Capítulo
12 Uma Graça Além-Mar
Maravilhosa
Graça
Romanos
15.14-21
Eu próprio,
meus irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de
bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros.
Mas, irmãos, em parte vos escrevi mais ousadamente, como para vos trazer outra
vez isto à memória, pela graça que por Deus me foi dada, que eu seja ministro
de Jesus Cristo entre os gentios, ministrando o evangelho de Deus, para que
seja agradável a oferta dos gentios, santificada pelo Espírito Santo. De sorte
que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas que pertencem a Deus. Porque não
ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência
dos gentios, por palavra e por obras; pelo poder dos sinais e prodígios, na
virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e arredores até ao
Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus Cristo. E desta maneira me esforcei
por anunciar o evangelho, não onde Cristo houvera sido nomeado, para não edificar
sobre fundamento alheio; antes, como está escrito: Aqueles a quem não foi
anunciado o verão, e os que não ouviram o entenderão.
Cosmovisão
Missionária
“Eu próprio, meus
irmãos, certo estou, a respeito de vós, que vós mesmos estais cheios de
bondade, cheios de todo o conhecimento, podendo admoestar-vos uns aos outros”
(15.14). Em
Romanos 1.8, o apóstolo havia reconhecido o valor da fé dos crentes de Roma.
Aqui novamente ele os trata com afeto , chamando -os de “irmãos” ao mesmo tempo
em que reconhece serem eles possuidores das virtudes cristãs. Eles estavam
possuídos de bondade, cheios de conhecimento e aptos para se exortarem
mutuamente.
‘Porque não ousaria dizer
coisa alguma, que Cristo por mim não tenha feito, para obediência dos gentios,
por palavra e por obras” (15.18). A partir desse ponto, Paulo acha oportuno mostrar a dimensão
missionária do seu projeto evangelístico . Esse projeto havia alcançado os
pontos mais extremos da bacia mediterrânea. Lucas registrou em detalhes como se
deu esse avanço evangelístico ao registrar as três viagens missionárias de
Paulo. Vejamos um esboço dessa gigantesca obra:
1. A primeira viagem missionária
1.1. Uso da
Palavra de Deus com o instrumento de evangelização — “E , chegados a Salamina,
anunciavam a palavra de Deus” (At 13.5).
1.2.
Consciência da realidade do mal — “Ó filho do diabo, cheio de todo o engano...”
(At 13.10).
1.3.
Reconhecimento da necessidade do preparo missionário — “Mas João , apartando
-se deles, voltou para Jerusalém ” (A t 13.13). 1.3.1. O Espírito recepcionado
(At 13.52).
1.3.2. O
Espírito demonstrado (At 14.3).
1.3.3.
Reconhecimento da dimensão humana da missão (At 14.6).
1.3.4.
Constituição de líderes autóctones (At 14.21-23).
1.3.5. O
perigo da fragmentação (At 15.1).
1.3.6. A
busca pela padronização (At 15.28,29).
2. A segunda viagem missionária
2.1. O cuidado como discipulado (At 15.36).
2.2. Fundamentação doutrinária dos convertidos
(At 16.4,5).
2.3. Buscando
os povos não alcançados (At 16.6-9).
2.4. Zelando
pela vida devocional (At 16.13).
2.5. Limites
na contextualização (At 16.21).
2.6.
Defendendo os seus direitos civis (At 16.37).
2.7.
Alcançando diferentes classes sociais (At 17.12).
2.8.
Defendendo a relevância cultural do evangelho (At 17.16-31).
2.9.
Gastando-se por missões (At 18.11).
3. A terceira viagem missionária
3.1. A busca
pelo trabalho em equipe (At 18.24-28).
3.2.
Manutenção dos símbolos pentecostais (At 19.1-6).
3.3. Mostrar
o caráter pedagógico do evangelho (At 19.9).
3.4. Viver
um evangelho sem engessamento (At 19.12).
3.5. Possuir
um coração missionário (At 20.17-35).
3.6. O
aspecto não clerical do evangelho (At 21.9-11).
3.7.
Desfrutando do fruto do discipulado (At 21.16).
No Poder do Espírito
“pelo poder dos sinais
e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que, desde Jerusalém e
arredores até ao llírico, tenho pregado 0 evangelho de Jesus Cristo” . (15.19). Uma das características mais
marcantes no apóstolo Paulo é a sua dependência de Deus na realização de seu
serviço. Em nenhum momento ele credita o seu êxito ao mérito próprio. Tudo era
fruto da graça de Deus. Paulo dissera aos crentes de Corinto que havia
trabalhado mais do que todos os apóstolos, mas reconhece que isso só foi possível
por conta da graça de Deus derramada em sua vida (1 Co 15.10). Novamente ele reconhece
que chegou às regiões mais remotas graças ao poder do Espírito Santo que estava
em sua vida. A incursão missionária de Paulo não se deu apenas em palavras, mas,
sobretudo, por meio de sinais e prodígios, e pelo poder do Espírito Santo.
Nenhuma obra missionária terá êxito se não for acompanhada pela ação soberana
do Espírito Santo.
O avanço do
pentecostalismo clássico pelo mundo afora foi marcado pela poderosa ação do
Espírito Santo. Basta citarmos os missionários Daniel Berge Gunnar Vingren ,
que trouxera mas Assembleias de Deus para o Brasil, para constatarmos esse
fato. O Diário de Vingren contém relatos de sinais e prodígios que o Espírito
Santo realizou por seu intermédio . O próprio envio sobrenatural, a partir de
uma palavra profética que os ajudou a localizar no mapa -múndia palavra “ Pará
” como um local situado no Norte do Brasil, comprova isso .1 Mas não são
somente os fatos relacionados à chamada dos missionários suecos para o Brasil
que atestam a operação do Espírito do Senhor no pentecostalismo brasileiro . A
nossa história está permeada de intervenções sobrenaturais operacionalizadas
pelo Espírito Santo .2
Romanos 15.22-29
Pelo que também muitas vezes tenho sido impedido de ir ter
convosco. Mas, agora, que não tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há
muitos anos grande desejo de ir ter convosco, quando partir para a Espanha,
irei ter convosco; pois espero que, de passagem, vos verei e que para lá seja
encaminhado por vós, depois de ter gozado um pouco da vossa companhia. Mas,
agora, vou a Jerusalém para ministrar aos santos. Porque pareceu bem à
Macedônia e à Acaia fazerem uma coleta para os pobres dentre os santos que
estão em Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, como devedores que são para com
eles. Porque, se os gentios foram participantes dos seus bens espirituais,
devem também ministrar-lhes os temporais. Assim, que, concluído isto, e
havendo-lhes consignado este fruto, de lá, passando por vós, irei à Espanha. E
bem sei que, indo ter convosco, chegarei com a plenitude da bênção do evangelho
de Cristo.
Planejamento Missionário
“Mas, agora, que não
tenho mais demora nestes sítios, e tendo já há muitos anos grande desejo de ir
ter convosco, quando partir para a Espanha, irei ter convosco; pois espero que,
de passagem, vos verei e que para lá seja encaminhado p or vós, depois de ter
gomado um pouco da vossa companhia” (15.23,24). Os intérpretes da Bíblia estão convencidos
de que uma das razões que levou Paulo a escrever sua carta era o seu desejo de
fazer de Roma uma base missionária. Dentro desse propósito , Paulo tratou de
muitos temas teológicos de extrema relevância para os cristãos romanos. chegara
o momento de expor o desejo que inflamava seu coração — levar à frente a obra
missionária e chegar com ela até a Espanha.
O apóstolo
possuía um coração volta do para missões. Quando o Espírito Santo escolheu os
primeiros missionários na igreja de Antioquia, Paulo estava entre eles. Na
verdade, foi por intermédio dele que o Espírito do Senhor deu início ao
movimento missionário da igreja. Acredito ser oportuno verificarmos alguns
princípios missionários que encontramos no envio de Paulo e Barnabé a partir de
Antioquia.
O capítulo
13 do livro de Atos dos Apóstolo sé emblemático por várias razões. É nesse
capítulo que a igreja, de uma forma organizada, envia seus primeiros
missionários (At 13.1-13). É verdade que antes de Antioquia houve investidas
missionárias, como por exemplo , a ida de Filipe à cidade de Samaria (At 8.5).
Contudo , a ida de Filipe à terra dos samaritanos não aconteceu em decorrência
de uma mobilização da igreja como aconteceu em Antioquia.
Na igreja
que estava em Antioquia havia alguns profetas e doutores, a saber: Barnabé, e
Simeão, chamado Níger, e Lúcio, cireneu, Manaém, que fora criado com Herodes, o
tetrarca, e Saulo. E, servindo eles ao Senhor e jejuando, disse o Espírito
Santo: apartai-me a Barnabé e a Saulo para a obra a que os tenho chamado.
Então, jejuando, e orando, e pondo sobre eles as mãos, os despediram. E assim
estes, enviados pelo Espírito Santo, desceram a Selêucia e dali navegaram para Chipre.
E, chegados a Salamina, anunciavam a palavra de Deus nas sinagogas dos judeus;
e tinham também a João como cooperador. E, havendo atravessado a ilha até
Pafos, acharam um certo judeu, mágico, falso profeta, chamado Barjesus, o qual
estava com o procônsul Sérgio Paulo, varão prudente. Este, chamando a si
Barnabé e Saulo, procurava muito ouvir a palavra de Deus. Mas resistia-lhes Elimas,
o encantador (porque assim se interpreta o seu nome), procurando apartar da fé
o procônsul. Todavia, Saulo, que também se chama Paulo, cheio do Espírito Santo
e fixando os olhos nele, disse: Ó filho do diabo, cheio de todo o engano e de
toda a malícia, inimigo de toda a justiça, não cessarás de perturbar os retos
caminhos do Senhor? Eis aí, pois, agora, contra ti a mão do Senhor, e ficarás
cego, sem ver o sol por algum tempo. No mesmo instante, a escuridão e as trevas
caíram sobre ele, e, andando à roda, buscava a quem o guiasse pela mão. Então,
o procônsul, vendo o que havia acontecido, creu, maravilhado da doutrina do
Senhor. E, partindo de Pafos, Paulo e os que estavam com ele chegaram a Perge,
da Panfília. Mas João, apartando-se deles, voltou para Jerusalém. (At 13.1-13)
Sendo que a
Igreja Primitiva é o nosso modelo e que o livro de Atos deve servir de
paradigma para a igreja contemporânea, faz-se necessário atentarmos para as
lições que esse texto traz.
Em primeiro lugar, missões se faz com
fundamentação.
Missões se faz no contexto de uma igreja local. É ela que fundamenta as missões
“Havia na igreja de Antioquia”. Podemos ler esse texto na sua ordem invertida e
teremos: “Em Antioquia havia uma igreja ” . Foi nessa igreja que aconteceu o
envio dos primeiros missionários. Missões acontece no contexto de uma igreja. É
a igreja que gera missionários e é a partir dela que eles são enviados. Sem
igreja não há missões. Hoje tenho observado que há um a terceirização do
movimento missionário que sai da esfera da igreja para uma esfera simplesmente
institucional, como por exemplo , uma Convenção . As Convenções são importantes,
mas a responsabilidade de gerar missões não é delas. Convenção não é igreja!
Essa missão é d a igreja local. Se a igreja local não se envolver com missões,
então nada feito.
Em segundo lugar, missões se faz sob
inspiração — “Havia
na igreja profetas” . Profeta é alguém que fala sob inspiração divina. Paulo, o
apóstolo, diz que quem profetiza edifica a igreja (1Co l4 .3 ). Foi nesse contexto
de inspiração divina que o Espírito Santo comissionou os primeiros
missionários. Sem inspiração não há missão. Qualquer igreja que faz missões sem
a participação direta do Espírito Santo está fadada ao fracasso ! Não tenho
dúvida alguma de que em Antioquia a profecia, como oficio e também como dom ,
estava em operação. Foi essa capacitação profética que permitiu a escolha dos
primeiros missionários — Paulo e Barnabé.
Em terceiro lugar, missões é feita
com instrução —
“Havia na igreja mestres” . A palavra
“mestres” (gr. didaskalos) vem da mesma
raiz da palavra ãdaquê, ensino ou instrução. Se a inspiração é importante para
as missões, a instrução da mesma forma. Sem ensino, e ensino bíblico sob a
direção do Espírito Santo, não há missões de verdade. Tenho observado muitas
pessoas querendo os dons do Espírito e reivindicando-os para o movimento
missionário, mas negligenciando a instrução que vem pela Palavra de Deus. O
resultado disso são movimentos com muito “peneumatismos”, mas sem nenhuma
fundamentação teológica consistente. O resultado disso é o fracasso.
Em quarto lugar, missões é feita com
adoração — “ E
servindo eles ao Senhor . Servindo e a tradução do grego leitougeo, de onde
procede a palavra portuguesa “ liturgia. É um termo usado para se referir ao
culto ou serviço cristão. Nesse contexto significa, sem dúvida alguma,
adoração. Eles estavam adorando quando o Espírito Santo os comissionou para
fazer missões. É no contexto da adoração cristã que acontecemos despertamentos
missionários. Foi assim como envio dos primeiros missionários oriundos do
avivamento da Rua Azusa e foi assim com o envio dos suecos Daniel Berge Gunnar
Vingren para o Brasil. Esses últimos estavam adorando a Deus quando o Espírito
Santo os comissionou a via arem para o Brasil. Hoje nós temos muita música ,
muito show , mas pouca adoração . Qual é a consequência disso? Um esvaziamento
do movimento missionário .
Em quinto lugar, missões é feita com
consagração — “E
jejuando ” . Em todo movimento de avivamento , que desaguou em missões, estão
presentes uma volta à Palavra de Deus e à santidade. O que se depreende de uma
leitura dos Atos dos Apóstolos é que o jejum era uma prática com um na igreja
apostólica (At 13.1-4; At 14.23). O jejum bíblico estava associado à prática da
oração, e a oração conduz a uma vida santa. Não se trata de uma questão
legalista ou simplesmente um rigorismo ascético. Uma vida piedosa, onde os
limites entre o sagrado e o profano são respeitados, invariavelmente tem como
resultado um cristianismo contagiante. Não há dúvidas de que a igreja hodierna
perdeu muito da sua piedade pessoal, enveredando por um instituicionalismo
fossilizado. Não há mais espaço para práticas piedosas, como por exemplo, o
jejum . As consequências são sentidas nas tentativas frustradas de fazer missões.
Em sexto lugar, missões é feita com vocação — “ Separai-me a Barnabé e Saulo ” .
Evidentemente que aqui foi o próprio Espírito que vocacionou e selecionou
Barnabé e Paulo para a obra missionária. Já disse no livro de minha autoria As
Ovelhas Também Gemem que a vocação é o pilar sobre o qual se alicerça toda a
vida ministerial.3 Toda via , ela vem sempre acompanhada de sua irmã gêmea — a
preparação , que também denomino de lapidação . Deus nos vocaciona , mas somos
nós que precisamos nos prepara r , bíblica ou teologicamente , para melhor
servirmos ao nosso Deus. Já conheci diversos movimentos missionários, alguns
deles fora do Brasil, e os vi sofrer por conta de obreiros mal preparados e mal
treinados. Foram vocacionados, mas não foram lapidados. Alguns se envolveram
com mulheres, enquanto outros foram corrompidos pelo dinheiro. Não há dúvidas
de que a igreja deve investir no preparo espiritual de seus missionários, mas o
mesmo pode ser dito do preparo moral. A prática de uma vida disciplinada
evitaria muitos acidentes (1 Tm 4 .7).
Em sétimo lugar, missões é feita com
adoção — “E impondo
-lhes as mãos . A imposição de mão implicava cuidado, responsabilidade pelo
envio. Ao impor as mãos nos missionários, a igreja se comprometa a cuidar
deles. Alguém já disse que quando um a pessoa desce para dentro do poço, alguém
precisa segurar a corda! Infelizmente a igreja não tem segurado a corda daqueles
que têm sido enviados ao campo missionário. E lamentável que o número de
patrocinadores da obra missionária diminui ou até mesmo deixa de existir à
medida que os resultados demoram a aparecer. Há missionários que trabalham sob
pressão , alguns são tentados até mesmo amaquiar relatórios para apresentarem nas
suas agências. A igreja deve dar todo apoio espiritual e material a fim de que
o missionário possa fazer co m alegria a obra para a qual foi comissionado .
Romanos 15.30-33
E rogo-vos, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e pelo
amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações por mim a Deus, para
que seja livre dos rebeldes que estão na Judeia, e que esta minha
administração, que em Jerusalém faço, seja bem aceita pelos santos; a fim de
que, pela vontade de Deus, chegue a vós com alegria e possa recrear-me
convosco. E o Deus de paz seja com todos vós. Amém!
Cobertura Espiritual “E rogo-vos, irmãos, p or nosso Senhor
Jesus Cristo e pelo amor do Espírito, que combatais comigo nas vossas orações p
or mim a Deus” (15.30). Tendo exposto o
seu projeto missionário , Paulo
faz um pedido à igreja de Roma — que ela ore por ele. Mas não era uma simples “
oração ” , e sim uma oração de guerra . A palavra “luteis” traduz o grego
synagonispomai, que tem o sentido de “lutar junto com alguém ” , “ ajudar algué
m ” , “ apoiar alguém ” .4 Isso coloca a oração numa dimensão de conflito
espiritual. Na verdade, quando oramos enfrentamos obstáculos (Dn 10.12,13 ). O
apóstolo tencionava ir a Jesus além cooperar com os crentes daquela localidade,
mas havia muitos adversários. Era por essa razão que pedia que os romanos
intercedessem por ele.
Um amigo
contou-me um acontecimento ocorrido com o pastor Estevam Ângelo de Sousa, o
apóstolo do sertão nordestino . Era o final dos anos 40 , e Estevam Ângelo de
Sousa fazia missões nas cidades piauienses de Luzilândia e Esperantina, Estado
do Piauí. O catolicismo era muito forte nessa região, e os fazendeiros locais
se valiam de jagunços como instrumento de proteção . Durante o seu trabalho
missionário , Estevam ganhou um vaqueiro para Cristo , ficando acertado um
culto na casa do novo convertido , que, como a maioria dos nordestinos, era
agregado de um fazendeiro .
Pois bem ,
certo dia quando se preparava para ir dirigir aquele culto, Estevam chamou sua
esposa e pediu-lhe oração. Contou-lhe que o Senhor havia lhe mostrado durante
um a visão um grande boi partir em sua direção para atacá-lo. Na visão, Estevam
disse que derrubava o boi com um soco na cabeça. Entendeu que teria problema
durante a realização daquele culto. Despedindo-se da esposa, foi até o local
combinado para a realização do culto e ali chegando encontrou muitas pessoas
reunidas. Após cantar os primeiros hinos, alguém ao fundo falou em voz grave: “
Pare já com essa besteira!” . A voz era de um dos jagunços daquela região. Ele
não queria que o culto fosse realizado. O pastor continuou dirigindo o trabalho
do Senhor, quando novamente foi interrompido pelo jagunço: “Eu já disse para
parar com essa besteira!” Dessa vez o pastor respondeu dizendo que não estava
falando besteira, mas a Palavra de Deus.
Incomodado ,
o jagunço levantou -se dizendo que ia provar que tudo aquilo era bobagem .
Puxando uma faca da cintura , o jagunço se dirigiu em direção ao pastor. Mesmo
à distância , o pastor levantou a mão e gritou : “ Satanás, eu te repreendo no
nome de Jesus ” . Naquele momento o homem foi atirado ao chão à vista de todos.
O impacto da queda fora grande , e ele não conseguiu mais se levantar. Era o
boi que o pastor tinha visto na visão que procuraria atacá-lo. O Diabo caiu por
terra. O nome do Senhor foi glorificado. Eu fui pastor naquela região e
testemunhei o grande crescimento da obra de Deus ali. Mas tudo começou como
poder da oração.
Uma Graça
Além-Mar
Capítulo 22
Romanos - O
evangelho segundo Paulo- Hernandes Dias Lopes
As excelências do
ministério de Paulo (Rm 15.14-33)
Paulo está
concluindo sua mais robusta epístola. Escreve para uma igreja que não fundara
nem mesmo conhecera. Depois de ter feito uma grande exposição (capítulos 1-11)
e uma grande exortação (capítulos 12.1-15.13), o apóstolo volta ao assunto
introduzido no início de sua missiva (1.8-13),1140 citando agora seus projetos
de viagem a Roma, sua missão apostólica, laços de intercessão e comunhão de
graças.1141 Como sábio comunicador, antecipa algumas objeções, destacando dois
pontos vitais:
Em primeiro lugar, Paulo elogia seus leitores. “E
certo estou, meus irmãos, sim, eu mesmo, a vosso respeito, de que estais
possuídos de bondade, cheios de todo o conhecimento, aptos para vos
admoestardes uns aos outros” (15.14). Paulo ensinara verdades profundas e
fizera exortações pesadas à igreja. Emitira advertência contra as tendências
antinomianas (capítulo 6), contra a arrogância por parte de alguns (11.20,21;
12.3), contra a oposição às autoridades governamentais (13.2) e contra os
fortes ridicularizando os fracos e os fracos condenando os fortes (14.1-4).
Diante desses fatos, alguns crentes de Roma poderiam pensar que Paulo os
julgasse imaturos, ignorantes e ineptos para a obra de Deus.
Geoffrey
Wilson, porém, capta o sentido correto do sentimento de Paulo quando escreve:
Antes de concluir a carta, Paulo deseja esclarecer
que não escreveu à igreja de Roma porque achasse que os crentes lá fossem
defeituosos em sua experiência cristã ou deficientes em seu conhecimento da
verdade divina. Ele, com muito tato, observa que o objetivo de sua carta não é
ensinar-lhes nenhuma doutrina nova, mas sim de os lembrar da verdade que já
possuíam.1142
Antecipando
as possíveis objeções que poderiam surgir dentro da igreja de Roma, Paulo, que
já elogiara a igreja por sua fé proclamada em todo o mundo (1.8), lhes assegura
que tem elevado conceito da igreja (15.14). Cranfield diz que “o que temos aqui
é cortesia cristã, e não adulação”.1143 As falhas detectadas na igreja não
arrefecem seu alto apreço pela igreja como um todo.1144 Paulo destaca três
virtudes cardeais na vida da igreja de Roma:
a. Os crentes de Roma
estavam cheios de bondade (15.14).
A bondade
tem a ver com a disposição de investir tempo e energia para socorrer as outras
pessoas em suas necessidades. E a disposição de tratar bem aqueles cujas
virtudes nãoos recomendam. John Murray diz que a palavra grega agathosunes,
“bondade”, se refere à virtude oposta a tudo quanto é vil e maligno; também
inclui retidão, gentileza e beneficência de coração e vida.1145
b. Os crentes de Roma
estavam cheios de conhecimento (15.14). “Conhecimento” significa a compreensão da fé cristã,
estando particularmente relacionado à capacidade de instruir outrem.1146 O
pastoreio mútuo depende não só de bondade, mas também de conhecimento. E o
conhecimento que governa a bondade. Se a bondade enche o coração de amor, o
conhecimento enche a mente de luz. John Murray escreve: “A bondade é a virtude
que constrangeria os crentes fortes a se absterem daquilo que prejudicaria os
fracos; e conhecimento é aquela realização que corrigiria as debilidades da fé.
c. Os crentes de Roma
estavam aptos para o pastoreio mútuo (15.14). A admoestação recíproca resulta da
bondade e do conhecimento. E a bondade conjugada ao conhecimento que habilita
os crentes a ser admoestadores eficazes. A palavra grega nouthesia,
“admoestação”, é um apelo à mente na qual está presente uma oposição. A pessoa
é tirada de um falso caminho mediante admoestação, ensino, lembrança e
encorajamento; e sua conduta é então corrigida.1148 Calvino destaca
oportunamente que aqueles que admoestam devem possuir duas graças especiais:
humildade e prudência. Os que se sentem chamados a exortar e ao mesmo tempo
desejam ajudar os irmãos com seu conselho devem manifestá-lo tanto pela doçura
no rosto como no modo gentil de falar, pois não há coisa pior para a exortação
fraternal que a malevolência e a soberba, já que ambas nos impulsionam a
desprezar aqueles a quem desejamos fortalecer.1149
Em segundo lugar, Paulo defende seu apostolado diante
dos leitores. “Entretanto, vos escrevi em parte mais ousadamente, como para vos
trazer isto de novo à memória, por causa da graça que me foi outorgada por
Deus” (15.15). Duas verdades são aqui destacadas pelo apóstolo:
a.
Ele relembra os crentes aquilo que eles já sabem (15-15).
Paulo não
está ensinando para os crentes de Roma novidades desconhecidas. Está
relembrando e aprofundando verdades que eles já conhecem. Paulo não está sendo
inédito; está sendo enfático. Charles Erdman diz que Paulo escrevera não em
razão de alguma falta específica da parte dos romanos, mas em função de seu especial
interesse neles. Não tanto para anunciar-lhes novas verdades quanto para
fazê-los lembrados das verdades que haviam já recebido.1150
b. Ele relembra os
crentes sua autoridade apostólica(15.15b). Paulo não se intromete em campo
alheio; não é um aventureiro que instrui a igreja de Roma sem credencial
divina. E apóstolo de Cristo, e a autoridade de orientar doutrinária e
eticamente a igreja era não só um privilégio sublime, mas também uma
responsabilidade a ele outorgada pela graça de Deus. Foi a graça de Deus que o
salvou, o chamou e fez dele um apóstolo (Rm 1.5; lCo 15.8-11; Ef 3.7,8) Disto
examinaremos algumas excelências do ministério Paulo.
Paulo o ministro de Cristo (15.16)
Na conclusão
desta carta, Paulo, que fora essencialmente doutrinário, se torna eminentemente
pessoal.1151 Ele se autodenomina ministro de Cristo. Leiamos seu relato: “Para
que eu seja ministro de Cristo Jesus entre os gentios, no sagrado encargo de
anunciar o evangelho de Deus, de modo que a oferta deles seja aceitável, uma
vez santificada pelo Espírito Santo” (15.16). Destacaremos aqui quatro verdades
preciosas.
Em primeiro lugar, a natureza do ministério de Paulo (15.16).
O apóstolo usa termos técnicos aqui para apresentar seu ministério sacerdotal.
Paulo é um liturgo, porque exerce a função de sacerdote,1152 vê a si mesmo como
um sacerdote no altar, que oferece a Deus um sacrifício perfeito. Para F. F.
Bruce, há nessas frases densa linguagem de culto: Paulo um leitourgos, sua
proclamação do evangelho, hierougeo, é um “serviço sacerdotal”, e seus
conversos gentios são uma oferenda que ele apresenta a Deus.1153
A palavra
grega leitourgos, traduzida como “ministro”, geralmente significa serviço
público (13.6), mas na literatura bíblica é usada “exclusivamente” com
referência a serviços rituais e religiosos. Assim, no Novo Testamento, aplica-se
tanto ao sacerdócio judaico (Hb 7.11) como a Jesus, nosso grande sumo sacerdote
(Hb 8.2). A seguir Paulo usa a palavra grega hierourgeo, traduzida por
“sagrado” e que significa dever sacerdotal, ou servir como sacerdote,especialmente
com relação aos sacrifícios no templo. Paulo emprega ainda as palavras gregas
prosphora, “oferta”, e euprosdektos, “aceitável”, a Deus, ambas comumente
utilizadas em relação aos sacrifícios (lPe 2.5).1154
Uma grande e
oportuna pergunta deve ser feita: Qual é, pois, o ministério sacerdotal de
Paulo, e qual é o sacrifício que ele deve oferecer? A resposta tem claramente a
ver com o evangelho e os gentios. Paulo considera-se um sacerdote no altar,
oferecendo a Deus os gentios que ganhou para Cristo.11155
John Stott esclarece:
Paulo considera sua obra missionária como sendo um
ministério sacerdotal porque ele é capaz de oferecer os seus convertidos gentios
como um sacrifício vivo a Deus. Embora os gentios fossem rigorosamente
excluídos do templo de Jerusalém, e não lhes fosse permitido de forma alguma
participar no ofertório de seus sacrifícios, agora, por intermédio do
evangelho, eles mesmos passam a ser uma oferta sagrada e aceitável a Deus.1156
Paulo vê seu
apostolado como um serviço sacerdotal, e considera os gentios que se
converteram por meio dele a oferta agradável que ele apresenta a Deus.1157
Warren Wiersbe diz que cada alma que ganhamos para Cristo é uma oferta de
sacrifício que oferecemos a Deus para a sua glória.115fí Alguns, sem dúvida,
sustentavam que os gentios convertidos por meio de Paulo eram “impuros” por não
terem sido circuncidados. A tais caviladores a réplica de Paulo é que esses
conversos eram “limpos” porque haviam sido santificados pelo Espírito Santo.1159
Para que não
fique nenhuma dúvida, porém, e não haja motivos de falsa interpretação por
parte de leitores desatentos, deixamos meridianamente claro que não há na
igreja cristã nenhum sacerdócio verdadeiro e nenhum sacrifício exceto os
figurativos.1160 Assistimos com pesar, em alguns redutos evangélicos, uma volta
aos rituais judaicos, quando estes eram apenas sombras que cessaram com a vinda
de Cristo e sua perfeita obra vicária, realizada na cruz do calvário.
Leenhardt é
absolutamente esclarecedor nesse ponto.
O sacerdote, cuja
função culminava no oferecimento do sacrifício, requeria-o uma instituição
divina destinada a restaurar as relações entre Deus e seu povo que o pecado
ameaçava e truncava. Na nova economia que Deus estabeleceu em Cristo Jesus, o
evangelho anunciado pelo apóstolo é a nova senda dessa reconciliação do pecador
com Deus: conduz o pecador à obediência da fé em Cristo,vítima sacrificial que
a todas as demais se substitui. O sacrifício de Cristo, no entanto, engloba e
implica o sacrifício de cada crente, unido ao Crucificado pela fé e batismo
(6.2,3). Mercê dessa união, torna-se o pecador, com Cristo, uma oferenda viva,
santa e agradável a Deus (12.1). O pregador do evangelho assume, portanto, uma
função sacerdotal, como outrora o sacerdote do templo que oferecia os animais.
Exatamente como o sacerdote, tem o apóstolo por missão preparar a volta dos
homens a Deus por via do oferecimento de uma vítima. Tais verdades são
fundamentais: o sacerdote é de agora em diante assumido pelo apostolado não no
sentido de que oficiaria em um novo altar para oferecer um novo sacrifício, mas
em que anuncia o evangelho e se torna o instrumento por intermédio do qual o
Espírito Santo associa os crentes ao sacrifício da cruz. Se os sacrifícios
antigos e o sacerdócio que lhes era ordenado estão daqui em diante suspensos, é
que o propósito a que servia essa instituição é agora superiormente alcançado
pelo apostolado que instituiu Cristo.1161
Em segundo lugar, a abrangência do ministério de
Paulo(15.16). O ministério de Paulo era voltado aos gentios. O próprio Deus o
capacitou e o conduziu nessa direção. Paulo permaneceu fiel a seu chamado e no
final de sua vida pôde dizer: “Mas o Senhor me assistiu e me revestiu de
forças, para que, por meu intermédio, a pregação fosse plenamente cumprida, e
todos os gentios a ouvissem...” (2Tm 4.17).
Em terceiro lugar, a essência do ministério de Paulo
(15.16). O eixo central do ministério de Paulo era o sagrado encargo de
anunciar o evangelho de Deus. Seu ensino não era próprio. Ele não pregava
palavras de homens, mas o evangelho de Deus. E uma grande tragédia que muitos
obreiros na igreja contemporânea tenham substituído o evangelho de Deus por
outro evangelho, sonegando ao povo o Pão verdadeiro, dando-lhe o farelo de
doutrinas engendradas no laboratório do engano. Pululam nos púlpitos falsas
doutrinas; florescem no canteiro do evangelicalismo brasileiro novidades estranhas.
Escasseiam nas pregações e nas músicas contemporâneas o santo evangelho de
Cristo.
Em quarto lugar, o propósito do ministério de
Paulo(15.16). O propósito de Paulo é que os gentios, ao apresentar no altar
suas vidas convertidas e santificadas pelo Espírito, fossem como oferta
aceitável a Deus. Paulo não era um pregador pragmático. Não se contentava
apenas com números. Não se deixava impressionar por grandes movimentos. Ele
queria vidas transformadas. Queria que os membros da igreja fossem ofertas
aceitáveis a Deus.
Paulo, o pregador poderoso (T 5.17-19)
Destacaremos
aqui alguns pontos vitais na vida do apóstolo Paulo como poderoso pregador.
Em primeiro lugar, Paulo se gloria em Cristo, e não em
si mesmo. “Tenho, pois, motivo de gloriar-me em Cristo Jesus nas coisas
concernentes a Deus” (15.17). Paulo não era um balão cheio de vento. Não se
ufanava de seu abrangente e extraordinário ministério. William Hendriksen diz
que a exultação de Paulo está correta, uma vez que é exultação em Cristo, e não
autoglorificação (lCo 1.29-31; 2Co 10.17).1162 Paulo se gloriava em Cristo, e
não em si mesmo; nas coisas concernentes a Deus, e não em suas próprias coisas.
Paulo não trabalhou para engrandecer seu próprio nome, pois tinha em mente
propósitos mais elevados. Desejava glorificar a Cristo.1163 Estão em total
desacordo com o ensino bíblico aqueles que exaltam a si mesmos e constroem
monumentos à sua própria glória. Toda glória dada ao homem é vazia, é
vangloria, é idolatria. Deus não reparte a sua glória com ninguém.
Em segundo lugar, Paulo prega aos ouvidos e aos
olhos.“Porque não ousarei discorrer sobre coisa alguma, senão sobre aquelas que
Cristo fez por meu intermédio, para conduzir os gentios à obediência, por
palavra e por obras”(15.18). A ênfase de Paulo não estava nas coisas que ele
fazia para Cristo, mas nas coisas que Cristo fazia por intermédio dele. A obra é
de Cristo, o poder vem de Cristo; Paulo é apenas o instrumento, e não o agente.
Nas palavras de Stott: “Cristo age, não com ele, mas por intermédio dele”.1164
O ministério
de Paulo de conduzir os gentios à obediência realizou-se por palavras e obras.
Ele pregava e fazia. Ele pregava aos ouvidos e também aos olhos. John Stott diz
que as palavras explicam os gestos, mas os gestos representam as palavras.1165
Deve existir profunda conexão entre o verbal e o visual, entre a palavra e a
ação. Foi assim o próprio ministério de Cristo: ele fazia e ensinava (At 1.1).
Ressaltamos
também que os gentios eram conduzidos à obediência. A salvação implica
transformação. E impossível receber a Cristo como Salvador sem se submeter a
ele como Senhor. Geoffrey Wilson diz corretamente: “Ao se opor ao legalismo, o
apóstolo não fazia qualquer concessão à libertinagem. Ele não pregava um
evangelho barato e fácil em que bastava crer, porque Cristo nao aceitará ser
Salvador daqueles que se recusam a segui-lo como Senhor”.1166
Em terceiro lugar, Paulo realiza sinais e prodígios
pelo poder do Espírito Santo. “Por força de sinais e prodígios, pelo poder do
Espírito Santo...” (15.19a). Paulo é um pregador poderoso. Seu poder não emana
de si mesmo, vem de Deus. Sua força não vem de dentro, mas do alto. Seu
apostolado é confirmado com sinais e prodígios (2Co 12.12; At 13.612; 14.8-10;
16.16-18; 16.25,26; 19.11-16), os quais são operados mediante o poder do
Espírito Santo.
William
Hendriksen afirma que ambos, “sinais” e “prodígios”, são milagres, realizados
sobrenaturalmente. Um milagre é chamado “prodígio” quando se dá ênfase no efeito
exercido sobre o observador. Em contrapartida, quando o milagre aponta para
fora de si mesmo e representa os atributos (poder, sabedoria, graça etc.)
daquele que o realiza, é chamado “sinal”.1167 John Murray diz que sinais e
prodígios não significam dois tipos diferentes de eventos. Referem-se aos
mesmos acontecimentos, considerados por ângulos diferentes. Um milagre é tanto
um sinal quanto um prodígio. Na qualidade de sinal, aponta para o instrumento mediante
o qual ele ocorre e, deste modo, possui caráter de confirmação; na qualidade de
prodígio, enfatiza o aspecto admirável do evento.1168
Concordo com
John Stott quando ele diz que o propósito principal dessas manifestações era
autenticar o ministério todo especial dos apóstolos (Hb 2.4).1169 Segundo
Calvino, os milagres têm como propósito conduzir os homens ao temor e à
obediência a Deus. No evangelho de Marcos, lemos que o Senhor confirmava a
Palavra com os sinais que se seguiam (Mc 16.20). Lucas diz que o Senhor dava
testemunho à Palavra de sua graça por sinais e milagres (At 14.3). Assim, pois,
os milagres que buscam glorificar as criaturas, e não a Deus, e tratam de dar
autoridade às mentiras, e não à Palavra de Deus, são do diabo."70
É de bom
alvitre enfatizar que o ofício apostólico cessou na igreja. Não temos mais
apóstolos hoje como aqueles do Novo Testamento. O cânon das Escrituras está
fechado. Não há mais novas revelações. O fundamento já foi lançado pelos
apóstolos e profetas e agora precisamos edificar sobre o fundamento que é
Cristo. A igreja é apostólica hoje na medida em que segue a doutrina dos
apóstolos. É de bom-tom igualmente enfatizar que milagres físicos nao são a
única maneira pela qual o poder do Espírito Santo se manifesta. Cada conversão
é uma manifestação de poder na qual o Espírito, por intermédio do evangelho,
resgata e regenera pecadores.1'71
Paulo, o missionário pioneiro (15.19b-21)
Paulo foi,
sem sombra de dúvidas, o maior missionário da igreja de todos os tempos. Ele
plantou igrejas nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia Menor.
Conforme E E Bruce, nas principais cidades às margens das mais importantes vias
das províncias da Síria-Silícia, de Chipre, da Galácia, da Ásia, da Macedônia e
da Acaia, havia comunidades de crentes em Cristo para testemunhar a atividade
apostólica de Paulo. Em toda a parte, seu objetivo era pregar o evangelho onde
ele ainda não tinha sido anunciado. Tendo completado sua obra no Oriente,
olhava para o Ocidente e se propunha evangelizar a Espanha.1172 Destacaremos a
seguir aqui alguns pontos importantes de se pioirismo.
Em primeiro lugar, os limites de sua ação
missionária.“[...] de maneira que desde Jerusalém e circunvizinhanças até ao
Ilírico, tenho divulgado o evangelho de Cristo” (15.19b). Paulo vai desde o
extremo Oriente, em Jerusalém, até ao Ocidente, ao Ilírico. Seguindo a rota do
sol, seu caminho o conduziu do leste para o oeste, até a costa do mar
Adriático.1173 A indicação deve sugerir ao leitor a marcha triunfal do
evangelho do Oriente ao Ocidente e o sentimento de que tudo o que jaz a leste
de Roma já havia sido atingido.1174 Essa região da Ilíria se situava na costa
ocidental do mar Adriático, na Macedônia, e corresponde aproximadamente à
Albânia e à parte sul do que era a antiga Iugoslávia. Lucas nao registra, no
livro de Atos, nenhuma visita de Paulo ao Ilírico.Em segundo lugar, a filosofia
de sua ação missionária. “Esforçando-me, deste modo, por pregar o evangelho,
não onde Cristo já fora anunciado, para não edificar sobre fundamento alheio;
antes, como está escrito: Hão de vê-lo aqueles que não tiveram notícia dele, e
compreendê-lo os que nada tinham ouvido a seu respeito” (15.20,21). William
Hendriksen diz que Paulo se considerava um desbravador de trilhas para o
evangelho, um missionário pioneiro, um plantador de igrejas."75 Seu
chamado era para lançar os fundamentos (ICo 3.10). Sua vocação era semear, e
não regar (ICo 3.6). Paulo era um plantador, e não um mantenedor de igrejas.
John Stott tem razão quando diz que o próprio chamado e o dom de Paulo, como
apóstolo dos gentios, eram para ele ser o pioneiro da evangelização do mundo
gentílico, e deixar aos outros, especialmente aos presbíteros locais ali
residentes, o cuidado pastoral das igrejas."76
Leenhardt
acrescenta que Paulo desejava terras virgens. A prioridade do seu apostolado
era não passar onde outros haviam já trabalhado. Não que receasse dos conflitos
de autoridade; é que a tarefa era urgente. Paulo chegou a ponto de excluir de
seu apostolado a prática generalizada do batismo (ICo 1.17), sem dúvida porque
se reservava a apenas lançar os alicerces, deixando a outros o cuidado do labor
de mais longa duração, que era a instrução preliminar ao batismo (1 Co 3.10).
Paulo se apressa não por política eclesiástica, mas por fidelidade à vocação:
os gentios estão à espera! 1177
Paulo, o viajante intercontinental (15.22-29)
Paulo era um
missionário itinerante. Fazia muitas e perigosas viagens, mesmo diante de
precariedades óbvias e riscos profundos. No texto em apreço, o apóstolo fala
sobre seus pianos de viagem, inclusive o roteiro de Roma, Jerusalém e Espanha.
Em primeiro
lugar, seu plano de visitar Roma (15.22-24).
Acompanhemos
o relato de Paulo:
Essa foi a razão por que também, muitas vezes, me senti
impedido de visitar-vos. Mas, agora, não tendo já campo de atividade nestas
regiões e desejando há muito visitar-vos, penso em fazê-lo quando em viagem
para a Espanha, pois espero que de passagem, estarei convosco e que para lá
seja por vós encaminhado, depois de haver primeiro desfrutado um pouco a vossa
companhia (15.22-24).
Duas
verdades são destacadas aqui:
a. Os motivos que
retardaram a ida de Paulo a Roma(15.22,23). O atraso da visita de Paulo à igreja de Roma não
se deveu a barreiras espirituais, mas a oportunidades que não podiam deixar de
ser aproveitadas. Se foi Satanás quem barrou o caminho do apóstolo aTessalônica
(iTs 2.18), foi a obra de Deus que retardou sua visita a Roma. Enquanto havia
campos para serem abertos nas províncias da Galácia, Macedônia, Acaia e Ásia
Menor, Paulo se concentrou nessa tarefa. Agora, era tempo de alçar voos e
alcançar horizontes mais distantes; e nessa nova empreitada pretendia passar por
Roma.
b. Os propósitos da
visita de Paulo a Roma (15.24). Paulo tinha três propósitos em mente ao visitar a igreja de
Roma. Primeiro, desejava desfrutar um pouco a companhia daqueles irmãos,
repartindo com eles algum dom espiritual, recebendo e oferecendo conforto por intermédio
da fé mútua (1.11,12). Segundo, queria conseguir entre os crentes de Roma algum
fruto espiritual (1.13). Terceiro, pretendia ser enviado pela igreja de Roma
com o sustento devido à Espanha (15.24). Ele novamente dá a entender aos
romanos: entre vocês terei apenas papel de visitante, mas me auxiliem em meu
trabalho pioneiro na Espanha.1178
Em segundo lugar, seu plano de visitar Jerusalém.
Acompanhemos atentamente o relato do apóstolo:
Mas, agora, estou de
partida para Jerusalém, a serviço dos santos. Porque aprouve à Macedônia e à
Acaia levantar uma coleta em benefício dos pobres dentre os santos que vivem em
Jerusalém. Isto lhes pareceu bem, e mesmo lhes são devedores; porque, se os
gentios têm sido participantes dos valores espirituais dos judeus, devem também
servi-los com bens materiais (15.25-27).
Três
verdades merecem ser destacadas aqui:
a. A diaconia de Paulo
(15.25). Paulo
vai a Jerusalém exercer o ministério da misericórdia. Ele está cumprindo a
promessa que assumira diante dos apóstolos de Jerusalém, de que não esqueceria
os pobres (G1 2.10). Esse trabalho não era menos digno que pregar o evangelho.
Era na verdade uma demonstração da eficácia do evangelho e do amor dos crentes.
b. A generosidade dos
crentes gentios (15.26). Os crentes gentios da Macedônia e Acaia demonstram amor
àqueles que eles não conheciam pessoalmente. Ofertam de forma voluntária,
proporcional e sacrificial (lCo 16.1-4; 2Co 8—9; At 24.17). Evidenciam que o
amor cristão não consiste apenas em palavras, mas sobretudo em ação. A comunhão
inclui o repartir o pão.
c. A dívida dos crentes
gentios (15.27).
Paulo argumenta que os judeus repartiram com os gentios as bênçãos espirituais,
e agora os gentios deveriam repartir com eles as bênçãos materiais. A oferta
dos gentios aos crentes judeus não era apenas uma questão de generosidade, mas
também uma dívida espiritual. Paulo vê na oferta proveniente das igrejas
gentílicas a demonstração simbólica, material e humilde da sua dívida aos
judeus. John Stott lança luz sobre esse assunto:
O significado primordial da oferta (a solidariedade do povo
de Deus em Cristo) não era geográfico (da Grécia para a Judeia), nem social
(dos ricos para os pobres) nem mesmo étnico (dos gentios para os judeus), mas
era sobretudo religioso (de radicais liberais para conservadores tradicionais,
isto é, dos fortes para os fracos), e especialmente teológico (dos beneficiados
para os benfeitores). Em outras palavras, o que eles estavam chamando de
“dádiva” era na realidade uma “dívida”.1179
Leenhardt
destaca que essa oferta econômica era uma expressão necessária do amor
fraternal. Também os fundos arrecadados foram dados de bom grado,
espontaneamente, e não extorquidos. Não se tratou de uma obrigação
desagradável, ou uma extorsão, mas de uma santa permuta, pois aquele que
recebeu é feliz em retribuir, sob outra forma. Ainda essa oferta foi uma
espécie de koinonia, uma comunhão, uma reciprocidade de serviços. Cada qual
dava do que tinha e recebia o que lhe faltava. Assim todos viviam reciprocamente
em dívida e “obrigados”.1180 Finalmente, a referida oferta foi um sinal
evidente de unidade da igreja. Mostra concretamente que os tenros rebentos são
solidários com o velho tronco.1181
Em terceiro lugar, seu plano de visita à Espanha.
“Tendo, pois, concluído isto e havendo-lhes consignado este fruto, passando por
vós, irei à Espanha. E bem sei que, ao visitar-vos, irei na plenitude da bênção
de Cristo” (15.28,29). Paulo sempre tivera os olhos fixos “nas regiões além” e
passa a contar aos amigos em Roma seus planos de largo alcance .1182
Na época do
imperador Augusto, toda a Península Ibérica havia sido subjugada pelos romanos
e organizada em três províncias, com muitas colônias romanas florescendo. Adolf
Pohl diz que, naquele tempo, semelhantemente à Palestina, seu ponto oposto no
Leste, a Espanha era uma ponte terrestre muito disputada entre a Europa e a
África, além de local de convergência de rotas marítimas bastante ramificadas.
Havia séculos estava incorporada à cultura mundial grega, sendo berço de
importantes filósofos, artistas e imperadores. Por muito tempo vivia lá uma
colônia judaica, em várias comunidades com sinagogas. Portanto, Paulo sente-se
desafiado por uma nova e importante etapa de missão.
William
Barclay diz que a Espanha em certo sentido estava situada no limite extremo do
mundo civilizado. Paulo queria levar as boas-novas do evangelho tão longe
quanto possível. Além disso, muitos dos grandes homens do império eram
espanhóis, como Lucano, o poeta épico; Marcial, o mestre dos epigramas;
Quintiliano, o maior orador de seus dias; e Sêneca, filósofo estoico e tutor de
Nero.
Não podemos
afirmar categoricamente que Paulo tenha ido à Espanha. Há, contudo, fortes
indícios de que este plano tenha sido concretizado. Clemente de Roma e o Fragmento
Muratoriano, por exemplo, reforçam essa teoria.1185
Paulo, o pastor solícito (15.30-33)
Paulo
conclui o passo bíblico revelando seu profundo senso pastoral. Ele não apenas
cuida do rebanho, mas anseia também ser cuidado por ele. Não apenas ora pela
igreja, mas também roga orações à igreja em seu favor. Não fala à igreja do
alto de uma arrogância prepotente, mas deseja estar presente com os crentes e
recrear-se no meio deles.
Destacamos
aqui três verdades:
Em primeiro lugar, Paulo pede orações à igreja.
“Rogo-vos, pois, irmãos, por nosso Senhor Jesus Cristo e também pelo amor do
Espírito, que luteis juntamente comigo nas orações a Deus a meu favor, para que
eu me veja livre dos rebeldes que vivem na Judeia, e que este meu serviço em
Jerusalém seja bem aceito pelos santos” (15.30,31).
Destacamos
alguns pontos:
a. A oração
étrinitariana (15.30). Paulo diz que a oração é dirigida ao Pai, por intermédio do Senhor Jesus
Cristo, pelo amor do Espírito. Paulo proclama a singularidade de Deus,
constituído em três pessoas distintas. Não são três deuses, mas um só Deus,
subsistindo em três pessoas da mesma substancia.
b. A oração é uma luta
renhida (15.30).
A oração é uma batalha com Deus e contra o diabo, a carne e o mundo. Não há
nada de amenidade na oração; ela é uma luta acesa e renhida. A sonolência e a
indolência não combinam com a oração. Ela é uma luta que exige diligência e
esforço. As palavras “luteis juntamente” trazem à mente um atleta dando o
melhor de si numa competição. Devemos ser tão fervorosos em nossa oração quanto
um atleta é dedicado em suas competições.1186
c. A oração é o meio de
Deus intervir nas circunstâncias(15.31). Paulo acredita que Deus age nas circunstâncias por
intermédio da oração. John Murray diz que a oração é um dos meios determinados
por Deus para a concretização de seus desígnios graciosos, sendo também
resultado da fé e da esperança.1187 Paulo faz dois pedidos claros à igreja de
Roma:
1) Ser liberto dos rebeldes da Judeia. Ele sabia que a maior oposição ao
seu ministério procedia desses rebeldes.Eles consideravam Paulo um traidor.
Eles pensavam que Paulo estava pervertendo a religião judaica. Paulo pede
orações à igreja de Roma para não ser vítima de emboscadas desses rebeldes em
sua visita à cidade de Jerusalém. Embora ele não tivesse medo de morrer, tomava
precauções para não morrer.
2) Ter seu serviço bem aceito pelos
santos de Jerusalém.
As ofertas
que Paulo havia recolhido dentre as igrejas gentílicas eram mais que ajuda
financeira aos santos de Jerusalém; simbolizavam a comunhão entre gentios e
judeus e eram elo de união da multirracial igreja primitiva. John Stott diz
que, aceitando a coleta trazida pelos apóstolos, os líderes cristãos judeus
estariam endossando o evangelho de Paulo e sua aparente desconsideração pela
lei e pelas tradições judaicas. Se a rejeitassem, porém, isso seria uma
verdadeira tragédia, que aumentaria irrevogavelmente a rixa entre cristãos
judeus e cristãos gentios. A aceitação da oferta fortaleceria a solidariedade
entre judeus e gentios no corpo de Cristo.
Paulo
desejava criar um vínculo mais próximo entre a igreja-mãe em Jerusalém e suas
“filhas” em outras partes do império."89 William Hendriksen afirma que
Paulo temia que aqueles a quem a oferta se destinava não estivessem dispostos a
aceitar a oferta. Sabia muito bem que, a despeito das decisões do Concilio de
Jerusalém (At 15.19-29), a oposição a ele e ao seu evangelho de liberdade em
Cristo nunca havia cessado. Isso explica sua súplica sincera."90Em segundo
lugar, Paulo submete-se à vontade de Deus.“A fim de que, ao visitar-vos, pela
vontade de Deus, chegue à vossa presença com alegria e possa recrear-me
convosco” (15-32). Paulo, diferentemente de alguns arrogantes e pretensiosos
obreiros contemporâneos, não ordena nem exige coisa alguma de Deus; antes,
submete-se à agenda de Deus e à sua soberana vontade. Concordo com John Stott
quando ele diz que o propósito da oração não é, de maneira alguma, submeter a
vontade de Deus à nossa, mas alinhar nossa vontade à dele (ljo 5.14; Mt
6.10).1191 Paulo foi a Roma não conforme havia planejado. Chegou preso e
algemado, depois de uma injusta prisão e um terrível naufrágio, mas o plano de
Deus foi cumprido, a vontade de Deus foi feita e a obra de Deus prosperou por
seu intermédio.
A alegre
expressão “estou chegando”, repetida várias vezes em Romanos, não se cumpriu
conforme imaginava Paulo. Em Jerusalém, Paulo foi imediatamente preso. Passou
dois anos preso em Cesareia. Apenas na primavera de 61 d.C., chegou a Roma -
num comboio de prisioneiros. Somente depois de outros dois anos de prisão foi
solto (At 28.30,31). Depois de sair da primeira prisão em Roma, visitou as
igrejas e encorajou os crentes em tempos sombrios de iminente perseguição.
Então, foi recapturado e jogado numa masmorra, de onde saiu para o martírio. Em
todo o tempo e em todas as circunstâncias, entretanto, jamais duvidou da
soberana providência divina. Jamais se considerou prisioneiro de César. Via a
si mesmo como prisioneiro de Cristo e embaixador em cadeias (Ef 4.1; 6.20).
Mesmo sob circunstâncias tão adversas, entendia que todas as coisas contribuíam
para o progresso do evangelho (Fp 1.12). Ao chegar a hora do seu martírio,
estava convicto de que não era Roma que lhe tiraria a vida, mas ele é quem
oferecia sua vida a Deus como libação (2Tm 4.6).
Em terceiro lugar, Paulo invoca sobre os crentes a
bênçãode Deus. “E o Deus da paz seja com todos vós. Amém!” (15.33). Em Romanos
15.5 Paulo havia testemunhado acerca de Deus como o “Deus da paciência” e em
Romanos 15.13 como o “Deus da esperança”. Agora ele encontra uma terceira
designação, o “Deus da paz”.1192 Cranfield é da opinião de que “paz” aqui
provavelmente significa a soma de todas as verdadeiras bênçãos, inclusive a
salvação final. Ao chamar Deus de “o Deus da paz”, Paulo o está caracterizando
como a Fonte e o Doador de todas as verdadeiras bênçãos, o Deus que está ao
mesmo tempo disposto e é capaz de ajudar e salvar até o máximo.1193
Em vez de
falar sobre a paz de Deus, o apóstolo fala sobre o Deus da paz. Quando temos o
Deus da paz, temos a paz com Deus e a paz de Deus. Deus é melhor que suas
bênçãos. Quando temos Deus, temos tudo o que Deus é e tudo o que Deus dá.
Do começo ao
fim desta carta, Paulo se preocupa com a unidade entre judeus e gentios. Por
isso, conclui rogando que o Deus da paz fosse com todos eles. A palavra
hebraica shalom, “paz”, era uma preocupação central para os judeus. Assim, o
judeu Paulo, que é também apóstolo dos gentios, pronuncia sobre os seus
leitores gentios a bênção judaica.
As excelências do
ministério de Paulo
Romanos - O
evangelho segundo Paulo- Hernandes Dias
Lopes
NOTÍCIAS
Intolerância persegue minorias:
entrevista com Romi Bencke
O recente massacre ocorrido na Universidade de
Garissa, no Quênia, retoma as discussões sobre a perseguição de grupos
extremistas contra cristãos em todo o mundo. O atentado, promovido pela milícia
islâmica Al-Shabbab, no último dia 2 de abril, resultou em 147 mortos e 79
feridos. O grupo armado invadiu a universidade e atacou as vítimas de acordo
com a religião – estudantes cristãos foram mortos e não cristãos poupados. A
intolerância religiosa tem sido responsável por milhares de mortes ao longo da
história. Especialistas apontam que o quadro de violência pode se agravar nos
próximos anos. Movimentos sociais cobram mais atenção dos governos e da
mídia...
De acordo com a Classificação 2015 da
Perseguição Religiosa, da organização Portas Abertas, os 10 países onde os
cristãos enfrentam a maior pressão e violência são: Coreia do Norte, Somália,
Iraque, Síria, Afeganistão, Sudão, Irã, Paquistão, Eritreia e Nigéria.
Segundo o estudo "O futuro das
religiões no mundo: projeções 2010-2050", realizado pela Pew Research
Center, se continuadas as tendência atuais, em 2050, haverá no mundo tantos
muçulmanos quanto cristãos e o número de pessoas sem religião diminuirá. Os
cristãos, no entanto, continuarão ainda a ser o maior grupo religioso do mundo,
segundo a pesquisa. Os dados indicam que o número de muçulmanos no mundo
alcançará 2,8 bilhões de pessoas ou 30% da população (1,6 bilhão, em 2010),
enquanto que, no mesmo ano, haverá 2,9 bilhões de cristãos ou 31% da população
(2,1 bilhões em 2010). Pela primeira vez na história, essa equivalência poderá
acontecer.
Mantendo-se as tendências, os hindus
serão o terceiro grupo religioso, representando 14,9% (1,3 bilhão de pessoas)
da população mundial, enquanto 13,2% (1,2 bilhões) serão pessoas sem
religião.
O estudo prevê ainda uma diminuição da
percentagem de pessoas sem religião, embora, em alguns países -- como os
Estados Unidos e a França –, seja esperado o aumento do número de ateus e
agnósticos. Veja aqui a
composição da religião por países: 2010 e 2050.
Em entrevista especial à Adital, a
secretária-geral do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC),
Romi Bencke*, analisa o contexto de perseguição aos cristãos no mundo, a
possibilidade de diálogo entre as religiões e como se expressa a intolerância
religiosa, incluindo o Brasil.
29 Abril 2015
E este evangelho do Reino será pregado em todo
o mundo como testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
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