quarta-feira, 29 de março de 2017

Lição: 1- A Formação do Caráter Cristão


Verdade Prática
O homem nascido de novo tem o seu caráter transformado pelo Espírito Santo.



Classe: Adultos

Revista: Do professor - CPAD
Data da aula: 2 de Abril de 2017
Trimestre: 2° de 2017
Texto Áureo

"Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim." (Gl 5.20)



O Caráter do Cristão Pr. Elinaldo Renovato

N

este livro, temos a missão de escrever e refletir sobre o Caráter Cristão. Sabemos que Deus fez o homem íntegro, com personalidade e caráter puros e santos. Porém, com a Queda, o pecado deformou toda a sua constituição espiritual, emocional, física e social. Começamos, no primeiro capítulo, com o tema da Formação do Caráter Humano. Demonstramos que houve uma deformação do caráter do homem pelo pecado, levando o ser humano a distanciar-se cada dia mais e mais de Deus. Com isso, o caráter humano tem se deteriorado ao longo dos séculos, a ponto de tornar-se pior que os ímpios do período antediluviano, ou de Sodoma e Gomorra. Neste capítulo inicial, demonstramos que, com a intervenção de Deus, através da sal- vação em Cristo Jesus, o caráter do homem pode ser redimido e transformado pelo poder do Espírito Santo. Paulo diz: “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17).
        Do capítulo 02 ao 13, temos o exemplo de homens e mulheres de Deus que se tornaram exemplo e referenciais para a vida cristã em todos os tempos e lugares. Começamos com Abel, que agradou a Deus com seu caráter santo; depois, vemos o exemplo de Melquisedeque, uma figura enigmática, porém de exemplo marcante na história do AT; vemos Isaque e Jacó, dois patriarcas descendentes de Abraão, que forjaram a história do povo de  Israel, cada um a seu modo e participação; completando a lista de personagens masculinos, veremos o testemunho de Jônatas, filho de Saul, que não seguiu as pisadas do pai, mas preferiu ser fiel a Deus em sua jornada.
         Na sequência, veremos os exemplos de mulheres de Deus que marcaram a história sagrada de forma efetiva e impactante. Veremos o testemunho de Rute, uma mulher estrangeira, que entrou para a genealogia de Jesus, contrariando os paradigmas de seu tempo e de sua história; depois, teremos o testemunho de vida de Abigail, uma mulher sábia e conciliadora; logo após, estudaremos sobre Hulda, a profetisa que foi usada por Deus para proclamar juízo sobre a impiedade de seu povo; em seguida, teremos a lição de vida de Maria, irmã de Lázaro, amigo de Jesus; veremos a chamada divina e o exemplo de Maria, que se tornou a mãe de Jesus de Nazaré, o salvador do mundo.
        Concluindo, teremos os dois últimos personagens em estudo. José, o pai terreno de Jesus, que se revelou um homem íntegro, fiel e obediente a Deus. Finalmente, teremos o exemplo de vida, ministério e morte de Jesus, que se fez homem para salvar o homem perdido. Que os personagens a serem estudados sejam exemplos e referências para a Igreja do Senhor Jesus neste tempo difícil em que os homens escolhem “ídolos” e “celebridades” que nada têm de exemplo para o cristão, especialmente para os mais jovens e crianças. Filhos de crentes não sabem sequer os nomes dos 12 apóstolos de Jesus, mas sabem de cor os nomes de atores e atrizes de TV, de programas infantis, de novelas e de outros entretenimentos. É tempo de despertamento. A vinda de Jesus está próxima! Página 5
                                  

                                     PREFÁCIO

                                                                         UM MESTRE

                                                            A SERVIÇO DO REINO DE DEUS

     
       Elinaldo Renovato é um educador por excelência. No meio secular, destacou-se como professor universitário e administrador. Já no meio evangélico, não demorou a despontar como escritor, comentarista bíblico e apologeta da fé cristã. Suas palestras sobre ética sobressaem pela ousadia, coragem e por uma sólida fundamentação nas Sagradas Escrituras. Tanto no Brasil quanto no exterior, sua voz é acatada e ouvida com respeito e admiração.
       Todavia, o que temos a destacar na vida do Pr. Renovato não é propriamente a experiência acadêmica, que é vasta, nem a pedagogia, que é admirável, mas o seu testemunho pessoal. Nos momentos de indecisão, sua palavra faz diferença, porque é acompanhada por exemplos que caracterizam um autêntico homem de Deus.
        Além de seu trabalho como pregador e escritor, o irmão Elinaldo dedica-se também ao aconselhamento familiar. Sua experiência, nessa área tão prioritária da vida cristã, já ultrapassou as fronteiras de nossa pátria. Requisitado a falar na Europa e nos Estados Unidos, o irmão Renovato entende que, sem uma família sólida, jamais teremos uma igreja forte, intercessora e profética.
       Quem convive com o pastor Elinaldo delicia-se com uma prosa sábia e temperada por conselhos sempre oportunos e surpreendentes. Quer tirando exemplos da Bíblia, quer requisitando imagens do cotidiano, ele mostra a intervenção divina nas mínimas coisas. Conversar com Elinaldo é instruir-se a cada pausa, a cada interrogação e a cada pergunta. E graças a Deus porque o temos entre os nossos autores e preletores. Falando, ou escrevendo, ele é admirável.
       Neste livro, o leitor terá um encontro não apenas com personagens do Antigo e do Novo Testamento, mas também com o próprio autor. Elinaldo Renovato, com aquela prosa tão doce do Rio Grande do Norte, falará de homens e mulheres que, apesar de suas fraquezas, ultrapassaram seus próprios limites. Pela fé, obraram o impossível. A mensagem da obra é clara e mui apropriada para os nossos dias. Se eles superaram suas debilidades, nós também, fortalecidos pelo Senhor Jesus e inspirados pelo Espírito Santo, também poderemos andar de valor em valor.
       Nossa oração é que este livro venha a inspirar homens e mulheres a seguir o exemplo dos heróis da fé. E, dessa forma, teremos um caráter verdadeiramente cristão. Que o mundo possa glorificar a Deus por meio de nosso testemunho, caráter e de um agir sempre motivado pelo amor de Cristo. Que Deus seja louvado.
                                        Ronaldo Rodrigues de Souza Diretor Executivo da CPAD

                               SUMÁRIO

                                                      Apresentação ------------------------------------------------ 3

Prefácio ----------------------------------------------------- 5

1 – A Formação do Caráter Cristão---------------------------- 9

2 – Abel: Exemplo de Caráter que Agrada a Deus----------23

3 – Melquisedeque: O Rei da Justiça --------------------------31

4 – Isaque: Um Caráter Pacífico-------------------------------39

5 – Jacó: Um Exemplo de um Caráter Restaurado-----------49

6 – Jônatas: Um Exemplo de Lealdade------------------------61

7 – Rute: Uma Mulher Digna de Confiança------------------71

8 – Abigail: Um Caráter Conciliador -------------------------83

9 – Hulda: A Mulher que Estava no Lugar Certo------------93

                                                     10 – Maria, Irmã de Lázaro: Uma Devoção Amorosa ------ 101

                                                     11 – Maria, Mãe de Jesus: Uma Serva Humilde ------------- 113

                                                     12 – José, o Pai Terreno de Jesus: Um Homem de Caráter- 129

                                                     13 – Jesus Cristo, o Modelo Supremo de Caráter----------- 141

                                                     Bibliografia ------------------------------------------------ 159

          

                                  Capítulo 1



                                        A FORMAÇÃO

                         DO CARÁTER HUMANO

          Todo ser humano tem seu caráter, seja ele bom ou mau, exemplar, ilibado ou indigno, pervertido, ímpio ou santo. O caráter depende muito das condições em que a pessoa é criada, conduzida ou educada. Diz respeito à conduta do indiví- duo, resultante da formação familiar, cívica ou espiritual. Ímpios são pessoas de caráter mau. Há pessoas que cursam todos os níveis de ensino formal, porém seu caráter é pervertido.
        Há, também, pessoas sem instrução nenhuma, cujo caráter é elevado, digno de ser imitado. Desse modo, o caráter não depende do grau de instrução, mas, sim, dos princípios e valores que são incu- tidos na mente de cada pessoa. Enquanto os referenciais do mundo são movediços, instáveis e mutantes, ao sabor do tempo e do lugar, o guia infalível do crente em Jesus é a Palavra de Deus, que é lâmpada para os pés e luz para o caminho (Sl 119.105). Assim, um crente fiel não só deve fazer diferença, mas seu comportamento também deve ser referencial para a sociedade. Grande é a responsabilidade perante Deus, a igreja e o mundo.
      
       I – O CARÁTER NA REALIDADE DO HOMEM
 1. O Caráter Humano e seu Significado

        Segundo o Pastor Antonio Gilberto, caráter “É o aspecto psíquico da personalidade. O caráter é a característica responsável pela ação, reação e expressão da personalidade. É a maneira própria de cada pessoa agir e expressar-se. Tem a ver com a própria conduta. É a “marca” da pessoa”. O caráter faz parte da personalidade; “É adquirido, não herdado...Resulta da adaptação progressiva do temperamento às condições do meio ambiente: o lar, a escola, a igreja, a comunidade, o estado socioeconômico...”2 (grifos nossos). Sem sombra de dúvidas, o caráter está aliado à ética de cada pessoa.
       2. O Caráter e a Personalidade
        Segundo Ballone, “A personalidade é formada durante as etapas do desenvolvimento psicoafetivo pelas quais passa a criança desde a gestação. Para a sua formação, incluem tanto os elementos geneticamente herdados (temperamento) como também os adquiridos do meio ambiente no qual a criança está inserida”3 . A personalidade é construída. “A organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de desempenhar o seu papel social (BALLONE, 2003)4 .
          A formação da personalidade começa na infância. Dizem os estudiosos que a personalidade de uma pessoa está definida quando ela completa sete anos de idade. O que ela aprender e apreender até esta fase comprometerá todo o seu desenvolvimento psíquico, emocional, afetivo, social, etc. Daí, podemos ver como é importante o papel do ensino cristão na formação da personalidade das crianças. É, certamente, o que a Palavra de Deus adverte: “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv 22.6 – grifo nosso). Da formação da personalidade, desenvolve-se o caráter humano através das diversas experiências da vida. Diz o livro sagrado: “Até a criança se dará a conhecer pelas suas ações, se a sua obra for pura e reta” (Pv 20.11). 

            Essas definições de caráter científico mostram que a personalidade tem componentes genéticos, educacionais, familiares e psicossociais, em que o indivíduo vai-se tornando “único em sua maneira de ser e de desempenhar seu papel social”. Em outras palavras, na formação da personalidade, entram em ação fatores hereditários (herança genética dos pais: cor da pele, dos olhos, estatura, etc.) e ambientais (formação familiar, escolar, cultural, moral, ética, espiritual, etc.).
       Desse modo, é grande a importância do ensino cristão através da EBD e dos cultos de doutrina na igreja local; do culto doméstico nos lares, para a formação da personalidade dos alunos. Os fatores ambientais podem ser grandemente influenciados pelos princípios elevados do ensino bíblico. Infelizmente, em muitas igrejas, o ensino da Palavra está sendo negligenciado. Outras atividades, como o louvor e a parte social, têm tomado o lugar prioritário da Palavra de Deus. Diz o salmista: “Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho” (Sl 119.105). Se uma criança, um adolescente ou um jovem recebem o ensino da Palavra de Deus em seu lar e na igreja, dificilmente se desviará dos princípios que lhe são ensinados por seus pais e pelos seus ensinadores na igreja local (cf. Pv 22.6).
        II – A DEFORMAÇÃO DO CARÁTER HUMANO
    1. A Queda e o Caráter Humano
   Deus fez o homem perfeito em termos espirituais, morais e físicos. Após criar todas as coisas materiais no universo e na terra, o Criador tomou a decisão de criar um ser que fosse sua represen- tação na terra. Ele fez esse ser de forma bem diferente da que usara para criar as coisas e seres nos reinos animal, vegetal e mineral. Para criar esses reinos, ele usou tão somente o poder sobrenatural de sua mente divina, expresso pela energia criadora de suas palavras. “Enquanto os outros seres foram criados sob o impacto do “fiat” (faça-se) de Deus, o homem teve criação de um modo bem diferente. Deus, Elohim (hb), expressão plural de El (hb), concretizou o seu projeto para criar um ser especial, de forma especial, nos atos da criação. Assim, Ele, em conjunto com os outros componentes de sua Unidade, que se consubstanciam na Trindade (Pai, Filho e Espírito Santo), de modo solene e majestático, disse: “Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança; e domine sobre os peixes do mar, e sobre as aves dos céus, e sobre o gado, e sobre toda a terra, e sobre todo réptil que se move sobre a terra. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea os criou” (Gn 1.26,27 – grifo do autor).5 O homem e a mulher foram criados à “imagem” e “semelhança” do Criador.
         2. Imagem e Semelhança com Deus
 A palavra hebraica para “imagem” é tselem, e a palavra “semelhança” é d`mût, e ambas referem-se a algo similar ou idêntico à coisa que elas representam, ou àquilo de que são a “imagem”.
Podemos dizer que o homem era, no seu estado original, no ato da criação, uma “imagem” ou representação de Deus, tendo características de Deus em sua pessoa, tais como pessoalidade, amor, justiça, santidade, retidão, perfeição moral, tudo isso à semelhança de Deus. Mas o homem não poderia ser “igual” a Deus. Só Jesus é “o resplendor da sua glória, e a expressa imagem da sua pessoa” (Hb 1.3); “o qual é imagem do Deus invisível, o primogênito de toda a criação” (Cl 1.15).
A interpretação do que vem a ser a “semelhança” de Deus no homem tem muitas variantes. Há quem entenda que essa “semelhança” é apenas moral e espiritual. Outros entendem que é mais ampla, que inclui a essência da divindade do Criador.
       Na Bíblia de Estudo Pentecostal, lemos que “Eles tinham semelhança moral com Deus, pois não tinham pecado, eram santos, tinham sabedoria, um coração amoroso e o poder de decisão para fazer o que era certo (Ef 4.24). Viviam em comunhão pessoal com Deus, que abrangia obediência moral (2.16,17) e plena comunhão”7 . Na Bíblia de Estudo Pentecostal, também está escrito que “Adão e Eva possuíam semelhança natural com Deus. Foram criados como seres pessoais, tendo espírito, mente, emoções, autoconsciência e livre-arbítrio (2.19,20; 3.6,7; 9.6)”8 . Não resta dúvida de que, ao criar o homem à sua “imagem” e conforme a sua “semelhança”, Deus imprimiu nele marcas de sua personalidade e do seu caráter divinos.
       3. A Deformação do Caráter Humano
     O homem foi criado perfeito em toda a sua constituição tricotômica, formada de “espírito, e alma e corpo” (1 Ts 5.23). O livro de Eclesiastes diz: “Vede, isto tão somente achei: que Deus fez ao homem reto, mas ele buscou muitas invenções” (Ec 7.29). Nesse texto, o termo “invenções” não se refere às descobertas científicas ou tecnológicas, que são frutos da inteligência humana. Refere-se, sim, às mudanças e inovações de caráter moral negativo ou pecaminoso, contrariando a vontade de Deus. Langston diz:
“O homem foi criado bom. Todas as suas tendências eram boas. Todos os sentimentos do seu coração inclinavam-se para Deus, e nisso consistia a sua semelhança moral com o Criador. As Escrituras ensinam mui claramente que o homem foi criado natural e moralmente semelhante a Deus, e ensinam também que ele perdeu essa semelhança moral quando caiu pelo pecado”9 .
      Esse é um ponto importante: o homem, quando deu lugar ao Diabo e desobedeceu a Deus, pecou e, por causa disso, perdeu aquela semelhança moral com o criador. Ficaram, na verdade, os traços daquela semelhança, distorcida, prejudicada, no ser humano. Esses traços são o senso de justiça, de ética e da busca por um ser supremo no âmago de sua consciência. O seu caráter, impresso por Deus em sua mente, em seu interior, foi deformado pelos efeitos espirituais e morais da Queda. As consequências do pecado no caráter humano foram trágicas e, ao longo dos séculos, só tem evoluído para pior.
      1) No relacionamento com Deus. Desde o Éden, o homem tem se afastado progressivamente de Deus em direção à condenação eterna. Na semelhança com Deus, o homem tinha a glória de Deus em seu ser como obra-prima da Criação. Mas o pecado desfigurou-o, cortando a ligação direta com seu Deus (Rm 5.12), ninguém nasce isento da marca da tragédia espiritual. Mesmo a criança inocente já tem a influência e os efeitos do pecado original sobre seu ser (Sl 51.5). As repercussões e o alcance desse fato de natureza espiritual têm sido sentidas ao longo da História: Como um fantoche manipulado pelo Diabo, o homem ímpio pratica violência, injustiças, mortes, guerras, fomes, idolatria, feitiçaria; e Deus permite (ou provoca) pestes, tragédias naturais, doenças, e outros males sem conta.
      Depois do Dilúvio, Deus disse: “[...] Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem, porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice [...]” (Gn 8.21 – grifo nosso). Pior que todas as tragédias humanas e naturais foi o afastamento do homem do seu Criador, voltando-se para deuses, criados por sua mente corrompida ou criados pelo Diabo, em seu plano de destruição da raça humana. Esse gravíssimo pecado de idolatria foi objeto da Lei de Deus para reconduzir o homem à adoração verdadeira (Êx 20.3,23; 34.15 e ref.); toda religião que não tem Deus como o Criador e Jesus Cristo, seu Filho, como Salvador, é instrumento do Diabo para afastar o homem de Deus.
      2) No relacionamento humano. No momento da Queda, quando Deus quis falar com Adão e perguntou onde ele estava, este respondeu que estava com medo da voz de Deus; quando o Senhor perguntou se o homem havia comido da árvore proibida, ele não assumiu a culpa, mas procurou justificar seu erro acusando a esposa. Quando Deus questionou Eva por que ela fizera aquilo, ela transferiu a culpa para a serpente (Gn 3.9-13). Foi um impacto terrível na mente do ser humano. Ali, aflorou a deformação de seu caráter originalmente puro e santo. Com a Queda, o pecado continuou a expandir-se no meio das gerações dos descendentes de Adão.
       A exemplo de Adão — que ignorou a voz de Deus e preferiu ouvir a voz do Diabo —, na História, houve homens tão maus que se tornaram verdadeiros monstros em suas práticas violentas e sanguinárias. Nos primeiros séculos, Nero e outros imperadores comportaram-se de forma ditatorial, eliminando milhares de cristãos. Séculos mais tarde, o comunismo eliminou todos os que não o aceitavam, exterminando mais de 100 milhões de pessoas. O nazismo, sob a liderança de um homem de mente diabólica, eliminou 6 milhões de judeus e outras minorias, visando implantar o seu império satânico. Nos dias atuais, os extremistas islâmicos, que degolam pais de famílias, estupram suas mulheres e vendem crianças como escravas sexuais no Iraque, na Síria e em outras partes, são evidências de que o caráter maligno do homem nas mãos do Diabo não tem limites para sua sanha voraz pelo domínio da humanidade. Essa realidade, entretanto, tem seus dias contados (Is 13.11), (Is 16.4). Essa auspiciosa realidade terá lugar quando Cristo implantar seu reino milenial sobre a terra.
        3) A depravação moral da sociedade. Os episódios envolvendo os habitantes das cidades de Sodoma, Gomorra e adjacências revelam o quanto a corrupção espiritual e moral entranhou-se na natureza do homem caído. Além da idolatria que afrontava a Deus, o homem, tentado pelo Diabo, resolveu acirrar sua rebelião em total desrespeito ao plano do Criador para o relacionamento sexual. A depravação do caráter humano alcançou a baixeza em níveis absurdos. Deus fez o homem na sua conformação heterossexual: “Macho e fêmea os criou” (Gn 1.27). Os habitantes daquelas cidades perverteram o uso natural do corpo e passaram a ter relações homossexuais, homem com homem, mulher com mulher, contrariando o plano de Deus.
      Até os anjos enviados para retirar o patriarca Ló daquele lugar a ser destruído foram alvo da depravação deles, que tentaram atacar os mensageiros celestiais e ter relações abomináveis, imaginando que eram apenas estrangeiros atraentes aos seus olhos carregados de concupiscência carnal (Lv 18.22; 20,13). Eles, no entanto, foram punidos severamente com cegueira, e as cidades deles foram destruídas por uma catástrofe enviada por Deus. Dali para os dias presentes, a depravação moral acentua-se cada vez mais, como prova da rebelião do homem perdido contra seu Criador. Além da homossexualidade, o homem perdido tem adotado práticas perversas e criminosas contra seu semelhante. A pedofilia, a bestialidade, o adultério, a fornicação, o travestismo, a transexualidade e outras abominações são exemplos evidentes da corrupção do caráter humano.
O apóstolo Paulo resumiu a depravação que havia em seu tempo e que se agravaria no futuro. Sua mensagem soa grandemente atualizada, face à depravação que domina o caráter do homem nos dias atuais.
 “Porque do céu se manifesta a ira de Deus sobre toda impiedade e injustiça dos homens que detêm a verdade em injustiça; porquanto o que de Deus se pode conhecer neles se manifesta, porque Deus lho manifestou. Porque as suas coisas invisíveis, desde a criação do mundo, tanto o seu eterno poder como a sua divindade, se entendem e claramente se vêem pelas coisas que estão criadas, para que eles fiquem inescusáveis; porquanto, tendo conhecido a Deus, não o glorificaram como Deus, nem lhe deram graças; antes, em seus discursos se desvaneceram, e o seu coração insensato se obscureceu. Dizendo-se sábios, tornaram-se loucos. E mudaram a glória do Deus incorruptível em semelhança da imagem de homem corruptível, e de aves, e de quadrúpedes, e de répteis. Pelo que também Deus os entregou às concupiscências do seu coração, à imundícia, para desonrarem o seu corpo entre si; pois mudaram a verdade de Deus em mentira e honraram e serviram mais a criatura do que o Criador, que é bendito eternamente. Amém! Pelo que Deus os abandonou às paixões infames. Porque até as suas mulheres mudaram o uso natural, no contrário à natureza. E, semelhantemente, também os varões, deixando o uso natural da mulher, se inflamaram em sua sensualidade uns para com os outros, varão com varão, cometendo torpeza e recebendo em si mesmos a recompensa que convinha
erro. E, como eles se não importaram de ter conhecimento de Deus, assim Deus os entregou a um sentimento perverso, para fazerem coisas que não convém; estando cheios de toda iniquidade, prostituição, malícia, avareza, maldade; cheios de inveja, homicídio, contenda, engano, malignidade; sendo murmuradores, detratores, aborrecedores de Deus, injuriadores, soberbos, presunçosos, inventores de males, desobedientes ao pai e à mãe; néscios, infiéis nos contratos, sem afeição natural, irreconciliáveis, sem misericórdia; os quais, conhecendo a justiça de Deus (que são dignos de morte os que tais coisas praticam), não somente as fazem, mas também consentem aos que as fazem” (Rm 1.18-32 – grifos nossos).
       4) No relacionamento com a natureza. O planeta Terra foi preparado para ser o ambiente ideal para o desenvolvimento da vida do homem e dos animais, como seres vivos, necessitados de condições ecológicas e ambientais apropriadas para sua existência sadia e segura. A Terra foi dada por Deus “aos filhos dos homens” (Sl 115.16). “E tomou o Senhor Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o lavrar e o guardar” (Gn 2.15). Além de cuidar do planeta, o homem teria o domínio da Terra, com autoridade delegada pelo Criador sobre todos os reinos naturais (Gn 1.28). Todavia, usando mal o seu livre-arbítrio, o homem fracassou em cuidar de si mesmo e do planeta.
        Por causa da Queda, “O planeta Terra, que seria um ‘paraíso global’ para o habitat do homem, sofreu a maldição de Deus. A ecologia foi mudada. As condições ambientais foram transformadas. Antes, a terra só produzia para benefício do homem. Depois, passou a germinar cardos e espinhos. Isso, sem dúvida, refere-se a tudo o que, na natureza, prejudica o homem. Este se serve da terra, mas com dor, com sofrimento. Mesmo que use a inteligência e consiga utilizar os instrumentos materiais para o cultivo da terra, isso tem um custo muito alto. E os frutos da produção não são acessíveis a todos”10. O mau uso dos recursos naturais tem provocado verdadeiras catástrofes na natureza. Tufões, furacões, tornados; enchentes de um lado e secas de outro; poluição do ar, das águas e do solo; todos esses são exemplos do fracasso do homem em cuidar de seu habitat concedido por Deus. Seu caráter deturpado visa mais as riquezas pessoais e materiais do que uma qualidade melhor de vida. No Apocalipse, há uma mensagem de profundo sentido ecológico, na restauração do planeta, na volta de Jesus: (Ap 11.18).
      III – A REDENÇÃO DO CARÁTER
        HUMANO
       1. O Novo Nascimento e o Caráter Humano
       Jesus veio ao mundo para salvar o homem perdido da tragédia do pecado que separa o homem de Deus (Is 59.2). No cenário da Queda, por sua misericórdia para com o homem, Deus prometeu a redenção da raça humana por meio da “semente da mulher” (Gn 3.15). A miséria humana inclui a deformação do seu caráter. Sem Deus, ele peca por inclinação, por opção e até por prazer. Crendo ou não, o pecador torna-se propriedade do Diabo. “Quem comete o pecado é do diabo, porque o diabo peca desde o princípio. Para isto o Filho de Deus se manifestou: para desfazer as obras do diabo” (1 Jo 3.8).
       Tudo na vida do homem, desde seus pensamentos, ideias e ideais, sentimentos e emoções, bem como suas atitudes e condutas são transformados pelo evangelho, que “[...] é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê” (Rm 1.16). Salvação é regeneração, é novo nascimento (Jo 3.3,7). A salvação em Cristo faz do homem uma nova criatura completamente transformada em todas as áreas de seu ser e de sua vida. Um verdadeiro salvo jamais permanece na condição da velha vida de pecado. “Assim que, se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). O caráter do nascido de novo é poderosamente transformado pelo poder do Espírito Santo. Se ele mentia, não mente mais; se roubava, não rouba mais; se fornicava, adulterava ou se prostituía, não pratica mais esses erros em sua vida. A Formação do Caráter Humano passa a adotar uma nova ética. Ele assimila e pratica a ética cristã, que tem como base a Palavra de Deus (Sl 119.105).
       Salvação é conversão, que significa transformação na vida do servo de Deus. O salvo é filho de Deus e revestido de nova natureza. “Porque todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo” (Gl 3.26,27). O salvo é nascido de novo e considerado morto para o pecado: “[...] sabendo isto: que o nosso velho homem foi com ele crucificado, para que o corpo do pecado seja desfeito, a fim de que não sirvamos mais ao pecado” (Rm 6.6). A mudança provocada pelo poder de Deus através do Espírito Santo e também pela palavra penetrante do evangelho (Hb 4.12) é tão forte e eficaz que, escrevendo aos efésios, Paulo enviou uma exortação profunda sobre a tremenda transformação operada na vida do salvo em Cristo Jesus:
“E digo isto e testifico no Senhor, para que não andeis mais como andam também os outros gentios, na vaidade do seu sentido, entenebrecidos no entendimento, separados da vida de Deus, pela ignorância que há neles, pela dureza do seu coração, os quais, havendo perdido todo o sentimento, se entregaram à dissolução, para, com avidez, cometerem toda impureza. Mas vós não aprendestes assim a Cristo, se é que o tendes ouvido e nele fostes ensinados, como está a verdade em Jesus, que, quanto ao trato passado, vos despojeis do velho homem, que se corrompe pelas concupiscências do engano, e vos renoveis no espírito do vosso sentido, e vos revistais do novo homem, que, segundo Deus, é criado em verdadeira justiça e santidade” (Ef 4.17-24).
         O sentido da nova vida em Cristo é tão real que Paulo com- parava a si mesmo como um “crucificado” ou morto: “Já estou crucificado com Cristo; e vivo, não mais eu, mas Cristo vive em mim; e a vida que agora vivo na carne vivo-a na fé do Filho de Deus, o qual me amou e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2.20).
       Na formação do bom caráter e da cidadania elevada, o ensino da palavra de Deus tem grande contribuição. Tendo como base para o ensino a Palavra de Deus, através das lições ministradas em cada classe, por faixa etária, a EBD torna-se inestimável por auxiliar na formação do caráter. É fato notório que a maioria dos líderes das igrejas — os missionários, os dirigentes, os pastores e outros obreiros — passaram pela Escola Bíblica Dominical. Com raras exceções, os bons pais e as boas mães de família foram alunos da EBD. Os filhos dos cristãos, quando levados à EBD todas as semanas, absorvem o ensino fundamentado na Bíblia, passando, assim, a ter uma conduta pautada nos princípios elevados da Palavra de Deus. Devemos lembrar, no entanto, que a Escola Bíblica Dominical não substitui o ensino no lar no culto doméstico. Uma atividade ajuda a outra na formação do verdadeiro caráter cristão.
       2. A Palavra de Deus Fortalece o Caráter
       A Bíblia tem um poder transformador tão grande na vida do nascido de novo que todo o seu ser é alcançado pelos seus efeitos benéficos e regeneradores. As Escrituras dizem: “Porque a palavra de Deus é viva, e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração” (Hb 4.12).
        1) As crianças podem ser educadas na Palavra de Deus. “Ponde, pois, estas minhas palavras no vosso coração e na vossa alma, e atai-as por sinal na vossa mão, para que estejam por testeiras entre os vossos olhos, e ensinai-as a vossos filhos, falando delas assentado em tua casa, e andando pelo caminho, e deitando-te, e levantando-te” (Dt 11.18,19). “Instrui o menino no caminho em que deve andar, e, até quando envelhecer, não se desviará dele” (Pv 22.6); Jesus, quando criança, teve uma educação familiar do mais alto nível espiritual, moral, intelectual e social: “E o menino crescia e se fortalecia em espírito, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava sobre ele” (Lc 2.40).
      2) Os adolescentes e jovens podem ser fortalecidos em sua personalidade. Os adolescentes estão na fase em que buscam a sua identidade; preocupam-se muito consigo mesmos, reorganizando sua personalidade; fazem questionamentos do tipo “Quem sou eu?”, “Por que sou assim?”, “Qual o meu futuro?”, “Meus pais não me entendem”; muitos se desviam da igreja nessa fase. É necessário muita atenção por parte dos pais e da igreja na contribuição para a formação da personalidade desses adolescentes. Os jovens, que enfrentam as turbulências da adolescência, acabam, de uma forma ou de outra, conscientizando-se de seu papel na sociedade. Eles pensam seriamente nas escolhas: escola, faculdade, profissão, namoro, noivado, casamento, vida espiritual, etc. Diz a Palavra de Deus: “Como purificará o jovem o seu caminho? Observando-o conforme a tua palavra” (Sl 119.9); “Foge, também, dos desejos da mocidade; e segue a justiça, a fé, a caridade e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2.22).
     3) Os adultos são fortalecidos em sua vida, podendo contribuir para a formação dos mais jovens: “Os passos de um homem bom são confirmados pelo Senhor, e ele deleita-se no seu caminho” (Sl 37.23). Há adultos que não têm consciência da vida cristã, ou por terem tido uma formação espiritual deficiente, ou então por só terem aceitado a Cristo na idade adulta. A igreja, por sua vez, precisa ajudar a lapidar o seu caráter. Toda a família é beneficiada pela ministração da Palavra de Deus. “Ajunta o povo, homens, e mulheres, e meninos, e os teus estrangeiros que estão dentro das tuas portas, para que ouçam, e aprendam, e temam ao Senhor, vosso Deus, e tenham cuidado de fazer todas as palavras desta Lei” (Dt 31.12). 3. O Caráter Amoroso e Santo do Cristão A salvação propiciada pelo sacrifício expiatório de Cristo abrange todas as áreas ou estruturas do ser humano: espírito, alma e corpo. Os aspectos fundamentais da salvação, regeneração, justificação e santificação devem ser vistos em toda a sua abrangência. A regeneração e a justificação revelam-se como atos próprios e exclusivos de Deus, em Cristo, na operação do Espírito Santo no íntimo do ser daquele que aceita a redenção de Deus. Pode-se dizer que o cristão tem a marca principal do amor a Deus e do amor ao próximo (Mt 22.34-40; Jo 13.34,35). Quem não ama não é salvo (1 Jo 2.9,11). Ao lado do amor, o salvo tem que viver em santificação. A santificação, porém, tem seu lado divino executado por Deus, simultaneamente com a regeneração e a justificação. No seu aspecto progressivo, a santificação tem a participação e o esforço da parte do homem.
        Desse modo, a santificação é um processo que se desenvolve mediante o poder de Deus e o esforço do crente, a qual torna o pecador em salvo e o ímpio em um santo. O cristão passa a experimentar uma vida progressiva de santificação (Hb 12.14), dando testemunho de sua fé, por suas obras, ou então do que precisa ser demonstrado de modo prático (Mt 5.16; Ef 2.10). Há crentes que são carnais e que se arriscam a perder sua posição diante de Deus (1 Co 3.3), e há também os “santificados em Cristo Jesus, chamados santos” (1 Co 1.2). A santificação progressiva envolve todas as áreas da vida do cristão: primeiramente, o pensar; depois, as atitudes, os gestos, as palavras; em seguida, a vida espiritual, a vida familiar, a vida profissional, a vida moral, a vida financeira; enfim, ele torna-se santo em toda a maneira de viver (veja 1 Pe 1.15). Sua santificação é aperfeiçoada “no temor de Deus” (2 Co 7.1). Em suma, a santificação molda o caráter do crente em seu desenvolvimento espiritual. O salvo tem que se santificar para que seu caráter seja santo: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
       CONCLUSÃO
       O caráter do homem reflete a sua personalidade e demonstra a sua conduta ética e moral. Revela também princípios e valores de caráter espiritual e humano. O homem ímpio tem, naturalmente, um caráter deformado pelo efeito do pecado. O homem salvo e remido pelo Senhor Jesus tem as marcas de Cristo no seu ser e no seu comportamento, expresso por suas atitudes e ações observáveis no seu cotidiano. Somente Cristo, através de sua Palavra, pode provocar mudanças radicais na mente e no comportamento humano, a ponto de termos a certeza de que existe o novo nascimento espiritual que identifica o salvo em Cristo Jesus.

           

      

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