A palavra paciência no grego é makrothumía. Ela é uma palavra composta: a primeira parte é makro, que refere-se a algo grande e longo; a segunda parte é o thumos, que significa ânimo, disposição, índole e natureza. Então, podemos dizer que makrothumía fala de se ter paciência com as pessoas, ou seja, nunca perder o ânimo, ainda que as pessoas não sejam agradáveis conosco.
O pastor Antônio Gilberto, na obra O caráter Cristo, precisamente define essa palavra assim:
O vocábulo grego original traduzido por “paciência” (na versão portuguesa, usamos em Gálatas 5.22, longanimidade) é makrothumía (vem de nutkros, que significa longo, e tbumia temperamento, natureza e índole). A palavra original, pois, combina nas ideias de muita paciência e de um temperamento bem equilibrado, controlado por Deus. Em outras palavras, a pessoa em quem o Espírito Santo estiver produzindo o fruto da paciência aprende a esperar no Senhor sem perder a esperança, não admitindo derrotas e nem deixando se dominar pela ira. (GILBERTO, 2007, p. 116).
Vale ressaltar que a paciência não está apenas relacionada com as pessoas, mas também com o tempo e certos acontecimentos em nossa vida. Quantos não perdem a paciência quando sofrem derrotas, quando não conseguem conquistar aquilo que pensavam que iriam alcançar em determinado tempo, todavia, o cristão que tem em sua vida a virtude do fruto do Espírito Santo chamada paciência jamais desiste ou perde a fé, ainda que tudo não lhe seja favorável.
David Lim falou da longanimidade da seguinte maneira:
A palavra grega makrotbumía refere-se à paciência que temos com nosso próximo. Ser longânimo é tolerar a má conduta dos outros contra nós, sem nunca buscar vingança. Dentro em breve, os cristãos em Roma passariam por perseguições. Sob tensão e sofrimento, os cristãos podem vir a ter menos paciência uns com os outros, de modo que Paulo conclama: “Sede pacientes na tribulação” (Rm 12.12). Ao ensinar sobre os dons, Paulo inicia tratando da paciência com as pessoas e termina com paciência nas circunstâncias (ICo 13, 4, 7). Para nós, que formamos a Igreja, leva tempo para amadurecermos através de todas as diferenças que provêm das nossas culturas, níveis educacionais e personalidades. Por isso, Paulo nos conclama a ser completamente humildes e mansos, “com longanimidade”. (Ef 4.19) (LIM, 1996, p. 490)
Entendemos que a paciência como virtude do fruto do Espírito faz com que o crente não se exaspere, nem seja impaciente, mas saiba como controlar-se diante de qualquer situação desagradável, sem ceder à cólera ou a ira. Para essa virtude do fruto podemos dizer que se trata de um autocontrole, que não se descontrola para agir bruscamente, que não age buscando vingança, quando for injuriado, mas pela fé vai suportando tudo.
Quando a paciência está na vida do crente ele não desiste, não reclama, não faz murmúrios, mas segue até completar sua carreira, Paulo disse que combateu o bom combate até o fim, depois guardou a fé, ou seja, em meio às lutas, perseguição e falsidade foi por meio da paciência que ele suportou tudo, para ganhar a sua coroa (2Tm 4.7,8).
Barclay diz que a makrothumía pode ser entendida como o espírito que não reconhece derrota. O que caracterizava fortemente os romanos era esse espírito, ainda que perdessem batalhas, não desistiam. A paciência ajuda o cristão a não desistir, ainda que perca uma ou duas vezes.
As Diversas Características da Paciência
O cristão que produz pelo espírito santo a virtude da paciência sabe como tratar as pessoas, ainda que elas sejam cheias de defeitos e falhas, mesmo assim, ele espera que um dia elas mudem, por isso não desiste. Com paciência o cristão sabe sempre perdoar, pois não se deixa dominar pela ira (Pv 19.11). Ele trata as pessoas com humildade, pois seu alvo é vê-las bem, não se põe como dono da situação nem como superior a ninguém (Ec 7.8).
Temos visto que a falta de paciência tem sido a causa para muitas brigas e contendas em algumas igrejas; pessoas que poderiam ser aproveitadas em certas atividades são execradas, tudo porque falta essa virtude maravilhosa. Salomão disse que aquele que tem o espírito longânimo sabe muito bem apaziguar a luta (Pv 15.18). Pela paciência é que se consegue manter as boas amizades, preservar a unidade no lar e na igreja, pois até o homem mais irado pode ser vencido por aquele que sabe ser paciente. “Pela longanimidade se persuade o príncipe, e a língua branda quebranta os ossos” (Pv 25.15).
Sem paciência não se pode tratar ninguém, sem paciência não podemos salvar os que estão longe do Senhor. Pedro diz que a paciência deve ser acrescentada em nossa vida (2Pe 1.6). Um cristão que não sabe ser paciente com as pessoas não as ajudará, especialmente aqueles que se irritam com qualquer coisa. Quem tem a paciência é considerado sábio e prudente (Pv 14. 29).
Alguém pode perguntar: Pastor, mas qual é o resultado ou a bênção em ser paciente? Essa resposta pode ser encontrada na Palavra de Deus. Note que a igreja de Efeso foi louvada pelo Senhor por causa de sua paciência (Ap 2.3). Sempre haverá bênçãos de Deus para os que são pacientes e que suportam a provação, como, exemplo, a história de Jó mencionada no livro de Tiago (Tg 5.11).
Em momento algum a Bíblia faz elogios a quem não tem paciência, que age sem pensar e que não tem controle sobre seus impulsos, porque agindo precipitadamente, sem controle, uma pessoa pode destruir a própria felicidade e a de outros a sua volta. Salomão disse que é melhor o homem longânimo do que o grande herói de guerra, pois, às vezes, o herói pode conquistar ou dominar uma cidade, mas não consegue dominar o seu espírito (Pv 16.32). Quem não tem controle de si mesmo, não está preparado para controlar os outros.
Deus, o Maior Exemplo de Longanimidade
Em diversas passagens do Antigo Testamento é declarado que Deus é paciente e longânimo (Ex 34.6; Ne 9.17; SI 103.8). Uma prova clara da paciência de Deus para com o homem pode ser vista no episódio envolvendo o profeta Jonas (Jn 4.2).
Jonas não tinha compaixão pelos outros, ele estava voltado para a sua mensagem, aguardando seu cumprimento, ele preferia ter o seu próprio conforto a ver as almas serem salvas da ira de Deus. Para melhorar o assunto, podemos dizer que Jonas tinha em sua vida certo grau de compaixão, só que era mal direcionada, não sabia fazer bom uso dela, por isso teve que aprender com o Senhor.
Jonas tinha que entender que: Quanto à pessoa de Deus, Ele é um Pai bondoso, misericordioso, paciente e grande em benignidade. Ele tanto castiga como manifesta o seu grande amor, quando há verdadeiro arrependimento.
Deus manifestou o seu poder sobrenatural, Ele fez a planta crescer rapidamente para proteger do sol o profeta, mas o “vento oriental”, que é conhecido naquela região pelo seu calor ardente, consumiu a planta.
A lição que Deus ensina para Jonas por meio desse ato é que se ele não fez nada para a sua existência, e declarava uma raiva por causa da sua perda, justificando assim a sua ira, como é que Deus não poderia manifestar compaixão para com o povo da cidade de Nínive? Deus tem paciência com os pecadores, é isso que aprendemos nesse acontecimento envolvendo Jonas. Caso Ele não fosse paciente, o pecador não teria qualquer oportunidade de salvação, mas Deus oferece a chance para que todos os pecadores se arrependam (Jl 2.13). Por vezes, a paciência divina é mal interpretada, como se não tivesse olhando para os pecadores, mas Deus procede assim oportunizando a todos sua salvação (Nm 14.18).
O homem nunca deve abusar da paciência divina, pois Deus deixa a corda solta por um certo tempo, até que a medida dos pecados encha, mas logo virá com o castigo para os que abusaram de sua longanimidade, foi isso que aconteceu com os habitantes de Canaã, por muito tempo tiveram a oportunidade de se voltarem para Deus, mas diante de sua paciente se entregaram dissolutamente ao pecado.
O teólogo Cari B. Gibbs, falando sobre a destruição e da paciência que Deus teve para com eles diz:
Canaã constituía a encruzilhada do mundo antigo, sendo um local ideal de onde poderia influir e doutrinar o mundo inteiro. Sabemos, de fato, que os ideais religiosos dos cananeus vigoraram por muitas gerações até os dias do apóstolo Paulo, 1.445 anos depois. Na Grécia do primeiro século da era cristã ainda havia povos que cultuavam deuses que possuíam as mesmas características atribuídas às divindades cananeias. Assim, dada a potencial influencia moral e espiritual que possuíam, era preferível a destruição de alguns milhares deles na época de Josué, do que impedir a salvação de milhões de almas nos séculos posteriores. (GIBBS, s/d, p.20)
Entendemos que se Deus, na sua paciência continuasse a tolerar os pecados dos cananeus, o mundo seria contaminado ainda mais por meio dos seus ensinos e práticas pecaminosas, mas fica claro que Deus teve paciência para com eles por séculos e séculos, dando-lhes chances de arrependimento, mas eles não quiseram.
A paciência de Deus não pode ser vista ou entendida como apatia, Pedro escreve que a longanimidade divina era uma chance que estava sendo dada aos pecadores para que todos se arrependessem e procurassem servir a Deus em santidade (2 Pe 3.15). Paulo escreveu que foi devido a paciência divina que foi salvo (1 Tm 1.12.16).
Nos dois exemplos acima, no qual em um se tem um mundo que está totalmente no pecado há muito tempo, no outro percebemos um homem que persegue os crentes e blasfema a fé que os cristãos pregavam, caso Deus fosse um ser sem paciência de imediato poderia desfalcar todos os pecadores de uma só vez, mas sua paciência é uma oportunidade que Ele dá para que os pecadores possam buscar a salvação.
No Comentário Bíblico de Michael Green, falando sobre a paciência divina, ele comenta:
[...] Os falsos mestres reaparecem na mira de Pedro por um momento. Na sua impaciência, atribuíram a demora na volta de Cristo ao descuido dEle, e asseveram que esta trará decepções. Pedro reitera que é devido à longanimidade e que conduz à salvação. A diferença nas atitudes é determinada pela única palavra do nosso Senhor. Os falsos mestres tinham negado o Senhor que os comprara. Naturalmente, portanto, estavam ansiosos por lançarem descréditos sobre sua volta. Os cristãos genuínos procuravam crescer no conhecimento do seu Senhor. Naturalmente, portanto, zelosamente antecipavam a sua volta. (GREEN, 2006, p. 138)
Teologicamente, podemos dizer que quando a Bíblia faz menção da paciência de Deus, ela não está sendo descrita como um tipo de sentimento no qual o Ser Divino se compraz em ver alguém sofrer para depois lhe abençoar, mas conforme Pedro escreveu, essa paciência é um convite ao pecador para que ele abandone seus pecados, pelos quais sempre ataca a santidade divina, e se volte para Deus enquanto Ele ainda está sendo lon- gânimo, paciente (Rm 2.4; 2 Pe 3.9).
Deus é paciente e longânimo, Ele espera o tempo necessário para que o homem se arrependa, mas quando este passa a abusar dessa paciência, sendo pertinaz no pecado, Deus permite que o homem haja como quiser, no entanto, ele jamais merecerá a salvação divina (Rm 9.22).
O Cristão e a Paciência
O que deve assinalar fortemente a vida do crente é a paciência, sempre suportando a todos em amor (Ef 4.2; Cl 3.12; 2Co 6.6; lCo 13.14). Existe crente que diz assim: “Não suporto ouvir esse irmão falar”; outros dizem: “Não gosto desse irmão nem um pouco, ele é muito chato, por mim esse pastor já teria ido embora daqui há tempo”. Pergunto: Um crente que tem a virtude da paciência em sua vida, que está cheio do amor de Cristo agirá assim? Creio que não, pois é consciente de que assim como Deus teve paciência com a sua vida de pecado, dando-lhe oportunidade para mudar, assim Ele irá proceder para com as pessoas ao seu redor.
Quando a paciência está na vida do crente, ele sabe suportar e esperar com alegria, na certeza de que no tempo certo Deus lhe ouvirá e trará a solução para todo problema. A paciência deve estar presente também na vida do pastor, ele precisa de paciência para apascentar o rebanho de Cristo. Um pastor que tem esse maravilhosa virtude jamais deixará de acreditar nas pessoas, dará tempo ao tempo para que certas coisas se resolvam e investirá nas pessoas.
A paciência é um aspecto que Paulo incentivou o jovem Timóteo buscar (lTm 6.11; 2Tm 3.10), caso o obreiro não tenha a paciência, viverá frustrado, decepcionado, e mudando constantemente de igreja, pois o que não falta no meio das ovelhas é bode. Tratando desse assunto, o pastor Antônio Gilberto fala da importância desse aspecto na vida dos obreiros:
A paciência, como fruto do Espírito, é algo muito valioso na vida e no trabalho de um ministro do evangelho. A paciência é necessária na preparação, na oração, no estudo bíblico, no treinamento e no desenvolvimento do crente. E necessária para os líderes, para que ajudem outros crentes. Isso foi o que Paulo ensinou a Timóteo, no tocante à necessidade de servir com paciência. (GILBERTO, 1984, p. 126)
Os crentes são incentivados a proceder em tudo com paciência, e nunca agir como o povo sem Deus, que por qualquer coisa cria confusão, baderna, motins e causa escândalos ao Reino de Deus. O escritor aos hebreus falou da importância dos salvos em Cristo não serem negligentes, mas procurarem proceder com fé e paciência, como aqueles que herdaram a promessa (Hb 6.12).
Precisamos entender que o ato de esperar com paciência, é uma virtude do fruto do Espírito, tendo essa virtude o cristão não fica ansioso nem triste, em cada situação de sua vida se alegra por saber que está debaixo vontade de Deus, certo de que no momento exato Ele agirá. Paulo sabia muito bem da importância da paciência na vida do crente, por isso orava para que todos o tivessem (Cl 1.11).
O homem é um ser que não gosta de esperar, quer que as coisas aconteçam de modo rápido. Alguns querem ganhar dinheiro fácil, outros querem subir no ministério de elevador, outros saltam os degraus da escada, tudo porque não querem enfrentar os dissabores de sua caminhada, mas quando a virtude do fruto do Espírito, a paciência, está em sua vida, cristão sabe esperar o agir de Deus, assim como faz o lavrador (Tg 5.7-10).
A Paciência na Visão Estóica
Ouvimos comumente que as pessoas estão vivendo muito estressadas, que a pressa da vida moderna tem tomado enfastiante o comportamento dos seres humanos, de modo que as reações têm sido as mais diversas: briga no trânsito, depressão, agressão física e verbal, falta de controle emocional e assassinatos. Mas qual é realmente a causa para tanto desequilíbrio? Quem de fato está no controle das coisas?
Para os seguidores do estoicismo frente a tudo o que se contempla hoje, a melhor coisa a ser feita é exercer um controle mental, isso quer dizer que devemos aceitar as coisas como elas são, isto é, em relação àquilo que não podemos mudar. Por exemplo, por mais que sejamos inteligentes, capazes e bem racionais, não podemos evitar a chuva, o envelhecimento, as doenças, a morte, pois essas coisas fazem parte da vida.
As pessoas que buscaram encontrar um controle mental procuraram se firmar na filosofia estóica, a qual teve diversos representantes, Zenão de Cítio (334-262 a.C.) foi um dos primeiros deles. A palavra estoico vem de stoa, uma colunata pintada em Atenas onde esses filósofos costumavam se encontrar, esse pórtico era em diversos níveis.
Os estoicos desenvolviam seus argumentos filosóficos em variadas ideias sobre a realidade, ética, verdade, lógica e moral, contudo ficaram mais conhecidos por causa do pensamento que expressavam sobre o controle mental. Eles diziam que o homem só deveria se preocupar com aquilo que pode mudar, por isso, a tranquilidade de espírito era o ponto de convergência deles.
Para o estoicismo tudo depende da nossa atitude em relação ao que nos acontece, ainda que a situação seja a mais desagradável, angustiante e triste, quem está no controle de tudo somos nós. Nós podemos escolher nossas reações diante das situações controversas da vida, se será boa ou má.
O estoicismo via as emoções não como situações climáticas, que podem mudar a qualquer momento e involuntariamente, pelo contrário, eles diziam que as nossas respostas diante de determinada situação dependem da nossa própria escolha.
Se alguma coisa desse errado, se alguém fosse enganado, diziam que era uma escolha do homem ficar triste ou zangado. Para um estoico ser dominado pelas emoções era prejudicar o lado racional, pois ela obscurece a mentalidade humana, e não permite que o homem perceba o que é certo, sendo assim é preferível que elas sejam debeladas do nosso ser. Não era mera teoria que marca a filosofia estóica, mas o pra- ticismo. Epíteto (55-135), que foi um dos últimos estoicos, tinha sido escravo, sofreu muito durante toda sua vida e teve seu corpo ferido, por isso mancava. Ele passou fome, sede e desprezo, mas por meio dessa experiência dizia que a mente pode permanecer livre enquanto o corpo é escravizado. Os sofrimentos vividos na prática levaram esse estoico a lidar com a dor e o sofrimento.
Não demorou muito para que a filosofia estóica ganhasse seguidores no mundo, generais, médicos e pessoas enfermas, todos começaram a querer adotar essa filosofia de vida, como no caso do general James B. Stockdale. Quando Stockdale se encontrava nas batalhas, frentes as lutas que combatia, manteve-se impassível, não se importando com a dor ou alegria, segundo ele, como não poderia mudar a situação o melhor era não se deixar dominar por ela. E nesse particular que se diz que nossos pensamentos dependem de nós.
A filosofia estóica atingiu muitos romanos de classe, dentre eles citamos Marco Túlio Cícero (106-43 a.C.), Lúcio Aneu Sêneca (1 a.C.- 65 d.C.). Esses dois diziam que o envelhecimento era coisa normal da vida, por isso não procuraram mudar nada, mas afirmavam que deveríamos fazer do nosso tempo o melhor tempo. Cícero, advogado, político e filósofo, dizia que a velhice não poderia ser evitada, mas ela não precisaria ser temida, pois na velhice, ainda que as forças físicas não sejam tantas, as pessoas de idade avançada poderiam ganhar mais trabalhando menos, isso por causa da experiência alcançada ao longo da vida. Uma pessoa de idade avançada tem capacidade de apresentar um trabalho com mais resultados. Na velhice, quando os prazeres físicos se esvaem, os idosos têm mais tempo para ficar ao lado das pessoas.
Para fecharmos o conceito de filosofia estóica vamos falar mais um de seus defensores: Sêneca. Enquanto alguns viviam dizendo que a vida era curta demais, para esse filósofo, dramaturgo e empresário, a questão não era simplesmente o tempo da vida, mas, sim, o quanto usamos desse tempo de modo ruim. Não fique aborrecido com a vida, dizia ele, antes aproveite o tempo que você tem para viver, pois tudo depende de sua atitude de como encara as coisas.
A questão não é viver cem anos, afirmava Sêneca, pois muitos alcançaram essa longevidade e nada fizeram, o mais importante era fazer as escolhas certas. Muitos gastam o tempo da vida correndo freneticamente em busca de dinheiro, fama, poder, bebida, prazer e jogos, não tendo mais tempo para fazer outras coisas belas da vida. Por causa de escolhas e coisas ruins feitas na juventude, para muitos a velhice será cansativa e marcada de lembranças tristes. Não podemos transformar nossa vida como um barco que foi lançado ao mar, que é carregado pelas ondas e atacado pelos ventos. Para que a viagem se torne agradável aos tripulantes é imprescindível que o capitão do navio tenha o controle do barco.
Aqueles que são carregados pelas decisões dos outros, que não têm controle de suas emoções, que têm suas vidas conduzidas por ideologias e acontecimentos, e não vivem suas próprias experiências valiosas, jamais terão um viver glorioso. Muitas pessoas, na terceira idade, temem ter lembranças do passado, pois o que construíram não valeu a pena, e uma vida bela é aquela que nos faz feliz com as memórias do passado.
Não podemos negar que a filosofia estóica é importante, mas ela se esquece de que o homem não tem poder em si mesmo para produzir a verdadeira paciência nem uma mente pura para exercer controle sobre toda situação. O profeta Jeremias disse que enganoso é o coração mais do que todas as coisas (Jr 17.9).
O pecado afetou o homem, agora ele vive sem Deus e não pode por si mesmo produzir controle sobre tudo, por isso precisa buscar a ajuda do alto. Paulo fala que para o homem ter uma vida equilibrada, precisa ter sua mente transformada para poder experimentar a perfeita e agradável vontade de Deus (Rm 12.2). Tendo a mente de Cristo o homem poderá pensar no que é bom, agradável, puro (ICo 2.16).
Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai. (Fp 4.8)
As pessoas que temem a velhice devem fazer como ensinou Salomão: lembrar-se sempre de Deus na juventude, procedendo da maneira certa, para que ao olhar o passado não sintam desgosto e descontentamento (Ec 12.1), mas, pelo contrário, “Na velhice ainda darão frutos: serão viçosos e florescentes” (SI 92.14).
As Dissensões e seus Males
Do grego a palavra dissenção é dichostasia, segundo o Dicionário Vine.
Literalmente, que dizer à parte (formado de dicbe, à parte, separadamente, e stasis, posição; a raiz di- indicando divisão, é encontrada em muitas palavras em vários idiomas), é usada em Romanos 16.17, onde os crentes são ordenados a marcar aqueles que causam “divisão” e a se afastar deles; e em Gl 5.20, onde “dissensões” são referidas como “obras da carne”. Alguns manuscritos têm este substantivo em 1 Co 3.3. (VINE; UNGER, WHITEJR., 2002, p. 571)
No Dicionário do Grego do Novo Testamento, Carlos Rusconi faz uma definição bem simples da palavra dissensão, dicbostatéo, separar, discordar, causar dissenso. Essa palavra não sendo tão comum no Novo Testamento, pois aparece apenas em Gálatas 5.20 e Romanos 16.17, é suficiente para mostrar que essa obra da carne sempre procura criar discrepância e dissidência, seu alvo prioritário é causar intranquilidade, contrariedade, e até oposição com o passado frente ao novo.
A dissensão sempre cria inimizades e divisão, ela rompe de vez com a comunhão, quer seja no convívio social, na família, na política e na igreja, e provoca grande destruição. Os que vivem dominados pela dissensão sempre estão separados, isolados, não partilham o verdadeiro amor de Cristo, e trabalham incansavelmente para que a comunidade de salvos seja prejudicada.
Percebemos quando a dichostasia está presente na igreja por causa do isolamento e da separação, por vezes até existe um encontro pessoal, mas não há uma unidade de espírito, existe diálogo, mas não saudável, há interesses, mas não pelo Reino. Em muitas igrejas existem grupos, famílias que de praxe já são conhecidas como os separados, aqueles que têm opiniões sempre contrárias em tudo, buscando estorvar o trabalho do Senhor.
Jamais podemos pensar que um cristão não pode ter pensamento diferente de outro, opiniões diferentes, mas tais pensamentos e opiniões podem ser desenvolvidos para atrapalhar a unidade do corpo de Cristo, a Igreja. No Comentário Beacon, volume 9, o autor tratando sobre dissensões, diz:
De estreita relação estão as dissensões (20, dichostasuai), cuja tradução melhor é “divisões”. A rivalidade, motivada por egoísmo, só pode resultar em divisões que destroem a unidade da igreja. Aqui, Paulo não está falando de diferenças fundamentadas em crenças sinceras; ele está preocupado com divisões ocasionadas por motivos errados, cuja procedência é determinada à carne pecaminosa. Diferenças honestas não são incompatíveis com comunhão harmoniosa, porque parte vital da liberdade e do amor é o respeito pelas opiniões dos outros, mesmo quando estas conflitam com a nossa. Entretanto, convém que todo crente examine constantemente o coração para que preconceito não seja confundido com princípio e teimosia com dedicação. (BEACON, 2006, p. 72)
Os cristãos podem ter opiniões diferentes, uma igreja, em seus ensinos teológicos pode ter interpretações diferentes, mas os verdadeiros crentes jamais têm opiniões pautadas na obra da carne, buscando dividir o Corpo de Cristo, caso isso esteja acontecendo, é preciso que o crente se arrependa e se volte para Deus com sinceridade.
Entendemos que as divisões que campeiam nos partidos, classes, muitas delas são oriundas de ideologias baseadas e fundamentadas em interesses particulares. Barclay diz que na divisão de classes; na realidade, são ideologias baseadas em nada menos do que a necessidade de lutas entre as classes (BARCLAY, 1988, p. 54).
Na atualidade, fala-se muito sobre a consciência ideológica como sendo um conjunto de ideias que dissimulam a realidade, pois mostra não como as coisas são em sua essência, mas, apenas, expõem as coisas de modo parcial em relação ao que é de verdade, buscando assim ocultar ou dissimular na realidade o domínio de uma classe social sobre a outra. Esse termo foi criado pelo filósofo Francês Destutt de Tracy (1754-1836), afirmando ser a ciência das ideias, compreendendo o estudo da origem e do desenvolvimento das ideias.
Pelo uso constante desse termo por meio do filósofo Karl Max, essa expressão passou a ser usada frequentemente tanto na filosofia como também na ciência, mas devemos levar em consideração o seu uso feito por Max. Ele usava esse termo num contexto totalmente diferente, buscando expressar as diferenças existentes em leituras diferenciadas dos estudiosos de algum tipo de assunto.
Hoje, a maneira como se usa o termo ideologia é no sentido de reprimir as classes, são explicações que visam evitar um conflito aberto entre aqueles que oprimem e os que são oprimidos. A ideologia se apresenta também como um tipo de consciência parcial da realidade seus conceitos e preconceitos firmam-se na busca pela dominação.
Marilena Chauí diz que a ideologia tem os seguintes traços:
a) Anterioridade. A ideologia predetermina o pensamento e a ação, desprezando a história e a pratica na qual cada pessoa se insere, vive e produz. Nesse sentido a ideologia busca um modo de aplicar, sentir e agir de cada indivíduo, prescrevendo de antemão o estilo de vida de cada ser vivente.
b) Generalização. Nesse aspecto, a ideologia apresenta o bem de alguns como se fosse o bem de todos; com isso a ideologia busca colocar na mente de cada pessoa um tipo de consenso coletivo, uma aceitação geral de valores, ocultando os interesses sociais que nascem da divisão das classes.
c) Lacuna. Quando há omissões e silêncio, monta-se uma lógica para ocultar e não para revelar, para falsear, sendo assim as “verdades” criadas devem parecer verdades válidas para todos.
Sabemos que nem todos concordam com o posicionamento de Chauí. O filósofo húngaro, Gyorgy Lukács (1885-1971), afirma que a ideologia não tem um caráter dissimulador de lutas de classes, pois não seria um fenômeno apenas das sociedades divididas em classe. Para o pensador italiano Antonio Gramsci (1891-1937), a ideologia é o cimento que garante a coesão social.
No pensamento de Gramsci, por meio de uma ideologia vinda da educação, religião e mídia, a preponderância, supremacia de um povo sobre outro, ou de uma cidade sobre outra, só seria possível por meio da ideologia hegemônica.
Para que a classe operária pudesse se sobrepor, ela teria que ter uma consciência revolucionária, desse modo estaria capaz de atuar como revolucionadora. Os operários teriam que atuar seguindo uma ideologia, a qual deveria ser arquitetada e montada por intelectuais que falassem a mesma linguagem da classe, e que estes deveriam estar presentes nos sindicatos, escolas, instituições de renomes, associações, etc.
Uma coisa é certa, sendo verdade ou não o conceito de ideologia, sabemos que existem grupos e classes que estão dominadas por ideias que visam destruir a família, os bons costumes e os valores. Os cristãos não podem operar com esse tipo de sentimento, mas devem unir-se para que o trabalho do Senhor sempre esteja de pé, pois, como falou Jesus, a casa dividida não fica de pé (Mt 12.25).
Não precisamos ir longe para ver o quanto as dissensões estão presentes no nosso dia a dia; observe que boa parte da política partidária busca vantagens nas crises da política nacional.
Tristemente podemos dizer que a dichostasía está presente nos partidos políticos, nos relacionamentos pessoais, onde uns são valorizados, outros não, na questão racial, em que a cor, e não o caráter, é o que é valorizado, posto que o próprio Deus se manifestou terminantemente contra isso (At 10.34; Rm 2.11; Ef 6.9; Cl 3.15; Tg 2.1,9).
Portanto, queridos irmãos, devemos cultivar o fruto do Espírito para não cedermos às dissensões, causado divisão ao Corpo de Cristo, destruindo a beleza de sua união. Reavaliemos nossos pensamentos e ideias, nossas teologias, para vermos se não estamos causando mais prejuízos do que bem, pois o que na verdade edifica é o amor e não meras opiniões ou ciências vazias.
Ora, no tocante às coisas sacrificadas aos ídolos, sabemos que todos temos ciência. A ciência incha, mas o amor edifica. (lCo 8.1)
As Obras da Carne e o Fruto do Espirito
INTRODUÇÃO
I-PACIÊNCIA, ATO DE RESISTÊNCIA À ANSIEDADE II-DISSENSÕES, RESULTADO DA IMPACIÊNCIA III-PACIÊNCIA, PROVA DE ESPIRITUALIDADE E MATURIDADE CRISTÃ
CONCLUSÃO
Na lição do dia 5 de fevereiro, teremos duas palavras-chave: Paciência e dissensões. Dois vocábulos antagônicos que vão nos ajudar a compreender que a paciência, fruto do Espírito, é um antídoto contra a ansiedade e as dissensões. Vivemos em uma sociedade imediatista, onde as pessoas parecem desconhecer o significado da palavra esperar, tornando-se imediatistas e impacientes.
A impaciência produz a ansiedade, um sentimento prejudicial à saúde física, mental e espiritual. Este sentimento é tão nefasto que Jesus no célebre Sermão do Monte, fez um alerta aos seus discípulos a respeito do andar ansioso, preocupado, temeroso. O Mestre ensinou que aqueles que desejam fazer parte do seu Reino, precisam crer que o Pai proverá a sua subsistência. Ele explicou que a falta de fé dos súditos levaria as pessoas a um estilo de vida doentio, obcecado pela provisão. É justamente o que temos visto atualmente. Pessoas estressadas, pois estão obcecadas pelo seu sustento e contaminadas por um estilo de vida consumista. Vivemos em um mundo conturbado, imediatista, onde alguns crentes já não querem ser mais ser conduzidos por Deus. Todos querem ser protagonista e conduzir a sua história da maneira que acham ser a melhor. É aí que adoecemos e a ansiedade vira uma patologia chamada de TAG, Transtorno da Ansiedade Generalizada. Para alguns o importante é somente o hoje, o agora. Talvez, por isso, os consultórios dos psiquiatras estejam sempre tão repletos de pacientes. A indústria farmacêutica também tem lucrado com a venda de medicamento para o controle da ansiedade.
A ansiedade está no centro das pesquisas dos principais institutos e universidades que investigam as doenças da mente. Os primeiros resultados indicam que ela tem impacto muito maior do que se pensava. A convivência prolongada com a ansiedade afeta várias áreas da vida, como mostra um levantamento da Associação Americana de Desordens Ansiosas. Dos voluntários entrevistados, 87% disseram que ela prejudica muito as relações pessoais. Outros 75% afirmaram que interfere na habilidade de cumprir as atividades diárias.1
Segundo o pastor Hernandez Dias Lopes “a ansiedade nos leva a crer que a vida é feita só daquilo que comemos e vestimos.” O livro de Êxodo nos ensina importantes lições a respeito da ansiedade, confiança em Deus e dissensões. A narrativa da história dos hebreus, suas vitórias e seus fracassos nos faz compreender que não precisamos andar ansiosos, pois temos um Deus que tem o controle da história e que trabalha em nosso favor. Por isso, indico a leitura do livro de Êxodo para os impacientes e ansiosos. Imagina um povo que teve que esperar 400 anos até que o Senhor levantasse um líder e os tirasse do Egito. Moisés, o homem escolhido para ser o libertador, também teve que passar por um período de treinamento que durou cerca de 40 anos. Porque esperar tanto tempo assim? Afinal a vida não é curta? Os hebreus, assim como Moisés precisavam confiar na provisão de Deus e matar a “semente maligna” da “impaciência” e “ansiedade”, antes de experimentar o favor do Senhor. Temos um Deus que livra, cuida e opera milagres extraordinários em favor daqueles que nEle confiam. A cada página do livro de Êxodo podemos ver um Deus misericordioso, piedoso, que cura as enfermidades do corpo, da alma e do espírito (Êx 15.26) e que não deixa faltar o pão, o alimento cotidiano (mesmo no deserto). Vemos também o quanto os israelitas eram imediatistas e murmurador, pois, assim como nós, precisavam de tratamento e cura, pois os anos de escravidão devem ter deixado feridas e marcas no corpo e na alma. A impaciência é sempre perigosa, pois nos leva agir de modo precipitado, a falar em demasia, a murmurar e a tomar decisões, atitudes erradas. Certa vez, depois de caminhar por três dias no deserto, todos estavam sedentos, mas não havia água e quando encontram um local com água, não puderam beber, pois as águas eram amargas (Êx 15.23). Qual é a sua reação diante das adversidades? Você é impaciente? Descontentes, os hebreus reclamaram e brigaram com Moisés, todavia eles não estavam brigando com Moisés, mas com o próprio Todo-Poderoso que os havia libertado da escravidão. Como evitar a impaciência e as dissensões? Mantendo viva a chama da fé e procurando ser cheio do Espírito Santo. A fé nos faz ver o impossível, pois é “o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não veem” (Hb 11.1) e o Espírito Santo nos ajuda a sermos pacientes e a fugirmos das dissensões.
Subsídio etimológico: “Paciência, hyponome, literalmente, permanência em baixo de (formado de hypo, ‘em baixo de’, e meno,ficar’), ‘paciência’. A paciência, que só desenvolve nas provas (Tg 1.2), pode ser passiva, ou seja, igual a ‘tolerância, resignação’, como: (a) nas provas em geral (Lc 21.19; Mt 24.13; Rm 12.12; (b) nas provas que sobrevêm ao serviço no Evangelho (2 Co 6.4; 12.2; 2 Tm 3.10); (c) sob castigo, que é a prova considerada a vir da mão de Deus, nosso Pai (Hb 12.7); (d) sob aflições imerecidas (1 Pe 2.20); ou ativa, ou seja, igual a ‘persistência, perseverança’, como: (e) ao fazer o bem (Rm 2.7); (f) na produção de frutos (Lc 8.15); (g) no correr a corrida proposta (Hb 12.1). A paciência aperfeiçoa o caráter cristão (Tg 1.4), e a participação na paciência de Jesus é, portanto, a condição na qual os crentes virão a ser admitidos a reinar com Ele (2 Tm 2.12; Ap 1.9). Para esta paciência, os crentes são ‘corroborados em toda fortaleza’ (Cl 1.11), ‘pelo seu Espírito no homem interior” (Ef 3.16) (Dicionário Vine: O Significado exegético das palavras do Antigo e Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002, p. 842).
Telma Bueno Editora responsável pela Revista Lições Bíblica Adultos
1 TARANTINO, Mônica. Quando a ansiedade vira doença. Isto É. São Paulo, junho de 2016. Disponível em: <http://istoe.com.br>. Acesso em: 17/06/2016.
Prezado professor, aqui você pode contar com mais um recurso no preparo de suas Lições Bíblicas de Adultos. Nossos subsídios estarão disponíveis toda semana. Porém, é importante ressaltar que os subsídios são mais um recurso para ajudá-lo na sua tarefa de ensinar a Palavra de Deus. Eles não vão esgotar todo o assunto e não se trata de uma nova lição (uma lição extra). Você não pode substituir o seu estudo pessoal e o seu plano de aula, pois o nosso objetivo é fazer um resumo das lições. Sabemos que ensinar não é uma tarefa fácil, pois exige dedicação, estudo, planejamento e reflexão, por isso, estamos preparando esse material com o objetivo de ajudá-lo.
FONTE: CPAD - lições bíblicas
Nenhum comentário:
Postar um comentário