quarta-feira, 29 de março de 2017

Lição 1 – Família, Onde Tudo Começa



          LUGAR DE REFUGIO OU CAMPO DE BATALHA

                                                       ILMA CUNHA




Sumário
Recomendações
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
PARTE 1
F
AMÍLIA – A TRANSMISSÃO DA CULTURA
1.1.Família e Conceituação
1.2.Uma Análise sobre o Cenário da Transmissão Familiar
1.3.A Falência dos Rituais Familiares
1.4.Família e Resiliência
PARTE 2
F
AMÍLIA – UMA ESPECIAL HISTÓRIA DE AMOR
2.1.Resolvendo o Passado para Edificar no Presente os Fundamentos da Geração do Futuro
2.2.Ira – A Dor Oculta da Alma
2.3.Compulsão à Repetição
PARTE 3
F
AMÍLIA – A DINÂMICA RELACIONAL E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
3.1.Apegos e Vínculos Familiares
3.2.As Funções Familiares: Materna e Paterna
3.3.O Desafio da Feminilidade
3.4.O Declínio da Função Paterna
PARTE 4
F
AMÍLIAS DISFUNCIONAIS
4.1.Permitindo à Criança Crescer: Deixar Pai e Mãe
PARTE 5
F
AMÍLIAS PSICOSSOMÁTICAS – QUANDO A DINÂMICA FAMILIAR ADOECE O SUJEITO
5.1.Equilíbrio e Desequilíbrio Familiar
5.2.Fenômenos Psicossomáticos
5.3.As Disfunções e o Adoecimento Familiar
PARTE 6
A
LGUMAS OUTRAS FAMÍLIAS
6.1.Famílias Violentas
6.2.Famílias Incestuosas
6.3.Famílias Enlutadas
Considerações Finais
Referências Bibliográficas
Sobre a Autora



                                          

                                                                              Dedicatória

 Estamos juntos!
Você e eu… nós… perto ou longe,
em pensamentos ou fisicamente,
algumas horas no dia a dia,
minutos, às vezes, mas juntos…
É o que importa!

A Deus, a razão da minha existência,
o doador da vida, onde encontro o refúgio
da minha alma e a fonte da sabedoria e do
conhecimento, toda honra e glória.

 A meus pais, pela transmissão familiar geracional,
amor incondicional, a base da minha formação.

A Celso, meu amado e meu amigo, que, com
seu apoio incondicional, permitiu-me dedicar tempo
para aprofundar-me no conhecimento da alma humana.

A meus filhos, Érik e Bruno, tesouros preciosos,
que me permitiram aprender os mistérios da
maternidade e trouxeram duas joias preciosas
 para a nossa transmissão geracional: Aleandra e Sandra.

A meus netos: Lara, meus traços e os seus traços,
a primeira da próxima geração;
Luccas, que, com seu nascimento,
trouxe unidade, fé e esperança; e Arthur, que cedo se apropriou da
linguagem, marcando sua distinção,
deixo o meu legado.

Vamos caminhar juntos, bem juntos,
corações unidos, nos mesmos propósitos.
Juntos, passo a passo,
lançando os fundamentos das próximas gerações.


💚📌👪

Quero recomendar, irrestritamente, a leitura deste livro; e de modo especial, aos que têm o ministério de aconselhamento e aos que sofrem as feridas provocadas pelas batalhas travadas no seio da família.
 A Deus, toda a glória!
 Russell Shedd, Ph.D




Introdução
            É preciso aprender, conhecer enquanto transformamos e transformar enquanto conhecemos. R. Barbier


           Escrever sobre família é sempre um desafio, que toma proporções gigantescas quando nos propomos a pensar e a refletir sobre a família na pós-modernidade. Este é um tempo de muitas mudanças, em todos os segmentos da sociedade, e a estrutura familiar tem sido profundamente afetada com o impacto dessas mudanças na vida pessoal e profissional dos indivíduos. O avanço da tecnologia e as altas exigências do mercado de trabalho têm sido objeto de estudo em pesquisas sobre os efeitos desses fatores na família, os quais produzem um estilo de vida agitado e frenético, dificultando os relacionamentos familiares e alterando significativamente o estilo de vida das pessoas.

Escrever sobre família é sempre um desafio, que toma proporções gigantescas quando nos propomos a pensar e a refletir sobre a família na pós-modernidade. Este é um tempo de muitas mudanças, em todos os segmentos da sociedade, e a estrutura familiar tem sido profundamente afetada com o impacto dessas mudanças na vida pessoal e profissional dos indivíduos. O avanço da tecnologia e as altas exigências do mercado de trabalho têm sido objeto de estudo em pesquisas sobre os efeitos desses fatores na família, os quais produzem um estilo de vida agitado e frenético, dificultando os relacionamentos familiares e alterando significativamente o estilo de vida das pessoas.
         Este desafio continua quando refletimos sobre os aspectos subjetivos dessa questão, porque falar sobre família também significa caminhar por cenários primários bem conhecidos de cada ser humano – o primeiro abrigo depois da expulsão do paraíso. E estou referindo-me não ao primeiro Éden, o registrado no Gênesis bíblico, que abrigou a origem da raça humana, mas ao éden que, todos os dias, em todos os lugares, abre-se para receber a semente que dará origem a uma vida humana – o paraíso uterino.
        Esse lugar tão especial, preparado por Deus, é lugar de vida, acolhimento, aconchego, mas pode também ser lugar de morte, de solidão, de abandono. Portanto, falar de família significa identificar paradoxos e também penetrar os conflitos que permeiam a existência humana, luzes e sombras de todos nós. No entanto, a família continua sendo o cenário no qual construímos a nossa identidade. Nela, recebemos as crenças e valores que nortearão nossos comportamentos. 
...

                            


                                     PARTE 1 

               A TRANSMISSÃO DA CULTURA

          Na história bíblica, a transmissão da cultura evidencia-se como um princípio familiar, como bem expressa o rei Davi no texto extraído do livro de Salmos. A família é a estrutura essencial e objetiva para a perpetuação da espécie, desde o princípio da história da humanidade, para a transmissão da cultura. É ela a passadora dos valores culturais e espirituais, ao mesmo tempo em que apresenta-se como o cenário de construção da identidade e do sentimento de pertencimento.
           Para além do patrimônio material, a família transmite valores simbólicos necessários para a elaboração da transmissão psíquica geracional. É importante ressaltar que a transmissão não se faz pela via de um grupo qualquer, e a formação do grupo familiar possui os organizadores atuantes nos vínculos estabelecidos entre os membros, que atravessam gerações, possibilitando a transmissão da cultura.
        Para ampliarmos nossa compreensão sobre o papel da família na transmissão geracional, é necessário um olhar para a palavra família e sua conceituação.
        
                                   1.1. Família e Conceituação
         Nosso conhecido dicionário, Aurélio Ferreira (1996), conceitua família afirmando que “são pessoas aparentadas, que vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos”. No contexto social, diz ainda, que “família é uma comunidade constituída por um homem e uma mulher, unidos por laços matrimoniais, e pelos filhos nascidos dessa união”. 1
         Hoje temos as mais diversas configurações familiares, que apresentam um complexo cenário para a transmissão da cultura: Há a família formada pelo marido e mulher sem filhos; outra formada por marido e mulher com filhos; além da família composta por um pai ou uma mãe e filhos.
        Um modelo crescente é a família formada por mãe e filhos, diante da conhecida “produção independente”, e também pelo divórcio, onde o pai exerce pouca ou nenhuma participação na vida dos filhos; tal configuração é conhecida como família monoparental.
        Há também, uma crescente formação familiar, advinda de casamentos entre pessoas que trazem filhos de relacionamentos anteriores, somando-os aos filhos da união atual – “os meus, os seus e os nossos” – conhecida como família mosaico. Outras configurações têm surgido nos últimos anos e também são designadas como famílias pelas instituições de pesquisas estatísticas.
        A constituição familiar é hoje um grande desafio diante de todas as mudanças ocorridas nas últimas décadas. Mas, além das questões internas, há o impacto produzido pelas mudanças ocorridas no mundo globalizado do trabalho. Olhar para a família da pós-modernidade, é constatar o quanto a organização familiar vem sendo afetada devido a todas as mudanças internas e externas.
         Este é o mundo da tecnologia, onde as mudanças ocorrem com uma agilidade impressionante e assustadora. Todos os segmentos da sociedade foram impactados pelas exigências e pressões, advindas da luta pela sobrevivência. A busca pelo equilíbrio, entre vida pessoal e profissional, passou a ser um grande desafio de amplas dimensões para todos nós.
       Qualidade e quantidade passaram a ser, no mundo atual, as principais exigências na administração do tempo. Este tempo é exigido sempre mais, o que promove ansiedade, insegurança e estresse. Pouco tempo sobrou para o desempenho das funções familiares, comprometendo a transmissão da cultura familiar, tão necessária para a construção da identidade de família.
        Esse cenário assustador nos convoca como pais, líderes e, principalmente, como cristãos, para sairmos da zona de conforto e pensarmos em nossa responsabilidade com a próxima geração que estamos preparando em nossas famílias.
        Creio que o cenário não é muito diferente do relatado em Êxodo 5, quando Moisés foi a Faraó solicitar autorização para tirar o povo do Egito, escravizado por tantos anos, para um sonho de liberdade anunciado por Deus. O pedido incomodou Faraó e ele arquitetou sua estratégia para impedir o sonho de liberdade. Ele chamou seu capataz e disse:
Não forneçam mais palha ao povo para fazer tijolos, como faziam antes. Eles que tratem de ajuntar palha! Mas exijam que continuem a fazer a mesma quantidade de tijolos; não reduzam a cota. São preguiçosos, e por isso estão clamando: ‘Iremos oferecer sacrifícios ao nosso Deus’. Aumentem a carga de trabalho dessa gente para que cumpram suas tarefas e não deem atenção a mentiras. Os feitores e os capatazes foram dizer ao povo: “Assim diz o faraó: ‘Já não lhes darei palha. Saiam e recolham-na onde puderem achá-la, pois o trabalho de vocês em nada será reduzido’”.  O povo então espalhou-se por todo o Egito, a fim de ajuntar restolho em lugar da palha.
Êxodo 5.7-12 NVI
           Sabemos que a palha era necessária para a produção dos tijolos, mas o texto diz que o povo andava por todo o Egito, pegando restolho em lugar de palha. E a pressão dos capatazes continuou ainda mais, com o objetivo de ocupá-los de tal forma, para que o sonho de liberdade se perdesse em meio ao extenuante trabalho. Da mesma forma, sabemos que o trabalho é necessário para a luta pela sobrevivência. O mundo corporativo exige qualidade, comprometimento e dedicação ao trabalho, portanto, as pressões não irão diminuir.
         O tempo dedicado ao trabalho ocupa a maior parte do nosso tempo, e o que sobra é o mínimo para o desempenho de todos os outros papéis: conjugal, filhos, familiares (pais, irmãos, parentes), educacional, social, espiritual, religioso, recreacional (lazer), etc. É grande a demanda, pois todos estes papéis têm importância em nossa vida, e cada um que for negligenciado terá o seu custo.
        Mas, o que seria restolho no nosso tempo? Qual o significado? Penso que é todo o tempo que gastamos com coisas que não agregam valor à nossa vida. A internet está aí, com todas as demandas das redes sociais, utilizando um tempo que, para nós, já é tão escasso, e o subtrai, quando poderia destiná-lo a papéis tão importantes e significativos da nossa vida.
       É evidente que, quando bem utilizada, a internet é um recurso importante, que traz benefícios em muitos sentidos. Mas o que temos visto são pessoas reféns e, algumas, totalmente dependentes, que utilizam o restante do tempo, que não é destinado ao trabalho, para mergulhar na alienação da rede. Estão totalmente enredadas e escravizadas pela sedução virtual. Isto é restolho, que não tem valor algum, é escravidão. A família sofre os profundos efeitos desta inversão de prioridades, além de todas as conseqüências que vêm sobre a vida espiritual e sobre a saúde física, mental e emocional.
       Este é o desafio da igreja cristã neste tempo: compreender que as mudanças ocorreram e que a igreja é composta por muitas dessas configurações familiares que possuem os efeitos da nossa era globalizada. Portanto, não é possível a igreja se eximir de sua responsabilidade de cuidar dessas famílias com suas necessidades e conflitos. É necessário acolhê-las com amor e orientá-las nos princípios da Palavra de Deus.
       Cada vez mais a palavra de Lucas 1.17 (ARA) torna-se atual e necessária para a realidade da igreja da pós-modernidade, em sua missão de preparar o caminho do Senhor: Para converter o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos justos e habilitar para o Senhor um povo preparado (ênfase da autora). É tempo de preparo e de sairmos do movimento da informação, apenas para a busca de conhecimentos que transformam-se em prática de vida: Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o poder de Deus (Mt 22.29 ARA).
          A família é, pois, o lugar de transmissão da cultura e o primeiro abrigo para o homem, onde formam-se crenças e valores, construção de identidade e de preparação para a vida. Mas, como fica esta transmissão em meio a variedade de configurações familiares?
          Com as famílias reconstruídas, vêm os filhos – os meus, os seus e os nossos – e um mosaico de herança cultural. Essas crianças, muitas vezes, colecionam padrastos, madrastas, meios-irmãos e outros parentes adotivos. Nesse contexto, os conflitos evidenciam-se por questões mal resolvidas dos cônjuges e ex-cônjuges, que são depositadas no novo relacionamento.
          Há mães que não falam com o ex-marido devido a uma série de situações conflituosas da conjugalidade , as quais deixaram restos de rancores no relacionamento partido. Mas, por necessidades vinculadas à criança, o contato precisa ser mantido de alguma maneira. A criança é eleita, simbolicamente, como a mediadora destas questões conflituosas e como porta-voz dos pais; porém, não é impunemente a sustentadora de um relacionamento partido. Nesse ambiente, carrega em si mesma as marcas da dor, da ansiedade e da angústia, por não dar conta de toda a demanda dos pais.
        O apóstolo Paulo, em sua carta dirigida aos Gálatas, diz no versículo 15 do capítulo 5 um texto apropriado a esta contradição familiar: Mas se vocês se mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente (NVI).
       Muitas vezes, essas questões mal resolvidas nas separações lançam os filhos em um cenário de guerra, onde todos saem perdendo. O relacionamento com ex-marido, ex-mulher, padrasto, madrasta, namorada do pai, namorado da mãe, avós, avós de irmãos, irmãos de sangue e meios-irmãos acarreta interferências na educação, limites divergentes da semana e do final de semana, mensagens contraditórias recebidas dos pais, autoridades questionadas, vínculos de afetos que se fazem e se desfazem bruscamente, mais de uma casa, mais de um quarto e o distanciamento dos filhos como cruel forma punitiva ao ex-cônjuge, etc.
         Como fica a formação da criança neste emaranhado de questões? E a construção da identidade? O que se transmite para a próxima geração? São questões angustiantes que tomam as nossas discussões e reflexões sobre a família no cenário atual.
        Ao longo dos anos, muitos estudiosos já apontavam para tais questões que afetariam a família: Freud (apud VOLNOVICH, 1993) foi, talvez, um dos primeiros estudiosos a chamar a atenção sobre as mudanças que estavam acontecendo nas famílias, e apontou de que forma isso provocaria o desmoronamento da figura paterna como ideal. Ele demonstra esta preocupação quando diz “que o avanço da modernidade no homem e a constituição de uma subjetividade onde a liderança do pai desaparece, retratam a família de hoje”. Ele temia a fragilização do significante pai e a sua substituição por um conjunto de saberes advindos da modernidade, o que acabou acontecendo e fragmentando a vida familiar.
         As discussões sociais e judiciais sobre as disputas que envolvem paternidade questionam: O que é um pai? Como objetivar a questão paterna diante dessas demandas? Quem deve ser considerado pai de fato, o homem que, junto com a mãe, concebeu a criança como pai biológico ou aquele que exerceu a função ao assumir a responsabilidade de criar a criança, constituindo-se como pai afetivo? São questões que levam a uma nova definição do que é um pai no âmbito jurídico com as demandas judiciais que envolvem a paternidade: pai biológico ou pai afetivo?
                   
               1.2. Uma Análise sobre o Cenário da
                           Transmissão Familiar
         
          O homem não nasce pronto, é um ser em construção, portanto, é preciso formar os indivíduos e construí-los.
        O apóstolo Paulo, ao escrever para os Filipenses, disse no capítulo 1.6: Aquele que começou boa obra em vós há de completá-la até ao Dia de Cristo Jesus (ARA). Logo, a Palavra de Deus está falando de um processo de construção, que inicia-se no momento em que somos gerados e que só se completará quando nossa vida terrena terminar.
        Essa não é uma obra sem transtornos. As alterações na estrutura familiar evidenciam esta realidade. Muitas Muitas vezes, são tantas as dificuldades que a família enfrenta que, simbolicamente, precisaria, como nas obras públicas, colocar uma pequena placa na obra para tirar um tempo de reflexão e isolamento que interferisse na melhoria dos relacionamentos: “Desculpem-nos o transtorno, estamos em construção”. Nas obras públicas, pressupomos que o transtorno durará um tempo determinado e o resultado será para melhor, mas, infelizmente, o transtorno é infindável, e produz danos profundos dos membros da família.
        Fundamentados nesses conceitos, podemos afirmar que é preciso formar o indivíduo, preparar alicerces sólidos, construir seus valores e crenças, e caminhar passo a passo no processo de consolidação das leis e princípios existenciais, que formam os comportamentos e atitudes do indivíduo. Não é uma tarefa fácil, porque requer o exercício responsável das funções familiares: a função paterna como representante da Lei, e a função materna, nutridora e formadora do vínculo afetivo, que organiza o homem em suas relações intra e interpessoal consigo mesmo e com as pessoas a sua volta.
         Caso isto não aconteça, o indivíduo fica em um estado selvagem. O ser humano não é regido pelo instinto, como os animais, mas pela razão, e necessita da formação familiar para a construção do seu plano de conduta, dos elementos que nortearão as suas atitudes, seus comportamentos e suas decisões ao longo da vida.
        Sabemos que uma geração faz a educação da outra geração. Pela sua natureza, o homem é um ser em construção, portanto, inacabado. Precisa ser submetido às leis da humanidade, que foram construídas por um longo período de tempo. Ele não traz registrado em si mesmo estas leis, pois elas chegam através da família, em primeiro lugar, seguidas, a seu devido tempo, das duas instituições parceiras: a escola e a igreja. Se as leis e seus princípios não vierem logo cedo, será tarde demais.
         Sendo assim, a primeira inserção da Lei é sustentada pela família, e esta é a base de todas as outras. No entanto, temos presenciado uma dinâmica familiar que deixa a criança livre para fazer suas próprias escolhas. Sem leis claras e objetivas, sem os limites bem definidos, o mundo interno da criança desorganiza-se e vira um caos. Se os pais não sabem dizer “não”, se ficam paralisados ou apáticos diante das transgressões dos filhos, se são os seus “amiguinhos”, acomodados em sua individualidade, esta geração não terá a formação necessária e os subsídios para preparar, adequadamente, a educação da próxima.
          A criança precisa de limites. Quando ela é deixada por conta de si mesma, entregue à pessoas descomprometidas com sua formação, ou mesmo, com a TV e o computador, ela fará o que vê e, sem barras que a impeça, realizará seus mais primitivos impulsos de eliminar o que a incomoda, mesmo que isso signifique matar.
       A mídia mostra, de forma estarrecedora, os efeitos desse mundo familiar sem leis, sem o efetivo exercício dos representantes da Lei privada. A família vem sendo minada por estes recursos substitutos e pelas babás eletrônicas nos lares, devido à ausência física e afetiva de muitos pais, os quais estão totalmente envolvidos no trabalho e na luta pela sobrevivência.
        Não basta estar fisicamente em casa, é preciso responsabilizar-se efetivamente pela formação de um filho, independente das atribuições profissionais. Neste campo, há responsabilidades que não se podem delegar sem assumir os riscos e os custos. Terceirizar as funções familiares é abrir mão dos bens mais preciosos que os pais recebem; é desistir da responsabilidade de preparar a próxima geração.
       Esta concepção de liberdade sem limites que temos presenciado, impede a construção do projeto de formação eficaz e acaba por se tornar opressora. Hoje, tudo tem valor monetário e não mais moral. É a inversão do “ser” pelo “ter”. Uma vida humana não vale nada diante do imperativo do ter dinheiro ou um bem material. Mata-se por qualquer coisa. A violência é, em parte, gerada pela questão monetária e pela falta de valores, embora haja muitos outros fatores neste contexto. Mas esta negligência, em relação ao valor de um ser humano, nos convoca à reflexão da responsabilidade dos pais.
        Ao direcionar um olhar para a história da transmissão familiar, a igreja, junto com a escola, era a parceira fiel da família na formação dos valores morais, éticos e espirituais, de conduta e na construção do homem. O conceito de Deus, Soberano, Poderoso e Pai que protege, era transmitido desde cedo, e consolidado nos rituais religiosos.
       No cenário atual, em nosso mundo globalizado, tecnológico, encantador e sedutor, um novo deus, com d minúsculo, está assumindo esse poder na pós-modernidade: o deus mercado. Esta é uma constatação de muitos estudiosos preocupados com as questões sociais. A triste constatação é que cultua-se muito mais esse ídolo do que o Deus Jeová, visto que ele vem definindo regras de conduta, normas comportamentais, estilos de vida individual e familiar.
       Tudo se apresenta com um sentido utilitário, monetário e material. A igreja, como instituição, muitas vezes, entra na relação de oferta e consumo. As pessoas não estabelecem mais vínculos fraternos e religiosos com a comunidade religiosa, mas transitam na busca em atender suas demandas monetárias, além da relação entre a oferta e o consumo.
       Há igrejas para todos os gostos: “Se não gostei desta aqui, se me aborreci com o ensino, vou procurar outra, e outra, e outra…” A busca é: o que se oferta, onde se oferta e o que estou precisando no momento. Não importa onde, nem depende de vínculos. Como as necessidades materiais estão acima das espirituais, a busca é pelas bênçãos utilitárias.
      Dificilmente encontra-se alguém divulgando campanhas de oração pelo crescimento espiritual, pela melhoria do relacionamento com Deus ou pela busca de dons espirituais etc.; mas encontramos muitos buscando intensamente as bênçãos materiais. Este é o cenário favorável para uma vida espiritual vazia e superficial, que abre um campo imenso para as distorções do real significado da vida.
        O elemento integrador que forma vínculos e solidifica o indivíduo se perde nesse contexto. O que resta é a angústia, a ansiedade e a dor da alma. E quando há o sofrimento, o indivíduo volta-se para Deus na busca do consolo. Onde há uma oferta de mensagem consoladora, ali está a procura. O consolo é importante, pois, em um mundo de angústia, vem como bálsamo que suaviza a dor; já o consolo dissociado, não forma conduta, não organiza o mundo interior, não estrutura a construção e não dá concretude a obra. A palavra falada vira mercadoria para atender a um consumo e perde-se a relação entre o indivíduo e Deus. Neste cenário de inversão de valores, não há mais limites nessa busca.
        Além da escola, a igreja, como parceira da família, contribuía para a formação do caráter. Os valores cristãos eram ensinados desde cedo, transmitidos e ensinados com a demarcação dos limites. Desde cedo, a criança aprendia com a igreja, através do compromisso dos pais na transmissão da espiritualidade dentro da família. A convivência na igreja fortalecia os valores cristãos. A programação religiosa era valorizada e fazia parte da cultura da família.
        Quando olhamos para as páginas do Velho Testamento, vemos Deus se apresentando como um Deus de família: Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó (Êx 3.6 ARC). Um Deus geracional, que se transmitia de pai para filho. Qual seria a imagem de Deus, transmitida para os filhos, se ouvissem esta linguagem hoje: “Eu sou o Deus de teus pais”?
       Hoje, muitos pais estão muito mais preocupados com os valores materiais do que com os espirituais. Alguns chegam a dizer: “Quando meu filho crescer, decidirá sobre a sua vida espiritual”. Infelizmente, será muito tarde para implantar os valores formadores que alicerçam uma vida espiritual consistente.
                             
  Lição 01 – Família, onde tudo começa
(Pr. Anderson Pereira)

Texto Bíblico Básico: Ef 5.22-29, 6.1.24
Texto Áureo: Sl 68.6a

OBJETIVOS DA LIÇÃO:
Entender que:
1) Deus criou a família para ser ninho de afetividade;
2) Para ser o primeiro templo da espiritualidade; e
3) Para ser uma escola de crescimento.
Orientação aos alunos:
1) Leia livros e assista vídeos sobre família cristã;
2) Procure um Pastor que trata de família ou uma família cristã bem estruturada para se aconselhar.
PALAVRA INTRODUTÓRIA
A família é a célula principal da sociedade. Quando Deus criou o homem e a mulher, lhes deu ordem para crescer e multiplicar.
O apóstolo Paulo cita em Efésios 5.22-31 a relação entre marido e esposa, a qual tem a função de se amarem, se respeitarem e gerarem filhos. Como resultado o casal somado aos filhos geram a FAMÍLIA.
Na mesma carta, Paulo descreve como resultado do relacionamento entre pais e filhos as RELAÇÕES HUMANAS. Família é o LABORATÓRIO de formação inicial para lidar com o mundo em que vivemos.
Dependendo como nos relacionamos dentro dessa família e colocamos como centro dela o Deus que nos criou, Este derrama sobre nossos lares incontáveis e infinitas bênçãos.
À luz da ordem que Deus estabeleceu na criação e na sociedade, parece no mínimo lógico que Ele tenha também estabelecido uma ordem para o lar. Se a seguirmos, nossa casa prosperará. Se fizermos as coisas do nosso jeito ou usarmos o nosso próprio entendimento, fracassaremos totalmente. Devemos entender o Seu plano e segui-lo, para que nossos filhos sejam formados dentro da justiça e com isso haja a preservação da verdadeira família.
Sem essa ordem (hierarquia) e sem autoridade dentro da família, tornamo-nos sujeitos à luxúria e ao pecado. As características de um lar estabelecido sem Lei são: desordem, conflito, isolamento, orgulho próprio, queixas, assunto não resolvidos e uma quantidade de egocentrismo e
 infelicidade.

1. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O LÓCUS DA FELICIADE HUMANA
  LÓCUS - Palavra do latim, que significa literalmente "lugar", "posição" ou "local".
 Nosso tempo é limitado na terra, até Jesus voltar, todos nós retornaremos ao pó.
“E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,...” (Hebreus 9:27)
- “ vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.” (Eclesiastes 3:20)
-“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” (Salmos 90:12)
   Não fomos criados para viver em tormentos. Na maioria das vezes quem coloca o tormento dentro de casa somos nós mesmos.
  A palavra usada por Deus quando criou a família foi “MUITO BOM
      A família para Deus é o local (lócus) da FELICIDADE.
1.1 TODA A FAMILIA CRISTÃ DEVE SER UM LUGAR DE PAZ, VIDA E ESPERANÇA
Existe um esforço muito grande da sociedade ímpia para destruir a família verdadeira.
- O homem incrédulo procura a todo o momento deturpar o conceito verdadeiro de família (novelas, propagandas, mídias sociais, falsas igrejas etc...) inclusive dizendo que a felicidade não está relacionada a ela.
Temos que conhecer profundamente o porquê de Deus ter instituído a família e nos orientar quanto ao proceder dentro do lar, sabendo que o lar é o ÚTERO DA FELICIDADE.

VAMOS CITAR A LUZ DA BÍBLIA ALGUNS PROCEDERES CORRETOS RELATIVO À FAMÍLIA:
- Vós, maridos, amai vossas mulheres (Efésios 5:25)
- Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. (Efésios 5:22,23)
- Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor. (Efésios 6:1-4)
- O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. (1 Coríntios 7:3,4)
- As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convêm a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. (Tito 2:3-5)
O Pai humano deve ser a imagem do Pai celestial, devendo trabalhar e discipular os seus filhos do mesmo jeito que Deus faz. Um pai supre as necessidades físicas dos seus filhos e provê liderança espiritual, a fim de que sejam moldados para serem uma semente de Justiça que encha a Terra para a Glória de Deus.
- A mãe compartilha da autoridade do Pai procurando ter o cuidado de não destruí-la perante os filhos e da mesma conformidade o Pai. A autoridade opera por meio do amor, e existe um equilíbrio entre ambos.

1.2 O QUE FAZ UMA FAMÍLIA FELIZ
AMOR, COMPREENSÃO, RESPEITO, DIÁLOGO, LIMITES, DIVERSÃO, VIDA SEXUAL ENTRE OS CÔNJUGES, CONSELHOS, AUTORIDADE, SUBMISSÃO AO ESPÍRITO SANTO, OBJETIVOS DE VIDA, HONRA, ATITUDES CORRETAS, PERDÃO, ZELO PELAS LEIS DE DEUS
  O PASTOR DEVE SER EXEMPLO DE LÍDER FAMILIAR 
           A MULHER DEVE SER VIRTUOSA (PV 31.10-31)
      FAMILIA FELIZ (SALMO 28)
      FAMILIA INFELIZ – ACÃ, O PAI ERA MAU CARÁTER, A FAMILIA PERECEU.

2. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O NINHO DE AFETIVIDADE
Não se resume só em sexo, dinheiro e presentes, mas sentimentos que nutrem a alma e o espírito. Rir juntos, cantar juntos, sair juntos quando possível, se reunir para conversar, sentar para as refeições (mesa).Os braços do pai, o colo da mãe o ombro do irmão, são lugares formidáveis para essa afetividade.
Afirmar as habilidades e virtudes dos filhos, da esposa, do marido pode estabelecer o tom para o resto da vida para uma família saudável.
A falta dessa afetividade pode trazer transtornos irreversíveis no seio da família.

2.1 DEMANDAS AFETIVAS
Não podemos tratar do lado afetivo familiar com compras de alegria (presentes, mesada, viagens etc..) temos que trabalhar o caráter dentro do seio familiar, para que possamos transmiti-los para dentro da igreja.
As recordações mais importantes dos seus filhos não serão os dias de igreja cheia, mas os grandes momentos que vocês passaram juntos;
- Falta de afetividade = transtornos (sexualidade, comportamento, violência, suicídio)
- não podemos herdar erros de nossos pais, temos que fazer a diferença.
- pessoas carentes de afetividade = demandas emergentes = risco psíquico
A frase mais importante no seio da família não é “cadê o controle” mas “eu te amo”.
2.2 SOMOS CHAMADOS POR DEUS PARA GERAR NA NOSSA FAMÍLIA UM LUGAR DE SAÚDE AFETIVA
- Cônjuge mal amado;
- a falta do “EU TE AMO”
- a falta do abraço
- a falta do beijo
- as preferências (filhos)
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”. (1 Timóteo 5:8)
3. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O PRIMEIRO TEMPLO DA ESPIRITUALIDADE
- Nossa casa, exemplo para os vizinhos. Temos que ser imagem e semelhança de Deus, sal da terra e luz do mundo;
- Pai sacerdote do lar
- mãe conselheira e orientadora dos filhos
3.1 O PRIMEIRO ALTAR DO CRISTÃO DEVE SER SUA CASA
- A importância do culto doméstico
Instrui o menino no caminho que deve andar (Pv 22.6)
- temos que tomar cuidado para não quebrarmos o altar do nosso lar.
4. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER UMA ESCOLA DE CRESCIMENTO
- Deixando, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo; (1 Pedro 2:1,2)
- À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; (Hebreus 12:23)
Temos que ter cuidado para que não entremos numa degradação espiritual dentro de nossa casa. Temos que fazer a triagem daquilo que deixamos entrar através de nossas portas, nossos atos, das mídias sociais, das músicas e dos programas de televisão.
Somos Lócus da felicidade, ninho de afetividade, laboratório para a formação da vida e primeiro templo.
O Espírito Santo só habita numa casa organizada, zelosa, purificada para que Ele possa entrar e fazer morada.
O Brasil já é um dos países destruidores da família tradicional através das ideologias demoníacas introduzidas pela mídia, grupos LGBT, ONGs, políticas de cunho socialistas entre outros.
O próprio governo já procura introduzir leis que privem os pais da educação dos filhos, que evitem as chamadas “DISCRIMINAÇÕES”, ideologias de gêneros etc.

4.1 GRANDE PARTE DO QUE SOMOS TEM EXPLICAÇÃO EM NOSSA HISTÓRIA FAMILIAR
É no contexto da família, na dinâmica das experiências intrafamiliares (sentimentos, relacionamentos, atitudes, valores e espiritualidade), que o nosso ser vai sendo formado e moldado para lidar com o mundo.
- cuida com o jugo desigual!
- UMA FAMÍLIA FORTE VENCE O MUNDO.
- QUANTO MAIS SAUDÁVEL A FAMÍLIA, MAIS SAUDÁVEL SERÁ A IGREJA. 
- FAMÍLIA PROBLEMÁTICA, IGREJA PROBLEMÁTICA.
- FAMÍLIA SAUDÁVEL, IGREJA SAUDÁVEL.

                       👪💓    “Família, o altar onde Deus é servido primeiro” 

Fonte ESCOLA BEREANA - ADVEC







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