Texto Áureo
E Saulo, respirando ainda ameaças e
mortes contra os discípulos do Senhor, dirigiu-se ao sumo sacerdote.”
(At 9.1)
Verdade
Prática
A Igreja é uma instituição divina que
perdurará na Terra até o arrebatamento, pois do contrário, já teria acabado ao
longo da história.
LEITURA
BÍBLICA EM CLASSE
Atos 8.1-3; 22.4-5; 26.9-11
Atos 8
1- E também Saulo consentiu na morte dele [Estevão]. E
fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em
Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto
os apóstolos.
2- E uns varões piedosos foram enterrar Estevão e
fizeram sobre ele grande pranto.
3- E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e,
arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.
Atos 22
4- Perseguiu este Caminho até a morte, prendendo e
metendo em prisões, tanto homens como mulheres,
5- como também o sumo sacerdote é testemunha, e todo o
conselho dos anciãos; e, recebendo destes cartas para os irmãos, fui a Damasco,
para trazer manietados para Jerusalém aqueles que ali estivessem, a fim de que
fossem castigados.
Atos 26
9- Bem tinha eu imaginado que contra r o nome de
Jesus, o Nazareno, devia eu . praticar muitos atos,
10- o que também fiz em Jerusalém. E, e havendo
recebido poder dos
principais dos sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e, quando os
matavam, eu dava o meu voto contra eles.
11 – E, castigando-os muitas vezes por todas as
sinagogas, os obriguei a blasfemar. E, enfurecido demasiadamente e contra eles,
até nas cidades estranhas os persegui.
OBJETIVO
GERAL
Conscientizar a respeito do problema da
perseguição aos cristãos no mundo.
OBJETIVOS
ESPECÍFICOS
Abaixo, os objetivos específicos
referem-se ao que o professor deve atingir em cada tópico. Por exemplo, o
objetivo I refere-se ao tópico I com os seus respectivos subtópicos.
- Elencar as
características persecutórias de Saulo;
- Expor a
respeito da perseguição contra a igreja em Atos;
- Esclarecer a
respeito de um sistema contra a Igreja.
INTERAGINDO
COM O PROFESSOR
Com o objetivo de preparar os
alunos para a aplicação do conteúdo desta lição, inicie falando a respeito da
perseguição dos cristãos no mundo. Se possível, informe-se a respeito desse tema
em sites especializados de noticias que abordam o terrível quadro de
perseguição cristã no mundo. Proponha um momento de oração, mostrando a
relevância de rogar a Deus por livramento de irmãos que hoje estão
debaixo de perseguição mundial. Não podemos fechar os olhos para esse quadro.
As vezes, porque vivemos em um ambiente de aparente tolerância religiosa, corremos
o risco de pensar que é assim em outros lugares da Terra. Portanto, aproveite
essa oportunidade para conscientizar a sua classe acerca dessa terrível
realidade.
INTRODUÇÃO
A história da expansão da
Igreja no livro de Atos mostra um fariseu zeloso: Saulo de Tarso. Este tinha
prestígio religioso e cultural entre os judeus. Por isso, ele ganhou “carta
branca” das autoridades religiosas para perseguir os seguidores de Jesus e, assim,
tornar-se um implacável perseguidor da Igreja de Cristo do primeiro século. É o
que estudaremos nesta lição.
PONTO CENTRAL:
No mundo de hoje há perseguição contra os cristãos
SUBSÍDIO
PEDAGÓGICO
Antes de iniciar a aula desta
semana, faça uma pequena recapitulação da aula passada. É muito importante que
os alunos tenham uma percepção da concatenação dos assuntos. Jamais deixe que o
conteúdo fique solto na imaginação dos alunos. O trabalho do professor e da
professora é trazer unidade ao tema e aplicá-la à realidade dos alunos. Outrossim,
procure aplicar esse método de recapitulação ao longo de todo o trimestre.
Portanto, cuide da concatenar as ideias e, ao mesmo tempo, expressar a unidade
da revista.
SUBSÍDIO
APOLOGÉTICO
Além da perseguição
tradicional aos cristãos, há a perseguição mais sofisticada, que se dá no campo
cultural. Por exemplo, quando tentam reduzir a vivência da fé à vida privada
dos cristãos, trata-se de uma perseguição cultural e ideológica. Ora, do ponto de
vista filosófico, o ser humano é um ser religioso. Do ponto de vista
antropológico-teológico, o ser humano é imagem de Deus e, por isso, tem uma
centelha divina dentro dele que o impulsiona à busca por Deus, embora, como
afirma a nossa Declaração de Fé, essa imagem divina esteja distorcida e
corrompida. A necessidade de buscar a Deus é própria do ser humano. Impedir
essa iniciativa livre e pública é impedir a livre manifestação da condição de
ser humano. Por isso que, ao longo da história, a perseguição aos cristãos
viola os direitos humanos.
Ou seja, a partir do momento
que autoridades, intelectuais, jornalistas, artistas exigem que os cristãos não
tenham o direito de expressar os seus valores, princípios e doutrinas
que perpassam a dinâmica da vida e fazê-lo em qualquer espaço da sociedade, há
sim uma violação aos direitos mais nobres do ser humano. Não é possível exigir
dos cristãos que escondam a sua fé, isto é, que deixem de falar o que eles têm
visto e ouvido. Tentaram fazer isso com os apóstolos Pedro e João: “E,
chamando-os, disseram-lhes que absolutamente não falassem, nem ensinassem, no
nome de Jesus” (At 4.18); mas suas respostas foram taxativas: “Respondendo,
porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vás se é justo, diante de Deus,
ouvir-vos antes a vós do que a Deus; porque não podemos deixar de falar do que
temos visto e ouvido” (At 4:19,20).
SUBSÍDIO
MISSIOLÓGICO
Há obras e sites
especializados que se dedicam em retratar o fenômeno contemporâneo da
perseguição aos cristãos. Muitos são os relatos das grandes dificuldades que
nossos irmãos passam em países por causa de sua fé. Além do tema da perseguição
aos cristãos nos países mulçumanos, há análises abundantes a respeito da igreja
nos países sob “os poderes comunistas remanescentes”, esses países são a China,
o Vietnã, Laos, Cuba e Coreia do Norte. Em épocas passadas, esses países
cometeram crimes bárbaros contra todas as religiões, incluindo os cristãos.
Isso se dava porque esses regimes, sob óculos ideológicos, viam nas religiões,
como o Cristianismo, um obstáculo para o progresso do regime de poder.
Por esse motivo, cristãos
foram martirizados, igrejas foram devastadas, missionários forçados aos
trabalhos forçados. Os países desse regime, bem como os de regimes religiosos,
de religião islâmica e outras, injustiçada muitos de nossos irmãos. Hoje,
alguns desses países usam uma tática diferente. Há países que, devido seu
maiores envolvimentos com a economia global, não executam a matança em massas
de cristãos, mas coloca a vida deles sob rígida vigilância. Entretanto, o
que o regime considera ilegal, trata os cristãos supostamente fora da lei com
prisão e brutalidade. Há outros regimes que nem aparência de civilidade ha. Por
isso, oremos pela igreja perseguida!
CONCLUSÃO
Se a Igreja fosse uma mera
organização humana, já teria acabado. Mas é uma instituição divina, edificada
pelo próprio Cristo e, por isso, a Igreja subsiste ao longo dos séculos e
continuará a subsistir até a vinda gloriosa de Jesus
| CPAD – Adultos –O APÓSTOLO
PAULO – Lições da Vida e Ministério do Apóstolo dos Gentios para a Igreja de
Cristo
| Lição 02:
Saulo de Tarso, o Perseguidor
Paulo era Fariseu –
Dicionário Bíblico Wycliffe
Acredita-se que o termo fariseu deriva do
verbo hebraico parask, isto é, “dividir ou separar”. Portanto, os fariseus eram
“o povo separado”. Porém, tanto a origem desse grupo judeu como do nome que
recebeu ainda são incertos. A “separação” da qual o nome está falando poderia
referir-se a uma separação geral das impurezas ou do mundo, ou poderia estar
ligada a alguma situação histórica em particular. Por exemplo, os fariseus
poderiam ter surgido como a expressão de uma rígida abstenção dos costumes
pagãos na época de Esdras e de Neemias (ç.u.), ou da recusa de adotar costumes
gregos mesmo sob a ameaça de morte na época ae Antíoco Epifânio (q.v.), ou da
ruptura que aconteceu em 165 a.C,, após a reconquista do Templo, entre os
macabeus (q.v) e os “piedosos” ou Chasidim, que estavam dispostos a lutar pela
liberdade religiosa, mas não pela independência política. Todas essas
possibilidades foram levantadas como teorias, e todas podem ser consideradas
como a personificação de alguns aspectos do espírito farisaico; mas as
evidências não são conclusivas para nenhuma delas.
A primeira referência aos fariseus,
como um grupo existente em Israel, foi feita durante o reinado de João Hircano
(135-104 a.C.). De acordo com Josefo, nessa época eles exerciam grande
influência junto às massas. Hircano foi um de seus discípulos, mas por causa de
desentendimentos ele separou-se e juntou-se aos saduceus (Ant. xiii.10. 5. f.).
Em uma observação repleta de presságios, Josefo acrescenta: “Por causa disso,
naturalmente, cresceu o ódio das massas por ele e seus filhos” (ibid). Consta,
também, que Hircano deixou de observar certos “regulamentos” que os fariseus
haviam estabelecido para o povo. Josefo explica que “os fariseus haviam
transmitido ao povo certos regulamentos (nomima) herdados das gerações
anteriores, mas que não haviam sido registrados na lei de Moisés (ttonwi) ׳, por essa razão eles foram rejeitados pelo grupo
saduceu” (10. xiii.6).
Esse relato serve para realçar o principal fator que existe em qualquer
definição do farisaísmo - o conceito da tradição, de uma contínua expansão da
lei oral. Ele também indica que, na época de Hircano, o farisaísmo já era um
florescente movimento com grande influência sobre a população. Além disso, a
referência à transmissão de regulamentos que haviam sido herdados das gerações
anteriores sugere alguma continuidade com o passado. Portanto, aqueles que têm
procurado acompanhai os fariseus desde os Chasidim, que lutaram ao lado de
Judas Macabeu, até a nova dedicação do Templo (1 Mac 2.42ss.; 7.13ss.; 2 Mac
14.6) podem ter chegado muito próximo da verdade. Embora algumas de suas
características tenham raízes que se estendem até tempos remotos, o farÍ8aísmo
que conhecemos a partir de fontes disponíveis parece ter se originado como uma
resposta judaica ao desafio da cultura grega no início do segundo século a.C.
Em uma época bastante posterior,
quando o farisaísmo já havia se tornado a expressão normativa do judaísmo, os
hiatos históricos foram preenchidos de forma a fazer crer que a lei oral havia
sido estabelecida pelo próprio Moisés, via Josué, os anciãos, os profetas, os
homens da Grande Sinagoga fundada por Esdras, e também por homens como Simeão,
o Justo, e Antígono de Socho (séculos IV e III a.C.) até os “pares” (zugoth) de
mestres investidos de autoridade (por exemplo, Semaías e Abtalion, Hilel e
Shammai) e o rabinos que vieram depois deles (veja o tratado de Mishna,
conhecido como PirkeAboth, capítulo 1), Vale a pena notar que a origem dos
“pares” coincide aproximadamente com o momento em que os fariseus começaram a
constar em nossas fontes. É muito provável que a era dos macabeus tenha marcado
o seu verdadeiro aparecimento, embora eles afirmassem que seus ancestrais
espirituais haviam sido homens como Esdras,
que haviam confirmado e explicado a Torá. Eles podem até ter possuído algumas
tradições orais que remontavam até o início da época posterior ao Exílio.
Depois da ruptura com a casa real
hasmo- neana, representada por João Hircano, o destino político dos fariseus
sofreu algumas flutuações. Eles tornaram-se os líderes de uma contínua oposição
popular ao seu sucessor, Alexandre Janeu (10376־ a.C.), de forma que em seu leito de morte,
impressionado pela influência que exerciam sobre as massas, Alexandre insistiu
com sua esposa Salomé Alexandra (76-67 a.C.) que trabalhasse mais próxima deles
(Josefo, Ant. xiii. 15.5.). Os tradicionais regulamentos herdados “dos pais”
foram restabelecidos, e os fariseus tornaram-se o poder por detrás do trono,
livres para vingar as injustiças que acreditavam ter sido feitas contra eles
por Alexandre (ibid., xiii. 16.1; cf. Wars i.5. 2. f.). Na luta pelo poder que
se seguiu à morte de Alexandra, parece que os fariseus tornaram-se um terceiro
partido que não apoiava nenhum de seus dois filhos; eles requisitaram aos
romanos que abolissem o reinado judaico (que os sacerdotes haviam usurpado
depois da revolta dos macabeus) e o retomo ao antigo tipo de regulamento
sacerdotal (Ant. xiv. 3.2). Essa expectativa não se realizou, mas os romanos
realmente puseram um ponto final a essa disputa entre facções quando Pompeu
capturou o Templo, invadiu o santuário, exilou um dos filhos de Alexandra e
indicou o outro (Hircano II) como sumo sacerdote e representante do rei. A
independência política, conquistada de maneira tão nobre no século anterior,
foi novamente perdida quando o povo judeu passou a sofrer o domínio romano em
63 a.C.
Os Salmos de Salomão representam a
expressão mais refinada da piedade farisaica pré-cristã. A data da sua autoria
corresponde ao período tumultuado que se seguiu à conquista de Pompeu, pois
articulavam a ira piedosa dos fariseus contra os “pecadores^ de Israel, cujos
atos haviam provocado o terrível castigo de DEUS (isto é, os últimos
governantes da casta sacerdotal dos hasmoneus e os saduceus que os apoiaram), e
contra os gentios que haviam invadido os limites impostos por DEUS sobre eles
ao castigar o seu próprio povo (Salmos de Salomão 2.16-29). O desconhecido
autor desses Salmos delineou claramente a situação (“Nações estrangeiras
ascenderam ao teu altar, eles orgulhosamente pisotearam sobre ele com suas
sandálias”, 2.2), e se mostrou jubiloso com a subseqüente morte violenta de
Pompeu em 48 a.C. (“DEUS me mostrou o insolente assassinado nas montanhas do
Egito”, 2.30). Os fariseus encontravam nestes versos a ilustração de um de seus
temas clássicos, o conceito da retribuição; DEUS vingando os *justos” (isto é,
os próprios fariseus) e punindo os “pecadores”. A doutrina de uma futura ressurreição, tão
uniformemente atribuída aos fariseus (cf. Act 23.6ss.; Josefo, Ant. xviii.
1.3ss.. Wars ii.8.
14), é simplesmente o produto da consistente aplicação de seu princípio da
retribuição (cf. Salmos de Salomão 3.16).
A esperança messiânica dos fariseus
foi estabelecida de uma forma bela na última parte do Salmo de Salomão 17. O
Senhor “levantará entre eles o seu rei, o filho de Davi” (17.23) que “destruirá
as nações Ímpias com a palavra de sua boca” (v. 27).
Sobre Davi diziam: “Será um rei justo
sobre eles, ensinado por DEUS, e não haverá injustiças nesses dias em seu meio,
pois todos serão santos e seu rei será o ungido do Senhor” (w. 35ss.). Embora o
rei e o reino que os fariseus estavam buscando fossem terrenos, eles também
eram espirituais e não seriam alcançados “pela confiança no cavalo, no
cavaleiro e no arco” (v. 37).
Depois da conquista de Pompeu, os
fariseus, em sua maior parte, tomaram-se politicamente conformados. Embora
houvesse alguns zelotes destacando-se entre eles, os fariseus formavam um grupo
que procurava evitar conflitos com Roma, e somente depois de muita relutância
foram finalmente arrastados para a malograda revolta do ano 70 d.C. Depois da
destruição de Jerusalém, foram os fariseus que se incumbiram de recolher os
fragmentos da fé e da vida judaica e reconstruir o judaísmo que conhecemos por
meio dos escritos dos rabinos. A situação era análoga àquela que havia
prevalecido após o exílio na Babilônia; não havia uma nação judaica e a unidade
do povo expressava-se através da lei, da sinagoga e das boas obras. A esperança
escatológica não estava ligada à atividade revolucionária, mas à intervenção
divina, e isso em seu momento oportuno. Dessa forma, desde o ano 70 d.C. o
judaísmo tomou-se o rebento daquilo que previamente havia sido apenas um grupo
entre vários outros — os fariseus.
Se os Salmos de Salomão mostram o farisaísmo sob o seu melhor aspecto, o NT
mostra o que de pior havia nele. Na época de JESUS, parece que os fariseus
formavam um grupo de laicos (isto é, homens que nào eram sacerdotes), em que
alguns de seus membros haviam sido especialmente treinados no estudo das
Escrituras. Havia os escribas, e foi contra estes e contra os fariseus que o
Senhor JESUS dirigiu algumas de suas mais severas denúncias. O Senhor não
contestava categoricamente aquilo que aqueles homens ensinavam na sinagoga: “Na
cadeira de Moisés, estão assentados os escribas e fariseus” (Mt 23.2ss.); seus
ensinos deveriam ser seguidos. Mas eles eram hipócritas porque não viviam de
acordo com seus elevados padrões de justiça. Colocavam sobre o povo um jugo que
eles próprios não estavam dispostos a suportar (Mt 23.4) e faziam uso da
casuística para fugir ao espírito da lei, enquanto exigiam que ela fosse
cumprida à risca (Mt 23.16-22; cf. Mc 7.9-13). Osíariseus gloriavam-se em sua
justiça própria e só faziam boas obras para serem vistos pelos homens (cf. Mt
23.5-12; 6.1-6,16-18; Lc 18.9-14). João Batista havia chamado os fariseus de
“raça de víboras” que se apoiavam de forma complacente sobre a filiação deles à
Abraão (Mt 3.7ss.). O Senhor JESUS confirmou esse veredicto (Mt 23.33)
acrescentando que eram como “sepulcros caiados” (23.27) e filhos, não dos
“profetas e dos justos”, para quem haviam construído túmulos bem elaborados,
mas daqueles que haviam assassinado esses mesmos profetas e homens justos,
desde Abel até Zacarias (23.29-36). Eram “condutores cegos” de outros cegos,
que procuravam encontrar muitos prosélitos, mas na realidade deixavam os homens
fora do Reino dos céus (Mt 15.14; 23.13-15).
Esse pensamento do NT é bem conhecido,
mas não devemos nos esquecer de que naquela ocasião os fariseus eram vistos sob
uma luz um pouco mais favorável (por exemplo, Lc 7.36ss.; 13.3 lss.). Foram
atribuídas a Gamaliel (.q.v.) algumas das boas qualidades que Josefo encontrou
nos fariseus - moderação, renúncia a castigos severos, consciência da soberania
divina e também da responsabilidade humana (Act 5.33-39; cf. Josefo, Ant. xiii.
5.9; 10.6; Wars ii.8.14). Paulo tinha sido um fariseu antes de sua conversão e
aparentemente considerava esse grupo como a mais elevada expressão da “justiça
que há na lei” (Fp 3.4-6; cf. Gl 1.14). Também nào devemos nos esquecer de que
mesmo sendo denunciados por JESUS, os fariseus eram capazes de pesquisar e de
fazer uma rigorosa autocrítica. O Talmude descreve, de forma jocosa, sete
classes de fariseus. Entre eles existiam os “fariseus de ombro” que levavam as
suas boas obras em seus ombros, para que pudessem ser vistos pelos homens; os
“fariseus pilão”, cuja cabeça era curvada como o pilão em um almofariz como um
sinal de falsa humildade. Porém,
existiam aqueles que verdadeiramente amavam a DEUS, e que eram como Abraão
(veja, por exemplo, Ber. 9,14b; Sot. 5,20c; Sot. 22b, explicados de forma muito
conveniente na obra de C. G. Montefiore e H. Loewe A Rabbinic Anthology, p.
1385).
Uma definição do farisaísmo poderia
começar insistindo que ele era legal, mas não literal. Era uma religião que
“construiu uma cerca em volta da lei” (Pirke Aboth 1.1), selecionando os
regulamentos legais do AT, muitos dos quais eram dirigidos aos sacerdotes
levitas e tornando-os relevantes e aplicáveis a cada judeu. Isso foi feito
através de seu sistema de interpretação oral da tradição. Eles levaram a lei ao
alcance de cada homem, de forma que em um sentido diferente de Martinho Lutero,
o farisaísmo representou o *sacerdócio do crente”. Para o fariseu sincero, a
lei não representava uma “letra morta”, como havia sido explicada e
interpretada pelos escribas, mas a sua própria vida.
Então, por que o Senhor JESUS denunciou o farisaísmo? Em parte pOT causa da
hipocrisia de alguns de seus representantes, que “diziam, mas não praticavam”
(Mt 23.3), e em parte porque o farisaísmo, em sua honesta tentativa de adaptar
a eterna lei de DEUS às mutáveis condições humanas, havia comprometido a justa
e absoluta exigência divina (Mt 15.3). Ao aplicarem a si mesmos e a seus
seguidores certos deveres exteriores, eles haviam realmente dado uma forma mais
fácil à justiça, um objetivo que seria alcançável através de uma certa
obediência, para que quando esses atos fossem realizados os fariseus pudessem
pensar que haviam feito tudo o que deles era exigido. Contra essa atitude,
JESUS disse que mesmo quando tais exigências tivessem sido cumpridas, o servo
de DEUS ainda não poderia permanecer seguro. A exigência ética ainda estava
presente; ele ainda seria um “servo inútil” (Lc 17.10). Portanto, JESUS disse
aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus,
de modo nenhum entrareis no Reino dos céus” (Mt 5.20). J. R. M. -
Dicionário Bíblico Wycliffe
PAULO - Visão Geral - Dicionário
Bíblico Wycliffe
Os estudos modernos sobre Paulo mais
uma vez enfatizam a presença da sua “judaicidade”. Esta impressão fica clara em
várias nuances do seu ambiente cultural. Alguns escritores - como W. D. Davies,
Paul and Rabbinic Judaism (1948); J, Munck, Paul and the Salvatíon of Mankind
(1959); H. J. Schoeps, Paul. The Theology of the Apostle in the Light of Jewish
Religious History (1961); e R. N. Longeneeker, Paul. Apostle of Liberty (1964)
- contribuíram para os trabalhos eruditos, e acabaram por estabelecer esta tese
para o presente. (A situação até 1960 foi brevemente pesquisada em E. E. Ellis,
Paul and His Recent Interpreters).
O próprio testemunho de Paulo,
certamente, aponta para esta direção. Um israelita circuncidado da tribo de
Benjamin, qne falava a língua aramaica em sua casa, herdeiro da tradição do
farisaísmo, estrito observador das exigências da Torá, e mais avançado no
judaísmo do que seus contemporâneos, era o primeiro e o mais proeminente entre
OS judeus (Fp 3.5,6; Gl 1.14). Estas qualidades estavam tão enraizadas na sua
alma, que até mesmo quase no final de sua vida, ele falaria com um honesto
apreço daquela herança. Mais de 20 anos depois de sua conversão cristã, ele
dizia: “Eu sou fariseu, filho de fariseu! No tocante à esperança e ressurreição
dos mortos sou julgado!” (Act 23.6). Mesmo depois desta afirmação, ele declarou:
“Sirvo ao DEUS de nossos pais, crendo tudo quanto está escrito na Lei e nos
Profetas” (Act 24.14).
Contudo, ele era um judeu da
Dispersão, nascido em Tarso da Cilícia, um lugar que não era insignificante
(Act 21.39), Quando criança viveu no meio da cultura grega, um lugar de
educação e comércio. “Era a cidade cujas instituições reuniam melhor e mais
completamente, o caráter oriental e ocidental” (Ramsay, Cities, p. 88).
Tal ambiente provavelmente acarretou alguns problemas para um judeu. Primeiro,
ele seria membro de uma minoria, e até certo ponto, um grupo desprezado. Sua
lealdade obstinada às idéias da sua religião incitaria o povo de Tarso aos
insultps (cf. Schonfield, The Jew of Tarsus, p. 33). E fácil admitir que a
defesa altamente desenvolvida de Paulo, tão evidente nas epistolas, teve suas
raizes nestes dias. Segundo, um judeu seria confrontado com o problema do
relacionamento social com os gentios. Entre os judeus, principalmente os
fariseus eram sensíveis, embora n&o necessariamente hostis a tais contatos.
Toda esta área de sua vida tão enfatizada nas cartas, deve ter sido, eventual
mente, pensada por Paulo com muito cuidado. E é mérito seu ter desenvolvido um
espírito de parentesco com estes ״estranhos'’. Ele aprendeu a entendê- los a ponto de poder dizer:
“Fiz-me tudo para todos” (1 Co 9.22).
A idéia que se tem, é que Paulo teve
uma vida bastante comum neste ambiente, até pelo menos sua adolescência antes
de ir para Jerusalém e ser educado por Gamaliel (Act 22.3). Mas nos últimos
anos, esta conjectura levou um sério golpe segundo o estudo cuidadoso de Unnik,
Tarsus or Jerusalém. The City of PauTs Youth (1962). De acordo com este
trabalho, a tríade das palavras: (1) “nascido”, (2) “criado” e (3)
"instruído” (Act 22.3) era uma ordem literária única (veja também Atos
7.20- 22i, indicando que enquanto o lugar de nascimento de Paulo foi Tarso, sua
criação, tanto em casa como na escola, foi em Jerusalém. Sustentando esta
conclusão com muitas evidências vindas da literatura antiga, van Unnik arrisca
a hipótese de que a mudança de Tarso “ocorreu bem cedo na vida de Paulo,
aparentemente antes que ele começasse a espiar pela fechadura e, certamente,
antes de perambular pelas ruas” (p. 54).
Será que tudo isso significa que
Paulo teve poucas oportunidades de Tealmente aprender do mundo grego em que
nasceu? De modo algum; isto significa que algumas atitudes básicas em relação à
vida ficaram, bem cedo, impregnadas em sua mente. Depois de sua conversão,
Paulo passou um período de 8 a 10 anos na Síria e Cilícia (veja Gl 1.21—2.1;
cf. Act 9.30) enquanto adulto, e assim tornou-se profundamente consciente da
cultura do mundo em que vivia. Estes foram anos de preparação paTa aquele
ministério em qne ficou conhecido como o “apóstolo dos gentios”.
Além destes aspectos da sua vida, um outro está enfatizado diretamente em Atos,
e está implícito nas epístolas. Ele era um cidadão romano (Act 16.37-39;
22.25-28), e esta foi uma posse premiada, porque se estimava que um a dois
terços da população do império romano era da classe dos escravos e, portanto,
sem cidadania romana. Paulo reconheceu o valor de ambas as cidadanias, a de
Tarso (Act 21.39) e a romana (Act 22.2528־). É interessante notar a diferença na estimativa
destas respectivas cidadanias aos olhos do capitão romano Cláudio Lísias. A
primeira apenas estabeleceu o fato de que Paulo não era um egípcio (Act 21.38);
a segunda lhe deu uma imunidade aos açoites.
Paulo aparentemente herdou sua
cidadania romana de sen pai: “Eu na verdade nascí (um cidadão)”. O pai do
apóstolo deve ter recebido sua cidadania por ter prestado algum serviço
relevante ao governo romano. Alguns dos privilégios contidos nesta cidadania
eram: (1) a garantia do julgamento (perante César, se exigido, cf. Atos 25.11)
nos casos de acusação; (2) imunidade legal dos açoites antes da condenação (ao
contrário do caso do Senhor JESUS, Mt 27.24-26); e (3) imunidade em relação à
crucificação, a pior forma de pena de morte, no caso ae condenação.
Nestas epístolas, Paulo não só defendeu fortemente a manutenção da lei e da
ordem (o fundamento do governo romano), mas também se referiu freqüentemente à
cidadania. Os crentes em CRISTO já não são “estrangeiros, nem forasteiros, mas
concidadãos dos santos” (Ef 2,19). Sua cidadania era do céu (Fp 3.20). A
palavra aparece novamente em Filipenses 1,27, e podería ser literalmente
traduzida da seguinte forma: “Cumpram suas obrigações como cidadãos”
(Lightfoot). Tal ênfase era particularmente significativa aos destinatários da
carta aos filipenses, porque a cidade era uma colônia romana (Act 16.12); e
eles, sem dúvida, lembravam-se de que Paulo havia ali apelado para sua
cidadania romana.
Conversão
Em sua carta aos Gálatas, Paulo
referiu-se a seu modo de vida anterior no judaísmo, e como “sobremaneira
perseguia a Igreja de DEUS e a assolava” (Gl 1.13). Naquela hora ele acreditava
que ao seguir aquele caminho, estava servindo a DEUS e mantendo a pureza da
lei. A passagem em Gaiatas 1.15 não mostra nenhuma indicação de ter havido um
intervalo neste esforço de agradar a DEUS durante a época da sua conversão. E
em Filipenses 3.6 ele mostrava sua “perfeição quanto à justiça que há na lei”.
Enquanto as narrativas em Atos, assim como as notas nas cartas, parecem indicar
sua “súbita” conversão, alguns argumentam que certas experiências devem tê-lo
preparado previamente. Seu consentimento na morte de Estêvão (Act 7.58-8.1), e
o fervor da sua campanha de casa em casa contra aqueles do Caminho (Act 8.3;
9.1,2; 22.4; 26.10,11) dificilmente não o afetariam; sua furiosa jornada em
direção a Damasco representou o clímax dos seus esforços.
De qualquer modo, há dois elementos
na história que são claros: (1) Paulo estava convencido de que tinha visto o
Senhor ressurrecto; e, (2) Sua vida foi radicalmente mudada daquele dia em
diante. A base da sua afirmação para o apostolado reside naquela experiência.
Mais uma vez ele insiste nisso (veja 1 Co 9.1; 15.8-15; Gal 1.15-17; cf Act
9.3-8; 22.6-11; 26.12-18). Visto que ele não era um dos doze discípulos, e não
tinha nem um chamado do Senhor JESUS, e tinha perseguido seus seguidores, a
necessidade da revelação pessoal de CRISTO para Paulo parece visível.
LUTANDO CONTRA DEUS - A
VIDA E OS TEMPOS DO APÓSTOLO PAULO - A Vida E Os Tempos Do Apostolo
Paulo Charles Ferguson Ball
Crescimento Contínuo da
Igreja Perseguida
Quanto mais os líderes judeus tentavam
esmagar a Igreja, mais atiçavam-lhe a chama. A ressurreição do Senhor dera ao
povo a esperança e a segurança que antes não existiam. Todos os anseios de
Israel, profecias, sacrifícios e esperanças foram cumpridos em JESUS. Contudo,
a nação perdera a sua maior oportunidade, rejeitando-o. Esse Evangelho, hoje
tão evidente para milhões de cristãos, estava apenas brotando no coração dos
judeus.
Com a pregação do Evangelho, muitos
estavam vendo, pela primeira vez, o cumprimento de suas esperanças. Presos pela
terceira vez, os discípulos foram reconduzidos ao Sinédrio, sob a acusação de
haverem desobedecido à ordem de não pregar. Pedro colocou-se corajosamente
diante do grupo e, em sua defesa, proclamou de novo a ressurreição de CRISTO,
responsabilizando os membros do Conselho pela sua morte.
Ofendidos com tais palavras, eles
pediram a morte dos discípulos. Finalmente poderiam acabar com aquela seita,
silenciando-lhe os principais pregadores e líderes. Com calma e bom senso, Gamaliel,
o famoso rabino que instruíra a Saulo de Tarso, advertiu o Conselho. Lembrou-
lhe de que outrora DEUS levantara profetas que, embora rejeitados pelo povo,
haviam cumprido fielmente a sua missão. Aconselhou-os, pois, a soltarem os
discípulos. Se a mensagem que pregavam fosse de DEUS, nem o Sinédrio poderia
destruí-la; e se não o fosse, a seita desapareceria como tantas outras no
passado. Sua conclusão foi tão amorosa quanto sábia. Após açoitar os
discípulos, o Conselho os deixou ir com uma advertência.
A medida que a Igreja crescia e a
perseguição aumentava, também elevava-se o número de necessitados. Os apóstolos
perceberam então que quase não lhes sobrava tempo para outra coisa senão para
socorrer os mais carentes. A fim de terem mais tempo para a oração, pregação e
o ensino (doutrina), indicaram sete diáconos para atender aos pobres. Esse foi
o início da organização do ministério eclesiástico. DEUS abençoou a iniciativa
dos apóstolos, usando-a para fortalecer o seu povo.
O Ódio do mundo
Como nunca foi popular ser um
verdadeiro cristão, os seguidores de JESUS passaram a ser odiados e rejeitados
pela sociedade. Eram demitidos de seus empregos e tinham dificuldade em
garantir o seu sustento. Como sempre houvesse necessitados, agrupavam-se para
se protegerem e se encorajarem mutuamente. Naqueles primeiros dias, o amor e o
desprendimento eram tão reais, que muitos vendiam seus bens e traziam o
dinheiro para o fundo comum a fim de socorrer os menos afortunados. Barnabé se
destacou como lado positivo e Ananias e Safira como lado negativo, neste tão
importante negócio.
Ondas de ódio e perseguição
sucediam-se ameaçando a Igreja. Alguns membros eram tão fracos em suas
convicções que, pensando apenas na segurança e conforto pessoais, voltaram para
o Judaísmo. A maioria, contudo, permaneceu sólida como as rochas em dias de
tempestade.
Cada vez que o braço armado do inimigo se erguia, DEUS suscitava outros heróis
para levar adiante a sua obra. Quando Herodes, ao perseguir a Igreja, mandou
que se degolasse a Tiago, irmão de João, julgou ter extinto para sempre o
trabalho do Senhor. Mas o relato da história, feito por Lucas em Atos,
encerra-se com esta afirmação: "Entretanto a palavra do Senhor crescia e
se multiplicava" (At 12.24).
Quanto maior a perseguição, maior o
crescimento da Igreja. Muitas vezes, os cristãos tiveram de adorar a DEUS em
segredo, mas nunca vacilavam. Quando
algum pregador era preso, os outros reuniam-se para orar. O Senhor sempre lhes
ouvia as orações, abençoava o seu povo, e usava as dificuldades para fortalecer
a Igreja (como o caso da prisão de Pedro e sua soltura milagrosa).
O Cristianismo contudo não ficou
restrito a Jerusalém. Os que ouviram a pregação de Pedro, no Dia de
Pentecostes, procediam de todo o Império Romano. E levaram as boas novas do
Evangelho aonde quer que fossem.
LUTANDO CONTRA DEUS
Quando ainda estava em Tarso, Saulo
ouvira várias histórias sobre JESUS. Algumas eram fantasiosas, pois as
histórias costumam desvirtuar-se quando transmitidas oralmente. Muitos dos
amigos da sinagoga haviam assistido as festas em Jerusalém, e sabiam o que
estava acontecendo no Templo. Na sua volta, Saulo e os principais da sinagoga
foram informados sobre o impostor de Nazaré, e ficaram enfurecidos com a idéia
de que alguém havia tido a coragem de profanar os pátios da Casa de DEUS com um
ensino tão blasfemo. Além disso, tal homem não tinha o direito de ensinar, pois
não aprendera com os rabinos. Todavia, todos que o ouviam, confirmavam: ninguém
jamais dissera palavras de tanta sabedoria - nem mesmo os grandes rabinos.
Ficou evidente para Saulo que JESUS
não podia ser o Messias por ter acusado os doutores da Lei, opondo-se às as
suas regras. Ouvira dizer também que JESUS ensinava o povo a desobedecer aos
rabinos, provocando tamanhos tumultos nas sinagogas que todo o verdadeiro judeu
acabou por considerá-lo inimigo de Israel.
Quando chegaram as notícias de que
JESUS fora preso, julgado e crucificado, todos agradeceram a DEUS: o
blasfemador enfim fora silenciado. Ficava provado, pois, que Ele não passava de
mais um falso messias, que tudo fizera para conturbar a religião judaica. Saulo
e os demais fariseus aplaudiram a crucificação de JESUS. Não podiam perdoar
aquEle que, ousadamente, os havia chamado de víboras e hipócritas.
Saulo não se considerava hipócrita. Seu objetivo era ser um judeu melhor e
obedecer a todas as regras dos grandes rabinos. Na sua opinião, essa era a
única maneira de se agradar a DEUS. Por isso, quem se opunha à antiga ordem
merecia morrer. Foi com um grande alívio que os principais da sinagoga de Tarso
ouviram que JESUS fora finalmente tirado do caminho, e os seus ensinamentos
interrompidos de vez. Segundo diziam, a justiça divina havia sido feita.
Imagina quantos bullying's Arimateia e Nicodemus surportaram!
Sua indignação, porém, chegou ao
ponto de ebulição ao saberem que os seguidores do Nazareno não haviam sido
dispersos, mas reuniam-se em pequenos grupos para adorar a JESUS, declarando
ter Ele ressurgido dos mortos. Resolveram então fazer o possível para lutar
contra a perigosa seita. Notícias chegadas de Jerusalém davam conta de que
alguns fariseus haviam deixado a verdade e se juntado aos nazarenos. Membros da
seita podiam ser encontrados também pregando abertamente nos pátios do Templo e
nas sinagogas, convencendo a todos de que JESUS era o Messias. E milhares criam
neles. Isso tornara-se uma grande ameaça, pois até alguns sacerdotes estavam
abandonando a velha ordem para seguir a JESUS. De igual modo, iam os nazarenos
pelas ruas da cidade, conversando com o povo em suas casas, persuadindo-os a
juntarem-se a si.
Saulo sentia raiva ao pensar neles.
Ouvira dizer que alguns de seus líderes haviam sido apanhados e levados diante
do Sinédrio por haverem falado abertamente no Templo, e que seu velho mestre,
Gamaliel, mostrara-se complacente e até recomendara o relaxamento de sua
prisão. Ele sentiu-se irritado com Gamaliel. Como poderiam manter pura a
religião de Israel se permitissem que qualquer um alegasse ser o Messias? Não
havia dúvidas de que os seguidores de JESUS mereciam a morte. O Conselho
deveria ter eliminado para sempre tal ameaça. Se o Messias havia chegado, por
que Roma contuava a escravizá-los?
Paulo, o maior líder do
cristianismo - Editora Hagnos
Capítulo 02 - Um
perseguidor implacável
O zelo sem entendimento pode ser uma arma perigosíssima. Muitos crimes
hediondos têm sido praticados em nome de DEUS. Com Paulo, não foi diferente.
Ele foi um perseguidor implacável (Gl 1.13). Ele usou sua influência e força
para esmagar os discípulos de CRISTO. Perseguiu CRISTO (Atos 26.9), a religião
de CRISTO (Atos 22.4) e os seguidores de CRISTO (Atos 26.11).
Paulo foi o mais severo perseguidor da igreja em seus albores. Olhando pelo
retrovisor, fazendo uma retrospectiva do seu passado, escreveu a Timóteo: “a
mim, que, noutro tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente...” (1Tm
1.13). Ele feria os cristãos com a língua e com os punhos. Fazia isso com
arrogância e soberba. Usava os instrumentos legais e também a truculência
física.
Paulo é visto como perseguidor
Ressaltamos, aqui, alguns pontos importantes:
Paulo via a si mesmo como perseguidor. Ao escrever à igreja de Corinto, diz que se
considerava o menor dos apóstolos e até não era digno de ser chamado
apóstolo, uma vez que havia perseguido a igreja de DEUS (1Co 15.9). Escrevendo
aos gálatas, testemunha: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora
no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de DEUS e a
devastava” (Gl 1.13). Diante do povo de Jerusalém, confessou: “Persegui
este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens
e mulheres” (Atos 22.4). Diante do rei Agripa, ele testemunhou: “Na
verdade, a mim me parecia que muitas cousas devia eu praticar contra o
nome de JESUS, o Nazareno; e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu
recebido autorização dos principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas
prisões; e contra estes dava o meu voto, quando os matavam. Muitas vezes,
os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar. E,
demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os
perseguia” (Atos 26.9-11).
CRISTO o viu como perseguidor. Quando
Paulo, enfurecidamente, ia para Damasco com o propósito de manietar e trazer
amarrados os discípulos de CRISTO para Jerusalém a fim de lançá-los na
prisão, CRISTO apareceu-lhe, de maneira gloriosa, na estrada de Damasco,
perguntando-lhe: “... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é
recalcitrares contra os aguilhões” (Atos 26.14). Perseguir
a igreja é perseguir CRISTO. Perseguir os membros do Corpo é
perseguir a Cabeça do Corpo. Perseguir a noiva é perseguir o Noivo. Paulo
não estava apenas se levantando contra homens, mas contra o próprio DEUS.
Aqueles que ferem os santos de DEUS tocam na menina dos olhos de DEUS.
O povo de Damasco o viu como
perseguidor. O zelo sem entendimento pode levar um homem a fazer
loucuras. Paulo atacou furiosamente os cristãos. Ananias, morador de Damasco,
disse ao Senhor acerca dele: “... Senhor, de muitos tenho ouvido a
respeito desse homem, quantos males tem feito aos teus santos em
Jerusalém; e para aqui trouxe autorização dos principais sacerdotes
para prender a todos os que invocam o teu nome” (Atos 9.13,14). O mesmo
aconteceu logo que começou a pregar em Damasco. A reação do povo foi imediata:
“Ora, todos os que o ouviam estavam atônitos e diziam: Não é este o que
exterminava em Jerusalém os que invocavam o nome de JESUS e para aqui veio
precisamente com o fim de os levar amarrados aos principais sacerdotes?” (Atos
9.21).
Os discípulos de Jerusalém o viram
como perseguidor. Quando Paulo fugiu de Damasco e foi para Jerusalém
com a intenção de ser acolhido pelos discípulos, eles não acreditaram nele.
Pensaram que se tratava de mais um estratagema para perseguir os cristãos.
Lucas relata esse fato assim: “Tendo chegado a Jerusalém, procurou
juntar-se com os discípulos; todos, porém, o temiam, não acreditando que
ele fosse discípulo” (Atos 9.26).
Paulo é um perseguidor cruel e resistente
Duas descrições metafóricas ilustram
a crueldade das perseguições de Paulo aos cristãos.
Primeiro, ele é visto como uma fera
selvagem. A igreja em Jerusalém foi duramente perseguida, e muitos cristãos
fugiram, pregando o evangelho (Atos 8.1-4). Alguns deles foram para Damasco.
E agora, Paulo, ainda respirando ameaças e morte contra os discípulos do
Senhor, dispõe-se a ir a Damasco para manietar, prender e arrastar presos
para Jerusalém aqueles que professavam o nome de CRISTO (Atos 9.1,2). Ele
queria destruir os crentes em Jerusalém, por isso os caçava por toda parte, para
trazê-los de volta a Jerusalém e ali os exterminar.
Essa expressão “respirando ameaças e
morte” literalmente é a mesma para descrever uma fera selvagem que furiosamente
extermina o corpo de uma presa. Na linguagem dos crentes de Damasco, Paulo
era um exterminador (Atos 9.21). Paulo era um monstro celerado, um
carrasco impiedoso, um perseguidor truculento, um tormento na vida dos
cristãos primitivos.
A expressão “respirando ainda ameaças
e morte” era também uma alusão ao arfar e ao bufar dos animais selvagens. Paulo
parecia mais um animal selvagem do que um homem. Em suas
próprias palavras, ele estava “demasiadamente enfurecido” (Atos 26.11).
Nada é mais perigoso do que o radicalismo religioso sem entendimento.
Muitas “guerras santas” já foram declaradas por causa dessa atitude
ensandecida. Milhares de pessoas já morreram em nome de DEUS para sustentar
essa causa inglória. Muito sangue já foi derramado para satisfazer os
caprichos desses religiosos dominados pelo zelo sem entendimento.
A expressão “respirando ameaças e morte” descreve também uma fera selvagem
saltando sobre a presa para devorá-la. Paulo era uma fera selvagem, uma ameaça
concreta para todos aqueles que confessavam o nome de JESUS. Não poupava
homens nem mulheres. Perseguiu a religião do Caminho até a morte (Atos
22.4). Estava determinado a praticar muitas coisas contra o nome de JESUS,
o Nazareno (Atos 26.9). Ele estava determinado a banir da terra o cristianismo.
Não podia aceitar que um nazareno, crucificado como um criminoso, pudesse
ser o Messias prometido de DEUS. Não podia aceitar que os cristãos
anunciassem a ressurreição daquele que havia sido dependurado numa cruz.
Não podia crer que uma pessoa pregada na cruz e,
consequentemente, considerada pecadora e maldita pudesse ser o Salvador do
mundo.
Segundo, ele é visto como um touro
bravo. O Senhor JESUS, mesmo sendo perseguido por Paulo, não abriu mão de
sua vida. A fúria de Paulo pelo nome de JESUS, o Nazareno, não anulou
o propósito eletivo de DEUS, que escolheu Paulo antes mesmo de ele nascer
e o separou para o ministério. Paulo mesmo testemunhou esse fato: “Quando,
porém, ao que me separou antes de eu nascer e me chamou pela sua graça,
aprouve revelar seu Filho em mim...” (Gl 1.15,16). Um touro bravo é
amansado pelo aguilhão. O Senhor começou a ferroar sua consciência, ao mostrar
como aqueles discípulos presos, torturados e mortos morriam com
serenidade. O algoz estava furioso, mas as vítimas morriam cantando e
orando.
Quando Estêvão foi apedrejado em
Jerusalém, e se derramava o seu sangue, Paulo consentia em sua morte e guardava
as vestes daqueles que o apedrejavam (Atos 22.20). Paulo, porém, recusava-se
a ceder mesmo diante desses aguilhões. Como uma fera selvagem, dirigiu-se
a Damasco. Respirava ameaças e morte (Atos 9.1). Seu prazer era matar em
nome de DEUS aqueles que abraçavam a fé cristã. JESUS então aparece-lhe em
refulgente glória no caminho de Damasco, derruba-o ao chão e lhe pergunta:
“... Saulo, Saulo, por que me persegues? Dura cousa é recalcitrares contra
os aguilhões” (Atos 26.14). O boi bravo, enfim, estava no chão, subjugado,
manso, domado (Atos 9.3-5). Uma força maior do que seu ódio entrou em seu
peito. Uma luz maior do que seu zelo o dominou. Aquele a quem ele
perseguia com todas as forças da sua alma, agora conquista seu
coração. Quebrado e submisso, ele pergunta: “Quem és tu, Senhor?”. E o
Senhor responde: “Eu sou JESUS, a quem tu persegues” (Atos 26.15).
Em primeiro lugar, Paulo
perseguia os cristãos usando o recurso da lei.
Paulo é um perseguidor violento
A Bíblia faz descrições dos variados
métodos usados por Paulo para perseguir os discípulos de CRISTO. Vamos
analisar esses métodos.
Paulo usava sua influência e seu trânsito no
sinédrio para munir-se de cartas de autorização dos principais sacerdotes a fim
de encerrar em prisões e matar os cristãos (Atos 26.10). Sua perseguição
tinha um ar de legalidade e oficialidade. Ele representava o braço
repressor da lei religiosa. Ele lançava mão de artifícios legais para
impor aos discípulos de CRISTO as mais duras sanções. É importante ressaltar
que nem tudo o que é legal é moral. Nem tudo que é lícito é conveniente.
Nem tudo o que a lei permite deve ser feito. Há muitos facínoras que se
escondem atrás da lei para matar e oprimir os inocentes. Há muitos
espertalhões que, despudoradamente, beneficiam-se das filigranas da lei para se
abastecerem e oprimirem o pobre. Há aqueles que fazem as leis, torcem-nas
e as manipulam para alcançar seus propósitos escusos e inconfessos.
Em segundo lugar, Paulo perseguia os
cristãos em seus redutos religiosos.
Paulo perseguia e castigava os cristãos por
todas as sinagogas em Jerusalém, bem como por cidades estranhas (Atos 26.11).
Sua área de jurisdição transcendia os limites da Palestina. Suas cruzadas
furiosas avançavam além dos limites de Israel e chegavam até Damasco, na
Síria (Atos 9.1,2). As sinagogas eram os locais principais de reunião,
onde os judeus se congregavam para estudar a lei e orar. Ali também
os cristãos se reuniam para adorar CRISTO e cultuá-lo. O lugar de comunhão
transformou-se num palco de opressão. O abrigo da sinagoga tornou-se um
corredor de perseguição. Paulo não respeitava os recintos sagrados. Ele
pensava com isso estar prestando um serviço a DEUS.
Em terceiro lugar, Paulo empregava
a tortura psicológica.
A perseguição impetrada por essa fera
selvagem e por esse boi bravo não consistia apenas em sanções legais contra os
novos convertidos. Ele os castigava não apenas fisicamente, mas também
psicologicamente. Ele mesmo testemunha: “Muitas vezes, os castiguei por todas
as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar...” (Atos 26.11). Ele era
blasfemo (1Tm 1.13) e forçava os neófitos a blasfemarem. Alguns crentes, novos
na fé, com medo da morte, recuavam e blasfemavam. Outros, porém,
suportavam os açoites, as prisões e a morte, permanecendo fiéis (Atos
26.10). A tortura psicológica é pior do que o castigo físico. Os campos de
concentração nazistas usaram esse artifício maldito e levaram muitas pessoas à
loucura. Ainda hoje, a tortura é um dos instrumentos mais aviltantes e
ignominiosos, usados para arrancar confissões e declarações que incriminam
as vítimas ou aqueles que se quer condenar.
Em quarto lugar, Paulo empregava a
tortura física.
Em sua carta aos Coríntios, Paulo diz que
perseguiu a igreja de DEUS (1Co 15.9). Aos crentes da Galácia, seu relato é
ainda mais contundente: “Porque ouvistes qual foi o meu proceder outrora
no judaísmo, como sobremaneira perseguia eu a igreja de DEUS e a
devastava” (Gl 1.13). Nessa perseguição, usou vários métodos:
Ele caçava os crentes por todas as partes. Paulo era um caçador implacável
(Atos 9.2; 22.5; 26.9). Ele não se contentou apenas em perseguir os cristãos em
Jerusalém; caçava-os por todas as cidades estranhas. Agora, escoltado por
uma soldadesca do sinédrio, marcha para Damasco, capital da Síria, para
prender os cristãos e levá-los manietados para Jerusalém (Atos 9.2). Seu
propósito em prender os cristãos em Damasco era trazê-los para Jerusalém e
puni-los, exatamente no local onde eles afirmavam que JESUS havia ressuscitado
(Atos 22.5). Sua intenção não era apenas castigar os cristãos, mas jogar
uma pá de cal no cristianismo.
Seu ódio, na verdade, não era propriamente contra os cristãos, mas contra
CRISTO. Ele testemunha ao rei Agripa: “Na verdade, a mim me parecia que muitas
coisas devia eu praticar contra o nome de JESUS, o Nazareno” (Atos 26.9).
Escrevendo a seu filho Timóteo, Paulo testemunha: “a mim, que, noutro
tempo, era blasfemo, e perseguidor, e insolente...” (1Tm 1.13).
Paulo, ao perseguir a igreja, estava perseguindo o próprio CRISTO. Por isso,
quando JESUS aparece-lhe no caminho de Damasco, pergunta: “Saulo, Saulo, por
que me persegues?” (Atos 9.4). Ele então indaga: “Quem és tu, Senhor?”. E a
resposta foi: “Eu sou JESUS, o Nazareno, a quem tu
persegues” (Atos 9.5).
Diante do sinédrio, Paulo disse: “Persegui
este Caminho até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e
mulheres” (Atos 22.4). O povo de Damasco, ao ouvir a pregação de Paulo,
logo depois da sua conversão, reafirma como Paulo perseguiu de forma implacável
os crentes: “... Não é este o que exterminava em Jerusalém os que
invocavam o nome de JESUS e para aqui veio precisamente com o fim de os levar
amarrados aos principais sacerdotes?” (Atos 9.21).
Em quinto lugar Ele manietava os
crentes.
Ao entrar nas sinagogas,
Paulo não apenas dava ordem de prisão aos crentes, mas os amarrava e os levava
assim aos principais sacerdotes (Atos 9.21). Ele corrobora: “... e ia para
Damasco, no propósito de trazer manietados para Jerusalém os que também lá estivessem, para
serem punidos” (Atos 22.5).
Em sexto lugar Ele encerrava os
crentes em prisões.
O propósito de Paulo em ir
a Damasco era descobrir lá alguns crentes a fim de levá-los presos para
Jerusalém (Atos 9.2). Ele diz ao povo de Jerusalém: “Persegui este Caminho
até à morte, prendendo e metendo em cárceres homens e mulheres” (Atos
22.4). Depois de sua conversão, quando DEUS o mandou sair de Jerusalém,
Paulo tentou argumentar com DEUS, dizendo: “... Senhor, eles bem sabem que
eu encerrava em prisão [...] os que criam em ti” (Atos 22.19).
Em sétimo lugar Ele açoitava os
crentes.
Paulo não somente
acorrentava e prendia os cristãos, mas também os castigava fisicamente (Atos
22.5). Ele disse: “... Senhor, eles bem sabem que eu [...] açoitava os
que criam em ti” (Atos 22.19). Diante de Agripa, Paulo declara: “Muitas
vezes, os castiguei por todas as sinagogas, obrigando-os até a blasfemar.
E, demasiadamente enfurecido contra eles, mesmo por cidades estranhas os
perseguia” (Atos 26.11). Paulo era um carrasco, um homem
truculento, selvagem, bárbaro, um monstro celerado em seu zelo
ensandecido.
Em oitavo Ele matava os crentes.
Paulo não apenas caçava os
crentes como uma fera selvagem caça a sua presa, como também os devorava. Ele
não apenas os acorrentava, prendia e açoitava, mas também os matava. Ele
devastava a igreja. Sempre que o sinédrio deliberava sobre a morte dos
crentes encerrados em prisão, Paulo dava seu voto para que fossem mortos.
Diz ele: “e assim procedi em Jerusalém. Havendo eu recebido autorização dos
principais sacerdotes, encerrei muitos dos santos nas prisões; e contra
estes dava o meu voto, quando os matavam” (Atos 26.10). Diante da
multidão amotinada de Jerusalém, Paulo testemunhou: “Quando se derramava o
sangue de Estêvão, tua testemunha, eu também estava presente, consentia
nisso e até guardei as vestes dos que o matavam” (Atos 22.20).
Atos 8
1 - E também Saulo consentiu na morte dele [Estevão]. E fez-se, naquele dia,
uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram
dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos. 2 - E uns
varões piedosos foram enterrar Estevão e fizeram sobre ele grande pranto. 3 - E
Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres,
os encerrava na prisão.
A Perseguição Sofrida
pela Igreja - Atos 8:1-3 - Comentário Bíblico - Matthew Henry (Exaustivo)
AT e NT
Nestes versículos, temos:
I
Mais informações sobre Estêvão e sua morte. Como as pessoas reagiram a estes
acontecimentos: de diferentes formas, como geralmente se dá em tais casos, de
acordo com os diferentes sentimentos que as pessoas têm das coisas. Quando
JESUS estava prestes a deixar os discípulos, ele lhes disse: Em verdade, em
verdade eu vos digo que chorareis e vos lamentareis, e o mundo se alegrará (Jo
16.20, versão RA). Em conformidade com isto, aqui está: 1. A morte de Estêvão
alegrou muitas pessoas, mas uma em particular: Saulo (v. 1), que mais tarde foi
chamado Paulo. Ele consentiu na morte de Estevão, syneudokon – ele consentiu
nisso com prazer (este é o significado da palavra). Ele ficou contente com
isso. Ele alimentou os olhos com este espetáculo sangrento na esperança de que
acabaria com o crescimento do cristianismo. Temos razões para deduzir que Paulo
ordenou que Lucas inserisse esta informação para sua vergonha e glória da graça
livre. Portanto, ele se confessa culpado do sangue de Estêvão e o agrava com o
dado de que ele não o fez com pesar e relutância, mas com prazer e muita
satisfação, como os que não somente as fazem, mas também aprovam os que assim
procedem (Rm 1.32, versão RA). 2. A morte de Estêvão é pranteada por uns varões
piedosos (v. 2). Alguns eruditos entendem que essa nomenclatura (varões
piedosos) se refere aos prosélitos, entre os quais o próprio Estêvão
provavelmente se encontrava. Ou, pode ser considerada em sentido mais amplo. Os
varões piedosos eram certos membros da igreja que eram mais devotos e zelosos
que os demais. Eles foram recolher o cadáver contundido e abatido de Estevão e
lhe deram um sepultamento decente, provavelmente no Campo de Sangue que há
pouco tempo fora comprado para a sepultura dos estrangeiros (Mt 27.7,8). Eles o
enterraram solenemente e fizeram sobre ele grande pranto. Embora sua morte lhe
fosse muito benéfica e de grande serventia para a igreja, eles o lamentaram
como perda geral. Ele era muito bem qualificado para o serviço e utilíssimo
tanto como diácono quanto como defensor da fé. Quando pessoas desse nível
morrem, é mau sintoma não lhe serem prestados os respeitos devidos. Esses
varões piedosos fizeram as últimas homenagens a Estêvão: (1) Para mostrar que
eles não tinham vergonha da causa pela qual Estêvão sofreu e que também não
estavam com medo dos que se opunham a essa causa. Embora os inimigos tivessem
triunfado, a causa é causa justa e, no fim, será vitoriosa. (2) Para mostrar o
grande valor e estima que acolhiam por Estêvão, fiel servo de JESUS CRISTO, o
primeiro mártir do evangelho, cuja memória para sempre lhes será preciosa,
apesar da infâmia da sua morte. Eles visam a honrar aquele a quem DEUS honrou.
(3) Para testemunhar a crença e esperança que eles tinham da ressurreição dos
mortos e da vida no mundo vindouro.
II
Um relato da perseguição que a igreja
sofreu a partir do martírio de Estêvão. Quando a fúria dos judeus se
desencadeou com tamanha violência e intensidade contra Estêvão, ela não pôde
ser rapidamente contida ou exaurida. As Escrituras dizem que os sanguinários
têm sede de sangue, porque quando provam sangue têm ainda mais sede de sangue.
O leitor pensaria que as orações e consolações de Estêvão na hora da morte
teriam comovido os perseguidores, levando-os a ter uma opinião melhor dos
cristãos e do cristianismo; mas isso não ocorreu. A perseguição continuou,
porque ficaram mais exasperados quando viram que não poderiam sair vitoriosos.
E, como se esperassem ser muito veementes em favor do próprio DEUS, resolveram
prosseguir com a perseguição. Talvez porque ninguém caiu morto por apedrejar
Estêvão, o coração tenha ficado mais firme para fazer o mal. Pode ser também
que os discípulos se animaram a debater com eles ao observarem o testemunho de
Estevão, no final da vida. São possibilidades que os incentivariam a ser fiéis
a DEUS nesta grande perseguição. Observe:
1. Contra quem foi feita esta grande
perseguição: contra a igreja que estava em Jerusalém (v. 1) que, no mesmo
instante da sua implantação, foi perseguida, como JESUS afirmou que surgiriam
tribulação e perseguição por causa da palavra (Mt 13.21). JESUS predissera
especificamente que logo Jerusalém ficaria muito perigosa para os seus
seguidores, pois esta cidade era famosa por matar os profetas e apedrejar os
que lhe eram enviados (Mt 23.37). Pelo visto, nesta grande perseguição, muitos
foram mortos, pois Paulo reconhece que nessa época ele perseguiu este Caminho
até à morte (Atos 22.4) e, quando matavam os cristãos, ele punha seu voto
contra eles (Atos 26.10).
2. Quem foi enérgico nesta grande
perseguição. Ninguém foi tão zeloso, tão vigoroso, quanto Saulo (v. 3), o jovem
fariseu. Quanto a Saulo (já mencionado neste texto, e agora, outra vez, como
perseguidor notório), ele assolava a igreja. Ele fez de tudo para prejudicá-la
e arruiná-la. Ele não se importava com o dano que causava aos discípulos de
JESUS, e nem mesmo sabia quando parar. Seu objetivo era não menos que extirpar
de Israel o evangelho, para que não houvesse mais memória do seu nome (Sl
83.4). Ele era a ferramenta mais adequada que os principais dos sacerdotes
poderiam ter para servir aos seus propósitos. Ele era o informante-geral contra
os discípulos, o mensageiro do grande conselho a ser empregado para vasculhar
as reuniões e prender todos que fossem suspeitos de serem a favor do Caminho.
Tendo estudado desde pequeno, Saulo era um erudito, um cavalheiro, mas mesmo
assim não pensou que fosse indigno ser empregado no trabalho mais vil daquele
tipo. (1) Saulo entrava pelas casas (v. 3), não tendo dificuldade em arrombar
portas, de noite ou de dia, pois com esta finalidade era assistido por uma
força policial. Ele entrava em toda casa onde os discípulos de JESUS faziam
reuniões, ou em toda casa onde houvesse algum cristão, ou que ele pensasse
haver. Ninguém estava seguro em sua própria casa, ainda que fosse um castelo.
(2) Saulo puxava à força, com o maior desprezo e crueldade, homens e mulheres
(v. 3), arrastando-os pelas ruas, sem a mínima consideração pelo sexo mais
fraco. Ele se rebaixou ao ponto de tomar conhecimento do mais insignificante
que se corrompera com o evangelho; e isso de tão extremamente fanático que era.
(3) Saulo [...] os encerrava na prisão (v. 3) para serem julgados e mortos a
menos que renunciassem a JESUS. Alguns talvez foram forçados por ele a
blasfemar (Atos 26.11).
3. Qual foi o efeito desta grande
perseguição: Todos foram dispersos (v. 1), não todos os crentes, mas todos os
pregadores, que foram mais visados e contra quem foram emitidos mandados de
prisão para prendê-los. Eles, lembrando-se da regra de nosso Mestre (quando, pois,
vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra, Mt 10.23), se dispersaram por
comum acordo pelas terras da Judéia e da Samaria. Não tanto por medo dos
sofrimentos (pois Judéia e Samaria não ficavam muito longe de Jerusalém, mas se
eles aparecessem publicamente nesta cidade, como estavam determinados a fazer,
as tropas policiais dos perseguidores logo os localizariam), mas porque
entenderam que essa grande perseguição era indicação da Providência para que
eles se espalhassem. Eles fizeram um trabalho muito bom em Jerusalém, e agora
estava na hora de pensar nas necessidades de outros lugares. O Mestre lhes
dissera que seriam suas testemunhas primeiramente em Jerusalém, e depois em
toda a Judéia e Samaria e até aos confins da terra (Atos 1.8). Eles observaram
este método. A perseguição não nos afasta de nosso trabalho, mas pode ser
sugestão da Providência para trabalharmos em outro lugar. Todos os pregadores
foram espalhados, exceto os apóstolos, que, provavelmente, foram dirigidos pelo
ESPÍRITO a permanecer em Jerusalém por mais algum tempo. Os apóstolos foram,
pela providência especial de DEUS, escondidos da tempestade, e, pela graça
especial de DEUS, foram capacitados a enfrentar a tempestade. Eles permaneceram
em Jerusalém para que estivessem preparados para ir aonde sua ajuda fosse
necessária, pois os outros pregadores foram enviados para abrir caminho. JESUS
ordenou que os discípulos fossem para os lugares onde Ele planejava ir (Lc
10.1). Os apóstolos continuaram muito mais tempo juntos em Jerusalém do que se
imagina, tendo em vista a ordem e a comissão que receberam de ir por todo o
mundo e fazer discípulos de todas as nações (Mc 16.15; Mt 18.19, versão RA;
veja Atos 15.6; Gl 1.17). Mas o que foi feito pelos evangelistas que eles
enviaram foi considerado como se tivesse sido feito por eles.
Paulo, fariseu da diáspora - APOSTOLO PAULO, VIDA,
OBRA E TEOLOGIA - Editora Academia Cristã Ltda - J. Becker
Para determinar o ponto de vista teológico
de Paulo como judeu, faz sentido utilizar, como fio condutor, a única indicação
do Apóstolo a respeito de si mesmo acerca desse tema. Não há nenhum motivo que
possa levar a suspeitar de sua autodesignação como ex-fariseu, nem mesmo de
vê-la como alternativa a um Paulo apocalíptico, por mais certeza que se tenha
de que a cosmovisão de Paulo também tenha traços apocalípticos, como ainda será
demonstrado. Analisando as fontes judaicas a respeito do farisaísmo
contemporâneo a Paulo, portanto, do farisaísmo que se estende do tempo de
Herodes até a época da conquista de Jerusalém por Tito em 70/71 d.C., a
curiosidade histórica ficará mais decepcionada do que satisfeita. O rabinismo,
mais tarde, não só limitou drasticamente a tradição, como também a elaborou a
partir da ótica dos vencedores. Assim, o rabinismo, mais tarde, compreendeu a
si mesmo como sendo a única ortodoxia judaica e, por isso mesmo, desqualificou,
conseqüentemente, todas as outras correntes judaicas, sufocando grande parte
dessas tradições. Ele também apresentou a sua pré-história farisaica de tal
modo que ela, posteriormente, desembocasse diretamente na ortodoxia até
dissipar em boa medida o pluralismo, visível ainda esporadicamente no
farisaísmo anterior. Por fim, o rabinismo nem mesmo reconheceu essa história
como continuidade e desenvolvimento, conservando apenas antigas controvérsias e
antigos episódios que lhe pareciam importantes para a interpretação da Lei. Mas
qual era a importância e quanto eram típicas para aquela época tais tradições,
supondo que se lhes atribua confiabilidade histórica?
Quem refletir sobre isso não se surpreenderá
acerca da diversidade e contradição presentes nas apresentações mais recentes
do farisaísmo. Mesmo assim, algumas linhas mestras podem ser reconhecidas: tal
qual os essênios, também os fariseus têm sua origem no movimento assídico do
séc. II a.C. Na época de Paulo, eles já há muito tempo estavam reunidos em
corporações, com a finalidade de colocar o povo todo sob a ação santificadora
da Torá, mediante a observação da Lei. Embora a eles também pertencessem
sacerdotes e escribas, com certeza a maioria dos membros, contudo, era composta
por leigos, que eram mais ou menos dependentes da interpretação da Torá feita
pelos escribas. Indícios mostram que a uniformização da mentalidade farisaica é
um produto tardio da história. Há
para isso diversas indicações: na época herodiana, Hillel e Shammai, ambos com
suas escolas, estavam em controvérsia com uma interpretação da Lei que, por um
lado, era nomística e, por outro, orientada para a historicidade da vida.
Parece ainda que uma parte dos fariseus de orientação radical políticonacional
agiu, ao modo dos zelotas, entre Herodes e Tito, contra tudo o que fosse
estrangeiro, embora a maioria, provavelmente, tenha se restringido somente à
observância religiosa da Lei. Na
diáspora, por sua vez, alguns fariseus, entre outros grupos, devem ter
multiplicado o número de simpatizantes das sinagogas, i.e., os assim chamados
"tementes a DEUS", que eram adeptos do monoteísmo judaico, mas que
praticavam a circuncisão, bem como os prosélitos (Mt 23.25).
Todas
essas variações, mesmo assim, reconciliam-se na linha básica de orientação na
Lei como única norma de vida para todo o Israel. A compreensão da Lei, porém,
também passou por uma ovolução histórica, dentro da história geral do
farisaísmo. Isso tem a ver com a compreensão fundamental da Lei, com a
interpretação da promessa de vida da Torá e, enfim, com as ponderações legais.
Quanto ao primeiro ponto, a Lei, através da marcha vitoriosa do pensamento
sapiencial no judaísmo antigo, também para os fariseus havia sido identificada
com a sabedoria preexistente (Eclesiástico): A Torá era, pois, "o
instrumento, por meio do qual o mundo foi criado" (Aboth 3,14).
Como tal, tornou-se a lei interior de toda a
criação e da história, bem como norma de vida de cada existência humana: a Lei,
entendida sapiencialmente, conduz ao temor de DEUS (1.3) que devia ser
realizado mediante o cumprimento da Lei (1.17), sendo a Lei uma grandeza
unitária, na qual todos os mandamentos eram, no mesmo grau, expressão da
vontade da única majestade divina (2.1). De forma velada, essa concepção pode
ser reconhecida em Paulo, por exemplo, em Rm 1.18-3.20. A Lei, por sua vez,
prometia vida a quem a cumprisse. Os saduceus e os essênios concebiam ainda
essa vida prometida, na época do cristianismo primitivo, como vida terrena do
homem; enquanto o farisaísmo, ao contrário, ensinava, provavelmente desde o
séc. I anterior à era cristã, que esta vida teria uma continuação no mundo
vindouro, no início da qual haveria recompensa e castigo para o comportamento
humano em relação à Torá no mundo atual (Mc 12.18-27 par.; At 23.6-8; Aboth
2.1,7,16; 3.14-16). Com isso, uma concepção fundamental da apocalíptica judaica
antiga havia se tornado também parte da visão farisaica.
Desde
então, não só ocorreu a união entre farisaísmo e teologia sapiencial, como
também entre farisaísmo e apocalíptica. Também Paulo mostra viver numa compreensão
da realidade segundo a qual essa mesma realidade será substituída por outra,
vindoura e eterna, sendo o juízo divino a porta de entrada para a salvação
final (cf. infra). Percebe-se, nessas duas opções decisivas do farisaísmo, a
sua capacidade de abrir-se, na sua orientação fundamentalmente legal, para a
mudança histórica da época. Assim, certamente terá também assumido uma abertura
intelectual para o helenismo e, em conseqüência disso, terá assimilado a
situação de diáspora do judaísmo. Um bom exemplo para isso é o historiador
judeu Josefo (ca. de 37/38 até final do séc. I d.C.): oriundo da nobreza
sacerdotal saducéia, na juventude adere aos fariseus e toma parte da guerra
judaica na Galiléia, tornando-se prisioneiro romano, para, a partir de então,
ao lado de Tito, acompanhar o final da guerra, habitando depois em Roma, com
direito à cidadania romana e a uma renda anual. Sua obra literária dedica-se à
tentativa de conciliar judaísmo e cultura helenístico-romana, a partir de uma
base judaica.
A
Lei, porém, continha mandamentos diversificados, que deviam ser levados em
conta na prática. Aqui, novas pesquisas têm demonstrado que os fariseus se
empenhavam de modo especialmente intenso nisso, no sentido de que as leis de
pureza deviam ser observadas na vida diária de todo o povo, não se reduzindo
simplesmente ao papel de Torá sacerdotal. Com isso, estava estabelecida a
santificação ritual do quotidiano, como programa para todo o povo de Israel. Na
medida em que esse objetivo também foi assumido na diáspora helenista, estava
claramente demarcada a separação em relação a todos os não-judeus. Uma vez que
a santificação, como preservação - igualmente ritual - da própria identidade
como povo da aliança, constituía o motor da prática farisaica, torna-se compreensível
porque Paulo agiu de modo tão agressivo contra judeu-cristãos em Damasco,
enquanto estes viam essa fronteira com mais tolerância (cf. eap. 4.2).
Com
essas observações gerais a respeito do farisaísmo, limitamo-nos a caracterizar
o marco que condicionaria a consciência do judeu Paulo. Deve-se especificar
mais? Para isso, deve-se utilizar as outras cartas paulinas de um modo mais
conseqüente do que se costuma fazer. Isso quer dizer que quem procura por
materiais tradicionais e conceitos judaicos em Paulo, não deve ver nisso apenas
conhecimentos gerais cristãos a respeito do judaísmo, mas deveria interrogar,
até que ponto tais afirmações descrevem o próprio Paulo, relativamente à sua
antiga mentalidade judaica. É improvável que Paulo tenha desenvolvido sua visão
a respeito do judaísmo apenas após sua conversão. E bem mais provável que seu
juízo cristão do judaísmo, que sua descrição cristã do mesmo, bem como a
utilização de materiais judaicos, lenham suas raízes no período judaico do
Apóstolo. É praticamente impossível imaginar que ele tenha adquirido uma visão
do judaísmo somente após sua conversão. Antes, quando Paulo caracteriza o
judaísmo, basicamente está em jogo o seu próprio passado judaico. Aqui, aparece
uma diferença fundamental entre a análise das cartas de Paulo e a tradição
sinótica: nessa última, a história da tradição ocorreu em meio a um crescimento
anônimo; nas cartas paulinas, pode-se identificar um portador individual da
tradição. Nessa colocação do problema, é possível identificar, no próprio
Paulo, alguns aspectos claros de sua doutrina farisaica. Esses aspectos se
poderão atribuir ao judeu Paulo, com maior ou menor fundamento, segundo seu
grau de verificabilidade em fontes judaicas. Antes de qualquer discussão
específica, convém lembrar que as indicações contidas nos escritos paulinos
estão a nosso dispor em grego. Em nenhuma passagem, podemos comprovar
claramente, mediante a simples tradução para o aramaico, que Paulo houvesse
efetuado só posteriormente - sendo já cristão - uma transformação grega. Isso
leva à suposição de que Paulo tenha formulado essas afirmações em grego, ainda
quando era judeu. O que é mais um indício de que Paulo era fariseu da diáspora.
Isso também é confirmado pelo tema carregado de polêmica, a respeito do qual a
sinagoga da diáspora altercava o monoteísmo estrito, que aparecia como um
elemento único no mundo da religião romano-helenista, com a atitude sincera e
tolerante do helenismo.
O
único DEUS verdadeiro, como criador e juiz, está em confronto com os deuses (Rm
1.18s; lTs 1.9). Os deuses carecem de realidade e não possuem nenhuma
significação positiva. Eles são enquadrados como potências que perderam seu
poder, portanto, como demônios que, por exemplo, são venerados como deuses, mas
que nenhum culto merecem (lCo 8.4s; 10.18-22). Este culto é justamente o pecado
dos gentios, expressão de sua desobediência ao DEUS único. Isso leva,
decididamente, à pecaminosa perversão humana, que demonstra que o mundo dos
deuses pagãos não traz nenhuma salvação aos homens, mas segundo o parecer
judaico, está sob o juízo de DEUS (Rm 1.18ss). Daí que, quanto a esse tema,
seja impossível qualquer acordo entre judaísmo e helenismo. Pelo contrário,
deve ser evitada toda atitude pagã na religião e na conduta moral.
"Não tenhas nada em comum com um
pecador" diz um imperativo fundamental em Aboth 1.7. O fariseu comum - o
acima mencionado Josefo constitui uma exceção - vive conforme um modelo de
desqualificação polêmica, segundo o qual Israel representa a verdadeira
religião, enquanto todo o paganismo deve ser evitado, porquanto considerado
desvio pecaminoso. Se avaliarmos bem o casus belli de Damasco entre Paulo e os
cristãos (cf. cap. 4.2 e 4.3), ele terá representado coerentemente o ideal
farisaico de pureza, condenando todo e qualquer culto gentio. "Tu é santo
e teu nome é terrível, e não há nenhum DEUS além de ti", deve ter orado
também Paulo, conforme a terceira petição da oração das dezoito petições. Essa
oração inicia com "Louvado sejas tu... DEUS de Abraão, DEUS de Isaque e
DEUS de Jacó, ... DEUS altíssimo, criador dos céus e da terra, nosso escudo e
escudo de nossos pais...".
Com
isso, duas coisas são ditas: a faceta cósmica do DEUS criador, criador do mundo
e da humanidade, e a faceta particular, na linha da história sagrada, através
da fé que começa com os patriarcas de Israel. Não sendo mero acaso o fato da
oração iniciar com a proclamação histórico-salvífica de DEUS. Conforme G1 2.15,
Paulo apresenta uma situação inicial diferente para os judeus e gentios na
passagem para o cristianismo, e o faz tão obviamente, a ponto de distinguir
entre judeus de nascimento e os povos pecadores. A tematização do futuro
destino de Israel em Rm 9-11 somente é compreensível à luz dessa diferenciação
entre o povo eleito e outros povos. Por causa desse princípio fundamental da fé
judaica (cf. Aboth 1.7; 3.14; 4 Esd 6.55s), Paulo vê-se obrigado a demonstrar
com o exemplo do primeiro representante da eleição de Israel, Abraão, até que
ponto este, agora na perspectiva cristã, é pai de todos os crentes (G1 3; Rm
4). 1 Tessalonicenses é prova de como Paulo transforma e reformula, do ponto de
vista cristão, esse artigo de fé tão fundamental para a autocompreensão de
Israel e de sua eleição (cf. cap. 6.2).
A
conclusão inevitável é a desqualificação dos povos gentios como idólatras,
culpáveis e não-eleitos. (cf. Rm 1.18ss; G1 4.8): também Paulo é capaz de
designar os povos, para caracterizar a diferença em relação ao cristianismo, em
continuidade com o juízo judaico, como "geração má e pervertida" (Fl
2.15), aplicando Dt 32.5 - seguindo, nisso, claramente o antigo costume
farisaico. Transparece também, claramente, a posição pré-cristã de Paulo,
quando ele proíbe os cristãos de conduzirem processos diante de
"injustos", i.e., diante de gentios (ICo 6.1ss). Já a sinagoga havia
instaurado uma jurisdição própria, para que não se dependesse (somente) da
jurisdição dos gentios. Paulo faz a transposição para a relação entre cristãos
e gentios. Por outro lado, podem-se salientar os privilégios de Israel, isso é:
a eleição de Israel, mediante o pacto da aliança com os pais, que deu a Israel
a filiação divina; a legislação, como dom, para a identificação da vontade do
DEUS da aliança, para, por meio de suas ordens, alcançar a vida; o culto que,
unicamente, agrada a DEUS, como meio de expiação dos pecados de Israel; enfim,
as promessas, antes de qualquer coisa, de que Israel terá parte na salvação
final e que DEUS não voltará atrás quanto ao que prometeu (Rm 3.1s; 11.2,28s).
Em Rm
9.4, Paulo formulou, de maneira habilidosa, numa estrutura articulada em duas
linhas de três membros, os predicados que pertencem a Israel: a filiação a
glória de DEUS as alianças a Lei o culto as promessas Ambas as linhas
interpretam-se reciprocamente: filiação e Torá também em Aboth, 3.14 estão
juntas.
A
glória (terrena de DEUS) habita no templo, onde Israel realiza o culto. As
alianças (patriarcas, Moisés) direcionam-se, preferencialmente, às promessas a
respeito do futuro de Israel. Consciente de estar caracterizando acertadamente
o judeu, o ex-fariseu Paulo assim o interpela em Rm 2.17ss: í.
a) ele se denomina judeu,
b) apóia-se na Lei,
c) gloria-se em DEUS,
d) conhece a vontade (de
DEUS),
e) prova o que pode ser distinguido, instrui a
partir da Lei. Em paralelismo com este juízo sobre suas relações com DEUS,
segue a comparação com os gentios:
2. a) O
judeu está convencido de ser guia de cegos,
b) luz para os que vivem nas trevas,
c) instrutor de ignorantes
d) mestre de crianças
(menores, que não sabem ),
e) possuidor do saber e da
verdade elaborados na Lei. Ambos os textos falam, não por acaso, da posição
destacada da Torá, de sua observância e de sua universal imposição. E de
conhecimento geral que isso é exatamente o judaísmo de interpretação farisaica.
Conseqüência significativa é que Paulo se tenha compreendido como judeu
fariseu. Garantia dessa conclusão é mais uma vez Fl 2.15s, que é muito
esclarecedor. Nesse texto, Paulo transfere as pretensões e a consciência
judaica para a comunidade cristã. Assim, ele espera que os cristãos sejam
"irrepreensíveis e puros". Não deve ser assim também o verdadeiro
judeu (Rm 2.10,13; Fl 3.6)? Eles devem também ser "filhos de DEUS
imaculados" (cf. a filiação judaica, Rm 9.4), em meio a uma "geração
má e perversa" (cf. Rm 2.19s), "como luzes brilhando no mundo"
(cf. Rm 2.19) e "mantendo a palavra da vida" (cf. Rm 9.4). Acerca
dessa transposição de uma comunidade a outra, advém a observação adicional de
que Paulo mesmo se classifica dentro do quadro dessas prerrogativas judaicas,
quando ele se descreve como ex-fariseu (Fl 3.4-6).
Corresponder a essa situação de eleição,
i.e., observar a Torá como revelação da vontade divina e garantir-lhe o devido
valor na vida de cada israelita, era o interesse fundamental do farisaísmo (cf.
apenas Aboth 1.12; 2.7,12). Uma vida consagrada à Lei, para a honra de DEUS.
Paulo julga a sua própria prática de vida nessa Lei como princípio supremo e se
considera irrepreensível e justo (Fl 3.6; G1 1.14). Não podemos, sem mais nem
menos, condenar essa atitude como autojustificação, como mostra a parábola do
fariseu e do publicano (Lc 18.11ss). Deve-se ver, em primeiro lugar, que Paulo
relaciona a vida e o destino humano não à consciência de seu próprio valor, mas
ao julgamento do divino juiz (ICo 4.3-5), o que também era a posição típica dos
fariseus (Aboth 2.1,14s; 3.1). "Justo" significa fiel à Torá segundo
o juízo de DEUS. Que, a partir dessa base, também, entre outras coisas,
houvesse a possibilidade de, mediante paciente realização de boas obras,
procurar alcançar por si só a vida eterna (cf. Rm 2.7), ou mesmo apresentar' ao
juiz as próprias boas obras (Lc 18.11s), deveria estar fora de discussão.
A
fidelidade a Torá supõe-o cumprimento da Lei como dever para toda a vida e a
disposição para a penitência pelos pecados cometidos, como a própria impõe a
obediência e a expiação: A confiança (verdade) dos justos está no Senhor seu
salvador. Na casa do justo não se acumula pecado sobre pecado. O justo vigia
continuamente a sua casa, para poder eliminar a injustiça cometida, causa de
sua transgressão. Ele expia pecados involuntários por meio de jejum, humilhando
sua alma. O Senhor purifica todo homem piedoso bem como sua casa. Assim
descreve SISal 3.6-8 o justo, colocando-o em contraste com o pecador que, em
sua vida, acumula pecado sobre pecado (3.9s). Aquele que é fiel à Lei sabe que
vive da misericórdia divina, que cabe a ele, o justo, sabendo que até a morte
deverá estar preparado para a penitência e conversão (Aboth 2.2,8,12; 3.1,15;
4.11). Nesse sentido, também se deverá entender as afirmações paulinas em Fl
3.6; G1 1.14. Paulo certamente não negará a nenhum judeu que, nesse sentido,
ele possa ser justificado.
Por
causa do conhecimento de JESUS CRISTO, contudo, ele julgaria isso como não
tendo valor (Fl 3.7ss e cap. 12.4). Uma vida consagrada à Lei significa para o
fariseu Paulo: obediência ao Criador e Juiz. Todas as pessoas devem essa
obediência por causa de sua condição de criaturas. Israel, por sua vez, tem o
privilégio de conhecer a vontade de DEUS por meio da Lei. Essa situação humana
de dívida encontra sua expressão mais clara na idéia de juízo final. Paulo não
só se ateve como cristão à idéia de juízo (p.ex. ICo 3.5-17; 2Co 5.10; Rm
14.10-12), como antes, em Rm 2.2ss, tratou, de forma discursiva, uma visão
judeu-helenista da idéia de juízo, que hoje, com razão, classificamos entre os
conteúdos "pré-paulinos". O cristão Paulo, nessa passagem, dirige as
afirmações contra a concepção judaica de uma forma insuportável para o judeu.
Isso acontece, porém, porque ele parte de uma base comum a ele e ao lado
judaico (v. 2: "sabemos que..."), considerando o judeu justamente a
partir de tal consenso, como sendo inescusável no julgamento divino. Disso
conclui-se que, abstraindo desse recrudescimento polêmico, deverá aparecer, em
linhas gerais, a visão tradicional de juízo. Pois Paulo não só usou,
esporadicamente, um vocábulo helenístico-judaico sem raiz, (p.ex., "justo
julgamento" no v. 5), antes, tais observações lingüísticas assinalam uma
visão de conjunto, a partir da qual Paulo pensa e na qual ele entende estar em
conformidade com o judeu. Isso significa que a visão de conjunto a respeito do
juízo, acerca da qual Paulo e o judaísmo estão em acordo, é típica para Paulo,
caso não tenha, contrariamente, criado para si uma visão do judaísmo após
ter-se tornado cristão.
Como é essa concepção geral? A resposta a
essa pergunta deve ocorrer de tal modo que, ao longo do texto paulino,
apresentem-se as respectivas analogias judaicas. Todas as criaturas vivem na
perspectiva do juízo vindouro. Ninguém lhe pode escapar (Rm 2.2s; 9.18-24; cf.
Aboth 2.1; 3.1). Um tempo ou data para o juízo ou mesmo um tempo aproximado
para o juízo, está fora de cogitação. A questão não é quando será o dia do
juízo, mas decisivo é que a observância ou rejeição da Torá terá conseqüências no
juízo (cf. Aboth 2.1,15; 3.1). O juízo está posto a serviço da torálogia.
Inculca-se não ser possível ignorar impunemente a vontade de DEUS: DEUS não
deixa zombar de si (G1 6.7), portanto, sê observante da Torá (cf. Aboth 1.16;
2.8).
O
tempo da "riqueza de sua bondade, paciência e longanimidade" pretende
levar as pessoas "à penitência", dura até o juízo. Quem não aproveita
esse tempo é de dura cerviz e atrai para si a ira divina (Rm 2.4s; cf. Aboth
2.1, 8, 10, 12). A história é entendida, portanto, como a possibilidade
concedida por DEUS de conduzir uma vida conforme a Torá, sendo,
simultaneamente, compreendida conseqüentemente em função do juízo final.
Também
os povos, aos quais a Torá escrita é desconhecida, não estão dispensados de
realizar a vontade de DEUS, pois - um pensamento estóico agora é transposto -
as exigências da Lei são conhecidas por eles "a partir da natureza",
pois, como a sua consciência atesta, a Lei lhes "foi gravada em seus
corações" (Rm 2.14s). O juízo final tem caráter forense e escatológico.
Ele se realiza "conforme a verdade" (Rm 2.2; Aboth 3.16), i.e.,
"sem acepção de pessoas" (Rm 2.11; cf. Aboth 4.22: SISal 2.18 etc.)
como manifestação do "justo juízo de DEUS" (Rm 2.5; TestLevi
3.2:15.2), com o que foi utilizada uma nova formulação helenística, que Paulo
não utiliza. As três afirmações expressam a incorruptibilidade do juiz, que não
dá preferência a ninguém, que julga severa e inexoravelmente conforme as ações
de cada pessoa (Rm 2.6) e que também julga "os segredos dos homens"
(Rm 2.16). O julgamento de DEUS é justo enquanto atribui a cada um a sua sorte
definitiva (iustitia retributiva), correspondendo "à verdade", i.e.,
à realidade da criatura humana. Assim, em Rm 2.6, Paulo pode citar o SI 62.13
(cf. Pv 24.12): DEUS "retribuirá a cada um segundo suas obras".
Originalmente, essa afirmação tinha em mente a estreita relação entre o agir e
a sua conseqüência, recaindo, conforme isso, a conseqüência de uma ação
imediatamente sobre o seu autor, sendo DEUS aquele que garante esta relação.
Agora, porém, essa afirmação deve ser lida no contexto dos três princípios
sobre o juízo, adquirindo assim o significado de "retribuição"
escatológica:
DEUS
faz justiça mediante um ato de julgamento, enquanto ele recompensa os que
realizam boas obras, i.e., creditando-lhes recompensa "conforme o
devido" (Rm 4.2, 4), ao passo que, aos que praticam o mal, proporcionará
"ira e indignação" (2.8ss). Da mesma forma, fala Aboth acerca da
"retribuição" divina (1.7), querendo com isso indicar a escatológica
"distribuição de salário" (2.1; 4.2) na qual DEUS, igual a um patrão,
distribui o salário pelo trabalho realizado (2.16). Isso ocorre com base no
fato de que todas as ações das pessoas estão registradas num "livro"
(2.1), devendo elas "prestar contas" (3.1) e, inversamente, DEUS tudo
lhes "credita" (2.2; 3.8). Semelhante linguagem de direito
trabalhista e comercial pode encontrar sua descrição diretamente na imagem do
comerciante e do banqueiro (3.16). O "acúmulo" de ira (Rm 2.5) deve
ser compreendido a partir desse pano de fundo. Trata-se da idéia de que DEUS,
no juízo final, ratifica a concluída história humana mediante seu ajuste de
contas. Ele reage às ações humanas mediante seu juízo. Nesse sentido, desde a
perspectiva do juízo, tais ações possuem um significado de salvação e perdição.
Para Rm 2, é fundamental que recompensa e castigo não são quantificados. Uma
vez que só há justos e pecadores, também só haverá vida ou sofrimento final:
"glória, honra e eternidade" (novamente, um conceito helenístico).
"Glória, honra e paz" (2.7,10) equivale ao que é "vida
eterna" (Paulo define, em sentido cristão e novo, essas expressões em lTs
4.17; 5.10). Inversamente, "ira e indignação" (Rm 2.8) são
qualificações do estado de condenação definitiva. É necessário, para isso, recordar-se
das exposições de Paulo sobre o ser justo sob a Lei: justo significa ser fiel à
Torá. Essas afirmações descrevem, com clareza, os desenlaces paralelos da vida.
Em lTs 4.13-5.11, o cristão Paulo não mostrará mais nenhum interesse na sorte
dos incrédulos: ele ainda está interessado somente na salvação da comunidade
escatológica.
O
interesse judaico na justiça compensatória no fim do mundo, contudo, exige esse
duplo aspecto (p.ex., SISal 3.6-12 etc.). Paulo, como cristão, nesse ponto,
estará em conformidade com a visão farisaica, enquanto também ele conhece
somente uma qualificação fundamental no juízo final e, naquele momento, haverá
um único estado de salvação. Essa idéia de juízo contém, nas entrelinhas,
também a sua afirmação acerca da antropologia: o farisaísmo pressupõe que o
imperativo "tu deves" atinge a pessoa a qual é apropriado o "tu
podes".
O pecado é ação falha por falta de possível
engajamento da pessoa e não reflexo de uma qualificação negativa da pessoa que
age. Em outras palavras, o livre arbítrio é doutrina farisaica (cf., p.ex.,
Aboth 3.15). Pelo fato de a pessoa, em princípio, ser livre quanto ao bem e ao
mal, não sendo, portanto, dominada pelo pecado (Rm 7.14s), basta olhar para as
suas obras, não necessitando ela de nenhuma renovação fundamental antes de
poder ser alguém que realiza o bem. Aqui, Paulo, após sua vocação, pensará de
outro modo, quando ele muda sua avaliação da pessoa como criatura nova (cf.
cap. 14.3).
Olhando, após essas elaborações de Paulo
acerca do juízo final, para o judaísmo helenista, percebe-se que este, não
sempre, mas certamente em alguns casos, apropriou-se de afirmações análogas
sobre o juízo final, extraídas da apocalíptica. Isso é testemunhado, por
exemplo, pelos Test XII, pelos OrSib e HenEsl. Sobretudo, porém, LibAnt,
redigido por um autor que, ao menos, estava próximo ao pensamento farisaico,
mostra o uso que fez o farisaísmo do pensamento apocalíptico para a
interpretação da Lei. Aqui encontramos uma nova versão da história de Israel
que amplia o relato do dilúvio universal, tomando-o como sinal da ira de DEUS
(cf. Rm 1.18ss antes de 2.1ss), mas também acrescenta que, no final dos tempos,
DEUS ressuscitará todos os mortos e "retribuirá a cada um segundo suas
obras" (Rm 2.5s). Os que se salvam serão os "justificados" e
viverão em uma "morada eterna" (LibAnt 3.9-10).
O fato
de o farisaísmo ter conseguido aproximar-se da concepção apocalíptica de juízo
final, enquanto considerava esse como elemento integrante de sua compreensão da
Lei, interpretando, portanto, o anúncio da Torá a respeito da vida como vida
escatológica, ainda não fazia com que os fariseus fossem apocalípticos. O
fariseu Paulo não era um apocalíptico, assim como o autor de LibAnt, os
oradores de SISal, e os mestres de Israel, que ocorrem em Aboth, não o eram. A
apocalíptica, por sua vez, quer justamente ser enquadrada nas grandes figuras
da história, mediante eventos extraordinários de revelação, e não granjear o
simples reconhecimento nas verdades contidas na lei judaica. A apocalíptica quer,
justamente ao lado de Moisés e para além dele, estabelecer-se como autoridade
(cf., p.ex., 4Esd 14.37-48), para verdades complementares. Um fariseu conhece
somente a autoridade de Moisés: unicamente a Lei basta para obter a vida. Desse
modo, a resposta dada ao homem rico, em Lc 16.27ss, ao seu pedido de que se
concedesse a seus irmãos uma revelação especial, é tipicamente farisaica:
"Eles têm Moisés e os profetas, que os ouçam... Se não escutam nem a
Moisés nem aos profetas, mesmo que alguém ressuscite dos mortos, não se
convencerão". Por essa razão, o fariseu também não fala anônima ou
pseudonimamente, antes, ele ensina com a autoridade de Moisés. Para ele, nenhum
antepassado como Enoque ou Esdras, reivindica revelações especiais que, em si,
estão escondidas e apenas ao visionário são reveladas, ele somente conhece a
revelação da Lei de DEUS no Sinai e sua interpretação por meio da tradição oral
(Aboth 1,1). A revelação especial a que se refere a apocalíptica é, geralmente,
expressão da atmosfera de crise, que compreende a história do mundo como
história de perdição, na qual a visão a respeito da ação divina, criadora de
sentido, está em geral escondida ou foi perdida.
A
perplexidade e a situação sem saída da apocalíptica, no sentido global da
história e em seu sentido cósmico, devem ser superadas mediante tal revelação
especial, a qual ensina não só que o mundo e a história estão submetidos a uma
ordem e periodização secreta, como também a conexão do tempo presente e da
história cósmica com o tempo final. O fariseu, ao contrário, descreve a
história como tempo da paciência de DEUS, em que cada indivíduo tem a chance e
a tarefa de cumprir a Torá, para um dia, quanto a isso, poder prestar contas a
DEUS. Ele não necessita de nenhuma periodização secreta da história, nem de
visões cósmicas especiais acerca do mundo e do final dos tempos. O juízo final,
para ele, concentra-se no sentido antropológico da recompensa e do castigo de
cada pessoa no que diz respeito aos mandamentos da Torá.
O que
Paulo, também como cristão, manterá formalmente (Rm 14.10; 2Co 5.10 etc.). Da
época em que Paulo era fariseu, procede esta tradição (Aboth 3.1):
"Observa com atenção três coisas e não cairás em poder do pecado. Sabe de
onde vieste e para onde vais e diante de quem terás que prestar contas. Donde
vieste? De uma gota mal-cheirosa. Para onde vais? Para larvas e vermes. Diante
de quem haverás de prestar contas? Diante do rei de todos os reis...".
Para o fariseu, o indivíduo sempre pode apoiar-se na confiabilidade da vida, pois
a esperança da retribuição divina é constante e inabalável. Tudo se decide em
cada indivíduo e em sua obediência a Torá. Ele, e somente ele, precisa superar
o juízo vindouro. Mais do que isso, ele não necessita saber na vida. Esse
conhecimento fundamental, contudo, é seguramente garantido por Moisés.
FONTE: APAZDOSENHOR.ORG
Neste 3º trimestre estudaremos: O Apóstolo Paulo: Lições da vida e ministério do apóstolo dos gentios para a Igreja de Cristo Comentarista: Elienai Cabral - Conferencista, Teólogo, Membro da Casa de Letras Emílio Conde, Comentarista de Lições Bíblicas da CPAD,
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