quarta-feira, 12 de outubro de 2016

Lição 3 - Abraão, a Esperança do Pai da Fé


                                                



                                                   Capítulo 3
ABRAÃO —  DESAFIOS DE UM HOMEM TEMENTE A DEUS

Na cronologia histórica  do  Genesis,  nos  capítulos  1  ao  11,  temos  o relato da criação da terra e a criação do homem, obra-prima de Deus. Esses onze capítulos são absolutamente vitais para entender o restante da Bíblia. Da criação ao Dilúvio, as datas aproximadas envolvem os anos 3975-2319 a.C.,  e do  Dilúvio até a Era Patriarcal temos os anos 2319-1967 a.C. Na cronologia bíblica, quando Deus chamou a Abraão, em Ur dos Caldeus, o patriarca tinha 75  anos de idade no ano aproximado  de  1892  a.C.
No contexto dos primeiros onze capítulos, quatro homens importantes se destacam na história da humanidade, que são: Adão, Sete, Enoque e Noé. Nesses mesmos capítulos, destacam-se, especialmente, quatro importantes eventos,  que são:  a criação,  a queda do homem pelo pecado,  o  Dilúvio e a torre de  Babel.  Os  primeiros acontecimentos da história da humanidade encontram-se  no  contexto  desses  capítulos.  Na etapa histórica da obra da criação, Deus trata com toda a terra, com o mundo dos homens como um todo.
A partir do capítulo  12, inicia-se a era patriarcal, e nessa etapa aparecem os patriarcas Abraão,  Isaque, Jacó  e José.  Nesses  próximos  capítulos  (12 a 50), depois da confusão de línguas em  Babel  (Gn  11), espalharam-se as gentes por toda parte e as características raciais se tornaram distintas por toda a terra. As organizações  tribais,  as línguas e as  etnias acabaram por formar as nações espalhadas no mundo inteiro. Organizaram-se, também, sistemas  de  governo  de  povos,  de famílias e tribos,  e  iniciou-se a era pa­triarcal, em que o pai de família se constituía em chefe, príncipe de tribos e famílias. Surgiram alguns personagens históricos, ancestrais de Abraáo que deixaram  a marca de  suas vidas  na história,  m as  foi Abraão  que Deus  escolheu  para estabelecer  um  novo  pacto  que alcançasse  todas as nações do mundo.
Abraão é advindo de uma família pagã ainda na Mesopotâmia, uma região que é ocupada, hoje, pela Turquia e pelo Iraque. A  Mesopotâmia dos tempos abraâmicos era uma terra fértil, margeada por dois impor­tantes  rios —  o Tigre  e o  Eufrates.  Foi  nessa terra que Deus,  por sua onisciência e providência,  escolheu Abraão  como  o  ponto  de partida para formação de um povo especial que o servisse e o representasse na terra. Deus, Yahweh Adonai, em meio à humanidade corrompida pelo pecado desde Adão,  escolhe Abraão  e percebe nele qualidades com as quais poderia resgatar sua soberania no mundo de  então.
Abraão, além de inteligente e perspicaz, era homem de grande sensibilidade espiritual, propiciando-lhe o encontro com o Deus eterno, invisível e poderoso, rejeitou a todos os deuses de sua família, creu nEle “e isso lhe foi imputado como justiça” diante desse Deus (Rm 4.3). Abraão descobriu pela fé que era possível falar com esse Deus e o Senhor podia contar com Ele. A  partir de então, desenvolveu-se uma relação com um Deus Vivo e Pessoal, com o qual ele podia se comunicar.
DESAFIOS DO CHAMADO DE DEUS
Um Projeto da Presciência Divina
A presciência é um dos atributos divinos que é pertinente só ao Deus trino.  Por  esse  atributo,  Ele  sabe  todas  as  coisas  e  nada  do  universo criado  fica  fora  do  seu  conhecimento.  E  inerente  à  natureza  divina a  presciência.  Nesse  sentido,  existem  outros  atributos  da divindade que são  relativos, são comunicáveis às suas criaturas racionais,  anjos e homens.  Um   desses  atributos  comunicáveis  é  a sua providência.  Em  sua providência,  Deus  preserva e  governa tudo  no  universo.  A Bíblia diz que  Ele sustenta  “todas  as  coisas pela palavra  do seu  poder”  (H b 1.3). Em  sua providência, Ele planeja, cuida e executa seu plano com o homem de modo  individual.  Por sua presciência,  Deus conhece todas as  coisas,  não só  do  passado  e presente,  mas  também  do  futuro.  Em  sua providência presciente,  o Deus  de  toda provisão tinha  um  projeto de resgate da sua comunhão com a humanidade perdida pelo pecado. Existem  fatos  na história da humanidade  que desafiam  a curiosidade humana.  São  fatos  que extrapolam  o  conhecimento  humano  porque eles advêm dos projetos de Deus. São fatos espirituais relacionados com os mistérios da divindade, e não é possível entendê-los por meios naturais.  Para nós,  suas  criaturas,  os eventos  do  mundo  nos  surpreendem, mas para Deus,  nada do que acontece é surpresa.  Todos os eventos da criação,  da natureza,  físico  e  da  nossa vida são  conhecidos  de  Deus. Em meio a tantos personagens interessantes da história, desde Adão, foi exatamente Abraão quem Deus escolheu para tecer uma nova história.
Abraão, portanto, faz parte de um projeto divino engenhado em sua presciência como um homem escolhido para ser aquele que entraria na história da salvação da humanidade. Nada se sabe do período da vida de Abraão desde o seu nascimento  (em torno do ano 2166 a.C.)  até quando  foi chamado por Deus  para ser objeto  de uma missão de resgate da comunhão  com  Deus  e fazer a sua vontade.  Na providência divina,  de Abraão sairia a semente que formaria uma família especial, que se tornaria, depois, um povo, uma raça,  uma etnia especial. Dessa etnia especial, no tempo de Deus, sairia o Salvador do mundo, Jesus Cristo (Mt  1.1,2,17).

0 Desafio de um Projeto Especial
Existe uma linha de pensamento que defende a ideia de que Deus, em sua soberania, escolhe a quem quer para satisfazer sua vontade, in­dependentemente de a pessoa aceitar ou não. E uma ideia determinista, que  não  aceita o  “ livre-arbítrio”  e,  por isso,  ensina que o  homem  não possui a capacidade de escolher o que quer por causa da depravação do pecado na essência da sua natureza afetada pelo pecado.
Respeitamos os pontos de vista contrários ao que cremos, mas Deus escolheu Abraão para a execução do seu projeto, e esse mesmo homem, ainda que  crendo  em  Deus,  teve  momentos  de  indecisão.  O   Senhor usou de  todos  os  meios  possíveis  para convencer a Abraão  de que  ele era alguém especial no plano divino e, por isso, seria assistido o tempo todo de sua vida pelo  “Deus de  toda provisão”.Abraão  foi  desafiado  a  obedecer  a  um  projeto  especial  para  a  sua vida,  e  Deus  garante o  sucesso  desse  projeto  com  um pacto  que continha promessas  e compromissos  (Gn  12.1-3).  Esse pacto  entre  Deus e Abraão  não  podia sofrer  interferência  de  sentimentos  de  qualquer espécie.
 Abraão  deveria  apenas  acreditar  no  plano  divino  e obedecer com a garantia de que nada lhe faltaria em sua jornada de fé. Esse pacto continha exigências especiais feitas a Abraão. Essas exigências continham a essência do  plano divino,  as quais deveriam ser obedecidas  a fim de que Abraão não viesse sofrer qualquer restrição. Abraão creu e aceitou pela  fé o  desafio de seu  chamado,  e saiu daquela terra para uma terra que não conhecia. O  autor da Carta aos Hebreus,  inspirado, escreveu: “Pela  fé,  Abraão,  sendo  chamado,  obedeceu,  indo  para  um  lugar que havia de receber por herança; e saiu, sem saber para onde ia”  (H b  11.8). Abraão tomou posse da palavra de  Deus e partiu para a ação.

0 Desafio da Obediência Total ao Projeto Divino

Fé e obediência são  os elementos  mais  fortes  de  uma relação  com Deus.  De início, Abraão obedeceu, e a Bíblia confirma quando diz: “Pela fé, Abraão obedeceu  [...]”  (Hb  11.8). No relato histórico desse desafio em Génesis  12, os três primeiros versículos resumem as bênçãos e maldições no pacto feito entre Deus e Abraão. Era um contrato sob o compromisso de ambas as partes. Não se tratava de uma mera aliança entre duas pessoas. Tratava-se de algo que firmaria que requeria a obediência total de Abraão. A provisão divina seria constante e marcada pelas promessas  de Deus. A obediência de Abraão ao trato firmado produziria todas as provisões divinas, em termos de saúde, de prosperidade material, de vida devocional ao longo da sua história e de toda a sua descendência.
Notemos que Abraão,  mesmo  podendo  discutir o projeto  de  Deus para a sua vida,  não o fez,  porque entendeu que o projeto de Deus era muito superior ao que ele mesmo pudesse empreender.  Por isso, deixou o  lugar seguro  onde vivia para  empenhar-se  numa  peregrinação  sem destino  certo.  Deus  escolheu Abraão  porque ele  reunia as  condições necessárias para a consecução do seu plano. Não é diferente o modo de Deus agir em nossos tempos.  Ele chama e seleciona aqueles que podem cumprir seus desígnios e projetos.
Em vez de  discutir a proposta divina, Abraão partiu para um lugar desconhecido pela fé. Qualquer um de nós prefere conhecer os detalhes de um projeto  antes de  aceitá-lo.  Preferimos visualizar o  futuro  desses projetos, mas Abraão foi chamado e desafiado para um projeto imprevi­sível. A imprevisibilidade daquele caminho proposto por Deus a Abraão desafia o conceito  da fé previsível,  papável  e visível.  Quem  obedece ao chamado de Deus anda por fé, e não por vista. O  modo ilógico de Deus agir começa com uma interrupção no nosso cotidiano humano. Interfere no quadro da nossa comodidade existencial e nos remete a um projeto inusitado,  a um projeto que só Deus sabe.
O  motivador de crises emocionais de muitos líderes cristãos é a reação ao desafio da obediência. Estamos sempre prontos para obedecer a Deus quando  seus  planos coincidem  com  os  nossos,  ou quando  satisfazem nossas  ambições  pessoais.  A  experiência do  profeta Jonas  nos  faz ver a  dificuldade do  profeta em  obedecer a Deus,  porque lhe  fora pedido para  cumprir  um a  missão  num  lugar  onde Jo n as  não  conseguia ver possibilidade  de  sucesso  (Jn  1.1-3).  A  obediência de Abraão  ao  trato firmado com Deus produziria todas as provisões divinas,  em termos de saúde,  prosperidade material e vida devocional abundante.
A PROVISÃO DE DEUS EM CIRCUNSTÂNCIAS IMPREVISÍVEIS
A desobediência sempre produz fruto amargo, e Abraão, desde que ouviu a voz de  Deus  e os  requisitos  que  deveriam ser  obedecidos,  não teve  forças  para obedecer  100%  ao  que  Deus  lhe  dissera.  Deixou-se influenciar por um sentimentalismo familiar,  levando consigo em sua peregrinação inicial a casa de seu pai e o sobrinho Ló e sua família. Na caminhada,  desde Ur dos  Caldeus,  quando  saiu,  seus  parentes  só lhe trouxeram aborrecimentos e entraves à sua peregrinação. Mesmo assim, Deus não desistiu de Abraão, porque conhecia o coração dele. Não somos perfeitos, por mais que queiramos fazer as coisas corretamente,  de vez em quando, sofremos interferências que prejudicam o nosso caminhar.
Abraão Enfrenta o Problema da Interferência Familiar
A única pessoa que Deus havia permitido a Abraão levar consigo era a sua esposa,  Sara.  Os  demais  deveriam ficar onde estavam  e viviam. Na verdade, o primeiro chamado de Abraão aconteceu em Ur dos Caldeus (At 7.2-4). Porém, houve um segundo chamado que era como um lembrete  à  mente  de Abraão  em  Harã,  uma pequena cidade  da Síria. Em Harã o velho Abraão desperdiçou grande tempo do projeto divino porque continuava preso aos seus familiares. Abraão não conseguia se desvencilhar desses parentes e,  então,  acomodou-se por algum   tempo até que Deus o desafia segunda vez e ele toma o caminho de Canaã.
Certa  feita,  em  1968,  em  minha experiência pessoal como  pastor, ainda  bem jovem  e  cheio  de  sonhos,  passei  por  um a crise  forte.  Eu tinha a convicção da direção de Deus em minha vida,  mas não estava sabendo  discerni-la.  Em   meio  àquela crise,  algum as  pessoas  interpretaram  mal  as  minhas  dificuldades daquele momento e me aconselharam a desistir do ministério,  chegando  a arrumar emprego  na cidade. Mas a experiência que tive com Deus em minha chamada me  fizeram compartilhar apenas  com  a esposa,  que sabiamente  me aconselhou a não ouvir outras pessoas,  mas obedecer ao plano de Deus,  porque Ele cuidaria de nós.  Interferências sempre são perigosas quando temos um plano de Deus em  nossas vidas.
Entretanto, Abraão sai de sua terra,  em Ur dos Caldeus,  e vai para  Harã , levando consigo parentes que não serviam o seu Deus e nem podiam entender sua audácia.  Seus  familiares  sabiam que Abraão  era  ousado, inteligente e capaz de superar dificuldades,  e que  superaria quaisquer problemas  ao  longo  de  sua caminhada.  Talvez,  por algum   momento dc  fraqueza, Abraão permitiu  interferências  materiais  e  sociais  que o impediram  de obedecer de  forma livre e  integralmente.  Ele  não  teve força moral suficiente para desimpedir-se desses sentimentos familiares. Quando Deus o chamou, ele deveria ter saído apenas com sua mulher, Sara,  mas  acabou  levando  o  pai,  o  sobrinho  Ló  e  outros  familiares. Apesar de  sua  “meia-obediência”,  Deus  não  desistiu  de Abraão,  mas deu-lhe toda a provisão necessária para a economia pessoal e familiar. Abraão entendeu que o seu lugar não era aquele e deveria ir mais além, à  terra de Canaã (Gn  12.6).
Abraão Confia no Plano Divino e Entra na Terra de Canaã
A despeito  de  todos os obstáculos que aconteceram desde que saiu de  Ur  dos  Caldeus  indo  para  Harã,  Abraão  cria  no  plano  de  Deus.
Ficando em  Harã por algum  tempo,  os planos  iniciais para a  terra de Canaã foram atropelados por seus familiares. De Ur para Harã vieram seu pai Tera,  seu irmão Naor e o sobrinho Ló.Depois  da  morte  de seu  pai  Tera em  Harã  (Gn  11.31,32), Abraão ouve a voz de Deus e, sem tosquenejar, sai de Harã e toma o caminho de Canaã, passando a habitar em Siquém,  uma cidade na terra de Canaã. Ao chegar a Siquém,  mais  uma vez Abraão ergue um altar ao Senhor. Ele procurava em  todo  o  tempo manter a comunhão e a direção com Yahweh, o seu Deus.  Porém, Abraão continuava preso a seus familiares. Seu sobrinho  Ló  ainda o  acompanhava,  e ele  não  conseguiu ficar só. A despeito dessas amarras familiares,  Deus não havia desistido dele  e, mais  uma vez,  reafirma  suas  promessas  e  lhe  mostra toda a terra  dos cananeus como a terra prometida para ele e seus descendentes (Gn  12.6).
Nessa terra “de leite e mel” não faltou oposição. A  região tinha pequenas aldeias e vilas, e o seu povo vivia uma vida de escassez. Além do povo cananeu, o seu sobrinho Ló estava lá crescendo em gado e riquezas numa terra que estava destinada apenas para Abraão.  Entretanto, a ge­nerosidade e a paciência de Abraão, demonstrando não ser um homem ganancioso, permitiam que Ló continuasse a interferir no plano de Deus.
O  Deus  que  se  revelou  a Abraão  não  perdeu  o  foco  nele  porque era o  homem  especial que  havia sido  escolhido  pelo  Senhor para esse projeto.  Nessa cidade,  em  Siquém,  Deus  lhe  aparece  num a  teofania especial e reafirma suas promessas para lhe dar forças para prosseguir, e Abraão, mais uma vez, sai de Siquém e vai para Betei  (Gn  12.7).  Feliz porque Deus não havia desistido dele e não levou em conta sua falta de decisão em relação ao seu sobrinho Ló, Abraão novamente edifica um altar ao Senhor como gratidão pelo seu cuidado para com ele. Abraão foi assistido pelo  Deus de toda provisão em sua peregrinação.
Abraão Enfrenta o Problema da Escassez em Canaã
Abraão,  ainda  homem  de  fé  tinha  seus  momentos  de  fraqueza diante de  algum as  dificuldades.  Experimentou  o  poder  da  oposição dos cananeus,  mesmo fazendo diferença naquela terra em que prosperava.  Os cananeus se encheram de inveja,  e passaram a fazer oposição à presença de Abraão  e sua gente. Abraão  se deixou  dominar por  um pessimismo  naquela  terra  da  promessa  e,  percebendo  a  escassez  de grama  e  de grãos,  deixou  de  olhar  para  o  Senhor.  Sua visão  vertical estava agora voltada  para a terra horizontalmente,  em vez de  confiar nas  promessas  de  Deus.  Os  cananeus  perceberam  a  prosperidade  de Abraão,  e  este se  tornou  então  alvo  da inveja dos  cananeus.  Eles  não conseguiam entender o que fazia Abraão um homem rico, a despeito de toda a escassez daquela terra. Abraão  deveria continuar confiante  nas promessas de Deus,  mas tirou sua visão de Deus e passou a considerar a escassez da terra, que por questões climáticas havia se tornado seca e a fome era sentida naquele lugar.
Abraão se deixou  intimidar pela situação  e  não  buscou de  Deus  a resposta como aquEle que lhe daria todas as coisas como “o Deus de toda provisão”. Seu coração se encheu de paixão material pela fartura do Egito.
A Tentação da Fartura do Egito
Abraão deixou de olhar para o Senhor e sua visão foi mais longe. A “terra de leite e mel”  onde vivia ficou empobrecida e sem condições de produzir alimento e água para o gado e para as famílias do lugar onde estava habitando.  Ele ouve notícias do Egito que encheram o seu coração de  ambição  e,  então,  sem  consultar a Deus, Abraão  decidiu mudar-se para o Egito. Na verdade, ele fraquejou em sua fé e tomou uma decisão própria sem consultar o Senhor. A  fartura do mundo é ilusória porque rouba  a  espiritualidade  e  produz  um  falso  sentimento  de satisfação. Quando Abraão desceu ao Egito, saiu da direção divina, tomando seu próprio caminho. No Egito, por pouco não perde sua mulher. No Egito, foi instado por seu medo dos egípcios a mentir, enganar e quase foi morto.
 Mas  Deus  não  desistiu  de seu  plano  para com Abraão  e Sara,  que tiveram  que  aprender o  risco  de  não  obedecer à vontade  soberana de Deus em suas vidas  (Gn  12.11-13).
0 RISCO DE AGIR POR CONTA PRÓPRIA
Provações Inevitáveis Estranham ente,  o  homem  de  fé  que  tinha  ousadia  em  algum as decisões confiado  no cuidado de  Deus se torna um fraco influenciado por circunstâncias exteriores.  Ele pensa na  “fome da terra”  ainda que não tenha atingido a si e a sua família, mas deixa de olhar verticalmente para o Senhor, passando a olhar horizontalmente para a terra do Egito. Seu coração foi dominado por uma ambição maior na terra produtiva do Egito.  Então,  resolveu fazer seu próprio caminho com atitude ego­cêntrica,  entendendo  que  alcançaria sucesso  no  outro  lado,  o  Egito, sem depender de ninguém.
Quando escolhemos trilhar o próprio caminho para solução de nossos problemas,  tornamo-nos vulneráveis a situações  difíceis. A  terra onde Abraão escolhera para habitar era inóspita e havia enorme escassez em Canaã.  O   texto declara que  “havia fome naquela terra”. Abraão estava naquela  terra porque Deus lhe garantia que seria abençoado,  mas  ele não  teve  paciência em  esperar que  o  Deus  de  toda provisão  operasse o  milagre.  De repente,  dominado  por  um sentimento  de pessimismo, Abraão entende que deveria tomar uma atitude e,  por isso,  “desceu ao Egito”.  Esse estado  de  coisas  o  fizeram  agir precipitadamente e,  então, decidiu fazer o seu próprio caminho, sem depender de Deus.
Salomão, rei de Israel, disse certa feita: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Pv 14.12). Deus não nos trata como marionetes, mas espera que entendamos que os seus caminhos são melhores e conduzem às bênçãos plenas, materiais, físicas e espirituais. E sempre perigoso sair da direção divina e tomar o próprio caminho.
As Ameaças da Vida no Egito sem a Direção de Deus
O  ímpeto  heroico  de  superação  em Abraão  era forte.  Ele já havia se  acostumado  a ter vitórias em suas  dificuldades.  Por um  momento, Abraão  esqueceu-se de que tudo quanto havia alcançado  teve o toque do  dedo  de Deus  na sua vida.  Então,  ele sai da direção  divina e  faz o seu próprio  caminho.  Naturalmente,  ele se tornaria responsável  pelas consequências de suas decisões. Mesmo tendo agido de forma indepen­dente, Abraão não parou, em nenhum momento, para avaliar a atitude que estava tomando  diante de  Deus.  Pelo contrário,  seguiu o  próprio caminho que fez até  o  Egito.
Ao descer ao Egito, atraído por uma civilização adiantada em relação aos lugares onde estivera, Abraão imaginou, inicialmente, que poderia “tocar a vida” por conta própria. Naquele lugar fora da vontade de Deus, ele não levantou um altar ao Senhor. Abraão assumiu a direção de sua vida e começou a elaborar um modo de sobreviver naquele lugar sem correr  riscos  de vida.  Passou  a depender de  si  mesmo  para a tomada de qualquer decisão para estabelecer sua fazenda nas  terras egípcias.
Agindo por conta do seu ego carnal, Abraão teceu planos para obter sucesso  fácil  naquela  terra estrangeira.  Então,  a  força da carne  o  fez engenhar artifícios de mentira, de dissimulação e duplicidade de caráter para não sofrer qualquer impedimento da parte dos egípcios. Totalmente fora da vontade de Deus, ele passou a usar dos artifícios que o levariam a mentir,  dissimular para passar no meio dos egípcios sem ser notado. Começou sua jornada mentirosa e dissimulada ao  mentir sobre  Sara, sua mulher,  com medo de ser morto por causa dela,  porque era muito bonita (Gn  12.13). Traçou um plano de dissimulação para sua mulher fingir que era sua irmã,  e não sua esposa (Gn  12.13).
Ele  estava completamente  distante  da vontade  soberana de  Deus c,  por  isso,  tomou  decisões  que expuseram  sua mulher a fazer o  que não  queria fazer,  indo  para o  palácio  de  Faraó.  Abraão  abandonou  o caminho  da fé  para viver sob  seus  próprios  méritos.  Ambos, Abraão e Sara,  sabiam que estavam fora do  plano  de  Deus e que a decisão  de sair de Canaã e vir para o  Egito era uma decisão  rebelde,  autodependente  e  egoísta.  Certamente  os  dois, Abraão  e  Sara,  sabiam   do  erro que cometeram neutralizando a voz de Deus em suas vidas. Era como se  estivessem  dizendo  a  Deus  que  não se  preocupasse  com  eles,  pois sabiam cuidar de si  mesmos. Ainda assim,  Deus não desistiu deles.  O seu  plano original estava de pé para os dois.
0 Caminho Fora da Vontade de Deus
Nos versículos  11  a  13,  temos  o  retrato  de  um homem e uma mu­lher que sufocam a força da fé pela qual venceram obstáculos e ambos fazem  uma dissimulação  para  enganar os  egípcios.  Era um   modo  de tentar “tapar o sol com  uma peneira”. Abraão  propõe a Sara fingir ser sua irmã,  e negar que era sua esposa.  Essa dissimulação foi  um ato de covardia de Abraão  para com sua esposa.  Ela era  uma mulher muito bonita, e quando os egípcios a vissem, matariam a Abraão se descobrissem  que  era sua  esposa.  Ambos  tiveram  atitudes  enganosas,  por  isso usaram de  disfarce  e fingimento  para continuarem  naquela terra.  Ele expôs sua mulher ao ridículo,  à vergonha e correu o risco de perdê-la, caso o Faraó gostasse dela.
O caminho fora da vontade de Deus induz aos caminhos tortuosos e pecaminosos.
 Tiago, apóstolo de Jesus Cristo, escreveu:  “Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência. Depois,  havendo  a  concupiscência concebido,  dá à luz  o  pecado;  e  o pecado,  sendo  consumado,  gera a morte”  (T g  1.14,15).  N o versículo 13, Abraão teve uma atitude que revelou a sua fraqueza dominada pelo “espírito do erro” quando induz sua mulher,  Sara, a agir com duplicida­de de caráter, levando-a a dissimular, mentir e agir com duas atitudes. Ele e sua mulher, conscientes do pecado da mentira e da dissimulação, ficaram expostos aos mais absurdos pecados. O s dois teriam que fingir para sobreviver.  A  duplicidade de caráter é algo  que aborrece a Deus. O s dois imaginaram que nada mais poderiam fazer para voltar atrás e que certamente Deus  não  os perdoaria,  e eles teriam que depender de seus próprios esforços.  O  autor do Salmo  119 diz do seu sentimento de temor a Deus: “Aborreço a duplicidade, mas amo a tua lei”  (SI  119.113). Fora da direção de Deus, Abraão e Sara passaram a agir com total du­plicidade para proteger suas vidas e seus  interesses  materiais;  por isso, o  uso de má fé para obter algum  tipo de lucro  é rejeitado  pela Palavra de Deus. Tiago, em sua epístola no Novo Testamento, escreveu que “o homem de coração dobre é inconstante em todos os seus caminhos”  (Tg 1.8).  Deus  sabia e conhecia a Abraão e  sabia que era homem  íntegro, mas, por medo, passou a agir de forma errada.  Passou por todos os ris­cos possíveis ante o Faraó e o povo do Egito, e poderia ter sido morto. Por causa de sua mentira, poderia ter perdido sua mulher para Faraó e ainda poderia ser morto.  Diz o sábio Salomão nos seus provérbios que “suave é ao homem o pão da mentira, mas, depois, a sua boca se encherá de pedrinhas  de  areia”  (Pv 20.17).  Entretanto,  não  aconteceu  o  pior, porque Faraó foi mais justo do Abraão, devolvendo Sara e ordenando a sua saída do Egito. M as os juízos de Deus são perfeitos, e Ele interferiu naquela situação para que Abraão fosse salvo da morte.
A Interferência do Deus de Toda Provisão na Vida de Abraão
Fora do Egito, Abraão e Sara tiveram que amargar a vergonha do seu pecado de mentira e fingimento naquela terra. Sua consciência amordaçada enquanto fazia coisas erradas foi liberada para que Abraão tivesse uma atitude de arrependimento a fim de alcançar a misericórdia de Deus. O  relato  bíblico  diz que,  envergonhado Abraão  e  todo  o  seu povo saiu  com  ele para fora  do  Egito.  Génesis  13.1  diz que:  “Subiu,  pois, Abrão do Egito para a banda do sul”. Abraão aprendeu a lição e voltou ao lugar anterior em Betel , na terra de Canaã, e foi ao lugar do altar que outrora tinha levantado e “ invocou ali  o nome do Senhor”  (Gn 13.4).Apesar dos  erros  do  casal,  Deus  não  os julgou  pelos  critérios  dos homens.  Ele  fez valer sua justiça para preservar seu plano  na vida de Abraão  e  lhe  ensinou,  por  intermédio  de  Faraó,  que  o  seu  senso  de justiça era  mais  correto  do  que  o  de Abraão  e,  por isso,  liberou  Sara, sem tocá-la,  e entregou-a ao marido,  ondeando-lhe que saísse da terra do  Egito.  Na verdade,  houve interferência divina,  e Abraão  e Sara ti­veram que amargar a vergonha do seu pecado de mentira e fingimento naquela terra.
CONCLUSÃO
A despeito dos momentos de fraqueza de Abraão, sua fé foi o elemento espiritual  que  o  capacitou  a  agir e  reagir para superar as  dificuldades. Ele já tinha vencido grandes reveses e, agora, depois de haver chegado à Terra Prometida, não poderia deixar-se ofuscar pelo desânimo.  O  caos da  fome  experimentado  na terra de  Canaã  e  as  decisões  precipitadas pelas  quais pagou  um preço caro  de perdas o  ensinaram a reconhecer que o seu Deus não era como os deuses mortos e neutros daquela terra. O seu Deus era o  Deus de toda provisão.
O  caminho  da   vontade de Deus  é sempre cheio  de desafios que  nos  ensinam   a   lidar  com  as   circunstâncias adversas.




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