Texto Áureo
"Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo,
o qual nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais nos lugares celestiais em Cristo."
(Ef 1.3)
Verdade Prática
Deus nos elegeu em Cristo antes da fundação
do mundo para que desfrutássemos
das bênçãos espirituais.
CAPÍTULO 2
A SUBLIMIDADE DAS BÊNÇÃOS
ESPIRITUAIS EM CRISTO
“Bendito o Deus e Pai de nosso Senhor
Jesus Cristo, o qual nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos lugares
celestiais em Cristo”
(Ef 1.3)
Na sentença de Efésios
1.3-14, o apóstolo introduziu a maioria dos temas que ele desenvolve nessa
epístola. No texto grego, esses 12 versículos formam uma única sentença
gramatical complexa de 202 palavras. O Comentário do Novo Testamento –
Aplicação Pessoal informa que “esta seção forma uma bênção, chamada berakah ,
em hebraico, frequentemente utilizada na liturgia judaica. É um tributo a Deus
e a todas as bênçãos que Ele dá a seu povo”. 17 Essa assertiva ratifica que
toda a boa dádiva procede de Deus e que somente Ele deve ser glorificado.
Em virtude da extensão da
perícope referenciada (1.3-14), para fins exclusivamente didáticos, abordaremos
nesse capítulo a grandeza, a excelência e a perfeição do projeto divino em
conceder bênçãos espirituais aos seus escolhidos. A compreensão desses aspectos
passa pela firme convicção paulina que aprouve a Deus desde a eternidade
projetar um plano de restauração e reconciliação à humanidade caída.
I. A NOVA POSIÇÃO EM CRISTO
1.
A Doxologia
Ao
descrever a sublimidade dessas dádivas, Paulo inicia com a doxologia: “Bendito
o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Ef 1.3a). Mercê desse verdadeiro
tributo ao Deus-Pai, é preciso estudar e tomar essas bênçãos na ordem em que se
apresentam:
A
ordem é de extrema importância. Por causa do nosso miserável subjetivismo,
sempre temos a tendência de concentrar-nos logo nas bênçãos; sempre queremos
algo para nós mesmos. Contudo, o apóstolo insiste em que comecemos com Deus, e
com o culto que Lhe devemos. Não devemos precipitar-nos à presença de Deus na
oração nem em qualquer outro aspecto; sempre devemos começar pela compreensão
de quem Deus é [...] o apóstolo insiste na ordem certa e apropriada; e devemos
considerar a natureza das bênçãos só depois que tivermos cultuado a Deus e
louvado Seu nome, e depois que tivermos compreendido o que Deus fez a a fim de
que nos possibilitasse recebermos bênçãos. 18
Nessa
perspectiva, logo após os versículos de abertura (1.1-2), percebe-se uma longa
sequência de um hino de louvor em gratidão pela bondade ativa de Deus (1.3-14).
Ao constatarem que essa sentença de 202 palavras não estava dividida em
versículos no texto original, mas que formavam uma única frase, os
comentaristas consideram essa extraordinária doxologia como uma das passagens
mais profundas da Bíblia e, provavelmente, a frase mais magnífica de toda a
literatura. 19
Outro
aspecto de suma importância presente nessa doxologia é o seu caráter
trinitário. Nas concepções formuladas nas três estrofes da perícope, o apóstolo
faz notável referência à Santíssima Trindade. Ao apresentar cada novo
argumento, Paulo realça a contribuição de cada uma das três pessoas — o Pai, o
Filho e o Espírito Santo:
O
Pai decidiu redimir as pessoas para si próprio (1.3-6); o Filho, pelo preço de
sua morte sacrificial, também é o Redentor, e aquEle através do qual a Igreja é
a escolhida (1.7-12), e o Espírito Santo aplica a presença viva e a obra de
Cristo à Igreja e à experiência humana (1.13-14). 20
Essa
admirável sentença tem início com o adjetivo grego “Bendito”. Uma expressão
rabínica dirigida especialmente para Deus e que significa “digno de louvor”. O
termo hebraico correspondente é barukh e aparece no Salmo 68.19: “Bendito seja
o Senhor, que de dia em dia nos cumula de benefícios; o Deus que é a nossa
salvação”. Na versão grega da Septuaginta, o termo “bendito” foi traduzido por
eulogetos , que é a mesma palavra usada por Paulo em Efésios. O sentido aqui,
portanto, é “Deus seja louvado ou exaltado!”.
Esse
ser divino digno de ser adorado é identificado na elocução como “Deus e Pai de
nosso Senhor Jesus Cristo” (1.3a). Além de apontar para a Santíssima Trindade,
com ênfase na natureza divina do Filho, a frase também assevera que Deus-Pai é
a fonte de toda a sorte de bênçãos.
A partir dessa explosão inicial de adoração,
Paulo segue até o versículo 14 com esse maravilhoso tributo ao Eterno e as suas
muitas bênçãos concedidas aos homens. Trata-se, portanto, de um hino teológico
de gratidão, com a repetição do refrão ao final de cada uma das três estrofes
dessa admirável doxologia “para louvor e glória da sua graça” (1.6) e outra vez
“para louvor da sua glória” (1.12) e, novamente, “para louvor da sua glória”
(1.14).
2. As bênçãos espirituais
Na
sequência do texto, Paulo assevera que Deus “nos abençoou com todas as bênçãos
espirituais” (1.3b). Aqui, o verbo “abençoar” está conjugado no particípio, no
tempo aoristo e voz ativa. 21 O tempo do verbo aoristo indica uma ação acabada,
o que sinaliza que fomos completamente “abençoados”. Obviamente que as bênçãos
aqui não são dádivas materiais, e sim algo imaterial proveniente dos “lugares
celestiais em Cristo” (1.3c), isto é, vindo do reino espiritual. A discussão
empreendida por alguns para identificar uma possível localização geográfica dos
lugares celestiais é inócua e sem propósito. Paulo usa essa expressão cinco
vezes nessa epístola sempre indicando o mundo invisível da realidade espiritual
(1.2,20; 2.6; 3.10; 6.12). Isso significa que, no versículo em apreço, “essas
bênçãos espirituais são celestiais em sua origem, e que do céu vieram para os santos
e crentes que se acham na terra”. 22 Diante dessa realidade, Matthew Henry
(1662–1714) alerta que “deveríamos aprender a reconhecer as coisas espirituais
e celestiais como as coisas principais, as bênçãos espirituais e celestiais
como as melhores bênçãos”. 23
Essas
bênçãos são mencionadas na longa sentença (1.3-14). A lista das inúmeras e
copiosas bênçãos pelas quais Deus deve ser louvado é descrita “como uma bola de
neve que vai saltando morro abaixo, aumentando de volume à medida que desce”.
24 Com o coração inflamado pelo ardor das revelações, o apóstolo descreve que
Deus elegeu-nos para sermos santos (1.4), predestinou-nos para sermos filhos
(1.5), fez-nos agradáveis para si (1.6), remiu-nos por meio do sangue de Cristo
(1.7), acolheu-nos pela sua vontade redentora (1.8-12), revelou-nos a Palavra
da verdade (1.13a), selou-nos com o Espírito Santo da promessa (1.13b) e ainda
garantiu a validade dessa promessa (1.14). E, nesse conjunto de dádivas
espirituais, outra vez é possível notar o caráter trinitário da epístola, ou
seja, todas as bênçãos provêm de Deus, que planejou a redenção, do Filho, que a
realizou, e do Espírito Santo, que a garante. Essas bênçãos conduzem-nos a
exclamar como Paulo: “Bendito seja Deus e Pai!”.
3. A nova condição em Cristo
A expressão “em Cristo” ou o seu equivalente
“Nele”, “no Senhor”, “em quem”, etc., ocorre dez vezes na longa sentença já
citada (1.1,3,4,5,6,7,9,10,12 e 13); isso significa que é exclusivamente em
conexão com Cristo que somos abençoados com todas as bênçãos espirituais. Nesse
sentido, o enunciado refere-se à pessoa de Cristo e à obra que Ele realizou no
calvário (Jo 1.3; Hb 5.9; 9.12); também se relaciona com nossa experiência de
união com Ele por meio da conversão (Gl 3.26-29). Em termos gerais, revela que
nenhuma dessas maravilhosas dádivas seria possível sem Cristo. O apóstolo João,
no seu Evangelho, antecipara essa verdade quando assegurou que “todas as coisas
foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez” (Jo 1.3).
Esses
dois vocábulos “em Cristo” aparecem 164 vezes nas epístolas paulinas. A maioria
dos intérpretes concorda que a expressão também indica “comunhão espiritual” e
“nova vida” com Cristo e em Cristo. Escrevendo aos Coríntios, Paulo afirmou:
“[...] se alguém está em Cristo, nova criatura é: as coisas velhas já passaram;
eis que tudo se fez novo” (2 Co 5.17). Essa assertiva quer dizer que uma “nova
condição” é conferida para quem está “em Cristo”, sendo, portanto, o oposto da
antiga vida “em Adão” condenada pela prática do pecado (Rm 5.11-15). Desse
modo, “em Cristo” estamos libertos das concupiscências do engano de nossa vida
passada (Ef 4.22). Não andamos mais em trevas, mas agora somos filhos da luz
(5.8). NEle passamos da morte para a vida (2.1). Assim, essa nossa nova posição
é caracterizada pela salvação “em Cristo” e por todos os benefícios advindos
dessa redenção.
II. UMA VIDA CRISTOCÊNTRICA NESTE MUNDO
1.
A revelação do
mistério
O substantivo grego mysterion (mistério)
ocorre periodicamente em Efésios com referência a alguma coisa previamente
desconhecida, mas agora revelada (1.9; 3.3,4,9; 5.32; 6.19). 25 Desse modo, a
sentença “descobrindo-nos o mistério da sua vontade” (1.9a) sinaliza que a
verdade que estivera oculta foi desvendada “aos seus santos” (Cl 1.26). Em contraste com o pensamento corrente da sua
época, o apóstolo é categórico ao declarar que o propósito divino anteriormente
mantido em segredo por meio de Cristo tornou-se conhecido.
O
mistério revelado diz respeito aos decretos eternos que Deus planejara pela sua
soberana vontade, com o propósito de salvar os pecadores e de restaurar todas
as coisas. O impacto dessa revelação refere-se à abrangência da salvação
estendida também aos gentios. Porém, apesar de isso ser verdade, a extensão das
dádivas aos gentios não era totalmente desconhecida no Antigo Testamento (Gn
12.3; 22.18). Assim, a grande surpresa foi a descoberta que, no plano divino,
tanto judeus quanto gentios desfrutam das mesmas bênçãos celestiais (Ef 3.6), e
o impacto mais surpreendente foi saber que Deus projetara reconciliar ambos os
povos — judeus e gentios formando um único povo, a Igreja (2.1-22).
Essa vontade divina foi revelada “segundo o
seu beneplácito” (1.9b). A expressão “beneplácito” significa que tudo se fez
conforme aquilo que Deus agradou-se em fazer, isto é, a decisão de incluir
judeus e gentios no plano da salvação e o tempo para desvendar esse mistério
aconteceu conforme o seu querer. Porque “lhe pareceu bom” fazer assim, e os
seus atributos divinos indicam que Ele agiu movido por amor, bondade e
misericórdia (Rm 9.15-16; 11.32). Dessa forma, a sua soberana vontade foi
executada conforme o seu desígnio por intermédio de Cristo para que o Filho em
tudo tivesse a preeminência (Cl 1.16-20).
2. A plenitude dos tempos
Paulo
revela que, no plano estabelecido, Deus fará “tornar a congregar em Cristo
todas as coisas” (1.10a). A versão Almeida Revista e Atualizada (ARA) traduz
como “fazer convergir nele”. O verbo grego empregado aqui é anakephalaiõ e tem
o significado geral de “reunir as coisas” ou “resumir as coisas”. Ele é usado
duas vezes em todo o Novo Testamento. Aos Romanos, o sentido é de resumo da
Lei: “se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu
próximo como a ti mesmo” (Rm 13.9). Aos Efésios, o sentido é de congregar e
convergir , ou mesmo reunir todas as coisas em Cristo (1.10a). Logo mais
adiante, no versículo 22, Paulo ratifica esse conceito ao afirmar que “esta
convergência para Cristo acontecerá com a submissão do mundo a Ele como o Cabeça”.
26 Implica dizer que, a começar pela redenção da Igreja, todo o Universo, céus
e terra estarão submissos à autoridade de Cristo (Rm 14.11; 2 Co 10.5). Isso
inclui tudo o que foi criado por Cristo e para Cristo e que subsiste em Cristo
(Jo 1.1-3; Hb 1.2-3). Indica que a ruptura provocada pelo pecado em Adão é
completamente restaurada em Cristo. Essa declaração não tem a conotação
universalista de que todos serão salvos no fim, mas que finalmente tudo estará
como Deus projetou: Cristo, a cabeça da Igreja e também a cabeça do Universo
(Ef 1.21-23).
A
consumação desse plano divino será “na dispensação da plenitude dos tempos”
(1.10b). O conceito de “dispensação” refere-se ao modo divino de o Senhor Deus
relacionar-se com a humanidade em diferentes períodos da História. De acordo
com essa doutrina, essa atividade divina acha-se dividida em sete dispensações:
(1) inocência; (2) consciência; (3) governo humano; (4) promessa; (5) lei; (6)
graça e (7) Reino. 27 Entretanto, embora esse conceito seja possível nessa
passagem, o foco aqui está no “tempo” em que finalmente se dará o pleno
cumprimento do plano divino. A palavra grega empregada para “tempo” não é
chronos , com a ideia de cronologia, mas kairos , que é o tempo divino
previamente determinado para quando todas as coisas estarão sob o domínio de
Cristo (At 1.7). Desse modo, entende-se que a dispensação da plenitude dos
tempos deve ser identificada com a hora certa , onde “toda a criação será como
Deus a criou para ser — perfeita, eterna e cumprindo a sua função pretendida
para louvar a Deus”. 28
Certamente
que esse conceito aponta para a consumação completa da redenção, só que não
podemos ser extremados em nosso entendimento escatológico da expressão
“plenitude dos tempos”. O Comentário Bíblico Beacon salienta que “o tempo de
Jesus Cristo não é somente o cumprimento do tempo messiânico profético [...] é
também o cumprimento de todos os tempos”. 29 Portanto, embora o termo sinalize
o que Deus irá fazer na segunda vinda do seu Filho, deve-se também levar em conta
a redenção que teve começo na primeira vinda. No presente, Cristo já é a Cabeça
da Igreja; e, no porvir, também será a Cabeça do Universo (Ef 1.21-23). Aos
Colossenses, Paulo corrobora com essa ideia e acrescenta que foi em Cristo, a
cabeça da Igreja, que Deus deu início ao seu plano de recuperar o Universo para
si (Cl 1.18-20).
3. Louvor da sua glória
O
apóstolo enfatiza que todas as bênçãos espirituais, sem exceção alguma, são
destinadas aos crentes judeus e gentios — a Igreja de Cristo. Na redação do
texto, Paulo muda do pronome “nós [os judeus], os que primeiro esperamos em
Cristo” (Ef 1.12) para o “também vós [os gentios], depois que ouvistes a
palavra da verdade” (1.13), indicando que os crentes de ambos os povos são
herdeiros da mesma promessa em Cristo conforme o propósito divinamente
estabelecido (1.11). Nesses versículos, temos uma breve introdução ao tema da
reconciliação, que será mais adiante desenvolvido detalhadamente (2.11-22).
O
texto também ratifica que o propósito das bênçãos, tais como a eleição e a
predestinação, não tem outro alvo senão louvar e glorificar a Deus (1.6,12,14).
Essa verdade já tinha sido declarada no final da primeira estrofe da doxologia
(1.3-6). Nessa estrofe, inicialmente aparece o desígnio primário “para que fôssemos
santos e irrepreensíveis” (1.4) e para que recebêssemos “a adoção de filhos”
(1.5, ARA). Em seguida, o desígnio último é mencionado: “para louvor e glória
da sua graça” (1.6). Essa sentença direciona-nos para “o reconhecimento
adorativo (louvor) da excelência manifestada (glória) em favor dos indignos
(graça) daquele a quem se denomina o Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo”.
30
Na
estrofe seguinte, Paulo apresenta diversas razões pelas quais Deus deveria ser
glorificado por aqueles que esperaram em Cristo de antemão (1.12b). A narrativa
faz referência aos judeus que tiveram conhecimento da esperança messiânica
antes dos gentios (At 28.20, Rm 1.16). Essa esperança abrange, entre outros, a
redenção e a remissão dos pecados (Ef 1.7); a revelação do mistério oculto
(1.9); e o direito à herança prometida (1.11). Essas dádivas tinham como
propósito final servir “para louvor da sua glória” (1.12a).
Na última estrofe, a doxologia enfatiza que os
gentios que creem em Cristo também são herdeiros das promessas realizadas aos
judeus (1.13a). Assim, no último versículo, assim como em cada estágio da
revelação, o propósito do plano divino é reafirmado: “para louvor da sua
glória” (1.14).
III. ESPÍRITO SANTO: O PENHOR DE NOSSA
HERANÇA
1.
O selo do Espírito Santo
Nessa última estrofe da doxologia de Efésios,
o Espírito Santo recebe três designações: uma promessa, um selo e uma garantia
(Ef 1.13,14). A Terceira Pessoa da Trindade é primeiramente denominada por
Paulo como “o Espírito Santo da promessa” (1.13).
O enunciado implica dizer, em
outras palavras, o “Santo Espírito prometido, a saber, aquele que foi outorgado
em cumprimento das promessas divinas”. 31 Além de ser prometido no Novo
Testamento por Jesus aos seus discípulos (Jo 14.16-17; 15.26; 16.13; At 1.4), o
Espírito Santo também era promessa presente no Antigo Testamento (Is 32.15;
44.3; Jl 2.28). O cumprimento dessa promessa e o seu objetivo são assim
definidos:
O Espírito
Santo veio para que Deus estivesse em seus seguidores, após o retorno de Cristo
para o céu [...]. Os crentes recebiam o Espírito Santo quando recebiam a Jesus
Cristo. A transformação que o Espírito Santo realiza na vida de um crente
(conforme descrito em Gálatas 5.22,23) inegavelmente marca a presença e a posse
de Deus naquela vida. 32
Na segunda designação, o
apóstolo faz uso da linguagem figurada do “selo” para enfatizar o papel do
Espírito Santo na Obra da redenção (Ef 1.13b). O selo era utilizado como sinal
de autoridade, autenticidade, propriedade e posse pessoal. Ele poderia ser
gravado e empregado de várias formas. O instrumento usado para esse fim era
esculpido para reproduzir algum padrão-distinto em argila, cera e outros. Os
animais, por exemplo, e até mesmo os escravos tinham os corpos marcados para
identificar os seus proprietários. Nas religiões pagãs entre os gentios, os
devotos recebiam marcas no corpo que assinalavam a divindade a que pertenciam.
Nesses exemplos, o uso do
selo sempre é uma marca exterior e visível ao olho humano. O selo do Espírito
Santo, porém, é uma marca interior e espiritual não perceptível ao homem
carnal. Os que recebem o Espírito Santo são identificados por Deus como
pertencentes a Cristo. Esses crentes são assinalados como propriedade
particular de Cristo, a Cabeça da Igreja. Desse modo, o Espírito Santo
testifica quem são os filhos de Deus (Rm 8.9,15-16), e o maligno não lhes toca
(1 Jo 5.18). Assim, ao habitar no crente, a Terceira Pessoa da Trindade possui
o papel de regenerar, purificar e santificar (1 Co 6.11). Ele é quem convence
do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.7-8) e que também produz no crente o
fruto do verdadeiro relacionamento com Deus (Gl 5.22-23).
Acerca dessa dádiva especial,
Paulo ensina que aquele que ouve a Palavra de Deus — o Evangelho da salvação —
e que se rende a Cristo por meio da fé recebe o selo do Espírito Santo no
momento da conversão (Ef 1.13). Nesse sentido, a Escritura assevera que
“ninguém pode dizer: Senhor Jesus!, senão pelo Espírito Santo” (1 Co 12.3,
ARA). Assim, na doutrina pentecostal, “a regeneração é a ação decisiva e
instantânea do Espírito Santo, mediante a qual Ele cria de novo a natureza
interior”. 33 Nesse sentido, a fim de dirimir dúvidas, convém destacar a
distinção doutrinária entre a experiência da salvação, ocasião em que o crente
é “selado”, e o batismo no Espírito Santo, ocasião em que o crente recebe o
revestimento de poder:
Na experiência
da salvação, o Espírito Santo passa a habitar no novo crente. Todos os crentes
em Jesus já têm o Espírito Santo, pois Ele mesmo é quem conduz o pecador a
Cristo. O batismo no Espírito Santo é algo distinto do novo nascimento;
significa o recebimento de poder espiritual para realizar a obra da expansão do
Evangelho em todo o mundo, para uma vida cristã vitoriosa e também uma adoração
mais profunda. 34
Desse modo, na doutrina
pentecostal, a experiência da salvação é distinta da experiência do batismo no
Espírito Santo. Os pentecostais creem que, após o recebimento do “selo” por
ocasião do novo nascimento, os crentes devem buscar revestimento de poder que
os capacita ao trabalho cristão (Jl 2.8; At 2.4,17; At 10.44; At 11.15; At
19.6). Esse revestimento é denominado de “Batismo no Espírito Santo”, que
também pode ocorrer simultaneamente à conversão — conforme o relato na casa de
Cornélio (At 10.1-48). O falar em línguas estranhas é a evidência bíblica do
recebimento do batismo no Espírito Santo. Essa evidência inicial de “falar
línguas estranhas como batismo ou renovação no Espírito Santo é compreendido
como o agir de Deus que visa a edificação pessoal do crente, e nesse caso não
se requer interpretação nem mesmo repreensão”. 35
2. O penhor de
nossa herança
A terceira designação do
Espírito Santo nesse capítulo de Efésios vem do termo grego arrabon , que pode
ser traduzido como “depósito”, “penhor”, “garantia” ou, ainda, “primeira
parcela” (1.14a). A palavra tem origem semítica com o sentido de “fiança” e era
usada nas transações comerciais para assegurar o preço ou para garantir o
pagamento de algo. Era uma espécie de adiantamento realizado nas negociações
comerciais, “criando a promessa de que o comprador completaria a transação e
pagaria a quantia total”. 36 As expressões “sinal” e “caução” como princípio de
pagamento têm origem nesse conceito e ainda é utilizado em transações
financeiras diversas que envolvem a aquisição de bens móveis ou imóveis
Nessa concepção, Paulo ensina que o Espírito
Santo é “o penhor da nossa herança, para redenção da possessão de Deus” (Ef
1.14). Em outras palavras, o Espírito Santo é o depósito que garante nossa
herança em Cristo (2 Co 1.21-22; 5.5). Trata-se do pagamento da primeira
parcela de todas as promessas que Deus fez ao seu povo. A presença do Espírito
Santo em nós não apenas assegura-nos a vida eterna, como também nos faz
experimentar, no tempo presente, uma amostra do gozo que desfrutaremos com
Cristo na eternidade.
A garantia da salvação e das
bênçãos que a acompanham é assegurada pelo Espírito Santo “até ao resgate da
sua propriedade” (1.14b, ARA). As palavras resgate ( apolutrõsis ) e
propriedade ( peripoiesis ) devem ser aqui interpretadas conforme o seu uso no
Antigo Testamento. Resgate tem a conotação de libertação de algum tipo de
cativeiro por meio do pagamento de certo preço. 37 Nesse caso, a referência é a
libertação de nossa condição de escravos do pecado para ser “povo de
propriedade exclusiva de Deus” (1 Pe 2.9, ARA).
Essa declaração, contudo, não
quer dizer que, independentemente da sua conduta, o crente está salvo para
sempre, mas o contrário, isto é, enquanto o Espírito Santo habitar no cristão,
a redenção está assegurada. Cristo disse aos seus discípulos que continuaria cuidando
da Igreja e que enviaria o Espírito Santo, o Paracleto, um como Ele, que teria
o mesmo poder para preservar o seu povo (Jo 14.16). Esse é o conceito bíblico
de segurança da salvação; isso quer dizer que, “uma vez salvo, o crente é
auxiliado pelo Senhor de modo a conseguir continuar crendo e confiando em
Cristo”. 38 Nossa Declaração de Fé assim professa:
Rejeitamos a
afirmação segundo a qual “uma vez salvo, salvo para sempre”, pois entendemos à
luz das Sagradas Escrituras que, depois de experimentar o milagre do novo
nascimento, o crente tem a responsabilidade de zelar pela manutenção da
salvação a ele oferecida gratuitamente [...] (Hb 3.12). Não há dúvidas quanto à
possibilidade do salvo perder a salvação, seja temporariamente ou eternamente.
Mediante o mau uso do livre arbítrio, o crente pode apostatar da fé, perdendo,
então, a sua salvação [...] (Ez 18.24). Finalmente temos a advertência de Paulo
aos coríntios: “Aquele, pois, que cuida estar em pé, olhe não caia” (1 Co
10.12). Aqui temos mencionada a real possibilidade de uma queda da graça.
Assim, cremos que, embora a salvação seja oferecida gratuitamente a todos os
homens, uma vez adquirida, deve ser zelada e confirmada. 39
Essa doutrina bíblica é
facilmente percebida na experiência humana. A queda da graça pode ser
momentânea ou definitiva. Essa possibilidade é conhecida respectivamente como
“desviar-se” ou “apostatar” da fé; por isso somos exortados a perseverar até o
fim (Mt 24.13).
A Igreja Eleita, Redimida
Pelo sangue de Cristo e Selada com o Espirito Santo da Promessa
– Douglas Baptista
Comentário Bíblico Efésios
2.
BÊNÇÃOS ESPIRITUAIS EM CRISTO — 1.3
2.1.
A fonte das bênçãos — v. 3
"Bendito o Deus e Pai". A palavra "bendito" tem um sentido
exclusivo e singular, porque restringe-se a Deus. Só Ele é digno de ser
bendito. Porém, os homens tornam-se benditos quando recebem as bênçãos da parte
desse Deus bendito. O vocábulo indica que o crente pode usar palavras sobre
Deus que evidenciem suas dádivas. O uso dessa expressão pelo apóstolo no início
da carta surge como uma canção oferecida a Deus por suas grandes bênçãos. É uma
forma de louvor. Paulo estava cheio da graça divina ao escrever essa carta, por
isso brotavam de seus lábios muito louvor e adoração. Por três vezes, nos
versos 6, 12 e 14 do mesmo capítulo, o apóstolo ensina que a finalidade de
todas as coisas que Deus realiza é para louvor de sua glória. "... o qual
nos abençoou", ou como está noutra tradução, "o qual nos tem abençoado".
A primeira versão, "nos abençoou", pretérito perfeito simples, situa
no tempo passado uma ação completa e acabada; a segunda, "nos tem
abençoado", pretérito perfeito composto, indica a ação repetida que
continua, do passado até o presente. Tanto uma quanto outra apontam para uma
fonte de onde jorram todas as bênçãos espirituais.
2.2.
Bênçãos cristocêntricas — v. 3
"... com todas as bênçãos espirituais... em Cristo" é outra forte
expressão que nos revela serem cristocêntricas todas as bênçãos recebidas.
Todas partem dEle e se manifestam nos crentes. As palavras "em
Cristo" indicam o relacionamento íntimo do crente com Jesus. A expressão
"bênçãos espirituais" nos faz entender que todas as bênçãos, quer
materiais ou espirituais, procedem da mesma fonte — Cristo. Muitas bênçãos são
dadas na forma material, mas estão diretamente relacionadas com a nossa vida
espiritual.
2.3.
A sublimidade das bênçãos espirituais — V. 3 "... nos lugares celestiais" é uma
expressão que denota a sublimidade da vida cristã, ou seja, o nível mais
elevado no qual fomos colocados. Se somos espirituais, ainda que no corpo
mortal, nossas vidas são espirituais. Estamos no mundo, mas não somos do mundo
(Jo 17.14,15). Paulo chama a atenção para o fato de que, assim como Cristo está
assentado à destra do Pai nos lugares celestiais (v. 20), também nós, em
Cristo, já estamos como que levantados deste mundo. É uma posição "em
Cristo" e é um estado "em Cristo". Portanto, nossa vida neste
mundo é cristocêntrica. Alguns intérpretes preferem "bens celestiais"
em vez de "lugares celestiais". Entretanto, a colocação da palavra
"lugares" indica uma posição espiritual elevada em que o crente
regenerado é posto: a partir do momento da regeneração, o crente se torna uma
nova criatura (2 Co 5.17), vivendo numa nova dimensão espiritual — "em
Cristo Jesus".
5. SELADOS COM O ESPÍRITO SANTO — 1.13,14
O verso 13 diz literalmente:
"... e, tendo nele também crido, fostes selados com o Espírito Santo da
promessa". Aqui Paulo inclui tanto judeus como gentios na participação da
promessa do Espírito Santo. A expressão inicial "tendo nele crido"
refere-se naturalmente a Cristo, e o pronome "vós" indica os que
haviam crido em Cristo. No versículo 12 Paulo usou o pronome "nós"
para referir-se aos judeus, e no 13, o pronome "vós" para referir-se
aos gentios participantes da mesma bênção.
5.1.0 ministério do Espírito Santo na redenção — w. 13,14 Os dois versículos apresentam o ministério
do Espírito Santo revelando-nos que, sem a participação dEle para promover a fé
em Cristo (Jo 16.8-10), a salvação seria incompleta. O Pai a planejou, o Filho
a providenciou e o Espírito Santo a aplicou. E a terceira pessoa da Trindade
quem nos leva a nos apropriarmos dessa fé em Cristo.
5.2. O
selo da redenção — v. 13 "... fostes selados". O ato de selar tem
o significado de marcar alguma coisa. É publicar o direito de posse sobre o
objeto selado. Quando cremos em Jesus, o Espírito Santo procura assegurar seu
direito de posse sobre nós, não importa a classe, raça ou língua. Em Cristo tornamo-nos
um só povo, tendo a mesma marca — o Espírito Santo. Várias são as razões pelas
quais se usa um selo. Primeira, para certificar e confirmar como verdadeira
alguma coisa. Segunda, para assinalar propriedade particular. Terceira, para
assegurar direito de posse. O testemunho desse selo nos crentes se encontra em
várias passagens bíblicas, como Romanos 5.5; 8.16 e 1 João 5.10.
5.3. A identificação do selo como promessa — v. 13 "... com o Espírito Santo da
promessa" é uma expressão que indica a promessa divina feita tanto no
Antigo como no Novo Testamento. A promessa da operação do Espírito Santo em
nós, sobre nós, ao redor e dentro de nós explica o sentido do versículo 13. O
fruto do Espírito (Gl 5.22) é o resultado vibrante e visível do selo do "Espírito
Santo da promessa" nos crentes.
5.4. O penhor da redenção — v. 14 "O qual é o penhor da nossa
herança". Outra vez fala do Espírito Santo. A palavra penhor tem o sentido
de alguma coisa de valor dada para assegurar o direito de posse. A continuação
do verso — "para redenção da possessão de Deus" — aclara o 13.
Notemos que a possessão espiritual é recíproca, pois tanto é nossa quanto é de
Deus. Temos posse do Espírito Santo, e essa possessão assegura o mesmo direito
a Deus — somos dEle! Nossa herança é ampla, pois a temos em parte aqui na
terra, como a temos no Céu, e o Espírito Santo em nós é direito à herança
prometida no Céu.
Comentário Bíblico
Efésios
- Elienai
Cabral
Resumo da Lição 2 - A Sublimidade das Bênçãos Espirituais em Cristo
Apresentado pelo Comentarista das Revistas Lições Bíblicas Adultos da CPAD,
pastor Douglas Baptista.
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