JOSÉ, SABEDORIA
EM TERRA ESTRANHA
José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à
fonte;
seus ramos
correm sobre o muro.
— Génesis 49.22
Nos desígnios de Deus, a história de
José ganha um sentido especial. Naturalmente, não cremos que essa história
tenha algum caráter determinista, mas cremos que desde o seu nascimento (Gn
30.22-24) o dedo de Deus orientou os seus caminhos para que se cumprissem no
tempo próprio esses desígnios. Portanto, a história de José é uma das mais
belas histórias registradas na Bíblia Sagrada. É uma história salpicada pelo
amor de um pai ancião, a rejeição de seus irmãos invejosos e a beleza dos seus
sonhos que revelavam o futuro de sua família. Do capítulo 30, quando se inicia
a sua história, não há informações sobre o desenvolvimento físico c mental de
José até chegar aos 17 anos de idade. A partir do capítulo 37 até o capítulo
50, a história ganha em 13 capítulos um espaço especial no livro de Génesis nos
quais se revelam os desígnios de Deus na sua vida e na vida de sua família, a
qual se proliferou e se tornou um grande povo. Alguns fatos, alguns bons e
outros ruins, contribuíram para que os desígnios divinos se concretizassem na
vida de José, o qual se tornou um instrumento de bênção para toda a sua família.
Nessa história, somos atraídos pela sabedoria de José
extremamente útil nas várias circunstâncias de sua vida. José experimentou
desde jovem adolescente a inveja dos seus irmãos porque gozava de regalias que
os demais filhos não tinham. Era um modo errado de tratamento de Jacó, o pai,
com os demais filhos. Por causa dessas regalias de José, seus irmãos o odiaram
e o quiseram distante deles. Por isso, eles o prenderam e o jogaram num poço,
mas passando um grupo ismaelita que negociava escravos, venderam o irmão, que
foi conduzido como escravo e levado para o Egito. Naquela terra, vendido como
escravo a um senhor egípcio, não perdeu sua fé em Deus. Na casa de Potifar, o
seu senhor, José fez prosperar os negócios desse homem, mas foi alvo da
sensualidade sua mulher, que o tentou para um caso sexual. Não aceitando a
oferta sensual da mulher de Potifar, foi injustamente acusado de assédio sexual
e levado à prisão. N a prisão, sua fidelidade ao Deus do seu pai o fez um líder
capaz de interpretar sonhos dos outros presos. Não demorou muito para que fosse
descoberto como alguém especial para interpretar os sonhos de Faraó, vindo a
conquistar sua confiança. Faraó, rei do Egito, ficou tão impressionado com
José que o fez o grande e mais inteligente governador do Egito. José deixou uma
lição de sabedoria ao saber conduzir-se nas mais difíceis situações amparado
pela providência de Deus, mas, acima de tudo, de fidelidade a Deus. Nessa
história, trataremos especialmente de aspectos da sua fidelidade a Deus em meio
às crises por que passou.
ASPECTOS DA VIDA DE JOSÉ
Antes do
nascimento de José, seus pais experimentaram algumas crises que eclodiram
trazendo dissabores e tristezas para Jacó. A despeito de Jacó fazer parte do
projeto de Deus, sua vida familiar, ainda que próspera, não foi das mais
felizes, porque ele não soube administrar os assuntos familiares com sabedoria.
Do capítulo 30 até o 37, alguns fatos foram marcantes para o velho Jacó com a
perda de três pessoas importantes em sua vida: Débora, a ama de Rebeca (35.8);
sua amada esposa Raquel, no parto de Benjamim (35.16-20), e seu pai Isaque, que
morreu com 180 anos de idade e foi sepultado por seus filhos Esaú e Jacó junto
à sepultura de Abraão na cova de Macpela (35.27-29). José acompanhou o
nascimento de seu irmão Benjamim e teve uma vida de adolescente até aos 17 anos
cheia de sonhos e ambições como é típico dessa idade.
Quem Era José
José não foi um personagem comum da história bíblica. Sua
vida é o testemunho vibrante de um homem de enorme integridade que foi capaz de
superar as maiores adversidades ao longo de sua vida dando exemplo de amor,
inteligência e perdão. Sua história é uma inspiração, e não pode nunca ser
esquecida. Ora, entendemos que a Bíblia é a revelação de Deus e sua vontade
para a vida humana e, como disse o apóstolo Paulo aos Romanos 15.4: “Porque
tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito, para que, pela
paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança”. A palavra dantes
abrange todas as verdades inseridas nas histórias bíblicas. São verdades que
ensinam no presente e são uma esperança para o futuro. Por isso, a vida de José
é uma grande inspiração de fé e esperança.
Portanto, do seu nascimento até aos 17 anos (Gn 30.24—
37.2), a sua família era constituída pelos filhos de Lia (ou Leia), pelos
filhos das concubinas Zilpa e Bila, e, por último, por seu irmão Benjamim,
filho de Raquel (Gn 30.22-24; 35.16-18). A partir dos 17 anos até os 30 anos,
iniciou-se um segundo ciclo da sua vida (Gn 37.2-41.46).
José, Objeto de uma Crise de Família
Nesse segundo período de sua vida, o descontrole familiar
por parte de Jacó privilegiou uns em detrimento de outros. Jacó não percebeu
que sua atitude para com os filhos deu início a um antagonismo dos irmãos de
José por causa dos seus privilégios para com o pai. O fruto desse antagonismo
familiar para com José resultou em inveja, escravidão, prisão injusta e
humilhação que estiveram presentes na sua vida.
A partir dos 30 anos de idade até a sua morte (Gn
41.46-50.26), em especial os oito últimos anos, foram marcados pelo cuidado de
Deus à sua vida e houve muita prosperidade no sentido material, político,
social c espiritual. Foi a recompensa pela sua fidelidade a Deus e a capacidade
tle administrar sua vida de modo inteligente, que fosse bom para si mesmo e
para a glória de Deus. Foi nesse período que José deixou a maior lição de
perdão aos seus irmãos, superando todos os ressentimentos e vivendo uma vida de
paz e harmonia entre todos. Nesse tempo, o Senhor permitiu que visse o rosto de
seu pai e ainda trouxesse toda a família para o Egito, perdoando-os,
abençoando-os e protegendo-os. Fazendo um retrocesso para entender melhor a
história de um vencedor de crises, vamos considerar alguns elementos vitais
dessa historia.
José, uma Bênção Transformada em Crise
É interessante perceber na Bíblia que as pessoas que Deus
escolheu para manifestar a sua glória e fazer delas o direcionamento de sua
vontade nunca foram perfeitas. Pelo contrário, sempre foram pessoas normais,
com valores e defeitos, mas que, de algum modo, Deus viu nelas a capacidade de
reconhecerem a sua soberania. Foi o caso do pai de José, o velho Jacó. Em
termos de qualidade familiar, Jacó náo soube administrar muito bem a seus
filhos e a sua casa. Porém, há algo especial que Jacó passou para seus filhos:
o seu temor a Deus.
Quando nasceu José, foi considerado como “o filho da sua
velhice”, o primeiro de Raquel. Sua paixão por Raquel o fez trabalhar 14 anos
para que ela fosse liberada e concedida em casamento com ele. Depois dos
primeiros anos trabalhados por Raquel, o velho Labão, seu sogro, o enganou e
lhe deu Leia (Lia), a irmã de Raquel, e com Lia (Leia) teve sete filhos. Mas
sua paixão por Raquel o fez trabalhar outros sete anos na fazenda de seu sogro
Labão, para ter a mão de Raquel em casamento.
Casando-se com Raquel, ficou decepcionado porque ela era
estéril e não pôde lhe dar filhos imediatamente, mas ele não deixou de amá-la.
A esterilidade era o maior estigma para a mulher naquela antiga cultura e, por
isso, Raquel sentia-se humilhada, porque não ter filhos se constituía uma
desgraça para ela e seu marido. Mas o Senhor interferiu no útero de Raquel e a
capacitou para engravidar de José, para sua alegria e de Jacó. Portanto, a
alegria desse filho de Raquel fez com que Jacó o amasse tanto que acabou
criando uma situação incomoda dentro da família. Sua dedicação a José o tornou
rejeitado pelos irmãos. Para aumentar ainda mais o ódio de seus filhos, o velho
Jacó privilegiou José dando-lhe uma túnica de várias cores, enquanto os demais
continuavam com suas roupas de linho branco áspero. Essa atitude negativa de
Jacó provocou não somente inveja e ciúme dos irmãos de José, mas o desejo de se
livrarem dele.
Dentro de uma família, todos devem ser amados por igual,
independentemente das diferenças de temperamento que cada filho tenha. Jacó foi
um mau exemplo de paternidade, porque não soube administrar com sabedoria os
sentimentos de sua família.
José, o Alvo de uma
Crise de Relações entre seus Irmãos
Duas razões principais podem ser percebidas no comportamento
dos irmãos de José. O ódio cresceu em seus corações como uma planta venenosa
porque eles não conseguiam admitir o tratamento que seu pai dava a José em
detrimento dos demais irmãos. Uma das razões do ódio de seus irmãos restava da
denúncia que José fazia ao pai das más ações cometidas por seus irmãos quando
estavam longe da vista do pai. Seus irmãos o viam como um traidor deles porque
era o favorito de seu pai e porque a esposa favorita de seu pai era Raquel, sua
mãe (Gn 37.3). E difícil entender por que uma família com vários conflitos e
com pessoas cheias de ódio, inveja, falsidade e mau comportamento estaria nos
desígnios de Deus para a formação de um grande povo. Mas Deus não pensa como
nós e nem julga pelos mesmos critérios que nós humanos julgamos. A justiça de
Deus é perfeita e seus desígnios estão acima da nossa capacidade de julgar.
A outra razão desse conflito familiar contra José estava no
fato de ele ser um sonhador que sempre despontava como líder. Quando José
aparecia, de repente, para ver como estavam os seus irmãos, eles diziam uns
para os outros: “Lá vem o sonhador!” (Gn 37.19, ARA). N o seu último sonho, ao
contar para seus irmãos, o enredo do sonho irritou tanto a eles que resolveram
entre si dar cabo da vida de José. Mas, ouvindo um dos irmãos mais velhos,
decidiram não matá-lo, mas vendê-lo para mercadores de escravos. José contou o
sonho aos irmãos, quem sabe por uma inocência de malícia, mas o sonho provocou
ainda mais o ódio deles, porque entendiam que José se colocava sempre superior
a eles (Gn 37.5-8).
Quando José lhes contou o sonho dos feixes de grãos que,
atados, estavam em torno do seu feixe, que era o principal, e se inclinavam
perante ele, essa história foi o suficiente para que o odiassem ainda mais (v.
8).
Certamente, nem eles, nem José, podiam imaginar que se
tratava de uma visão futura que aconteceria dentro dos desígnios divinos, mas
não sabiam como interpretar (Gn 42.6; 46.29,30). Sem poderem entender o futuro
que lhes reservava, ao ouvirem o sonho de José, preferiam considerar que se
tratava de uma ambição e presunção daquele adolescente. N a verdade, nos
desígnios de Deus, era uma antevisão do tempo em que ele estaria no Egito como
governador e que seu pai e seus irmãos teriam que se inclinar perante ele, o
feixe maior (Gn 45.1-8) Nem o seu velho pai aceitou bem o sonho de José, pois o
via como presunção da parte dele. Por causa dessa situação, José foi odiado e
maltratado por seus irmãos, premeditando até mesmo matá-lo para se verem livres
dele (Gn 37.17-20).
JOSÉ SUPERA A CRISE DE HUMILHAÇÃO
A Humilhação
da Rejeição de seus Irmãos
Rúben, o
filho primogénito de Jacó, não deixou que seus irmãos cometessem um assassinato
com seu próprio irmão (Gn 37.21,22). Mesmo sabendo que o plano irrefletido de
seus irmãos traria maldição sobre suas vidas, Rúben sugeriu que jogassem José
numa cisterna velha sem água (Gn 37.24). Antes de o lançarem na cisterna,
tiraram sua túnica de cores e a encharcaram de sangue de um cabrito morto para
levarem ao pai a túnica rasgada e tingida de sangue e, assim, passarem a ideia
de que José tivesse sido atacado por algum animal violento (Gn 37.31). Cheios
de ódio contra José, depois de o terem lançado numa cisterna, viram uma
caravana de ismaelitas de caminho para o Egito e o venderam para essa gente (Gn
37.28).
A Humilhação da sua
Venda aos Ismaelitas
Os ismaelitas eram um povo descendente de Ismael, filho de
Abraão e Agar, a escrava egípcia que servia a Sara, sua esposa do patriarca.
Naturalmente, tanto Ismael quanto Isaque eram velhos e formaram suas famílias.
Ismael cresceu e se desenvolveu no deserto, e Isaque, na terra de Canaã. Muitos
anos se passaram e os seus filhos, sem perceberem suas origens abraâmicas, se
encontram. Os ismaelitas que passavam por aquela região em que se encontravam
os filhos de Jacó eram mercadores, tanto de joias quanto de escravos. Segundo a
história bíblica, semelhante às 12 tribos de Israel, também havia uma promessa
de Deus sobre os filhos de Ismael, que formariam doze tribos com a sua gente
(Gn 17.20; 25.12- 16). Portanto, os ismaelitas, além de meio-irmáos dos filhos
de Abraão, eram tribos que viviam no deserto e que negociavam com outros povos.
Nesse encontro casual, os filhos de Jacó não perderam a oportunidade de
negociar com aqueles mercadores a venda de seu irmão José. Eles o venderam como
escravo aos ismaelitas, que lhes deram 20 moedas de prata (Gn 37.28).
A Humilhação da Mentira da Túnica Tingida de Sangue
A ideia de encharcarem a “túnica de cores” que José vestia
para enganar o velho pai Jacó é típica de ações modernas de lideranças, não só
no mundo dos homens, na vida política, mas até mesmo no seio da igreja. São
ações mentirosas e falsas para esconder a verdade. Que Deus nos guarde dessas
ações falsas!
Na história dos irmãos de José, a tentativa era de amenizar
suas consciências e enganar a Jacó, o pai. Imaginaram ter se livrado de José
sem o terem matado, e que essa ação os livraria de uma culpa de assassinato e
amenizaria a culpa por terem vendido o próprio irmão. Ao apresentarem a túnica
de cores cheia de sangue de cabrito com o intuito de enganar a seu pai Jacó,
fizeram-no chorar por muitos dias de tristeza, pois imaginava ter perdido seu
filho José para sempre. O velho Jacó não sabia das peripécias enganosas de seus
filhos. O ciúme e a inveja de irmãos de José foram de uma crueldade sem
precedentes, que encheram o coração do velho pai com grande tristeza (Gn 37.31-
35). Esse estado de coisas ruins foi experimentado por Jacó por causa de má
administração familiar. Lamentavelmente, isso não teria acontecido se Jacó
tivesse sido mais justo com os seus irmãos na formação do caráter deles. Toda
esta situação foi fruto da passividade de Jacó no trato com seus filhos.
JOSÉ SUPERA A CRISE DE SUA ESCRAVATURA NO EGITO
Tão logo
chegaram ao Egito, os ismaelitas conduziram José ao mercado de escravos. Seu
corpo jovem, forte e bonito chamou a atenção de compradores. Não demorou a
aparecer compradores. Surgiu um homem, eunuco de Faraó, capitão da guarda do
Palácio de Faraó, e o comprou para servir na sua própria casa. A partir de
então a história da vida de José ganha um sentido especial na presciência
divina. José Supera as Adversidades de sua Humilhação O que é uma adversidade?
Significa “contrariedade, revés, infortúnio, aborrecimento, crise”. José
experimentou vários reveses que o fizeram sofrer, mas ele foi capaz de não
perder o “bom senso” nem se deixou dominar por sentimentos de mágoa e
ressentimento. Da terra de Canaã, José foi comprado pelos mercadores ismaelitas
e levado ao Egito. No Egito, José foi conduzido ao mercado de escravos e, mais
uma vez, foi vendido para um oficial da corte real de Faraó. O oficial, que se
chamava Potifar, levou José para a sua casa. Ao perceber que o jovem escravo
tinha características diferentes e superiores aos demais escravos, Potifar o
colocou como mordomo sobre toda a sua casa, bem como sobre seus negócios. Mesmo
sendo escravo, José era privilegiado pela sua inteligência e caráter, e
continuou a acreditar nos seus sonhos, ainda que em circunstâncias que pareciam
contradizê-los.
José, Elevando de Simples Escravo à Função de Mordomo
Potifar percebeu que José era um serviçal diferente. Tinha
ideias e contribuía com seu senhor para fazer prosperar a sua fazenda. Porfiar
percebeu, também, que José era um jovem com qualidades morais invejáveis. Por
isso, não teve dúvidas em elevá-lo de simples escravo à função de mordomo,
gerindo sobre todos os negócios da sua casa. Deus o honrou porque manteve sua
fé no Deus de seu pai. Os negócios geridos por José na casa de Potifar
prosperaram grandemente, e Deus era com ele.
Ele poderia, quem sabe, ter vivido uma crise de identidade e
ser um homem triste e sem esperança, mas foi capaz de romper com essa
adversidade mantendo-se fiel a Deus. José foi um exemplo de superação nas
crises porque não perdeu o foco de Deus na sua vida. Uma importante lição que
aprendemos com essa situação vivida por José é que se antes ele podia exibir
uma túnica de cores que lhe dava a imagem de superioridade, no Egito, nos seus
primeiros anos, “a arrogância devia ceder ao caráter, a autoconfiança à dependência
e confiança em Deus apenas , escreveu Lloyd John Ogilvie. A mão de Deus estava
com ele em tudo que fazia. Os seus sonhos seriam concretizados no tempo de
Deus, mas convinha que ele enfrentasse todas aquelas adversidades para
reconhecer a soberania divina. Em seu serviço a Potifar, em sua fazenda, Jose
manteve sua fé em Deus, e os traços de seu caráter se manifestaram em sua
lealdade ao seu senhor e fidelidade ao seu Deus.
José Resistiu à Tentação Sexual da Mulher de Potifar
José estava sob a guarda de Deus. Os planos divinos não
foram desfeitos na vida de José por causa daquela circunstância de sua
escravatura. Pelo contrário, José sabia que os sonhos eram de Deus e não seriam
frustrados. O Diabo é o inimigo dos servos de Deus e procura sempre criar
embaraços para a efetivação da vontade divina. Tribulações provocadas e
tentações que poderiam obstruir o plano de Deus surgem, e não foi diferente na
vida de José.
O registro da história nesse episódio diz que “José era
formoso de aparência e formoso à vista” (Gn 39.6). Fisicamente, era um jovem
bonito, com porte atlético que chamava a atenção. A mulher de Potifar não tinha
escrúpulos nem decência moral. Por isso, atraída pela beleza física de José,
procurou seduzi-lo para um caso extraconjugal. Queria levá-lo para a cama de
qualquer maneira. Ela tramou situações pelas quais pudesse atrair o jovem
mordomo. Mas José, fiel a seus princípios de temor a Deus e de respeito próprio
e pelo seu senhor, rejeitou a proposta dessa mulher. Ela armou ciladas para levar
José para sua a cama, usando de artifícios ate pegá-lo a força e segurando pela
roupa de José, mas ele foi forte o suficiente para escapar das suas mãos a
ponto de ficar com parte das vestes rasgadas (Gn 39.12). Antes do ataque dessa
mulher, José argumentou com ela que não podia praticar tal ato de traição ao
seu senhor, que confiava nele. Ela se fez de vítima e acusou José de tentativa
de sedução e estupro (Gn 39.14-18). Potifar ouviu a acusação mentirosa de sua
mulher contra José e o mandou para a prisão, onde estavam os presos da casa
real de Faraó. Ele venceu a tentação, mas teve que, mais uma vez, sofrer
humilhação, indo para a prisão.
Temos dificuldades em entender os propósitos divinos quando
Deus permite que passemos por situações embaraçosas para podermos chegar ao que
Ele quer. Mesmo que mantenhamos conduta respeitável e sejamos fiéis aos
princípios cristãos da Palavra de Deus, Ele espera que sejamos amadurecidos e
moldados no crisol da experiência para chegarmos ao ponto ideal da vontade de Deus.
Talvez José tivesse dificuldades para entender por que tinha de sofrer aquelas
humilhações mesmo sendo fiel a Deus. Mas ele não se deixou vencer por essas
circunstâncias, porque, no fundo do seu coração, sabia que havia algo maior
para a sua vida.
JOSÉ SOUBE SE CONDUZIR COM SABEDORIA DENTRO DA PRISÃO
José Foi
Abençoado por Deus dentro da Prisão
bom senso e
o desejo de vingança em algumas circunstâncias. José, pelo contrário, não
perdeu o bom senso quando injustamente foi para a prisão, porque tinha a
consciência limpa e não havia perdido a fé em Deus que o ajudaria mais uma vez.
Em vez de ficar na passividade, ele procurou reagir com atitude disciplinada de
não se deixar dominar pela ira, pelo rancor, podendo alimentar ideias de
vingança. José procurou agir com coerência, tomando o controle da situação em
que estava. Era um preso igual aos outros, mas que podia fazer diferença caso
se mantivesse equilibrado e confiante em Deus. Na verdade, ele se tornou uma
vítima da injustiça, porque o seu senhor nem quis ouvir a verdadeira história
que envolveu a mulher de Potifar. Por algum tempo, mesmo tendo conquistado a
confiança do oficial responsável pelos presos, ele estava preso e esquecido.
No mundo em que vivemos, existem tantas histórias de
injustiças de pessoas punidas por algo que não praticaram. No Novo Testamento,
o apóstolo Pedro parecia estar se referindo a esse tipo de injustiça quando
escreveu: “Porque é coisa agradável que alguém, por causa da consciência para
com Deus, sofra agravos, padecendo injustamente. Porque que glória será essa,
se, pecando, sois esbofeteados e sofreis? Mas, se fazendo o bem, sois afligidos
e o sofreis, isso é agradável a Deus” (1 Pd 2.19,20). Esta escritura revela a
todos nós que Deus age, também, através das circunstâncias adversas para que o
conheçamos e nos inteiramos de seu projeto para nós.
José sabia que havia um propósito maior para a sua vida. Ele
sabia como Deus trabalha para um propósito, mesmo que não o compreendamos
inicialmente. Deus disse ao profeta Isaías: “Porque os meus pensamentos não são
os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos, os meus caminhos, diz o Senhor”
(Is 55.8). Portanto, para José, os sonhos que tivera quando ainda estava na
casa de seu pai não eram meras figuras sem sentido, mas continham a revelação
de que Deus faria com ele algo muito superior a qualquer circunstância adversa.
Eram os sonhos que tivera ainda na casa do pai em Canaã. Ele sabia que, de
algum modo, Deus cuidaria dele naquela adversidade dentro da prisão (Rm 2.4; SI
36.7; 119.76). Talvez ele pudesse declarar como Davi no Salmo 124.2-4: “Se não fora o Senhor, que esteve ao nosso lado, quando os
homens se levantaram contra nós, eles, então, nos teriam engolido vivos, quando
a sua ira se acendeu contra nós; então, as águas teriam transbordado sobre nós,
e a corrente teria passado sobre a nossa alm a; então, as águas altivas teriam
passado sobre a nossa alm a”. Lá dentro da prisão, José,
inteligentemente alcançou graça e simpatia com o carcereiro-mor, que viu nele
qualidades de um homem reto, ético e autêntico, e não um bandido.
José Alcançou Graça perante o Capitão da Guarda dentro da
Prisão
Naquela prisão, José foi sustentado pela benignidade de
Deus. Ele poderia ter sido afetado psicologicamente com a lembrança ruim de
algumas experiências que teve quando foi tratado de modo injusto por seus
irmãos. Lembrança da intenção dos seus irmãos de querer matá-lo e, não podendo
concretizar o plano de assassinato, o venderam como escravo. Ele poderia, no
interior daquela prisão, sentir-se só, abandonado, esquecido de todos. Mas,
pelo contrário, José não se deixou vencer pelo negativismo; ele foi capaz de
manter seu espírito pronto para superar mais uma vez aquela situação. Logo, o
capitão da guarda da prisão agraciou-se tanto de José que o fez líder dentro da
prisão. Estavam presos naquela prisão dois funcionários especiais da cozinha da
casa de Faraó, o copeiro-mor e o padeiro-mor, com os quais o rei havia se
aborrecido e mandou prendê-los. José fez amizade com os dois presos da casa do
rei e ganhou a confiança deles. Pela providência divina, aqueles dois presos da
casa do rei tiveram sonhos e contaram a José, que os interpretou (Gn 40.5-13).
Inteligentemente, José interpreta o sonho do copeiro-mor, afirmando-lhe que seria
restaurado à sua posição para com o Faraó. Então, José pediu a esse copeiro-mor
que, quando estivesse servindo ao rei o seu vinho, lembrasse dele perante o
rei. Posteriormente, a interpretação se confirmou com o destino dos dois
presos. O padeiro-mor foi enforcado, mas o copeiro-mor foi restaurado à sua
posição. Contudo, diz o texto que “o copeiro-mor [...] não se lembrou de José;
antes, se esqueceu dele” (Gn 40.23). Por algum tempo, José continuou preso,
esperando apenas em Deus a interferência no momento certo. Dois anos se
passaram desde que o copeiro do rei voltou ao seu serviço, até que o Faraó teve
um sonho, e o copeiro lembrou-se de José (Gn 41.12-14).
JOSÉ REVELA SABEDORIA E HUMILDADE DIANTE DE FARAÓ
Por algum
modo especial, a mão de Deus estava sobre José. Ficou dois anos esquecido no
seu cubículo dentro da prisão, tendo oportunidade para pensar, refletir e
comungar com Deus sobre todas as coisas na sua vida desde que saiu de casa aos
17 anos de idade. Sua experiência com Deus lhe propiciou a oportunidade de
adquirir conhecimento e aguçar sua inteligência para usá-la no momento certo.
Depois de dois anos desde que o copeiro do rei fora liberto e voltara à sua
posição anterior, não havia se lembrado ainda de José. Então, Faraó teve sonhos
que lhe tiraram o sono da noite. Querendo a interpretação dos sonhos e não a
tendo pelos seus adivinhos e astrólogos, surge o copeiro, que, ao servir o
vinho ao rei, lembrou-se de José. A partir de então, uma nova jornada na vida
de José se inicia.
José Foi Lembrado perante Faraó
José tinha o coração íntegro. Embora as nuances daquele
momento que vivia na prisão pareciam desmoronar sobre sua vida, mas ele não
perdeu a esperança. A providência divina, que age no momento certo,
propiciou-lhe a oportunidade da mudança de situação. Deus concedeu dois sonhos
tão contundentes e significativos que desestabilizaram completamente o Rei.
Pela cultura egípcia, os sonhos eram supervalorizados e
interpretados como presságios bons ou ruins às pessoas que tinham esses sonhos.
Não conseguindo entender o que os seus sonhos representavam, Faraó ficou com o
espírito angustiado em busca do entendimento desses sonhos. Convocou seus
magos, adivinhos e astrólogos para que os interpretassem, mas nenhum deles
conseguiu convencer o rei acerca do significado daqueles sonhos. Esses
astrólogos e adivinhos viviam à mercê do palácio e, naquele momento, náo
conseguiam dar nenhuma interpretação que convencesse o rei das suas pretensas
interpretações (Gn 41.8). Então, quando o copeiro do rei lhe servia o vinho,
vendo a perturbação do seu coração, já havia se passado dois anos, quando se
lembrou de José. Então o copeiro falou ao rei sobre o que acontecera com ele e
o padeiro-mor, tendo-se cumprido fielmente a sua interpretação. O rei ficou
pasmado com a exatidão do cumprimento dos sonhos do padeiro e do copeiro, e
ordenou que trouxessem José à sua presença. O que podia parecer esquecimento e
atraso no plano divino era, de fato, o momento exato da interferência divina
para que José saísse do seu sofrimento. Os homens podem esquecer facilmente,
mas Deus não nos esquece. Tudo quanto José havia passado era, na verdade, uma
oportunidade de ser preparado para a grandeza. De experiências sombrias em
grande parte da sua vida, José agora experimenta a mão de Deus o conduzindo
para um lugar ao sol.
José Foi Conduzido à Presença de Faraó
Ninguém podia
ir à presença do rei como um escravo, mal vestido e com imagem de maltrapilho
(Gn 41.14). Ele foi preparado para entrar na presença do rei e, quando entra na
sala do rei, mesmo estando com vestidos novos e nobres, José não entrou na sala
do trono com arrogância, mas com humildade e temor a Deus. Ele sabia que fora
Deus quem o fizera chegar à sala do trono. O rei disse da informação que teve a
seu respeito como alguém que sabia interpretar sonhos. José, de imediato,
respondeu ao rei: “Isso não está em mim; Deus dará resposta de paz a Faraó” (Gn
41.16). O rei contou o sonho para José ouvir. Depois de atentamente ter ouvido
o rei, José mais uma vez falou: “Esta é a palavra que tenho dito a Faraó; o que
Deus há de fazer, mostrou-o a Faraó” (Gn 41.28).
Esse episódio nos leva a refletir que o sofrimento, quando
tratado de modo equilibrado, pode moldar uma vida e levá-la à grandeza. Sem
dúvida, as lutas e cicatrizes da vida formam o fundamento para conquistas
maiores quando sabemos administrar essas adversidades. Temos dificuldades em
admitir que os sofrimentos podem nos ensinar a lidar com circunstâncias
adversas. Cada episódio na vida de José, desde sua saída da casa de seu pai,
está dentro dos desígnios de Deus. Agora, depois de tantas humilhações, José é
abençoado pelo Senhor caindo na graça de Faraó.
José Ouviu e Interpretou os Sonhos de Faraó
Sem dúvida, o ponto crítico desse encontro de José com Faraó
foi o seu sonho. José não podia imaginar que nesse dia, como qualquer outro dia
na cela da sua prisão, repentinamente ele foi levado perante o rei. Foi o
começo de algo maravilhoso preparado por Deus para a vida de José. Aquele dia
especial foi precedido por um sonho perturbador que o rei tivera, mas Deus o
conduziu àquele momento especial.
O rei contou os
sonhos a José, e o Espírito de Deus abriu o seu entendimento para dar a
interpretação. José declara ao Faraó que o Deus de seus pais, o seu Deus, daria
a resposta de paz ao coração do rei (Gn 41.16). Com graça e revelação, a mente
de José foi iluminada pelo Espírito Santo, e ele interpretou os sonhos
afirmando que os dois sonhos se resumiam num só, pois dentro de pouco tempo o
Egito passaria por uma grande escassez de alimentos. Para evitar a crise, o rei
deveria prover os reservatórios e celeiros de alimentos para os tempos
difíceis. José achou graça diante de Faraó, que ficou impressionado com a sua
habilidade e facilidade argumentativa sob a égide do Espírito Santo, a ponto de
falar com tanta clareza acerca dos sonhos. A graça de Deus foi uma demonstração
da soberania divina sobre sua vida. O Faraó, imediatamente, entendeu que José
tinha inteligência e habilidade administrativa para ser o seu governador sobre
todo o Egito, estando abaixo apenas do próprio Faraó (Gn 41.33-57).
CONCLUSÃO
José foi
exaltado em todo o Egito e ninguém era maior que ele. Como governador, José
soube ser leal ao Faraó e administrar todo o Egito com muita lucidez e graça
diante de Deus. Por isso, José é um testemunho de que Deus nunca nos esquece.
Todas as dificuldades pelas quais passamos na vida, especialmente quando
estamos dentro de um plano divino, sáo modos distintos de aprendermos a lidar
com as várias situações. Antecipadamente, Deus preparou o espírito de José para
as crises que enfrentaria quando lhe falou por meio de sonhos. José não se
esqueceu de que Deus estava com ele, não só nas humilhações, mas também quando
exaltado diante dos homens para que a glória de Deus fosse lembrada.
As crises existenciais são
superadas por uma fé genuína em Deus.
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