Capítulo 3
ABRAÃO — DESAFIOS DE UM HOMEM TEMENTE A DEUS
Na cronologia histórica do Genesis, nos
capítulos 1 ao
11, temos o relato da criação da terra e a criação do
homem, obra-prima de Deus. Esses onze capítulos são absolutamente vitais para
entender o restante da Bíblia. Da criação ao Dilúvio, as datas aproximadas
envolvem os anos 3975-2319 a.C., e
do Dilúvio até a Era Patriarcal temos os
anos 2319-1967 a.C. Na cronologia bíblica, quando Deus chamou a Abraão, em Ur
dos Caldeus, o patriarca tinha 75 anos
de idade no ano aproximado de 1892
a.C.
No contexto dos primeiros onze
capítulos, quatro homens importantes se destacam na história da humanidade, que
são: Adão, Sete, Enoque e Noé. Nesses mesmos capítulos, destacam-se,
especialmente, quatro importantes eventos,
que são: a criação, a queda do homem pelo pecado, o Dilúvio
e a torre de Babel. Os
primeiros acontecimentos da história da humanidade encontram-se no contexto desses
capítulos. Na etapa histórica da
obra da criação, Deus trata com toda a terra, com o mundo dos homens como um
todo.
A partir do capítulo 12, inicia-se a era patriarcal, e nessa etapa
aparecem os patriarcas Abraão, Isaque,
Jacó e José. Nesses
próximos capítulos (12 a 50), depois da confusão de línguas em Babel
(Gn 11), espalharam-se as gentes
por toda parte e as características raciais se tornaram distintas por toda a
terra. As organizações tribais, as línguas e as etnias acabaram por formar as nações
espalhadas no mundo inteiro. Organizaram-se, também, sistemas de
governo de povos,
de famílias e tribos, e iniciou-se a era patriarcal, em que o pai de
família se constituía em chefe, príncipe de tribos e famílias. Surgiram alguns
personagens históricos, ancestrais de Abraáo que deixaram a marca de
suas vidas na história, m as
foi Abraão que Deus escolheu
para estabelecer um novo
pacto que alcançasse todas as nações do mundo.
Abraão é advindo de uma família
pagã ainda na Mesopotâmia, uma região que é ocupada, hoje, pela Turquia e pelo
Iraque. A Mesopotâmia dos tempos
abraâmicos era uma terra fértil, margeada por dois importantes rios —
o Tigre e o Eufrates.
Foi nessa terra que Deus, por sua onisciência e providência, escolheu Abraão como
o ponto de partida para formação de um povo especial
que o servisse e o representasse na terra. Deus, Yahweh Adonai, em meio à
humanidade corrompida pelo pecado desde Adão,
escolhe Abraão e percebe nele
qualidades com as quais poderia resgatar sua soberania no mundo de então.
Abraão, além de inteligente e
perspicaz, era homem de grande sensibilidade espiritual, propiciando-lhe o
encontro com o Deus eterno, invisível e poderoso, rejeitou a todos os deuses de
sua família, creu nEle “e isso lhe foi imputado como justiça” diante desse Deus
(Rm 4.3). Abraão descobriu pela fé que era possível falar com esse Deus e o
Senhor podia contar com Ele. A partir de
então, desenvolveu-se uma relação com um Deus Vivo e Pessoal, com o qual ele
podia se comunicar.
DESAFIOS DO CHAMADO DE DEUS
Um Projeto da Presciência Divina
A presciência é um dos atributos
divinos que é pertinente só ao Deus trino.
Por esse atributo,
Ele sabe todas
as coisas e
nada do universo criado fica
fora do seu
conhecimento. E inerente
à natureza divina a
presciência. Nesse sentido,
existem outros atributos
da divindade que são relativos,
são comunicáveis às suas criaturas racionais,
anjos e homens. Um desses
atributos comunicáveis é a
sua providência. Em sua providência, Deus
preserva e governa tudo no
universo. A Bíblia diz que Ele sustenta
“todas as coisas pela palavra do seu
poder” (H b 1.3). Em sua providência, Ele planeja, cuida e executa
seu plano com o homem de modo
individual. Por sua
presciência, Deus conhece todas as coisas,
não só do passado
e presente, mas também
do futuro. Em sua
providência presciente, o Deus de toda
provisão tinha um projeto de resgate da sua comunhão com a
humanidade perdida pelo pecado. Existem
fatos na história da
humanidade que desafiam a curiosidade humana. São fatos que extrapolam o
conhecimento humano porque eles advêm dos projetos de Deus. São
fatos espirituais relacionados com os mistérios da divindade, e não é possível
entendê-los por meios naturais. Para
nós, suas criaturas,
os eventos do mundo
nos surpreendem, mas para
Deus, nada do que acontece é
surpresa. Todos os eventos da
criação, da natureza, físico
e da nossa vida são conhecidos
de Deus. Em meio a tantos
personagens interessantes da história, desde Adão, foi exatamente Abraão quem
Deus escolheu para tecer uma nova história.
Abraão, portanto, faz parte de um
projeto divino engenhado em sua presciência como um homem escolhido para ser
aquele que entraria na história da salvação da humanidade. Nada se sabe do
período da vida de Abraão desde o seu nascimento (em torno do ano 2166 a.C.) até quando
foi chamado por Deus para ser
objeto de uma missão de resgate da
comunhão com Deus e
fazer a sua vontade. Na providência
divina, de Abraão sairia a semente que
formaria uma família especial, que se tornaria, depois, um povo, uma raça, uma etnia especial. Dessa etnia especial, no
tempo de Deus, sairia o Salvador do mundo, Jesus Cristo (Mt 1.1,2,17).
0 Desafio de um Projeto Especial
Existe uma linha de pensamento
que defende a ideia de que Deus, em sua soberania, escolhe a quem quer para
satisfazer sua vontade, independentemente de a pessoa aceitar ou não. E uma
ideia determinista, que não aceita o
“ livre-arbítrio” e, por isso,
ensina que o homem não possui a capacidade de escolher o que
quer por causa da depravação do pecado na essência da sua natureza afetada pelo
pecado.
Respeitamos os pontos de vista
contrários ao que cremos, mas Deus escolheu Abraão para a execução do seu
projeto, e esse mesmo homem, ainda que
crendo em Deus,
teve momentos de
indecisão. O Senhor usou de todos
os meios possíveis
para convencer a Abraão de
que ele era alguém especial no plano
divino e, por isso, seria assistido o tempo todo de sua vida pelo “Deus de
toda provisão”.Abraão foi desafiado
a obedecer a
um projeto especial
para a sua vida,
e Deus garante o
sucesso desse projeto
com um pacto que continha promessas e compromissos (Gn
12.1-3). Esse pacto entre
Deus e Abraão não podia sofrer
interferência de sentimentos
de qualquer espécie.
Abraão
deveria apenas acreditar
no plano divino
e obedecer com a garantia de que nada lhe faltaria em sua jornada de fé.
Esse pacto continha exigências especiais feitas a Abraão. Essas exigências
continham a essência do plano
divino, as quais deveriam ser
obedecidas a fim de que Abraão não
viesse sofrer qualquer restrição. Abraão creu e aceitou pela fé o
desafio de seu chamado, e saiu daquela terra para uma terra que não
conhecia. O autor da Carta aos
Hebreus, inspirado, escreveu: “Pela fé, Abraão, sendo
chamado, obedeceu, indo
para um lugar que havia de receber por herança; e
saiu, sem saber para onde ia” (H b 11.8). Abraão tomou posse da palavra de Deus e partiu para a ação.
0 Desafio da Obediência Total
ao Projeto Divino
Fé e obediência são os elementos
mais fortes de uma
relação com Deus. De início, Abraão obedeceu, e a Bíblia
confirma quando diz: “Pela fé, Abraão obedeceu
[...]” (Hb 11.8). No relato histórico desse desafio em
Génesis 12, os três primeiros versículos
resumem as bênçãos e maldições no pacto feito entre Deus e Abraão. Era um
contrato sob o compromisso de ambas as partes. Não se tratava de uma mera
aliança entre duas pessoas. Tratava-se de algo que firmaria que requeria a
obediência total de Abraão. A provisão divina seria constante e marcada pelas
promessas de Deus. A obediência de
Abraão ao trato firmado produziria todas as provisões divinas, em termos de
saúde, de prosperidade material, de vida devocional ao longo da sua história e
de toda a sua descendência.
Notemos que Abraão, mesmo
podendo discutir o projeto de Deus
para a sua vida, não o fez, porque entendeu que o projeto de Deus era
muito superior ao que ele mesmo pudesse empreender. Por isso, deixou o lugar seguro
onde vivia para empenhar-se numa
peregrinação sem destino certo.
Deus escolheu Abraão porque ele
reunia as condições necessárias
para a consecução do seu plano. Não é diferente o modo de Deus agir em nossos
tempos. Ele chama e seleciona aqueles
que podem cumprir seus desígnios e projetos.
Em vez de discutir a proposta divina, Abraão partiu
para um lugar desconhecido pela fé. Qualquer um de nós prefere conhecer os
detalhes de um projeto antes de aceitá-lo.
Preferimos visualizar o
futuro desses projetos, mas
Abraão foi chamado e desafiado para um projeto imprevisível. A
imprevisibilidade daquele caminho proposto por Deus a Abraão desafia o conceito da fé previsível, papável
e visível. Quem obedece ao chamado de Deus anda por fé, e não
por vista. O modo ilógico de Deus agir
começa com uma interrupção no nosso cotidiano humano. Interfere no quadro da
nossa comodidade existencial e nos remete a um projeto inusitado, a um projeto que só Deus sabe.
O
motivador de crises emocionais de muitos líderes cristãos é a reação ao
desafio da obediência. Estamos sempre prontos para obedecer a Deus quando seus
planos coincidem com os
nossos, ou quando satisfazem nossas ambições
pessoais. A experiência do profeta Jonas nos faz
ver a dificuldade do profeta em
obedecer a Deus, porque lhe fora pedido para cumprir
um a missão num
lugar onde Jo n as não
conseguia ver possibilidade
de sucesso (Jn
1.1-3). A obediência de Abraão ao
trato firmado com Deus produziria todas as provisões divinas, em termos de saúde, prosperidade material e vida devocional
abundante.
A PROVISÃO DE DEUS EM CIRCUNSTÂNCIAS IMPREVISÍVEIS
A desobediência sempre produz
fruto amargo, e Abraão, desde que ouviu a voz de Deus e
os requisitos que
deveriam ser obedecidos, não teve
forças para obedecer 100%
ao que Deus
lhe dissera. Deixou-se influenciar por um sentimentalismo
familiar, levando consigo em sua peregrinação
inicial a casa de seu pai e o sobrinho Ló e sua família. Na caminhada, desde Ur dos
Caldeus, quando saiu,
seus parentes só lhe trouxeram aborrecimentos e entraves à
sua peregrinação. Mesmo assim, Deus não desistiu de Abraão, porque conhecia o
coração dele. Não somos perfeitos, por mais que queiramos fazer as coisas
corretamente, de vez em quando, sofremos
interferências que prejudicam o nosso caminhar.
Abraão Enfrenta o Problema da
Interferência Familiar
A única pessoa que Deus havia
permitido a Abraão levar consigo era a sua esposa, Sara.
Os demais deveriam ficar onde estavam e viviam. Na verdade, o primeiro chamado de
Abraão aconteceu em Ur dos Caldeus (At 7.2-4). Porém, houve um segundo chamado
que era como um lembrete à mente
de Abraão em Harã,
uma pequena cidade da Síria. Em
Harã o velho Abraão desperdiçou grande tempo do projeto divino porque
continuava preso aos seus familiares. Abraão não conseguia se desvencilhar
desses parentes e, então, acomodou-se por algum tempo até que Deus o desafia segunda vez e
ele toma o caminho de Canaã.
Certa feita,
em 1968, em
minha experiência pessoal como
pastor, ainda bem jovem e
cheio de sonhos,
passei por um a crise
forte. Eu tinha a convicção da
direção de Deus em minha vida, mas não
estava sabendo discerni-la. Em
meio àquela crise, algum as
pessoas interpretaram mal
as minhas dificuldades daquele momento e me aconselharam
a desistir do ministério, chegando a arrumar emprego na cidade. Mas a experiência que tive com
Deus em minha chamada me fizeram compartilhar
apenas com a esposa,
que sabiamente me aconselhou a
não ouvir outras pessoas, mas obedecer
ao plano de Deus, porque Ele cuidaria de
nós. Interferências sempre são perigosas
quando temos um plano de Deus em nossas
vidas.
Entretanto, Abraão sai de sua
terra, em Ur dos Caldeus, e vai para Harã , levando consigo parentes que não
serviam o seu Deus e nem podiam entender sua audácia. Seus
familiares sabiam que Abraão era
ousado, inteligente e capaz de superar dificuldades, e que
superaria quaisquer problemas
ao longo de sua
caminhada. Talvez, por algum
momento dc fraqueza, Abraão
permitiu interferências materiais
e sociais que o impediram de obedecer de forma livre e
integralmente. Ele não
teve força moral suficiente para desimpedir-se desses sentimentos
familiares. Quando Deus o chamou, ele deveria ter saído apenas com sua mulher,
Sara, mas acabou
levando o pai,
o sobrinho Ló
e outros familiares. Apesar de sua
“meia-obediência”, Deus não
desistiu de Abraão, mas deu-lhe toda a provisão necessária para a
economia pessoal e familiar. Abraão entendeu que o seu lugar não era aquele e
deveria ir mais além, à terra de Canaã
(Gn 12.6).
Abraão Confia no Plano Divino e
Entra na Terra de Canaã
A despeito de
todos os obstáculos que aconteceram desde que saiu de Ur
dos Caldeus indo
para Harã, Abraão
cria no plano de
Deus.
Ficando em Harã por algum tempo,
os planos iniciais para a terra de Canaã foram atropelados por seus
familiares. De Ur para Harã vieram seu pai Tera, seu irmão Naor e o sobrinho Ló.Depois da morte
de seu pai Tera em
Harã (Gn 11.31,32), Abraão ouve a voz de Deus e, sem
tosquenejar, sai de Harã e toma o caminho de Canaã, passando a habitar em
Siquém, uma cidade na terra de Canaã. Ao
chegar a Siquém, mais uma vez Abraão ergue um altar ao Senhor. Ele
procurava em todo o
tempo manter a comunhão e a direção com Yahweh, o seu Deus. Porém, Abraão continuava preso a seus
familiares. Seu sobrinho Ló ainda o
acompanhava, e ele não
conseguiu ficar só. A despeito dessas amarras familiares, Deus não havia desistido dele e, mais
uma vez, reafirma suas
promessas e lhe
mostra toda a terra dos cananeus
como a terra prometida para ele e seus descendentes (Gn 12.6).
Nessa terra “de leite e mel” não
faltou oposição. A região tinha pequenas
aldeias e vilas, e o seu povo vivia uma vida de escassez. Além do povo cananeu,
o seu sobrinho Ló estava lá crescendo em gado e riquezas numa terra que estava
destinada apenas para Abraão.
Entretanto, a generosidade e a paciência de Abraão, demonstrando não
ser um homem ganancioso, permitiam que Ló continuasse a interferir no plano de
Deus.
O
Deus que se
revelou a Abraão não
perdeu o foco
nele porque era o homem
especial que havia sido escolhido
pelo Senhor para esse
projeto. Nessa cidade, em
Siquém, Deus lhe
aparece num a teofania especial e reafirma suas promessas
para lhe dar forças para prosseguir, e Abraão, mais uma vez, sai de Siquém e
vai para Betei (Gn 12.7).
Feliz porque Deus não havia desistido dele e não levou em conta sua
falta de decisão em relação ao seu sobrinho Ló, Abraão novamente edifica um
altar ao Senhor como gratidão pelo seu cuidado para com ele. Abraão foi
assistido pelo Deus de toda provisão em
sua peregrinação.
Abraão Enfrenta o Problema da
Escassez em Canaã
Abraão, ainda
homem de fé
tinha seus momentos
de fraqueza diante de algum as
dificuldades. Experimentou o
poder da oposição dos cananeus, mesmo fazendo diferença naquela terra em que
prosperava. Os cananeus se encheram de
inveja, e passaram a fazer oposição à
presença de Abraão e sua gente. Abraão se deixou
dominar por um pessimismo naquela
terra da promessa
e, percebendo a
escassez de grama e de grãos, deixou
de olhar para o Senhor.
Sua visão vertical estava agora
voltada para a terra horizontalmente, em vez de
confiar nas promessas de
Deus. Os cananeus
perceberam a prosperidade
de Abraão, e este se
tornou então alvo
da inveja dos cananeus. Eles
não conseguiam entender o que fazia Abraão um homem rico, a despeito de
toda a escassez daquela terra. Abraão
deveria continuar confiante nas
promessas de Deus, mas tirou sua visão
de Deus e passou a considerar a escassez da terra, que por questões climáticas
havia se tornado seca e a fome era sentida naquele lugar.
Abraão se deixou intimidar pela situação e
não buscou de Deus a
resposta como aquEle que lhe daria todas as coisas como “o Deus de toda
provisão”. Seu coração se encheu de paixão material pela fartura do Egito.
A Tentação da Fartura do
Egito
Abraão deixou de olhar para o
Senhor e sua visão foi mais longe. A “terra de leite e mel” onde vivia ficou empobrecida e sem condições
de produzir alimento e água para o gado e para as famílias do lugar onde estava
habitando. Ele ouve notícias do Egito
que encheram o seu coração de
ambição e, então,
sem consultar a Deus, Abraão decidiu mudar-se para o Egito. Na verdade,
ele fraquejou em sua fé e tomou uma decisão própria sem consultar o Senhor.
A fartura do mundo é ilusória porque
rouba a
espiritualidade e produz
um falso sentimento
de satisfação. Quando Abraão desceu ao Egito, saiu da direção divina,
tomando seu próprio caminho. No Egito, por pouco não perde sua mulher. No
Egito, foi instado por seu medo dos egípcios a mentir, enganar e quase foi
morto.
Mas
Deus não desistiu
de seu plano para com Abraão e Sara,
que tiveram que aprender o
risco de não
obedecer à vontade soberana de Deus
em suas vidas (Gn 12.11-13).
0 RISCO DE AGIR POR CONTA PRÓPRIA
Provações Inevitáveis Estranham
ente, o
homem de fé que tinha
ousadia em algum as decisões confiado no cuidado de
Deus se torna um fraco influenciado por circunstâncias exteriores. Ele pensa na
“fome da terra” ainda que não
tenha atingido a si e a sua família, mas deixa de olhar verticalmente para o
Senhor, passando a olhar horizontalmente para a terra do Egito. Seu coração foi
dominado por uma ambição maior na terra produtiva do Egito. Então,
resolveu fazer seu próprio caminho com atitude egocêntrica, entendendo
que alcançaria sucesso no
outro lado, o
Egito, sem depender de ninguém.
Quando escolhemos trilhar o
próprio caminho para solução de nossos problemas, tornamo-nos vulneráveis a situações difíceis. A
terra onde Abraão escolhera para habitar era inóspita e havia enorme
escassez em Canaã. O texto declara que “havia fome naquela terra”. Abraão estava
naquela terra porque Deus lhe garantia
que seria abençoado, mas ele não
teve paciência em esperar que
o Deus de
toda provisão operasse o milagre.
De repente, dominado por um
sentimento de pessimismo, Abraão entende
que deveria tomar uma atitude e, por
isso, “desceu ao Egito”. Esse estado
de coisas o
fizeram agir precipitadamente
e, então, decidiu fazer o seu próprio
caminho, sem depender de Deus.
Salomão, rei de Israel, disse
certa feita: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os
caminhos da morte” (Pv 14.12). Deus não nos trata como marionetes, mas espera
que entendamos que os seus caminhos são melhores e conduzem às bênçãos plenas,
materiais, físicas e espirituais. E sempre perigoso sair da direção divina e
tomar o próprio caminho.
As Ameaças da Vida no Egito sem a Direção de Deus
O
ímpeto heroico de
superação em Abraão era forte.
Ele já havia se acostumado a ter vitórias em suas dificuldades.
Por um momento, Abraão esqueceu-se de que tudo quanto havia alcançado teve o toque do dedo
de Deus na sua vida. Então,
ele sai da direção divina e faz o seu próprio caminho.
Naturalmente, ele se tornaria
responsável pelas consequências de suas
decisões. Mesmo tendo agido de forma independente, Abraão não parou, em nenhum
momento, para avaliar a atitude que estava tomando diante de
Deus. Pelo contrário, seguiu o
próprio caminho que fez até
o Egito.
Ao descer ao Egito, atraído por
uma civilização adiantada em relação aos lugares onde estivera, Abraão
imaginou, inicialmente, que poderia “tocar a vida” por conta própria. Naquele
lugar fora da vontade de Deus, ele não levantou um altar ao Senhor. Abraão
assumiu a direção de sua vida e começou a elaborar um modo de sobreviver
naquele lugar sem correr riscos de vida.
Passou a depender de si
mesmo para a tomada de qualquer
decisão para estabelecer sua fazenda nas
terras egípcias.
Agindo por conta do seu ego
carnal, Abraão teceu planos para obter sucesso
fácil naquela terra estrangeira. Então,
a força da carne o fez
engenhar artifícios de mentira, de dissimulação e duplicidade de caráter para
não sofrer qualquer impedimento da parte dos egípcios. Totalmente fora da
vontade de Deus, ele passou a usar dos artifícios que o levariam a mentir, dissimular para passar no meio dos egípcios
sem ser notado. Começou sua jornada mentirosa e dissimulada ao mentir sobre
Sara, sua mulher, com medo de ser
morto por causa dela, porque era muito
bonita (Gn 12.13). Traçou um plano de
dissimulação para sua mulher fingir que era sua irmã, e não sua esposa (Gn 12.13).
Ele estava completamente distante
da vontade soberana de Deus c,
por isso, tomou
decisões que expuseram sua mulher a fazer o que não
queria fazer, indo para o
palácio de Faraó.
Abraão abandonou o caminho
da fé para viver sob seus
próprios méritos. Ambos, Abraão e Sara, sabiam que estavam fora do plano
de Deus e que a decisão de sair de Canaã e vir para o Egito era uma decisão rebelde,
autodependente e egoísta.
Certamente os dois, Abraão
e Sara, sabiam
do erro que cometeram
neutralizando a voz de Deus em suas vidas. Era como se estivessem
dizendo a Deus
que não se preocupasse
com eles, pois sabiam cuidar de si mesmos. Ainda assim, Deus não desistiu deles. O seu
plano original estava de pé para os dois.
0 Caminho Fora da Vontade de Deus
Nos versículos 11
a 13, temos
o retrato de um
homem e uma mulher que sufocam a força da fé pela qual venceram obstáculos e
ambos fazem uma dissimulação para
enganar os egípcios. Era um
modo de tentar “tapar o sol
com uma peneira”. Abraão propõe a Sara fingir ser sua irmã, e negar que era sua esposa. Essa dissimulação foi um ato de covardia de Abraão para com sua esposa. Ela era
uma mulher muito bonita, e quando os egípcios a vissem, matariam a
Abraão se descobrissem que era sua
esposa. Ambos tiveram
atitudes enganosas, por
isso usaram de disfarce e fingimento
para continuarem naquela
terra. Ele expôs sua mulher ao
ridículo, à vergonha e correu o risco de
perdê-la, caso o Faraó gostasse dela.
O caminho fora da vontade de Deus
induz aos caminhos tortuosos e pecaminosos.
Tiago, apóstolo de Jesus Cristo,
escreveu: “Mas cada um é tentado, quando
atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois, havendo
a concupiscência concebido, dá à luz
o pecado; e o
pecado, sendo consumado,
gera a morte” (T g 1.14,15).
N o versículo 13, Abraão teve uma atitude que revelou a sua fraqueza
dominada pelo “espírito do erro” quando induz sua mulher, Sara, a agir com duplicidade de caráter,
levando-a a dissimular, mentir e agir com duas atitudes. Ele e sua mulher,
conscientes do pecado da mentira e da dissimulação, ficaram expostos aos mais
absurdos pecados. O s dois teriam que fingir para sobreviver. A duplicidade
de caráter é algo que aborrece a Deus. O
s dois imaginaram que nada mais poderiam fazer para voltar atrás e que
certamente Deus não os perdoaria,
e eles teriam que depender de seus próprios esforços. O
autor do Salmo 119 diz do seu
sentimento de temor a Deus: “Aborreço a duplicidade, mas amo a tua lei” (SI
119.113). Fora da direção de Deus, Abraão e Sara passaram a agir com
total duplicidade para proteger suas vidas e seus interesses
materiais; por isso, o uso de má fé para obter algum tipo de lucro
é rejeitado pela Palavra de Deus.
Tiago, em sua epístola no Novo Testamento, escreveu que “o homem de coração
dobre é inconstante em todos os seus caminhos”
(Tg 1.8). Deus sabia e conhecia a Abraão e sabia que era homem íntegro, mas, por medo, passou a agir de
forma errada. Passou por todos os
riscos possíveis ante o Faraó e o povo do Egito, e poderia ter sido morto. Por
causa de sua mentira, poderia ter perdido sua mulher para Faraó e ainda poderia
ser morto. Diz o sábio Salomão nos seus
provérbios que “suave é ao homem o pão da mentira, mas, depois, a sua boca se
encherá de pedrinhas de areia”
(Pv 20.17). Entretanto, não
aconteceu o pior, porque Faraó foi mais justo do Abraão,
devolvendo Sara e ordenando a sua saída do Egito. M as os juízos de Deus são
perfeitos, e Ele interferiu naquela situação para que Abraão fosse salvo da
morte.
A Interferência do Deus de Toda Provisão na Vida de Abraão
Fora do Egito, Abraão e Sara
tiveram que amargar a vergonha do seu pecado de mentira e fingimento naquela
terra. Sua consciência amordaçada enquanto fazia coisas erradas foi liberada
para que Abraão tivesse uma atitude de arrependimento a fim de alcançar a
misericórdia de Deus. O relato bíblico
diz que, envergonhado Abraão e todo o seu
povo saiu com ele para fora
do Egito. Génesis
13.1 diz que: “Subiu,
pois, Abrão do Egito para a banda do sul”. Abraão aprendeu a lição e voltou
ao lugar anterior em Betel , na terra de Canaã, e foi ao lugar do altar que
outrora tinha levantado e “ invocou ali
o nome do Senhor” (Gn 13.4).Apesar
dos erros do
casal, Deus não os
julgou pelos critérios
dos homens. Ele fez valer sua justiça para preservar seu
plano na vida de Abraão e
lhe ensinou, por
intermédio de Faraó,
que o seu
senso de justiça era mais
correto do que
o de Abraão e, por
isso, liberou Sara, sem tocá-la, e entregou-a ao marido, ondeando-lhe que saísse da terra do Egito.
Na verdade, houve interferência
divina, e Abraão e Sara tiveram que amargar a vergonha do seu
pecado de mentira e fingimento naquela terra.
CONCLUSÃO
A despeito dos momentos de
fraqueza de Abraão, sua fé foi o elemento espiritual que
o capacitou a agir
e reagir para superar as dificuldades. Ele já tinha vencido grandes
reveses e, agora, depois de haver chegado à Terra Prometida, não poderia
deixar-se ofuscar pelo desânimo. O caos da
fome experimentado na terra de
Canaã e as
decisões precipitadas pelas quais pagou
um preço caro de perdas o ensinaram a reconhecer que o seu Deus não era
como os deuses mortos e neutros daquela terra. O seu Deus era o Deus de toda provisão.
O caminho
da vontade de Deus é sempre cheio de desafios que nos
ensinam a lidar
com as circunstâncias adversas.
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