segunda-feira, 26 de outubro de 2015

LIÇÃO 5 : Caim era do maligno




Capítulo 5 CAIM ERA DO MALIGNO INTRODUÇÃO

Se o orgulho é o primeiro dos pecados, a inveja talvez seja o segundo. Logo atrás de si, vem o medo que, não controlado, acaba por gerar o ódio e outros pecados ainda mais deletérios. Antes o invejoso. Agora, o assassino dissimulado e frio. Mais além, o réu confesso. Na terra, clama o sangue do irmão.

Eis a biografia de Caim. Apesar das honras que lhe conferiam a primogenitura, deixou-se ele dominar por uma inveja tola e injustificável. Seus privilégios eram nada desprezíveis. Primeiro filho de Adão, cabia-lhe, entre outras coisas, a herança messiânica. Se ele tivesse permanecido fiel, estaria hoje entre os ancestrais de Cristo. Mas, agindo como agiu, foi arrolado como o primeiro descendente espiritual de Satanás.




Caim inaugurou a galeria dos grandes criminosos da História, tendo bem ao seu lado Nero, Herodes, Napoleão, Stalin, Hitler, entre outros facínoras. Seus imitadores acham-se também entre os que, em nossas igrejas, matam espiritual e moralmente o seu irmão.


I. MULHER, AUXILIADORA DE DEUS.

No processo dialético da tentação, Satanás intentou enredar Eva na luta contra o Reino de Deus. O Senhor, porém, interveio de pronto, colocando inimizade entre a mulher e a serpente (Gn 3.15). Foi nessa inimizade que germinou a amizade entre Deus e a raça humana: Jesus Cristo.

1. Inimiga da serpente.

O que teria acontecido se o Diabo tivesse aliançado Eva em sua luta contra Deus? A mulher, usada pelo Maligno, não teria permitido a propagação da espécie humana. E, dessa forma, Satanás e seus anjos não demorariam a apossar-se da Terra que Deus criara para manifestar o seu Reino.
O Senhor, todavia, intervém e desfaz, ali mesmo no Éden, o motim que visava transformar-lhe o Reino no império de Satanás. A partir daquele momento, o inimigo perde uma aliada, ao passo que Deus ganha uma grande auxiliadora.

 2. Auxiliadora de Deus.

Em consequência da Queda, a mulher deprava-se não total, mas essencialmente. Apesar dos efeitos daninhos do pecado, a graça divina estaria sobre ela, fortalecendo-a na execução da vontade divina. Eva ergue-se para glorificar o Criador através da maternidade (1 Tm 2.15).

3. Teóloga da maternidade.

Depois da queda, não encontramos nenhuma declaração do homem. Adão simplesmente se cala. Até mesmo quando Caim matou Abel, cala-se e nada diz. Ele certamente muito lamentou a perda de ambos os filhos: o caçula, à sepultura; o primogênito, ao crime. Mesmo assim, silencia-se dolorosamente. Conquanto excelente teólogo e governador do mundo, nenhum comunicado emite; emudecido, prefere chorar a irreparável perda.
De Eva, porém, temos duas declarações teológicas. Ao dar à luz o primogênito, declara: “Adquiri um varão com o auxílio do Senhor” (Gn 4.1). Em sua primeira declaração, há pelo menos três proposições: 1) Deus é o autor da vida; 2) o filho, que agora embala, não é seu; pertence ao Senhor; e, 3) ela coloca-se no lugar de serva e auxiliadora do Criador no povoamento da Terra.

A segunda declaração da mulher, também, é carregada de significados teológicos. Após a morte do caçula e a perda do primogênito ao Maligno, assim acolhe o pequenino Sete: “Deus me concedeu outro descendente em lugar de Abel, que Caim matou” (Gn 4.25). Ela demonstra, uma vez mais, sua grande acuidade teológica: 1) a intervenção divina nos negócios humanos; 2) a punição dos culpados; e, 3) a continuidade do Plano de Salvação através de sua semente. Em suas declarações, não é difícil vislumbrar um pequeno Magnificat. Não obstante o luto que lhe ia na alma, encontra motivos para glorificar a Deus por sua bondade e amor. Temos, em Eva, uma figura de Maria, mãe de Jesus.

II. CAIM É GERADO ESPIRITUALMENTE POR SATANÁS

Não foi apenas Eva que supôs fosse Caim a semente anunciada pelo Senhor. Satanás deve ter chegado à mesma conclusão. Por isso, se não pôde ter a mulher como aliada, por que não lhe cooptar o filho? E, assim, começa o inimigo a frondar sua árvore de famosos descendentes espirituais: Caim, o primeiro. Ao longo dos séculos, brotariam o Faraó do Êxodo, Nero, Átila, Napoleão, Stalin, Hitler e muitos de nossos contemporâneos.
              
1. A cooptação de Caim.

É bem possível que o maligno haja iniciado a cooptação de Caim, quando este ainda era bebê. Bom psicólogo, observou-lhe as reações. Fez-se presente em sua infância, não se ausentou de sua adolescência e, em sua juventude, soube como trabalhar-lhe a inveja, o ódio e o ímpeto homicida. E, daí para o ato criminoso, não precisou de muito esforço. Segundo Tiago, o pecado nasce paulatina e imperceptivelmente (Tg 1.13-15).

O Diabo cristalizou os sentimentos de Caim num ódio mortal contra Abel. Infelizmente, o mesmo vem ocorrendo em alguns lares cristãos. Ainda infantes, irmãos levantam-se uns contra os outros. Quanto aos pais, nada fazem. Alguns até incentivam a rivalidade entre os filhos, para que estes sejam agressivos e predadores. E o resultado não poderia ser mais trágico. Há pais que, ao invés de uma Bíblia, dão ao filho uma arma. Enquanto redijo estas linhas, a sociedade americana chora a morte de oito cristãos negros da Igreja Metodista Episcopal Emanuel, na Carolina do Sul. O jovem Dylann Roof matou-os com a pistola que lhe dera o pai. Em sua alma, o ódio racial e diabólico.
É provável que Satanás haja tentado cooptar também Abel. Este, todavia, observando os conselhos paternos, não lhe dera guarida. O tentador, não se dando por vencido, propõe-se a destruí-lo pelas mãos de Caim. Dessa maneira, imaginava o Maligno, poderia comprometer de vez a germinação da semente da mulher. Abel seria destruído, morrendo; Caim, matando.

 2. Um perfeito aliado de Satanás.
Se não pode ter Eva como aliada, por que não o seu primogênito? Havendo, pois, o Diabo trabalhado a religiosidade de Caim, já o tinha como aliado. Agora, poderia contrapor-se ao estabelecimento do Reino de Deus, que viria através da semente da mulher.
 Caim, portanto, aliou-se a Satanás. Fez-se tão diabo quanto o próprio Diabo. Assim ocorre com os que, desprezando a Deus, pecam e fecham-se ao arrependimento. Aos tais, a perdição eterna. Caim, além da depravação essencial, totalmente depravou-se ao ignorar o apelo divino.
                     
III. O PRIMEIRO HOMICÍDIO

Por que Caim matou Abel? João é direto e desconcertante: “Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1 Jo 3.12). Sendo Caim do Maligno, como haveria de aturar o irmão, cujas obras evidenciavam uma fé viva e santa? Logo, ele não se fez do Maligno por haver matado Abel. Ele o assassinou porquanto já era do Maligno. Afinal, o Diabo jamais se comprouve na verdade; matar, mentir e roubar faz parte de sua natureza corrompida e totalmente depravada. Mas Caim, advertido por Deus, poderia ter evitado aquele desatino.
                        
1. Advertência divina.

Deus amava tanto Caim quanto Abel. Não queria um assassino, nem desejava um assassinado, pois tinha um plano específico para cada um deles. Por isso, adverte Caim: “Por que andas irado, e por que descaiu o teu semblante? Se procederes bem, não é certo que serás aceito? Se, todavia, procederes mal, eis que o pecado jaz à porta; o seu desejo será contra ti, mas a ti cumpre dominá- lo” (Gn 4).

A que assemelharei o pecado? Em nada difere da víbora que, astuta e paciente, espera o incauto abrir a porta, a fim de morder-lhe o calcanhar. Por isso mesmo, fiquemos longe de seu bote quase sempre certeiro. Caim, porém, brincou com o pecado; menosprezou a advertência divina. Em sua alma, já havia matado o irmão. Na intenção, já era um assassino duplamente qualificado. Não obstante, tanto o seu coração, quanto a sua intenção ainda poderiam ser mudados. Ele, porém, recusou-se a ouvir a voz de seu Criador.
           
             

2. O crime.

Até aquele momento, a morte de um ser humano só era conhecida teoricamente. Adão e Eva sabiam que, por haverem desobedecido ao Senhor, teriam de enfrentá-la eventualmente. Eles achavam que viriam a morrer naturalmente, como naturalmente morriam os animais. Afinal, carcaças sempre eram achadas nos campos e nos arredores de sua habitação.

Como sua dieta era vegetal, os primeiros humanos não tinham necessidade de abater aves e animais. Matar ainda não era técnica nem arte. Aliás, suponho que os próprios animais, dóceis como eram, não se predavam uns aos outros. Entretanto, o homem estava prestes a tornar-se o lobo do homem. Achava na iminência de transformar sua enxada e relha numa espada.
Nessa época, o único que sabia matar era Abel. Sendo ele pastor de ovelhas, das primícias destas apresentava regularmente uma oferenda ao Senhor. Não sei quantos cordeiros santificara em sua adoração. Mas, certamente, aprendera a imolá-los no altar que, rusticamente, construíra. Caim, que o observava atentamente, não demorou a premeditar o assassinato do irmão: Por que não matar Abel como Abel matava suas ovelhas? Por que não sacrificar o sacrificador?

O autor sagrado assim descreve o primeiro homicídio da história: “Disse Caim a Abel, seu irmão: Vamos ao campo. Estando eles no campo, sucedeu que se levantou Caim contra Abel, seu irmão, e o matou” (Gn 4.8). O que Caim queria mostrar a Abel no campo? A lavoura ou a nova lavragem? Mas, ali mesmo, adiantando-se, mata o irmão. Que instrumentos usou? Os instrumentos do pastoreio ou os petrechos da agricultura?
                           
3. A desculpa do assassino.

Caim racionaliza o seu pecado. Após ter assassinado Abel, retoma as lides do campo como se nada tivesse acontecido. Não sei que desculpa dera aos pais acerca do sumiço do irmão. Talvez dissesse que este achava-se errante à procura da centésima ovelha. Não age assim o bom pastor? Deus, porém, não se deixa embair por nossos álibis e pretextos. Onisciente e onipresente, Ele nos conhece as ações; vê-nos os pecados; não nos ignora as intenções homicidas.

 Vem o Senhor, então, e pergunta-lhe: “Onde está Abel, teu irmão?” (Gn 4.9). É bem provável que Caim, ao ser argüido de forma tão direta pelo Autor e Conservador da vida, haja sido tomado pela surpresa. Afinal, o seu crime fora executado com requinte, astúcia e muita discrição. Ninguém vira nada. Nem o pai, nem a mãe. Talvez ele não soubesse ainda que Deus é tanto onisciente quanto onipresente. Mas, agora, sabe que nada poderá escondê-lo do Juiz de toda a Terra.

Mesmo arguido judicialmente pelo Senhor, desculpa-se Caim: “Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (Gn 4.9). Em sua resposta, descortinamos uma filosofia violenta e contrária à lei do amor, Em primeiro lugar, Caim encobre o seu pecado com outro pecado. Embora soubesse onde estava seu irmão, mente. O corpo de Abel jazia nalgum lugar, talvez até insepulto. Em seguida, alega não ter qualquer responsabilidade sobre o irmão mais novo. 

Diz não ser tutor de Abel. Irmão mais velho, tinha ele, sim, responsabilidade quanto ao caçula da família. Caim era tutor de seu irmão. Portanto, deveria ter agido como referência moral e ética de Abel.

IV. A PUNIÇÃO DE CAIM

Não sabemos quantas pessoas habitavam a Terra a essas alturas. O relacionamento humano, porém, já exibia certa complexidade. Por isso mesmo, a punição de Caim dar-se-ia em vários níveis: divino, pessoal, doméstico e social. Ele não seria castigado com a morte, mas seria disciplinado por uma vida errante, longe dos pais e distante de Deus.
                    1. Castigo divino.
 Se enfrentar um juiz humano já é constrangedor e vexatório, como nos haveremos diante do Juiz de toda a Terra? A situação de Caim é nada confortável. Diante do Criador, o homicida é desnudado. Arguido pelo Autor e Conservador da Vida, desnuda-se ele sem desculpas e sem álibis.
No início do julgamento, pergunta-lhe o Senhor: “Onde está Abel, teu irmão?” Buscando fugir à inquirição divina, responde o homicida, tentando fugir à responsabilidade doméstica e social: “Não sei; acaso, sou eu tutor de meu irmão?” (Gn 4.9). Em sua resposta, sobressaem a mentira e a ignorância.

Na verdade, ele bem sabia onde estava Abel. Quanto à sua tola indagação, não precisava de resposta alguma. Na qualidade de irmão mais velho, ele era, sim, como já dissemos, tutor do mais novo. Assim como Judá, mais tarde, haveria de responsabilizar-se por Benjamin, deveria o perverso e desalmado primogênito ter-se dado fraternalmente pelo caçula (Gn 44.32-34).
Em seguida, endereça-lhe o Senhor a segunda pergunta: “Que fizeste?” Caim sabia o que havia feito quando ele e Abel encontravam--se sozinhos no campo. Julgando-se longe dos olhos dos pais, matara-o. Todavia, Deus, que a todos vê e escrutina, presenciara-lhe o homicídio, qualificando-o como gravemente doloso: “A voz do sangue de teu irmão clama da terra a mim” (Gn 4.10). O sangue de Abel fizera-se eloquente e irretorquível; clamava a Deus, não por vingança, mas por justiça. Sem outro tribunal a que recorrer, Caim ouve o veredito do Juiz de toda a terra: “És agora, pois, maldito por sobre a terra, cuja boca se abriu para receber de tuas mãos o sangue de teu irmão. Quando lavrares o solo, não te dará ele a sua força; serás fugitivo e errante pela terra” (Gn 4.11.12).

Ao invés de arrepender-se e pedir misericórdia, Caim julga o castigo divino desproporcional: “É tamanho o meu castigo, que já não posso suportá-lo. Eis que hoje me lanças da face da terra, e da tua presença hei de esconder-me; serei fugitivo e errante pela terra; quem comigo se encontrar me matará” (Gn 4.13,14).
Caim não pede misericórdia; põe-se, contudo, a reclamar da sentença. Teme mais as consequências temporais do que as penalidades eternas. Como a lei da proporcionalidade ainda não estava em vigor, não seria punido com a morte: “Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes. E pôs o Senhor um sinal em Caim para que o não ferisse de morte quem quer que o encontrasse” (Gn 4.15).

Ouvida a sentença, o criminoso retira-se da presença do Senhor e detém-se ao oriente do Éden, onde fundará a primeira Caim era tutor de seu irmão. Portanto, deveria ter agido como referência moral e ética de Abel. cidade humana. Tão perto do paraíso e tão arredado da presença do Senhor.

2. Castigo pessoal.

Para resguardar Caim de uma vingança futura, dá-lhe o Senhor um salvo conduto: “Assim, qualquer que matar a Caim será vingado sete vezes” (Gn 4.15). A partir daquele instante, o próprio Deus encarregar-se-ia de sua custódia. Se alguém o matar, sete vezes será castigado. E, para que não pairasse qualquer dúvida quanto ao seu salvo-conduto, o Senhor nele apõe um sinal. O que indicava o ideograma divino? Entre outras coisas, que a vida é sagrada da concepção à morte natural.
 Caim não seria punido com a morte, mas com a vida. Ninguém o mataria, mas todos haveriam de censurá-lo por haver, covardemente, matado Abel. O seu castigo, além de pessoal, seria também doméstico e social.
          
  3. Castigo doméstico e social.

 Caim, agora, já não tinha condições de encarar os pais. Por isso, abandona, de vez, a casa paterna e constrói a sua cidade. Doravante, terá de amargar um exílio que o deixaria para sempre longe de Adão e distante de Eva. Caim foge sem que o persigam; esconde-se sem que o procurem; envergonha-se e cobre-se de opróbrios. O sinal que traz no semblante denuncia-o à vista dos filhos, netos e bisnetos. Ele simplesmente não pode esconder o seu crime.
Seu exemplo replicar-se-ia em sua descendência. Apesar do progresso tecnológico alcançado por seus filhos na primeira civilização, fazem-se eles inimigos de Deus. O que dizer de Lameque? Por motivos banais, matou dois homens. Quanto às descendentes de Caim, foram usadas pelo Maligno para desencaminhar os filhos de Deus (Gn 6.1,2).
              
   CONCLUSÃO

Por que Caim matou Abel? Se procurarmos a resposta na psicologia, ou na sociologia, corremos o risco de inocentar o assassino e condenar o assassinado. Mas, se nos voltarmos à Palavra de Deus, encontraremos uma resposta simples, direta e que não deixará margem alguma à dúvida. Responde-nos o discípulo do amor: “Porque a mensagem que ouvistes desde o princípio é esta: que nos amemos uns aos outros; não segundo Caim, que era do Maligno e assassinou a seu irmão; e por que o assassinou? Porque as suas obras eram más, e as de seu irmão, justas” (1 Jo 3.12).
Quem mata é do Maligno.

Não me refiro apenas ao homicídio físico. Refiro-me, também, ao homicídio emocional, moral e espiritual. Quantas pessoas, neste momento, não se acham assediadas emocional e moralmente? Há líderes e chefes que em nada diferem de um verdugo; oprimem e matam seus comandados. Quanto ao homicídio espiritual, o que se há para falar? Não são poucas as ovelhas que, em nossos redis, são vítimas de mercenários e lobos vorazes. Dos maus obreiros, nem os pastores logram escapar. Eis, portanto, o momento oportuno de mostrarmos ao mundo a qualidade de nossa vida espiritual. Discípulos de Cristo, obrigamo-nos a ir além do mero amor, pois o verdadeiro amor não se limita a gostar: amando como Jesus amou, não teme o Calvário. É uma doação contínua que fazemos a Deus e ao próximo.

Quem ama é de Deus, porque Deus é amor.

                         

                             CRIACIONISMO VERDADE OU MITO?

Todos Parentes

Uma vez que a Bíblia descreve todos os seres humanos como pecadores, e somos todos parentes (“E [Ele] de um só fez toda a geração dos homens para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados e os limites da sua habitação”, At 17.26), o evangelho só faz sentido com base no fato de que todos os seres humanos vivos e todos que já viveram (exceto a primeira mulher- 6 ) são descendentes do primeiro homem Adão. Se não fosse assim, então o evangelho não poderia ser explicado nem defendido. Por isso, houve só um homem no princípio — feito do pó da terra (Gn 2.7).
 Isso também quer dizer que a esposa de Caim era descendente de Adão. Ela não poderia vir de outra raça de pessoas e deve ser considerada descendente de Adão.

A Primeira Mulher

Gênesis 3.20 afirma: “E chamou Adão o nome de sua mulher Eva, porquanto ela era a mãe de todos os viventes”. Em outras palavras, todas as pessoas, com exceção de Adão, são descendentes de Eva — ela foi a primeira mulher.
6 Em certo sentido, Eva era descendente de Adão, pois foi feita da carne dele e, assim, tinha uma ligação biológica direta com ele (Gn 2.21-23).
Eva foi feita da costela de Adão (Gn 2.21-24) — esse foi um evento único. No Novo Testamento, Jesus (Mt 19.4-6) e Paulo (Ef 5.31) usam essa histó­ ria e evento único como o fundamento para o casamento de um homem e uma mulher.
Em Gênesis 2.20, também nos é dito que quando Adão olhou para os animais não pôde encontrar um par para ele — não havia nenhum animal da sua espécie. Tudo isso deixa óbvio que, no princípio, havia apenas uma mulher, a esposa de Adão. Não poderia haver uma “raça” de mulheres.
Assim, se os cristãos não podem defender que toda a raça humana, incluindo a esposa de Caim, pode traçar sua descendência até Adão e Eva, então como eles podem entender e explicar o evangelho? Como eles podem justificar o envio de missionários para toda tribo e nação? Por essa razão, o indivíduo precisa ser capaz de explicar a esposa de Caim a fim de ilustrar que os cristãos podem defender o evangelho e tudo que ele ensina.

Quem Foi Caim?

Caim foi o primeiro filho de Adão e Eva registrado na Escritura (Gn 4.1). Ele e seus irmãos Abel (Gn 4.2) e Sete (Gn 4.25) fizeram parte da primeira geração de crianças nascidas nesta terra. Embora esses três filhos homens sejam especificamente mencionados, Adão e Eva tiveram outros filhos.
Irmãos e Irmãs de Caim
 Em Gênesis 5.4, lemos a declaração que resume a vida de Adão e Eva: “E foram os dias de Adão, depois que gerou a Sete, oitocentos anos, e gerou filhos e filhas”.
Adão e Eva, durante sua vida, tiveram vários filhos homens e mulheres.
 ( Na verdade, Josefo, historiador judeu, escreveu: “Segundo a antiga tradição, Adão teve 33 filhos e 23 filhas”.7 7 F. Josefo, The Complete Works o f Josephus, trad. W. Whiston. Grand Rapids, Mich.: Kregel Publications, 1981, p. 27.)

DEPOIS DO ÉDEN

A Escritura não nos diz quantos filhos Adão e Eva tiveram, mas considerando seu longo período de vida (Adão viveu por 930 anos — Gn 5.5), pareceria ló­gico sugerir que tiveram muitos filhos. Lembre-se, eles receberam a ordem: “Frutificai, e multiplicai-vos” (Gn 1.28).

A Esposa

Se, agora, trabalharmos totalmente a partir da Escritura, sem preconceito pessoal nem outras ideias extrabíblicas, então no início, quando havia apenas a primeira geração, irmãos teriam de casar com irmãs ou não haveria mais nenhuma geração!
 Não nos é dito quando Caim casou nem nos são fornecidos muitos detalhes de outros casamentos e filhos, mas podemos dizer que, com certeza, a esposa de Caim era sua irmã ou parente próximo.
Um olhar mais atento à palavra usada em Gênesis para “esposa” revela algo que os leitores podem perder na tradução. Ela deixa mais óbvio para os que falam hebraico que a esposa de Caim provavelmente era sua irmã. (Há uma tênue possibilidade de que ela fosse sua sobrinha, mas, de todo jeito, irmão e irmã teriam de se casar no início.) A palavra hebraica usada em Gênesis 4.17 para “esposa” (primeira menção à esposa de Caim) é ishshah e quer dizer “mulher/ esposa/ fêmea/varoa”.
E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque. (Gn 4.17) A palavra ishshah é o termo para “mulher” e quer dizer “vinda do homem”. Ela deriva-se das palavras hebraicas iysh eesh e enowsh, ambas com sentido de “homem”. Observamos isso em Gênesis 2.23, passagem em que o nome “varoa” (ishshah) é dado a alguém que nasceu de Adão.
E disse Adão: Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne; esta será chamada varoa [ishshah], porquanto do varáo [iysh] foi tomada. (Gn 2.23)
Assim, a esposa de Caim é descendente de Adão/homem. Portanto, ela tinha de ser irmã (ou provavelmente sobrinha) de Caim. Os leitores hebrai­cos têm mais facilidade de fazer essa conexão, entretanto, perde-se muito na tradução.

Objeções

LEIS DE DEUS

Muitas pessoas rejeitam de imediato a conclusão de que os filhos e filhas de Adão e Eva se casaram uns com os outros apelando para a lei contra o casamento entre irmãos. Alguns dizem que você não pode se casar com parente. Na verdade, se você não se casa com parente, não se casa com um ser humano! Lembre-se de que todas as pessoas são descendentes de Adão e Eva — todos são do mesmo sangue.
A lei proibindo o casamento entre parentes próximos só foi dada na época de Moisés (Lv 18— 20). Como o casamento era um homem e uma mulher por toda a vida (baseado em Gn 1— 2), originariamente, não havia desobediência à lei de Deus (antes da época de Moisés) no casamento entre parentes próximos (até mesmo de irmãos com irmãs). A lei de Deus proibiu esses casamentos,8 mas isso aconteceu cerca de quatrocentos anos depois, na época de Moisés.

 DEFORMIDADES BIOLÓGICAS

Hoje, geralmente não se permite por lei que irmãos e irmãs (e meios-irmãos e meias-irmãs, etc.) casem-se e tenham filhos.
Bem, é verdade que os filhos que são frutos de uma união entre irmão e irmã têm uma grande chance de ter deformações. Na verdade, quanto mais estreito for o laço de parentesco entre o casal, mais provável é que os descendentes tenham deformações. É muito fácil entender isso sem ter de descer a detalhes técnicos.

Cada pessoa herda um conjunto de genes de seu pai e de sua mãe. Infelizmente, hoje, os genes possuem muitos erros (por causa do pecado e da maldição), e esses erros revelam-se de várias maneiras. Por exemplo, pessoas deixam o cabelo crescer até abaixo da orelha para esconder o fato de que uma orelha é mais baixa que a outra. Ou talvez o nariz de alguém não esteja bem no centro de sua face ou a mandíbula de alguém seja um pouco fora do molde. Encaremos os fatos: o principal motivo por que chamamos uns aos outros de normal se deve a nossa concordância em fazer isso!
 Quanto mais próximo for o laço de parentesco de duas pessoas, mais provável é que reproduzam os erros em seus genes, herdados dos mesmos pais. Por essa razão, é provável que irmão e irmã tenham erros similares em seu material genético. Se houver união entre esses dois materiais genéticos que produzem descendência, os filhos herdariam um conjunto de genes de cada um dos pais. Como é provável que os genes contenham erros similares, os pares de genes com erro se juntam e resultam em deformidade nos filhos.

Reciprocamente, quanto mais distante for o laço de parentesco entre o casal, mais provável é que contenham erros distintos em seus genes. É provável que os filhos, herdando um conjunto de genes de cada um dos pais, terminem com alguns dos pares de genes contendo apenas um gene ruim em cada par. O gene bom tende a anular o ruim para que não ocorra uma deformidade (uma deformidade séria). Por exemplo, o indivíduo em vez de ter as orelhas totalmente deformadas pode tê- las apenas arqueadas. (Todavia, além de tudo, a raça humana está degenerando vagarosamente à medida que os erros se acumulam geração após geração.)
Contudo, esse fato da vida atual não se aplica a Adão e Eva. Quando as duas primeiras pessoas foram criadas, elas eram perfeitas. Tudo que Deus fez era “muito bom” (Gn 1.31). Isso quer dizer que os genes deles eram perfeitos, não continham erros. Todavia, quando o pecado entrou no mundo por causa de Adão (Gn 3.6), Deus amaldiçoou o mundo para que, a partir daquela época, a criação perfeita começasse a degenerar, ou seja, a sofrer morte e deterioração (Rm 8.22). Depois de um longo período de tempo, essa degeneração poderia resultar em todo tipo de erros ocorrendo no material genético das coisas vivas.

Contudo, Caim pertencia à primeira geração de filhos nascidos. Ele, e também seus irmãos e irmãs, não receberam praticamente nenhum gene imperfeito de Adão e Eva, uma vez que os efeitos do pecado e da maldição deviam ser mínimos no início. Nessa situação, irmãos e irmãs poderiam ter se casado (contanto que fosse um homem para uma mulher, afinal o casamento é isso, Mt 19.4-6) sem nenhum potencial de produzir uma descendência deformada.
Por volta da época de Moisés (cerca de 2.500 anos depois), os erros degenerativos começaram a se acumular na raça humana a ponto de ser necessário que Deus introduzisse as leis proibindo o casamento de irmãos e irmãs (e parentes próximos, Lv 18— 20).9
 (Além disso, naquela época, já havia muitas pessoas na Terra, e não havia razão para o casamento entre parentes próximos.)
 No total, parece que havia três razões inter-relacionadas para a introdução das leis proibindo casamentos entre parentes próximos: 1.
Conforme já discutimos, havia a necessidade de proteger contra o aumento potencial de produzir uma descendência deformada.

 2. As leis de Deus eram úteis para manter a nação judaica forte, saudável e dentro dos propósitos de Deus.

3. Essas leis eram um meio de proteger o indivíduo, a estrutura familiar e a sociedade em geral. O dano psicológico causado pelos relacionamentos incestuosos não podiam ser minimizados.

Caim e a Terra de Node

Alguns afirmam que a passagem de Gênesis 4.16,17 quer dizer que Caim foi para a terra de Node e encontrou uma esposa. Por essa razáo, eles concluem que tinha de haver outra raça de pessoas na terra que não eram descendentes de Adão, da qual se originou a esposa de Caim.

E saiu Caim de diante da face do Senhor e habitou na terra de Node, da banda do oriente do Éden. E conheceu Caim a sua mulher, e ela concebeu e teve a Enoque; e ele edificou uma cidade e chamou o nome da cidade pelo nome de seu filho Enoque.

A partir do que foi afirmado acima, fica claro que todos os seres humanos, entre eles a esposa de Caim, são descendentes de Adão. Todavia, essa passagem não diz que Caim foi para a terra de Node e encontrou uma esposa. João Calvino, ao comentar esses versículos, afirma:

A partir do contexto, podemos deduzir que Caim se casou antes de matar seu irmão; do contrário, Moisés, agora, relataria algo a respeito do casamento dele.10
 Caim casou-se antes de ir para a terra de Node. Ele não encontrou uma esposa lá, mas “conheceu” (teve relação sexual com ela) sua esposa.11
Isso faz sentido também à luz do que Node é. Node quer dizer “vaguear” em hebraico. 

Assim, Caim, quando foi para a terra de Node, estava indo literalmente para uma terra de afastamento, não para um lugar cheio de gente.

Do que Caim Tinha Medo (Gn 4.14)?

Alguns afirmam que havia muitas pessoas na Terra que não eram descendentes de 
Adão e Eva; do contrário, Caim não poderia temer pessoas querendo matá-lo por ter matado Abel.
Primeiro, o motivo para alguém querer ferir Caim por ter matado Abel poderia ser a pessoa ter uma relação próxima com Abel! 10
( J. Calvino, Commentaries on the First Book ofMoses Called Genesis, vol. 1. Grand Rapids, Mich.: Baker House, reimp. 1979, p. 215. 11 Mesmo se a sugestão de Calvino a respeito desse assunto não estiver correta, ainda haveria muito tempo para que os numerosos descendentes de Adão e Eva se mudassem e se estabelecessem em áreas como a terra de Node.)

Caim e Abel nasceram um bom tempo antes do evento da morte de Abel. Gênesis 4.3 afirma:

Passado algum tempo, Caim trouxe do fruto da terra uma oferta ao Senhor. (NVI)

Observe a expressão, “passado algum tempo”. Sabemos que Sete nasceu quando Adão tinha 130 anos (Gn 5.3), e Eva viu-o como um substituto para Abel (Gn 4.25). Portanto, o período de tempo entre o nascimento de Caim e a morte de Abel deve ter sido de cem anos ou mais — permitindo bastante tempo para que outros filhos de Adão e Eva casassem e tivessem filhos. Na época em que Abel foi morto, provavelmente havia um considerável número de descendentes de Adão e Eva, envolvendo diversas gerações.

De onde Vem a Tecnologia?

 Alguns afirmam que Caim, para ir para a terra de Node e construir uma cidade, precisaria de muita tecnologia que já poderia existir nessa terra, presumivelmente desenvolvida por outras raças.

Os descendentes de Adão e Eva eram pessoas muito inteligentes. É-nos dito que Jubal fazia instrumentos musicais, como harpa e órgão (Gn 4.21), e Tubalcaim trabalhava com cobre e ferro (Gn 4.22).

Muitas pessoas hoje, por causa da intensa doutrinação evolucionária, têm a ideia de que sua geração é a mais avançada que já houve neste planeta. Só porque temos avião a jato e computadores não quer dizer que somos os mais inteligentes e avançados. Essa tecnologia moderna é realmente resultado do acúmulo de conhecimento.

Devemos nos lembrar que nosso cérebro sofre as conseqüências de 6.000 anos de maldição. Degeneramos muitíssimo em comparação com as pessoas de muitas gerações atrás. Podemos não estar nem um pouco mais próximos de ser mais inteligentes nem mais criativos que os filhos de Adão e Eva. A Escritura fornece-nos, quase desde o princípio, um vislumbre do que parece ser tecnologia avançada.
Caim tinha o conhecimento e o talento para saber como construir uma cidade!

Conclusão

Um dos motivos para muitos cristãos não saberem responder à pergunta sobre a esposa de Caim é o fato de que tendem a olhar o mundo atual e os problemas associados ao casamento de parentes próximos, em vez de olharem para o claro registro histórico que Deus nos concedeu.



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