Nesta vida, o
homem sem ser cristão tem suas lutas internas, às quais pode dar inúmeras
classificações. Lutas internas foram enfrentadas por Agostinho, Lutero, dentre
outros, mas em destaque desejo citar o grande apóstolo dos gentios, Paulo, que em
seus escritos deixou claro sobre a colisão que se dá entre a carne e o Espírito
(Gl 5.17). Pelo lado do “homem interior”, o apóstolo sentia prazer na Lei de
Deus, mas, por outro lado, era consciente de algo que lutava e guerreava contra
a sua mente (Rm 7.22, 23).
Para o pastor
Eurico Bergstén, o homem interior é formado pela junção da alma e do espírito,
que é a parte imaterial, observe:
A alma junto
com o espírito forma o “homem interior”, a parte imaterial de todo ser humano.
Embora a alma e o espírito estejam inseparavelmente unidos, tanto dentro como
fora do corpo, existe uma diferença entre eles. A Bíblia diz que “a palavra de
Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e
penetra até à divisão da alma, e do espírito” (Hb 4.12). (BERGSTÉN, 2006, p.
130)
O trabalho da alma é orientar a vida do corpo, buscando
contato com o mundo ao redor; já o espírito é a parte humana que procura
conceder ao homem a capacidade de relacionamento com Deus.
Podemos dizer
que a guerra começa no interior do homem, pois a sua alma é a sede dos
sentimentos (Sl 42.2). Na alma está centrada a inteligência, os desejos,
vontade, intelecto e o querer (Jó 23.13; Sl 139.1; Pv 19.2), as paixões e o
temperamento (Lc 12.19). Ao contrário da alma, que busca mais um relacionamento
com as coisas físicas, o espírito do homem procura conduzi-lo ao sentimento de
desejar Deus e a sua Palavra.
O homem sem
Deus deseja servi-lo, porém dominado pela natureza pecaminosa, seu espírito
sempre irá inclinar-se para uma vida de pecado, pois seu espírito, que é uma
lâmpada divina (Pv 20.27), está separado de Deus (Ef 2.1-5; Tt 1.15; 2 Co 4.4).
Para que o
homem natural vença a vida pecaminosa, ele precisa que o seu espírito interior
seja vivificado pelo Espírito Santo de Deus (Cl 2.13; Ed 1.1), o qual convence
do pecado (Jo 16.8,10).
Querido irmão,
note então que o homem, tendo a parte que deseja, tem paixões, relaciona-se com
as coisas desta vida; mas a alma também tem no seu interior a consciência (Rm
2.15,16), a qual lhe acusa quando comete algo errado, porém concede-lhe
tranquilidade quando faz o bem.
Tendo a alma
relacionamento com a vida física por meio do corpo, o espírito, que é a janela
aberta para Deus, busca servi-lo, mas não consegue porque não há no seu ser a
presença do Espírito Santo, razão pela qual o homem sem Deus sempre se volta
para as coisas deste mundo e para os desejos do seu corpo. Quando o espírito
humano é fortalecido pelo Senhor passa a ter certeza de que é filho de Deus e
começa a produzir os Frutos do Espírito Santo (Rm 8.16).
Os Conflitos Internos
Historicamente, os judeus desde cedo entendiam que no homem havia duas
naturezas, uma boa e a outra má, e isso gerava conflito em seu interior, pois
fazia com que ele, por vezes, estivesse em situação conflituosa, não sabendo o
que decidir; porém, por ter sua natureza humana corrompida pelo pecado, sempre
teria propensão para o mal.
Moisés
escreveu, inspirado por Deus, sobre os conflitos interiores do homem depois de
sua queda, dizendo que seus desígnios são maus (Gn 8.21), e aquele que não tem
a presença do Espírito Santo pode ser dominado facilmente por esse sentimento,
como aconteceu com Caim, pois dominado pela natureza pecaminosa matou seu
próprio irmão (Gn 4.7).
No aspecto
filosófico, os conflitos presentes no homem têm várias nomenclaturas e
explicações, isso acontece também no campo da psicanálise e psicologia, mas,
segundo a Bíblia, esse conflito interno é denominado de guerra entre a carne e
o Espírito. Sendo assim, para não seguirmos os nossos desejos é necessário que
andemos no Espírito (Gl 5.16).
Biblicamente,
sabemos que o homem é formado de corpo, alma e espírito (Gn 2.7; 1 Ts 5.23), e
tem se procurado saber qual a parte do seu ser que faz com que se incline para
as coisas boas ou más. Em tempos idos, dentro da comunidade judaica, logo se
começou a desenvolver um pensamento de que o corpo perecível traria pesar para
a alma, e na filosofia platônica o corpo era entendido como a prisão da alma,
enquanto ela estivesse unida ao corpo estaria completamente enganada. Para os
filósofos o problema era o corpo, ele jamais deixaria que a alma alcançasse seu
desenvolvimento, crescimento, as almas que estão sob o poder do corpo sempre
irão levar o peso da ignorância, estarão sempre oprimidas, e esse corpo jamais
deixa que a alma venha de fato crer em Deus. Tanto para os judeus como para os
filósofos todo o problema está fincado no corpo ou na carne, mas seria isso verdade?
O que é corpo e carne, segundo a Bíblia? Podemos dizer que o corpo se trata da
existência física do homem, é sua parte material de sua constituição que faz
ligação com os demais seres viventes.Em relação à alma, sabemos que é o
princípio da vida física animal. No homem essa alma tem ligação com a
personalidade humana. A parte do espírito humano pode ser entendida como um
poder que o leva à dimensão espiritual, capacitando-o a estar em plena comunhão
com Deus.
No grego temos
duas palavras que precisam ser bem analisadas, a primeira é sarks. Em geral,
sarks pode ter o sentido literal de carne (Lc 24.39, Jo 6.51-56), corpo (Mc
10.8; At 2.26), pessoa, ser humano (Rm 3.20; Gl 1.16), limitações físicas (1 Co
7.28; Gl 2.20), o lado externo da vida, o sentido natural (Jo 8.15; 1Co 1.26),
e, por fim, vem a carne como instrumento voluntário do pecado, que recebe esse
forte conceito em Paulo (Rm 6.19; 7.5; 2Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18).
Assim, no constante uso que Paulo faz da palavra carne está apontando para a
natureza pecaminosa.
A palavra sôma
do grego é corpo, é bom lembrar que ela é neutra. O sôma pode referir-se ao
corpo de um ser humano ou animal, mas quando Paulo faz uso dessa palavra em
algumas de suas cartas, está dando ênfase à personalidade completa, o homem
segundo as intenções de Deus (Cl 2.17). A questão dos conflitos interiores não
se fundamenta no corpo, pois ele é apenas algo material, mas sim na natureza
pecaminosa, veja o que diz Timothy Munyon:
O ensino
bíblico a respeito da natureza pecaminosa do ser humano caído é que todo ele
está afetado, não apenas uma parte. Além disso, os seres humanos — conforme os
conhecemos e a Bíblia identifica — não podem herdar o Reino de Deus (1Co
15.50). Em primeiro lugar, é necessária uma mudança essencial. Acrescente-se
que, quando o componente imaterial do ser humano parte, por ocasião da morte,
nenhum dos dois elementos em separado pode ser descrito como um ser humano. O
que permanece inalterado é um cadáver, e o que partiu a estar com Cristo, um
ser desencarnado, imaterial, ou espírito (que tem existência consciente
pessoal, mas não plenamente humana). Na ressurreição do corpo, o Espírito será
reunido com um corpo ressurreto, transformado e imortal (1 Ts 4.13-17), e,
mesmo assim, nunca será mais considerado humano, na concepção atual (1 Co
15.50). (HORTON, 1996, p 252)
Os filósofos e
psicólogos jamais trataram da questão dos conflitos internos no homem no seu
sentido pecaminoso, em que a parte imaterial, denominada carne ou natureza
pecaminosa, tem sua disposição para opor-se a Deus e pecar contra Ele (Rm 7.18;
Gl 5.17), enquanto a outra parte, a presença do Espírito, está presente na vida
dos regenerados para opor-se às obras dessa natureza caída.
Andando na Carne
versus Espírito
Já definimos o homem no seu aspecto
tricotômico e esclarecemos o sentido de sárks e sôma, porém, para de fato
entendermos a guerra entre carne e Espírito, ainda precisamos saber mais sobre
o peneûma ou espírito. Muitos teólogos
têm procurado saber se o homem já vem com o espírito ou se ele o recebe no
momento de sua conversão. Para alguns estudiosos ou teólogos, o espírito não
faz parte da vida do homem que não aceitou a Jesus como seu Salvador, nesse
caso ele é composto apenas de duas partes naturais: corpo e alma. Para
ratificar tal pensamento fazem uso de algumas citações de Paulo, afirmando que
Deus enviou o seu espírito aos corações dos que são salvos (Gl 4.6; Rm 8.11; 1
Co 6.19; 2 Co 1.22), desse modo o espírito aqui seria entendido como o Espírito
Santo habitando no homem, fazendo oposição às obras da carne. Precisamos fazer
distinção entre o Espírito Santo de Deus e o espírito do homem. Na Teologia
Sistemática Pentecostal há uma definição precisa sobre o espírito que habita no
homem, que lhe foi dado no ato de sua criação:
Em relação ao
homem, o Senhor disse: “Façamos”, e deu-lhe o sopro ou o fôlego da vida. Ele
foi feito alma vivente, expressão que se aplica, tanto ao homem quanto aos
animais, esclarecendo-se, no entanto, que aos animais Deus concedeu vida, mas
não o fôlego da vida, concedido exclusivamente ao ser humano. Chafer afirmou:
“Aquele sopro de Deus foi a outorga do espírito, que estava tão longe das
outras formas de vida que estão no mundo da mesma forma que Deus está distante
de sua criação”. (GILBERTO, 2006, p. 263)
Não podemos
pensar no espírito humano como sendo o poder do Espírito Santo, mas sim como
algo que vem diretamente de Deus para capacitar o homem a procurar estar em
comunhão com Ele. O escritor Myer Pearlman, falando do espírito do homem, diz:
O espírito
humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu
caráter. Aquilo que domina o espírito torna-se atributo de seu caráter. Por
exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um espírito altivo
(Pv 16.18). Conforme as influências respectivas que o dominem, um homem pode
ter um espírito perverso (Is 19.14); um espírito rebelde (Sl 106.33); um
espírito impaciente (Pv 14.29), um espírito perturbado (Gn 41.18), um espírito
contrito e humilde (Is 57.15; Mt 5.3). Pode estar sob um espírito de servidão
(Rm 8.15), ou ser impelido pelo espírito de inveja (Nm 5.14). Assim é que o
homem deve guardar o seu espírito (Ml 2.15), dominar o seu espírito (Pv 16.32),
pelo arrependimento tornar-se um novo espírito (Ez 18.31), e confiar em Deus
para transformar o seu espírito (Ez 11.19) [...]. (PEARLMAN, 1977, p. 73)
Mesmo o homem
tendo o espírito, que é o centro da vida humana, e que uma de suas funções é a
consciência (Rm 2.15.16), esse espírito luta para vencer, mas sua alma está
dominada pela natureza pecaminosa, de modo que seu espírito luta, mas perde
porque não está vitalizado pelo Espírito Santo de Deus (Ef 2.1-5; Cl 2.13; 1Tm
5.6).
Nas saudações
que Paulo faz direcionadas aos crentes, como no caso de Gálatas: “A graça de
nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém.” (Gl 6.18).
Na verdade, era uma maneira do apóstolo cumprimentar os crentes que agora
gozavam de íntima comunhão com Deus.
Dessa forma concorda
também o doutor Donald Guthrie: Seja... com o vosso espírito:
é significativa
a menção de Paulo ao “espírito” a esta altura desta Epístola, porque já disse
muita coisa acerca do Espírito Santo, e esta forma como uma conclusão condigna.
Trata os gálatas como sendo um povo espiritual. Cf. Filipenses 4.23; 2 Timóteo
2.4.22, para a expressão. (GUTHRIE, 1999, p. 197)
O espírito do homem é, na verdade, uma capacitação divina
que lhe concede inteligência, capacidade para buscar a Deus, de modo que,
quando ele recebe o evangelho por meio da graça, recebe capacitação para andar
na lei do Espírito Santo (Rm 8.1, 2).
O doutor William
Barclay, em seu livro As Obras da Carne e o Fruto do Espírito, fala sobre o
espírito do homem:
No pensamento de Paulo, o espírito do homem é aquela
parte que Deus implantou nele; é a presença e o poder de Deus dentro dele; é a
vinda do Cristo ressurreto para residir dentro do homem. E o resultado é uma
ligação entre o homem e Deus que lhe dá uma nova comunhão com Deus e um novo
poder para expressar essa comunhão na forma e na beleza da vida. (BARCLAY,
1988, p. 18)
O homem regenerado, que passa a ter a presença do Espírito
Santo de Deus em sua vida, pode manter seu corpo para glória de Deus (Rm 8.23;
12.1; 1 Co 6.20), nosso corpo só pende para o mal quando estamos dominados pelo
poder da natureza pecaminosa. Categoricamente afirmamos que o espírito do homem
não é o Espírito Santo. Veja o que diz Eurico Bergstén:
Assim, podemos
observar com clareza que o “espírito do homem” não significa o Espírito Santo
operando no homem, mas que esse espírito é um órgão do seu “homem interior”,
onde o Espírito Santo opera, fazendo-o ouvir a voz de Deus (cf. At 2.7).
(BERGSTÉN, 2006, p. 133)
A guerra entre
sárx e o Espírito é porque as obras da carne ou pecados são perversos, é bom
lembrar que carne, na definição precisa de sárx, vai mais além que simplesmente
carne ou ser humano (Rm 3.20), na verdade Paulo fala de sárx como uma grande
inimiga do Espírito, sempre se opondo a Ele.
O cristão não
pode andar na carne, antes deve crucificar sua carne com paixões e desejos para
poder andar em Espírito (Rm 7.5; 8.5; Gl 5.24; Rm 7.14). Os que estão no poder
da carne estão sujeitos ao pecado.
A carne,
entendida como natureza pecaminosa, na verdade manifesta-se constantemente em
oposição às obras do Espírito Santo. Os que vivem na carne estão enfermos e são
incapazes de cumprir aquilo que Deus deseja, pois nela não existe bem algum (Rm
8.3; 7.18). O corpo é apenas um veículo que a natureza pecaminosa usa para
expressar suas obras, por isso que Paulo diz que o corpo pode ser transformado,
mudado, ao contrário da carne, isto é, da natureza pecaminosa, jamais ela pode
ser transformada. Lendo Romanos 7.25, Paulo diz que é por intermédio da
natureza pecaminosa que o homem serve ao pecado. Quem anda na carne, conforme
disse Paulo, jamais poderá agradar a Deus (Rm 8.8), pois ela conduz o homem a
um tipo de vida de ações baixas, pecaminosas, por isso nunca é bom lhe dar
liberdade (Gl 5.13). Antes, o importante é estar em Cristo, desse modo os
desejos pecaminosos estarão crucificados (Gl 5.24). Existem dois tipos de
semeadura, uma na carne e a outra no Espírito. Os que vivem semeando na carne
sempre irão colher corrupção, mas os que vivem no Espírito irão colher a vida
eterna (Gl 6.8).
O homem sem
Deus tem seu espírito humano contaminado pelo pecado, por isso que seu andar na
carne produz as obras da carne, e é impossível que consiga produzir alguma
coisa para Deus, ainda que tenha desejo para isso, pois o que o domina todo o
seu ser é a natureza pecaminosa.
As Obras da Carne
Negatividade e
ações pecaminosas são expressas por aqueles que vivem no poder da carne, ou
seja, da natureza pecaminosa, por isso produzem as seguintes obras:
• As obras sensuais. Prostituição:
imoralidade. Impureza, corrupção sexual. Lascívia. Falta de controle no aspecto
sexual, luxúria.
• Idolatria. Pecados de religião: idolatria,
que trata da adoração a ídolos. Feitiçaria oferece a ideia de farmácia, mas no
seu real sentido fala de poções mágicas, todavia, seu significado tradicional é
todo tipo de feitiçaria (Ap 9.21).
• Falta de
temperança. Primeiramente temos a inimizade, depois a porfia, que trata de
disputas que surgem por causa de desejos egoístas. Dissensões, que é divisão.
Facções, que trata daqueles que procuram demonstrar suas opiniões partidárias.
Inveja, que está ligada com todos os que já foram mencionados anteriormente,
ela ajuda a criar disputas, divisões e por último pode chegar ao
homicídio.
• Comida e
bebida. Do grego bebedeira é méthai, a outra palavra é kômoi, que se refere de
orgias e comilança.
Para não viver
no poder da carne, Paulo aconselha que todos os crentes procurem viver sob o
domínio do Espírito Santo de Deus.
Para estar
acima do poder da carne o cristão precisa andar no ou pelo Espírito, como
alguns preferem, tão somente desse modo estará em condição de freá-la, de não
ser dominado por ela, satisfazendo seus desejos. Há uma batalha constante no
interior do crente, é a luta entre a carne e o Espírito, eles não se unem, são
inimigos, se o cristão andar no poder do Espírito, a carne nunca terá vez, ela
pode tentar, mas não o vence.
O Espírito
Santo habitando no crente faz com que os intentos carnais não sejam realizados
(Rm 6.12; 1 Pe 2.11; Rm 7.15, 19, 23). Paulo diz que o cristão que está sob o
controle, domínio, orientação do Espírito Santo, e não da Lei, que tem apenas o
papel de conduzir o homem a Cristo, a partir desse momento terá sua vida
marcada pela vitória, pois quem terá o controle pleno de sua vida é o Espírito
Santo de Deus (Ef 4.30).
O Fruto do Espírito
Para evidenciar
a vida de comunhão com Deus, Paulo começa agora a falar do que acontece com
aqueles que se submetem ao Espírito Santo: em lugar de obras aparecem o fruto e
em lugar de carne aparece o Espírito. As mais belas virtudes cristãs são
destacadas na vida daqueles que vivem sob o controle do Espírito Santo. O
singular fruto, como sempre é usado por Paulo, na verdade trata-se de um
recurso para destacar a unidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que
se sujeitam a Ele, produzindo as diversas virtudes, mas tendo uma só fonte.
No viver
carnal a desunião é grandiosa, ao contrário daqueles que vivem sob a vida
dinâmica do Espírito Santo, que busca levar o crente a viver como Jesus viveu
neste mundo, tendo um só sentimento, em total perfeição (Gl 4.19). O viver na
carne traz diversos problemas, conflitos, pecados, mas o viver no Espírito
produz uma vida segundo o querer de Jesus.
A lista de
Paulo começa da seguinte maneira:
a) Amor
(Agápe). É importante entender que Paulo não está dizendo aqui, que as demais
virtudes vêm do amor, na verdade, ao o amor é a decisão de tudo (1 Co 13.13; 1
Jo 4.8).
b) Gozo (Chará — alegria com motivos certos).
Quer dizer alegria, não é produto do crente, mas vem ao crente por meio de
Jesus e do Espírito (Jo 15.11; 1 Ts 1.6).
c) Paz (Eiréne — ordem, segurança, felicidade,
ausência de ódio, vida confiante no que Cristo fez). Essa paz vem de Cristo e
concede tranquilidade ao crente (Jo 14.27; Fp 4.6), ela visa atingir também os
relacionamentos.
d) Longanimidade
(makrothumía-paciência). Dominado por esse fruto o cristão não se apressa em
tomar atitude ásperas de imediato, nem fica dominado com o sentimento de
vingança, mas deixa tudo nas mãos de Deus (Rm 12.19).
e) Benignidade
(Crestótes — generosidade, amabilidade). A ênfase está em fazer o bem e envolve
atitudes sociais.
f) Bondade
(Agathosýne — retidão, bondade benéfica). Essa bondade trata-se mais de uma
conduta, alguém que faz o bem porque é reto e sua alma aborrece o mal. Dominado
por esse fruto o cristão nunca agirá com intenções e motivos maléficos.
g) Fidelidade
(Pístis — entenda que não se trata de fé, mas sim de fidelidade, lealdade). São
diversos os conceitos que essa palavra recebe, mas nesta ocasião ela ganha uma
conotação de integridade, dignidade que merece confiança (Mt 23.23; 2 Tm 4.7;
Tt 2.10).
h) Mansidão
(Praótes — gentileza, faz o bem para o outro com toda humildade, pois o eu
carnal está subjugado).
i) Domínio
próprio (Encrateia — autocontrole. Domínio sobre os desejos e as paixões,
especialmente os apetites sensuais). Estudiosos falam desse controle como um
ato de reprimir com mão forte, por intermédio do Espírito, os desejos do eu
carnal.
Observe que no
tocante às obras da carne, Paulo diz que aqueles que são dominados por ela
jamais entrarão no reino dos céus. Para as obras carnais existe restrição,
exigências, mas quanto às obras do Espírito Santo, Paulo diz que não há Lei, ou
melhor, restrição. Não há Lei para frear o fruto do Espírito, pois todas as
virtudes do fruto do Espírito são benéficas para nossa vida (Rm 8.4; 1 Tm 1.9).
O cristão deve procurar sempre viver sob o poder do Espírito Santo para que
esses frutos estejam em sua vida (Jo 15.2; Ef 5.9; Cl 3.12; 1 Co 13.7).
A Santidade que Deus
Exige de nós
Pelas palavras
do próprio Senhor Jesus podemos notar a importância de termos o Espírito Santo
de Deus em nossa vida (Jo 14.17). Paulo deixa claro para nós o seguinte: o
Espírito Santo nos conscientiza que somos de Deus, ora, se o Espírito é Deus, é
Ele mesmo que nos garante que somos seus filhos (Rm 8.16). Não somente isso,
Ele também diz que o Espírito Santo habita em nós, somos templo dEle (1Co
3.16), Paulo diz também que Deus garante a todos nós que agora temos uma
herança no céu. Tais expressões esclarecem que todos nós estamos sob o domínio
e o controle do Espírito Santo; só para deixar isso bem claro, Paulo usa duas
expressões, “Espírito de Cristo”, para estarmos cientes de que Cristo está em
nós, que somos seus representantes aqui na Terra, para que possamos produzir o
tipo de vida que Jesus viveu (Rm 8.9).
A outra expressão que é usada por Paulo é:
“Espírito de seu filho” (Gl 4.6), mais uma vez essa expressão de Paulo não
deixa dúvidas, todos nós temos a plena certeza de que Jesus vive em nós.
Ter a
consciência da presença do Espírito Santo de Deus em nossa vida é fundamental
para que possamos desenvolver uma comunhão permanente com Ele, como também
aprender dEle, depender dEle para tudo, para orar, evangelizar, pregar e
decidir. A ênfase de Jesus para que os discípulos tivessem o Espírito Santo e
fossem para Jerusalém, para serem revestidos de Poder, para que as suas vidas
fossem controladas por Ele, pois assim o Espírito Santo produziria vida, dons e
frutos (Lc 24.49; At 1.8; Gl 5.16-25).
Mas é
importante sabermos de uma coisa: o Espírito Santo não somente nos dá todas
essas bênçãos, Ele passa a viver em nós para que possamos desenvolver o estilo
de vida que Deus deseja que tenhamos, para tal, Ele usa a “santificação”, com o
intuito de separar o crente do pecado e para que seja um instrumento de Deus. O
Espírito Santo age assim para que a pessoa viva não mais sob o domínio do
pecado, para que sinta prazer em viver para Deus e fazer a sua obra neste mundo
(Rm 8.2.9; 1Co 6.11; 2 Ts 2.13, 14).
O Espírito
Santo deseja que sejamos como Jesus, e, para isso, Ele procura nos afastar
daquilo que compromete a nossa comunhão com Deus (Rm 8.29; 1Jo 3.2).
É claro que o
Espírito Santo não vai fazer isso de modo abrupto, Ele sabe que quando uma
pessoa aceita a Jesus como seu Senhor e Salvador, essa separação do mundo é
feita de modo gradativo, que para sermos iguais a Jesus, leva tempo, é por isso
que a Bíblia trata o nosso novo nascimento como infância espiritual, que leva
um tempo para chegarmos ao padrão que Deus deseja (1Pe 2.2-32; 3.18; 2Tm 2.15).
A cada momento da nossa vida o Espírito Santo
nos aponta o que é certo e que é errado. A santidade que Ele exige de nós não é
compulsiva, ascética, mística, ostracista e sem conhecimento. Por meio da
Palavra de Deus o Espírito Santo trabalha paulatinamente, até que se chegue à
varonilidade, ao padrão de vida que Deus deseja que tenhamos (Ef 4.11-14).
Sabemos que muitos não entenderam a santidade exigida pelo Espírito Santo, daí
as muitas más interpretações e aberrações que nesse particular surgiram, a santidade
passou a ser vista de modo negativo.
Quem deseja
entender melhor a questão da santidade precisa se ater a alguns textos
bíblicos. Por exemplo, é no primeiro livro da Bíblia que encontramos o conceito
de santificação, pois, no seu sentido usual, a palavra “santificar” significa
separar. Veja em Gênesis 2.3, a Bíblia diz que Deus santificou o sétimo dia,
você sabe que não existe dia santo, então, podemos entender que aqui o autor
está falando de separar um dia não para ser santo, e, sim, para um propósito
especial, esse dia tem um valor ético, para o descanso do homem. O conceito de
santificar também se aplica à separação de homens para servirem a Deus, em
Êxodo 28.41, observamos essa ideia, homens separados para o uso exclusivo da
obra de Deus.
A Bíblia fala
ainda no livro de Êxodo 40.9 que até mesmo vasilhas e outros objetos eram
separados para a obra de Deus, note que a santificação não está sendo tratada
como um estado de moralidade, e, sim, de separação. Então, ser santificado
significa ser separado para o uso de Deus; agora, uma coisa deve ser levada em
consideração, a palavra santificar, que significa separar, carrega também a
ideia de transformação, isto é, aqueles que foram separados para o uso de Deus,
são pessoas que foram transformadas pelo seu poder, para serem usadas em sua
obra, por meio dessa transformação o homem passa a viver em comunhão com Deus.
Um cristão só pode viver em comunhão, só pode fazer o trabalho de Deus com
prazer, se a sua vida já foi realmente transformada (Rm 12.1-21; Hb 12.14).
A santificação
no aspecto bíblico pode ser definida de três maneiras:
a) Definitiva. Essa santificação é posicional,
acontece quando a pessoa por meio da fé crê em Jesus Cristo, tem uma nova
natureza aplicada em sua vida por meio do Espírito Santo de Deus e todos os
seus pecados já foram perdoados. Então definitivamente essa pessoa está em uma
nova posição em Cristo Jesus (1 Co 1.2);
b) Progressiva. Esse tipo de santificação vai
acontecendo a cada momento na vida do cristão e pode ser definido como
crescimento espiritual, crescimento na graça de Cristo Jesus (1 Pe 3.18),
enquanto a santificação definitiva fala de perdão, a santificação progressiva
trata de crescimento;
c) Final. Em
Filipenses 3.12,13 Paulo deixa claro que busca ainda algo que está para o
futuro, ou seja, a verdadeira perfeição final. Essa transformação final só
acontecerá com a entrada do cristão no lar celestial, isso porque ele já foi
transformado completamente, sendo assim, esse tipo de santificação é chamado de
santificação final. Essa santificação é descrita por João, ele fala que na
entrada do cristão no Céu, o cristão será semelhante a Cristo Jesus (1 Jo 3.2),
então, a santificação final fala da total transformação do crente na sua
entrada na glória. Em Hebreus 10.10, vemos que o autor fala sobre a
santificação definitiva, que já aconteceu na vida do crente, isto é, já foram
santificados, no verso 14, ele fala sobre a santificação progressiva, a
santificação final da perfeição do crente, à semelhança de Jesus.
Bíblia The Word
A capacitação do Espírito para uma vida santa (gL 5.13-26). Comentários
Expositivos - Hernandes Dias Lopes.
Paulo transmitiu a base doutrinária para as igrejas da Galácia; agora, está aplicando a doutrina. A teologia
desemboca na ética; o conhecimento produz vida. A influência perniciosa dos
falsos mestres entre as igrejas gentílicas trouxe grande confusão acerca dos
limites da liberdade cristâ. Mais tarde Paulo tratou desse mesmo tema em sua
Primeira Carta aos Coríntios (6.12; 8.9,13; 9.12,19,22; 10.23,24; 11.1).
Paulo, no texto em tela, esclarece a igreja sobre esse momentoso tema.
Compreendendo a liberdade cristã (Gl 5.13-15)
Há dois extremos perigosos com respeito à liberdade cristã: o legalismo
de um lado e a licenciosidade de outro. Há aqueles que querem regular a
liberdade apenas por regras exteriores. Esses caem na armadilha do legalismo e
privam as pessoas da verdadeira liberdade em Cristo. Porém, há aqueles que, em
nome da liberdade, sacodem de si todo o jugo da lei e querem viver sem nenhum
preceito ou limite. Esses confundem liberdade com licenciosidade e caem na
prática de pecados escandalosos.
William Hendriksen ilustra esse fato dizendo que a vida cristã é semelhante
a atravessar uma pinguela que cruza sobre um lugar onde se encontram dois rios
contaminados: um é o legalismo e o outro é a libertinagem. O crente não deve
perder o equilíbrio para não cair dentro das faltas refinadas do judaísmo nem
nos grosseiros vícios do paganismo. Concordo com John Stott quando diz que o
cristianismo não é escravidão, mas um chamamento da graça para a liberdade. A
liberdade cristã, porém, não é liberdade para pecar, mas liberdade de
consciência, liberdade para obedecer. O cristão salvo pelo sangue de Cristo é
livre para viver em santidade.
Destacamos aqui quatro verdades importantes.
Em primeiro lugar, a
liberdade cristã não é uma licença para pecar. “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da
liberdade para dar ocasião à carne...” (5.13a). No versículo 13 temos um
chamado, uma advertência e um mandamento. Veremos neste ponto o chamado e a
advertência e, no próximo ponto, analisaremos o mandamento. Fomos chamados para
a liberdade, e não para a escravidão do pecado. Calvino destaca que, após
exortar os gálatas a não permitirem nenhum impedimento de sua liberdade (5.1),
Paulo agora lhes recomenda que sejam moderados em usá-la (5.13).
Fomos chamados para uma vida nova e não para viver com o pescoço na
coleira do pecado. A liberdade cristã não é uma licença para pecar, mas o poder
para viver em novidade de vida. A liberdade cristã não é licenciosidade, mas
deleite na santidade. A liberdade cristã é a liberdade do pecado, não a
liberdade para pecar. E uma liberdade irrestrita para aproximar-se de Deus como seus
filhos, não uma liberdade irrestrita para chafurdar em nosso egoísmo. A
licenciosidade desenfreada não é liberdade alguma; é outra forma mais terrível
de servidão, uma escravidão aos desejos de nossa natureza caída.
Jesus disse que aquele que pratica o pecado é escravo do pecado (Jo
8.34). Paulo disse que o homem antes da sua conversão é escravo de toda a sorte
de paixões e prazeres (Tt 3.3). A palavra “liberdade” está profundamente
desgastada. Muitos defendem a liberdade do amor livre, a prática irrestrita do
aborto, o uso indiscriminado das drogas e o homossexualismo. Isso, porém, não é
liberdade; é escravidão.
A palavra grega aphorme, traduzida por “ocasião à carne”, era usada no contexto militar em referência a um lugar do qual
se faz um ataque, se lança uma ofensiva. Portanto, significa um lugar vantajoso
e também uma oportunidade ou pretexto. Assim, a nossa liberdade em Cristo não
deve ser usada como um pretexto para a autoindulgência. Nessa mesma linha,
Donald Guthrie explica que a palavra aphorme é um vocábulo militar para “base de operações”. Dessa forma, a carne é
representada como um oportunista, sempre pronto a aproveitar-se de qualquer
oportunidade.
Em segundo lugar, a
liberdade cristã não é uma permissão para explorar o próximo. “... sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (5.13b). O método
para impedir a liberdade de irromper em abuso imoderado e licencioso é
regulá-la pelo amor. Quem ama não explora, mas serve o próximo. Somos livres para amar e
servir, e não para explorar nosso próximo. O amor não pratica o mal contra o
próximo. Como na parábola do bom samaritano, o cristão não agride o próximo nem
passa de largo para não se envolver com os feridos, caídos à margem da estrada;
mas vê, aproxima-se e cuida do próximo, ainda que seja seu inimigo. Concordo
com John Stott quando diz: “Somos livres em nosso relacionamento com Deus, mas
escravos em nosso relacionamento com os outros”.
Não podemos usar o próximo como se fosse uma coisa para nos servir;
temos de respeitá-lo como pessoa e nos dedicar a servi-lo. Pelo amor temos de nos tornar douleuete, “escravos” uns dos
outros, não um senhor com uma porção de escravos, mas um pobre escravo com uma
porção de senhores, sacrificando o nosso bem pelo bem dos outros, e não o bem
deles pelo nosso. A liberdade cristã é serviço, não egoísmo.
Em terceiro lugar, a
liberdade cristã não é uma autorização para ignorar a lei. “Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu
próximo como a ti mesmo” (5.14). Somos libertos da condenação da lei, mas não
dos seus preceitos. Não nos aproximamos mais da lei com o propósito de sermos
aceitos por Deus; mas porque já fomos aceitos em Cristo, aproximamo-nos da lei
para obedecer a Deus.
John Stott destaca com razão que, embora não possamos ser aceitos por
Deus por guardarmos a lei, depois que somos aceitos continuamos guardando a lei
por causa do amor que temos a Deus, que nos aceitou e nos deu o seu Espírito
para nos capacitar a guardá-la. William Hendriksen complementa a ideia dizendo
que a motivação do crente para obedecer a esse mandamento é a gratidão pela redenção
consumada por Cristo; o poder para realizá-la é proporcionado pelo Espírito de Cristo (5.1,13,25).479
A síntese da lei é o amor, o amor a Deus e ao próximo. Aqui Paulo usa
uma figura de linguagem, na qual ele toma uma parte como o todo. E que podemos
ver a face de Deus no próximo e, quando amamos o próximo, estamos amando a Deus
quem o criou. Deus resolve provar o nosso amor para com ele por meio do amor ao
nosso irmão. E por isso que o amor é chamado de “...o cumprimento da lei” (Rm
13.8,10). Não porque o amor ao próximo seja superior à adoração a Deus, mas
porque é a prova dessa adoração. Deus é invisível, mas se representa nos
irmãos. O amor para com os homens flui do amor a Deus.480
Em quarto lugar, a
liberdade cristã não é uma chancela para destruir o próximo. “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não
sejais mutuamente destruídos” (5.15). Somos livres para amar e servir uns aos
outros, e não para devorar e destruir uns aos outros. Nas igrejas da Galácia,
os dois extremos — os legalistas e os libertinos - destruíram a comunhão.481 Os
dois verbos gregos dakno, “morder”, e katesthio, “devorar”, sugerem animais selvagens engajados em uma luta mortal. Desse
modo, a força da alma e a saúde do corpo, o caráter e os recursos, são
consumidos por lutas e intrigas.482
Por Apazdosenhor
Lição 1 - As Obras da Carne e o Fruto
do Espírito
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Gálatas 5.16-26.
16 — Digo,
porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.
17 — Porque
a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes
opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis.
19 — Porque
as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza,
lascívia,
20 — idolatria,
feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões,
heresias,
21 — invejas,
homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das
quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não
herdarão o Reino de Deus.
22 — Mas
o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fé, mansidão, temperança.
23 — Contra
essas coisas não há lei.
24 — E
os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e
concupiscências.
25 — Se
vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
26 — Não
sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos
uns aos outros.
PONTO
CENTRAL
O
cristão deve andar em Espírito para vencer as obras da carne, pois sozinho
jamais conseguirá.
I. ANDAR NA CARNE X ANDAR NO ESPÍRITO
1. O que é a carne? Dentro
do contexto neotestamentário, o vocábulo carne é sarx.
Essa palavra é utilizada para designar a natureza adâmica que domina o velho
homem e o leva a praticar as obras da carne relacionadas em Gálatas 5.19-21.
Edward Robinson, no seu dicionário de grego do Novo Testamento, utiliza a
palavra sarx para descrever a natureza exterior que difere
do homem interior (Lc 24.39). A palavra carne, no aspecto teológico, denota a
fragilidade humana e a sua tendência ao pecado. Ela é a sede dos apetites
carnais (Mt 26.41). O homem somente poderá viver em novidade de vida e no poder
do Espírito Santo se, pela fé, receber Jesus Cristo como Salvador.
2. O que é o espírito? A
palavra espírito no grego é pneuma. Esse termo
significa sopro, vento, respiração e princípio da vida. Esse vocábulo também
descreve o espírito que habita no homem o qual foi soprado por Deus (Gn 2.7).
Logo, percebemos que esta palavra tem diferentes significados, e segundo o
pastor Claudionor de Andrade, o seu significado teológico vai muito além:
“Espírito é a parte imaterial que Deus insuflou no ser humano, transmitindo-lhe
a vida”. Essa palavra também é aplicada, no Evangelho de João, em referência a
Deus (Jo 4.24). A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é identificada no Novo
Testamento como o Espírito Santo (Lc 4.1; Hb 3.7), e, uma vez mais é importante
frisar que o Espírito Santo é uma pessoa.
3. Andar na carne x andar no
Espírito. Paulo adverte os crentes mostrando que os que
vivem segundo a carne, ou seja, uma vida dominada pelo pecado, jamais agradarão
a Deus: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). O
viver na carne opera morte (espiritual e física), mas o viver no Espírito
conduz o crente à felicidade, à vida eterna (Rm 8.11; 1Co 6.14). Paulo foi
enfático ao afirmar: “Andai em Espírito” (Gl 5.16). O Espírito Santo nos ajuda
a viver em santidade e de maneira que o nome do Senhor seja exaltado. Sem Ele
não poderíamos agradar a Deus. Quem pode nos ajudar e nos conduzir de modo a
agradar a Deus? Somente o Espírito Santo. O doutor Stanley Horton diz que andar
no Espírito e ser guiado por Ele significa obter vitória sobre os desejos e os
impulsos carnais. Significa desenvolver o fruto do Espírito, o melhor antídoto
às concupiscências carnais. Jamais tente viver a vida cristã pelos seus
próprios esforços, tomando atalhos, buscando desvios, mas renda-se
constantemente ao Espírito Santo, pois Ele lhe ensinará a maneira certa de
viver a vida cristã.
Quando o Espírito Santo tem o
controle do nosso espírito, Ele faz com que o nosso homem interior tenha forças
e condições para opor-se às obras da carne. Andar na carne, ou seja, ser
dominado pela velha natureza adâmica, leva a pessoa a portar-se de modo
pecaminoso. Infelizmente, muitos crentes, como os de Corinto, estão se deixando
dominar pelas obras da carne (1Co 3.3).
SÍNTESE DO TÓPICO (I)
A diferença entre a carne e o espírito,
é que a carne foge de Deus e o espírito tem sede do Senhor.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
Professor, elabore um cartaz de
acordo com o quadro abaixo. Utilize-o para fazer um contraponto Espírito x
Natureza pecadora.
“Ao descrever este conjunto de
opostos, Paulo nos lembra de verdades vitais e maravilhosas. O que não
conseguimos fazer, Deus consegue e fará, tanto em nós quanto para nós. Nunca
nos tornaremos as pessoas verdadeiramente boas que desejamos ser, tentando
obedecer à Lei de Deus. Mas, nos tornaremos gradativamente mais justos à medida
que confiarmos no Espírito de Deus para nos orientar e capacitar” (RICHARDS,
Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ:
CPAD, 2012, p.414).
CONHEÇA MAIS
“O Espírito... contra a carne (Gl 5.17)
O conflito espiritual interiormente no
crente envolve a totalidade da sua pessoa. Este conflito resulta ou numa
completa submissão às más inclinações da ‘carne’, o que significa voltar ao
domínio do pecado; ou numa plena submissão à vontade do Espírito Santo,
continuando o crente sob o senhorio de Cristo (Rm 8.4-14). O campo de batalha
está no próprio cristão, e o conflito continuará por toda a vida terrena, visto
que o crente por fim reinará com Cristo (Rm 7.7-25; 2Tm 2.12; Ap 12.11)”. Para
conhecer mais, leia Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p.1801.
II. OBRAS DA CARNE, UM CONVITE AO PECADO
1. A cobiça. Quem
anda no Espírito resiste às obras da carne, pois somente cheios dEle teremos
condições de viver de modo a exaltar e a glorificar o nome do Senhor. Quem de
fato deve controlar a vida do crente é o Espírito Santo. Homem algum tem o
poder de controlar ou transformar a natureza de outra pessoa, somente Deus tem
esse poder. A natureza pecaminosa nos incentiva a viver em concupiscência,
luxúria, desejos descontrolados e paixões impuras (2Pe 2.10). A Bíblia nos
ensina que a concupiscência da carne não procede de Deus (1Jo 2.16). Eva
cobiçou o fruto da árvore que Deus havia ordenado que não comesse. Seu desejo
trouxe terríveis consequências para sua vida e para a humanidade (Gn 3.6). A
cobiça de Acã o levou à morte (Js 7.21). Portanto, não permita que o desejo da
carne, da velha natureza, domine você. Atente para o que Paulo ensinou às
igrejas da Gálacia a respeito da cobiça da carne contra o Espírito (Gl 5.17).
Os desejos da carne serão sempre contrários à vontade de Deus.
2. A oposição da carne. O
seu espírito deseja orar, jejuar e buscar a Deus, mas a sua carne vai preferir
ver televisão, comer bem e ficar no conforto da sua casa. Precisamos ter
cuidado, pois a oposição da carne contra o Espírito é algo contínuo. Essa
oposição somente será vencida se procurarmos viver cheios do Espírito Santo. A
carne não pode ter vez na vida do crente, posto que a força do Espírito Santo é
maior, porém o embate entre a carne e o Espírito vai perdurar até o dia que
receberemos do Senhor um corpo glorificado (Fp 3.21).
O crente que realmente deseja fazer
oposição às obras da carne precisa andar pelo Espírito, porque Ele não deixa
que as paixões infames o domine. Para o crente existem duas maneiras pelas
quais ele pode viver: na carne ou no Espírito. Ou você serve a Deus e permite
que Ele domine sua natureza adâmica ou vive na prática das obras da carne. O
que você escolhe?
SÍNTESE DO TÓPICO (II)
A carne não tem mais poder sobre o
crente quando este entrega a direção da sua vida ao Espírito Santo.
SUBSÍDIO DEVOCIONAL
“Não cumprireis a concupiscência da
carne
Quando nos tornamos crentes, a nossa
natureza pecadora continua existindo. Mas Deus nos pede que coloquemos a nossa
natureza pecadora sob o controle do Espírito Santo de modo que Ele possa
transformá-la. Este é um processo sobrenatural. Nunca devemos subestimar o
poder da nossa natureza pecadora, e nunca devemos tentar combatê-la com as
nossas próprias forças. Satanás é um tentador ardiloso, e nós temos uma
capacidade ilimitada de inventar desculpas. Em lugar de tentar superar o pecado
com a nossa própria força de vontade, devemos aproveitar o tremendo poder de
Cristo. Deus permite a vitória sobre a nossa natureza pecadora — Ele envia o
Espírito Santo para residir em nós e nos capacitar. Mas a nossa capacidade de
resistir aos desejos da natureza pecadora irá depender do quanto estamos
dispostos a ‘viver de acordo’ com o Espírito Santo. Para cada crente, este
processo diário requer decisões constantes” (Comentário do Novo Testamento: Aplicação
pessoal. Volume 2. RJ: CPAD, 2010, p.294).
III. FRUTO DO ESPÍRITO, UM CHAMADO PARA
SANTIDADE
1. O que é o fruto do Espírito? Segundo
o Dicionário Bíblico Wycliffe, “o fruto do Espírito são os hábitos
e princípios misericordiosos que o Espírito Santo produz em cada cristão”.
Esses hábitos e princípios são o resultado de uma vida de comunhão com Deus. De
acordo com Romanos 6.22, depois de liberto do pecado, o crente precisa
desenvolver o fruto do Espírito. Os dons espirituais são dádivas divinas, mas o
fruto precisa ser desenvolvido, cultivado. O Espírito Santo desenvolve o seu
fruto em nós à medida que nos aproximamos de Deus e procuramos ter uma vida de
comunhão e santidade.
2. Os frutos provam a nossa
verdadeira santidade. Quando vivíamos no pecado,
nossos frutos, ações, eram as obras da carne, mas libertos do seu poder e
domínio, tendo uma nova natureza implantada em nosso ser, nos tornamos uma
pessoa melhor. João Batista falou a respeito da importância de produzirmos
frutos dignos de arrependimento (Mt 3.8). João estava dizendo que o arrependimento
genuíno será acompanhado pelo fruto da justiça. O arrependimento genuíno é
evidenciado pelos nossos frutos, ou seja, nossas ações. Como conhecemos uma
árvore? Por seus frutos. Logo, o verdadeiro crente é reconhecido por seu
caráter e suas ações.
3. A santidade que o Espírito Santo
gera em nós. O Espírito Santo nos molda e nos ensina o que
é certo e o que é errado à medida que buscamos a Deus em oração, leitura da
Palavra e jejuns. Por meio da Palavra de Deus, o Espírito Santo vai trabalhando
paulatinamente em nós, até que alcancemos a estatura de homem perfeito (Ef
4.13). Quando deixamos de ser meninos, estamos prontos para produzir bons
frutos (Lc 8.8). O crente precisa andar em novidade de vida, em santidade.
Segundo os pressupostos bíblicos, a santificação do crente é:
a) Posicional. Quando,
por meio da fé, aceitamos Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador,
nossos pecados são apagados, recebemos o perdão divino e passamos a desfrutar
de uma nova vida em Cristo (2Co 5.17). A natureza adâmica já não tem mais
domínio sobre nós, e por meio da ação do Espírito Santo podemos experimentar o
novo nascimento (Jo 3.3). Mediante a fé passamos a desfrutar de uma nova
posição espiritual em Jesus Cristo.
b) Progressiva. A
santificação é um processo que vai se desenvolvendo ao longo da nossa vida.
Depois do novo nascimento, o crente precisa crescer na graça e no conhecimento
de Cristo Jesus (1Pe 3.18). A santificação é gradual, progressiva e nos leva
para mais perto de Deus.
c) Final. Em
Filipenses 3.12.13, Paulo mostra que ele estava buscando uma transformação
maior e final. Essa transformação somente acontecerá quando recebermos um corpo
glorificado e nos tornarmos semelhantes a Jesus (1Jo 3.2).
SÍNTESE DO TÓPICO (III)
O fruto do Espírito produz a
santificação na vida do crente que se manifesta de forma posicional,
progressiva e final.
SUBSÍDIO TEOLÓGICO
“Andai em Espírito e não cumprireis a
concupiscência da carne (Gl 5.16)
O texto original apresenta ‘andai (peripateite)
em Espírito’. Esta frase reflete uma expressão idiomática comum em hebraico, na
qual ‘andar’ significa ‘conduzir a própria vida’.
Os judaizantes disseram aos gálatas
que conduzissem as suas vidas observando a Lei. Mas Paulo argumentou que a lei
não tem papel algum na vida do cristão. A pessoa que procura ser ‘justificada
pela lei’ (5.4) cai da graça, e se separa de Cristo como a fonte da vida justa.
Em Romanos 7.4-6, Paulo vai ainda
mais adiante, e diz que a natureza pecadora (sarx,
a carne) na verdade é energizada (ou estimulada) pela Lei.
Então, o que o cristão deve fazer? O
cristão deve conduzir sua vida observando não a Lei, mas o Espírito de Deus.
Pois, Paulo promete, a pessoa que olhar para o Espírito (confiar nEle) ‘não
cumprirá a concupiscência da carne [sarx]’” (RICHARDS,
Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ:
CPAD, 2012, p.412).
CONCLUSÃO
Para vencermos o conflito existente
entre a carne e o Espírito, precisamos tão somente nos encher do Espírito Santo
e crucificar a nossa carne com suas paixões e concupiscências (Gl 5.24; Ef
5.18). Permita que o Espírito Santo guie você pelo caminho certo e que Ele
controle os seus desejos de modo que o fruto seja evidenciado em sua vida.
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