Se
o orgulho é o primeiro dos pecados, a inveja talvez seja o segundo. Logo atrás
de si, vem o medo que, não controlado, acaba por gerar o ódio e outros pecados
ainda mais deletérios. Antes o invejoso. Agora, o assassino dissimulado e frio.
Mais além, o réu confesso. Na terra, clama o sangue do irmão.
Eis a biografia de Caim. Apesar das honras que
lhe conferiam a primogenitura, deixou-se ele dominar por uma inveja tola e
injustificável. Seus privilégios eram nada desprezíveis. Primeiro filho de
Adão, cabia-lhe, entre outras coisas, a herança messiânica. Se ele tivesse
permanecido fiel, estaria hoje entre os ancestrais de Cristo. Mas, agindo como
agiu, foi arrolado como o primeiro descendente espiritual de Satanás.
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I. MULHER, AUXILIADORA DE DEUS.
No
processo dialético da tentação, Satanás intentou enredar Eva na luta contra o
Reino de Deus. O Senhor, porém, interveio de pronto, colocando inimizade entre
a mulher e a serpente (Gn 3.15). Foi nessa inimizade que germinou a amizade
entre Deus e a raça humana: Jesus Cristo.
1.
Inimiga da serpente.
O
que teria acontecido se o Diabo tivesse aliançado Eva em sua luta contra Deus?
A mulher, usada pelo Maligno, não teria permitido a propagação da espécie
humana. E, dessa forma, Satanás e seus anjos não demorariam a apossar-se da
Terra que Deus criara para manifestar o seu Reino.
O
Senhor, todavia, intervém e desfaz, ali mesmo no Éden, o motim que visava
transformar-lhe o Reino no império de Satanás. A partir daquele momento, o
inimigo perde uma aliada, ao passo que Deus ganha uma grande auxiliadora.
2. Auxiliadora de Deus.
Em
consequência da Queda, a mulher deprava-se não total, mas essencialmente.
Apesar dos efeitos daninhos do pecado, a graça divina estaria sobre ela,
fortalecendo-a na execução da vontade divina. Eva ergue-se para glorificar o
Criador através da maternidade (1 Tm 2.15).
3.
Teóloga da maternidade.
Depois
da queda, não encontramos nenhuma declaração do homem. Adão simplesmente se
cala. Até mesmo quando Caim matou Abel, cala-se e nada diz. Ele certamente
muito lamentou a perda de ambos os filhos: o caçula, à sepultura; o
primogênito, ao crime. Mesmo assim, silencia-se dolorosamente. Conquanto
excelente teólogo e governador do mundo, nenhum comunicado emite; emudecido,
prefere chorar a irreparável perda.
De
Eva, porém, temos duas declarações teológicas. Ao dar à luz o primogênito,
declara: “Adquiri um varão com o auxílio do Senhor” (Gn 4.1). Em sua primeira
declaração, há pelo menos três proposições: 1) Deus é o autor da vida; 2) o
filho, que agora embala, não é seu; pertence ao Senhor; e, 3) ela coloca-se no
lugar de serva e auxiliadora do Criador no povoamento da Terra.
A
segunda declaração da mulher, também, é carregada de significados teológicos.
Após a morte do caçula e a perda do primogênito ao Maligno, assim acolhe o
pequenino Sete: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou”
(Gn 4.25). Ela demonstra, uma vez mais, sua grande acuidade teológica: 1) a
intervenção divina nos negócios humanos; 2) a punição dos culpados; e, 3) a
continuidade do Plano de Salvação através de sua semente. Em suas declarações,
não é difícil vislumbrar um pequeno Magnificat. Não obstante o luto que lhe ia
na alma, encontra motivos para glorificar a Deus por sua bondade e amor. Temos,
em Eva, uma figura de Maria, mãe de Jesus.
II. CAIM É GERADO ESPIRITUALMENTE POR
SATANÁS
Não
foi apenas Eva que supôs fosse Caim a semente anunciada pelo Senhor. Satanás
deve ter chegado à mesma conclusão. Por isso, se não pôde ter a mulher como
aliada, por que não lhe cooptar o filho? E, assim, começa o inimigo a frondar
sua árvore de famosos descendentes espirituais: Caim, o primeiro. Ao longo dos
séculos, brotariam o Faraó do Êxodo, Nero, Átila, Napoleão, Stalin, Hitler e
muitos de nossos contemporâneos.
1. A cooptação de Caim.
É
bem possível que o maligno haja iniciado a cooptação de Caim, quando este ainda
era bebê. Bom psicólogo, observou-lhe as reações. Fez-se presente em sua
infância, não se ausentou de sua adolescência e, em sua juventude, soube como
trabalhar-lhe a inveja, o ódio e o ímpeto homicida. E, daí para o ato
criminoso, não precisou de muito esforço. Segundo Tiago, o pecado nasce
paulatina e imperceptivelmente (Tg 1.13-15).
O Diabo cristalizou os sentimentos de Caim num
ódio mortal contra Abel. Infelizmente, o mesmo vem ocorrendo em alguns lares
cristãos. Ainda infantes, irmãos levantam-se uns contra os outros. Quanto aos
pais, nada fazem. Alguns até incentivam a rivalidade entre os filhos, para que
estes sejam agressivos e predadores. E o resultado não poderia ser mais
trágico. Há pais que, ao invés de uma Bíblia, dão ao filho uma arma. Enquanto
redijo estas linhas, a sociedade americana chora a morte de oito cristãos
negros da Igreja Metodista Episcopal Emanuel, na Carolina do Sul. O jovem
Dylann Roof matou-os com a pistola que lhe dera o pai. Em sua alma, o ódio
racial e diabólico.
É
provável que Satanás haja tentado cooptar também Abel. Este, todavia,
observando os conselhos paternos, não lhe dera guarida. O tentador, não se
dando por vencido, propõe-se a destruí-lo pelas mãos de Caim. Dessa maneira,
imaginava o Maligno, poderia comprometer de vez a germinação da semente da
mulher. Abel seria destruído, morrendo; Caim, matando.
2. Um perfeito
aliado de Satanás.
Se
não pode ter Eva como aliada, por que não o seu primogênito? Havendo, pois, o
Diabo trabalhado a religiosidade de Caim, já o tinha como aliado. Agora,
poderia contrapor-se ao estabelecimento do Reino de Deus, que viria através da
semente da mulher.
Caim, portanto, aliou-se a Satanás. Fez-se tão
diabo quanto o próprio Diabo. Assim ocorre com os que, desprezando a Deus,
pecam e fecham-se ao arrependimento. Aos tais, a perdição eterna. Caim, além da
depravação essencial, totalmente depravou-se ao ignorar o apelo divino.
III. O PRIMEIRO HOMICÍDIO
Por
que Caim matou Abel? João é direto e desconcertante: “Porque as suas obras eram
más, e as de seu irmão, justas” (1 Jo 3.12). Sendo Caim do Maligno, como
haveria de aturar o irmão, cujas obras evidenciavam uma fé viva e santa? Logo,
ele não se fez do Maligno por haver matado Abel. Ele o assassinou porquanto já
era do Maligno. Afinal, o Diabo jamais se comprouve na verdade; matar, mentir e
roubar faz parte de sua natureza corrompida e totalmente depravada. Mas Caim,
advertido por Deus, poderia ter evitado aquele desatino.
1. Advertência divina.
Deus
amava tanto Caim quanto Abel. Não queria um assassino, nem desejava um
assassinado, pois tinha um plano específico para cada um deles. Por isso,
adverte Caim: “Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes
bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o
pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá- lo”
(Gn 4).
A que assemelharei o pecado? Em nada difere da
víbora que, astuta e paciente, espera o incauto abrir a porta, a fim de
morder-lhe o calcanhar. Por isso mesmo, fiquemos longe de seu bote quase sempre
certeiro. Caim, porém, brincou com o pecado; menosprezou a advertência divina.
Em sua alma, já havia matado o irmão. Na intenção, já era um assassino
duplamente qualificado. Não obstante, tanto o seu
coração, quanto a sua intenção ainda poderiam ser mudados. Ele, porém,
recusou-se a ouvir a voz de seu Criador.
2. O
crime.
Até
aquele momento, a morte de um ser humano só era conhecida teoricamente. Adão e
Eva sabiam que, por haverem desobedecido ao Senhor, teriam de enfrentá-la eventualmente.
Eles achavam que viriam a morrer naturalmente, como naturalmente morriam os
animais. Afinal, carcaças sempre eram achadas nos campos e nos arredores de sua
habitação.
Como
sua dieta era vegetal, os primeiros humanos não tinham necessidade de abater
aves e animais. Matar ainda não era técnica nem arte. Aliás, suponho que os
próprios animais, dóceis como eram, não se predavam uns aos outros. Entretanto,
o homem estava prestes a tornar-se o lobo do homem. Achava na iminência de
transformar sua enxada e relha numa espada.
Nessa
época, o único que sabia matar era Abel. Sendo ele pastor de ovelhas, das
primícias destas apresentava regularmente uma oferenda ao Senhor. Não sei
quantos cordeiros santificara em sua adoração. Mas, certamente, aprendera a imolá-los
no altar que, rusticamente, construíra. Caim, que o observava atentamente, não
demorou a premeditar o assassinato do irmão: Por que não matar Abel como Abel
matava suas ovelhas? Por que não sacrificar o sacrificador?
O
autor sagrado assim descreve o primeiro homicídio da história: “Disse Caim a
Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou
Caim contra Abel, seu irmão, e o matou” (Gn 4.8). O que Caim queria mostrar a
Abel no campo? A lavoura ou a nova lavragem? Mas, ali mesmo, adiantando-se,
mata o irmão. Que instrumentos usou? Os instrumentos do pastoreio ou os
petrechos da agricultura?
3.
A desculpa do assassino.
Caim
racionaliza o seu pecado. Após ter assassinado Abel, retoma as lides do campo
como se nada tivesse acontecido. Não sei que desculpa dera aos pais acerca do
sumiço do irmão. Talvez dissesse que este achava-se errante à procura da
centésima ovelha. Não age assim o bom pastor? Deus, porém, não se deixa embair
por nossos álibis e pretextos. Onisciente e onipresente, Ele nos conhece as
ações; vê-nos os pecados; não nos ignora as intenções homicidas.
Vem o Senhor, então, e pergunta-lhe: “Onde
está Abel, teu irmão?” (Gn 4.9). É bem provável que Caim, ao ser argüido de
forma tão direta pelo Autor e Conservador da vida, haja sido tomado pela
surpresa. Afinal, o seu crime fora executado com requinte, astúcia e muita
discrição. Ninguém vira nada. Nem o pai, nem a mãe. Talvez ele não soubesse
ainda que Deus é tanto onisciente quanto onipresente. Mas, agora, sabe que nada
poderá escondê-lo do Juiz de toda a Terra.
Mesmo
arguido judicialmente pelo Senhor, desculpa-se Caim: “Não sei; acaso, sou eu
tutor de meu irmão?” (Gn 4.9). Em sua resposta, descortinamos uma filosofia
violenta e contrária à lei do amor, Em primeiro lugar, Caim encobre o seu
pecado com outro pecado. Embora soubesse onde estava seu irmão, mente. O corpo
de Abel jazia nalgum lugar, talvez até insepulto. Em seguida, alega não ter
qualquer responsabilidade sobre o irmão mais novo.
Diz não ser tutor de Abel.
Irmão mais velho, tinha ele, sim, responsabilidade quanto ao caçula da família.
Caim era tutor de seu irmão. Portanto, deveria ter agido como referência moral
e ética de Abel.
IV. A PUNIÇÃO DE CAIM
Não
sabemos quantas pessoas habitavam a Terra a essas alturas. O relacionamento
humano, porém, já exibia certa complexidade. Por isso mesmo, a punição de Caim
dar-se-ia em vários níveis: divino, pessoal, doméstico e social. Ele não seria
castigado com a morte, mas seria disciplinado por uma vida errante, longe dos
pais e distante de Deus.
1. Castigo divino.
Se enfrentar um juiz humano já é constrangedor
e vexatório, como nos haveremos diante do Juiz de toda a Terra? A situação de
Caim é nada confortável. Diante do Criador, o homicida é desnudado. Arguido
pelo Autor e Conservador da Vida, desnuda-se ele sem desculpas e sem álibis.
No
início do julgamento, pergunta-lhe o Senhor: “Onde está Abel, teu irmão?”
Buscando fugir à inquirição divina, responde o homicida, tentando fugir à
responsabilidade doméstica e social: “Não sei; acaso, sou eu tutor de meu
irmão?” (Gn 4.9). Em sua resposta, sobressaem a mentira e a ignorância.
Na
verdade, ele bem sabia onde estava Abel. Quanto à sua tola indagação, não
precisava de resposta alguma. Na qualidade de irmão mais velho, ele era, sim,
como já dissemos, tutor do mais novo. Assim como Judá, mais tarde, haveria de
responsabilizar-se por Benjamin, deveria o perverso e desalmado primogênito
ter-se dado fraternalmente pelo caçula (Gn 44.32-34).
Em
seguida, endereça-lhe o Senhor a segunda pergunta: “Que fizeste?” Caim sabia o que
havia feito quando ele e Abel encontravam--se sozinhos no campo. Julgando-se
longe dos olhos dos pais, matara-o. Todavia, Deus, que a todos vê e escrutina,
presenciara-lhe o homicídio, qualificando-o como gravemente doloso: “A voz do
sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.10). O sangue de Abel fizera-se
eloquente e irretorquível; clamava a Deus, não por vingança, mas por justiça.
Sem outro tribunal a que recorrer, Caim ouve o veredito do Juiz de toda a
terra: “És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para
receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará
ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra” (Gn 4.11.12).
Ao
invés de arrepender-se e pedir misericórdia, Caim julga o castigo divino
desproporcional: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que
hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei
fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará” (Gn
4.13,14).
Caim
não pede misericórdia; põe-se, contudo, a reclamar da sentença. Teme mais as
consequências temporais do que as penalidades eternas. Como a lei da
proporcionalidade ainda não estava em vigor, não seria punido com a morte:
“Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o Senhor um
sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse” (Gn
4.15).
Ouvida
a sentença, o criminoso retira-se da presença do Senhor e detém-se ao oriente
do Éden, onde fundará a primeira Caim era tutor de seu irmão. Portanto, deveria
ter agido como referência moral e ética de Abel. cidade humana. Tão perto do
paraíso e tão arredado da presença do Senhor.
2.
Castigo pessoal.
Para
resguardar Caim de uma vingança futura, dá-lhe o Senhor um salvo conduto:
“Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes” (Gn 4.15). A partir
daquele instante, o próprio Deus encarregar-se-ia de sua custódia. Se alguém o
matar, sete vezes será castigado. E, para que não pairasse qualquer dúvida
quanto ao seu salvo-conduto, o Senhor nele apõe um sinal. O que indicava o
ideograma divino? Entre outras coisas, que a vida é sagrada da concepção à
morte natural.
Caim não seria punido com a morte, mas com a
vida. Ninguém o mataria, mas todos haveriam de censurá-lo por haver,
covardemente, matado Abel. O seu castigo, além de pessoal, seria também
doméstico e social.
3. Castigo
doméstico e social.
Caim, agora, já não tinha condições de
encarar os pais. Por isso, abandona, de vez, a casa paterna e constrói a sua
cidade. Doravante, terá de amargar um exílio que o deixaria para sempre longe
de Adão e distante de Eva. Caim foge sem que o persigam; esconde-se sem que o
procurem; envergonha-se e cobre-se de opróbrios. O sinal que traz no semblante
denuncia-o à vista dos filhos, netos e bisnetos. Ele simplesmente não pode
esconder o seu crime.
Seu
exemplo replicar-se-ia em sua descendência. Apesar do progresso tecnológico
alcançado por seus filhos na primeira civilização, fazem-se eles inimigos de
Deus. O que dizer de Lameque? Por motivos banais, matou dois homens. Quanto às
descendentes de Caim, foram usadas pelo Maligno para desencaminhar os filhos de
Deus (Gn 6.1,2).
CONCLUSÃO
Por
que Caim matou Abel? Se procurarmos a resposta na psicologia, ou na sociologia,
corremos o risco de inocentar o assassino e condenar o assassinado. Mas, se nos
voltarmos à Palavra de Deus, encontraremos uma resposta simples, direta e que
não deixará margem alguma à dúvida. Responde-nos o discípulo do amor: “Porque a
mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros;
não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o
assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1 Jo
3.12).
Quem
mata é do Maligno.
Não me refiro apenas ao homicídio físico.
Refiro-me, também, ao homicídio emocional, moral e espiritual. Quantas pessoas,
neste momento, não se acham assediadas emocional e moralmente? Há líderes e
chefes que em nada diferem de um verdugo; oprimem e matam seus comandados.
Quanto ao homicídio espiritual, o que se há para falar? Não são poucas as
ovelhas que, em nossos redis, são vítimas de mercenários e lobos vorazes. Dos
maus obreiros, nem os pastores logram escapar. Eis, portanto, o momento
oportuno de mostrarmos ao mundo a qualidade de nossa vida espiritual.
Discípulos de Cristo, obrigamo-nos a ir além do mero amor, pois o verdadeiro
amor não se limita a gostar: amando como Jesus amou, não teme o Calvário. É uma
doação contínua que fazemos a Deus e ao próximo.
Quem ama é de Deus, porque Deus é amor.
CRIACIONISMO VERDADE OU MITO?
Todos Parentes
Uma vez que
a Bíblia descreve todos os seres humanos como pecadores, e somos todos parentes
(“E [Ele] de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face
da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua
habitação”, At 17.26), o evangelho só faz sentido com base no fato de que todos
os seres humanos vivos e todos que já viveram (exceto a primeira mulher- 6 )
são descendentes do primeiro homem Adão. Se não fosse assim, então o evangelho
não poderia ser explicado nem defendido. Por isso, houve só um homem no
princípio — feito do pó da terra (Gn 2.7).
Isso também quer dizer que a esposa de Caim
era descendente de Adão. Ela não poderia vir de outra raça de pessoas e deve
ser considerada descendente de Adão.
A Primeira
Mulher
Gênesis 3.20
afirma: “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva, porquanto ela era a mãe de
todos os viventes”. Em outras palavras, todas as pessoas, com exceção de Adão, são
descendentes de Eva — ela foi a primeira mulher.
6 Em certo
sentido, Eva era descendente de Adão, pois foi feita da carne dele e, assim,
tinha uma ligação biológica direta com ele (Gn 2.21-23).
Eva foi
feita da costela de Adão (Gn 2.21-24) — esse foi um evento único. No Novo
Testamento, Jesus (Mt 19.4-6) e Paulo (Ef 5.31) usam essa histó ria e evento
único como o fundamento para o casamento de um homem e uma mulher.
Em Gênesis
2.20, também nos é dito que quando Adão olhou para os animais não pôde
encontrar um par para ele — não havia nenhum animal da sua espécie. Tudo isso
deixa óbvio que, no princípio, havia apenas uma mulher, a esposa de Adão. Não
poderia haver uma “raça” de mulheres.
Assim, se os
cristãos não podem defender que toda a raça humana, incluindo a esposa de Caim,
pode traçar sua descendência até Adão e Eva, então como eles podem entender e
explicar o evangelho? Como eles podem justificar o envio de missionários para
toda tribo e nação? Por essa razão, o indivíduo precisa ser capaz de explicar a
esposa de Caim a fim de ilustrar que os cristãos podem defender o evangelho e
tudo que ele ensina.
Quem Foi Caim?
Caim foi o
primeiro filho de Adão e Eva registrado na Escritura (Gn 4.1). Ele e seus
irmãos Abel (Gn 4.2) e Sete (Gn 4.25) fizeram parte da primeira geração de
crianças nascidas nesta terra. Embora esses três filhos homens sejam
especificamente mencionados, Adão e Eva tiveram outros filhos.
Irmãos e
Irmãs de Caim
Em Gênesis 5.4, lemos a declaração que resume
a vida de Adão e Eva: “E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete,
oitocentos anos, e gerou filhos e filhas”.
Adão e Eva,
durante sua vida, tiveram vários filhos homens e mulheres.
( Na verdade, Josefo, historiador judeu,
escreveu: “Segundo a antiga tradição, Adão teve 33 filhos e 23 filhas”.7 7 F.
Josefo, The Complete Works o f Josephus, trad. W. Whiston. Grand Rapids, Mich.:
Kregel Publications, 1981, p. 27.)
DEPOIS DO ÉDEN
A Escritura não
nos diz quantos filhos Adão e Eva tiveram, mas considerando seu longo período
de vida (Adão viveu por 930 anos — Gn 5.5), pareceria lógico sugerir que
tiveram muitos filhos. Lembre-se, eles receberam a ordem: “Frutificai, e
multiplicai-vos” (Gn 1.28).
A Esposa
Se, agora,
trabalharmos totalmente a partir da Escritura, sem preconceito pessoal nem
outras ideias extrabíblicas, então no início, quando havia apenas a primeira
geração, irmãos teriam de casar com irmãs ou não haveria mais nenhuma geração!
Não nos é dito quando Caim casou nem nos são
fornecidos muitos detalhes de outros casamentos e filhos, mas podemos dizer
que, com certeza, a esposa de Caim era sua irmã ou parente próximo.
Um olhar
mais atento à palavra usada em Gênesis para “esposa” revela algo que os
leitores podem perder na tradução. Ela deixa mais óbvio para os que falam
hebraico que a esposa de Caim provavelmente era sua irmã. (Há uma tênue
possibilidade de que ela fosse sua sobrinha, mas, de todo jeito, irmão e irmã
teriam de se casar no início.) A palavra hebraica usada em Gênesis 4.17 para
“esposa” (primeira menção à esposa de Caim) é ishshah e quer dizer “mulher/
esposa/ fêmea/varoa”.
E conheceu
Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e
chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque. (Gn 4.17) A palavra
ishshah é o termo para “mulher” e quer dizer “vinda do homem”. Ela deriva-se
das palavras hebraicas iysh eesh e enowsh, ambas com sentido de “homem”. Observamos
isso em Gênesis 2.23, passagem em que o nome “varoa” (ishshah) é dado a alguém
que nasceu de Adão.
E disse
Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será
chamada varoa [ishshah], porquanto do varáo [iysh] foi tomada. (Gn 2.23)
Assim, a
esposa de Caim é descendente de Adão/homem. Portanto, ela tinha de ser irmã (ou
provavelmente sobrinha) de Caim. Os leitores hebraicos têm mais facilidade de
fazer essa conexão, entretanto, perde-se muito na tradução.
Objeções
LEIS DE DEUS
Muitas
pessoas rejeitam de imediato a conclusão de que os filhos e filhas de Adão e
Eva se casaram uns com os outros apelando para a lei contra o casamento entre
irmãos. Alguns dizem que você não pode se casar com parente. Na verdade, se
você não se casa com parente, não se casa com um ser humano! Lembre-se de que
todas as pessoas são descendentes de Adão e Eva — todos são do mesmo sangue.
A lei
proibindo o casamento entre parentes próximos só foi dada na época de Moisés
(Lv 18— 20). Como o casamento era um homem e uma mulher por toda a vida
(baseado em Gn 1— 2), originariamente, não havia desobediência à lei de Deus
(antes da época de Moisés) no casamento entre parentes próximos (até mesmo de
irmãos com irmãs). A lei de Deus proibiu esses casamentos,8 mas isso aconteceu
cerca de quatrocentos anos depois, na época de Moisés.
DEFORMIDADES BIOLÓGICAS
Hoje, geralmente não se permite por lei que
irmãos e irmãs (e meios-irmãos e meias-irmãs, etc.) casem-se e tenham filhos.
Bem, é verdade
que os filhos que são frutos de uma união entre irmão e irmã têm uma grande
chance de ter deformações. Na verdade, quanto mais estreito for o laço de
parentesco entre o casal, mais provável é que os descendentes tenham
deformações. É muito fácil entender isso sem ter de descer a detalhes técnicos.
Cada pessoa
herda um conjunto de genes de seu pai e de sua mãe. Infelizmente, hoje, os
genes possuem muitos erros (por causa do pecado e da maldição), e esses erros
revelam-se de várias maneiras. Por exemplo, pessoas deixam o cabelo crescer até
abaixo da orelha para esconder o fato de que uma orelha é mais baixa que a
outra. Ou talvez o nariz de alguém não esteja bem no centro de sua face ou a
mandíbula de alguém seja um pouco fora do molde. Encaremos os fatos: o
principal motivo por que chamamos uns aos outros de normal se deve a nossa
concordância em fazer isso!
Quanto mais próximo for o laço de parentesco
de duas pessoas, mais provável é que reproduzam os erros em seus genes,
herdados dos mesmos pais. Por essa razão, é provável que irmão e irmã tenham
erros similares em seu material genético. Se houver união entre esses dois
materiais genéticos que produzem descendência, os filhos herdariam um conjunto
de genes de cada um dos pais. Como é provável que os genes contenham erros
similares, os pares de genes com erro se juntam e resultam em deformidade nos
filhos.
Reciprocamente, quanto mais distante for o
laço de parentesco entre o casal, mais provável é que contenham erros distintos
em seus genes. É provável que os filhos, herdando um conjunto de genes de cada
um dos pais, terminem com alguns dos pares de genes contendo apenas um gene
ruim em cada par. O gene bom tende a anular o ruim para que não ocorra uma deformidade
(uma deformidade séria). Por exemplo, o indivíduo em vez de ter as orelhas
totalmente deformadas pode tê- las apenas arqueadas. (Todavia, além de tudo, a
raça humana está degenerando vagarosamente à medida que os erros se acumulam
geração após geração.)
Contudo,
esse fato da vida atual não se aplica a Adão e Eva. Quando as duas primeiras
pessoas foram criadas, elas eram perfeitas. Tudo que Deus fez era “muito bom”
(Gn 1.31). Isso quer dizer que os genes deles eram perfeitos, não continham
erros. Todavia, quando o pecado entrou no mundo por causa de Adão (Gn 3.6),
Deus amaldiçoou o mundo para que, a partir daquela época, a criação perfeita
começasse a degenerar, ou seja, a sofrer morte e deterioração (Rm 8.22). Depois
de um longo período de tempo, essa degeneração poderia resultar em todo tipo de
erros ocorrendo no material genético das coisas vivas.
Contudo,
Caim pertencia à primeira geração de filhos nascidos. Ele, e também seus irmãos
e irmãs, não receberam praticamente nenhum gene imperfeito de Adão e Eva, uma
vez que os efeitos do pecado e da maldição deviam ser mínimos no início. Nessa
situação, irmãos e irmãs poderiam ter se casado (contanto que fosse um homem
para uma mulher, afinal o casamento é isso, Mt 19.4-6) sem nenhum potencial de
produzir uma descendência deformada.
Por volta da
época de Moisés (cerca de 2.500 anos depois), os erros degenerativos começaram
a se acumular na raça humana a ponto de ser necessário que Deus
introduzisse as leis proibindo o casamento de irmãos e irmãs (e parentes próximos, Lv 18— 20).9
(Além disso, naquela época, já havia muitas
pessoas na Terra, e não havia razão para o casamento entre parentes próximos.)
No total, parece que havia três razões
inter-relacionadas para a introdução das leis proibindo casamentos entre
parentes próximos: 1.
Conforme já
discutimos, havia a necessidade de proteger contra o aumento potencial de
produzir uma descendência deformada.
2. As leis de Deus eram úteis para manter a
nação judaica forte, saudável e dentro dos propósitos de Deus.
3. Essas
leis eram um meio de proteger o indivíduo, a estrutura familiar e a sociedade em geral. O dano
psicológico causado pelos relacionamentos incestuosos não podiam ser minimizados.
Caim e a Terra de Node
Alguns
afirmam que a passagem de Gênesis 4.16,17 quer dizer que Caim foi para a terra
de Node e encontrou uma esposa. Por essa razáo, eles concluem que tinha de
haver outra raça de pessoas na terra que não eram descendentes de Adão, da qual
se originou a esposa de Caim.
E saiu Caim de diante da face do Senhor e
habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden. E conheceu Caim a sua
mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o
nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque.
A partir do
que foi afirmado acima, fica claro que todos os seres humanos, entre eles a
esposa de Caim, são descendentes de Adão. Todavia, essa passagem não diz que
Caim foi para a terra de Node e encontrou uma esposa. João Calvino, ao comentar
esses versículos, afirma:
A partir do
contexto, podemos deduzir que Caim se casou antes de matar seu irmão; do
contrário, Moisés, agora, relataria algo a respeito do casamento dele.10
Caim casou-se antes de ir para a terra de
Node. Ele não encontrou uma esposa lá, mas “conheceu” (teve relação sexual com
ela) sua esposa.11
Isso faz
sentido também à luz do que Node é. Node quer dizer “vaguear” em hebraico.
Assim, Caim, quando foi para a terra de Node, estava indo literalmente para uma
terra de afastamento, não para um lugar cheio de gente.
Do que Caim Tinha Medo
(Gn 4.14)?
Alguns afirmam que havia muitas pessoas na
Terra que não eram descendentes de
Adão e Eva; do contrário, Caim não poderia
temer pessoas querendo matá-lo por ter matado Abel.
Primeiro, o
motivo para alguém querer ferir Caim por ter matado Abel poderia ser a pessoa
ter uma relação próxima com Abel! 10
( J. Calvino, Commentaries on the First Book ofMoses
Called Genesis, vol. 1. Grand
Rapids, Mich.: Baker House, reimp. 1979, p. 215. 11 Mesmo se a sugestão de
Calvino a respeito desse assunto não estiver correta, ainda haveria muito tempo
para que os numerosos descendentes de Adão e Eva se mudassem e se
estabelecessem em áreas como a terra de Node.)
Caim e Abel nasceram um bom tempo antes do
evento da morte de Abel. Gênesis 4.3 afirma:
Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da
terra uma oferta ao Senhor. (NVI)
Observe a
expressão, “passado algum tempo”. Sabemos que Sete nasceu quando Adão tinha 130
anos (Gn 5.3), e Eva viu-o como um substituto para Abel (Gn 4.25). Portanto, o
período de tempo entre o nascimento de Caim e a morte de Abel deve ter sido de
cem anos ou mais — permitindo bastante tempo para que outros filhos de Adão e
Eva casassem e tivessem filhos. Na época em que Abel foi morto, provavelmente
havia um considerável número de descendentes de Adão e Eva, envolvendo diversas
gerações.
De onde Vem a Tecnologia?
Alguns afirmam que Caim, para ir para a terra
de Node e construir uma cidade, precisaria de muita tecnologia que já poderia
existir nessa terra, presumivelmente desenvolvida por outras raças.
Os
descendentes de Adão e Eva eram pessoas muito inteligentes. É-nos dito que
Jubal fazia instrumentos musicais, como harpa e órgão (Gn 4.21), e Tubalcaim
trabalhava com cobre e ferro (Gn 4.22).
Muitas
pessoas hoje, por causa da intensa doutrinação evolucionária, têm a ideia de
que sua geração é a mais avançada que já houve neste planeta. Só porque temos
avião a jato e computadores não quer dizer que somos os mais inteligentes e
avançados. Essa tecnologia moderna é realmente resultado do acúmulo de
conhecimento.
Devemos nos
lembrar que nosso cérebro sofre as conseqüências de 6.000 anos de maldição.
Degeneramos muitíssimo em comparação com as pessoas de muitas gerações atrás.
Podemos não estar nem um pouco mais próximos de ser mais inteligentes nem mais
criativos que os filhos de Adão e Eva. A Escritura fornece-nos, quase desde o
princípio, um vislumbre do que parece ser tecnologia avançada.
Caim tinha o
conhecimento e o talento para saber como construir uma cidade!
Conclusão
Um dos
motivos para muitos cristãos não saberem responder à pergunta sobre a esposa de
Caim é o fato de que tendem a olhar o mundo atual e os problemas associados ao
casamento de parentes próximos, em vez de olharem para o claro registro
histórico que Deus nos concedeu.
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