segunda-feira, 31 de janeiro de 2022

Lição 06: A Bíblia como um Guia para a Vida

 


TEXTO ÁUREO

“Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.” (Sl 119.105)

VERDADE PRÁTICA

A Bíblia é um guia seguro para a nossa caminhada cristã. Alicerçados nos ensinos da Palavra de Deus, somos instigados a viver com sabedoria e prudência.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Salmos 119.97-105

97 – Oh! Quanto amo a tua lei! É a minha meditação em todo o dia.

98 – Tu, pelos teus mandamentos, me fazes mais sábio que os meus inimigos, pois estão sempre comigo.

99 – Tenho mais entendimento do que todos os meus mestres, porque medito nos teus testemunhos.

100 – Sou mais prudente do que os velhos, porque guardo os teus preceitos.

101- Desviei os meus pés de todo caminho mau, para observar a tua palavra.

102 – Não me apartei dos teus juízos, porque tu me ensinaste.

103 – Oh! Quão doces são as tuas palavras ao meu paladar! Mais doces do que o mel à minha boca.

104 – Pelos teus mandamentos, alcancei entendimento; pelo que aborreço todo falso caminho.

105 – Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho.

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO

 “Entenda a História da Escritura como um Todo

Um aspecto de importância vital sobre a Bíblia em seu contexto é compreender a sua história global. Uma razão pela qual temos dificuldade em entender e viver os trechos da Bíblia é que não conseguimos compreender o quadro geral, a história global. Perguntei a David [S. Dockery] sobre a importância de compreender o panorama geral da Bíblia. Ele respondeu: ‘Acredito que precisamos entender a grande história, desde a criação até o livro de Apocalipse, e entender que Deus não se revelou apenas em determinados momentos, para pessoas em particular, mas o fez de forma progressiva.

  À medida que o tempo passava na história bíblica. Deus revelou mais e mais aspectos de seu plano para a humanidade. Nós vemos a progressão, por exemplo, nas alianças que Ele fez com as pessoas. Ele fez uma aliança com Abraão, uma aliança que foi amplificada com Davi, e depois ainda mais ampliada na nova aliança prometida em Jeremias. A aliança se cumpre quando começamos ler Mateus 1, à medida que Mateus traça a genealogia e a história de Jesus através das alianças do Antigo Testamento. […] O panorama geral evita que leiam os passagens fora do contexto ou atribuímos à Bíblia algo que não está nela’” (GUTHRIE, George. Lendo a Bíblia Para a Vida: Seu Guia para Entender e Viver a Palavra de Deus. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2014,

AUXÍLIO DE EDUCAÇÃO CRISTÃ

“ O Caráter do Professor Cristão
C. S. Lewis admite que muitas pessoas reconhecem que certas qualidades de caráter (prudência, temperança, justiça e fortaleza, ou seja, ‘virtudes cardeais’) são virtuosas e valem a pena perseguir. Contudo, ele sugere que os cristão s identificam virtudes fora do escopo da norma. Entre as virtudes teológicas, estão a fé, a caridade e a esperança (centradas em Deus; Pv 18.2; 19.3; 23.9). Enquanto a Bíblia defende a abnegação, a humildade, a generosidade e a compaixão para com os outros, 0 mundo defende o egocentrismo, o orgulho, o consumo e o julgamento. A maturidade em Cristo evidencia-se no fruto do Espírito, no crescimento em conhecimento, no fortalecimento cada vez maior em perseverança e paciência e, por fim, no ser agradecido. […] A verdadeira transformação da mente do cristão manifesta-se na transformação do caráter e no testemunho verbal e não verbal. […] Torna-se claro que a verdade da Palavra de Deus é realmente ‘aprendida’ quando é vivida na comunidade de fé e no mundo” (LINHART, Terry. Ensinando as Próximas Gerações: 0 Guia Definitivo do Professor de Jovens. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2018, p.51-52).

CONCLUSÃO

A Bíblia é um guia seguro para a nossa caminhada cristã. O texto sagrado aponta para Cristo: o único caminho que leva à vida (Mt 7.14). Nessa nobre tarefa, a imutável Palavra de Deus alumia o caminho que devemos trilhar. Assim , por meio da obediência às Escrituras, e o temor a Deus, recebem a sabedoria e prudência em nosso andar como filhos da luz (Ef 5.8).

| CPAD – A Supremacia das Escrituras: A Inspiração, Inerrante e Infalível Palavra de Deus

 Lição 06: A Bíblia como um Guia para a Vida

 




A BÍBLIA COMO UM GUIA PARA

A VIDA

“ Lâmpada para os meus pés é tua palavra e luz, para o meu caminho." (SL 119:105)

  A

 Bíblia Sagrada, quando crida e obedecida, toma-se um seguro, autêntico e verdadeiro guia para o viver cristão. O texto sagrado aponta para Cristo como o único caminho que conduz à vida abundante (Jo 10.10). O próprio Cristo nos adverte ao exame das Escrituras porque nelas estão reveladas as palavras de vida eterna (Jo 5.39). O apóstolo Tiago assevera que a Palavra de Deus transforma a nossa natureza, e nos conduz pela vereda da salvação (Tg 1.21). Em vista disso, Peter Davids assinala "não ser suficiente que a pessoa esteja convencida a respeito de Jesus; a pessoa deve entregar-se a Cristo, aceitar seu ensino, e essa fidelidade é o estilo de uma nova vida" .1

   Nessa nobre tarefa, a imutável e inerrante Palavra de Deus alumia o caminho que devemos bilhar com plena segurança. O Senhor Jesus alerta que a porta é estreita, e o caminho é apertado, porém, é o único que leva à vida, e poucos há que o encontram (Mt 7.14). Nesse aspecto, Tasker lembra que "o que toma o caminho estreito difícil de achar é a existência de numerosos mestres falsos que têm as suas próprias fórmulas para o bem-estar do homem".2 Assim, por meio da irrestrita obediência às Escrituras e o temor a Deus, recebemos sabedoria e prudência para andar como filhos da luz (Ef 5.8). Neste capítulo, veremos que a Escritura serve como alicerce de sabedoria e prudência.

I - A BIBLIA E UM ALICERCE PARA A VIDA

 1. A Palavra de Deus E Alicerce

   Importante ressaltar que a Bíblia é a única infalível revelação escrita, divinamente inspirada (2 Tm 3.16; Ap 1.1). Quem ouve e coloca em prática a Palavra de Deus é comparada a uma pessoa prudente cuja casa é alicerçada sobre a rocha (Mt 724). Na última seção do sermão do Monte, pouco antes do epílogo, Cristo narra a parábola dos "construtores sábios e os construtores tolos" (Mt 7.24-27). Os editores do Comentário Bíblico Pentecostal chamam atenção para o paralelismo clássico apresentado na parábola: "o sábio constrói sobre a rocha; o tolo constrói sobre a areia"., E quem é o sábio? "Todo aquele, pois, que escuta estas minhas palavras [de Cristo], e as pratica" (Mt 7.24); consequentemente o tolo é "aquele que ouve estas minhas palavras [de Cristo], e não as cumpre" (Mt 7.26).

   Nessa ilustração de Jesus, a casa simboliza a vida. A pessoa prudente constrói a sua casa e estabelece toda a sua vida em submissão genuína à Palavra de Cristo. A pessoa desobediente constrói sobre o fundamento frouxo da confiança própria e de falsas esperança. Ambas as construções sofrem com as intempéries da vida: a chuva torrencial, a inundação e o temporal (Mt 7.25,27).

   Esses elementos simbolizam os tempos difíceis da nossa vida: perseguições, traições, doenças, violências e sofrimentos diversos. É importante notar que Cristo já tinha ensinado que o Pai "faz que o seu sol se levante sobre maus e bons e a chuva desça sobre justos e injustos" (Mt 5.45). Significa que ninguém está imune das adversidades da vida.

   Entretanto, existe uma diferença crucial entre os dois construtores, em especial no enfrentamento desses problemas. A casa edificada sobre a rocha, apesar de ter sido ferozmente combatida, nem caiu e nem quebrou (Mt 725). Porém, um toque dramático é acrescentado à casa fundada na areia: "caiu, e foi grande a sua queda" (Mt 7.27). A parábola claramente ensina que nossa vida deve estar edificada nos ensinos de Cristo a fim de alcançar a virtude e um destino glorioso (Jo 3.16). O próprio Cristo é a rocha sobre a qual devemos edificar a nossa casa (1 Co 10.4). É somente pela nossa união com Cristo que podemos ter esperança e segurança. Ele tem as palavras de vida eterna (Jo 6.68). A síntese desse grande ensinamento é que nem as crises dessa vida e nem a eternidade poderá abalar quem está firmado em Cristo e na sua Palavra (Mt 7.25).

2. A Palavra de Deus É Luz

   Os Salmos declaram que a Palavra de Deus é "lâmpada para os pés" e "luz para o caminho" (SI 119.105). Ao dissertar acerca desse salmo, Charles Spurgeon escreveu: "um dos benefícios mais práticos dos textos sagrados é a orientação nos atos da vida diária; esta tocha não é enviada para nos assombrar com seu brilho, mas para nos orientar com a sua instrução".4 Quer dizer que a Bíblia possui orientações para cada passo do nosso viver e instruções para todo o curso da nossa vida. No salmo em questão, Davi guia os seus passos pelas Escrituras e assume o compromisso de guardar os seus estatutos (SI 119.106).

   O apóstolo Pedro fala da Palavra como "uma luz que alumia em lugar escuro" (2 Pe 1.19). Sobre essa declaração, o Comentário de Aplicação Pessoal discorre que "temos as Escrituras como a nossa luz e o Espírito Santo para esclarecer e nos orientar, á medida que aprendemos mais sobre a verdade"., Implica dizer que aquele que não é guiado pelas Escrituras encontra-se desorientado, cedo ou tarde irá tropeçar, e consequentemente sucumbirá. Somente a luz das Escrituras dissipa a escuridão espiritual e nos conduz em segurança pelo caminho da vida eterna.

    A respeito disso, Cristo declarou: "Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas" (Jo 8.12). Essa afirmação do Senhor Jesus lembra a coluna de fogo que orientou os filhos de Israel durante a noite nas suas peregrinações no deserto (Êx 13.21). O Comentário Bíblico Beacon enfatiza que "da mesma maneira como Jeová era o seu guia e Iluminador naquela ocasião, assim também Jesus é o EU SOU, sempre presente, sempre iluminado, dispersando a escuridão"., E, nessa direção, também Paulo ensina que devemos andar como filhos da luz (Ef 5.8), isto é, afastados da prática do pecado (1 Jo 3.6).

3. A Palavra de Deus E Imutável

   Tendo a inspiração divina como pressuposto, ratificamos que a Palavra de Deus é a nossa autoridade final de fé e prática (2 Pe 1.21). A Bíblia difere de outros livros porque seus ensinos são fidedignos e confiáveis, não erram e nem falham. O Senhor Jesus declarou enfaticamente que "a Escritura não pode ser anulada" (Jo 10.35). Compreende-se a partir dessa sentença que a Escritura não pode ser invalidada (Mc 7.13), isto é, a Palavra de Deus não pode ser colocada de lado quando seu ensino não convém ou não agrada as pessoas. Não pode ser ressignifcada para atender aos ideais e aspirações do humanismo. O que está escrito permanece escrito?

   Desse modo, o texto bíblico permanece inalterado e "imexível". Cristo foi quem assegurou essa certeza ao declara, "passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão" (Mc 13.31). Deus não muda (Ml 3.6), Ele é fiel ao concerto estabelecido, e, por conseguinte, a sua Palavra é imutável. O apóstolo Tiago escreve que em Deus "não há mudança, nem sombra de variação" (Tg 1.17). Ele é plenamente confiável, sua Palavra é absolutamente constante. Deus não mente (Nm 23.19), e nem pode mentir (Hb 6.18). Portanto, os princípios bíblicos e as doutrinas revelados nas Escrituras têm aplicação hoje, assim como tiveram antigamente (Is 55.11). Em suma, os padrões da ética e da moral cristã não sofrem mudanças (1 Pe 120). Os valores cristãos são permanentes, pois a fonte de autoridade é permanente (Mt 5.18). Não cabe ao cristão contradizer e nem ajustar as Escrituras para atender aos interesses das ideologias pós-modernas. Assim sendo, o comportamento e o caráter do cristão se alicerçam nas doutrinas bíblicas (Ef 2.20). Os textos aqui citados, e tantos outros que por falta de espaço não foram mencionados, atestam que a Bíblia Sagrada é exatamente aquilo que ela afirma ser a inspirada, inerrante e infalível Palavra de Deus.

II -A BÍBLIA NOS TORNA PESSOAS SÁBIAS

1.     O Conceito de Sabedoria

  O substantivo hebraico para sabedoria é "hokmãh". O Dicionário Vine anota que essa palavra aparece 141 vezes no Antigo Testamento, e, na maior parte das vezes, em Jó, Provérbios e Eclesiastes. O termo significa "o conhecimento e a habilidade de fazer escolhas certas no momento oportuno. A consistência de fazer a escolha certa é indicação de maturidade e desenvolvimento" .8 A palavra correspondente para sabedoria em grego é "sophia", e está relacionada e se assemelha com a prática da prudência, isto é, "a capacidade de discernir modos de ação com vistas aos seus resultados".9 Em síntese, ambos os termos têm o sentido de "habilidade", "experiência" e "qualidade de quem é sábio". O teólogo Russel Joyner assegura que a Bíblia coloca a sabedoria no ãmbito da prática, por isso a verdadeira sabedoria "reúne o conhecimento da verdade com a experiência do cotidiano".10 Significa que o conhecimento absorvido pela mente deve ser aplicado em todas as situações da vida. A orientação de provérbios "adquire a sabedoria, adquire a inteligência" (Pv 4.5) sublinha que não é suficiente acumular informações e encher o intelecto de conhecimento. A sabedoria ultrapassa o conhecimento dos fatos, das leis e das ciências. Nesse aspecto, o conhecimento sem a prática adequada do aprendizado não produz sabedoria (Pv 3.7).

2. Deus É a Fonte da Sabedoria

   A sabedoria é um dos atributos divinos (Dn 2.20). As Escrituras nos exortam a adorar "o único Deus sábio" (Rm 16.27; 1 Tm 1.17; Jd 1.25). Ele é a única fonte da genuína sabedoria (Pv 2.6; Ef 1.16,17). O erudito Louis Berkhof analisa que "pode-se considerar a sabedoria de Deus como um aspecto do seu conhecimento [...] ela indica o fato de que Ele sempre busca os melhores fins possíveis, e escolhe os melhores meios para a consecução dos seus propósitos".11 Nesse entendimento, Charles Hodge afirma que "todas as obras de Deus declaram sua sabedoria. Elas mostram, desde as menores até as maiores, a mais prodigiosa adaptação de meios para a concretização do sublime fim do bem-estar de suas criaturas e para a manifestação de sua própria glória"» Mercê dessas verdades, ratifica-se que somente Deus é detentor de tamanha sabedoria. O apóstolo Paulo assevera que a sabedoria divina é inescrutável (Rm 11.33).

    A Bíblia ainda ensina que toda a sabedoria dos santos provém da parte de Deus segundo o beneplácito da sua vontade (Ef 1.8,9). Por meio da graça, Deus faz os crentes transbordarem com sabedoria e discernimento (1 Co 1.21, 24; 1 Tm 1.14). Paulo escreve que Deus fez Cristo ser a sabedoria em nós (1 Co 1.30). Nesse aspecto, William Hendriksen ratifica que essa sabedoria "é a capacidade de aplicar o conhecimento para melhor proveito, capacitando uma pessoa a usar os meios mais eficazes para alcançar a meta mais elevada"» Isso implica a compreensão do plano divino da salvação e da aplicação das Escrituras no dia a dia da caminhada cristã. Em resumo, visto que Deus é a verdadeira sabedoria, as suas palavras e seus atos são igualmente sábios (SI 19.7; Pv 3.19). Portanto, todos que vivem de acordo com os preceitos da Palavra de Deus são considerados pessoas sábias (1 Co 2.6,7).

3.   O Temor E o Principio da Sabedoria

  A Bíblia registra que "o temor do Senhor é o principio do saber" (Pv 1.7, ARA). A expressão "temor do Senhor" aparece doze vezes no livro de Provérbios, e no modo imperativo "Temei ao Senhor" é  encontrado outras quatro vezes (Pv 1.7,29; 2.5; 3.7; 8.13; 9.10; 10.27; 14.2,26,27; 15.16,33; 16.6; 22.4; 23.17; 24.21). A reiterada repetição dessa frase denota o princípio fundamental da religião revelada: "o temor a Deus"." O Dicionário Bíblico VVycliffe apresenta o seguinte conceito para a palavra "temor":


  Diante dessa definição, "temer ao Senhor" não significa ter medo, fobia ou terror de Deus; ao contrário, expressa reverência, gratidão e adoração ao Todo-Poderoso (Dt 10.12). Essa atitude é o preceito pelo qual se inicia a sabedoria. O temor ao Senhor é o primeiro e controlador princípio, não é uma etapa que se abandona, não é apenas um método correto de pensamento, mas, sim, um relacionamento correto de submissão e adoração a Deus), O temor a Deus é o ponto de partida que produz o verdadeiro entendimento, o sábio proceder (Rm 12.1,2).

   Aqui importa ressaltar, como já observado, que o conhecimento e a sabedoria não são a mesma coisa, embora os termos estejam relacionados entre si. Uma pessoa iletrada pode ultrapassar em

4.   Os Benefícios da Sabedoria

 O salmista declara que o ato de meditar na Palavra de Deus o tornara mais sábio que todos a sua volta (SI 119.97-100). Essa afirmação significa que ele adquiriu sabedoria ao aplicar os preceitos do Senhor na sua vida. Davi expressa seu profundo amor pela Lei do Senhor, e faz dela a sua meditação diária (SI 119.97). Como resultado, tornou-se mais sábio do que os inimigos (SI 119.98); mais entendido que os mestres (SI 119.99); e mais prudente que os anciãos (SI 119.100). Ao comentar esse texto, Spurgeon assinala que "ele tinha sido ensinado a observar no coração e na vida os preceitos do Senhor [...] Ele tinha a Palavra dentro de si, e assim superou seus adversários; ele meditava nela, e assim ultrapassou seus amigos; ele a praticava, e assim ofuscou os seus antepassados"18

   Salomão assegura que a pessoa sábia tem muitos benefícios: "Se fores sábio, para ti sábio serás; e, se fores escamecedor, tu só o suportarás" (Pv 9.12). Nesse versículo, destaca-se o conceito da responsabilidade individual. Derek Kidner sublinha que as pessoas recebem benefício ou sofrem por causa do caráter que cada um possui (Pv 10.1). O texto bíblico ressalta que, em última análise, quem ganha ou perde é a própria pessoa.19 Desse modo, aquele que teme ao Senhor desfruta das benesses da sabedoria, dentre elas, acumula conhecimento para usar na ocasião certa (Pv 10.14); conquista outras almas para também serem sábias (Pv 11.30); em virtude do bom senso, torna-se próspero em todos os seus caminhos (Pv 19.8); e não apenas controla seus impulsos, mas exerce o domínio próprio (Pv 29.11). Em vista disso, a Escritura nos adverte com frequência a empregar esforços na busca da sabedoria (Pv 22; 3.21; 4.5,7; 16.16; 23.23).

III — A BIBLIA E A PRUDENCIA PARA A VIDA

 1.O Conceito de Prudéncia

  O Dicionário Bíblico VVycliffe informa que o termo hebraico "atum" é usado no sentido positivo para identificar uma pessoa sensata: "a sabedoria do prudente é entender o seu caminho" (Pv 14.8); "o prudente atenta para os seus passos" (Pv 14.15); "os prudentes se coroarão de conhecimento" (Pv 14.18); e "o que observa a repreensão prudentemente se haverá" (Pv 15.5). Porém, a expressão ainda pode ser empregada no mau sentido para identificar alguém sagaz ou astuto: "Ora, a serpente era mais astuta que todas as alimárias do campo" (Gn 3.1); "Ele aniquila as imaginações dos astutos [..] Ele apanha os sábios na sua própria astúcia" (Jó 5.12,13); "tu escolheste a língua dos astutos" (Já 15.5); e "tomaram astuto conselho contra o teu povo" (SI 83.3, ACF).2° Destaca igualmente que a expressão hebraica "bin" e o adjetivo grego "synetos" apontam para uma decisão inteligente: "o sábio de coração será chamado prudente" (Pv 1621); "o procõnsul Sérgio Paulo, que era um homem inteligente" (At 13.7, NAA). Desse modo, no aspecto positivo, os textos sinalizam uma conduta não precipitada. O Dicionário Vine enfatiza que o substantivo grego "phronesis" e suas declinações implica "ter entendimento" e denota "sabedoria prática, prudência na administração dos negócios" (Lc 1.17; Ef 1.8). Já o substantivo "synesis" é traduzido por "inteligência" e sugere "rapidez de apreensão", a "consideração penetrante que precede a ação" (1 Co 1.19).21 Essa concepção pode ser vista equitativamente nos tratados da filosofia aristotélica:


   Tomás de Aquino (1225-1274 d.C) define a prudência como razão reta do agir (latim: recta rabo agibilium). Considera como uma virtude própria da razão prática. Em outras palavras, Aquino ensina que é próprio do homem prudente a capacidade de deliberar bem em vista de certo fim.23 Em vista disso, em termos gerais, a prudência é a virtude própria da boa escolha que evita ações temerárias. Refere-se à faculdade crítica de avaliar situações e encontrar a maneira adequada de abordagem na busca da melhor solução. Nesse aspecto, com cautela e bom senso, uma pessoa prudente é capaz de discemir e fazer a escolha correta. Contudo, convém esclarecer que biblicamente a prudência está unida estreitamente à sabedoria. E, como já visto, a sabedoria procede de Deus (Ef 1.8,9). Por isso, a prudência é sobretudo uma virtude de quem é sábio, e, portanto, habilitado a realizar as escolhas certas (Dt 30.19; Lc 10.42).

2.   A Prudência dos Justos

 Esse termo é empregado pelo evangelista Lucas quando descreve o ministério de João Batista. A missão do precursor do Messias é converter o coração "dos pais aos filhos" e os rebeldes à "prudência dos justos" (Lc 1.17). Ao discorrer sobre essa última declaração, Matthew Henry observa que "a verdadeira religião é a sabedoria dos homens justos, diferentemente da sabedoria do mundo. Sermos religiosos é, ao mesmo tempo, a nossa sabedoria e o nosso dever; nisto existe tanto equidade quanto prudência".24 Significa que o Evangelho tem como desígnio trazer as pessoas de volta para Deus. E, quando isso acontece, os ignorantes, desobedientes e rebeldes de outrora se tornam sábios, justos e prudentes. Essa sabedoria prática que orienta e corrige o viver diário é o resultado da verdadeira conversão a Cristo. Aqueles que experimentam o novo nascimento desenvolvem o caráter e praticam a boa conduta dos justos.

   Nesse sentido, a mensagem da salvação em Cristo não apenas restaura o pecador, mas também o faz andar por veredas de retidão. Salomão assegura que "a vereda dos justos é como a luz da aurora" (Pv 4.18).

   Hernandes Lopes considera que não se trata apenas de um caminho iluminado, "mas um caminho cuja luz vai crescendo como a luz do sol até ser dia perfeito [...] sua história começa na conversão e avança no processo da santificação, mas seu alvo é a glorificação, o dia perfeito".25 O apóstolo Paulo declara que a graça de Deus nos alcança o perdão, e ainda a sabedoria e a prudência (Ef 1.7,8). A sabedoria para compreender a verdade revelada, e a prudência para agir corretamente, segundo a vontade de Deus (Ef 1.9). Essas dádivas são aperfeiçoadas pela oração, leitura das Escrituras e comunhão com o Espírito Santo (1 Ts 5.17; 2 Tm 3.14,15; Ef 5.18).

3. Os Beneficias da Prudência

  O livro de Provérbios descreve os propósitos e os benefícios da prudência (Pv 1.1-6). Nessa direção, o preâmbulo articula os objetivos do texto (Pv 1.2-6) e o seu destinatário (Pv 1A,5). Cada versículo começa com a expressão "para", com exceção do versículo 5, em que o termo não aparece, mas está implícito. Essa série de frases é um sumário das finalidades dos provérbios de Salomão, a sabe, "para se conhecer a sabedoria e a instrução" (Pv 1.2a); "para se entenderem as palavras da prudência" (Pv 1.2b); "para aceitar o comportamento prudente" (Pv 1.3a); "para fazer o que é reto, justo e íntegro" (Pv 1.3b); "para dar perspicácia e discrição" (Pv 1.4); "[para] o sábio aumentar o aprendizado" (Pv 1.5a); "[para] o criterioso adquirir orientação" (Pv 1.5b); e "para entender um provérbio e os ditos dos sábios" (Pv 1.6).

   Para alcançar essas metas, o livro apresenta instruções éticas no intuito de moldar o caráter que resulta em benesses para os que escutam e praticam as sábias instruções. Dentre elas, destaca-se: o autocontrole para não revidar ofensas (Pv 12.16). Ao contrário, aquele que não tem a capacidade de controlar as emoções é insensato. Bruce Waltke salienta que "os sábios consideravam essa disposição interna de exasperação uma emoção perigosa: ela mata o insensato (Jó 5.2) e deve ser contida; o sábio não a demonstra".2, Outro proveito da prudência é a postura de humildade para não exibir conhecimento (Pv 12.23). Hemandes Lopes avalia que o prudente "não enaltece a si mesmo como um fariseu soberbo nem se compara aos demais apenas para se sobressair. A humildade é o caminho da honra, enquanto a altivez é a autopista da vergonha".27

  A prudência, inclusive, favorece na correta tomada de decisões (Pv 13.16). Bruce Waltke comenta que a pessoa prudente se protege por meio de "um conhecimento que inclui ver o perigo de antemão e se refugiar, e que fala com cautela e prudência".2, A pessoa prudente, ainda, pensa antes de agir para não ser influenciada (Pv 14.15). Derek Kidner sublinha que o tolo ou o ingênuo "aceita de segunda fonte aquilo que deveria ser averiguado por conta própria [...] agindo de acordo com o estado dos sentimentos, e não com os méritos do caso".29 O prudente, também, alcança boa reputação e alta posição (Pv 14.35). Hernandes Lopes anota que "se formos prudentes, ceifaremos favor; se formos indignos, colheremos fúria. O empregado prudente que vive de forma irrepreensível, fala de forma irrefutável e realiza obras inegáveis goza do respeito e do favor de seus superiores".3, O prudente, igualmente, sujeita-se ao aprendizado e a correção (Pv 15.5). Todo aquele que atende a repreensão e aceita humildemente a disciplina se comporta com prudência. O caminho da vida não é a rebeldia, mas a obediência.31 Além disso, a pessoa prudente desvia-se do perigo por meio de soluções cautelosas e antecipadas (Pv 22.3).

   Nos Evangelhos, Cristo enfatizou que a pessoa prudente tem a Palavra de Deus como alicerce e regra de vida (Mt 7.24). Nesse ponto, Tasker sublinha que "o homem cuja fé em Cristo é real e sincera poderá sobre esta fé, e o fará, construir o edifício do caráter cristão, que resistirá às tempestades de incompreensão e desapontamento, de cinismo e dúvida, de sofrimento e perseguição, quando ameaçarem destruí-lo".32 Ademais, o Senhor ensinou que o servo prudente procede com retidão e cumpre seus deveres com fidelidade (Mt 24.45). Mantêm-se ocupado, cumprindo fielmente as suas tarefas, e desse modo se conserva preparado para quando o seu Senhor chegar.33 Na parábola das dez virgens, Jesus ensina que a pessoa prudente cuida com esmero da sua vida espiritual e mantém acesa a chama do Espírito (Mt 25.4). Myer Pearlman considera que "as virgens prudentes representam aqueles crentes que, reconhecendo possível demora do Noivo, não somente o aguardam pacientemente, como conservam-se diligentemente num estado espiritual apropriado a qualquer chamada repentina".34 Em vista disso, a Bíblia nos exorta a viver prudentemente, e não como néscios (Ef 5.15).

1 DAVIDS, Peter H Novo comentário bíblico contemporâneo Tiago. São Paulo Vida, 19997, p 58 TASKER, R V G Mateus: introdução e comentário. São Paulo Vida Nova, 1999 p 66 3 STROISTAD, Roger. ARRI,GTON, L French (Ed) Comentário bíblico pentecostal Novo Testam., R c de Janeiro CPAD, 2003, p 62 SPURGEON. Clailes Os tesouros de Davi. Vol 3 Rio de Janeiro CPAD, 2017, p. 4',4. Comentário do Novo Testamento: aplicação pessoal. Vol 2 Rio de Janeiro CPAD, 2009_x. 748 HARPER, A E (Ed.). Comentário bíblico Beacon. Vol 7 Rio de Janeiro CPAD, 2019, p 82

A SUPREMACIA DAS ESCRITURAS
Douglas Baptista

 

             

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