LUGAR DE
REFUGIO OU CAMPO DE BATALHA
ILMA CUNHA
Sumário
Recomendações
Dedicatória
Agradecimentos
Prefácio
Introdução
PARTE
1
FAMÍLIA – A TRANSMISSÃO DA CULTURA
FAMÍLIA – A TRANSMISSÃO DA CULTURA
1.1.Família e Conceituação
1.2.Uma Análise sobre o Cenário da Transmissão
Familiar
1.3.A Falência dos Rituais Familiares
1.4.Família e Resiliência
PARTE
2
FAMÍLIA – UMA ESPECIAL HISTÓRIA DE AMOR
FAMÍLIA – UMA ESPECIAL HISTÓRIA DE AMOR
2.1.Resolvendo o Passado para Edificar no
Presente os Fundamentos da Geração do Futuro
2.2.Ira – A Dor Oculta da Alma
2.3.Compulsão à Repetição
PARTE
3
FAMÍLIA – A DINÂMICA RELACIONAL E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
FAMÍLIA – A DINÂMICA RELACIONAL E A CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO
3.1.Apegos e Vínculos Familiares
3.2.As Funções Familiares: Materna e Paterna
3.3.O Desafio da Feminilidade
3.4.O Declínio da Função Paterna
PARTE
4
FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS
FAMÍLIAS DISFUNCIONAIS
4.1.Permitindo à Criança Crescer: Deixar Pai e
Mãe
PARTE
5
FAMÍLIAS PSICOSSOMÁTICAS – QUANDO A DINÂMICA FAMILIAR ADOECE O SUJEITO
FAMÍLIAS PSICOSSOMÁTICAS – QUANDO A DINÂMICA FAMILIAR ADOECE O SUJEITO
5.1.Equilíbrio e Desequilíbrio Familiar
5.2.Fenômenos Psicossomáticos
5.3.As Disfunções e o Adoecimento Familiar
PARTE
6
ALGUMAS OUTRAS FAMÍLIAS
ALGUMAS OUTRAS FAMÍLIAS
6.1.Famílias Violentas
6.2.Famílias Incestuosas
6.3.Famílias Enlutadas
Considerações Finais
Referências
Bibliográficas
Sobre
a Autora
Dedicatória
Estamos juntos!
Você e eu…
nós… perto ou longe,
em
pensamentos ou fisicamente,
algumas horas
no dia a dia,
minutos, às
vezes, mas juntos…
É o que
importa!
A Deus, a
razão da minha existência,
o doador da
vida, onde encontro o refúgio
da minha alma
e a fonte da sabedoria e do
conhecimento,
toda honra e glória.
A meus pais, pela transmissão familiar
geracional,
amor
incondicional, a base da minha formação.
A Celso, meu
amado e meu amigo, que, com
seu apoio
incondicional, permitiu-me dedicar tempo
para
aprofundar-me no conhecimento da alma humana.
A meus
filhos, Érik e Bruno, tesouros preciosos,
que me
permitiram aprender os mistérios da
maternidade e
trouxeram duas joias preciosas
para a nossa transmissão geracional: Aleandra
e Sandra.
A meus netos:
Lara, meus traços e os seus traços,
a primeira da
próxima geração;
Luccas, que,
com seu nascimento,
trouxe
unidade, fé e esperança; e Arthur, que cedo se apropriou da
linguagem,
marcando sua distinção,
deixo o meu
legado.
Vamos
caminhar juntos, bem juntos,
corações
unidos, nos mesmos propósitos.
Juntos, passo
a passo,
lançando os
fundamentos das próximas gerações.
💚📌👪
Quero
recomendar, irrestritamente, a leitura deste livro; e de modo especial, aos que
têm o ministério de aconselhamento e aos que sofrem as feridas provocadas pelas
batalhas travadas no seio da família.
A Deus, toda a glória!
Russell
Shedd, Ph.D
Introdução
É preciso aprender, conhecer enquanto
transformamos e transformar enquanto conhecemos. R. Barbier
Escrever
sobre família é sempre um desafio, que toma proporções gigantescas quando nos
propomos a pensar e a refletir sobre a família na pós-modernidade. Este é um
tempo de muitas mudanças, em todos os segmentos da sociedade, e a estrutura
familiar tem sido profundamente afetada com o impacto dessas mudanças na vida
pessoal e profissional dos indivíduos. O avanço da tecnologia e as altas
exigências do mercado de trabalho têm sido objeto de estudo em pesquisas sobre
os efeitos desses fatores na família, os quais produzem um estilo de vida
agitado e frenético, dificultando os relacionamentos familiares e alterando
significativamente o estilo de vida das pessoas.
Escrever
sobre família é sempre um desafio, que toma proporções gigantescas quando nos
propomos a pensar e a refletir sobre a família na pós-modernidade. Este é um
tempo de muitas mudanças, em todos os segmentos da sociedade, e a estrutura
familiar tem sido profundamente afetada com o impacto dessas mudanças na vida
pessoal e profissional dos indivíduos. O avanço da tecnologia e as altas
exigências do mercado de trabalho têm sido objeto de estudo em pesquisas sobre
os efeitos desses fatores na família, os quais produzem um estilo de vida
agitado e frenético, dificultando os relacionamentos familiares e alterando
significativamente o estilo de vida das pessoas.
Este desafio continua quando
refletimos sobre os aspectos subjetivos dessa questão, porque falar sobre
família também significa caminhar por cenários primários bem conhecidos de cada
ser humano – o primeiro abrigo depois da expulsão do paraíso. E estou
referindo-me não ao primeiro Éden, o registrado no Gênesis bíblico, que abrigou
a origem da raça humana, mas ao éden que, todos os dias, em todos os lugares,
abre-se para receber a semente que dará origem a uma vida humana – o paraíso
uterino.
Esse lugar tão
especial, preparado por Deus, é lugar de vida, acolhimento, aconchego, mas pode
também ser lugar de morte, de solidão, de abandono. Portanto, falar de família
significa identificar paradoxos e também penetrar os conflitos que permeiam a
existência humana, luzes e sombras de todos nós. No entanto, a família continua
sendo o cenário no qual construímos a nossa identidade. Nela, recebemos as
crenças e valores que nortearão nossos comportamentos.
...
PARTE 1
A TRANSMISSÃO DA CULTURA
Na história bíblica, a transmissão da
cultura evidencia-se como um princípio familiar, como bem expressa o rei Davi
no texto extraído do livro de Salmos. A família é a estrutura essencial e
objetiva para a perpetuação da espécie, desde o princípio da história da
humanidade, para a transmissão da cultura. É ela a passadora dos valores
culturais e espirituais, ao mesmo tempo em que apresenta-se como o cenário de
construção da identidade e do sentimento de pertencimento.
Para além do patrimônio material, a família
transmite valores simbólicos necessários para a elaboração da transmissão
psíquica geracional. É importante ressaltar que a transmissão não se faz pela
via de um grupo qualquer, e a formação do grupo familiar possui os
organizadores atuantes nos vínculos estabelecidos entre os membros, que
atravessam gerações, possibilitando a transmissão da cultura.
Para ampliarmos nossa compreensão sobre
o papel da família na transmissão geracional, é necessário um olhar para a
palavra família e sua conceituação.
1.1.
Família e Conceituação
Nosso conhecido dicionário, Aurélio
Ferreira (1996), conceitua família afirmando que “são pessoas aparentadas, que
vivem, em geral, na mesma casa, particularmente o pai, a mãe e os filhos”. No
contexto social, diz ainda, que “família é uma comunidade constituída por um
homem e uma mulher, unidos por laços matrimoniais, e pelos filhos nascidos
dessa união”. 1
Hoje temos as mais diversas configurações
familiares, que apresentam um complexo cenário para a transmissão da cultura:
Há a família formada pelo marido e mulher sem filhos; outra formada por marido
e mulher com filhos; além da família composta por um pai ou uma mãe e filhos.
Um modelo crescente é a família formada
por mãe e filhos, diante da conhecida “produção independente”, e também pelo
divórcio, onde o pai exerce pouca ou nenhuma participação na vida dos filhos;
tal configuração é conhecida como família monoparental.
Há também, uma crescente formação
familiar, advinda de casamentos entre pessoas que trazem filhos de
relacionamentos anteriores, somando-os aos filhos da união atual – “os meus, os
seus e os nossos” – conhecida como família mosaico. Outras configurações têm
surgido nos últimos anos e também são designadas como famílias pelas
instituições de pesquisas estatísticas.
A constituição familiar é hoje um
grande desafio diante de todas as mudanças ocorridas nas últimas décadas. Mas,
além das questões internas, há o impacto produzido pelas mudanças ocorridas no
mundo globalizado do trabalho. Olhar para a família da pós-modernidade, é
constatar o quanto a organização familiar vem sendo afetada devido a todas as
mudanças internas e externas.
Este é o mundo da tecnologia, onde as
mudanças ocorrem com uma agilidade impressionante e assustadora. Todos os
segmentos da sociedade foram impactados pelas exigências e pressões, advindas
da luta pela sobrevivência. A busca pelo equilíbrio, entre vida pessoal e profissional,
passou a ser um grande desafio de amplas dimensões para todos nós.
Qualidade e quantidade passaram a ser,
no mundo atual, as principais exigências na administração do tempo. Este tempo
é exigido sempre mais, o que promove ansiedade, insegurança e estresse. Pouco
tempo sobrou para o desempenho das funções familiares, comprometendo a
transmissão da cultura familiar, tão necessária para a construção da identidade
de família.
Esse cenário assustador nos convoca
como pais, líderes e, principalmente, como cristãos, para sairmos da zona de
conforto e pensarmos em nossa responsabilidade com a próxima geração que
estamos preparando em nossas famílias.
Creio que o cenário não é muito
diferente do relatado em Êxodo 5, quando Moisés foi a Faraó solicitar
autorização para tirar o povo do Egito, escravizado por tantos anos, para um
sonho de liberdade anunciado por Deus. O pedido incomodou Faraó e ele
arquitetou sua estratégia para impedir o sonho de liberdade. Ele chamou seu
capataz e disse:
Não forneçam mais palha ao povo para fazer
tijolos, como faziam antes. Eles que tratem de ajuntar palha! Mas exijam que
continuem a fazer a mesma quantidade de tijolos; não reduzam a cota. São
preguiçosos, e por isso estão clamando: ‘Iremos oferecer sacrifícios ao nosso
Deus’. Aumentem a carga de trabalho dessa gente para que cumpram suas tarefas e
não deem atenção a mentiras. Os feitores e os capatazes foram dizer ao povo:
“Assim diz o faraó: ‘Já não lhes darei palha. Saiam e recolham-na onde puderem achá-la,
pois o trabalho de vocês em nada será reduzido’”. O povo então espalhou-se por todo o Egito, a
fim de ajuntar restolho em lugar da palha.
Êxodo 5.7-12 NVI
Sabemos que a palha era necessária
para a produção dos tijolos, mas o texto diz que o povo andava por todo o
Egito, pegando restolho em lugar de palha. E a pressão dos capatazes continuou
ainda mais, com o objetivo de ocupá-los de tal forma, para que o sonho de
liberdade se perdesse em meio ao extenuante trabalho. Da mesma forma, sabemos
que o trabalho é necessário para a luta pela sobrevivência. O mundo corporativo
exige qualidade, comprometimento e dedicação ao trabalho, portanto, as pressões
não irão diminuir.
O tempo dedicado ao trabalho ocupa a maior
parte do nosso tempo, e o que sobra é o mínimo para o desempenho de todos os
outros papéis: conjugal, filhos, familiares (pais, irmãos, parentes),
educacional, social, espiritual, religioso, recreacional (lazer), etc. É grande
a demanda, pois todos estes papéis têm importância em nossa vida, e cada um que
for negligenciado terá o seu custo.
Mas, o que seria restolho no nosso
tempo? Qual o significado? Penso que é todo o tempo que gastamos com coisas que
não agregam valor à nossa vida. A internet está aí, com todas as demandas das
redes sociais, utilizando um tempo que, para nós, já é tão escasso, e o
subtrai, quando poderia destiná-lo a papéis tão importantes e significativos da
nossa vida.
É evidente que, quando bem utilizada, a
internet é um recurso importante, que traz benefícios em muitos sentidos. Mas o
que temos visto são pessoas reféns e, algumas, totalmente dependentes, que
utilizam o restante do tempo, que não é destinado ao trabalho, para mergulhar
na alienação da rede. Estão totalmente enredadas e escravizadas pela sedução
virtual. Isto é restolho, que não tem valor algum, é escravidão. A família
sofre os profundos efeitos desta inversão de prioridades, além de todas as
conseqüências que vêm sobre a vida espiritual e sobre a saúde física, mental e
emocional.
Este é o desafio da igreja cristã neste
tempo: compreender que as mudanças ocorreram e que a igreja é composta por
muitas dessas configurações familiares que possuem os efeitos da nossa era
globalizada. Portanto, não é possível a igreja se eximir de sua
responsabilidade de cuidar dessas famílias com suas necessidades e conflitos. É
necessário acolhê-las com amor e orientá-las nos princípios da Palavra de Deus.
Cada vez mais a palavra de Lucas 1.17
(ARA) torna-se atual e necessária para a realidade da igreja da
pós-modernidade, em sua missão de preparar o caminho do Senhor: Para converter
o coração dos pais aos filhos, converter os desobedientes à prudência dos
justos e habilitar para o Senhor um povo preparado (ênfase da autora). É tempo
de preparo e de sairmos do movimento da informação, apenas para a busca de
conhecimentos que transformam-se em prática de vida: Respondeu-lhes Jesus: Errais, não conhecendo as Escrituras nem o
poder de Deus (Mt 22.29 ARA).
A família é, pois, o lugar de
transmissão da cultura e o primeiro abrigo para o homem, onde formam-se crenças
e valores, construção de identidade e de preparação para a vida. Mas, como fica
esta transmissão em meio a variedade de configurações familiares?
Com as famílias reconstruídas, vêm os
filhos – os meus, os seus e os nossos – e um mosaico de herança cultural. Essas
crianças, muitas vezes, colecionam padrastos, madrastas, meios-irmãos e outros
parentes adotivos. Nesse contexto, os conflitos evidenciam-se por questões mal
resolvidas dos cônjuges e ex-cônjuges, que são depositadas no novo
relacionamento.
Há mães que não falam com o ex-marido
devido a uma série de situações conflituosas da conjugalidade , as quais
deixaram restos de rancores no relacionamento partido. Mas, por necessidades
vinculadas à criança, o contato precisa ser mantido de alguma maneira. A
criança é eleita, simbolicamente, como a mediadora destas questões conflituosas
e como porta-voz dos pais; porém, não é impunemente a sustentadora de um
relacionamento partido. Nesse ambiente, carrega em si mesma as marcas da dor,
da ansiedade e da angústia, por não dar conta de toda a demanda dos pais.
O
apóstolo Paulo, em sua carta dirigida aos Gálatas, diz no versículo 15 do
capítulo 5 um texto apropriado a esta contradição familiar: Mas se vocês se
mordem e se devoram uns aos outros, cuidado para não se destruírem mutuamente
(NVI).
Muitas vezes, essas questões mal
resolvidas nas separações lançam os filhos em um cenário de guerra, onde todos
saem perdendo. O relacionamento com ex-marido, ex-mulher, padrasto, madrasta,
namorada do pai, namorado da mãe, avós, avós de irmãos, irmãos de sangue e
meios-irmãos acarreta interferências na educação, limites divergentes da semana
e do final de semana, mensagens contraditórias recebidas dos pais, autoridades
questionadas, vínculos de afetos que se fazem e se desfazem bruscamente, mais
de uma casa, mais de um quarto e o distanciamento dos filhos como cruel forma
punitiva ao ex-cônjuge, etc.
Como fica a formação da criança neste
emaranhado de questões? E a construção da identidade? O que se transmite para a
próxima geração? São questões angustiantes que tomam as nossas discussões e
reflexões sobre a família no cenário atual.
Ao longo dos anos, muitos estudiosos já
apontavam para tais questões que afetariam a família: Freud (apud VOLNOVICH,
1993) foi, talvez, um dos primeiros estudiosos a chamar a atenção sobre as
mudanças que estavam acontecendo nas famílias, e apontou de que forma isso
provocaria o desmoronamento da figura paterna como ideal. Ele demonstra esta
preocupação quando diz “que o avanço da modernidade no homem e a constituição
de uma subjetividade onde a liderança do pai desaparece, retratam a família de
hoje”. Ele temia a fragilização do significante pai e a sua substituição por um
conjunto de saberes advindos da modernidade, o que acabou acontecendo e
fragmentando a vida familiar.
As discussões sociais e judiciais sobre as
disputas que envolvem paternidade questionam: O que é um pai? Como objetivar a
questão paterna diante dessas demandas? Quem deve ser considerado pai de fato,
o homem que, junto com a mãe, concebeu a criança como pai biológico ou aquele
que exerceu a função ao assumir a responsabilidade de criar a criança,
constituindo-se como pai afetivo? São questões que levam a uma nova definição
do que é um pai no âmbito jurídico com as demandas judiciais que envolvem a
paternidade: pai biológico ou pai afetivo?
1.2.
Uma Análise sobre o Cenário da
Transmissão Familiar
O homem não nasce pronto, é um ser em
construção, portanto, é preciso formar os indivíduos e construí-los.
O apóstolo Paulo, ao escrever para os
Filipenses, disse no capítulo 1.6: Aquele que começou boa obra em vós há de
completá-la até ao Dia de Cristo Jesus (ARA). Logo, a Palavra de Deus está
falando de um processo de construção, que inicia-se no momento em que somos
gerados e que só se completará quando nossa vida terrena terminar.
Essa não é uma obra sem transtornos. As
alterações na estrutura familiar evidenciam esta realidade. Muitas Muitas
vezes, são tantas as dificuldades que a família enfrenta que, simbolicamente,
precisaria, como nas obras públicas, colocar uma pequena placa na obra para
tirar um tempo de reflexão e isolamento que interferisse na melhoria dos
relacionamentos: “Desculpem-nos o
transtorno, estamos em construção”. Nas obras públicas, pressupomos que o
transtorno durará um tempo determinado e o resultado será para melhor, mas,
infelizmente, o transtorno é infindável, e produz danos profundos dos membros
da família.
Fundamentados nesses conceitos, podemos
afirmar que é preciso formar o indivíduo, preparar alicerces sólidos, construir
seus valores e crenças, e caminhar passo a passo no processo de consolidação das
leis e princípios existenciais, que formam os comportamentos e atitudes do
indivíduo. Não é uma tarefa fácil, porque requer o exercício responsável das
funções familiares: a função paterna como representante da Lei, e a função
materna, nutridora e formadora do vínculo afetivo, que organiza o homem em suas
relações intra e interpessoal consigo mesmo e com as pessoas a sua volta.
Caso isto não aconteça, o indivíduo
fica em um estado selvagem. O ser humano não é regido pelo instinto, como os
animais, mas pela razão, e necessita da formação familiar para a construção do
seu plano de conduta, dos elementos que nortearão as suas atitudes, seus
comportamentos e suas decisões ao longo da vida.
Sabemos que uma geração faz a educação
da outra geração. Pela sua natureza, o homem é um ser em construção, portanto,
inacabado. Precisa ser submetido às leis da humanidade, que foram construídas
por um longo período de tempo. Ele não traz registrado em si mesmo estas leis,
pois elas chegam através da família, em primeiro lugar, seguidas, a seu devido
tempo, das duas instituições parceiras: a escola e a igreja. Se as leis e seus
princípios não vierem logo cedo, será tarde demais.
Sendo assim, a primeira inserção da
Lei é sustentada pela família, e esta é a base de todas as outras. No entanto,
temos presenciado uma dinâmica familiar que deixa a criança livre para fazer
suas próprias escolhas. Sem leis claras e objetivas, sem os limites bem
definidos, o mundo interno da criança desorganiza-se e vira um caos. Se os pais
não sabem dizer “não”, se ficam paralisados ou apáticos diante das
transgressões dos filhos, se são os seus “amiguinhos”, acomodados em sua
individualidade, esta geração não terá a formação necessária e os subsídios
para preparar, adequadamente, a educação da próxima.
A criança precisa de limites. Quando
ela é deixada por conta de si mesma, entregue à pessoas descomprometidas com
sua formação, ou mesmo, com a TV e o computador, ela fará o que vê e, sem
barras que a impeça, realizará seus mais primitivos impulsos de eliminar o que
a incomoda, mesmo que isso signifique matar.
A mídia mostra, de forma estarrecedora,
os efeitos desse mundo familiar sem leis, sem o efetivo exercício dos
representantes da Lei privada. A família vem sendo minada por estes recursos
substitutos e pelas babás eletrônicas nos lares, devido à ausência física e
afetiva de muitos pais, os quais estão totalmente envolvidos no trabalho e na
luta pela sobrevivência.
Não basta estar fisicamente em casa, é
preciso responsabilizar-se efetivamente pela formação de um filho, independente
das atribuições profissionais. Neste campo, há responsabilidades que não se
podem delegar sem assumir os riscos e os custos. Terceirizar as funções
familiares é abrir mão dos bens mais preciosos que os pais recebem; é desistir
da responsabilidade de preparar a próxima geração.
Esta concepção de liberdade sem limites que
temos presenciado, impede a construção do projeto de formação eficaz e acaba
por se tornar opressora. Hoje, tudo tem valor monetário e não mais moral. É a
inversão do “ser” pelo “ter”. Uma vida humana não vale nada diante do
imperativo do ter dinheiro ou um bem material. Mata-se por qualquer coisa. A
violência é, em parte, gerada pela questão monetária e pela falta de valores,
embora haja muitos outros fatores neste contexto. Mas esta negligência, em
relação ao valor de um ser humano, nos convoca à reflexão da responsabilidade
dos pais.
Ao direcionar um olhar para a história da
transmissão familiar, a igreja, junto com a escola, era a parceira fiel da
família na formação dos valores morais, éticos e espirituais, de conduta e na
construção do homem. O conceito de Deus, Soberano, Poderoso e Pai que protege,
era transmitido desde cedo, e consolidado nos rituais religiosos.
No cenário atual, em nosso mundo
globalizado, tecnológico, encantador e sedutor, um novo deus, com d minúsculo,
está assumindo esse poder na pós-modernidade: o deus mercado. Esta é uma
constatação de muitos estudiosos preocupados com as questões sociais. A triste
constatação é que cultua-se muito mais esse ídolo do que o Deus Jeová, visto
que ele vem definindo regras de conduta, normas comportamentais, estilos de
vida individual e familiar.
Tudo se apresenta com um sentido utilitário,
monetário e material. A igreja, como instituição, muitas vezes, entra na
relação de oferta e consumo. As pessoas não estabelecem mais vínculos fraternos
e religiosos com a comunidade religiosa, mas transitam na busca em atender suas
demandas monetárias, além da relação entre a oferta e o consumo.
Há igrejas para todos os gostos: “Se não gostei desta aqui, se me aborreci
com o ensino, vou procurar outra, e outra, e outra…” A busca é: o que se
oferta, onde se oferta e o que estou precisando no momento. Não importa onde,
nem depende de vínculos. Como as necessidades materiais estão acima das
espirituais, a busca é pelas bênçãos utilitárias.
Dificilmente encontra-se alguém
divulgando campanhas de oração pelo crescimento espiritual, pela melhoria do
relacionamento com Deus ou pela busca de dons espirituais etc.; mas encontramos
muitos buscando intensamente as bênçãos materiais. Este é o cenário favorável
para uma vida espiritual vazia e superficial, que abre um campo imenso para as
distorções do real significado da vida.
O
elemento integrador que forma vínculos e solidifica o indivíduo se perde nesse
contexto. O que resta é a angústia, a ansiedade e a dor da alma. E quando há o
sofrimento, o indivíduo volta-se para Deus na busca do consolo. Onde há uma
oferta de mensagem consoladora, ali está a procura. O consolo é importante,
pois, em um mundo de angústia, vem como bálsamo que suaviza a dor; já o consolo
dissociado, não forma conduta, não organiza o mundo interior, não estrutura a
construção e não dá concretude a obra. A palavra falada vira mercadoria para
atender a um consumo e perde-se a relação entre o indivíduo e Deus. Neste
cenário de inversão de valores, não há mais limites nessa busca.
Além da escola, a igreja, como parceira
da família, contribuía para a formação do caráter. Os valores cristãos eram
ensinados desde cedo, transmitidos e ensinados com a demarcação dos limites.
Desde cedo, a criança aprendia com a igreja, através do compromisso dos pais na
transmissão da espiritualidade dentro da família. A convivência na igreja
fortalecia os valores cristãos. A programação religiosa era valorizada e fazia
parte da cultura da família.
Quando olhamos para as páginas do Velho
Testamento, vemos Deus se apresentando como um Deus de família: Eu sou o Deus
de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque e o Deus de Jacó (Êx 3.6 ARC).
Um Deus geracional, que se transmitia de pai para filho. Qual seria a imagem de
Deus, transmitida para os filhos, se ouvissem esta linguagem hoje: “Eu sou o Deus de teus pais”?
Hoje, muitos pais estão muito mais
preocupados com os valores materiais do que com os espirituais. Alguns chegam a
dizer: “Quando meu filho crescer,
decidirá sobre a sua vida espiritual”. Infelizmente, será muito tarde para
implantar os valores formadores que alicerçam uma vida espiritual consistente.
Lição 01 – Família, onde tudo começa
(Pr. Anderson Pereira)
Texto Bíblico Básico: Ef 5.22-29, 6.1.24
Texto Áureo: Sl 68.6a
OBJETIVOS DA LIÇÃO:
Entender que:
1) Deus criou a família para ser ninho de afetividade;
2) Para ser o primeiro templo da espiritualidade; e
3) Para ser uma escola de crescimento.
Orientação aos alunos:
1) Leia livros e assista vídeos sobre família cristã;
2) Procure um Pastor que trata de família ou uma família cristã bem estruturada para se aconselhar.
PALAVRA INTRODUTÓRIA
A família é a célula principal da sociedade. Quando Deus criou o homem e a mulher, lhes deu ordem para crescer e multiplicar.
O apóstolo Paulo cita em Efésios 5.22-31 a relação entre marido e esposa, a qual tem a função de se amarem, se respeitarem e gerarem filhos. Como resultado o casal somado aos filhos geram a FAMÍLIA.
Na mesma carta, Paulo descreve como resultado do relacionamento entre pais e filhos as RELAÇÕES HUMANAS. Família é o LABORATÓRIO de formação inicial para lidar com o mundo em que vivemos.
Dependendo como nos relacionamos dentro dessa família e colocamos como centro dela o Deus que nos criou, Este derrama sobre nossos lares incontáveis e infinitas bênçãos.
À luz da ordem que Deus estabeleceu na criação e na sociedade, parece no mínimo lógico que Ele tenha também estabelecido uma ordem para o lar. Se a seguirmos, nossa casa prosperará. Se fizermos as coisas do nosso jeito ou usarmos o nosso próprio entendimento, fracassaremos totalmente. Devemos entender o Seu plano e segui-lo, para que nossos filhos sejam formados dentro da justiça e com isso haja a preservação da verdadeira família.
Sem essa ordem (hierarquia) e sem autoridade dentro da família, tornamo-nos sujeitos à luxúria e ao pecado. As características de um lar estabelecido sem Lei são: desordem, conflito, isolamento, orgulho próprio, queixas, assunto não resolvidos e uma quantidade de egocentrismo e
infelicidade.
1. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O LÓCUS DA FELICIADE HUMANA
LÓCUS - Palavra do latim, que significa literalmente "lugar", "posição" ou "local".
Nosso tempo é limitado na terra, até Jesus voltar, todos nós retornaremos ao pó.
- “E, como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o juízo,...” (Hebreus 9:27)
- “ vão para um lugar; todos foram feitos do pó, e todos voltarão ao pó.” (Eclesiastes 3:20)
-“Ensina-nos a contar os nossos dias, de tal maneira que alcancemos corações sábios.” (Salmos 90:12)
Não fomos criados para viver em tormentos. Na maioria das vezes quem coloca o tormento dentro de casa somos nós mesmos.
A palavra usada por Deus quando criou a família foi “MUITO BOM
A família para Deus é o local (lócus) da FELICIDADE.
1.1 TODA A FAMILIA CRISTÃ DEVE SER UM LUGAR DE PAZ, VIDA E ESPERANÇA
- Existe um esforço muito grande da sociedade ímpia para destruir a família verdadeira.
- O homem incrédulo procura a todo o momento deturpar o conceito verdadeiro de família (novelas, propagandas, mídias sociais, falsas igrejas etc...) inclusive dizendo que a felicidade não está relacionada a ela.
- Temos que conhecer profundamente o porquê de Deus ter instituído a família e nos orientar quanto ao proceder dentro do lar, sabendo que o lar é o ÚTERO DA FELICIDADE.
VAMOS CITAR A LUZ DA BÍBLIA ALGUNS PROCEDERES CORRETOS RELATIVO À FAMÍLIA:
- Vós, maridos, amai vossas mulheres (Efésios 5:25)
- Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. (Efésios 5:22,23)
- Vós, filhos, sede obedientes a vossos pais no Senhor, porque isto é justo. Honra a teu pai e a tua mãe, que é o primeiro mandamento com promessa; Para que te vá bem, e vivas muito tempo sobre a terra. E vós, pais, não provoqueis à ira a vossos filhos, mas criai-os na doutrina e admoestação do Senhor. (Efésios 6:1-4)
- O marido pague à mulher a devida benevolência, e da mesma sorte a mulher ao marido. A mulher não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no o marido; e também da mesma maneira o marido não tem poder sobre o seu próprio corpo, mas tem-no a mulher. (1 Coríntios 7:3,4)
- As mulheres idosas, semelhantemente, que sejam sérias no seu viver, como convêm a santas, não caluniadoras, não dadas a muito vinho, mestras no bem; Para que ensinem as mulheres novas a serem prudentes, a amarem seus maridos, a amarem seus filhos, A serem moderadas, castas, boas donas de casa, sujeitas a seus maridos, a fim de que a palavra de Deus não seja blasfemada. (Tito 2:3-5)
- O Pai humano deve ser a imagem do Pai celestial, devendo trabalhar e discipular os seus filhos do mesmo jeito que Deus faz. Um pai supre as necessidades físicas dos seus filhos e provê liderança espiritual, a fim de que sejam moldados para serem uma semente de Justiça que encha a Terra para a Glória de Deus.
- A mãe compartilha da autoridade do Pai procurando ter o cuidado de não destruí-la perante os filhos e da mesma conformidade o Pai. A autoridade opera por meio do amor, e existe um equilíbrio entre ambos.
1.2 O QUE FAZ UMA FAMÍLIA FELIZ
AMOR, COMPREENSÃO, RESPEITO, DIÁLOGO, LIMITES, DIVERSÃO, VIDA SEXUAL ENTRE OS CÔNJUGES, CONSELHOS, AUTORIDADE, SUBMISSÃO AO ESPÍRITO SANTO, OBJETIVOS DE VIDA, HONRA, ATITUDES CORRETAS, PERDÃO, ZELO PELAS LEIS DE DEUS
O PASTOR DEVE SER EXEMPLO DE LÍDER FAMILIAR
A MULHER DEVE SER VIRTUOSA (PV 31.10-31)
FAMILIA FELIZ (SALMO 28)
FAMILIA INFELIZ – ACÃ, O PAI ERA MAU CARÁTER, A FAMILIA PERECEU.
2. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O NINHO DE AFETIVIDADE
Não se resume só em sexo, dinheiro e presentes, mas sentimentos que nutrem a alma e o espírito. Rir juntos, cantar juntos, sair juntos quando possível, se reunir para conversar, sentar para as refeições (mesa).Os braços do pai, o colo da mãe o ombro do irmão, são lugares formidáveis para essa afetividade.
Afirmar as habilidades e virtudes dos filhos, da esposa, do marido pode estabelecer o tom para o resto da vida para uma família saudável.
A falta dessa afetividade pode trazer transtornos irreversíveis no seio da família.
2.1 DEMANDAS AFETIVAS
Não podemos tratar do lado afetivo familiar com compras de alegria (presentes, mesada, viagens etc..) temos que trabalhar o caráter dentro do seio familiar, para que possamos transmiti-los para dentro da igreja.
As recordações mais importantes dos seus filhos não serão os dias de igreja cheia, mas os grandes momentos que vocês passaram juntos;
- Falta de afetividade = transtornos (sexualidade, comportamento, violência, suicídio)
- não podemos herdar erros de nossos pais, temos que fazer a diferença.
- pessoas carentes de afetividade = demandas emergentes = risco psíquico
A frase mais importante no seio da família não é “cadê o controle” mas “eu te amo”.
2.2 SOMOS CHAMADOS POR DEUS PARA GERAR NA NOSSA FAMÍLIA UM LUGAR DE SAÚDE AFETIVA
- Cônjuge mal amado;
- a falta do “EU TE AMO”
- a falta do abraço
- a falta do beijo
- as preferências (filhos)
“Mas, se alguém não tem cuidado dos seus, e principalmente dos da sua família, negou a fé, e é pior do que o infiel”. (1 Timóteo 5:8)
3. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER O PRIMEIRO TEMPLO DA ESPIRITUALIDADE
- Nossa casa, exemplo para os vizinhos. Temos que ser imagem e semelhança de Deus, sal da terra e luz do mundo;
- Pai sacerdote do lar
- mãe conselheira e orientadora dos filhos
3.1 O PRIMEIRO ALTAR DO CRISTÃO DEVE SER SUA CASA
- A importância do culto doméstico
- Instrui o menino no caminho que deve andar (Pv 22.6)
- temos que tomar cuidado para não quebrarmos o altar do nosso lar.
4. DEUS CRIOU A FAMÍLIA PARA SER UMA ESCOLA DE CRESCIMENTO
- Deixando, pois, toda a malícia, e todo o engano, e fingimentos, e invejas, e todas as murmurações, desejai afetuosamente, como meninos novamente nascidos, o leite racional, não falsificado, para que por ele vades crescendo; (1 Pedro 2:1,2)
- À universal assembleia e igreja dos primogênitos, que estão inscritos nos céus, e a Deus, o juiz de todos, e aos espíritos dos justos aperfeiçoados; (Hebreus 12:23)
Temos que ter cuidado para que não entremos numa degradação espiritual dentro de nossa casa. Temos que fazer a triagem daquilo que deixamos entrar através de nossas portas, nossos atos, das mídias sociais, das músicas e dos programas de televisão.
Somos Lócus da felicidade, ninho de afetividade, laboratório para a formação da vida e primeiro templo.
O Espírito Santo só habita numa casa organizada, zelosa, purificada para que Ele possa entrar e fazer morada.
O Brasil já é um dos países destruidores da família tradicional através das ideologias demoníacas introduzidas pela mídia, grupos LGBT, ONGs, políticas de cunho socialistas entre outros.
O próprio governo já procura introduzir leis que privem os pais da educação dos filhos, que evitem as chamadas “DISCRIMINAÇÕES”, ideologias de gêneros etc.
4.1 GRANDE PARTE DO QUE SOMOS TEM EXPLICAÇÃO EM NOSSA HISTÓRIA FAMILIAR
É no contexto da família, na dinâmica das experiências intrafamiliares (sentimentos, relacionamentos, atitudes, valores e espiritualidade), que o nosso ser vai sendo formado e moldado para lidar com o mundo.
- cuida com o jugo desigual!
- UMA FAMÍLIA FORTE VENCE O MUNDO.
- QUANTO MAIS SAUDÁVEL A FAMÍLIA, MAIS SAUDÁVEL SERÁ A IGREJA.
- FAMÍLIA PROBLEMÁTICA, IGREJA PROBLEMÁTICA.
- FAMÍLIA SAUDÁVEL, IGREJA SAUDÁVEL.
👪💓 “Família, o altar onde Deus é servido primeiro”
Fonte ESCOLA BEREANA - ADVEC
Fonte ESCOLA BEREANA - ADVEC
Nenhum comentário:
Postar um comentário