Maravilhosa Graça
Romanos 14.1-12
Ora, quanto ao
que está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas. Porque um
crê que de tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes. O que come
não despreze o que não come; e o que não come não julgue o que come; porque
Deus o recebeu por seu. Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu
próprio senhor ele está em pé ou cai; mas estará em firme, porque poderoso é
Deus para o firmar. Um faz diferença entre dia e dia, mas outro julga iguais
todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio ânimo. Aquele
que faz caso do dia, para o Senhor o faz. O que come para o Senhor come, porque
dá graças a Deus; e o que não come para o Senhor não come e dá graças a Deus.
Porque nenhum de nós vive para si e nenhum morre para si. Porque, se vivemos,
para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou
vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi para isto que morreu Cristo e tornou
a viver; para ser Senhor tanto dos mortos como dos vivos. Mas tu, por que
julgas teu irmão? Ou tu, também, por que desprezas teu irmão? Pois todos
havemos de comparecer ante o tribunal de Cristo. Porque está escrito: Pela
minha vida, diz o Senhor, todo joelho se dobrará diante de mim, e toda língua
confessará a Deus. De maneira que cada um de nós dará conta de si mesmo a Deus.
Buscando a Maturidade
“Ora, quanto ao que
está enfermo na fé, recebei-o, não em contendas sobre dúvidas” (14.1). O apóstolo introduz aqui uma nova
discussão — o relacionamento entre crentes maduros e imaturos. Essa seção
revelará como deve ser o convívio entre os “ fracos” e os “ fortes” na fé. Essa
não é uma peculiaridade da igreja de Roma. Nenhuma igreja é nivelada, possuindo
somente crentes fortes ou somente crentes fracos. Essas duas modalidades de
crentes estão presentes em qualquer discipulado cristão. As vezes incorremos no
erro de achar que a igreja deve ter somente os “fortes”, e acabam os relegando
os débeis na fé para segundo plano. Diante de Deus todos são importantes. O que
precisamos ter é amor e paciência para descer até ao nível do irmão mais fraco
para ajudá-lo a crescer. O cristão “ débil” , tradução do grego astheneo,
possui o sentido de “ fraco ” , “doente” . Esse termo era usado tanto para
enfermidades físicas como espirituais (Lc 5 .15 ; 1 Co 11 .30 ). Godet destaca
que o sentido nesse texto é de alguém que enfraquece num dado momento e num
caso especial.1 Já destacamos que a igreja de Roma era formada por judeus e em
grande maioria por gentios. O problema não era com os gentios adotando práticas
pagãs, pois não vem os aqui as mesmas recomendações que Paulo deu à igreja
gentílica de Corinto (1 Co 8). Os judeus — com suas tradições milenares, como
por exemplo, a observância de vários ritos cerimoniais — eram mais propensos a
entrar em choque com a nova fé. Toda essa carga cultural vinha junto quando um
deles se convertia ao evangelho . Como conciliar a tradição com os princípios
do evangelho ? Evidentemente que essa foi sem dúvida uma fonte de tensão na
igreja de Roma. Não se tratava de uma prática judaizante, pois não vemos o
apóstolo enfatizando isso em seu discurso como fez, por exemplo, com a igreja
da Galácia. A referência à guarda de dias especiais e a observância a regras
alimentares se ajusta melhor com a cultura judaica.
Esse
conflito estava gerando
debates acalorados na igreja , e essas “opiniões” (gr. dialogismos) estavam
gerando muitos questionamentos. Em qualquer igreja viva, onde há a presença de
novos manifestos, esses questionamentos aparecem . A orientação apostólica é no
sentido de que isso não venha a causar tropeço naquele que é mais fraco. À
propósito , lembro -me de que quando eu e minha família recebemos Jesus como
Salvador nos anos 80, um amigo nosso também se converteu. Ele era muito
dinâmico e possuía o hábito de tudo questionar. Ele não questionava por
questionar, mas por queria saber de tudo de forma muito rápida. Nesse propósito
ele se debruçou na leitura da Bíblia. Certa noite, ele chegou em nossa casa com
um a pergunta. Dirigindo -se a meu irmão , perguntou: “De onde veio Deus?” Meu
irmão, que havia se convertido alguns meses antes, respondeu que Deus não tinha
origem , visto que era isso o que a Bíblia afirmava em Salmos 90.2: “Antes que
os montes nascessem , ou que tu formasses a terra e o mundo, sim , de
eternidade a eternidade, tu és Deus”. Aquele amado irmão não se deu por satisfeito
porque, segundo ele, também havia lido na Bíblia que “Deus veio de Temã” (Hc
3.3). Estava formada a polêmica! Por cerca de uma hora eles discutiram de forma
acalorada. Eu ficava apenas observando de longe. Em determinado momento , já
com os ânimos alterados, meu irmão pediu que nosso amigo se retirasse para sua
casa. Dias depois procuramos aquele irmão para uma reconciliação. Mais de
trinta anos já se passaram e continuamos amigos. Não tenho dúvidas de que em
Roma havia também debates assim .
“Porque um crê que de
tudo se pode comer, e outro, que é fraco, come legumes” (14.2). Aqui o crente “ forte ” aparece como
aquele que acredita que está livre para comer de tudo. D e acordo como
versículo 21, o comer carne está em evidência nessa discussão. Por outro lado,
o crente “ débil” não possuía estrutura para fazer o mesmo que seu irmão mais “
forte” fazia. Em vez disso, ele ficava escandalizado . Mudou o cardápio ,
mas as controvérsias continuam hoje. Conheci u m estimado irmão em Cristo que
não conseguia usar camisa de mangas curtas porque achava que as mesmas o
deixavam mundano. Outro achava que crente nenhum devia ir à praia. Isso parece
tolice, mas são fatos reais e que precisam ser vistos com amor para que não
haja um aleijão na formação cristã.
"O que come não
despreze 0 que não come; e 0 que não come não julgue 0 que come; porque Deus 0
recebeu por seu” (14.3). Aqui está o ponto de equilíbrio — o respeito pelas
convicções de cada um . Paulo não entra em u m juízo d e valor, decidindo por
um dos lados. Mas procura mostrar que acima de tudo a lei do amor fraternal
deve imperar nesses casos. O que comia carne não deveria desprezar o que não
comia e o que não comia carne também não deveria desprezar o que comia. À
propósito , lembro que no início da minha fé éramos exortados a não usar
bermudas e jogar futebol. Agora imagine que nesse tempo eu tinha 18 anos e
jogava em um time de futebol amador. Sofri por conta da força do hábito , mas
me ajustei às normas da igreja naqueles dias. Tantos ano s se passaram que não sinto
nem a falta da bermuda nem tampouco do futebol.2 Hoje eu sei que esses usos e
essas práticas não são pecaminosas em si e nunca foram . Mas como obediência à
comunidade que abracei naqueles dias, abandonei essas práticas.
“Um faz diferença entre dia e dia, mas outro
julga iguais todos os dias. Cada um esteja inteiramente seguro em seu próprio
ânimo” (14.5). Os comentaristas destacam que o prosélito tinha por hábito considerar
sagrado alguns dias, como por exemplo, o Dia da Expiação . Evidentemente que
isso estava fixo de tal forma em sua mente que a não observância era um motivo
de escândalo. Todavia, um novo convertido vindo do paganismo rejeitava essa
prática por não achá-la mais necessária.3 Elvis Carballosa, em seu comentário
de Romanos, observa que a ideia aqui é a de que qualquer prática cristã deve
visar à glória de Deus.4 Evidentemente que aqui não está em foco a guarda do
sábado como fazem determinados grupos heterodoxos em nossos dias, pois Paulo
tinha convicção de que essa prática era apenas uma sombra que se cumpriu em Cristo
(C l 2.16).
“Mas tu, por que julgas teu irmão? Ou tu,
também,por que desprezas teu irmão? Pois todos havemos de comparecer ante o
tribunal de Cristo” (14.10). Há algumas coisas que são centrais na fé cristã enquanto outras
são periféricas. A maioria das controvérsias entre irmãos em Cristo se dá por
conta de coisas não essenciais. Muitos debates se fundamentam em futilidades
sem fundamentação bíblica. O grande humanista do século XVI, Erasmo de Roterdã,
em sua avassaladora sátira ao catolicismo medieval, mostrou esse fato comum a
retórica impecável: “Escutei outro igualmente divertido : era um velho o ctogenário
, teólogo da cabeça aos pés, e tão teólogo que o teriam tomado por Scotus
ressuscitado. Explicando um dia o mistério do nome de Jesus, ele demonstrou com
maravilhosa sutileza que tudo o que se pode dizer do divino Salvador está
oculto nas letras do seu nome: ‘De fato, dizia, o nome de Jesus em latim tem
apenas três casos, o que designa claramente as três pessoas da Santíssima
Trindade. Observai, além disso, que o nominativo termina em S, JesuS, o
acusativo em M, JesuM, e o ablativo em U JesU. Ora, essas três terminações, S,
M, U, encerram um mistério inefável; pois, sendo as primeiras letras das três
palavras latinas Summum (zénite), Médium (centro) e UItimum (nadir), elas significam
claramente que Jesus é o princípio , o centro e o fim de todas as coisas’.
Restava ainda um mistério bem mais difícil de explicar que todos esses, mas
nosso doutor encontrou uma solução inteiramente matemática. Ele dividiu a
palavra Jesus em duas partes iguais, de maneira que a letra S ficou sozinha no
meio. ‘Essa letra T, disse em seguida, que suprimimos do nome d e Jesus, cham
a-se Sjn entre os hebreus; ora, Sjn é um a palavra escocesa que, ao que eu
saiba, significa pecado. Isso nos mostra então claramente que foi Jesus que
tirou o pecado do mundo ’. Todos os ouvintes, sobretudo os teólogos, atentos a
um exórdio tão maravilhoso, estavam paralisados de admiração; por pouco não
teriam se transformado em pedra com o outrora Níobe, depois que Apolo matou
seus filhos. [...] Mas nossos sábios doutores [...] julgam que esses
preâmbulos, como os chamam , são obras-primas de eloquência quando neles nada
se pode perceber que os ligue ao resto do discurso, e quando o ouvinte, cheio
de espanto e admiração , pergunta a si próprio : ‘Onde ele quer chegar?’” .5
Romanos 14.13-23
Assim que não nos julguemos mais uns aos outros; antes,
seja o vosso propósito não pôr tropeço ou escândalo ao irmão. Eu sei e estou
certo, no Senhor Jesus, que nenhuma coisa é de si mesma imunda, a não ser para
aquele que a tem por imunda; para esse é imunda. Mas, se por causa da comida se
contrista teu irmão, já não andas conforme o amor. Não destruas por causa da
tua comida aquele por quem Cristo morreu. Não seja, pois, blasfemado o vosso
bem; porque o Reino de Deus não é comida nem bebida, mas jusdça, e paz, e
alegria no Espírito Santo. Porque quem nisto serve a Cristo agradável é a Deus
e aceito aos homens. Sigamos, pois, as coisas que servem para a paz e para a
edificação de uns para com os outros. Não destruas por causa da comida a obra
de Deus. E verdade que tudo é limpo, mas mal vai para o homem que come com
escândalo. Bom é não comer carne, nem beber vinho, nem fazer outras coisas em
que teu irmão tropece, ou se escandalize, ou enfraqueça. Tens tu fé? Tem-na em
ti mesmo diante de Deus. Bem-aventurado aquele que não se condena a si mesmo
naquilo que aprova. Mas aquele que tem dúvidas, se come, está condenado, porque
não come por fé; e tudo o que não é de fé é pecado.
Desmamando a Criança
“Assim que não nos
julguemos mais uns aos outros; antes, seja 0 vosso propósito não pôr tropeço ou
escândalo ao irmão” (14.13). Essa seção de Romanos 14.13-23 mostra que tolerância, crescimento e
conhecimento devem andar juntos. Paulo já deixou claro que a responsabilidade
de manter a fraternidade cristã é responsabilidade tanto do crente “ fraco” com
o do “forte” . A passagem de Gênesis 21.8 serve com o metáfora que ilustra a
necessidade do crescimento. Isaque cresceu e foi desmamado. Todos nascem os com
o bebês em Cristo, e nessa fase de nossa vida adotam os alguns comportamentos
que são peculiares a essa faixa-etária. Não há nada errado com isso. Todavia, chegará
o dia em que precisaremos ser desmamados! A . W. Tozer mostrou que precisam os
sair da infância espiritual e crescer. O cristão que não cresce é carnal. Tozer
mostra algum as características do crente carnal: egocêntrico, temperamental,
dependente de fatores externos, carente de propósitos, improdutivo, alheio as
próprias falhas e alimenta-se com restrição.6
E preciso ,
portanto , tirar a mamadeira do crente. Warren W. Wiersbe comentou com muita
propriedade : “Tanto o cristão mais forte quanto o mais fraco precisam crescer.
O mais forte precisa crescer em amor, enquanto o mais fraco precisa crescer em
conhecimento . Enquanto um irmã o for débil na fé, devemos tratá -lo com amor
em meio a sua imaturidade . No entanto , se realmente o amarmos, o ajudaremos a
crescer. E errado um cristão permanecer imaturo e com consciência hipersensível
[...] Os cristãos recém -convertidos precisam de comunhão que os proteja e
estimule seu crescimento . No entanto , não podemos tratá-los como ‘bebês’ a
vida toda! Os cristãos mais velhos devem usar de amor e paciência e cuidar para
não fazê-los tropeçar. Todavia, esses cristãos mais novos devem crescer na
graça e no conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo (2 P e 3 .1 8
)” .7
Romanos 15.1-13
Mas nós que somos fortes devemos suportar as fraquezas dos
fracos e não agradar a nós mesmos. Portanto, cada um de nós agrade ao seu
próximo no que é bom para edificação. Porque também Cristo não agradou a si
mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias dos que te
injuriavam. Porque tudo que dantes foi escrito para nosso ensino foi escrito,
para que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança. Ora,
o Deus da paciência e consolação vos conceda o mesmo sentimento uns para com os
outros, segundo Cristo Jesus, para que concordes, a uma boca, glorifiqueis ao
Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo. Portanto, recebei-vos uns aos outros,
como também Cristo nos recebeu para glória de Deus. Digo, pois, que Jesus
Cristo foi ministro da circuncisão, por causa da verdade de Deus, para que
confirmasse as promessas feitas aos pais; e para que os gentios glorifiquem a
Deus pela sua misericórdia, como está escrito: Portanto, eu te louvarei entre
os gentios e cantarei ao teu nome. E outra vez diz: Alegrai-vos, gentios, com o
seu povo. E outra vez: Louvai ao Senhor, todos os gentios, e celebrai-o todos
os povos. E outra vez diz Isaías: Uma raiz em Jessé haverá, e, naquele que se
levantar para reger os gentios, os gentios esperarão. Ora, o Deus de esperança
vos encha de todo o gozo e paz em crença, para que abundeis em esperança pela
virtude do Espírito Santo.
Cristãos Amadurecidos
“Mas nós que somos fortes
devemos suportar as fraquejas dos fracos e não agradar a nós mesmos” (15.1). O contexto de Romano s 14 mostra o
apóstolo falando sobre os “ fracos” em contraste com os “ fortes” . Somente
aqui em Romanos 15.1 aparece pela primeira vez n essa seção a palavra “ forte”
em referência aos cristãos mais maduro s na fé. A palavra “ forte” traduzo
termo grego dynatos, que nesse contexto tem o sentido de cristãos mais firmes
ou amadurecidos.8 O contexto revela que esses crentes mais “ fortes’, entre os
quais o apóstolo se incluiu , eram aqueles que haviam compreendido o
sentido da Nova Aliança em Cristo. Para
esses cristãos, os rudimentos do antigo pacto já haviam passado , não sendo
exigido deles nenhuma observância quanto aos seus preceitos. Para os crentes
mais “ fracos” , formado por judeus vindos do judaísmo e convertidos ao cristianismo
, o desapego a essas tradições não era tão fácil assim .
Nessa situação, aqueles crentes que já
possuíam um maior discernimento da fé cristã deveriam demonstrar amor e
paciência para com esses crentes mais lentos na fé. Eles deveriam suportar as fraquezas
dos mais fracos. Paulo já havia escrito sobre esse assunto na Carta aos
Gálatas, quando exortou os crentes da Galácia: “Levai as cargas uns dos outros
e assim cumprireis a lei de Cristo ” (G1 6.2). Há u m momento na nossa
caminhada cristã em que precisamos levar o outro nas costas, talvez não por
muito tempo , mas enquanto for necessário .
“Porque também Cristo
não agradou a si mesmo, mas, como está escrito: Sobre mim caíram as injúrias
dos que te injuriavam” (15.3). Paulo mostra que o exemplo máximo de tolerância veio do
Senhor Jesus Cristo. Essa lição já havia sido mostrada pelo apóstolo em Romanos
5.8: “Mas Deus prova o seu amor para conosco em que Cristo morreu por nós,
sendo nós ainda pecadores” . Ora, se Cristo nos amou na condição de pecadores,
totalmente rebelados contra Deus, então por que não deveríamos suportar as
debilidades dos mais fracos? Todos nós conhecemos alguma história envolvendo
cristãos que no início da fé demonstraram lentidão no seu crescimento
espiritual e como a paciência e o amor de quem o discipulou ajudou nesse
processo.
“Portanto, recebei-vos
uns aos outros, como também Cristo nos recebeu para glória de Deus” (15.7). Paulo se dirige diretamente aos
cristãos de origem gentílica . Ele p e d e q u e eles olhem para sua própria
história. Eles não faziam parte da oliveira verdadeira, como já havia sido
demonstrado em Romanos 9—11, mas graças à misericórdia e bondade de Deus,
haviam sido enxertados. Agora estavam produzindo frutos para a vida eterna.
Porque não esperar pelos seus irmãos que demonstravam um pouco de lentidão na
compreensão das verdades espirituais? Eles deveriam aprender com a própria
Escritura que mostrava como a misericórdia de Deus o levou a acolhê-los no
plano da salvação. Era uma lição para não ser esquecida.
Maravilhosa
Graça
O
relacionamento entre irmãos que pensam diferente
(Rm
14.1-15.13)
Romanos: o
evangelho segundo Paulo / Hernandes Dias Lopes.
O texto em
tela aborda o intrincado problema do relacionamento entre irmãos na fé que
pensam de forma diferente em algumas questões espirituais. Paulo classifica
esses irmãos em dois grupos distintos: os fortes e os fracos na fé. Ambos eram
crentes em Cristo e ambos eram salvos por Cristo. Embora esses dois grupos
pertencessem à família de Deus e participassem da mesma igreja, não estavam de
acordo acerca de alguns pontos da vida cristã como comida, bebida e dias
sagrados.
À guisa de
introdução elucidaremos alguns pontos importantes antes de avançar na exposição
deste texto.
Em primeiro lugar, com respeito à liberdade
cristã,devemos distinguir entre coisas morais, imorais e amorais.Há coisas que
são essencialmente erradas e imorais. Não importa o tempo nem o contexto, essas
coisas devem ser repudiadas e tratadas como imorais por todos os filhos de Deus.
Um exemplo clássico é a embriaguez. Entretanto, há práticas que são morais e
virtuosas na própria essência e devem ser praticadas por todos os crentes em
todos os tempos e em todos os lugares. Citamos como exemplo o amor fraternal.
Mais difícil, porém, é distinguir aquilo que é amoral e neutro em si mesmo.
O
que é amoral pode tornar-se inconveniente e até escandaloso, dependendo da
situação. Um exemplo comum nos dias de Paulo era a prática de comer carne e
beber vinho (14.15,21) que provocava escândalo nos crentes fracos (lC o
8.9-13). Os crentes fortes, de posse da sua liberdade em Cristo, comiam carne e
bebiam vinho sem nenhum drama de consciência; os crentes fracos, porém, não
apenas se abstinham dessas práticas, mas ficavam escandalizados quando outros
crentes o faziam. O amor fraternal deve regulamentar nossa liberdade pessoal a
ponto de nos abstermos de direitos legítimos para não sermos causa de tropeço
para os fracos.
Charles
Erdman lança luz sobre essa questão:
Coisas há que são
inquestionavelmente retas, outras inquestionavelmente condenáveis; contudo,
outras ainda existem a cujo respeito diverge a consciência dos homens. Estas
chamadas “questões de consciência” surgem entre os crentes e se fazem fonte de
sérias dificuldades. Os crentes que se caracterizam por acentuado zelo e
escrúpulo são susceptíveis de condenar a outros como inconsistentes, enquanto
aqueles que não sentem iguais escrúpulos quanto às coisas em questão são
tentados a desprezar aos demais como fanáticos, estreitos ou intolerantes.
Em segundo lugar, a igreja não é lugar para disputa
de ideias acerca de coisas secundárias, mas campo fértil para o exercício do
amor fraternal. Romanos capítulos 14-15 trata de uma discussão de coisas
não-essenciais. Os crentes estavam transformando coisas secundárias, como
alimentos e dias sagrados, na essência do cristianismo.1092 Na igreja de Roma
os crentes fracos julgavam os crentes fortes como mundanos, e os crentes fortes
desprezavam os crentes fracos como imaturos.
O pecado dos
crentes fracos era o julgamento; o pecado dos crentes fortes era o desprezo. Os
crentes fracos pecavam pelo zelo sem entendimento; os crentes fortes pecavam
pelo entendimento sem amor. Tanto o julgamento quanto o desprezo são atitudes
indignas de um membro da família de Deus. Em vez de exercer o amor fraternal,
acolhendo uns aos outros, os crentes de Roma estavam criticando e condenando
uns aos outros. Em vez de viver desprezando e julgando uns aos outros, eles
deveriam coexistir amigavelmente na comunidade cristã. Não se deve fazer da
igreja uma arena de discussões cuja característica central é a argumentação,
muito menos um tribunal em que os fracos são postos no banco dos réus,
interrogados e acusados. A acolhida que nós lhes damos deve incluir o respeito
às suas opiniões próprias.1093
Estou de
pleno acordo com John Stott quando ele diz que, hoje em dia, temos a mesma
necessidade de discernimento. Não devemos exaltar as coisas não-essenciais,
especialmente questões de costumes e rituais, ao nível do essencial, fazendo
delas testes de ortodoxia e condição para a comunhão.1094 Não raro as igrejas
contemporâneas passam mais tempo discutindo coisas periféricas e secundárias
como usos e costumes do que debatendo a essência do evangelho.
Em terceiro lugar, na igreja, uma mesma matéria pode
ser tratada com tolerância compassiva ou intolerância inegociável.A questão da
guarda de dias especiais foi abordada por Paulo na sua carta aos Gálatas de
forma absolutamente diversa (G1 4.10,11). Na carta aos Gálatas estava em jogo a
essência do evangelho, pois os judaizantes agregavam a observância desses dias
especiais no pacote da salvação, dizendo que, se os gentios não guardassem
essas datas do calendário judaico, não poderiam ser salvos. Na verdade, os falsos
mestres estavam com isso apresentando outro evangelho. John Murray diz que os
judaizantes estavam pervertendo o evangelho em seu próprio âmago. Eles eram os
propagandistas de um legalismo que afirmava ser a observância de dias e épocas
necessária à justificação e à aceitação diante de Deus. Isto importava
retrocesso “aos rudimentos fracos e pobres” (G1 4.9).1095
O mesmo
aconteceu na igreja de Colossos (Cl 2.16,17). Segundo John Murray, a heresia de
Colossos era mais complexa que a da Galácia. O erro que Paulo combateu em
Colossos foi basicamente o gnosticismo. Esse movimento pregava um dualismo
evidente entre o campo espiritual e o material, considerando que a salvação
consistia em libertar o espiritual do que é material.1096 Os gnósticos alegavam
que a observância a determinada dieta e a determinados dias do calendário era
condição indispensável para alcançar o favor de Deus. Paulo rechaçou com
veemência essas distorções da verdade. Na carta aos Romanos, porém, a questão
não envolvia a essência do evangelho, por isso Paulo foi tão brando e
recomendou aos dois grupos agir com amor e respeito mútuo.
Esse mesmo
espírito de tolerância e respeito governou o Concilio de Jerusalém. A decisão
daquele importante conclave deu aos cristãos judeus a liberdade de continuar
com suas práticas culturais e cerimoniais peculiares e recomendou aos cristãos
gentios que, em determinadas circunstâncias, se abstivessem de práticas que
pudessem ofender a consciência sensível dos cristãos judeus (At 15.19,20).
Três
verdades são destacadas no texto em apreço.
Acolha seu irmão e aprenda a viver
com os diferentes (14.1-12)
E de bom
alvitre acender a candeia e ter um pouco mais de luz acerca da natureza desses
dois grupos na igreja de Roma. William Hendriksen diz que os membros de cada
grupo devem ser considerados crentes genuínos (14.14,6,10,13); cada grupo
criticava um ao outro (14.3,4,13); e cada grupo terá de prestar contas de si
mesmo (14.12).1097
Quem eram os
crentes fracos? John Stott oferece quatro alternativas:
1) ex-idólatras, recém-convertidos do paganismo;
2) ascetas;
3)
legalistas;
4) cristãos
judeus.
E consenso
geral que os crentes chamados fracos eram oriundos das fileiras do judaísmo, os
quais, embora tivessem depositado sua fé em Cristo, ainda viviam comprometidos
com as regras judaicas concernentes à dieta (14.14,20) e aos dias religiosos
(14.5).
William
Hendriksen tem razão, porém, quando diz que isso não significa que somente os
gentios pertencessem à porção forte, e somente os judeus, à porção fraca, uma
vez que Paulo foi um hebreu de hebreus e se incluiu entre os fortes (15.1).1099
Os crentes fracos tinham uma fé deficiente. Eram imaturos, incultos e até
equivocados.1100 Leenhardt diz que os crentes fracos sofriam pressões
inconscientes que os paralisavam; eram escrupulosos e inibidos.1101 Não tinham
plena compreensão de que esses ritos dietéticos e focados em calendários
religiosos eram meras sombras do evangelho de Cristo, aos quais pela obra
expiatória do Filho de Deus estavam desobrigados de cumprir. A deficiência de
conhecimento os tornou crentes julgadores, carregados de muitos escrúpulos.
Concordo
com John Stott quando diz: “O que falta ao fraco não é força de vontade, mas liberdade de
consciência”." 02 A palavra grega asthenounta, “fraco”, usada pelo
apóstolo indica alguém que é momentaneamente fraco, mas pode tornar-se
forte.1103 Vale ressaltar que a “fraqueza” aqui não era associada a nenhum
afastamento da fé, e isto explica o tom de moderação adotado pelo apóstolo,
enquanto o motivo que causava as observâncias ascéticas, duramente condenadas
nas epístolas aos Gálatas e Colossenses, era uma subversão do próprio
evangelho.1104
Quem eram os
crentes fortes? Eram aqueles crentes, judeus ou gentios que, convertidos a
Cristo, haviam compreendido com mais clareza a liberdade cristã,
desvencilhando-se dessa forma dos escrúpulos dos rituais judaicos com respeito
á dieta e ao calendário religioso. Os crentes fortes eram a maioria da igreja
de Roma, e Paulo com eles se identifica (15.1). A maior parte desta passagem é
destinada a eles. Embora Paulo deixe claro que acredita que a posição dos
fortes está certa (14.14,20), estes não tinham o direito de desprezar os
crentes fracos, mas deviam acolhê-los.
Paulo ordena
aos crentes fortes: “Acolhei ao que é débil na fé, não, porém, para discutir
opiniões” (14.1). O verbo grego proslambano, “acolhei”, significa mais que
aceitar as pessoas no sentido de aquiescer em sua existência e mesmo em seu
direito de pertencer a um grupo; quer dizer acolhê-las em nosso círculo de
amigos e em nosso coração. Implica o calor e a bondade que marcam o verdadeiro
amor (Fm17; At 28.2).1105 Concordo com John Schaal quando ele diz que, ao
praticar o amor cristão, o peso da prova descansa sobre o crente forte. E ele
quem deve amar e ajudar, e não condenar ao débil.
Devemos
perguntar, porém: Por que os crentes fortes deveriam acolher os crentes fracos
sem discutir com eles opiniões?
Em primeiro lugar, porque Deus já os acolheu. “Um crê
que de tudo pode comer, mas o débil come legumes; quem come não despreze o que
não come; e o que não come não julgue o que come, porque Deus o acolheu”
(14.2,3). O fraco na fé prefere ser vegetariano a correr o risco de comer carne
de animais impuros ou carne consagrada aos ídolos. O forte na fé, por sua vez,
está livre desse temor e come de tudo sem constrangimento de consciência. O
forte na fé desprezava os fracos por causa de seus escrúpulos, e o fraco na fé
julgava os fortes por causa de sua liberdade. Essa atitude beligerante estava
em desacordo com o evangelho, porque a ambos, fracos e fortes, Deus já havia
acolhido. Não devemos desprezar nem julgar aqueles a quem Deus acolheu.
John Stott
está correto quando diz que tratar os outros como gostaríamos que eles nos
tratassem é certamente uma garantia; mais seguro ainda, porém, é tratá-los como
Deus o faz. A primeira opção é um guia acessível baseado em nosso egoísmo; a
segunda é um padrão baseado na perfeição de Deus.
Em segundo lugar, porque Cristo morreu e ressuscitou para
ser Senhor de mortos e de vivos (14.4-9).
Atentemos às palavras do apostolo
Paulo:
Quem és tu que julgas o
servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé,
porque o Senhor é poderoso para o suster. Um faz diferença entre dia e dia;
outro julga iguais todos os dias. Cada um tenha opinião bem definida em sua
própria mente. Quem distingue entre dia e dia para o Senhor o faz; e quem come
para o Senhor come, porque dá graças a Deus; e quem não come para o Senhor não
come e dá graças a Deus. Porque nenhum de nós vive para si mesmo, nem morre
para si. Porque, se vivemos, para o Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor
morremos. Quer, pois, vivamos ou morramos, somos do Senhor. Foi precisamente
para esse fim que Cristo morreu e ressurgiu: para ser Senhor tanto de mortos
como de vivos (14.4-9).
Alguns
pontos aqui merecem destaque:
a. Nossa
função na igreja é acolher os irmãos e não julgá-los(14.4,5). Há julgamento
legítimo e julgamento ilegítimo. O crente precisa discernir o certo do errado;
precisa distinguir entre os falsos profetas e aqueles que trazem o fiel ensino
do Senhor. Aqui, contudo, Paulo condena a atitude de julgar um irmão, um servo
de Cristo, por este ter uma opinião diferente acerca de assuntos secundários
como dieta e calendário religioso. Nosso papel na igreja não é nos assentarmos
na cadeira de juiz para julgar os irmãos, mas acolhê-los em amor.
A expressão
“cada um tenha opinião bem definida em sua própria mente”, segundo Warren
Wiersbe, significa que cada um deve estar certo de que aquilo que faz é para o
Senhor, não apenas motivado por algum preconceito ou capricho."08
b. Nossa
função na igreja é fazer tudo para agradar a Deus,não para ganhar aprovação dos
homens (14.6). Tanto os abstêmios como os que comiam e bebiam tinham suas ações
governadas por Deus e cultivavam o propósito de agradar a Deus. Os que não
comiam agradeciam a Deus por não comer; os que comiam agradeciam a Deus por
comer. Os que guardavam dias especiais do calendário religioso faziam isso por
causa de Deus, e os que consideravam todos os dias iguais também assumiam essa
posição para glorificar a Deus. A motivação de ambos os grupos era de agradar a
Deus, e não receber aprovação ou aplauso dos homens.William Barclay diz que a
ação dos crentes deve ser ditada não por costume, muito menos pela superstição,
mas pela convicção. E um dever ter nossas convicções, mas também é um dever
permitir que os outros tenham as suas, sem desprezá-los ou julgá-los.1109
c. Nossa
função na igreja é viver para agradar a Deus, e não a nós mesmos (14.7,8). Não
somos uma ilha. Nossas ações têm reflexos na vida de outras pessoas. Não
vivemos nem morremos para nós mesmos. Vivemos e morremos para o Senhor e somos
do Senhor tanto na vida como na morte. Uma vez que nossas ações atingem nossos
irmãos para o bem ou para o mal, devemos ser mais criteriosos e cautelosos em
nossa postura. Não basta fazer aquilo que julgamos certo; devemos fazê-lo para
a edificação dos nossos irmãos e para a glória de Deus.
d. Nossa
função na igreja é vivermos debaixo do senhorio de Cristo (14.9). Cristo morreu
e ressurgiu para ser Senhor de mortos e de vivos. Em sua morte ele é Senhor dos
mortos; em sua ressurreição, ele é Senhor dos vivos. Se Jesus é Senhor e
acolheu tanto fracos quanto fortes, devemos, para honrar esse Senhor, acolher-nos
uns aos outros. John Stott é oportuno ao escrever: “Por ser ele o nosso Senhor,
nós devemos viver para ele; e, por ser também o Senhor dos outros cristãos,
irmãos nossos, devemos respeitar a forma como estes se relacionam com ele e
cuidar da nossa vida. Afinal, ele morreu e ressuscitou para ser Senhor”.1110
Em terceiro
lugar, porque os crentes fracos e fortes são irmãos uns dos outros (14.10a). Se
os crentes fracos e fortes são irmãos, não devem viver lutando uns contra os
outros, a ponto de os fracos julgarem os fortes e os fortes desprezarem os
fracos. Tanto o sorriso de desdém dos fortes como a carranca de juízo acusador
dos fracos são atitudes anômalas dentro da igreja, não apenas porque Deus
aceitou a ambos e Cristo morreu e ressuscitou para ser Senhor de ambos, mas
também porque tanto os crentes fracos como os crentes fortes pertencem à mesma
família. Eles são verdadeiramente irmãos uns dos outros.1111
Em quarto lugar, porque todos nós
seremos julgados no tribunal
de Deus (14.10b-12). Não devemos julgar nossos irmãos porque nós mesmos seremos
julgados no tribunal de Deus. John Murray enfatiza que cada indivíduo prestará
contas de si mesmo, e não dos outros. Portanto, a necessidade é de julgarmos a
nós mesmos agora, à luz da prestação de contas que finalmente teremos diante de
Deus. Cumpre-nos julgar a nós mesmos, e não realizar julgamentos a respeito de
outros. O juízo incluirá não apenas todas as pessoas, mas também todos os atos.
Não daremos conta do nosso irmão nesse tribunal, mas cada um dará contas de si
mesmo a Deus.
Obviamente
Paulo não está proibindo o crente de exercer julgamento, pois do contrário, não
poderíamos obedecer à ordem de Jesus: “Acautelai- vos dos falsos profetas” (Mt
7.15). O que Jesus proíbe a seus seguidores não é a crítica, mas a mania de
censurar, de “julgar” no sentido de “estabelecer juízo” ou de condenar algo ou
alguém. E a razão para isso é que nós mesmos, um dia, compareceremos diante do
Juiz."12 Já que Deus é o Juiz e estamos entre os julgados, deixemos de
julgar uns aos outros (14.13a), pois assim evitaremos a extrema insensatez de
tentar usurpar a prerrogativa de Deus e antecipar o dia do juízo.1113 Leenhardt
tem razão quando diz que cada qual terá de dar contas de si mesmo, os “fortes”
da liberdade que arrogaram, os “fracos” dos escrúpulos que alimentaram. Ninguém
terá de prestar contas dos erros dos outros.1114
F. F Bruce
diz que, quando lançamos julgamentos apressados, mal informados, sem amor e sem
generosidade, por certo esquecemos que, se falamos mal dos outros, ao mesmo
tempo falamos mal do Senhor cujo nome eles levam.11 ls Precisamos entender que
Deus se recusa a rejeitar aqueles a quem rejeitamos. O Senhor abençoa até mesmo
as pessoas das quais discordamos.
A igreja de
Roma, inclusive cristãos judeus e gentios, podia desintegrar-se rapidamente se
alguns grupos insistissem em exercer plenamente sua liberdade cristã sem dar a
mínima consideração aos escrúpulos de outros.1116 Warren Wiersbe cita o
conhecido conflito existente entre dois grandes pregadores da Inglaterra
vitoriana, Charles Spurgeon e Joseph Parker. No começo do ministério, os dois
chegaram a pregar na igreja um do outro. Então, tiveram um desentendimento, e
essa desavença chegou aos jornais. Spurgeon acusou Parker de não ser espiritual,
pois costumava ir ao teatro. O mais interessante é que Spurgeon fumava charuto,
prática condenada por muitos cristãos. A pendenga entre esses dois líderes
cristãos estava errada, pois se levantaram como juiz um do outro, em vez de
acolher um ao outro.1117
Ame o seu irmão, e não
seja pedra de tropeço para ele(14.13-23)
De que forma
podemos amar o nosso irmão, deixando de ser pedra de tropeço para ele? Paulo
nos dá algumas respostas:
Em primeiro lugar, pare de julgar seu irmão e tome o propósito
de não colocar tropeço no seu caminho. “Não nos julguemos mais uns aos outros;
pelo contrário, tomai o propósito de não pordes tropeço ou escândalo ao vosso
irmão” (14.13). Paulo quer dar um basta na onda de julgamento dentro da igreja.
Em vez de ser um tropeço no caminho uns dos outros, gerando problemas na igreja
e escândalos fora dela, os cristãos deveriam cuidar e amar uns aos outros.
William Greathouse diz que nem o forte nem o fraco estão em posição de adotar
uma atitude superior de juiz. Todos os sentimentos de crítica e censura devem
ser extirpados."18 Embora o cristão seja o mais livre senhor de todos, não
sujeito a ninguém, é o mais dócil servo de todos, sujeito a todos."19
Em segundo
lugar, saiba que a impureza não está nas coisas exteriores, mas no interior, ou
seja, no coração. “Eu sei e estou persuadido, no Senhor Jesus, de que nenhuma
coisa é de si mesma impura, salvo para aquele que assim a considera; para esse
é impura” (14.14). Há coisas que são essencialmente impuras e não é delas que
Paulo está falando. Não podemos interpretar corretamente esse versículo
tirando-o do seu contexto. Paulo falando sobre dieta alimentar e calendário
religioso. Não há alimentos essencialmente impuros. Nas palavras de Jesus, não
é aquilo que entra pela boca que contamina o homem, mas o que sai do seu
coração (Mt 15.11). Jesus ab-rogou as leis sobre alimentos declarando “limpas”
todas as espécies (Mc 7.19). Pedro aprendeu a não considerar impura coisa ou
pessoa alguma que Deus tivesse declarado limpa (At 10.15). Paulo escreveu:
“Pois tudo que Deus criou é bom, e, recebido com ações de graças, nada é
recusável, porque, pela Palavra de Deus e pela oração, é santificado” (lTm
4.4,5). E de bom-tom enfatizar, porém, que pessoas ignorantes devem ser
instruídas, mas jamais encorajadas a fazer aquilo que elas próprias julgam ser
contrário à vontade de Deus.1120
Em terceiro lugar, o amor fraternal, e não sua convicção dietética, deve
ser o vetor de suas ações. “Se, por causa de comida, o teu irmão se entristece,
já não andas segundo o amor fraternal. Por causa da tua comida, não faças
perecer aquele a favor de quem Cristo morreu” (14.15). Quando um crente forte
comia carne e bebia vinho na presença de um crente fraco, violando sua
consciência débil, provocando tristeza e escândalo ao seu irmão, agia sem amor
e sem nenhuma consideração por alguém muito precioso para Jesus, alguém por
quem Cristo dera a própria vida. Falando sobre a atitude do forte em relação ao
fraco,
John Stott
escreve:
Se Cristo o amou a ponto de morrer
por ele, por que não podemos amá-lo o suficiente para controlar-nos, evitando
magoar a sua consciência? Se Cristo se sacrificou por seu bem-estar, que
direito temos nós de prejudicá-lo? Se Cristo morreu para salvá-lo, não nos importa
se vamos destruí-lo?
Em quarto lugar, busque as primeiras
coisas primeiro.“Não seja, pois, vituperado o
vosso bem. Porque o reino de Deus não é comida nem bebida, mas justiça, e paz,
e alegria no Espírito Santo. Aquele que deste modo serve a Cristo é agradável a
Deus e aprovado pelos homens” (14.16-18). Se a primeira verdade teológica que
suporta o apelo de Paulo para que os fortes se controlem é a cruz de Cristo, a
segunda é o reino de Deus.1122 Quando o crente fraco supervaloriza a dieta
alimentar pensando que abster-se de certos alimentos o torna mais aceitável a
Deus, comete um grande equívoco, uma vez que o reino de Deus nao é comida nem
bebida, mas justiça, paz e alegria no Espírito Santo. Viver um cristianismo
legalista é inverter as prioridades, é colocar as coisas de ponta-cabeça, é
deixar de buscar as primeiras coisas primeiro.
Entretanto,
sempre que o crente forte insiste em usar a sua liberdade para comer o que
quiser, nem que seja às expensas do bem-estar do fraco, está incorrendo em
grave falha de desproporção. Está superestimando a importância da comida (coisa
que é trivial) e subestimando a importância do reino (que é central).1123
Em quinto lugar, invista mais em
relacionamentos que em rituais. “Assim, pois, seguimos as coisas da paz e também as da
edificação de uns para com os outros. Não destruas a obra de Deus por causa da
comida. Todas as coisas, na verdade, são limpas, mas é mau para o homem o comer
com escândalo” (14.19,20). Em vez de os crentes fortes violentarem a
consciência dos fracos, comendo o que para eles era impuro, deviam buscar a paz
e a edificação de uns para com os outros. Mesmo que os crentes fortes
estivessem com a razão, pleiteando que todas as coisas são limpas, ao comer
essas coisas limpas perto dos crentes fracos, os escandalizavam. E essa atitude
era incompatível com o amor fraternal, pois gerava conflito, e não paz;
escândalo, e não edificação. Warren Wiersbe diz que tanto o crente forte quanto
o crente fraco precisam crescer. O mais forte precisa crescer em amor, enquanto
o mais fraco precisa crescer em conhecimento. O mais fraco deve aprender com o
mais forte, o mais forte deve amar o mais fraco. O resultado será maturidade
para a glória de Deus.1124
Em sexto lugar, por amor a seu irmão
abstenha-se de seus próprios privilégios. “E bom não comer carne, nem beber vinho, nem fazer
qualquer outra coisa com que teu irmão
venha a tropeçar (ou se ofender ou se enfraquecer)” (14.21). Paulo não se
refere à glutonaria nem à embriaguez. Essas coisas são em si mesmas pecaminosas
e reprováveis. Ele está tratando de algo absolutamente legítimo, ou seja, comer
carne e beber vinho. Porém, mesmo que o uso não descambe para o abuso, se essa
prática provoca escândalo na vida do irmão mais fraco, o crente forte deve
abster-se, pois o amor procura as coisas da edificação (lC o 8.913). Geoffrey
Wilson resume esse ponto de forma clara: “Embebedar-se é pecado, ofenda ou não
aos irmãos, enquanto beber vinho não é errado exceto se resultar em bebedeira
ou levar outros a tropeçar”.1125
Em sétimo lugar, cuidado para não se
tornar um crente inconsistente e contraditório. “A fé que tens, tem-na para ti
mesmo perante Deus. Bem-aventurado é aquele que não se condena naquilo que
aprova. Mas aquele que tem dúvidas é condenado se comer, porque o que faz não
provém de fé; e tudo o que não provém de fé é pecado” (14.22,23). Paulo conclui
seu argumento distinguindo entre o crer e o agir, entre convicção pessoal e a
conduta em público.1126O crente precisa ser consistente para não falar uma
coisa e fazer outra, nao manter uma convicção e agir na contramão dessa convicção.
Warren Wiersbe diz que nenhum cristão pode “tomar emprestadas” as convicções de
outro para ter uma vida cristã honesta.1127 Se um crente fraco, prisioneiro de
seus escrúpulos, come carne contra suas convicções para agradar os crentes
fortes, nisso está pecando, porque essa conduta não procede de fé. Geoffrey
Wilson coloca esse ponto com diáfana clareza:
O crente “fraco” que imitar a
liberdade dos “fortes” sem compartilhar de suas convicções é condenado não só
por sua própria consciência, mas também por Deus. Portanto os “fortes” não
devem tentar os“fracos” a violarem suas consciências, esperando que ajam como
se não tivessem escrúpulos quanto a comer.1128
Paulo
conclui que “tudo o que não provém de fé é pecado”. Isto significa que tudo o
que não é feito com a convicção de que está de acordo com a vontade de Deus é
pecaminoso, embora possa ser em si mesmo certo. Este ensino aplica-se não
apenas a alimentos, mas a tudo. Se alguém estiver convencido de que algo é
contrário à lei de Deus, e apesar disso a praticar, é culpado diante de Deus,
embora a coisa em si seja lícita.
Imite a Cristo, pense
nos outros mais do que em você(15.1-13)
Paulo
inclui-se no grupo dos crentes fortes não para se gabar, mas para exortá-los a
imitar a Cristo. Como os crentes fortes podem ser imitadores de Cristo?
Em primeiro lugar, agradando aos irmãos, e não a si
mesmos (15.1-4). O amor não é egocentrado, mas “outrocentrado”. O amor não visa
os próprios interesses, mas busca o interesse dos irmãos. Acompanhemos o relato
de Paulo:
Ora, nós que somos fortes
devemos suportar as debilidades dos fracos e não agradar-nos a nós mesmos.
Portanto, cada um de nós agrade ao próximo no que é bom para edificação. Porque
também Cristo não se agradou a si mesmo; antes, como está escrito: As injúrias
dos que te ultrajavam caíram sobre mim” (15.1-4).
Três
verdades são aqui destacadas:
a. Devemos
agradar aos irmãos, e não a nós mesmos(15.1,2). O conhecimento e a maturidade
espiritual dos crentes fortes não deve levá-los à arrogância e ao desprezo dos
fracos; antes, devem eles suportar suas debilidades. Os escrúpulos do fraco são
um peso que o forte deve carregar.1130 A força de um deve compensar a
fragilidade do outro. Os crentes fortes não devem agradar a si mesmos, comendo
e bebendo publicamente, sabendo que esse comportamento trará tropeço aos
crentes fracos; antes, devem agradar aos fracos buscando sua edificação. O
cristão de consciência forte não deve esmagar a consciência dos fracos.1131
Comer e beber pode agradar o paladar, mas o cristão deve procurar agradar seu
irmão. Leenhardt destaca o fato de que são os fortes que têm de suportar os
fracos; não o inverso.1132
b. Cristo não agradou a si mesmo (15.3). O Filho de Deus, sendo
perfeito, não agradou a si mesmo. Despojou-se de seus direitos e prerrogativas
e veio para servir. Esvaziou-se e tornou-se servo. Submeteu-se à vontade do Pai
e suportou toda sorte de sofrimento para salvar tanto os crentes fortes como os
crentes fracos. Warren Wiersbe enfatiza que nenhum sacrifício que fazemos pode
equiparar-se ao do Calvário.1133 As injúrias caíram sobre Cristo porque ele não
agradou a si mesmo, mas viveu para agradar a Deus na obra da redenção. Se o
objetivo da vida de Cristo tivesse sido agradar a si mesmo, ele teria escapado
à vergonha e à censura que o atingiram; mas vivendo como ele viveu, para
agradar a Deus, para servir à sua vontade e salvar os homens, essas injúrias
passaram a ser propriedade de Deus.1134
c. As Escrituras foram dadas para o
nosso ensino (15.4).
Temos tanto
o testemunho das Escrituras como o exemplo de Cristo. Pela paciência e
consolação das Escrituras, devemos ter esperança e viver não de forma egoísta e
arrogante, mas de forma humilde e altruísta. John Stott diz acertadamente que
podemos extrair cinco verdades das Escrituras: 1) sua intenção é atual; 2) seu
valor é abrangente; 3) seu enfoqueé cristológico; 4) seu propósito é prático;
5) sua mensagem é divina.1135
Em segundo lugar, adorando a Deus em
espírito de unidade.“Ora,
o Deus da paciência e da consolação vos conceda o mesmo sentir de uns para com
os outros, segundo Cristo Jesus, para que concordemente e a uma só voz
glorifiqueis ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”(15.5,6). A unidade de
sentimento é uma dádiva de Deus, e não uma aptidão natural. O mesmo sentir de
uns para com os outros só pode ser experimentado no âmbito de nossa relação com
Cristo Jesus. Glorificamos a Deus não com disputas e batalhas internas na
igreja, ferindo a comunhão, julgando ou desprezando os irmãos. O culto que
agrada e glorifica a Deus é aquele que parte de corações unidos pelo mesmo
propósito e pelo mesmo sentimento (SI 133.1; At 1.14; 2.42-46).
Geoffrey
Wilson diz que onde houver tal unidade de mente e coração haverá também unidade
de boca. A unidade de crença leva à unidade no louvor; a ordem é significativa
porque uma nunca pode ser alcançada sem a outra.1136
Em terceiro lugar, acolhendo uns aos
outros como Cristo nos acolheu.“Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo
nos acolheu para a glória de Deus” (15.7). Paulo dá uma ordem, apresenta um
modelo e estabelece uma motivação: devemos acolher uns aos outros, da mesma
forma que Cristo nos acolheu, fazendo isso para a glória de Deus. Se o exemplo
de Cristo é nosso modelo, a glória de Deus é nossa motivação.
Em quarto lugar, sabendo que o
próprio Cristo se tornou servo (15.8-13). Paulo conclui a parte exortativa da sua carta,
mostrando que devemos acolher uns aos outros na igreja,porque o próprio Senhor
e cabeça da igreja se tornou servo para salvar tanto judeus como gentios.
Acompanhemos o registro do apóstolo:
Digo, pois, que Cristo foi
constituído ministro da circuncisão, em prol da verdade de Deus, para confirmar
as promessas feitas aos nossos pais; e para que os gentios glorifiquem a Deus
por causa da sua misericórdia, como está escrito: Por isso, eu te glorifiquei
entre os gentios e cantarei louvores ao teu nome. E também diz: Alegrai-vos, ó
gentios, com o seu povo. E ainda: Louvai ao Senhor, vós todos os gentios, e
todos os povos o louvem. Também Isaías diz: Haverá a raiz de Jessé, aquele que
se levanta para governar os gentios; nele os gentios esperarão. E o Deus da
esperança vos encha de todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos
de esperança no poder do Espírito Santo (15.8-13).
John Stott
diz que Paulo desliza quase imperceptivelmente da unidade dos fracos e fortes por meio de Cristo para a unidade
dos judeus e gentios por intermédio desse mesmo Cristo. Em ambos os casos a
unidade visa a adoração, a fim de que eles glorifiquem a Deus juntos (15.9).
Paulo afirma que o ministério de Cristo com os judeus deu-se “por amor à
verdade de Deus”, no propósito de demonstrar a sua fidelidade às promessas da
aliança, enquanto o seu ministério com os gentios foi devido “à sua misericórdia”,
uma misericórdia sem aliança.1137
William
Barclay explica que o argumento de Paulo é que podem existir muitas diferenças
na igreja, mas há um só Cristo, e o laço de unidade entre os crentes na igreja
é a sua comum lealdade a ele. A obra de Cristo foi a mesma para judeus e
gentios. Para provar esse posicionamento, Paulo cita quatro passagens do Antigo
Testamento (SI 18.50; Dt 32.43; SI 117.1; Is 11.10). Em todas elas, Paulo
encontra antigas previsões da recepção dos gentios à fé. Paulo está convencido
de que, assim como Jesus Cristo veio a este mundo para salvar tanto judeus como
gentios, a igreja deve acolher a todos os irmãos, a despeito de suas
diferenças.1138
Paulo
conclui seu ensino sobre a tolerância cristã, e também o corpo principal da epístola,
com uma breve oração por seus leitores em Roma (5.13). A súplica do apóstolo
pelos cristãos é por uma vida abundante: “E o Deus da esperança vos encha de
todo o gozo e paz no vosso crer, para que sejais ricos de esperança no poder do
Espírito Santo”. Cinco perguntas podem ser feitas à luz deste precioso
versículo:
a. De onde
vem essa vida abundante? “E o Deus da esperança...” A vida abundante procede do
Deus da esperança. Tudo provém de Deus. Ele é a fonte de todo bem. Deus não
apenas ordena que seu povo viva de forma superlativa e maiúscula, mas também
concede a ele essa bênção.
b. Em que
consiste essa vida abundante? “ vos encha de todo gozo e paz...” A vida
abundante consiste na plenitude do gozo e no reinado da paz. Deus é a fonte da
nossa alegria e, quando temos alegria em Deus, temos também paz com Deus e
experimentamos a paz de Deus.
c. Como
podemos obter a vida abundante? “... no vosso crer...” A vida abundante não é
fruto do esforço, mas resultado da fé. O mesmo Deus que dá a vida abundante nos
dá também a fé para possuí-la. Tanto o fim quanto o meio são dádivas de Deus.
d. Por que
devemos possuir a vida abundante? “... para que sejais ricos de esperança...” O
que haveremos de ser na glória deve instruir-nos quanto ao que devemos ser aqui
e agora. O céu ensina a terra. A igreja triunfante deve ser pedagoga da igreja
militante. As riquezas que o povo de Deus deve buscar com extremo zelo nao são
ouro e prata, mas riquezas espirituais; devemos ser ricos de esperança. Nossa
Pátria está no céu. Nossa herança está no céu. O nosso Senhor virá do céu, e
nós iremos para o céu!
e. Como
podemos viver a vida abundante? “... no poder do Espírito Santo.” A vida
abundante não resulta do esforço da carne, mas do poder do Espírito. A vida
abundante não é um troféu que conquistamos, mas um dom que recebemos. Essa
dádiva não procede da terra, mas do céu; não dos homens, mas do Espírito Santo
de Deus.
Concluímos
essa exposição citando mais uma vez John Stott. Segundo o erudito expositor, de
todos os temas analisados no texto em apreço, há três que parecem centrais e
têm a ver com a cruz, a ressurreição e o juízo final. Cristo morreu para ser
nosso Salvador. Cristo ressuscitou para ser nosso Senhor. Cristo virá para ser
nosso Juiz. Cristo morreu! Cristo ressuscitou! Cristo voltará! Essas gloriosas
verdades, além de constituir a essência do nosso culto, influenciam a nossa
conduta.1139
Romanos: o
evangelho segundo Paulo / Hernandes Dias Lopes
NOTAS:
NOTAS:
"Juízo
de valor (14.1) Significa determinar, com base em nossas próprias crenças e
convicções, que certa pessoa está em pecado. Quando uma pessoa se envolve num
ato que a Bíblia tipifica como pecaminoso, não estamos fazendo juízo de valor
ao classificar esse ato de pecado, mas, sim, estamos em concordância com Deus.
É importante ter clara, na mente, essa distinção. A igreja deve disciplinar os
crentes que pecam, mas ninguém, nem mesmo a congregação, tem o direito de
emitir juízo de valor. Forte e fraco (14.2). Para surpresa de muitos, é o fraco
na fé (aetheneia: fraco, incapacitado) que tem problemas com a liberdade de
outros, que desfrutam de uma fé mais forte! O forte na fé leva em conta que a
espiritualidade não é uma questão de fazer ou não fazer, mas de amar e servir a
Deus enquanto usufrui suas boas dádivas. Desprezar (14.3). O problema de julgar
os outros é que isso distorce relacionamentos, nos impede o entendimento e de
compartilharmos a ajuda uns dos outros. Deus se agrada de nós, pelos nossos relacionamentos,
não se comemos carne ou somos vegetariano" (RICHARDS, Lawrence O. Guia do
Leitor da Bíblia: Uma análise de Gênesis a Apocalipse capítulo por capítulo.
lO.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.750).
... Dizem:
'Você deve viver de acordo com esses padrões ou ofenderá um irmão mais fraco’.
Na verdade, muitas vezes a pessoa ofenderia somente a quem lhe fez a
recomendação. Embora Paulo estivesse nos conclamando a sermos sensíveis com
aqueles cuja fé poderia ser prejudicada por nossos atos, não devemos sacrificar
nossa liberdade em Cristo apenas para satisfazer as razões egoístas daqueles
que tentam impor-nos suas opiniões. Não tema nem os critique, apenas siga a
Cristo o mais próximo que puder.
...] O
grande problema estava no fato das diferenças de costumes entre os judeus e os
gentios. Paulo não desmerece a importância dos pertencentes à ’circuncisão',
mas reafirma que Cristo é Senhor e Salvador, tanto dos judeus como dos gentios.
Para que os crentes gentios não se orgulhassem sobre os crentes vindos do
judaísmo, Paulo mostra que o Evangelho é superior aos sistemas de vida. Gentios
e judeus, fortes e fracos, todos são um só povo em Cristo, pois este foi feito
ministro para confirmar as promessas (15.8)" (CABRAL, Elienai. Romanos: O
Evangelho da Justiça de Deus. 5.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2005, p.144).
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