sexta-feira, 7 de fevereiro de 2025

CPAD : A EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ | Lição 06: O Filho É igual com o Pai

 


TEXTO ÁUREO

“Mas, do Filho, diz: Ó Deus, o teu trono subsiste pelos séculos dos séculos, cetro de equidade é o cetro do teu reino.”

(Hb 1.8)

VERDADE PRÁTICA

O termo teológico “Filho de Deus” é título, sendo assim, a existência de Jesus é desde a eternidade junto ao Pai.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 10.30-38

30 - Eu e o Pai somos um.

31 - Os judeus pegaram, então, outra vez, em pedras para o apedrejarem. 

32 - Respondeu-lhes Jesus: Tenho-vos mostrado muitas obras boas procedentes de meu Pai; por qual dessas obras me apedrejais? 

33 - Os judeus responderam, dizendo-lhe: Não te apedrejamos por alguma obra boa, mas pela blasfêmia, porque, sendo tu homem, te fazes Deus a ti mesmo. 

34 - Respondeu-lhes Jesus: Não está escrito na vossa lei: Eu disse: sois deuses? 

35 - Pois, se a lei chamou deuses àqueles a quem a palavra de Deus foi dirigida (e a Escritura não pode ser anulada), 

36 - àquele a quem o Pai santificou e enviou ao mundo, vós dizeis: Blasfemas, porque disse: Sou Filho de Deus? 

37 - Se não faço as obras de meu Pai, não me acrediteis. 

38 - Mas, se as faço, e não credes em mim, crede nas obras, para que conheçais e acrediteis que o Pai está em mim, e eu, nele.

PALAVRA-CHAVE:

UNIDADE

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

“FILIAÇÃO DE CRISTO
Três principais pontos de vista são apresentados quanto à filiação de Cristo:
1- Criação em uma época passada. Esse foi o ponto de vista de Ário ao argumentar que Jesus Cristo foi criado em uma época passada, à semelhança de Deus Pai, e é homoioitsios com Ele (isto é, de substância similar) […].
2- Geração eterna. Orígenes e outros que sustentaram essa opinião consideravam a palavra grega monogenes como derivada de gen-nao, ‘gerar’ (vários tradutores seguiram os seus passos), e traduziram o termo como “Unigênito” (Jo 1.14,18; 3.16,18; Hb 11.17; 1 Jo 4.9). No entanto, trata-se na verdade de um derivado de genos e, portanto, significa ‘único’ ou ‘único do seu gênero’. Por causa disso, a Bíblia Francesa o traduz como ‘Son Fils Unique’, o que significa ‘o seu único Filho’ (veja NASB marg. em João 3.16,18). Em Hebreus 11.17, com referência a Isaque, monogenes deve significar “único”, porque Abraão teve outros filhos (Ismael e os filhos de Quetura).
3- O Filho Único de Deus. Esta opinião tem o apoio dos argumentos acima. Exemplos de tal uso podem ser encontrados na expressão hebraica do Antigo Testamento: ‘filhos de…’, que significa ‘da ordem de…’ em frases como ‘filhos dos profetas’ (1 Rs 20.35; 2 Rs 2.3,5,7,15; 4.38; 5.22 etc.); ‘filho de um dos boticários’ (Ne 3.8); ‘filhos dos cantores’ (Ne 12.28). A partir daí pode-se compreender como os contemporâneos do Senhor Jesus Cristo no Novo Testamento entenderam a sua declaração de que Ele era o Filho de Deus, significando que Ele afirmava ser igual a Deus, ou o próprio Deus. O Evangelho de João mostra que este é o caso” (Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p.802).

AUXÍLIO TEOLÓGICO

“A PALAVRA NA ETERNIDADE (1.1-5)
Os versículos 1 a 4 narram o estado preexistente de Jesus e como Ele agia no plano eterno de Deus. ‘No princípio’ (v.1a) fala da existência eterna da Palavra (o Verbo). As duas frases seguintes expressam a divindade de Jesus e sua relação com Deus Pai. Esta relação é uma dinâmica na qual constantemente são trocadas comunicação e comunhão dentro da deidade. O versículo 2 resume o versículo 1 e prepara para a atividade divina fora da relação da deidade no versículo 3. No versículo 4 Ele é o Criador mediado. O uso da preposição ‘por’ informa o leitor com precisão que o Criador original era Deus Pai que criou todas as coisas pela Palavra. Os verbos que João usa nestes versículos fazem distinção entre o Criador não-criado, a Palavra (o Verbo) e a ordem criada. Numa boa tradução, a ARC observa esta distinção: a Palavra (o Verbo) ‘era’ mas todas as coisas foram feitas. O versículo 4 conta várias coisas para o leitor:
1) A Palavra divina, como Deus Pai, tem vida em si mesma, vida inchada (ou seja, é a fonte da vida eterna).
2) Esta vida revelou a pessoa e natureza de Deus para todas as pessoas. 3) ‘Luz’ neste ponto pertence à revelação autorizada e autêntica de Deus […]'” (ARRINGTON, F. L; STRONSTAD, R. (eds.) Comentário Bíblico Pente- costal: Novo Testamento. 2.ed., RJ: CPAD, 2004, p.496).

CONCLUSÃO

O termo “filho” em relação a Jesus tem sido assunto de debate teológico desde o período dos Pais da Igreja. A interpretação bíblica que se faz é: Jesus é Filho Unigênito não porque foi gerado, mas sim porque é da mesma substância do Pai.

   CPAD : A EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ – Combatendo as Antigas Heresias que se Apresentam com Nova Aparência

| Lição 06: O Filho É igual com o Pai

 



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 conceito de “filho” na Bíblia é muito diversificado e merece aten[1]ção especial, principalmente quando aplicado a Jesus. O desconhecimento desse assunto e mais o emprego de uma exegese ruim já levaram muita gente a uma cristologia inadequada. O exemplo clássico disso é visto em Ário e mantido ainda hoje pelas testemunhas de Jeová. Isso se resolve e evita toda a confusão quando se descobre que “filho”, quando se refere a Jesus, é título, e não uma descendência.

  A DOUTRINA BÍBLICA DA RELAÇÃO DO FILHO COM 0 PAI

  Significado bíblico geral O Antigo Testamento emprega dois termos para “filho”, um hebraico bên: “filho, neto, membro de um grupo”, e outro aramaico, bar. A palavra hebraica apresenta um sentido mais amplo do que nas línguas modernas do Ocidente. Não indica apenas descendente como filho, neto, bisneto etc. É empregado à cria de animais (SI 147.9), 0 termo bên aparece, também, como ramo ou broto de árvores, como em Gênesis 49.22, duas no singular e uma no plural: “José é um ramo frutífero, ramo frutífero junto à fonte; seus ga[1]lhos se estendem sobre o muro”. É usado para representar um grupo, como “filhos de Israel, filhos de Sião (SI 149.2), filhos de Babilônia (Ez 23.15); serve para indicar o gênero, como “filho do homem”, representar o gênero huma[1]no: “que é o homem, para que dele te lembres? E o filho do homem, para que o visites?” (SI 8.4) e também para indicar uma classe, como os filhos dos profetas (1 Rs 20.35; Am 7.14). O Novo Testamento emprega cerca de dez termos gregos para filho: huios, “filho”, que aparece trezentas e setenta e nove vezes, está presente em quase todos os livros do Novo Testamento, exceto em Efésios, nas epístolas pastorais, em Filemon, 3 João e Judas; em segundo lugar, vem teknon, “fi[1]lho, criança”, noventa e nove vezes; em terceiro, paidion, “criança pequena”, cinquenta e duas vezes; em seguida, pais, “criado, criança, filho”, vinte e quatro vezes; as demais aparecem de uma a duas vezes.

  A expressão “filho(s) de Deus”, bên ’èlóhim, em hebraico, aparece em Gê[1]nesis 6.2,4 e Jó 1.6; 2.1; 38.7, ou, ’êlim, plural de el, “Deus” (SI 29.1; 89.6), tradu[1]zido por “poderosos” na ARC e a ARA traduz por “Deus” (SI 29.1) e “seres ange[1]licais” (SI 89.6). A forma aramaica é bar-elãhim, “filho de deus” (Dn 3.25). Em todas essas passagens, a expressão é de significado incerto. Em Gênesis, há os que defendem a ideia de anjos, nós entendemos tratar-se dos descendentes de Sete; em Jó, uns afirmam que são anjos, outros, de humanos tementes a Deus e alegam que Deus nunca chamou anjo de filho: “Pois a qual dos anjos Deus em algum momento disse: ‘Você é meu Filho, hoje eu gerei você’?” (FIb 1.5). Porém, Jó 38.7 parece retroceder a um período anterior à criação do homem.

  O conceito de filhos de Deus no Antigo Testamento, com respeito aos filhos de Israel, denota relação mediante aliança, concerto, de maneira co[1]letiva, a Israel como um todo (Os 1.11). O hebreu devoto, naquela época, não se apresentava individualmente como filho de Deus. Os judeus não ousam chamar a Deus de Pai, embora o Antigo Testamento apresente Deus como o Pai de Israel (Êx 4.22; Jr 31.9). Os muçulmanos prostram-se diante de Alá, sua divindade, como escravos e não como filhos. Dizem que é blasfêmia chamar Deus de Pai.

  No Novo Testamento, essa filiação é por adoção e é individual, por isso clamamos “Aba, Pai” (Rm 8.15), ou seja, “Papai”; é a relação espiritual de Deus com os seres humanos mediante o sacrifício do Calvário. Não é uma filiação de maneira coletiva, como Israel, nos tempos do Antigo Testamento. A expressão “Filho de Deus”, aplicada a Jesus, tem um sentido diferente de quando se aplica a nós. Temos tal posição por adoção, e não se trata de uma questão de substância ou essência. Deus concedeu-nos essa posição pelo mérito da obra redentora de Cristo “a fim de que recebéssemos a ado­ção de filhos. E, porque vocês são filhos, Deus enviou o Espírito de seu Filho ao nosso coração, e esse Espírito clama: ‘Aba, Pai!’” (G14.S,6). Jesus, o Filho de Deus, igual com o Pai Resumindo o que foi dito anteriormente, a ideia de filho na Bíblia é muito ampla e uma delas diz respeito à identidade de natureza.

  A expressão “filho do homem” é usada para designar o próprio homem como ser humano (SI 8.4). Implica igualdade com o Pai (Mt 23.29-31). Esse conceito é aplicado largamente no Novo Testamento em relação a Jesus como “Filho de Deus”, ou seja, diz respeito à natureza divina, e, muitas vezes, é mal interpretado por religiões não cristãs, como o islamismo.

  Os muçulmanos rejeitam essa doutrina e consideram como blasfêmia a ideia de Deus gerar filho numa mulher dentro do padrão de reprodução humana. E claro que qualquer cristão rejeita também essa caricatura que o islamismo criou do referido termo. O sistema das testemunhas de Jeová, também, emprega conceitos inadequados, pois afirma que ser “filho de Deus” não é a mesma coisa que ser Deus. As testemunhas de Jeová, seguindo a cartilha de sua religião, costumam perguntar: “Você é seu pai?” Ou “seu filho? E óbvio que a resposta é negativa, assim, concluem, 0 Pai não poder ser o Filho e nem Filho, o Pai. Essa analogia é falaciosa porque a ortodoxia cristã não ensina serem Pai e Filho uma mesma pessoa, mas o mesmo Deus, também, porque emprega o conceito bíblico de “filho” fora do contexto, para se ajustar àquilo em que elas acreditam. Todos precisam saber que “Filho” é título exclusivo de Jesus, assim como “Pai” é título exclusivo de Deus.

  A expressão “Filho de Deus” revela a divindade de Cristo. A Bíblia afirma com todas as letras que 0 Filho é Deus: “Mas, a respeito do Filho, diz: O teu trono, ó Deus, é para todo o sempre; cetro de justiça é o cetro do teu reino” (Hb 1.8). Essa citação é do salmo 45.6,7 e o nome “Deus”, no referido salmo, é uma referência ao Deus de Israel.

  Em João 5.17, Jesus declarou-se Filho de Deus: “Mas Jesus lhes disse: — Meu Pai trabalha até agora, e eu trabalho também”. No versículo seguinte, o evangelista João declara ser isso 0 mesmo que igual a Deus; “Por isso, os judeus cada vez mais queriam matá-lo, porque, além de desrespeitar o sábado, também dizia que Deus era seu próprio Pai, fazendo-se igual a Deus” (Jo 5.18). Jesus considerava essa relação entre o Pai e o Filho como sinônimo de sua deidade. Encontramos algo semelhante em João 10.30-36. Jesus disse ser um com o Pai: “Eu e 0 Pai somos um” (v.30). No versículo 33, os judeus disseram: “Não é por obra boa que queremos apedrejá-lo, e sim por causa da blasfêmia. Pois, sendo você apenas um homem, está se fazendo de Deus”, porém, Jesus declarou-se Filho de Deus: “então como vocês dizem que aquele que o Pai santificou e enviou ao mundo está blasfemando, só porque declarei que sou Filho de Deus?” (Jo 10.36). Dessa forma, fica claro que a declaração “Filho de Deus” é uma afirmação da sua divindade. E falaciosa a teologia unitarista de Ário, defendida, ainda hoje, pelas testemunhas de Jeová, pois defende a ideia de que Jesus não é Deus, mas o “Filho de Deus”. Isso porque 0 Filho, no contexto cristológico, é título e não descendência. Além disso, o conceito de Filho, na filosofia judaica, implica a igualdade com o Pai.

  No segundo livro dos Reis, nos dois primeiros capítulos, a expressão “Filhos dos profetas” equivale a “os profetas”. Tanto faz dizer filhos de profetas ou profetas (1 Rs 20.35; Am 7.14). “Filho de Deus” revela a sua deidade, assim como “Filho do homem” revela a sua “humanidade”. Filho de Deus é uma expressão bíblica para referir-se à relação única do Filho Unigênito com 0 Pai e revela a divindade de Cristo. Portanto, o conceito do citado grupo religioso de que Jesus é “o filho de Deus”, mas não o próprio Deus, é uma contradição em si mesma.

  O próprio Senhor Jesus afirmou, várias vezes, ser 0 Filho de Deus,68 até em juízo, mesmo sabendo que isso resultaria em sua morte: “Todos perguntaram: — Então você é o Filho de Deus? Jesus respondeu: — Vocês dizem que eu sou” (Lc 22.70). Mateus e Marcos registraram, ainda, que Jesus afir[1]mou que, em breve, descería nas nuvens do céu à direita do poder de Deus (Mt 26.63,64; Mc 14.61,62). Ele podería ter escapado da cruz se declarasse como apenas um filho de Deus, entretanto, reafirmou a verdade acerca de sua identidade. Essa afirmação aparece inúmeras vezes no Novo Testamento, são, portanto, evidências abundantes, provas escriturísticas robustas e indestrutíveis. O apóstolo João parece colocar num mesmo bojo os ateus e os que negam ser Jesus o Filho de Deus. Negar isso é o mesmo que chamar a Deus de mentiroso, pois é o próprio Deus quem afirma essa verdade (1 Jo 5.9-12).

  0 Filho unigênito A expressão “Filho Unigênito” revela a divindade de Cristo. O adjetivo “unigênito”, monogenês, provém de dois vocábulos gregos: monos, “único, só, solitário”, e genês, que apresenta duas possibilidades: primeiro, parece vir de gennaõ, “gerar, dar à luz, produzir”. Por causa disso, há ainda quem afirme que o gen, de genes, provém de gen naõ, nesse caso, tal palavra significaria “único gerado”, como sugere a expressão inglesa “only-begotten”, usada nas suas principais versões da Bíblia nessa língua. A segunda possibilidade, que parece receber apoio em todo o contexto bíblico, é o substantivo genos, “raça, cepo, tipo, nação, linhagem, espécie, classe”; de onde provém o gen da genética, responsável pela transmissão dos caracteres dos pais para os filhos.

  O termo unigênito só aparece nove vezes no Novo Testamento. Três em Lucas, “filho único de uma viúva” (7.12); “uma filha única” (8.42); “meu fi[1]lho, porque é 0 único que tenho” (9.38). Uma vez, em Hebreus, referindo-se a Isaque: “estava a ponto de sacrificar o seu único filho” (Hb 11.17); ou: “ofe[1]recendo seu unigênito” (TB); “ofereceu o seu unigênito” (ARC); “sacrificar 0 seu unigênito” (ARA); as outras cinco vezes nos escritos joaninos, sendo to[1]das elas referindo-se a Jesus: “glória como do unigênito do Pai” (Jo 1.14); “o Deus unigênito, que está junto do Pai” (Jo 1.18); “deu 0 seu Filho unigênito... no nome do unigênito Filho de Deus” (Jo 3.16,18); “em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo” (1 Jo 4.9).

  A Septuaginta traduziu a palavra hebraicayahid, que traz a ideia de “solitário, isolado”, por monogenés no salmo 22.20 [21.21]; “predileta”, na TB; ARC; “solitário” em 25.16 [24.16], não havendo ideia de “gerar”. Isaque é chamado de unigênito de Abraão (Hb 11.17), e a Bíblia diz que Abraão gerou também Ismael (Gn 25.12) e teve mais filhos com Quetura (25.1,2). Isso mos[1]tra que a palavra reflete a ideia de natureza, caráter, tipo, e não de geração. “Unigênito” significa o “único da espécie, único do tipo”. Jesus é singular, único Filho de Deus que tem a essência do Pai. A ideia não é de “único gera[1]do”, embora o termo “gerado” não seja, em si mesmo, sinônimo de criatura, contudo, a preexistência de Cristo é eterna e, por isso, ele é chamado de Pai da Eternidade (Is 9.6).

  D. A. Carson afirma que essa primeira etimologia é traiçoeira, pois gen pode vir de genos “raça, tipo”.69 Segundo Horst Balz & Gerhard Schneider, “povoyevqç significa único, um só de sua classe, singularíssimo (deriva-se de qóvoç e yévoç). Esse significado encontra-se em Platão... de maneira pareci[1]da em Plutarco”.70 A Enciclopédia Histórico-Teológica da Igreja Cristã afirma:

  A segunda metade da palavra não é derivada de gennao, mas é uma forma adjetiva derivada de genos (origem, raça, tipo, etc.). O termo monogenés pode, portanto, ser interpretado “único do seu tipo”... O adjetivo “unigênito” transmite a ideia de consubstancialidade; Jesus é tudo quanto Deus é e somente Ele é assim.71

  Segundo Vine, o termo, com referência a Jesus revela o sentido “de re[1]lação não originada” e indica “o representante exclusivo do Ser e caráter daquele que o enviou”.72

  Uma das discussões teológicas sobre o assunto envolve a filiação eterna e a geração eterna de Cristo. A doutrina da filiação e geração eternas do nosso Salvador já foi definida em Niceia. É um debate essencialmente teológico, mas lembrando que fazer teologia significa estudar a mensagem bíblica considerando as questões culturais do momento e a filosofia. Isso é um desafio para qualquer época. Esse assunto sempre foi ponto de grandes controvérsias no passado e continua na atualidade.

  A geração eterna de Cristo

 A palavra profética, no Antigo Testamento, usa o termo “filho” para Jesus: “Tu és meu Filho, hoje te gerei” (SI 2.7), isso é atestado no Novo Testa[1]mento (At 13.33; Hb 1.5; 5.5). A segunda parte de Hebreus 1.5 que declara: “eu lhe serei por Pai, e ele me será por Filho” é cumprimento de outra profecia do Antigo Testamento (2 Sm 7.14). A profecia messiânica proferida pelo profeta Isaías: “porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Is 9.6) é outro exemplo.

  O Credo Niceno afirma que Jesus é “gerado, não feito, de uma só substância com o Pai” e 0 Credo Niceno-Constantinopolitano declara: “o gerado do Pai antes de todos os séculos”. Uma das dificuldades no estudo da dou[1]trina da geração eterna é a ausência de textos específicos nas Escrituras a esse respeito e isso nos deixa sem suporte claro. O adjetivo eterna sequer aparece qualificando o substantivo geração na Bíblia. A outra questão é o fato de não existir Filho sem que ele seja gerado. Mas, isso não significa falta de sustentação bíblica, pois, se a filiação eterna do nosso Salvador é um fato, uma realidade confirmada na Palavra de Deus, logo, não pode haver filiação eterna sem geração eterna.

  A expressão “geração eterna” surgiu com Orígenes. Ele associa a Sabedoria personalizada de Provérbios 8.22-24, “o SENHOR me possuiu no princípio de seus caminhos... (v. 22)... Antes de haver abismos, fui gerada ... Antes que os montes fossem firmados, antes dos outeiros, eu fui gerada” (ARC). A Sabedoria foi gerada desde a eternidade. Orígenes identifica essa Sabedoria com 0 Senhor Jesus Cristo, visto que o apóstolo Paulo declara: “Cristo Jesus, 0 qual se tornou para nós, da parte de Deus, sabedoria, jus[1]tiça, santificação e redenção” (1 Co 1.24): “Essa geração eterna e perpétua é como a radiação que vem da luz” (Tratado sobre os princípios, Livro I.2.4).

  Deus é Pai ou tornou-se Pai em algum tempo da história ou mesmo na eternidade? Os arianistas antigos negavam a eternidade do Verbo, Deus te[1]ria se tornado Pai a partir da suposta criação do Filho, antes da fundação do mundo. A ideia dominante no pensamento de Ário era norteada pelo princípio monoteísta esboçado pelo monarquianismo dinâmico. Existe um só Deus não gerado, dizia, um único Ser não originado, sem nenhum começo de existência. Até aí, isso fazia sentido, pois, os credos começam afirmando a existência de um só Deus.

  O Filho tivera começo e teria sido criado do nada antes de o Pai haver criado o mundo, segundo Ário. O arianismo ensinava que Deus se tomou Pai quando criou o Filho, e se negava a reconhecer a deidade do Filho e a sua consubstancialidade com 0 Pai, reduzindo-o à condição de mera criatura. Reiteramos a palavra de ordem e 0 refrão cantado por ele e seus partidários: “Houve tempo em que o Verbo não existia”. Mas, a formulação nicena declara que o Senhor Jesus é “verdadeiro Deus de verdadeiro Deus, gerado, não feito”. A expressão “gerado, não feito” fala de sua eternidade. A reafirmação do Credo Niceno em Constantinopla em 381 explica: “o Filho Unigênito de Deus, o gerado do Pai antes de todos os séculos”. Uma resposta aos arianistas. Em Niceia, ficou definido que 0 Filho é o “gerado, não feito”. Essa informação é importante porque explica que “gerado” na eternidade não é sinônimo de originado ou que teve um começo. A geração eterna não deve ser confundida com a geração na experiência humana porque ela não é física, nem temporal ou histórica, nem envolve pai e mãe como acontece com os humanos e nem depende da vontade do Pai, é algo inefável. A ideia envolve uma comunicação de essência divina do Pai ao Filho.

  O Credo Niceno-Constantinopolitano é uma reafirmação ampliada da fórmula nicena e vincula a geração eterna de Jesus ao termo unigênito: “E em um só Senhor Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, o gerado do Pai antes de todos os séculos”. Isso não deixa dúvida sobre a geração eterna, pois, em Niceia, diz apenas “gerado, não feito”, expressão que não ficou muito clara.

  A filiação eterna de Cristo

  A expressão teológica “filiação eterna” é muito diferente da outra ex[1]pressão “geração eterna”. Mas, a compreensão da primeira expressão de[1]pende da segunda. Há duas linhas principais de interpretação entre os evangélicos sobre a filiação de Jesus. Ambas reconhecem a eternidade de Cristo e a sua deidade absoluta.

  Alguns expositores afirmam que o Logos, a Palavra, o Verbo, é eterno, que se tornou Filho na encarnação; outros acreditam que Jesus já era o Filho de Deus desde a eternidade. Os que pensam que a filiação do Verbo começou no nascimento de Jesus ou em algum momento do seu ministério terreno afirmam que o Verbo é eterno, mas que a sua filiação divina aconteceu quando o Verbo se fez carne, assumindo a natureza humana. Eles defendem a divindade absoluta de Cristo, suas duas naturezas, a humana e a divina em uma só pessoa de Cristo, a unio personalis, conforme formulação de Calcedônia em 451. Então, perguntamos: Deus é Pai desde a eternidade ou tomou-se Pai a partir da encarnação do Verbo?

  Resposta.

  A geração eterna do Filho é ensinada antes, durante e depois de Niceia. Tertuliano escreveu: “visto que foi gerado antes de todas as eras; e 0 unigênito, porque somente ele foi gerado de Deus, numa maneira peculiar a si mesmo, do ventre do seu próprio coração” (Contra Práxeas, 7). Ele cita Salmos 45.1 como base de sua declaração. Interessante que Atanásio também citou esse mesmo salmo para explicar a geração do Filho (Contra os arianos, Livro II.57.1) e disse ainda: “o Pai não seria chamado pai nem o seria se não existisse o Filho”, isso em resposta aos arianistas (Contra os arianos, Livro I.29.2) e acrescenta que as palavras de Jesus “eu estou no Pai e que o Pai está em mim” (Jo 14.10,11) significa que o Filho está junto do Pai e, com isso, “ninguém pode dizer ‘Pai’ se não existisse um Filho” (Contra os arianos, Livro III.6.3).

  Fundamentação bíblica Isaías 9.6. “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu”. Note que 0 me[1]nino nasceu, mas o Filho, segundo a palavra profética, não nasceu, mas “se nos deu”. O nascimento desse menino aconteceu em Belém, mas o Filho já existia desde a eternidade. O Senhor Jesus disse: “E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5). Jesus está se referindo a Deus como Pai e fala do seu relacionamento com ele na qualidade de Filho eterno, antes que o mundo existisse. O verbo grego “enviar” usado no perfeito, apéstalken, de apostéllo, em “Deus enviou seu Filho unigênito ao mundo, para que por ele vivamos” (1 Jo 4.9) indica que o nosso Salvador já era Filho Unigênito quando foi enviado ao mundo (0 perfeito grego não é usado para indicar uma ação passada, mas o estado presente é resultante da ação passada), não é o mesmo tempo verbal grego de João 3.17.

  Lucas 1.35. “O anjo respondeu: — O Espírito Santo virá sobre você, e o poder do Altíssimo a envolverá com a sua sombra; por isso, também o ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus”. Essa passagem é usa[1]da por aqueles que acreditam que a filiação de Jesus começou na encarnação. Se a filiação tivesse começado no nascimento de Jesus, então, ele seria Filho do Espírito Santo; além disso, está escrito: “apareceu em sonho um anjo do Senhor, dizendo: — José, filho de Davi, não tenha medo de receber Maria como esposa, porque o que nela foi gerado é do Espírito Santo” (Mt 1.20). A Bíblia ensina que Ele já era Filho antes de vir ao mundo. Além disso, a Escritura é clara em afirmar que Jesus é “o Filho do Pai” (2 Jo 1.3). Isso mostra que a filiação não começou na sua encarnação.

  O anjo não está dizendo que 0 nosso Salvador se tornaria Filho de Deus na encarnação, mas que 0 ente santo que há de nascer será chamado Filho de Deus, isso é muito diferente. Ele não está dizendo que a natureza humana dessa santa criança se tornaria divina, mas que ela seria reconhecida como o Filho de Deus. A natureza humana de Jesus nunca é chamada de Filho de Deus no Novo Testamento. Em nenhum lugar as Escrituras afirmam que Deus enviou o Verbo ao mundo para ser Filho, mas, todas as vezes que mencionam esse envio, se referem ao Salvador como “Filho” (Jo 3.18; Rm 8.3; G1 4.4).

  A geração dupla do Salvador. O cumprimento da palavra profética: “Você é meu Filho, hoje eu gerei você” (SI 2.7) não está claro, pois se pode aplicar ao batismo de Jesus (Mt 3.17; Mc 1.11; Lc 3.22), ou ainda à sua res[1]surreição (At 13.32,33; Rm 1.3,4), ou à sua exaltação no céu (Hb 1.5) e até mesmo à investidura de Jesus como sumo sacerdote (Hb 5.5). O certo é, e ninguém pode negar que tudo isso se cumpre na pessoa histórica do Se[1]nhor Jesus. A palavra “hoje”, nessa profecia, (SI 2.7) “não se refere ao hoje da eternidade divina, que não tem passado nem futuro fora de si”,73 com certeza não diz respeito à geração eterna, embora essa ideia não esteja to[1]talmente excluída. A formulação do Segundo Concilio de Constantinopla, em 553, reconhece que o Verbo foi gerado duas vezes, “... a primeira do Pai antes de todas as eras, intemporal e incorporai, e a outra nos últimos dias”, referindo-se à encarnação.

  A HERESIA DO SUBORDINACIONISMO

  Subordinacionismo é a cristologia dos unitaristas de ontem e hoje. É o nome que se dá à tendência teológica muito em voga no período pré-niceno que considerava Cristo, enquanto Filho de Deus, inferior ao Pai. Seus principais representantes são os ebionitas, os monarquianistas dinâmicos e os arianistas. Eles baseavam sua tese na interpretação peculiar de algumas passagens bíblicas mencionadas no capítulo anterior. Orígenes, o mais controvertido dos teólogos da antiguidade, manifestou em seus escritos essa tendência.

  Orígenes

  Orígenes é um dos teólogos pré-nicenos mais controvertidos, é, pois, inaceitável supor que uma simples frase expresse todo o pensamento dele. Há na vastíssima e complexa produção literária de Orígenes idéias de acor[1]do com a ortodoxia da igreja como também idéias neoplatônicas e obscuras, de modo que, desde 0 passado, os estudiosos do assunto estão divididos. Nas controvérsias arianistas, havia os que apoiavam Ário, usando Orígenes como base; como também os que apoiavam Alexandre, opositor de Ário, também se baseavam no mesmo Orígenes.

  Para compreender a teologia de Orígenes e lhe fazer justiça, é importante conhecê-lo um pouco como personagem, exegeta, homem espiritual e teólogo. Isso você pode encontrar na obra Orígenes: Un teólogo controver[1]tido, da autoria de Henri Crouzel. Nos capítulos IX e X da quarta parte do livro, Crouzel discorre sobre o assunto com muita propriedade, como pôde Orígenes ser ao mesmo tempo trinitariano clássico e subordinacionista, o que ele quer dizer com tais declarações.

  Orígenes foi um grande defensor da fé cristã, mas o seu pensamento teológico, sobretudo sobre a Trindade, apresenta forte afinidade com a filosofia neoplatônica defendida por Plotino, principal expoente do neoplatonismo, discípulo de Amônio Saccas (175-241), fundador dessa escola filosófica e colega de classe de Orígenes. Ele foi o maior teólogo da antiga escola de Alexandria.

  Segundo Paul Tillich, “Orígenes foi considerado herege na igreja cristã, muito embora tenha sido na época o seu maior teólogo”.74 Mas, essa posição foi revista posteriormente até porque, em sua época, a igreja não tinha ainda uma teologia formal. Segundo os críticos de Orígenes, ele ensinava que “0 poder do Pai é maior do que o do Filho e do Espírito Santo, e o poder do Filho é maior do que 0 do Espírito Santo”. Isto está numa carta endereçada a Mena, patriarca de Constantinopla (536-S52). Essa informação aparece numa epístola de Jerônimo aAvito.

  Orígenes exerceu grande influência no Oriente por mais de cem anos. Observe-se que o historiador da Igreja, Eusébio de Cesareia, foi influenciado pelo pensamento de Orígenes. Ele mesmo fundou uma escola teológica nessa cidade de Cesareia e permaneceu lá durante vinte anos. Eusé[1]bio assimilou também essa doutrina subordinacionista de Orígenes, pois escreveu: “Como os oráculos dos hebreus classificam 0 Espírito Santo em terceiro lugar depois do Pai e do Logos” (Preparatio Evangélica, XI:2i.i). Na avaliação de Paul Tillich, há dois princípios conflitantes no pensamento de Orígenes: “Um deles é a divindade do Salvador; se não for divino não poderá salvar. O outro é 0 esquema das emanações, há graus de emanação a partir do absoluto”.7S Mas, segundo Crouzel, a teologia de Orígenes precisa ser interpretada corretamente e não vê nela contradição alguma em relação à ortodoxia cristã.

  COMO O SUBORDINACIONISMO SE APRESENTA HOJE

  O principal movimento religioso que expressa em nossos dias o pensamento arianista e assume publicamente suas idéias subordinacionistas dos antigos unitaristas são as testemunhas de Jeová, que era trinitário na sua origem; Caries T. Russell, o fundador do movimento, só começou argumentar contra a personalidade do Espírito Santo e atacar o trinitarianismo, adotando a crença de Ário, em 1882.76 Em 1877, ele “defende o ponto de vista trinitariano do Espírito Santo como uma pessoa e ataca os cristadelfianos77 por desviarem disso”.78

  Fica claro e com sólidos fundamentos bíblicos de que a falácia da teologia unitarista de Ário, defendida ainda hoje pelos subordinacionistas, de que Jesus não é Deus, mas o “Filho de Deus”, não tem sustentação alguma. O conceito de Pai-Filho, na divindade, não deve ser confundido com o processo de reprodução humana e nem no relacionamento pai-filho numa família entre os humanos. Então, quando 0 termo “filho” se refere a Jesus como Filho de Deus significa sua igualdade ao Pai, ou seja, que ambos são da mesma substância e essência.

   EM DEFESA DA FÉ CRISTÃ



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