendo
uma “nova renovação ou revelação” do Cânon que foi deixado para nos fazer sábio
para a salvação pela fé no único Senhor e Salvador Cristo Jesus e Sua obra
redentora.
3.
SOLA
SCRIPTURA
Quando o termo “Sola Scriptura” foi
proposto não estava jamais rejeitando a tradição (2 Ts 2.15) mas afirmando que
a mesma deveria ser “provada no fogo” da Palavra, pois muitos conceitos
tradicionais foram inseridos em bulas e outros documentos pontífices que
contrariam claramente as doutrinas básicas da Palavra de Deus (Mt 15.2-6). Uma
igreja que é marcada pela presença do Espírito da Verdade que guia em toda a
verdade (Jo 16.13,14) não permite de forma alguma a inserção de ensinos e
tradições que causem adultério, substração ou adição das escrituras, mas ela
tem impressa a Palavra do Eterno em sua mente e em seu coração e a considera
como autoridade máxima e insubstituível para correção, ensino, exortação,
instrução e pregação em justiça onde somente Jesus Cristo, o Verbo Vivo é
manifesto, revelado e glorificado. Página 2 de 2 4.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que “Sola Scriptura”
significa que a única regra de fé e prática para os cristãos são as Escrituras
Sagradas do Antigo e do Novo Testamento, pela simples razão de que elas, e
somente elas, são inspiradas por Deus e através dela é norteada pelo Espírito
Santo que testifica, revela e glorifica o Filho de Deus.
REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS Bíblia
de Estudo de Genebra, 2 ed. Barueri, SP, Sociedade Bíblica do Brasil, Cultura
Cristã, 2009. COSTA SANTOS, R. R. Introdução Bíblica – a vontade de Deus
através de Sua Palavra escrita, Pindamonhangaba. IBAD, 2006. FRAME, J. M. A
confissão de fé de Westminster, São Paulo: Vida Nova, 1988. LLOYDE-JONES, D. M.
Igreja Católica: uma radiografia. Sermão proferido em Westminster Chapel,
Londres em maio de 1963. LOPES, A. N. Sola Scriptura. Disponível em: <
www.ipb.com.br > acessado em 09 de outubro de 2017
FONTE: ADVEC – ASSEMBLEIA DE DEUS VITÓRIA EM CRISTO |
TAQUARA ESCOLA
✏ SOLA SCRIPTURA
O brado da
Reforma Protestante ecoou de dentro da Escritura. A Reforma não foi a abertura
de um novo caminho religioso, mas uma volta às antigas veredas. Não foi uma
nova forma de ver a revelação divina, mas uma volta às Escrituras do Antigo e
do Novo Testamento. Não foi a adoção de novas doutrinas, mas uma volta à
doutrina dos apóstolos. O resgate da autoridade e da centralidade das
Escrituras foi o pilar principal da Reforma. Destacaremos aqui quatro pontos
importantes:
Em primeiro lugar, a Escritura é a única fonte que nos
mostra o que devemos crer. A Bíblia é a nossa única regra de fé. A tradição não
está em pé de igualdade com a Bíblia. Os dogmas e decisões dos concílios
eclesiásticos precisam estar debaixo da autoridade da Bíblia. A igreja está sob
a autoridade da Bíblia. Nenhum igreja ou concílio pode determinar o que devemos
crer. O conteúdo de nossa fé vem da Palavra de Deus e dela somente. Nossa base
doutrinária procede não da interpretação pessoal deste ou daquele teólogo, mas
da Escritura. A Bíblia e só ela é a palavra de Deus infalível, inerrante e
suficiente. Não aceitamos nenhuma revelação forânea às Escrituras. Não temos
novas revelações. Mesmo que um anjo descesse do céu, para pregar outro
evangelho, deveria ser rejeitado como anátema. A palavra de Deus jamais caduca
nem fica obsoleta.
Em segundo lugar, a Escritura é a única autoridade que nos
ensina o que devemos fazer. A Bíblia é a nossa única regra de prática. Nossa fé
determina nossas ações. O que cremos pavimenta o caminho do que fazemos. A
teologia é mãe da ética. O credo desemboca na conduta. Assim como um homem crê,
assim ele é. Nossas experiências não suplantam a verdade revelada. A Bíblia
regula e julga nossas experiências em vez de nossas experiências relativizarem
a Bíblia. Não é o que eu sinto que é a norma do meu viver, mas o que Deus diz
em sua palavra. Não é que a igreja diz em suas encíclicas ou dogmas que
constitui o fundamento de nossas ações, mas o que está registrado na palavra de
Deus. A verdade de Deus não é apenas um preceito a ser crido, mas também e,
sobretudo, uma norma a ser praticada.
Em terceiro lugar, a Escritura é a única revelação divina
que nos aponta para Jesus, o nosso Salvador. Tanto o Antigo como o Novo
Testamento enfatizam a pessoa e a obra de Jesus Cristo. O Antigo Testamento
mostra Deus separando um povo para si e por meio dele, preparando o mundo para
a chegada do Messias. O Novo Testamento mostra como esse Messias veio e o que
ele fez para salvar o seu povo. O Antigo Testamento mostra o Cristo da profecia;
o Novo Testamento revela o Cristo da história. Patriarcas, profetas, reis e
sacerdotes foram um tipo de Cristo. O tabernáculo, o templo, os rituais e as
festas judaicas apontavam para Jesus. Tudo era sombra da realidade que se
cumpriu em Jesus. Ele é o eixo das Escrituras, o centro da história, o Salvador
do mundo. As Escrituras testificam de Jesus e apontam-no como o único nome dado
entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos.
Em quarto lugar, a Escritura é o único conteúdo da pregação
da igreja. Não pregamos ao mundo palavras de homens, mas a palavra de Deus. Ela
é inspirada, viva, eficaz e penetrante. Ela é inerrante em seu conteúdo,
infalível em seu propósito e suficiente em sua mensagem. Não podemos tirar nada
dela nem a ela acrescentar coisa alguma. Precisamos pregar toda a Bíblia e só a
Bíblia. Não criamos a mensagem, apenas a transmitimos. A palavra é o conteúdo
da nossa pregação. Ela é o trigo nutritivo da verdade. Ela é mais preciosa do
que o ouro e mais doce do que o mel. É remédio para o enfermo, alimento para o
faminto, água para o sedento e luz para o errante. Ela é a espada de dois
gumes. Por ela avançamos contra as forças do mal e por ela nos defendemos dos
ataques do inimigo. Sua mensagem é penetrante e sempre oportuna. A Escritura não
pode falhar. Os céus bem como a terra passarão, mas a palavra de Deus jamais
vai passar. Ela é eterna. Ela nos basta. Permanece o lema da Reforma: Sola
Scriptura!
FONTE : http://hernandesdiaslopes.com.br
✏Sola
Scriptura - Somente as Escrituras
Por Morgana Mendonça dos Santos
O Quinque Solae é como tornou-se conhecido os cinco pilares
da Reforma Protestante, ou seja, os cinco pontos fundamentais do pensamento da
Reforma Protestante. São esses: Sola Fide, Sola Scriptura, Sola Gratia, Solo
Christus e Soli Deo Glória. Nossa ênfase nesse texto é Sola Scriptura, somente
as Escrituras. O grito latino para combater a situação desviada que vivia a
igreja no século XVI. Poderia me ater a toda questão histórica, política,
filosófica, social e religiosa do tempo, mas preferi nesse pequeno ensaio
enfatizar a natureza das Escrituras Sagradas. Paulo na sua carta ao jovem
Timóteo declara um dos pontos centrais da doutrina que tem como reflexo a
Reforma Protestante.
“Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para
ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; para que o
homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra.” - 2
Timóteo 3.16-17
Paulo afirma a divindade, inspiração e suficiência das
Escrituras. A Reforma Protestante não foi um movimento criado pelo homem, o
próprio Deus em Sua soberania e providência, em um momento tão crítico por onde
a igreja caminhava, levantou o monge agostiniano Martinho Lutero para no dia 31
de outubro de 1517 fixar nas portas do Castelo de Wittenberg, suas 95 teses,
contra aquilo que a Igreja Católica Romana estava pregando. O papa Leão X
querendo reconstruir a basílica de São Pedro, cria as indulgências como um meio
para arrecadar fundos financeiros de forma ilegítima e antibíblica para a
construção. Lutero, ao deparar com esse desvio, conclama o Somente as
Escrituras, desejando não dividir a igreja nem desvia-la da verdade, pelo
contrário, levar a igreja de volta ao antigo evangelho, ao verdadeiro
evangelho, as Escrituras Sagradas, a doutrina dos apóstolos.
Em alguns momentos importantes, algumas citações do
reformador que nos leva para mais próximo do sentimento que florescia cada dia
mais em seu coração:
“Um simples leigo armado com as Escrituras é maior que o
mais corajoso Papa sem elas.” — Disputa teológica com João Maier, em 14 de
julho de 1519.
“A menos que possa ser refutado e convencido pelo testemunho
da Escritura e por claros argumentos (visto que não creio no papa, nem nos
concílios; é evidente que todos eles frequentemente erram e se contradizem);
estou conquistado pela Santa Escritura citada por mim, minha consciência está
cativa à Palavra de Deus. Não posso e não me retratarei, pois é inseguro e
perigoso fazer algo contra a consciência... Que Deus me ajude. Amém!” Discurso
de Lutero na Dieta de Worms (1521).
Portanto, no que se refere a natureza das Escrituras, de
forma bem objetiva temos cinco pontos:
1. As Escrituras são
INSPIRADAS: A palavra grega para "inspirado" significa literalmente
"respirado por Deus para fora".
“sabendo primeiramente isto: que nenhuma profecia da
Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida
por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo
Espírito Santo.” - 2 Pedro 1.20-21
Em seu livro Sola Scriptura, Paulo Anglada afirma: "As
Escrituras tem natureza divino-humana - elas são a Palavra de Deus escrita em
linguagem humana, por pessoas em pleno uso de suas faculdades. Contudo, tais
pessoas foram de tal modo dirigidas pelo Espírito Santo que tudo o que registraram
nas Escrituras é livre de erro, constituindo-se em revelação infalível e
inerrante de Deus ao homem." [1]
Na Confissão de Fé de Westminster lemos sobre o conceito de
inspiração das Escrituras: "O Antigo Testamento em hebraico (língua
original do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento em grego (a língua mais
geralmente conhecida entre as nações no tempo em que ele foi escrito), sendo
inspirados imediatamente por Deus, e pelo seu singular cuidado e providência
conservados puros em todos os séculos, são, por isso, autênticos, e assim em
todas as controvérsias religiosas a Igreja deve apelar para eles como para um
supremo tribunal; mas, não sendo essas línguas conhecidas por todo o povo de
Deus, que tem direito e interesse nas Escrituras, e que deve, no temor de Deus,
lê-las e estudá-las, esses livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de
todas as nações aonde chegarem, a fim de que a Palavra de Deus, permanecendo
nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável e possuam a esperança
pela paciência e conforto das Escrituras." [2]
2. As Escrituras são
INERRANTES: "Inerrante" significa simplesmente "sem erros"
ou "verdadeiro".
“Não penseis que vim destruir a lei ou os profetas; não vim
destruir, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra
passem, de modo nenhum passará da lei um só jota ou um só til, até que tudo
seja cumprido.” - Mateus 5.17-18
“A tua palavra é fiel a toda prova, por isso o teu servo a
ama.” - Salmos 119.140
“Santifica-os na verdade, a tua palavra é a verdade.” - João
17.17
"Inerrância" trata-se de um conceito
estreitamente relacionado, mas é um termo mais recente e menos largamente,
aceito. Traz a conotação de que a Bíblia não contém nenhum erro de ação
(erros materiais), nem contradições internas (erros formais). No entanto,
devemos compreender que tratamos aqui com referência aos originais e não as
cópias. Na baixa crítica, isto é, na manuscritologia bíblica, entendemos a
questão sobre erros voluntários ou involuntários dos copistas, ou seja, na
cópia dos manuscritos por diversos fatores. Os conceitos de inerrância e
infalibilidade sur¬giram em discussões teológicas concernentes à
inspiração das Escrituras. Outros reformadores também declararam:
"As Escrituras nunca erram…. onde as Sagradas
Escrituras estabelecem algo que deve ser crido, ali não devemos desviar-nos de
suas palavras." - Martinho Lutero
"O registro seguro e infalível". "A regra
certa e inerrante". "A Palavra infalível de Deus". "Isenta
de toda mancha ou defeito". - João Calvino
Provavelmente, os dois acontecimentos mais significativos no
tocante à doutrina da infalibilidade e da inerrância foram a declaração sobre
as Escrituras na Aliança de Lausanne (1974) e a Declaração de Chicago (1978) do
Concílio Internacional da Inerrância Bíblica.
3. As Escrituras são
INFALÍVEIS: "Infalibilidade" pode ser chamada de conseqüência subjetiva
da inspiração divina, isto é, define a Escritura como confiável e fidedigna
para aqueles que se voltam para ela em busca da verdade de Deus. Como fonte da
verdade, a Bíblia é "indefectível" (ou seja, não pode falhar ou
insurgir-se contra o padrão da verdade). Conseqüentemente, nunca falhará ou
decepcionará qualquer um que confie nela.
“Ora, tudo isso aconteceu para que se cumprisse o que fora
dito da parte do Senhor pelo profeta.” - Mateus 1.22
“Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não
passarão.” - Marcos 13.31
4. As Escrituras são
AUTORITATIVAS: É divina, logo, não pode ser igualada a tradição, nem muito
menos ao magistério. Nem aos pronunciamentos "ex cathedra" do sumo
pontífice. As Escrituras tem origem e caráter divino, ou seja, está acima
irrevogavelmente.
“Por isso nós também, sem cessar, damos graças a Deus,
porquanto vós, havendo recebido a palavra de Deus que de nós ouvistes, a
recebestes, não como palavra de homens, mas (segundo ela é na verdade) como
palavra de Deus, a qual também opera em vós que credes.” - 1 Tessalonicenses
2.13
Em alguns dos seus artigos, Alderi Souza escreve:
"A autoridade da Escritura é superior à da Igreja e da
tradição. Contra a afirmação católica: 'a Igreja ensina' ou 'a tradição
ensina', os reformadores afirmavam: 'a Escritura ensina'." [3]
Paulo Anglada, no seu livro Sola Scriptura, nos traz uma boa
definição: "A autoridade da Bíblia decorre da sua origem divina. Ela é
reconhecida pelo crente plenamente pelo testemunho interno do Espírito Santo, e
não pode ser limitada de forma alguma. (...) Devemos ter cuidado com os grandes
usurpadores da autoridade das Escrituras: o tradicionalismo, o emocionalismo e
o racionalismo. (...) A fé reformada repudia a teologia liberal racionalista,
que nega a autoridade das Escrituras; rejeita a neo-ortodoxia existencialista,
que torna subjetiva a autoridade da Bíblia; e se recusa a aceitar a posição
neo-evangélica, que limita a autoridade da Palavra de Deus ao seu conteúdo
salvífico". [4]
E juntos com a Confissão de Fé de Westminster, declaramos:
"A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser crida e
obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas depende
somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de ser
recebida, porque é a Palavra de Deus". [5]
5. As Escrituras são
SUFICIENTES: O próprio Apóstolo Paulo, falando a Timóteo, enfatizou a
suficiência das Escrituras. Apontando para o seu proveito no ensino, na
repreensão, na correção, na instrução em justiça, dessa forma o cristão esta
preparado para toda boa obra.
“Tudo o que eu te ordeno, observarás; nada lhe acrescentarás
nem diminuirás.” - Deuteronômio 12.32
“Não acrescentareis à palavra que vos mando, nem diminuireis
dela, para que guardeis os mandamentos do Senhor vosso Deus, que eu vos mando.”
- Deuteronômio 4.2
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos pregasse
outro evangelho além do que já vos pregamos, seja anátema.” - Gálatas 1.8
Anglada, mais uma vez, corrobora com a veracidade da
suficiência: "Embora as Escrituras não sejam exaustivas, elas são
suficientes em matéria de fé e prática. Nelas o homem encontra tudo o que deve
crer e tudo o que Deus requer dele para que seja salvo, sirva-o, adore-o e viva
de modo que lhe seja agradável. Damo-nos por satisfeitos com as Escrituras e repudiamos
as tradições humanas e supostas novas revelações do Espírito". [6]
Na Confissão Belga, de forma uníssona concordamos e
afirmamos: "Cremos que a sagrada Escritura contém perfeitamente a vontade
de Deus e que ensina suficientemente tudo aquilo que o homem precisa saber para
ser salvo. Nela está detalhado e escrito cabalmente o modo de adoração que Deus
requer de nós. Por isso, não é lícito a ninguém, nem mesmo a apóstolos, nada
ensinar que seja diferente daquilo que agora nos ensina a Sagrada Escritura.;
sim, nem que seja 'um anjo vindo do céu', como afirma o apóstolo Paulo (Gl
1.8). A proibição de acrescentar ou retirar qualquer coisa da Palavra de Deus
(Dt 12.32), é evidência que a doutrina nela contida é perfeitíssima e
completíssima em todos os sentidos. Não nos é permitido considerar quaisquer
escritos de homens, por mais santos que tenham sido, como de igual valor ao das
Escrituras Divinas; nem devemos considerar que costumes, maiorias, antigüidade,
sucessão de tempos e de pessoas, concílios, decretos ou estatutos tenham o
mesmo valor de verdade de Deus, porque a verdade está acima de tudo." [7]
E, diante desse contexto, onde a igreja já não valorizava as
Escrituras, que os reformadores bradaram o Sola Escriptura e Tota Scriptura,
lutaram e viveram com esse ardor, essa chama que não apagava dia após dia.
Martirizados, ou levados às últimas instâncias, marcaram seu tempo e sua época
com a sua vida. A piedade acompanhava apráxis. Para nós, um grade exemplo de fé
e prática, sejamos desafiados a restaurar as antigas verdades, um dever de cada
geração.
“E sede cumpridores da palavra e não somente ouvintes,
enganando-vos a vós mesmos. Pois se alguém é ouvinte da palavra e não
cumpridor, é semelhante a um homem que contempla no espelho o seu rosto natural;
porque se contempla a si mesmo e vai-se, e logo se esquece de como era.
Entretanto aquele que atenta bem para a lei perfeita, a da liberdade, e nela
persevera, não sendo ouvinte esquecido, mas executor da obra, este será
bem-aventurado no que fizer.” - Tiago 1.22-25
✏A Doutrina Reformada da Autoridade Suprema das Escrituras
Paulo
Anglada
A doutrina que
me proponho a considerar neste artigo foi de fundamental importância na Reforma
Protestante do Século XVI. Em contraposição, por um lado, à doutrina católica
romana de uma tradição oral apostólica e, por outro lado, ao misticismo dos
assim chamados entusiastas ou reformadores radicais, os Reformadores defenderam
a doutrina da autoridade suprema das Escrituras. Essa foi, portanto, a sua
resposta à autoridade da tradição eclesiástica e do misticismo pessoal.
A autoridade suprema das Escrituras também é uma doutrina
puritano-presbiteriana. A ela os puritanos tiveram que apelar freqüentemente na
luta que foram obrigados a travar contra as imposições litúrgicas da Igreja Anglicana.1 A Confissão de Fé de Westminster professa a
referida doutrina em três parágrafos do seu primeiro capítulo. No quarto
parágrafo, ela trata da origem ou fundamento da autoridade das Escrituras:
A autoridade da Escritura Sagrada, razão pela qual deve ser
crida e obedecida, não depende do testemunho de qualquer homem ou igreja, mas
depende somente de Deus (a mesma verdade) que é o seu Autor; tem, portanto, de
ser recebida, porque é a Palavra de Deus.
O parágrafo quinto aborda a questão da certeza ou convicção
pessoal da autoridade das Escrituras:
Pelo testemunho da Igreja podemos ser movidos e incitados a
um alto e reverente apreço pela Escritura Sagrada; a suprema excelência do seu
conteúdo, a eficácia da sua doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de
todas as suas partes, o escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a
plena revelação que faz do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas
outras excelências incomparáveis e completa perfeição são argumentos pelos
quais abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa
plena persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém
da operação interna do Espírito Santo que, pela Palavra e com a Palavra,
testifica em nossos corações.
O décimo e último parágrafo desse capítulo confere às
Escrituras (a voz do Espírito Santo) a palavra final para toda e qualquer
questão religiosa, reconhecendo-a como supremo tribunal de recursos em matéria
de fé e prática:
O Juiz Supremo, pelo qual todas as controvérsias religiosas
têm de ser determinadas, e por quem serão examinados todos os decretos de
concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas as doutrinas de
homens e opiniões particulares; o Juiz Supremo, em cuja sentença nos devemos
firmar, não pode ser outro senão o Espírito Santo falando na Escritura.
Em dias como os que estamos vivendo, em que cresce a
impressão de que o evangelicalismo moderno (particularmente o brasileiro)
manifesta profunda crise teológica, eclesiástica e litúrgica,2 convém
considerar novamente essa importante doutrina reformado-puritana. Convém uma
palavra de alerta contra antigas e novas tendências de usurpar ou limitar a
autoridade da Palavra de Deus. Tal é o propósito deste artigo.
I. Definição
O que queriam dizer os Reformadores ao professarem a
doutrina da autoridade das Escrituras? Que, por serem divinamente inspiradas,
elas são verídicas em todas as suas afirmativas. Segundo esta doutrina, as
Escrituras são a fonte infalível de informação que estabelece definitivamente
qualquer assunto nelas tratado: a única regra infalível de fé e de prática, o
supremo tribunal de recursos ao qual a Igreja pode apelar para a resolução de
qualquer controvérsia religiosa.
Isto não significa que as Escrituras sejam o único
instrumento de revelação divina. Os atributos de Deus se revelam por meio da
criação: a revelação natural (cf. Sl 19:1-4 e Rm 1:18-20). Uma versão da sua
lei moral foi registrada em nosso coração: a consciência (cf. Rm 2:14-15),
"uma espiã de Deus em nosso peito," "uma embaixadora de Deus em
nossa alma," como os puritanos costumavam chamá-la.3 A própria pessoa de
Deus, o ser de Deus, revela-se de modo especialíssimo no Verbo encarnado, a
segunda pessoa da Trindade (cf. Jo 14.19; Cl 1.15 e 3.9).
Mas, visto que Cristo nos fala agora pelo seu Espírito por
meio das Escrituras, e que as revelações da criação e da consciência não são
nem perfeitas e nem suficientes por causa da queda, que corrompeu tanto uma
como outra, a palavra final, suficiente e autoritativa de Deus para esta
dispensação são as Escrituras Sagradas.
II. Base Bíblica
A base bíblica da doutrina reformada da autoridade suprema
das Escrituras é tanto inferencial como direta.
A. Base Inferencial
É inferencial, porque decorre do ensino bíblico a respeito
da inspiração divina das Escrituras. Visto que as Escrituras não são produto da
mera inquirição espiritual dos seus autores (cf. 2 Pe 1.20), mas da ação
sobrenatural do Espírito Santo (cf. 2 Tm 3.16 e 2 Pe 1.21), infere-se que são
autoritativas. Na linguagem da Confissão de Fé, a autoridade das Escrituras
procede da sua autoria divina: "porque é a Palavra de Deus."
Isto não significa que cada palavra foi ditada pelo Espírito
Santo, de modo a anular a mente e a personalidade daqueles que a escreveram. Os
autores bíblicos não escreveram mecanicamente. As Escrituras não foram
psicografadas, ou melhor, "pneumografadas." Os diversos livros que
compõem o cânon revelam claramente as características culturais, intelectuais,
estilísticas e circunstanciais dos diversos autores. Paulo não escreve como
João ou Pedro. Lucas fez uso de pesquisas para escrever o seu Evangelho e o
livro de Atos. Cada autor escreveu na sua própria língua: hebraico, aramaico e
grego. Os autores bíblicos, embora secundários, não foram instrumentos passivos
nas mãos de Deus. A superintendência do Espírito não eliminou de modo algum as
suas características e peculiaridades individuais. Por outro lado, a agência
humana também em nada prejudicou a revelação divina. Seus autores humanos foram
de tal modo dirigidos e supervisionados
pelo Espírito Santo que tudo o que foi registrado por eles
nas Escrituras constitui-se em revelação infalível, inerrante e autoritativa de
Deus. Não somente as idéias gerais ou fatos revelados foram registrados, mas as
próprias palavras empregadas foram escolhidas pelo Espírito Santo, pela livre
instrumentalidade dos escritores.4
O fato é que, por procederem de Deus, as Escrituras
reivindicam atributos divinos: são perfeitas, fiéis, retas, puras, duram para
sempre, verdadeiras, justas (Sl 19.7-9) e santas (2 Tm 3.15).5
B. Base Direta
Mas a doutrina reformada da autoridade das Escrituras não se
fundamenta apenas em inferências. Diversos textos bíblicos reivindicam
autoridade suprema.
Os profetas do Antigo Testamento reivindicam falar palavras
de Deus, introduzindo suas profecias com as assim chamadas fórmulas proféticas,
dizendo: "assim diz o Senhor," "ouvi a palavra do Senhor,"
ou "palavra que veio da parte do Senhor."6 No Novo Testamento, vários textos do Antigo
Testamento são citados, sendo atribuídos a Deus ou ao Espírito Santo. Por
exemplo: "Assim diz o Espírito Santo..." (Hb 3:7ss).7
A autoridade apostólica também evidencia a autoridade
suprema das Escrituras. O Apóstolo Paulo dava graças a Deus pelo fato de os
tessalonicenses terem recebido as suas palavras "não como palavra de
homens, e, sim, como em verdade é, a palavra de Deus, a qual, com efeito, está
operando eficazmente em vós, os que credes" (1 Ts 2:13). Que autoridade
teria Paulo para exortar aos gálatas no sentido de rejeitarem qualquer
evangelho que fosse além do evangelho que ele lhes havia anunciado, ainda que
viesse a ser pregado por anjos? Só há uma resposta razoável: ele sabia que o
evangelho por ele anunciado não era segundo o homem; porque não o havia aprendido
de homem algum, mas mediante revelação de Jesus Cristo (Gl 1:8-12).
Jesus também atesta a autoridade suprema das Escrituras:
pelo modo como a usa, para estabelecer qualquer controvérsia: "está
escrito"8 (exemplos: Mt 4:4,6,7,10; etc.), e ao afirmar explicitamente a
autoridade das mesmas, dizendo em João 10:35 que "a Escritura não pode
falhar."9
III. Usurpações da
Autoridade das Escrituras
Apesar da sólida base bíblico-teológica em favor da doutrina
reformada da autoridade suprema das Escrituras, hoje, como no passado,
deparamo-nos com a mesma tendência geral de diminuir a autoridade das
Escrituras. E isso ocorre de duas maneiras: por um lado, há a propensão em
admitir fontes adicionais ou suplementares de autoridade, que tendem a usurpar
a autoridade da Palavra de Deus. Por outro lado, há a tendência de limitar a
autoridade das Escrituras, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo.
Com relação à primeira dessas tendências, pelo menos três
fontes suplementares usurpadoras da autoridade das Escrituras podem ser
identificadas: a tradição (degenerada em tradicionalismo), a emoção (degenerada
em emocionalismo) e a razão (degenerada no racionalismo). Sempre que um desses
elementos é indevidamente enfatizado, a autoridade das Escrituras é questionada,
diminuída ou mesmo suplantada.
A. A Tradição
Degenerada em Tradicionalismo
Este foi um dos grandes problemas enfrentados pelo Senhor
Jesus. A religião judaica havia se tornado incrivelmente tradicionalista.
Havendo cessado a revelação, os judeus, já no segundo século antes de Cristo,
produziram uma infinidade de tradições ou interpretações da Lei, conhecidas
como Mishnah. Essas tradições foram cuidadosamente guardadas pelos escribas e
fariseus por séculos, até serem registradas nos séculos IV e V A.D., passando a
ser conhecidas como o Talmude,10 a
interpretação judaica oficial do Antigo Testamento até o dia de hoje. Muitas
dessas tradições judaicas eram, entretanto, distorções do ensino do Antigo
Testamento. Mas tornaram-se tão autoritativas, que suplantaram a autoridade do
Antigo Testamento. Jesus acusou severamente os escribas e fariseus da sua
época, dizendo:
Em vão me adoram, ensinando doutrinas que são preceitos de
homens. Negligenciando o mandamento de Deus, guardais a tradição dos homens. E
disse-lhes ainda: Jeitosamente rejeitais o preceito de Deus para guardardes a
vossa própria tradição... invalidando a palavra de Deus pela vossa própria
tradição que vós mesmos transmitistes... (Mc 7.7-9,13).11
O Apóstolo Paulo também denunciou essa tendência. Escrevendo
aos colossenses, ele advertiu:
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e
vãs sutilezas, conforme a tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo,
e não segundo Cristo... Se morrestes com Cristo para os rudimentos do mundo,
por que, como se vivêsseis no mundo, vos sujeitais a ordenanças: Não manuseies
isto, não proves aquilo, não toques aquiloutro, segundo os preceitos e
doutrinas dos homens? (Cl 2.8,20-22).
Quinze séculos depois, os Reformadores se depararam com o
mesmo problema: as tradições contidas nos livros apócrifos e pseudepígrafos,
nos escritos dos pais da igreja, nas decisões conciliares e nas bulas papais
também degeneraram em tradicionalismo. As tradições eclesiásticas adquiriram
autoridade que não possuíam, usurpando a autoridade bíblica. É neste contexto
que se deve entender a doutrina reformada da autoridade das Escrituras.
Trata-se, primordialmente, de uma reação à posição da Igreja Católica.
Isto não significa, entretanto, que a tradição eclesiástica
seja necessariamente ruim. Se a tradição reflete, de fato, o ensino bíblico, ou
está de acordo com ele, não sendo considerada normativa (autoritativa) a não
ser que reflita realmente o ensino bíblico, então não é má. Os próprios
Reformadores produziram, registraram e empregaram confissões de fé e catecismos
(os quais também são tradições eclesiásticas). Para eles, contudo, esses
símbolos de fé não têm autoridade própria, só sendo normativos na medida em que
refletem fielmente a autoridade das Escrituras.
O problema, portanto, não está na tradição, mas na sua
degeneração, no tradicionalismo, que atribui à tradição autoridade inerente. O
tradicionalismo atribui autoridade às tradições, pelo simples fato de serem
antigas ou geralmente observadas, e não por serem bíblicas. Essa tendência
acaba sempre usurpando a autoridade das Escrituras.
B. A Emoção Degenerada em Emocionalismo
Outra fonte de autoridade que sempre ameaça a autoridade das
Escrituras é a emoção, quando degenerada em emocionalismo. Isto quase
inevitavelmente conduz ao misticismo. Na esfera religiosa, freqüentemente é
dado um valor exagerado à intuição, ao sentimento, ao convencimento subjetivo.
Quando tal ênfase ocorre, facilmente esse sentimento subjetivo de convicção,
pessoal e interno, é explicado misticamente, em termos de iluminação espiritual
e revelação divina direta, seja por meio do Espírito, seja pela
instrumentalidade de anjos, sonhos, visões, arrebatamentos, etc.
Não é que Deus não tenha se revelado por esses meios. Ele de
fato o fez. Foi, em parte, através desses meios que a revelação especial foi
comunicada à Igreja e registrada no cânon pelo processo de inspiração. O que se
está afirmando é que o misticismo copia, forja essas formas reais de revelação
do passado, para reivindicar autoridade que na verdade não é divina, mas humana
(quando não diabólica). Essa tendência não é de modo algum nova. Eis as
palavras do Senhor através do profeta Jeremias:
Assim diz o Senhor dos Exércitos: Não deis ouvido às
palavras dos profetas que entre vós profetizam, e vos enchem de vãs esperanças;
falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do Senhor... Até quando
sucederá isso no coração dos profetas que proclamam mentiras, que proclamam só
o engano do próprio coração?... O profeta que tem sonho conte-o como apenas
sonho; mas aquele em quem está a minha palavra, fale a minha palavra com
verdade. Que tem a palha com o trigo? diz o Senhor (Jr 23.16,26,28).
Séculos depois o Apóstolo Paulo enfrentou o mesmo problema.
Ele próprio foi instrumento de revelações espirituais verdadeiras, inspirado
que foi para escrever suas cartas canônicas. Nessa condição, ele sabia muito
bem o que eram sonhos, visões, revelações e arrebatamentos. Mas, ainda assim,
advertiu aos colossenses, dizendo: "Ninguém se faça árbitro contra vós
outros, pretextando humildade e culto dos anjos, baseando-se em visões,
enfatuado sem motivo algum na sua mente carnal" (Cl 2:18). Tanto Jesus
como os apóstolos advertem a Igreja repetidamente contra os falsos profetas, os
quais ensinam como se fossem apóstolos de Cristo, mas que não passam de
enganadores.
Pois bem, sempre que tal coisa ocorre, a autoridade das
Escrituras é ameaçada. O misticismo, como degeneração das emoções (não se pode
esquecer que também as emoções foram corrompidas pelo pecado) tende sempre a
usurpar, a competir com a autoridade das Escrituras, chegando mesmo
freqüentemente a suplantá-la. Na época dos Reformadores não foi diferente. Eles
combateram grupos místicos por eles chamados de entusiastas12 que reivindicavam autoridade espiritual
interior, luz interior, revelações espirituais adicionais que suplantavam ou
mesmo negavam a autoridade das Escrituras. Esta tem sido igualmente uma das
características mais comuns das seitas modernas, tais como mormonismo,
testemunhas de Jeová, adventismo do sétimo dia, etc. Entre os movimentos
pentecostais e carismáticos também não é incomum a emoção degenerar em
emocionalismo, produzindo um misticismo usurpador da autoridade das Escrituras.
C. A Razão Degenerada em Racionalismo
A ênfase exagerada na razão também tende a usurpar a
autoridade das Escrituras. O homem, devido a sua natureza pecaminosa, sempre
tem resistido a submeter sua razão à autoridade da Palavra de Deus. A tendência
é sempre tê-la (a razão) como fonte suprema de autoridade. Isto foi
conseqüência da queda. Na verdade, foi também a causa, tanto da queda de
Satanás como de nossos primeiros pais. Ambos caíram por darem mais crédito às
suas conclusões do que à palavra de Deus. Desde então, essa soberba mental,
essa altivez intelectual tem tendido sempre a minar a autoridade da Palavra de
Deus, oral (antes de ser registrada) ou escrita.
Por que o ser humano, tendo conhecimento de Deus, não o
glorifica como Deus nem lhe é grato? O Apóstolo Paulo explica: porque,
suprimindo a verdade de Deus (Rm 1:18), "...se tornaram nulos em seus
próprios raciocínios, obscurecendo-se-lhes o coração insensato. Inculcando-se
por sábios, tornaram-se loucos... pois eles mudaram a verdade de Deus em
mentira, adorando e servindo a criatura, em lugar do Criador...’’ (Rm
1:21-22,25).
Esta tem sido, sem dúvida, a causa de uma infinidade de
heresias e erros surgidos no curso da história da Igreja. A heresia de Marcião,
o gnosticismo, o arianismo, o docetismo, o unitarianismo, e mesmo o
arminianismo são todos erros provocados pela dificuldade do homem em submeter
sua razão à revelação bíblica. Todos preferiram uma explicação racional,
lógica, em lugar da explicação bíblica que lhes parecia inaceitável. Assim,
Marcião concebeu dois deuses, um do Antigo e outro do Novo Testamento. Por
isso, também o gnosticismo fez distinção moral entre matéria e espírito. Já o
arianismo originou-se da dificuldade de Ario em aceitar a eternidade de Cristo.
Do mesmo modo, o docetismo surgiu da dificuldade de alguns em admitir um Cristo
verdadeiramente divinohumano. O unitarianismo, por sua vez, decorre da recusa
em aceitar a doutrina bíblica da Trindade, enquanto que o arminianismo surgiu
da dificuldade de Armínio em conciliar a doutrina da soberania de Deus com a
doutrina da responsabilidade humana (rejeitando a primeira).
A tendência da razão em usurpar a autoridade das Escrituras
tem sido especialmente forte nos últimos dois séculos. O desenvolvimento
científico e tecnológico instigou a soberba intelectual do homem. Assim,
passou-se a acreditar apenas no que possa ser constatado, comprovado, pela razão
e pela lógica. A ciência tornou-se a autoridade suprema, a única regra de fé e
prática. E a Igreja passou a fazer concessões e mais concessões, na tentativa
de harmonizar as Escrituras com a razão e com a ciência. O relato bíblico da
criação foi desacreditado pela teoria da evolução; os milagres relatados nas
Escrituras foram rejeitados como mitos; e muitos estudiosos das Escrituras
passaram a assumir uma postura crítica, não mais submissa aos seus ensinos. Foi
assim que surgiu o método de interpretação histórico-crítico em substituição ao
método históricogramatical. Nele, é a suprema razão humana que determina o que
é escriturístico ou mera tradição posterior, o que é milagre ou mito, o que é
verdadeiro ou falso nas Escrituras.
Mas antes de se atribuir tanta autoridade à ciência, convém
considerar a sua história. Quão falível e mutável é! A grande maioria dos
"fatos" científicos de dois séculos atrás já foram rejeitados pela
própria ciência. Além disso, com que freqüência meras teorias e hipóteses científicas
são tomadas como fatos científicos comprovados!13
IV. Limitações da Autoridade das Escrituras
Além das tendências que acabei de considerar, propensas a
usurpar a autoridade das Escrituras, existem outras, que tendem a limitar a
autoridade bíblica, negando-a, subjetivando-a ou reduzindo o seu escopo. É o
que têm feito a teologia liberal, a neoortodoxia e o neo-evangelicalismo, com
relação a três dos principais aspectos da doutrina da autoridade das
Escrituras. Estas três concepções de "autoridade" bíblica precisam
ser entendidas. Elas estão sendo bastante divulgadas em nossos dias, e são, em
certo sentido, até mais perigosas do que as tendências anteriormente
mencionadas, por serem mais sutis. Este assunto pode ser melhor entendido
considerando-se os três principais
aspectos da doutrina da autoridade das Escrituras: sua
origem (ou base), certeza (ou convicção) e escopo (ou abrangência).
A. Origem ou Base da
Autoridade das Escrituras
A origem ou base da autoridade das Escrituras, como já foi
mencionado, encontra-se na sua autoria divina. As Escrituras são autoritativas
porque são de origem divina: o Espírito Santo é o seu autor primário. Para os
Reformadores, as Escrituras são autoritativas porque são a Palavra de Deus
inspirada. Por isso são infalíveis, inerrantes, claras, suficientes, etc.
A teologia liberal (racionalista) nega a própria base da
autoridade da Escritura, negando a sua origem divina. Para ela, as Escrituras
são mero produto do espírito humano, expressando verdades divinas conforme discernidas
pelos seus autores, bem como erros e falhas características do homem. Sua
autoridade, portanto, não é divina nem inerente, mas humana, devendo ser
determinada pelo julgamento da razão crítica. Eis o que afirmam: "A
verdade divina não é encontrada em um livro antigo, mas na obra contínua do
Espírito na comunidade, conforme discernida pelo julgamento crítico
racional."14 De acordo com a
teologia liberal, "nós estamos em uma nova situação histórica, com uma
nova consciência da nossa autonomia e responsabilidade para repensar as coisas
por nós mesmos. Não podemos mais apelar à inquestionável autoridade de um livro
inspirado."15
B. Certeza da
Autoridade das Escrituras
A certeza ou convicção da autoridade das Escrituras16 provém
do testemunho interno do Espírito Santo. A excelência do seu conteúdo, a
eficácia da sua doutrina e a sua extraordinária unidade são algumas das
características das Escrituras que demonstram a sua autoridade divina. Contudo,
admitimos que "a nossa plena persuasão e certeza da sua infalível verdade
e divina autoridade provém da operação interna do Espírito Santo, que pela
Palavra e com a Palavra, testifica em nossos corações."17
O testemunho da Igreja com relação à excelência das
Escrituras pode se constituir no meio pelo qual somos persuadidos da sua
autoridade, mas não na base ou fundamento da nossa persuasão. A nossa persuasão
da autoridade da Bíblia dá-se por meio do testemunho interno do Espírito Santo
com relação à sua inspiração. Na concepção reformada, se alguém crê, de fato,
na autoridade suprema das Escrituras como regra de fé e prática, o faz como
resultado da ação do Espírito Santo. É ele, e só ele, quem pode persuadir
alguém da autoridade da Bíblia.
Essa persuasão não significa de modo algum uma revelação
adicional do Espírito. Significa, sim, que a ação do Espírito na alma de uma
pessoa, iluminando seu coração e sua mente em trevas, regenerando-a, fazendo-a
nova criatura, dissipa as trevas espirituais da sua mente, remove a obscuridade
do seu coração, permitindo que reconheça a autoridade divina das Escrituras. O
Apóstolo Paulo trata deste assunto escrevendo aos coríntios. Ele explica, na
sua primeira carta, que, "o homem natural não aceita as cousas do Espírito
de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las porque elas se
discernem espiritualmente" (1 Co 2.14). O homem natural, em estado de
pecado, perdeu a sua capacidade original de compreender as coisas espirituais.
Ele não pode, portanto, reconhecer a autoridade das Escrituras; ele não tem
capacidade para isso. Na sua segunda carta aos coríntios o Apóstolo é ainda
mais explícito, ao observar que,
...se o nosso evangelho ainda está encoberto, é para os que
se perdem que está encoberto, nos quais o deus deste século cegou os
entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho
da glória de Cristo, o qual é a imagem de Deus... Porque Deus que disse: de
trevas resplandecerá luz —, ele mesmo resplandeceu em nossos corações, para
iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Cristo (2 Co 4.34,6).
O que Paulo afirma aqui é que o homem natural, o incrédulo,
está cego como resultado da obra do diabo, que o fez cair. Nesse estado, ele
está como um deficiente visual, que não consegue perceber nem mesmo a luz do
sol. Pode-se compreender melhor o testemunho interno do Espírito com esta
ilustração. O testemunho do Espírito não é uma nova luz no coração, mas a sua
ação através da qual ele abre os olhos de um pecador, permitindo-lhe reconhecer
a verdade que lá estava, mas não podia ser vista por causa da sua cegueira
espiritual.
Deve-se ter em mente, entretanto — e esse é o ponto
enfatizado aqui —, que esse testemunho interno do Espírito Santo diz respeito à
certeza do crente com relação à plena autoridade das Escrituras, e não à
própria autoridade inerente das Escrituras. A convicção de um crente de que as
Escrituras têm autoridade é subjetiva, mas a autoridade das Escrituras é
objetiva. Esteja-se ou não convencido da sua autoridade, a Bíblia é e continua
objetivamente autoritativa. A neo-ortodoxia existencialista confunde estas coisas
e defende a subjetividade da própria autoridade da Bíblia. Para eles, a
revelação bíblica só é verdade divina quando fala ao nosso coração. Como dizem,
"as Escrituras não são, mas se tornam a Palavra de Deus" quando
existencializadas.18
C. Escopo da
Autoridade das Escrituras
Essas posições da teologia liberal e da neo-ortodoxia com
relação à origem e à certeza da autoridade das Escrituras são seríssimas.
Contudo, talvez mais séria ainda (por ser mais sutil) é a questão relacionada
ao escopo da autoridade das Escrituras.
Uma nova concepção da autoridade das Escrituras tem surgido
entre os eruditos evangélicos (inclusive reformados de renome, tais como G. C.
Berkouwer19), conhecida como neo-evangélica. O neo-evangelicalismo limita o
escopo (a área) da autoridade das Escrituras ao seu propósito salvífico.
Segundo essa concepção, a autoridade das Escrituras limita-se à revelação de
assuntos diretamente relacionados à salvação, a assuntos religiosos.20
A doutrina neo-evangélica faz diferença entre o conteúdo
salvífico das Escrituras e o seu contexto salvífico, reivindicando autoridade e
inerrância apenas para o primeiro. Mas tal posição não reflete nem se coaduna
com a posição reformada e protestante histórica. Para esta, o escopo da
autoridade das Escrituras é todo o seu cânon. É verdade que a Bíblia não se
propõe a ser um compêndio científico ou um livro histórico. Mas, ainda assim,
todas as afirmativas nelas contidas, sejam elas de caráter teológico, prático,
histórico ou científico, são inerrantes e autoritativas.21
Os principais problemas relacionados com a posição
neo-evangélica quanto à autoridade das Escrituras são os seguintes: Primeiro,
como distinguir o conteúdo salvífico do seu contexto salvífico? É impossível.
As Escrituras são a Palavra de Deus revelada na história.
Segundo, como delimitar o que está ou não está diretamente
relacionado ao propósito salvífico, se o propósito da obra da redenção não é
meramente salvar o homem, mas restaurar o cosmo? Que porções das Escrituras
ficariam de fora do escopo da salvação? Como Ridderbos admite, "a Bíblia
não é apenas o livro da conversão, mas também o livro da história e o livro da
Criação..."22 Que áreas da vida humana ficariam de fora da obra da
redenção? A arte, a ciência, a história, a ética, a moral? Quem delimitaria as
fronteiras entre o que está ou não incluído no propósito salvífico? Admitir,
portanto, o conceito neoevangélico de autoridade das Escrituras é cair na
cilada liberal do cânon dentro do cânon, e colocar a razão humana como juiz supremo
de fé e prática, pois neste caso competirá ao homem determinar o que é ou não
propósito salvífico.
Conclusão
Em última instância, a questão da autoridade das Escrituras
pode ser resumida na seguinte pergunta: quem tem a última palavra, Deus,
falando através das Escrituras, ou o homem, por meio de suas tradições,
sentimentos ou razão? A resposta dos Reformadores foi clara. Embora
reconhecendo que o propósito especial das Escrituras não é histórico, moral ou
científico, mas salvífico, eles não diminuíram a sua autoridade de forma
alguma: nem por adições ou suplementos, nem por reduções ou limitações de
qualquer natureza. A fé reformado-puritana reconhece a autoridade de todo o
conteúdo das Escrituras, e sua plena suficiência e suprema autoridade em matéria
de fé e práticas eclesiásticas.
Tão importante foi a redescoberta destas doutrinas pelos
Reformadores, que pode-se afirmar que, da aplicação prática das mesmas,
decorreu, em grande parte, a profunda reforma doutrinária, eclesiástica e
litúrgica que deu origem às igrejas protestantes. Todas as doutrinas foram
submetidas à autoridade das Escrituras. Todos os elementos de culto, cerimônias
e práticas eclesiásticas foram submetidos ao escrutínio da Palavra de Deus. A
própria vida (trabalho, lazer, educação, casamento, etc.) foi avaliada pelo
ensino suficiente e autoritativo das Escrituras. Muito entulho doutrinário teve
que ser rejeitado. Muitas tradições e práticas religiosas acumuladas no curso
dos séculos foram reprovadas quando submetidas ao teste da suficiência e da
autoridade suprema das Escrituras. E a profunda reforma religiosa do século XVI
foi assim empreendida.
Mas muito tempo já se passou desde então. O evangelicalismo
moderno recebeu, especialmente do século passado, um legado teológico, eclesiástico
e litúrgico que precisa ser urgentemente submetido ao teste da doutrina
reformada da autoridade suprema das Escrituras. É tempo de reconsiderar as
implicações desta doutrina. É tempo de reavaliar a nossa fé, nossas práticas
eclesiásticas e nossas próprias vidas à luz desta doutrina. Afinal, admitimos
que a Igreja reformada deve estar sempre se reformando — não pela conformação
constante às últimas novidades, mas pelo retorno e conformação contínuos ao
ensino das Escrituras.
Sabendo que a nossa natureza pecaminosa nos impulsiona em
direção ao erro e ao pecado, conhecendo o engano e a corrupção do nosso próprio
coração, reconhecendo os dias difíceis pelos quais passa o evangelicalismo
moderno (particularmente no Brasil), e a ojeriza doutrinária, a exegese
superficial e a ignorância histórica que em grande parte caracterizam o
evangelicalismo moderno no nosso país, não temos o direito de assumir que nossa
fé e práticas eclesiásticas sejam corretas, simplesmente por serem geralmente
assim consideradas. É necessário submeter nossa fé e práticas eclesiásticas à
autoridade suprema das Escrituras.
Assim fazendo, não é improvável que nós, à semelhança dos
Reformadores, também tenhamos que rejeitar considerável entulho teológico,
eclesiástico e litúrgico acumulados nos últimos séculos. Não é improvável que
venhamos a nos surpreender, ao descobrir um evangelicalismo profundamente
tradicionalista, subjetivo e racionalista. Mas não é improvável também que
venhamos a presenciar uma nova e profunda reforma religiosa em nosso país. Que
assim seja!
FONTE: https://bereianos.blogspot.com.br
📌FONTE : Escola Bereana - ADVEC – sede
SOMENTE A ESCRITURA (SOLA SCRIPTURA)
No
final da época medieval, homens como John Wycliffe e John Huss chamaram as
pessoas a retornarem à Escritura. Quando desafiado pelos oficiais eclesiásticos
hostis, Huss respondeu diversas vezes aos seus oponentes: "Mostrem-me
com base nas Escrituras, e eu me arrependerei e voltarei atrás". A
devoção de Huss à Escritura custou-lhe a vida, porque esse princípio o compelia
a atacar tanto o curialismo (o príncipio sobre o qual se fundamenta a
autoridade papal) como o conciliarismo (o princípio sobre o qual repousa a
suprema autoridade da tradição eclesiástica e das assembléias do prelado).
Os reformadores desenvolveram de várias maneiras significativas a ênfase de Huss sobre as Escrituras:
* Autoridade. Os reformadores contenderam que todas as coisas têm de ser testadas pela "Escritura somente" (sola Scriptura). Isso explica por que os reformadores aceitaram algumas partes dos ensinos da Igreja Católica e outras partes não. Eles acreditavam que as Escrituras têm de reger a igreja, porque ela é a Palavra e a voz de Deus (verbum Dei). Portanto, sua autoridade é absoluta, e não derivada, eles diziam. João Calvino disse que a Escritura possui tanta autoridade como se o próprio Deus "estivesse proferindo afirmações". [2] Um cristão deve confiar nas promessas da Escritura e ser governado por elas, [3] e a igreja deve submeter-se completamente à autoridade da Escritura. [4] De fato, todos os outros tipos de autoridade - civil, do papa ou dos credos - têm de subordinar-se à Escritura.
O calvinista crê que toda a Escritura é a Palavra de Deus e, por isso, se esforça por submeter-se a ela. O calvinista entende que não pode julgar a Escritura; pelo contrário, ela deve nos julgar.
* Infabilidade e inerrância. Os reformadores ensinavam que a infabilidade da Bíblia é ampla, pois cada palavra de cada sentença é o sopro de Deus vivo. Eles honravam 2 Timóteo 3.16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Além disso, somente a Escritura é inerrante." "Aprendi a sustentar apenas a Escritura Sagrada como inerrante", disse Martinho Lutero citando a carta de Agostinho a Jerônimo. [5]
De acordo com Fred Klooster, este ponto de vista a respeito da Escritura como "única e completa" (sola e tota Scriptura) é exclusivamente reformado. [6] Isso levou os calvinistas a enfatizar que somente a Escritura pode impor-se à consciência dos crentes (Confissão de Fé de Westminster, 1.10, 20.2, 31.4).
* Auto-interpretação e auto-confirmação. Os teólogos reformados também ressaltaram a harmonia entre a Escritura e o Espírito Santo (Spiritus cum verbo). O Espírito Santo é o verdadeiro expositor da Bíblia (disse Ulrich Zwingli), que capacita a igreja a reconhecer que a Escritura interpreta a Escritura (Confissão de Fé de Westminster, 1.6). A chave da interpretação pertence a toda a comunidade de cristãos, e não somente a Pedro e aos seus supostos sucessores em Roma. Embora a tradição possa ajudar na interpretação, o significado verdadeiro e espiritual da Escritura é o seu sentido natural e literal, e não o sentido alegórico, a não ser que a passagem específica da Escritura que está sendo estudada possua uma natureza claramente alegórica. O caráter autoconfirmativo da Escritura, como enfatizou Calvino, era igualmente importante. Esse ensino sustenta que o ensino bíblico é confirmado pelo testemunho interno do Espírito no coração do crente (Institutas, 1.7.2-4; cf. Confissão de Fé de Westminster, 1.5). Calvino concluiu: "Isto deve permanecer como um fato estabelecido: aqueles a quem o Espírito ensina interiormente descansam firmemente na Escritura; a Escritura é confirmada por ela mesma; e não é correto que ela seja tornada dependente de exibição de argumentação, visto que é por meio do testemunho do Espírito que a Escritura obtém em nossa mente a certeza que ela merece". [7]
* Libertação. Os reformadores libertaram a Bíblia da hierarquia católica romana em pelo menos três maneiras: por meio da tradução em vernáculo, como a Bíblia alemã de Lutero; por meio da pregação expositiva, recomeçada por Zwingli; e por meio da exegese gramático-histórica, mais bem exemplificada pelos comentários de Calvino. Eles ensinavam que a Bíblia é a regra de prática que guia nossos deveres diários. A Escritura é Deus falando conosco como um pai fala com seus filhos, disse Calvino.
* Poder. Os reformadores ensinavam que Deus nos deu a Escritura como sua Palavra de verdade e de poder. Como sua Palavra de verdade, podemos confiar na Escritura quanto a esta vida e quanto à eternidade. Como a Palavra de poder, podemos estudar a Escritura para que ela transforme e renove a nossa mente, por meio do Espírito de Deus. Esse poder tem de ser manifestado em nossas vidas, lares, igrejas e comunidades. Enquanto outros livros podem nos informar e até reformar-nos, somente um livro pode transformar-nos e conformar-nos à imagem de Cristo. Somente assim seremos verdadeiramente filhos e filhas de Deus e herdeiros da Reforma.
Como entendemos o princípio de sola Scriptura?
Os reformadores desenvolveram de várias maneiras significativas a ênfase de Huss sobre as Escrituras:
* Autoridade. Os reformadores contenderam que todas as coisas têm de ser testadas pela "Escritura somente" (sola Scriptura). Isso explica por que os reformadores aceitaram algumas partes dos ensinos da Igreja Católica e outras partes não. Eles acreditavam que as Escrituras têm de reger a igreja, porque ela é a Palavra e a voz de Deus (verbum Dei). Portanto, sua autoridade é absoluta, e não derivada, eles diziam. João Calvino disse que a Escritura possui tanta autoridade como se o próprio Deus "estivesse proferindo afirmações". [2] Um cristão deve confiar nas promessas da Escritura e ser governado por elas, [3] e a igreja deve submeter-se completamente à autoridade da Escritura. [4] De fato, todos os outros tipos de autoridade - civil, do papa ou dos credos - têm de subordinar-se à Escritura.
O calvinista crê que toda a Escritura é a Palavra de Deus e, por isso, se esforça por submeter-se a ela. O calvinista entende que não pode julgar a Escritura; pelo contrário, ela deve nos julgar.
* Infabilidade e inerrância. Os reformadores ensinavam que a infabilidade da Bíblia é ampla, pois cada palavra de cada sentença é o sopro de Deus vivo. Eles honravam 2 Timóteo 3.16-17: "Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção, para a educação na justiça, a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra. Além disso, somente a Escritura é inerrante." "Aprendi a sustentar apenas a Escritura Sagrada como inerrante", disse Martinho Lutero citando a carta de Agostinho a Jerônimo. [5]
De acordo com Fred Klooster, este ponto de vista a respeito da Escritura como "única e completa" (sola e tota Scriptura) é exclusivamente reformado. [6] Isso levou os calvinistas a enfatizar que somente a Escritura pode impor-se à consciência dos crentes (Confissão de Fé de Westminster, 1.10, 20.2, 31.4).
* Auto-interpretação e auto-confirmação. Os teólogos reformados também ressaltaram a harmonia entre a Escritura e o Espírito Santo (Spiritus cum verbo). O Espírito Santo é o verdadeiro expositor da Bíblia (disse Ulrich Zwingli), que capacita a igreja a reconhecer que a Escritura interpreta a Escritura (Confissão de Fé de Westminster, 1.6). A chave da interpretação pertence a toda a comunidade de cristãos, e não somente a Pedro e aos seus supostos sucessores em Roma. Embora a tradição possa ajudar na interpretação, o significado verdadeiro e espiritual da Escritura é o seu sentido natural e literal, e não o sentido alegórico, a não ser que a passagem específica da Escritura que está sendo estudada possua uma natureza claramente alegórica. O caráter autoconfirmativo da Escritura, como enfatizou Calvino, era igualmente importante. Esse ensino sustenta que o ensino bíblico é confirmado pelo testemunho interno do Espírito no coração do crente (Institutas, 1.7.2-4; cf. Confissão de Fé de Westminster, 1.5). Calvino concluiu: "Isto deve permanecer como um fato estabelecido: aqueles a quem o Espírito ensina interiormente descansam firmemente na Escritura; a Escritura é confirmada por ela mesma; e não é correto que ela seja tornada dependente de exibição de argumentação, visto que é por meio do testemunho do Espírito que a Escritura obtém em nossa mente a certeza que ela merece". [7]
* Libertação. Os reformadores libertaram a Bíblia da hierarquia católica romana em pelo menos três maneiras: por meio da tradução em vernáculo, como a Bíblia alemã de Lutero; por meio da pregação expositiva, recomeçada por Zwingli; e por meio da exegese gramático-histórica, mais bem exemplificada pelos comentários de Calvino. Eles ensinavam que a Bíblia é a regra de prática que guia nossos deveres diários. A Escritura é Deus falando conosco como um pai fala com seus filhos, disse Calvino.
* Poder. Os reformadores ensinavam que Deus nos deu a Escritura como sua Palavra de verdade e de poder. Como sua Palavra de verdade, podemos confiar na Escritura quanto a esta vida e quanto à eternidade. Como a Palavra de poder, podemos estudar a Escritura para que ela transforme e renove a nossa mente, por meio do Espírito de Deus. Esse poder tem de ser manifestado em nossas vidas, lares, igrejas e comunidades. Enquanto outros livros podem nos informar e até reformar-nos, somente um livro pode transformar-nos e conformar-nos à imagem de Cristo. Somente assim seremos verdadeiramente filhos e filhas de Deus e herdeiros da Reforma.
Como entendemos o princípio de sola Scriptura?
Examinamos, amamos, vivemos e oramos a
respeito das Escrituras Sagradas? A Bíblia é a bússola que nos orienta através
das tempestades e das ondas que enfrentamos na vida? A Escritura é o espelho
pelo qual nos vestimos (Tg 1.22-27), a regra pela qual agimos (Gl 6.16), a água
com a qual nos lavamos (Sl 119.9), o fogo que nos aquece (Lc 24.32), a comida
que nos alimenta (Jó 23.12), a espada com que lutamos (Ef 6.17), o conselheiro
que resolve nossas dúvidas e temores (Sl 119.24) e a herança que nos enriquece
(Sl 119.111-112)?
Estamos aprendendo das Escrituras, como disse John Flavel, "a
melhor maneira de vivermos, a mais nobre maneira de sofrermos e mais vantajosa
maneira de morrermos"? [8]
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O sola Scriptura se tornou a nossa divisa, levando-nos a, como Lutero e Calvino, tornar-nos cativos, em nossa consciência, da própria Palavra de Deus?
Confissão de Fé de Westminster
⬇️
- 18 CAPÍTULO
I DA ESCRITURA SAGRADA
I.
Ainda que a luz da natureza e as obras da
criação e da providência de tal maneira manifestem a bondade, a sabedoria e o
poder de Deus, que os homens ficam inescusáveis (Rm 2:14,15; Rm 1:19,20; Rm
1:32; Rm 2:1; Sl 19:1-3), contudo não são suficientes para dar aquele
conhecimento de Deus e da sua vontade, que são necessários para a salvação (1Co
1:21;1Co 2:13,14); por isso foi o Senhor servido, em diversos tempos e
diferentes modos, revelar-se e declarar à sua Igreja aquela sua vontade (Hb
1:1); e depois, para melhor preservação e propagação da verdade, para o mais
seguro estabelecimento e conforto da Igreja contra a corrupção da carne e
malícia de Satanás e do mundo, foi igualmente servido em fazer escrever todo
esta (Pv 22: 19-21; Lc 1: 3,4; Rm 15:4; Mt 4: 4,7,10: Is 8: 19,20); o que torna
indispensável a Escritura Sagrada (2Tm 3:15; 2Pe 1:19), tendo cessado aqueles
antigos modos de revelar Deus a sua vontade ao seu povo (Hb 1:1,2).
II.
Sob o nome de Escritura Sagrada, ou Palavra de
Deus escrita, incluem-se agora todos os livros do Velho e do Novo Testamento,
que são os seguintes:
ANTIGO TESTAMENTO NOVO TESTAMENTO
Gênesis (Gn) II Crônicas (2Cr)
Daniel (Dn) Mateus (Mt) Efésios (Ef) Hebreus (Hb) Êxodo (Ex) Esdras (Ed) Oséias
(Os) Marcos (Mc) Filipenses (Fp) Tiago (Tg) Levítico (Lv) Neemias (Ne) Joel
(Jl) Lucas (Lc) Colossenses (Cl) I Pedro (1Pe) Números (Nm) Ester (Et) Amós
(Am) João (Jo) I Tessalonicenses (1Ts) II Pedro (2Pe) Deuteronômio (Dt) Jó (Jó)
Obadias (Ob) Atos (At) II Tessalonicenses (2Ts) I João (1Jo) Josué (Js) Salmos
(Sl) Jonas (Jn) Romanos (Rm) I Timóteo (1Tm) II João (2Jo) Juízes (Jz) Provérbios
(Pv) Miquéias (Mq) I Coríntios (1Co) II Timóteo (2Tm) III João (3Jo) Rute (Rt)
Eclesiastes (Ec) Naum (Na) II Coríntios (2Co) Tito (Tt) Judas (Jd) I Samuel
(1Sm) Cântico dos Cânticos (Ct) Habacuque (Hc) Gálatas (Gl) Filemon (Fm)
Apocalipse (Ap) II Samuel (2Sm) Isaías (Is) Sofonias (Sf) I Reis (1Rs) Jeremias
(Jr) Ageu (Ag) II Reis (2Rs) Lamentações (Lm) Zacarias (Zc) I Crônicas (1Cr)
Ezequiel (Ez) Malaquias (Ml)
- 18. 19 Todos os quais foram dados por inspiração de Deus para serem a regra de fé e prática (Lc 16:29,31; Ef 2:20; Ap 22:18,19; 2Tm 3:16).
III. Os livros geralmente
chamados Apócrifos, não sendo de inspiração divina, não fazem parte do cânon da
Escritura; e, portanto, não são de nenhuma autoridade na Igreja de Deus, nem de
modo algum podem ser aprovados ou empregados senão como qualquer outro escrito
humano (Lc 24:27,44; Rm. 3:2; 2Pe 1:21).
IV. A autoridade da Escritura
Sagrada, razão pela qual deve ser crida e obedecida, não depende do testemunho
de qualquer homem ou igreja, mas depende somente de Deus (a própria verdade)
que é o seu Autor; portanto, deve ser recebida porque é a Palavra de Deus (2Pe
1:19,21; 2Tm 3:16; 1Jo 5:9, 1Ts 2:13).
V. Pelo testemunho da Igreja
podemos ser movidos e incitados a uma alta e reverente estima da Escritura
Sagrada (1Tm 3:15); a suprema excelência do seu conteúdo, e eficácia da sua
doutrina, a majestade do seu estilo, a harmonia de todas as suas partes, o
escopo do seu todo (que é dar a Deus toda a glória), a plena revelação que faz
do único meio de salvar-se o homem, as suas muitas outras excelências
incomparáveis e sua completa perfeição, são argumentos pelos quais
abundantemente se evidencia ser ela a Palavra de Deus; contudo, a nossa plena
persuasão e certeza da sua infalível verdade e divina autoridade provém da
operação interna do Espírito Santo, que com a Palavra testifica em nossos
corações (1Jo 2:20,27; Jo 16:13,14; 1Co 2:10-12; Is 59:21).
VI. Todo o conselho de Deus
concernente a todas as coisas necessárias para a Sua própria glória e para a
salvação, fé e vida do homem, ou é expressamente declarado na Escritura ou pode
ser, por boa e necessária consequência, deduzido dela, a qual nada se
acrescentará em tempo algum, nem por novas revelações do Espírito, nem por
tradições dos homens (2Tm 3:15-17; Gl 1:8,9; 2Ts 2:2); no entanto, reconhecemos
ser necessária a íntima iluminação do Espírito de Deus para a salvadora
compreensão das coisas reveladas na palavra (Jo 6:45; 1Co 2:9-12), e que há
algumas circunstâncias, quanto ao culto de Deus e ao governo da Igreja, comum
às ações e sociedades humanas, as quais têm de ser ordenadas pela luz da
natureza e pela prudência cristã, segundo as regras gerais da Palavra, que
sempre devem ser observadas (1Co 11:13,14; 1Co 14:26,40).
VII. Na Escritura, não são todas
as coisas igualmente claras em si, nem do mesmo modo evidentes a todos (2Pe
3:16); contudo, as coisas que precisam ser obedecidas, cridas e observadas para
a salvação, em um ou outro lugar da Escritura são tão claramente apresentadas e
explicadas, que não só os doutos, mas ainda os indoutos, no devido uso dos
meios ordinários, podem alcançar uma suficiente compreensão delas (Sl
119:109,130).
VIII. O Velho Testamento em
Hebraico (que era a língua nativa do antigo povo de Deus) e o Novo Testamento
em Grego (a língua mais geralmente conhecida entre as nações no tempo em que
ele foi escrito), sendo inspirados imediatamente por Deus e pelo seu singular
cuidado e providência conservados puros em todos os séculos, são, portanto,
autênticos (Mt 5:18); e assim, em todas as controvérsias religiosas, a Igreja
deve apelar para eles (Is 8:20; At 15:15; Jo 5:39,46); mas, não sendo
19. 20
essas línguas conhecidas por todo o povo de Deus, que tem direito e interesse
nas Escrituras e que deve no temor de Deus lê-las e estudá-las (Jo 5:39), esses
livros têm de ser traduzidos nas línguas vulgares de todas as nações aonde
chegarem (1Co 14:6,9,11,12,24,27,28) a fim de que a Palavra de Deus,
permanecendo nelas abundantemente, adorem a Deus de modo aceitável (Cl 3:16) e,
através da paciência e conforto das Escrituras, possam ter esperança (Rm 15:4).
IX. A regra infalível de
interpretação da Escritura é a própria Escritura; portanto, quando houver
questão sobre o verdadeiro e pleno sentido de qualquer texto da Escritura
(sentido que não é múltiplo, mas único), esse texto pode ser estudado e
compreendido por outros textos que falem mais claramente (2Pe 1:20,21; At
15:15,16).
X. O Juiz Supremo, pelo qual todas as
controvérsias religiosas têm de ser determinadas e por quem serão examinados
todos os decretos de concílios, todas as opiniões dos antigos escritores, todas
as doutrinas de homens e opiniões particulares, e em cuja sentença devemos
descansar, não pode ser outro, senão o Espírito Santo falando na Escritura (Mt
22:29,31; Ef 2:20 com At 28:25).
fonte: https://pt.slideshare.net/Igreja_Presbiteriana_Sobral/
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