quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Lição 1 - As Obras da Carne e o Fruto do Espírito






        Nesta vida, o homem sem ser cristão tem suas lutas internas, às quais pode dar inúmeras classificações. Lutas internas foram enfrentadas por Agostinho, Lutero, dentre outros, mas em destaque desejo citar o grande apóstolo dos gentios, Paulo, que em seus escritos deixou claro sobre a colisão que se dá entre a carne e o Espírito (Gl 5.17). Pelo lado do “homem interior”, o apóstolo sentia prazer na Lei de Deus, mas, por outro lado, era consciente de algo que lutava e guerreava contra a sua mente (Rm 7.22, 23).
         Para o pastor Eurico Bergstén, o homem interior é formado pela junção da alma e do espírito, que é a parte imaterial, observe:
A alma junto com o espírito forma o “homem interior”, a parte imaterial de todo ser humano. Embora a alma e o espírito estejam inseparavelmente unidos, tanto dentro como fora do corpo, existe uma diferença entre eles. A Bíblia diz que “a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra até à divisão da alma, e do espírito” (Hb 4.12). (BERGSTÉN, 2006, p. 130)

O trabalho da alma é orientar a vida do corpo, buscando contato com o mundo ao redor; já o espírito é a parte humana que procura conceder ao homem a capacidade de relacionamento com Deus.
        Podemos dizer que a guerra começa no interior do homem, pois a sua alma é a sede dos sentimentos (Sl 42.2). Na alma está centrada a inteligência, os desejos, vontade, intelecto e o querer (Jó 23.13; Sl 139.1; Pv 19.2), as paixões e o temperamento (Lc 12.19). Ao contrário da alma, que busca mais um relacionamento com as coisas físicas, o espírito do homem procura conduzi-lo ao sentimento de desejar Deus e a sua Palavra.
       O homem sem Deus deseja servi-lo, porém dominado pela natureza pecaminosa, seu espírito sempre irá inclinar-se para uma vida de pecado, pois seu espírito, que é uma lâmpada divina (Pv 20.27), está separado de Deus (Ef 2.1-5; Tt 1.15; 2 Co 4.4).       
        Para que o homem natural vença a vida pecaminosa, ele precisa que o seu espírito interior seja vivificado pelo Espírito Santo de Deus (Cl 2.13; Ed 1.1), o qual convence do pecado (Jo 16.8,10).
        Querido irmão, note então que o homem, tendo a parte que deseja, tem paixões, relaciona-se com as coisas desta vida; mas a alma também tem no seu interior a consciência (Rm 2.15,16), a qual lhe acusa quando comete algo errado, porém concede-lhe tranquilidade quando faz o bem.
        Tendo a alma relacionamento com a vida física por meio do corpo, o espírito, que é a janela aberta para Deus, busca servi-lo, mas não consegue porque não há no seu ser a presença do Espírito Santo, razão pela qual o homem sem Deus sempre se volta para as coisas deste mundo e para os desejos do seu corpo. Quando o espírito humano é fortalecido pelo Senhor passa a ter certeza de que é filho de Deus e começa a produzir os Frutos do Espírito Santo (Rm 8.16).

Os Conflitos Internos
        Historicamente, os judeus desde cedo entendiam que no homem havia duas naturezas, uma boa e a outra má, e isso gerava conflito em seu interior, pois fazia com que ele, por vezes, estivesse em situação conflituosa, não sabendo o que decidir; porém, por ter sua natureza humana corrompida pelo pecado, sempre teria propensão para o mal.
       Moisés escreveu, inspirado por Deus, sobre os conflitos interiores do homem depois de sua queda, dizendo que seus desígnios são maus (Gn 8.21), e aquele que não tem a presença do Espírito Santo pode ser dominado facilmente por esse sentimento, como aconteceu com Caim, pois dominado pela natureza pecaminosa matou seu próprio irmão (Gn 4.7).
       No aspecto filosófico, os conflitos presentes no homem têm várias nomenclaturas e explicações, isso acontece também no campo da psicanálise e psicologia, mas, segundo a Bíblia, esse conflito interno é denominado de guerra entre a carne e o Espírito. Sendo assim, para não seguirmos os nossos desejos é necessário que andemos no Espírito (Gl 5.16).
      Biblicamente, sabemos que o homem é formado de corpo, alma e espírito (Gn 2.7; 1 Ts 5.23), e tem se procurado saber qual a parte do seu ser que faz com que se incline para as coisas boas ou más. Em tempos idos, dentro da comunidade judaica, logo se começou a desenvolver um pensamento de que o corpo perecível traria pesar para a alma, e na filosofia platônica o corpo era entendido como a prisão da alma, enquanto ela estivesse unida ao corpo estaria completamente enganada. Para os filósofos o problema era o corpo, ele jamais deixaria que a alma alcançasse seu desenvolvimento, crescimento, as almas que estão sob o poder do corpo sempre irão levar o peso da ignorância, estarão sempre oprimidas, e esse corpo jamais deixa que a alma venha de fato crer em Deus. Tanto para os judeus como para os filósofos todo o problema está fincado no corpo ou na carne, mas seria isso verdade? O que é corpo e carne, segundo a Bíblia? Podemos dizer que o corpo se trata da existência física do homem, é sua parte material de sua constituição que faz ligação com os demais seres viventes.Em relação à alma, sabemos que é o princípio da vida física animal. No homem essa alma tem ligação com a personalidade humana. A parte do espírito humano pode ser entendida como um poder que o leva à dimensão espiritual, capacitando-o a estar em plena comunhão com Deus.
       No grego temos duas palavras que precisam ser bem analisadas, a primeira é sarks. Em geral, sarks pode ter o sentido literal de carne (Lc 24.39, Jo 6.51-56), corpo (Mc 10.8; At 2.26), pessoa, ser humano (Rm 3.20; Gl 1.16), limitações físicas (1 Co 7.28; Gl 2.20), o lado externo da vida, o sentido natural (Jo 8.15; 1Co 1.26), e, por fim, vem a carne como instrumento voluntário do pecado, que recebe esse forte conceito em Paulo (Rm 6.19; 7.5; 2Co 1.17; Gl 5.13; Ef 2.3; Cl 2.11,18). Assim, no constante uso que Paulo faz da palavra carne está apontando para a natureza pecaminosa.
        A palavra sôma do grego é corpo, é bom lembrar que ela é neutra. O sôma pode referir-se ao corpo de um ser humano ou animal, mas quando Paulo faz uso dessa palavra em algumas de suas cartas, está dando ênfase à personalidade completa, o homem segundo as intenções de Deus (Cl 2.17). A questão dos conflitos interiores não se fundamenta no corpo, pois ele é apenas algo material, mas sim na natureza pecaminosa, veja o que diz Timothy Munyon:
O ensino bíblico a respeito da natureza pecaminosa do ser humano caído é que todo ele está afetado, não apenas uma parte. Além disso, os seres humanos — conforme os conhecemos e a Bíblia identifica — não podem herdar o Reino de Deus (1Co 15.50). Em primeiro lugar, é necessária uma mudança essencial. Acrescente-se que, quando o componente imaterial do ser humano parte, por ocasião da morte, nenhum dos dois elementos em separado pode ser descrito como um ser humano. O que permanece inalterado é um cadáver, e o que partiu a estar com Cristo, um ser desencarnado, imaterial, ou espírito (que tem existência consciente pessoal, mas não plenamente humana). Na ressurreição do corpo, o Espírito será reunido com um corpo ressurreto, transformado e imortal (1 Ts 4.13-17), e, mesmo assim, nunca será mais considerado humano, na concepção atual (1 Co 15.50). (HORTON, 1996, p 252)
        Os filósofos e psicólogos jamais trataram da questão dos conflitos internos no homem no seu sentido pecaminoso, em que a parte imaterial, denominada carne ou natureza pecaminosa, tem sua disposição para opor-se a Deus e pecar contra Ele (Rm 7.18; Gl 5.17), enquanto a outra parte, a presença do Espírito, está presente na vida dos regenerados para opor-se às obras dessa natureza caída.

Andando na Carne versus Espírito
       Já definimos o homem no seu aspecto tricotômico e esclarecemos o sentido de sárks e sôma, porém, para de fato entendermos a guerra entre carne e Espírito, ainda precisamos saber mais sobre o peneûma ou espírito.  Muitos teólogos têm procurado saber se o homem já vem com o espírito ou se ele o recebe no momento de sua conversão. Para alguns estudiosos ou teólogos, o espírito não faz parte da vida do homem que não aceitou a Jesus como seu Salvador, nesse caso ele é composto apenas de duas partes naturais: corpo e alma. Para ratificar tal pensamento fazem uso de algumas citações de Paulo, afirmando que Deus enviou o seu espírito aos corações dos que são salvos (Gl 4.6; Rm 8.11; 1 Co 6.19; 2 Co 1.22), desse modo o espírito aqui seria entendido como o Espírito Santo habitando no homem, fazendo oposição às obras da carne. Precisamos fazer distinção entre o Espírito Santo de Deus e o espírito do homem. Na Teologia Sistemática Pentecostal há uma definição precisa sobre o espírito que habita no homem, que lhe foi dado no ato de sua criação:
Em relação ao homem, o Senhor disse: “Façamos”, e deu-lhe o sopro ou o fôlego da vida. Ele foi feito alma vivente, expressão que se aplica, tanto ao homem quanto aos animais, esclarecendo-se, no entanto, que aos animais Deus concedeu vida, mas não o fôlego da vida, concedido exclusivamente ao ser humano. Chafer afirmou: “Aquele sopro de Deus foi a outorga do espírito, que estava tão longe das outras formas de vida que estão no mundo da mesma forma que Deus está distante de sua criação”. (GILBERTO, 2006, p. 263)
       Não podemos pensar no espírito humano como sendo o poder do Espírito Santo, mas sim como algo que vem diretamente de Deus para capacitar o homem a procurar estar em comunhão com Ele. O escritor Myer Pearlman, falando do espírito do homem, diz:

O espírito humano, representando a natureza suprema do homem, rege a qualidade de seu caráter. Aquilo que domina o espírito torna-se atributo de seu caráter. Por exemplo, se o homem permitir que o orgulho o domine, ele tem um espírito altivo (Pv 16.18). Conforme as influências respectivas que o dominem, um homem pode ter um espírito perverso (Is 19.14); um espírito rebelde (Sl 106.33); um espírito impaciente (Pv 14.29), um espírito perturbado (Gn 41.18), um espírito contrito e humilde (Is 57.15; Mt 5.3). Pode estar sob um espírito de servidão (Rm 8.15), ou ser impelido pelo espírito de inveja (Nm 5.14). Assim é que o homem deve guardar o seu espírito (Ml 2.15), dominar o seu espírito (Pv 16.32), pelo arrependimento tornar-se um novo espírito (Ez 18.31), e confiar em Deus para transformar o seu espírito (Ez 11.19) [...]. (PEARLMAN, 1977, p. 73)
   
    Mesmo o homem tendo o espírito, que é o centro da vida humana, e que uma de suas funções é a consciência (Rm 2.15.16), esse espírito luta para vencer, mas sua alma está dominada pela natureza pecaminosa, de modo que seu espírito luta, mas perde porque não está vitalizado pelo Espírito Santo de Deus (Ef 2.1-5; Cl 2.13; 1Tm 5.6).   
      Nas saudações que Paulo faz direcionadas aos crentes, como no caso de Gálatas: “A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja, irmãos, com o vosso espírito. Amém.” (Gl 6.18). Na verdade, era uma maneira do apóstolo cumprimentar os crentes que agora gozavam de íntima comunhão com Deus.
      Dessa forma concorda também o doutor Donald Guthrie: Seja... com o vosso espírito:

é significativa a menção de Paulo ao “espírito” a esta altura desta Epístola, porque já disse muita coisa acerca do Espírito Santo, e esta forma como uma conclusão condigna. Trata os gálatas como sendo um povo espiritual. Cf. Filipenses 4.23; 2 Timóteo 2.4.22, para a expressão. (GUTHRIE, 1999, p. 197)

O espírito do homem é, na verdade, uma capacitação divina que lhe concede inteligência, capacidade para buscar a Deus, de modo que, quando ele recebe o evangelho por meio da graça, recebe capacitação para andar na lei do Espírito Santo (Rm 8.1, 2).
      O doutor William Barclay, em seu livro As Obras da Carne e o Fruto do Espírito, fala sobre o espírito do homem:
No pensamento de Paulo, o espírito do homem é aquela parte que Deus implantou nele; é a presença e o poder de Deus dentro dele; é a vinda do Cristo ressurreto para residir dentro do homem. E o resultado é uma ligação entre o homem e Deus que lhe dá uma nova comunhão com Deus e um novo poder para expressar essa comunhão na forma e na beleza da vida. (BARCLAY, 1988, p. 18)
O homem regenerado, que passa a ter a presença do Espírito Santo de Deus em sua vida, pode manter seu corpo para glória de Deus (Rm 8.23; 12.1; 1 Co 6.20), nosso corpo só pende para o mal quando estamos dominados pelo poder da natureza pecaminosa. Categoricamente afirmamos que o espírito do homem não é o Espírito Santo. Veja o que diz Eurico Bergstén:

Assim, podemos observar com clareza que o “espírito do homem” não significa o Espírito Santo operando no homem, mas que esse espírito é um órgão do seu “homem interior”, onde o Espírito Santo opera, fazendo-o ouvir a voz de Deus (cf. At 2.7). (BERGSTÉN, 2006, p. 133)
    
    A guerra entre sárx e o Espírito é porque as obras da carne ou pecados são perversos, é bom lembrar que carne, na definição precisa de sárx, vai mais além que simplesmente carne ou ser humano (Rm 3.20), na verdade Paulo fala de sárx como uma grande inimiga do Espírito, sempre se opondo a Ele.
      O cristão não pode andar na carne, antes deve crucificar sua carne com paixões e desejos para poder andar em Espírito (Rm 7.5; 8.5; Gl 5.24; Rm 7.14). Os que estão no poder da carne estão sujeitos ao pecado.
       A carne, entendida como natureza pecaminosa, na verdade manifesta-se constantemente em oposição às obras do Espírito Santo. Os que vivem na carne estão enfermos e são incapazes de cumprir aquilo que Deus deseja, pois nela não existe bem algum (Rm 8.3; 7.18). O corpo é apenas um veículo que a natureza pecaminosa usa para expressar suas obras, por isso que Paulo diz que o corpo pode ser transformado, mudado, ao contrário da carne, isto é, da natureza pecaminosa, jamais ela pode ser transformada. Lendo Romanos 7.25, Paulo diz que é por intermédio da natureza pecaminosa que o homem serve ao pecado. Quem anda na carne, conforme disse Paulo, jamais poderá agradar a Deus (Rm 8.8), pois ela conduz o homem a um tipo de vida de ações baixas, pecaminosas, por isso nunca é bom lhe dar liberdade (Gl 5.13). Antes, o importante é estar em Cristo, desse modo os desejos pecaminosos estarão crucificados (Gl 5.24). Existem dois tipos de semeadura, uma na carne e a outra no Espírito. Os que vivem semeando na carne sempre irão colher corrupção, mas os que vivem no Espírito irão colher a vida eterna (Gl 6.8).
        O homem sem Deus tem seu espírito humano contaminado pelo pecado, por isso que seu andar na carne produz as obras da carne, e é impossível que consiga produzir alguma coisa para Deus, ainda que tenha desejo para isso, pois o que o domina todo o seu ser é a natureza pecaminosa.

As Obras da Carne
       Negatividade e ações pecaminosas são expressas por aqueles que vivem no poder da carne, ou seja, da natureza pecaminosa, por isso produzem as seguintes obras:
       • As obras sensuais. Prostituição: imoralidade. Impureza, corrupção sexual. Lascívia. Falta de controle no aspecto sexual, luxúria.
         • Idolatria. Pecados de religião: idolatria, que trata da adoração a ídolos. Feitiçaria oferece a ideia de farmácia, mas no seu real sentido fala de poções mágicas, todavia, seu significado tradicional é todo tipo de feitiçaria (Ap 9.21).
         • Falta de temperança. Primeiramente temos a inimizade, depois a porfia, que trata de disputas que surgem por causa de desejos egoístas. Dissensões, que é divisão. Facções, que trata daqueles que procuram demonstrar suas opiniões partidárias. Inveja, que está ligada com todos os que já foram mencionados anteriormente, ela ajuda a criar disputas, divisões e por último pode chegar ao homicídio. 
        • Comida e bebida. Do grego bebedeira é méthai, a outra palavra é kômoi, que se refere de orgias e comilança.
        Para não viver no poder da carne, Paulo aconselha que todos os crentes procurem viver sob o domínio do Espírito Santo de Deus.
       Para estar acima do poder da carne o cristão precisa andar no ou pelo Espírito, como alguns preferem, tão somente desse modo estará em condição de freá-la, de não ser dominado por ela, satisfazendo seus desejos. Há uma batalha constante no interior do crente, é a luta entre a carne e o Espírito, eles não se unem, são inimigos, se o cristão andar no poder do Espírito, a carne nunca terá vez, ela pode tentar, mas não o vence.
       O Espírito Santo habitando no crente faz com que os intentos carnais não sejam realizados (Rm 6.12; 1 Pe 2.11; Rm 7.15, 19, 23). Paulo diz que o cristão que está sob o controle, domínio, orientação do Espírito Santo, e não da Lei, que tem apenas o papel de conduzir o homem a Cristo, a partir desse momento terá sua vida marcada pela vitória, pois quem terá o controle pleno de sua vida é o Espírito Santo de Deus (Ef 4.30).

O Fruto do Espírito
       Para evidenciar a vida de comunhão com Deus, Paulo começa agora a falar do que acontece com aqueles que se submetem ao Espírito Santo: em lugar de obras aparecem o fruto e em lugar de carne aparece o Espírito. As mais belas virtudes cristãs são destacadas na vida daqueles que vivem sob o controle do Espírito Santo. O singular fruto, como sempre é usado por Paulo, na verdade trata-se de um recurso para destacar a unidade que o Espírito Santo cria na vida daqueles que se sujeitam a Ele, produzindo as diversas virtudes, mas tendo uma só fonte.
        No viver carnal a desunião é grandiosa, ao contrário daqueles que vivem sob a vida dinâmica do Espírito Santo, que busca levar o crente a viver como Jesus viveu neste mundo, tendo um só sentimento, em total perfeição (Gl 4.19). O viver na carne traz diversos problemas, conflitos, pecados, mas o viver no Espírito produz uma vida segundo o querer de Jesus.
  
      A lista de Paulo começa da seguinte maneira:
       a) Amor (Agápe). É importante entender que Paulo não está dizendo aqui, que as demais virtudes vêm do amor, na verdade, ao o amor é a decisão de tudo (1 Co 13.13; 1 Jo 4.8).
      b) Gozo (Chará — alegria com motivos certos). Quer dizer alegria, não é produto do crente, mas vem ao crente por meio de Jesus e do Espírito (Jo 15.11; 1 Ts 1.6).
      c) Paz (Eiréne — ordem, segurança, felicidade, ausência de ódio, vida confiante no que Cristo fez). Essa paz vem de Cristo e concede tranquilidade ao crente (Jo 14.27; Fp 4.6), ela visa atingir também os relacionamentos.
      d) Longanimidade (makrothumía-paciência). Dominado por esse fruto o cristão não se apressa em tomar atitude ásperas de imediato, nem fica dominado com o sentimento de vingança, mas deixa tudo nas mãos de Deus (Rm 12.19).
      e) Benignidade (Crestótes — generosidade, amabilidade). A ênfase está em fazer o bem e envolve atitudes sociais.
       f) Bondade (Agathosýne — retidão, bondade benéfica). Essa bondade trata-se mais de uma conduta, alguém que faz o bem porque é reto e sua alma aborrece o mal. Dominado por esse fruto o cristão nunca agirá com intenções e motivos maléficos.
       g) Fidelidade (Pístis — entenda que não se trata de fé, mas sim de fidelidade, lealdade). São diversos os conceitos que essa palavra recebe, mas nesta ocasião ela ganha uma conotação de integridade, dignidade que merece confiança (Mt 23.23; 2 Tm 4.7; Tt 2.10).
       h) Mansidão (Praótes — gentileza, faz o bem para o outro com toda humildade, pois o eu carnal está subjugado).
       i) Domínio próprio (Encrateia — autocontrole. Domínio sobre os desejos e as paixões, especialmente os apetites sensuais). Estudiosos falam desse controle como um ato de reprimir com mão forte, por intermédio do Espírito, os desejos do eu carnal.
      Observe que no tocante às obras da carne, Paulo diz que aqueles que são dominados por ela jamais entrarão no reino dos céus. Para as obras carnais existe restrição, exigências, mas quanto às obras do Espírito Santo, Paulo diz que não há Lei, ou melhor, restrição. Não há Lei para frear o fruto do Espírito, pois todas as virtudes do fruto do Espírito são benéficas para nossa vida (Rm 8.4; 1 Tm 1.9). O cristão deve procurar sempre viver sob o poder do Espírito Santo para que esses frutos estejam em sua vida (Jo 15.2; Ef 5.9; Cl 3.12; 1 Co 13.7).

A Santidade que Deus Exige de nós
      Pelas palavras do próprio Senhor Jesus podemos notar a importância de termos o Espírito Santo de Deus em nossa vida (Jo 14.17). Paulo deixa claro para nós o seguinte: o Espírito Santo nos conscientiza que somos de Deus, ora, se o Espírito é Deus, é Ele mesmo que nos garante que somos seus filhos (Rm 8.16). Não somente isso, Ele também diz que o Espírito Santo habita em nós, somos templo dEle (1Co 3.16), Paulo diz também que Deus garante a todos nós que agora temos uma herança no céu. Tais expressões esclarecem que todos nós estamos sob o domínio e o controle do Espírito Santo; só para deixar isso bem claro, Paulo usa duas expressões, “Espírito de Cristo”, para estarmos cientes de que Cristo está em nós, que somos seus representantes aqui na Terra, para que possamos produzir o tipo de vida que Jesus viveu (Rm 8.9).
        A outra expressão que é usada por Paulo é: “Espírito de seu filho” (Gl 4.6), mais uma vez essa expressão de Paulo não deixa dúvidas, todos nós temos a plena certeza de que Jesus vive em nós.
       Ter a consciência da presença do Espírito Santo de Deus em nossa vida é fundamental para que possamos desenvolver uma comunhão permanente com Ele, como também aprender dEle, depender dEle para tudo, para orar, evangelizar, pregar e decidir. A ênfase de Jesus para que os discípulos tivessem o Espírito Santo e fossem para Jerusalém, para serem revestidos de Poder, para que as suas vidas fossem controladas por Ele, pois assim o Espírito Santo produziria vida, dons e frutos (Lc 24.49; At 1.8; Gl 5.16-25).
        Mas é importante sabermos de uma coisa: o Espírito Santo não somente nos dá todas essas bênçãos, Ele passa a viver em nós para que possamos desenvolver o estilo de vida que Deus deseja que tenhamos, para tal, Ele usa a “santificação”, com o intuito de separar o crente do pecado e para que seja um instrumento de Deus. O Espírito Santo age assim para que a pessoa viva não mais sob o domínio do pecado, para que sinta prazer em viver para Deus e fazer a sua obra neste mundo (Rm 8.2.9; 1Co 6.11; 2 Ts 2.13, 14).
       O Espírito Santo deseja que sejamos como Jesus, e, para isso, Ele procura nos afastar daquilo que compromete a nossa comunhão com Deus (Rm 8.29; 1Jo 3.2).
        É claro que o Espírito Santo não vai fazer isso de modo abrupto, Ele sabe que quando uma pessoa aceita a Jesus como seu Senhor e Salvador, essa separação do mundo é feita de modo gradativo, que para sermos iguais a Jesus, leva tempo, é por isso que a Bíblia trata o nosso novo nascimento como infância espiritual, que leva um tempo para chegarmos ao padrão que Deus deseja (1Pe 2.2-32; 3.18; 2Tm 2.15).
       A cada momento da nossa vida o Espírito Santo nos aponta o que é certo e que é errado. A santidade que Ele exige de nós não é compulsiva, ascética, mística, ostracista e sem conhecimento. Por meio da Palavra de Deus o Espírito Santo trabalha paulatinamente, até que se chegue à varonilidade, ao padrão de vida que Deus deseja que tenhamos (Ef 4.11-14). Sabemos que muitos não entenderam a santidade exigida pelo Espírito Santo, daí as muitas más interpretações e aberrações que nesse particular surgiram, a santidade passou a ser vista de modo negativo.
        Quem deseja entender melhor a questão da santidade precisa se ater a alguns textos bíblicos. Por exemplo, é no primeiro livro da Bíblia que encontramos o conceito de santificação, pois, no seu sentido usual, a palavra “santificar” significa separar. Veja em Gênesis 2.3, a Bíblia diz que Deus santificou o sétimo dia, você sabe que não existe dia santo, então, podemos entender que aqui o autor está falando de separar um dia não para ser santo, e, sim, para um propósito especial, esse dia tem um valor ético, para o descanso do homem. O conceito de santificar também se aplica à separação de homens para servirem a Deus, em Êxodo 28.41, observamos essa ideia, homens separados para o uso exclusivo da obra de Deus.
        A Bíblia fala ainda no livro de Êxodo 40.9 que até mesmo vasilhas e outros objetos eram separados para a obra de Deus, note que a santificação não está sendo tratada como um estado de moralidade, e, sim, de separação. Então, ser santificado significa ser separado para o uso de Deus; agora, uma coisa deve ser levada em consideração, a palavra santificar, que significa separar, carrega também a ideia de transformação, isto é, aqueles que foram separados para o uso de Deus, são pessoas que foram transformadas pelo seu poder, para serem usadas em sua obra, por meio dessa transformação o homem passa a viver em comunhão com Deus. Um cristão só pode viver em comunhão, só pode fazer o trabalho de Deus com prazer, se a sua vida já foi realmente transformada (Rm 12.1-21; Hb 12.14).
        A santificação no aspecto bíblico pode ser definida de três maneiras:
       a) Definitiva. Essa santificação é posicional, acontece quando a pessoa por meio da fé crê em Jesus Cristo, tem uma nova natureza aplicada em sua vida por meio do Espírito Santo de Deus e todos os seus pecados já foram perdoados. Então definitivamente essa pessoa está em uma nova posição em Cristo Jesus (1 Co 1.2);
        b) Progressiva. Esse tipo de santificação vai acontecendo a cada momento na vida do cristão e pode ser definido como crescimento espiritual, crescimento na graça de Cristo Jesus (1 Pe 3.18), enquanto a santificação definitiva fala de perdão, a santificação progressiva trata de crescimento;

        c) Final. Em Filipenses 3.12,13 Paulo deixa claro que busca ainda algo que está para o futuro, ou seja, a verdadeira perfeição final. Essa transformação final só acontecerá com a entrada do cristão no lar celestial, isso porque ele já foi transformado completamente, sendo assim, esse tipo de santificação é chamado de santificação final. Essa santificação é descrita por João, ele fala que na entrada do cristão no Céu, o cristão será semelhante a Cristo Jesus (1 Jo 3.2), então, a santificação final fala da total transformação do crente na sua entrada na glória. Em Hebreus 10.10, vemos que o autor fala sobre a santificação definitiva, que já aconteceu na vida do crente, isto é, já foram santificados, no verso 14, ele fala sobre a santificação progressiva, a santificação final da perfeição do crente, à semelhança de Jesus.




Bíblia The Word
A capacitação do Espírito para uma vida santa (gL 5.13-26). Comentários Expositivos - Hernandes Dias Lopes.
Paulo transmitiu a base doutrinária para as igrejas da Galácia; agora, está aplicando a doutrina. A teologia desemboca na ética; o conhecimento produz vida. A influência perniciosa dos falsos mestres entre as igrejas gentílicas trouxe grande confusão acerca dos limites da liberdade cristâ. Mais tarde Paulo tratou desse mesmo tema em sua Primeira Carta aos Coríntios (6.12; 8.9,13; 9.12,19,22; 10.23,24; 11.1).
Paulo, no texto em tela, esclarece a igreja sobre esse momentoso tema.
Compreendendo a liberdade cristã (Gl 5.13-15)
Há dois extremos perigosos com respeito à liberdade cristã: o legalismo de um lado e a licenciosidade de outro. Há aqueles que querem regular a liberdade apenas por regras exteriores. Esses caem na armadilha do legalismo e privam as pessoas da verdadeira liberdade em Cristo. Porém, há aqueles que, em nome da liberdade, sacodem de si todo o jugo da lei e querem viver sem nenhum preceito ou limite. Esses confundem liberdade com licenciosidade e caem na prática de pecados escandalosos.
William Hendriksen ilustra esse fato dizendo que a vida cristã é semelhante a atravessar uma pinguela que cruza sobre um lugar onde se encontram dois rios contaminados: um é o legalismo e o outro é a libertinagem. O crente não deve perder o equilíbrio para não cair dentro das faltas refinadas do judaísmo nem nos grosseiros vícios do paganismo. Concordo com John Stott quando diz que o cristianismo não é escravidão, mas um chamamento da graça para a liberdade. A liberdade cristã, porém, não é liberdade para pecar, mas liberdade de consciência, liberdade para obedecer. O cristão salvo pelo sangue de Cristo é livre para viver em santidade.
Destacamos aqui quatro verdades importantes.

Em primeiro lugar, a liberdade cristã não é uma licença para pecar. “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne...” (5.13a). No versículo 13 temos um chamado, uma advertência e um mandamento. Veremos neste ponto o chamado e a advertência e, no próximo ponto, analisaremos o mandamento. Fomos chamados para a liberdade, e não para a escravidão do pecado. Calvino destaca que, após exortar os gálatas a não permitirem nenhum impedimento de sua liberdade (5.1), Paulo agora lhes recomenda que sejam moderados em usá-la (5.13).
Fomos chamados para uma vida nova e não para viver com o pescoço na coleira do pecado. A liberdade cristã não é uma licença para pecar, mas o poder para viver em novidade de vida. A liberdade cristã não é licenciosidade, mas deleite na santidade. A liberdade cristã é a liberdade do pecado, não a liberdade para pecar. E uma liberdade irrestrita para aproximar-se de Deus como seus filhos, não uma liberdade irrestrita para chafurdar em nosso egoísmo. A licenciosidade desenfreada não é liberdade alguma; é outra forma mais terrível de servidão, uma escravidão aos desejos de nossa natureza caída.
Jesus disse que aquele que pratica o pecado é escravo do pecado (Jo 8.34). Paulo disse que o homem antes da sua conversão é escravo de toda a sorte de paixões e prazeres (Tt 3.3). A palavra “liberdade” está profundamente desgastada. Muitos defendem a liberdade do amor livre, a prática irrestrita do aborto, o uso indiscriminado das drogas e o homossexualismo. Isso, porém, não é liberdade; é escravidão.
A palavra grega aphorme, traduzida por “ocasião à carne”, era usada no contexto militar em referência a um lugar do qual se faz um ataque, se lança uma ofensiva. Portanto, significa um lugar vantajoso e também uma oportunidade ou pretexto. Assim, a nossa liberdade em Cristo não deve ser usada como um pretexto para a autoindulgência. Nessa mesma linha, Donald Guthrie explica que a palavra aphorme é um vocábulo militar para “base de operações”. Dessa forma, a carne é representada como um oportunista, sempre pronto a aproveitar-se de qualquer oportunidade.

Em segundo lugar, a liberdade cristã não é uma permissão para explorar o próximo. “... sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor” (5.13b). O método para impedir a liberdade de irromper em abuso imoderado e licencioso é regulá-la pelo amor. Quem ama não explora, mas serve o próximo. Somos livres para amar e servir, e não para explorar nosso próximo. O amor não pratica o mal contra o próximo. Como na parábola do bom samaritano, o cristão não agride o próximo nem passa de largo para não se envolver com os feridos, caídos à margem da estrada; mas vê, aproxima-se e cuida do próximo, ainda que seja seu inimigo. Concordo com John Stott quando diz: “Somos livres em nosso relacionamento com Deus, mas escravos em nosso relacionamento com os outros”.
Não podemos usar o próximo como se fosse uma coisa para nos servir; temos de respeitá-lo como pessoa e nos dedicar a servi-lo. Pelo amor temos de nos tornar douleuete, “escravos” uns dos outros, não um senhor com uma porção de escravos, mas um pobre escravo com uma porção de senhores, sacrificando o nosso bem pelo bem dos outros, e não o bem deles pelo nosso. A liberdade cristã é serviço, não egoísmo.

Em terceiro lugar, a liberdade cristã não é uma autorização para ignorar a lei. “Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (5.14). Somos libertos da condenação da lei, mas não dos seus preceitos. Não nos aproximamos mais da lei com o propósito de sermos aceitos por Deus; mas porque já fomos aceitos em Cristo, aproximamo-nos da lei para obedecer a Deus.
John Stott destaca com razão que, embora não possamos ser aceitos por Deus por guardarmos a lei, depois que somos aceitos continuamos guardando a lei por causa do amor que temos a Deus, que nos aceitou e nos deu o seu Espírito para nos capacitar a guardá-la. William Hendriksen complementa a ideia dizendo que a motivação do crente para obedecer a esse mandamento é a gratidão pela redenção consumada por Cristo; o poder para realizá-la é proporcionado pelo Espírito de Cristo (5.1,13,25).479
A síntese da lei é o amor, o amor a Deus e ao próximo. Aqui Paulo usa uma figura de linguagem, na qual ele toma uma parte como o todo. E que podemos ver a face de Deus no próximo e, quando amamos o próximo, estamos amando a Deus quem o criou. Deus resolve provar o nosso amor para com ele por meio do amor ao nosso irmão. E por isso que o amor é chamado de “...o cumprimento da lei” (Rm 13.8,10). Não porque o amor ao próximo seja superior à adoração a Deus, mas porque é a prova dessa adoração. Deus é invisível, mas se representa nos irmãos. O amor para com os homens flui do amor a Deus.480

Em quarto lugar, a liberdade cristã não é uma chancela para destruir o próximo. “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede que não sejais mutuamente destruídos” (5.15). Somos livres para amar e servir uns aos outros, e não para devorar e destruir uns aos outros. Nas igrejas da Galácia, os dois extremos — os legalistas e os libertinos - destruíram a comunhão.481 Os dois verbos gregos dakno, “morder”, e katesthio, “devorar”, sugerem animais selvagens engajados em uma luta mortal. Desse modo, a força da alma e a saúde do corpo, o caráter e os recursos, são consumidos por lutas e intrigas.482

Por Apazdosenhor



Lição 1 - As Obras da Carne e o Fruto do Espírito

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Gálatas 5.16-26.

16 — Digo, porém: Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne.
17 — Porque a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito, contra a carne; e estes opõem-se um ao outro; para que não façais o que quereis.
18 — Mas, se sois guiados pelo Espírito, não estais debaixo da lei.
19 — Porque as obras da carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia,
20 — idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas, dissensões, heresias,
21 — invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus.
22 — Mas o fruto do Espírito é: amor, gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão, temperança.
23 — Contra essas coisas não há lei.
24 — E os que são de Cristo crucificaram a carne com as suas paixões e concupiscências.
25 — Se vivemos no Espírito, andemos também no Espírito.
26 — Não sejamos cobiçosos de vanglórias, irritando-nos uns aos outros, invejando-nos uns aos outros.

 PONTO CENTRAL

O cristão deve andar em Espírito para vencer as obras da carne, pois sozinho jamais conseguirá.

I. ANDAR NA CARNE X ANDAR NO ESPÍRITO

1. O que é a carne? Dentro do contexto neotestamentário, o vocábulo carne é sarx. Essa palavra é utilizada para designar a natureza adâmica que domina o velho homem e o leva a praticar as obras da carne relacionadas em Gálatas 5.19-21. Edward Robinson, no seu dicionário de grego do Novo Testamento, utiliza a palavra sarx para descrever a natureza exterior que difere do homem interior (Lc 24.39). A palavra carne, no aspecto teológico, denota a fragilidade humana e a sua tendência ao pecado. Ela é a sede dos apetites carnais (Mt 26.41). O homem somente poderá viver em novidade de vida e no poder do Espírito Santo se, pela fé, receber Jesus Cristo como Salvador.
2. O que é o espírito? A palavra espírito no grego é pneuma. Esse termo significa sopro, vento, respiração e princípio da vida. Esse vocábulo também descreve o espírito que habita no homem o qual foi soprado por Deus (Gn 2.7). Logo, percebemos que esta palavra tem diferentes significados, e segundo o pastor Claudionor de Andrade, o seu significado teológico vai muito além: “Espírito é a parte imaterial que Deus insuflou no ser humano, transmitindo-lhe a vida”. Essa palavra também é aplicada, no Evangelho de João, em referência a Deus (Jo 4.24). A Terceira Pessoa da Santíssima Trindade é identificada no Novo Testamento como o Espírito Santo (Lc 4.1; Hb 3.7), e, uma vez mais é importante frisar que o Espírito Santo é uma pessoa.
3. Andar na carne x andar no Espírito. Paulo adverte os crentes mostrando que os que vivem segundo a carne, ou seja, uma vida dominada pelo pecado, jamais agradarão a Deus: “Portanto, os que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rm 8.8). O viver na carne opera morte (espiritual e física), mas o viver no Espírito conduz o crente à felicidade, à vida eterna (Rm 8.11; 1Co 6.14). Paulo foi enfático ao afirmar: “Andai em Espírito” (Gl 5.16). O Espírito Santo nos ajuda a viver em santidade e de maneira que o nome do Senhor seja exaltado. Sem Ele não poderíamos agradar a Deus. Quem pode nos ajudar e nos conduzir de modo a agradar a Deus? Somente o Espírito Santo. O doutor Stanley Horton diz que andar no Espírito e ser guiado por Ele significa obter vitória sobre os desejos e os impulsos carnais. Significa desenvolver o fruto do Espírito, o melhor antídoto às concupiscências carnais. Jamais tente viver a vida cristã pelos seus próprios esforços, tomando atalhos, buscando desvios, mas renda-se constantemente ao Espírito Santo, pois Ele lhe ensinará a maneira certa de viver a vida cristã.
Quando o Espírito Santo tem o controle do nosso espírito, Ele faz com que o nosso homem interior tenha forças e condições para opor-se às obras da carne. Andar na carne, ou seja, ser dominado pela velha natureza adâmica, leva a pessoa a portar-se de modo pecaminoso. Infelizmente, muitos crentes, como os de Corinto, estão se deixando dominar pelas obras da carne (1Co 3.3).

SÍNTESE DO TÓPICO (I)

A diferença entre a carne e o espírito, é que a carne foge de Deus e o espírito tem sede do Senhor.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

Professor, elabore um cartaz de acordo com o quadro abaixo. Utilize-o para fazer um contraponto Espírito x Natureza pecadora.
“Ao descrever este conjunto de opostos, Paulo nos lembra de verdades vitais e maravilhosas. O que não conseguimos fazer, Deus consegue e fará, tanto em nós quanto para nós. Nunca nos tornaremos as pessoas verdadeiramente boas que desejamos ser, tentando obedecer à Lei de Deus. Mas, nos tornaremos gradativamente mais justos à medida que confiarmos no Espírito de Deus para nos orientar e capacitar” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. 1ª Edição. RJ: CPAD, 2012, p.414).

CONHEÇA MAIS


 “O Espírito... contra a carne (Gl 5.17)
O conflito espiritual interiormente no crente envolve a totalidade da sua pessoa. Este conflito resulta ou numa completa submissão às más inclinações da ‘carne’, o que significa voltar ao domínio do pecado; ou numa plena submissão à vontade do Espírito Santo, continuando o crente sob o senhorio de Cristo (Rm 8.4-14). O campo de batalha está no próprio cristão, e o conflito continuará por toda a vida terrena, visto que o crente por fim reinará com Cristo (Rm 7.7-25; 2Tm 2.12; Ap 12.11)”. Para conhecer mais, leia Bíblia de Estudo Pentecostal, CPAD, p.1801.

II. OBRAS DA CARNE, UM CONVITE AO PECADO

1. A cobiça. Quem anda no Espírito resiste às obras da carne, pois somente cheios dEle teremos condições de viver de modo a exaltar e a glorificar o nome do Senhor. Quem de fato deve controlar a vida do crente é o Espírito Santo. Homem algum tem o poder de controlar ou transformar a natureza de outra pessoa, somente Deus tem esse poder. A natureza pecaminosa nos incentiva a viver em concupiscência, luxúria, desejos descontrolados e paixões impuras (2Pe 2.10). A Bíblia nos ensina que a concupiscência da carne não procede de Deus (1Jo 2.16). Eva cobiçou o fruto da árvore que Deus havia ordenado que não comesse. Seu desejo trouxe terríveis consequências para sua vida e para a humanidade (Gn 3.6). A cobiça de Acã o levou à morte (Js 7.21). Portanto, não permita que o desejo da carne, da velha natureza, domine você. Atente para o que Paulo ensinou às igrejas da Gálacia a respeito da cobiça da carne contra o Espírito (Gl 5.17). Os desejos da carne serão sempre contrários à vontade de Deus.
2. A oposição da carne. O seu espírito deseja orar, jejuar e buscar a Deus, mas a sua carne vai preferir ver televisão, comer bem e ficar no conforto da sua casa. Precisamos ter cuidado, pois a oposição da carne contra o Espírito é algo contínuo. Essa oposição somente será vencida se procurarmos viver cheios do Espírito Santo. A carne não pode ter vez na vida do crente, posto que a força do Espírito Santo é maior, porém o embate entre a carne e o Espírito vai perdurar até o dia que receberemos do Senhor um corpo glorificado (Fp 3.21).
O crente que realmente deseja fazer oposição às obras da carne precisa andar pelo Espírito, porque Ele não deixa que as paixões infames o domine. Para o crente existem duas maneiras pelas quais ele pode viver: na carne ou no Espírito. Ou você serve a Deus e permite que Ele domine sua natureza adâmica ou vive na prática das obras da carne. O que você escolhe?

SÍNTESE DO TÓPICO (II)

A carne não tem mais poder sobre o crente quando este entrega a direção da sua vida ao Espírito Santo.

SUBSÍDIO DEVOCIONAL

“Não cumprireis a concupiscência da carne
Quando nos tornamos crentes, a nossa natureza pecadora continua existindo. Mas Deus nos pede que coloquemos a nossa natureza pecadora sob o controle do Espírito Santo de modo que Ele possa transformá-la. Este é um processo sobrenatural. Nunca devemos subestimar o poder da nossa natureza pecadora, e nunca devemos tentar combatê-la com as nossas próprias forças. Satanás é um tentador ardiloso, e nós temos uma capacidade ilimitada de inventar desculpas. Em lugar de tentar superar o pecado com a nossa própria força de vontade, devemos aproveitar o tremendo poder de Cristo. Deus permite a vitória sobre a nossa natureza pecadora — Ele envia o Espírito Santo para residir em nós e nos capacitar. Mas a nossa capacidade de resistir aos desejos da natureza pecadora irá depender do quanto estamos dispostos a ‘viver de acordo’ com o Espírito Santo. Para cada crente, este processo diário requer decisões constantes” (Comentário do Novo Testamento: Aplicação pessoal. Volume 2. RJ: CPAD, 2010, p.294).

III. FRUTO DO ESPÍRITO, UM CHAMADO PARA SANTIDADE

1. O que é o fruto do Espírito? Segundo o Dicionário Bíblico Wycliffe, “o fruto do Espírito são os hábitos e princípios misericordiosos que o Espírito Santo produz em cada cristão”. Esses hábitos e princípios são o resultado de uma vida de comunhão com Deus. De acordo com Romanos 6.22, depois de liberto do pecado, o crente precisa desenvolver o fruto do Espírito. Os dons espirituais são dádivas divinas, mas o fruto precisa ser desenvolvido, cultivado. O Espírito Santo desenvolve o seu fruto em nós à medida que nos aproximamos de Deus e procuramos ter uma vida de comunhão e santidade.
2. Os frutos provam a nossa verdadeira santidade. Quando vivíamos no pecado, nossos frutos, ações, eram as obras da carne, mas libertos do seu poder e domínio, tendo uma nova natureza implantada em nosso ser, nos tornamos uma pessoa melhor. João Batista falou a respeito da importância de produzirmos frutos dignos de arrependimento (Mt 3.8). João estava dizendo que o arrependimento genuíno será acompanhado pelo fruto da justiça. O arrependimento genuíno é evidenciado pelos nossos frutos, ou seja, nossas ações. Como conhecemos uma árvore? Por seus frutos. Logo, o verdadeiro crente é reconhecido por seu caráter e suas ações.
3. A santidade que o Espírito Santo gera em nós. O Espírito Santo nos molda e nos ensina o que é certo e o que é errado à medida que buscamos a Deus em oração, leitura da Palavra e jejuns. Por meio da Palavra de Deus, o Espírito Santo vai trabalhando paulatinamente em nós, até que alcancemos a estatura de homem perfeito (Ef 4.13). Quando deixamos de ser meninos, estamos prontos para produzir bons frutos (Lc 8.8). O crente precisa andar em novidade de vida, em santidade. Segundo os pressupostos bíblicos, a santificação do crente é:
a) Posicional. Quando, por meio da fé, aceitamos Jesus Cristo como nosso único e suficiente Salvador, nossos pecados são apagados, recebemos o perdão divino e passamos a desfrutar de uma nova vida em Cristo (2Co 5.17). A natureza adâmica já não tem mais domínio sobre nós, e por meio da ação do Espírito Santo podemos experimentar o novo nascimento (Jo 3.3). Mediante a fé passamos a desfrutar de uma nova posição espiritual em Jesus Cristo.
b) Progressiva. A santificação é um processo que vai se desenvolvendo ao longo da nossa vida. Depois do novo nascimento, o crente precisa crescer na graça e no conhecimento de Cristo Jesus (1Pe 3.18). A santificação é gradual, progressiva e nos leva para mais perto de Deus.
c) Final. Em Filipenses 3.12.13, Paulo mostra que ele estava buscando uma transformação maior e final. Essa transformação somente acontecerá quando recebermos um corpo glorificado e nos tornarmos semelhantes a Jesus (1Jo 3.2).

SÍNTESE DO TÓPICO (III)

O fruto do Espírito produz a santificação na vida do crente que se manifesta de forma posicional, progressiva e final.

SUBSÍDIO TEOLÓGICO

“Andai em Espírito e não cumprireis a concupiscência da carne (Gl 5.16)
O texto original apresenta ‘andai (peripateite) em Espírito’. Esta frase reflete uma expressão idiomática comum em hebraico, na qual ‘andar’ significa ‘conduzir a própria vida’.
Os judaizantes disseram aos gálatas que conduzissem as suas vidas observando a Lei. Mas Paulo argumentou que a lei não tem papel algum na vida do cristão. A pessoa que procura ser ‘justificada pela lei’ (5.4) cai da graça, e se separa de Cristo como a fonte da vida justa.
Em Romanos 7.4-6, Paulo vai ainda mais adiante, e diz que a natureza pecadora (sarx, a carne) na verdade é energizada (ou estimulada) pela Lei.
Então, o que o cristão deve fazer? O cristão deve conduzir sua vida observando não a Lei, mas o Espírito de Deus. Pois, Paulo promete, a pessoa que olhar para o Espírito (confiar nEle) ‘não cumprirá a concupiscência da carne [sarx]’” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. RJ: CPAD, 2012, p.412).

CONCLUSÃO

Para vencermos o conflito existente entre a carne e o Espírito, precisamos tão somente nos encher do Espírito Santo e crucificar a nossa carne com suas paixões e concupiscências (Gl 5.24; Ef 5.18). Permita que o Espírito Santo guie você pelo caminho certo e que Ele controle os seus desejos de modo que o fruto seja evidenciado em sua vida.



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