TEXTO ÁUREO
“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu
trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu
reino.”
(Hb 1.8)
VERDADE PRÁTICA
O termo teológico “Filho de Deus” é
título, sendo assim, a existência de Jesus é desde a eternidade junto ao Pai.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
João 10.30-38
30 - Eu e o Pai somos um.
31 - Os judeus pegaram, então, outra vez, em pedras para o
apedrejarem.
32 - Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras
boas procedentes de meu Pai; por qual dessas obras me apedrejais?
33 - Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos
por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque, sendo tu homem, te fazes Deus
a ti mesmo.
34 - Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei:
Eu disse: sois deuses?
35 - Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra
de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada),
36 - àquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós
dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus?
37 - Se não faço as obras de meu Pai, não me
acrediteis.
38 - Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras,
para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu, nele.
PALAVRA-CHAVE:
UNIDADE
AUXÍLIO
BIBLIOLÓGICO
“FILIAÇÃO DE CRISTO
Três principais pontos de vista são
apresentados quanto à filiação de Cristo:
1- Criação em uma época passada. Esse foi o ponto de vista de Ário ao
argumentar que Jesus Cristo foi criado em uma época passada, à semelhança de
Deus Pai, e é homoioitsios com Ele (isto é, de substância similar) […].
2- Geração eterna. Orígenes e outros que sustentaram essa opinião consideravam
a palavra grega monogenes como derivada de gen-nao, ‘gerar’ (vários tradutores
seguiram os seus passos), e traduziram o termo como “Unigênito” (Jo 1.14,18;
3.16,18; Hb 11.17; 1 Jo 4.9). No entanto, trata-se na verdade de um derivado de
genos e, portanto, significa ‘único’ ou ‘único do seu gênero’. Por causa disso,
a Bíblia Francesa o traduz como ‘Son Fils Unique’, o que significa ‘o seu único
Filho’ (veja NASB marg. em João 3.16,18). Em Hebreus 11.17, com referência a
Isaque, monogenes deve significar “único”, porque Abraão teve outros filhos
(Ismael e os filhos de Quetura).
3- O Filho Único de Deus. Esta opinião tem o apoio dos argumentos acima.
Exemplos de tal uso podem ser encontrados na expressão hebraica do Antigo
Testamento: ‘filhos de…’, que significa ‘da ordem de…’ em frases como ‘filhos
dos profetas’ (1 Rs 20.35; 2 Rs 2.3,5,7,15; 4.38; 5.22 etc.); ‘filho de um dos
boticários’ (Ne 3.8); ‘filhos dos cantores’ (Ne 12.28). A partir daí pode-se
compreender como os contemporâneos do Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento
entenderam a sua declaração de que Ele era o Filho de Deus, significando que
Ele afirmava ser igual a Deus, ou o próprio Deus. O Evangelho de João mostra
que este é o caso” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2007,
p.802).
AUXÍLIO
TEOLÓGICO
“A PALAVRA NA ETERNIDADE (1.1-5)
Os versículos 1 a 4 narram o estado
preexistente de Jesus e como Ele agia no plano eterno de Deus. ‘No princípio’
(v.1a) fala da existência eterna da Palavra (o Verbo). As duas frases seguintes
expressam a divindade de Jesus e sua relação com Deus Pai. Esta relação é uma
dinâmica na qual constantemente são trocadas comunicação e comunhão dentro da
deidade. O versículo 2 resume o versículo 1 e prepara para a atividade divina
fora da relação da deidade no versículo 3. No versículo 4 Ele é o Criador
mediado. O uso da preposição ‘por’ informa o leitor com precisão que o Criador
original era Deus Pai que criou todas as coisas pela Palavra. Os verbos que
João usa nestes versículos fazem distinção entre o Criador não-criado, a
Palavra (o Verbo) e a ordem criada. Numa boa tradução, a ARC observa esta
distinção: a Palavra (o Verbo) ‘era’ mas todas as coisas foram feitas. O
versículo 4 conta várias coisas para o leitor:
1) A Palavra divina, como Deus Pai, tem vida em si mesma, vida inchada (ou
seja, é a fonte da vida eterna).
2) Esta vida revelou a pessoa e natureza de Deus para todas as pessoas. 3)
‘Luz’ neste ponto pertence à revelação autorizada e autêntica de Deus […]'”
(ARRINGTON, F. L; STRONSTAD, R. (eds.) Comentário Bíblico Pente- costal: Novo
Testamento. 2.ed., RJ: CPAD, 2004, p.496).
CONCLUSÃO
O termo “filho” em relação a Jesus tem sido
assunto de debate teológico desde o período dos Pais da Igreja. A interpretação
bíblica que se faz é: Jesus é Filho Unigênito não porque foi gerado, mas sim
porque é da mesma substância do Pai.
CPAD : A EM DEFESA DA FÉ
CRISTÃ – Combatendo as Antigas Heresias que se Apresentam com Nova Aparência
| Lição 06: O Filho É igual com o Pai
|
0 |
conceito de “filho” na Bíblia é muito
diversificado e merece aten[1]ção
especial, principalmente quando aplicado a Jesus. O desconhecimento desse
assunto e mais o emprego de uma exegese ruim já levaram muita gente a uma
cristologia inadequada. O exemplo clássico disso é visto em Ário e mantido
ainda hoje pelas testemunhas de Jeová. Isso se resolve e evita toda a confusão
quando se descobre que “filho”, quando se refere a Jesus, é título, e não uma
descendência.
A DOUTRINA BÍBLICA DA RELAÇÃO DO FILHO COM 0
PAI
Significado bíblico geral O Antigo Testamento
emprega dois termos para “filho”, um hebraico bên: “filho, neto, membro de um
grupo”, e outro aramaico, bar. A palavra hebraica apresenta um sentido mais
amplo do que nas línguas modernas do Ocidente. Não indica apenas descendente
como filho, neto, bisneto etc. É empregado à cria de animais (SI 147.9), 0
termo bên aparece, também, como ramo ou broto de árvores, como em Gênesis
49.22, duas no singular e uma no plural: “José é um ramo frutífero, ramo
frutífero junto à fonte; seus ga[1]lhos
se estendem sobre o muro”. É usado para representar um grupo, como “filhos de
Israel, filhos de Sião (SI 149.2), filhos de Babilônia (Ez 23.15); serve para
indicar o gênero, como “filho do homem”, representar o gênero huma[1]no:
“que é o homem, para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o
visites?” (SI 8.4) e também para indicar uma classe, como os filhos dos
profetas (1 Rs 20.35; Am 7.14). O Novo Testamento emprega cerca de dez termos
gregos para filho: huios, “filho”, que aparece trezentas e setenta e nove
vezes, está presente em quase todos os livros do Novo Testamento, exceto em
Efésios, nas epístolas pastorais, em Filemon, 3 João e Judas; em segundo lugar,
vem teknon, “fi[1]lho,
criança”, noventa e nove vezes; em terceiro, paidion, “criança pequena”,
cinquenta e duas vezes; em seguida, pais, “criado, criança, filho”, vinte e
quatro vezes; as demais aparecem de uma a duas vezes.
A
expressão “filho(s) de Deus”, bên ’èlóhim, em hebraico, aparece em Gê[1]nesis
6.2,4 e Jó 1.6; 2.1; 38.7, ou, ’êlim, plural de el, “Deus” (SI 29.1; 89.6),
tradu[1]zido
por “poderosos” na ARC e a ARA traduz por “Deus” (SI 29.1) e “seres ange[1]licais”
(SI 89.6). A forma aramaica é bar-elãhim, “filho de deus” (Dn 3.25). Em todas
essas passagens, a expressão é de significado incerto. Em Gênesis, há os que
defendem a ideia de anjos, nós entendemos tratar-se dos descendentes de Sete;
em Jó, uns afirmam que são anjos, outros, de humanos tementes a Deus e alegam
que Deus nunca chamou anjo de filho: “Pois a qual dos anjos Deus em algum
momento disse: ‘Você é meu Filho, hoje eu gerei você’?” (FIb 1.5). Porém, Jó
38.7 parece retroceder a um período anterior à criação do homem.
O
conceito de filhos de Deus no Antigo Testamento, com respeito aos filhos de
Israel, denota relação mediante aliança, concerto, de maneira co[1]letiva,
a Israel como um todo (Os 1.11). O hebreu devoto, naquela época, não se
apresentava individualmente como filho de Deus. Os judeus não ousam chamar a
Deus de Pai, embora o Antigo Testamento apresente Deus como o Pai de Israel (Êx
4.22; Jr 31.9). Os muçulmanos prostram-se diante de Alá, sua divindade, como
escravos e não como filhos. Dizem que é blasfêmia chamar Deus de Pai.
No Novo
Testamento, essa filiação é por adoção e é individual, por isso clamamos “Aba,
Pai” (Rm 8.15), ou seja, “Papai”; é a relação espiritual de Deus com os seres
humanos mediante o sacrifício do Calvário. Não é uma filiação de maneira
coletiva, como Israel, nos tempos do Antigo Testamento. A expressão “Filho de
Deus”, aplicada a Jesus, tem um sentido diferente de quando se aplica a nós.
Temos tal posição por adoção, e não se trata de uma questão de substância ou
essência. Deus concedeu-nos essa posição pelo mérito da obra redentora de
Cristo “a fim de que recebéssemos a adoção de filhos. E, porque vocês são
filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao nosso coração, e esse Espírito
clama: ‘Aba, Pai!’” (G14.S,6). Jesus, o Filho de Deus, igual com o Pai
Resumindo o que foi dito anteriormente, a ideia de filho na Bíblia é muito
ampla e uma delas diz respeito à identidade de natureza.
A
expressão “filho do homem” é usada para designar o próprio homem como ser
humano (SI 8.4). Implica igualdade com o Pai (Mt 23.29-31). Esse conceito é
aplicado largamente no Novo Testamento em relação a Jesus como “Filho de Deus”,
ou seja, diz respeito à natureza divina, e, muitas vezes, é mal interpretado
por religiões não cristãs, como o islamismo.
Os
muçulmanos rejeitam essa doutrina e consideram como blasfêmia a ideia de Deus
gerar filho numa mulher dentro do padrão de reprodução humana. E claro que
qualquer cristão rejeita também essa caricatura que o islamismo criou do
referido termo. O sistema das testemunhas de Jeová, também, emprega conceitos
inadequados, pois afirma que ser “filho de Deus” não é a mesma coisa que ser
Deus. As testemunhas de Jeová, seguindo a cartilha de sua religião, costumam
perguntar: “Você é seu pai?” Ou “seu filho? E óbvio que a resposta é negativa,
assim, concluem, 0 Pai não poder ser o Filho e nem Filho, o Pai. Essa analogia
é falaciosa porque a ortodoxia cristã não ensina serem Pai e Filho uma mesma
pessoa, mas o mesmo Deus, também, porque emprega o conceito bíblico de “filho”
fora do contexto, para se ajustar àquilo em que elas acreditam. Todos precisam
saber que “Filho” é título exclusivo de Jesus, assim como “Pai” é título
exclusivo de Deus.
A
expressão “Filho de Deus” revela a divindade de Cristo. A Bíblia afirma com
todas as letras que 0 Filho é Deus: “Mas, a respeito do Filho, diz: O teu trono,
ó Deus, é para todo o sempre; cetro de justiça é o cetro do teu reino” (Hb
1.8). Essa citação é do salmo 45.6,7 e o nome “Deus”, no referido salmo, é uma
referência ao Deus de Israel.
Em João
5.17, Jesus declarou-se Filho de Deus: “Mas Jesus lhes disse: — Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também”. No versículo seguinte, o evangelista
João declara ser isso 0 mesmo que igual a Deus; “Por isso, os judeus cada vez
mais queriam matá-lo, porque, além de desrespeitar o sábado, também dizia que
Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18). Jesus considerava
essa relação entre o Pai e o Filho como sinônimo de sua deidade. Encontramos
algo semelhante em João 10.30-36. Jesus disse ser um com o Pai: “Eu e 0 Pai
somos um” (v.30). No versículo 33, os judeus disseram: “Não é por obra boa que
queremos apedrejá-lo, e sim por causa da blasfêmia. Pois, sendo você apenas um
homem, está se fazendo de Deus”, porém, Jesus declarou-se Filho de Deus: “então
como vocês dizem que aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo está
blasfemando, só porque declarei que sou Filho de Deus?” (Jo 10.36). Dessa
forma, fica claro que a declaração “Filho de Deus” é uma afirmação da sua
divindade. E falaciosa a teologia unitarista de Ário, defendida, ainda hoje,
pelas testemunhas de Jeová, pois defende a ideia de que Jesus não é Deus, mas o
“Filho de Deus”. Isso porque 0 Filho, no contexto cristológico, é título e não
descendência. Além disso, o conceito de Filho, na filosofia judaica, implica a
igualdade com o Pai.
No
segundo livro dos Reis, nos dois primeiros capítulos, a expressão “Filhos dos
profetas” equivale a “os profetas”. Tanto faz dizer filhos de profetas ou
profetas (1 Rs 20.35; Am 7.14). “Filho de Deus” revela a sua deidade, assim
como “Filho do homem” revela a sua “humanidade”. Filho de Deus é uma expressão
bíblica para referir-se à relação única do Filho Unigênito com 0 Pai e revela a
divindade de Cristo. Portanto, o conceito do citado grupo religioso de que
Jesus é “o filho de Deus”, mas não o próprio Deus, é uma contradição em si
mesma.
O
próprio Senhor Jesus afirmou, várias vezes, ser 0 Filho de Deus,68 até em
juízo, mesmo sabendo que isso resultaria em sua morte: “Todos perguntaram: —
Então você é o Filho de Deus? Jesus respondeu: — Vocês dizem que eu sou” (Lc
22.70). Mateus e Marcos registraram, ainda, que Jesus afir[1]mou
que, em breve, descería nas nuvens do céu à direita do poder de Deus (Mt
26.63,64; Mc 14.61,62). Ele podería ter escapado da cruz se declarasse como
apenas um filho de Deus, entretanto, reafirmou a verdade acerca de sua
identidade. Essa afirmação aparece inúmeras vezes no Novo Testamento, são,
portanto, evidências abundantes, provas escriturísticas robustas e indestrutíveis.
O apóstolo João parece colocar num mesmo bojo os ateus e os que negam ser Jesus
o Filho de Deus. Negar isso é o mesmo que chamar a Deus de mentiroso, pois é o
próprio Deus quem afirma essa verdade (1 Jo 5.9-12).
0 Filho
unigênito A expressão “Filho Unigênito” revela a divindade de Cristo. O
adjetivo “unigênito”, monogenês, provém de dois vocábulos gregos: monos,
“único, só, solitário”, e genês, que apresenta duas possibilidades: primeiro,
parece vir de gennaõ, “gerar, dar à luz, produzir”. Por causa disso, há ainda
quem afirme que o gen, de genes, provém de gen naõ, nesse caso, tal palavra
significaria “único gerado”, como sugere a expressão inglesa “only-begotten”,
usada nas suas principais versões da Bíblia nessa língua. A segunda
possibilidade, que parece receber apoio em todo o contexto bíblico, é o
substantivo genos, “raça, cepo, tipo, nação, linhagem, espécie, classe”; de
onde provém o gen da genética, responsável pela transmissão dos caracteres dos
pais para os filhos.
O termo
unigênito só aparece nove vezes no Novo Testamento. Três em Lucas, “filho único
de uma viúva” (7.12); “uma filha única” (8.42); “meu fi[1]lho,
porque é 0 único que tenho” (9.38). Uma vez, em Hebreus, referindo-se a Isaque:
“estava a ponto de sacrificar o seu único filho” (Hb 11.17); ou: “ofe[1]recendo
seu unigênito” (TB); “ofereceu o seu unigênito” (ARC); “sacrificar 0 seu
unigênito” (ARA); as outras cinco vezes nos escritos joaninos, sendo to[1]das
elas referindo-se a Jesus: “glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14); “o Deus
unigênito, que está junto do Pai” (Jo 1.18); “deu 0 seu Filho unigênito... no
nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.16,18); “em haver Deus enviado o seu
Filho unigênito ao mundo” (1 Jo 4.9).
A Septuaginta traduziu a palavra hebraicayahid,
que traz a ideia de “solitário, isolado”, por monogenés no salmo 22.20 [21.21];
“predileta”, na TB; ARC; “solitário” em 25.16 [24.16], não havendo ideia de
“gerar”. Isaque é chamado de unigênito de Abraão (Hb 11.17), e a Bíblia diz que
Abraão gerou também Ismael (Gn 25.12) e teve mais filhos com Quetura (25.1,2).
Isso mos[1]tra
que a palavra reflete a ideia de natureza, caráter, tipo, e não de geração.
“Unigênito” significa o “único da espécie, único do tipo”. Jesus é singular,
único Filho de Deus que tem a essência do Pai. A ideia não é de “único gera[1]do”,
embora o termo “gerado” não seja, em si mesmo, sinônimo de criatura, contudo, a
preexistência de Cristo é eterna e, por isso, ele é chamado de Pai da
Eternidade (Is 9.6).
D. A.
Carson afirma que essa primeira etimologia é traiçoeira, pois gen pode vir de
genos “raça, tipo”.69 Segundo Horst Balz & Gerhard Schneider, “povoyevqç
significa único, um só de sua classe, singularíssimo (deriva-se de qóvoç e
yévoç). Esse significado encontra-se em Platão... de maneira pareci[1]da
em Plutarco”.70 A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã afirma:
A
segunda metade da palavra não é derivada de gennao, mas é uma forma adjetiva
derivada de genos (origem, raça, tipo, etc.). O termo monogenés pode, portanto,
ser interpretado “único do seu tipo”... O adjetivo “unigênito” transmite a
ideia de consubstancialidade; Jesus é tudo quanto Deus é e somente Ele é assim.71
Segundo
Vine, o termo, com referência a Jesus revela o sentido “de re[1]lação
não originada” e indica “o representante exclusivo do Ser e caráter daquele que
o enviou”.72
Uma das
discussões teológicas sobre o assunto envolve a filiação eterna e a geração
eterna de Cristo. A doutrina da filiação e geração eternas do nosso Salvador já
foi definida em Niceia. É um debate essencialmente teológico, mas lembrando que
fazer teologia significa estudar a mensagem bíblica considerando as questões
culturais do momento e a filosofia. Isso é um desafio para qualquer época. Esse
assunto sempre foi ponto de grandes controvérsias no passado e continua na
atualidade.
A geração eterna de Cristo
A palavra profética, no Antigo Testamento, usa
o termo “filho” para Jesus: “Tu és meu Filho, hoje te gerei” (SI 2.7), isso é
atestado no Novo Testa[1]mento
(At 13.33; Hb 1.5; 5.5). A segunda parte de Hebreus 1.5 que declara: “eu lhe
serei por Pai, e ele me será por Filho” é cumprimento de outra profecia do
Antigo Testamento (2 Sm 7.14). A profecia messiânica proferida pelo profeta
Isaías: “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Is 9.6) é outro
exemplo.
O Credo
Niceno afirma que Jesus é “gerado, não feito, de uma só substância com o Pai” e
0 Credo Niceno-Constantinopolitano declara: “o gerado do Pai antes de todos os
séculos”. Uma das dificuldades no estudo da dou[1]trina
da geração eterna é a ausência de textos específicos nas Escrituras a esse
respeito e isso nos deixa sem suporte claro. O adjetivo eterna sequer aparece
qualificando o substantivo geração na Bíblia. A outra questão é o fato de não
existir Filho sem que ele seja gerado. Mas, isso não significa falta de
sustentação bíblica, pois, se a filiação eterna do nosso Salvador é um fato,
uma realidade confirmada na Palavra de Deus, logo, não pode haver filiação
eterna sem geração eterna.
A
expressão “geração eterna” surgiu com Orígenes. Ele associa a Sabedoria
personalizada de Provérbios 8.22-24, “o SENHOR me possuiu no princípio de seus
caminhos... (v. 22)... Antes de haver abismos, fui gerada ... Antes que os
montes fossem firmados, antes dos outeiros, eu fui gerada” (ARC). A Sabedoria
foi gerada desde a eternidade. Orígenes identifica essa Sabedoria com 0 Senhor
Jesus Cristo, visto que o apóstolo Paulo declara: “Cristo Jesus, 0 qual se
tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, jus[1]tiça,
santificação e redenção” (1 Co 1.24): “Essa geração eterna e perpétua é como a
radiação que vem da luz” (Tratado sobre os princípios, Livro I.2.4).
Deus é
Pai ou tornou-se Pai em algum tempo da história ou mesmo na eternidade? Os
arianistas antigos negavam a eternidade do Verbo, Deus te[1]ria
se tornado Pai a partir da suposta criação do Filho, antes da fundação do
mundo. A ideia dominante no pensamento de Ário era norteada pelo princípio
monoteísta esboçado pelo monarquianismo dinâmico. Existe um só Deus não gerado,
dizia, um único Ser não originado, sem nenhum começo de existência. Até aí,
isso fazia sentido, pois, os credos começam afirmando a existência de um só
Deus.
O Filho
tivera começo e teria sido criado do nada antes de o Pai haver criado o mundo,
segundo Ário. O arianismo ensinava que Deus se tomou Pai quando criou o Filho,
e se negava a reconhecer a deidade do Filho e a sua consubstancialidade com 0
Pai, reduzindo-o à condição de mera criatura. Reiteramos a palavra de ordem e 0
refrão cantado por ele e seus partidários: “Houve tempo em que o Verbo não
existia”. Mas, a formulação nicena declara que o Senhor Jesus é “verdadeiro
Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito”. A expressão “gerado, não feito”
fala de sua eternidade. A reafirmação do Credo Niceno em Constantinopla em 381
explica: “o Filho Unigênito de Deus, o gerado do Pai antes de todos os
séculos”. Uma resposta aos arianistas. Em Niceia, ficou definido que 0 Filho é
o “gerado, não feito”. Essa informação é importante porque explica que “gerado”
na eternidade não é sinônimo de originado ou que teve um começo. A geração
eterna não deve ser confundida com a geração na experiência humana porque ela
não é física, nem temporal ou histórica, nem envolve pai e mãe como acontece
com os humanos e nem depende da vontade do Pai, é algo inefável. A ideia
envolve uma comunicação de essência divina do Pai ao Filho.
O Credo Niceno-Constantinopolitano é uma
reafirmação ampliada da fórmula nicena e vincula a geração eterna de Jesus ao
termo unigênito: “E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, o
gerado do Pai antes de todos os séculos”. Isso não deixa dúvida sobre a geração
eterna, pois, em Niceia, diz apenas “gerado, não feito”, expressão que não
ficou muito clara.
A filiação eterna de Cristo
A
expressão teológica “filiação eterna” é muito diferente da outra ex[1]pressão
“geração eterna”. Mas, a compreensão da primeira expressão de[1]pende
da segunda. Há duas linhas principais de interpretação entre os evangélicos
sobre a filiação de Jesus. Ambas reconhecem a eternidade de Cristo e a sua
deidade absoluta.
Alguns
expositores afirmam que o Logos, a Palavra, o Verbo, é eterno, que se tornou
Filho na encarnação; outros acreditam que Jesus já era o Filho de Deus desde a
eternidade. Os que pensam que a filiação do Verbo começou no nascimento de
Jesus ou em algum momento do seu ministério terreno afirmam que o Verbo é
eterno, mas que a sua filiação divina aconteceu quando o Verbo se fez carne,
assumindo a natureza humana. Eles defendem a divindade absoluta de Cristo, suas
duas naturezas, a humana e a divina em uma só pessoa de Cristo, a unio
personalis, conforme formulação de Calcedônia em 451. Então, perguntamos: Deus é
Pai desde a eternidade ou tomou-se Pai a partir da encarnação do Verbo?
Resposta.
A
geração eterna do Filho é ensinada antes, durante e depois de Niceia.
Tertuliano escreveu: “visto que foi gerado antes de todas as eras; e 0
unigênito, porque somente ele foi gerado de Deus, numa maneira peculiar a si
mesmo, do ventre do seu próprio coração” (Contra Práxeas, 7). Ele cita Salmos
45.1 como base de sua declaração. Interessante que Atanásio também citou esse
mesmo salmo para explicar a geração do Filho (Contra os arianos, Livro II.57.1)
e disse ainda: “o Pai não seria chamado pai nem o seria se não existisse o
Filho”, isso em resposta aos arianistas (Contra os arianos, Livro I.29.2) e
acrescenta que as palavras de Jesus “eu estou no Pai e que o Pai está em mim”
(Jo 14.10,11) significa que o Filho está junto do Pai e, com isso, “ninguém
pode dizer ‘Pai’ se não existisse um Filho” (Contra os arianos, Livro III.6.3).
Fundamentação bíblica Isaías 9.6. “Um menino
nos nasceu, um filho se nos deu”. Note que 0 me[1]nino
nasceu, mas o Filho, segundo a palavra profética, não nasceu, mas “se nos deu”.
O nascimento desse menino aconteceu em Belém, mas o Filho já existia desde a
eternidade. O Senhor Jesus disse: “E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de
ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo
17.5). Jesus está se referindo a Deus como Pai e fala do seu relacionamento com
ele na qualidade de Filho eterno, antes que o mundo existisse. O verbo grego
“enviar” usado no perfeito, apéstalken, de apostéllo, em “Deus enviou seu Filho
unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 Jo 4.9) indica que o nosso
Salvador já era Filho Unigênito quando foi enviado ao mundo (0 perfeito grego
não é usado para indicar uma ação passada, mas o estado presente é resultante
da ação passada), não é o mesmo tempo verbal grego de João 3.17.
Lucas 1.35. “O anjo respondeu: — O
Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua
sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de
Deus”. Essa passagem é usa[1]da
por aqueles que acreditam que a filiação de Jesus começou na encarnação. Se a
filiação tivesse começado no nascimento de Jesus, então, ele seria Filho do
Espírito Santo; além disso, está escrito: “apareceu em sonho um anjo do Senhor,
dizendo: — José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa,
porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). A Bíblia ensina
que Ele já era Filho antes de vir ao mundo. Além disso, a Escritura é clara em
afirmar que Jesus é “o Filho do Pai” (2 Jo 1.3). Isso mostra que a filiação não
começou na sua encarnação.
O anjo
não está dizendo que 0 nosso Salvador se tornaria Filho de Deus na encarnação,
mas que 0 ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus, isso é muito
diferente. Ele não está dizendo que a natureza humana dessa santa criança se
tornaria divina, mas que ela seria reconhecida como o Filho de Deus. A natureza
humana de Jesus nunca é chamada de Filho de Deus no Novo Testamento. Em nenhum
lugar as Escrituras afirmam que Deus enviou o Verbo ao mundo para ser Filho,
mas, todas as vezes que mencionam esse envio, se referem ao Salvador como
“Filho” (Jo 3.18; Rm 8.3; G1 4.4).
A geração dupla do Salvador. O cumprimento da
palavra profética: “Você é meu Filho, hoje eu gerei você” (SI 2.7) não está
claro, pois se pode aplicar ao batismo de Jesus (Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22), ou
ainda à sua res[1]surreição
(At 13.32,33; Rm 1.3,4), ou à sua exaltação no céu (Hb 1.5) e até mesmo à
investidura de Jesus como sumo sacerdote (Hb 5.5). O certo é, e ninguém pode
negar que tudo isso se cumpre na pessoa histórica do Se[1]nhor
Jesus. A palavra “hoje”, nessa profecia, (SI 2.7) “não se refere ao hoje da
eternidade divina, que não tem passado nem futuro fora de si”,73 com certeza
não diz respeito à geração eterna, embora essa ideia não esteja to[1]talmente
excluída. A formulação do Segundo Concilio de Constantinopla, em 553, reconhece
que o Verbo foi gerado duas vezes, “... a primeira do Pai antes de todas as
eras, intemporal e incorporai, e a outra nos últimos dias”, referindo-se à
encarnação.
A HERESIA DO SUBORDINACIONISMO
Subordinacionismo é a cristologia dos
unitaristas de ontem e hoje. É o nome que se dá à tendência teológica muito em
voga no período pré-niceno que considerava Cristo, enquanto Filho de Deus,
inferior ao Pai. Seus principais representantes são os ebionitas, os
monarquianistas dinâmicos e os arianistas. Eles baseavam sua tese na
interpretação peculiar de algumas passagens bíblicas mencionadas no capítulo anterior.
Orígenes, o mais controvertido dos teólogos da antiguidade, manifestou em seus
escritos essa tendência.
Orígenes
Orígenes é um dos teólogos pré-nicenos mais
controvertidos, é, pois, inaceitável supor que uma simples frase expresse todo
o pensamento dele. Há na vastíssima e complexa produção literária de Orígenes
idéias de acor[1]do
com a ortodoxia da igreja como também idéias neoplatônicas e obscuras, de modo
que, desde 0 passado, os estudiosos do assunto estão divididos. Nas
controvérsias arianistas, havia os que apoiavam Ário, usando Orígenes como
base; como também os que apoiavam Alexandre, opositor de Ário, também se
baseavam no mesmo Orígenes.
Para compreender a teologia de Orígenes e lhe
fazer justiça, é importante conhecê-lo um pouco como personagem, exegeta, homem
espiritual e teólogo. Isso você pode encontrar na obra Orígenes: Un teólogo
controver[1]tido,
da autoria de Henri Crouzel. Nos capítulos IX e X da quarta parte do livro,
Crouzel discorre sobre o assunto com muita propriedade, como pôde Orígenes ser
ao mesmo tempo trinitariano clássico e subordinacionista, o que ele quer dizer
com tais declarações.
Orígenes foi um grande defensor da fé cristã,
mas o seu pensamento teológico, sobretudo sobre a Trindade, apresenta forte
afinidade com a filosofia neoplatônica defendida por Plotino, principal
expoente do neoplatonismo, discípulo de Amônio Saccas (175-241), fundador dessa
escola filosófica e colega de classe de Orígenes. Ele foi o maior teólogo da
antiga escola de Alexandria.
Segundo
Paul Tillich, “Orígenes foi considerado herege na igreja cristã, muito embora
tenha sido na época o seu maior teólogo”.74 Mas, essa posição foi revista
posteriormente até porque, em sua época, a igreja não tinha ainda uma teologia
formal. Segundo os críticos de Orígenes, ele ensinava que “0 poder do Pai é
maior do que o do Filho e do Espírito Santo, e o poder do Filho é maior do que
0 do Espírito Santo”. Isto está numa carta endereçada a Mena, patriarca de
Constantinopla (536-S52). Essa informação aparece numa epístola de Jerônimo
aAvito.
Orígenes exerceu grande influência no Oriente
por mais de cem anos. Observe-se que o historiador da Igreja, Eusébio de
Cesareia, foi influenciado pelo pensamento de Orígenes. Ele mesmo fundou uma
escola teológica nessa cidade de Cesareia e permaneceu lá durante vinte anos.
Eusé[1]bio
assimilou também essa doutrina subordinacionista de Orígenes, pois escreveu:
“Como os oráculos dos hebreus classificam 0 Espírito Santo em terceiro lugar
depois do Pai e do Logos” (Preparatio Evangélica, XI:2i.i). Na avaliação de
Paul Tillich, há dois princípios conflitantes no pensamento de Orígenes: “Um
deles é a divindade do Salvador; se não for divino não poderá salvar. O outro é
0 esquema das emanações, há graus de emanação a partir do absoluto”.7S Mas,
segundo Crouzel, a teologia de Orígenes precisa ser interpretada corretamente e
não vê nela contradição alguma em relação à ortodoxia cristã.
COMO O SUBORDINACIONISMO
SE APRESENTA HOJE
O
principal movimento religioso que expressa em nossos dias o pensamento
arianista e assume publicamente suas idéias subordinacionistas dos antigos
unitaristas são as testemunhas de Jeová, que era trinitário na sua origem;
Caries T. Russell, o fundador do movimento, só começou argumentar contra a
personalidade do Espírito Santo e atacar o trinitarianismo, adotando a crença
de Ário, em 1882.76 Em 1877, ele “defende o ponto de vista trinitariano do
Espírito Santo como uma pessoa e ataca os cristadelfianos77 por desviarem
disso”.78
Fica
claro e com sólidos fundamentos bíblicos de que a falácia da teologia
unitarista de Ário, defendida ainda hoje pelos subordinacionistas, de que Jesus
não é Deus, mas o “Filho de Deus”, não tem sustentação alguma. O conceito de
Pai-Filho, na divindade, não deve ser confundido com o processo de reprodução
humana e nem no relacionamento pai-filho numa família entre os humanos. Então,
quando 0 termo “filho” se refere a Jesus como Filho de Deus significa sua
igualdade ao Pai, ou seja, que ambos são da mesma substância e essência.
EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ
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