I. DAVI: O REI UNGIDO
Significado e Propósito da Unção
Ao tratarmos da temática unção, isso deve ser feito em análise meticulosa
dos dois compartimentos bíblicos, o Antigo e o Novo Testamento. A ideia da
unção não é somente bíblica; sua prática era desenvolvida por outros povos,
no caso de aplicação de gorduras em potes totens, certos alimentos, dentre
outros usos. Acredita-se também na unção de certos enfermos na esperança
de serem curados. Ademais, a unção estava atrelada à consagração de reis, a
certos tipos de cerimônias e ao exorcismo, como um tipo de rito a consagrar
algum jovem para a entrada da vida adulta.
No Antigo Testamento, a unção acontece antes mesmo do período
monárquico. Jacó ungiu uma coluna em Betel como forma de dedicação ou
consagração do local (Gn 31.13). Na época dos juízes, estes eram separados
por meio da unção, consagrando-se para propósitos específicos (Jz 9.8-15). A
prática da unção de reis e sacerdotes acontecia para que fossem separados
para desempenhar sua missão conforme as normas divinas (Êx 40.13-15; 1
Sm 9.16). No caso do profeta, sua unção não era feita por homem algum, mas
vinha diretamente de Deus (1 Rs 19.16).
Nas páginas do Novo Testamento, a unção aparece como substantivo (Jo
2.20,27), como adjetivo, ungido (Mt 1.1), e como verbo, ungir (Lc 4.18). Em
Tiago 5.14,15, tem-se literalmente o ato de ungir, ou seja, untar, que, do
grego, é aleîpho.
O Simbolismo da Unção
No que diz respeito ao simbolismo da unção, faz-se necessário analisar
com muito cuidado e atentando para os parâmetros bíblicos, pois a base da
unção neotestamentária fundamenta-se no Antigo Testamento. Podemos
asseverar que a unção de Cristo e do cristão está ligada ao que já antes vinha
sendo praticado pelos servos de Deus no passado.
No ato da unção, declarava-se que a pessoa estava sendo separada para um
propósito especial e que em sua vida estava a presença do Espírito Santo de
Deus, que a guiaria e orientaria para desempenhar com sucesso a missão para
a qual fora designada. Isso fala para nós que o sucesso na obra de Deus só
acontece se dependermos plenamente do Espírito Santo, razão pela qual
Paulo fala de sermos cheios dEle (Ef 5.18). Com o Espírito Santo na vida, o
rei, o profeta e o sacerdote podiam desempenhar com denodo a obra de Deus.
Jesus foi ungido para esse fim (Is 61.1; Lc 4.18). Seu ministério foi marcado
por milagres, curas, maravilhas, pregação e ensino poderoso, porque, de fato,
estava ungido. Vale dizer que messias vem do hebraico, mas no grego é
ungido. Assim, Jesus era um servo ungido sob a dependência do Espírito
Santo para fazer a obra do Pai (At 10.38).
No simbolismo da unção, podemos ter dois sentidos específicos: o primeiro
é relacionado à linhagem do rei Davi, tendo seu aspecto escatológico, pois, a
partir da sucessão dessa linhagem, esperava-se o Messias redentor; Ele seria
o mais perfeito (Sl 2.2; 18.50). O segundo simbolismo está no fato de pessoas
serem consagradas para cumprirem bem a missão para a qual foram
designadas (Rm 1.1).
A Unção sobre Davi
Lendo 1 Samuel 13.1-13, podemos pontuar algumas coisas importantes
antes de destacarmos a unção de Davi. Primeiramente, percebe-se que
Samuel desempenhava de maneira constante reuniões caracteristicamente
religiosas. Outro detalhe importante é que os anciãos temiam sua vinda, pois
se podia crer que, como profeta e juiz, seu aparecimento poderia ser por
causa de algum tipo de ofensa ou pecado cometido; assim, ele viria para
julgar.
É bom entender que esse texto também revela o lado humano de Samuel
quando este separou os filhos de Jessé para a consagração. Ele prontamente
se impressiona com Eliabe; isso porque, na escolha de Saul, o que ficou bem
nítido foi sua altura, o que era peculiar nesse filho de Jessé. Por isso, Deus
deixa logo claro que Ele não vê como o homem vê, pois procura atingir não o
exterior, mas, sim, o interior, o coração (1 Sm 16.7; 1 Cr 28.9; Sl 147.10-11;
Is 55.8; Jr 17.10).
O homem que será ungido, Davi, tem pontos positivos em sua vida. Isso
pode ser comprovado por meio da palavra ruivo, que, no hebraico, é admoni,
“vermelho, ruivo”, mas pode referir-se a uma criança sadia como também à
destreza física. Esse termo é aplicado apenas a Davi e Esaú (Gn 25.25).
Certos biblistas traduzem ruivo como guerreiro, aplicando a Davi, que já
manifesta qualidades de guerreiro desde cedo.
A unção de Davi acontece em um banquete particular sem qualquer alarde,
em disfarce de sacrifício; há que se dizer que se trata do último ato profético
de Samuel (1 Sm 25.1; 28.3). Nem Jessé nem seus filhos entenderam o
propósito da unção naquele instante na vida de Davi, pois o real propósito
não havia sido revelado; por isso, alguns pensavam que tal unção era para
que ele fosse discípulo de Samuel ou, quem sabe, no futuro, um profeta.
Porém, o jovem que estava sendo ungido era, na verdade, o amado do
Senhor, o Dod, pois ele revelava em sua vida qualidades que agradavam a
Deus.
O real propósito da unção sobre Davi naquele dia era capacitá-lo,
conceder-lhe orientação e sabedoria para que pudesse entender os propósitos
divinos para sua vida e como cumpri-los perfeitamente bem (1 Sm 16.13; Nm
27.18; Sl 89.20). A unção divina sobre o cristão não é para ele pular, gritar, rodopiar,
mas, sim, para conceder-lhe prudência, sabedoria e autoridade para poder cumprir
com êxito a missão divina neste mundo.
mas, sim, para conceder-lhe prudência, sabedoria e autoridade para poder cumprir
com êxito a missão divina neste mundo.
II. DAVI: O REI QUE ERA SERVO
Na obra escrita por Carl G. Gibbs, através dos versículos 14-23 do capítulo
16, ele diz que, sendo Davi já consagrado rei por ordem divina, jamais
procurou demonstrar espírito de grandeza ou orgulho; antes, continuou em
sua simplicidade desempenhando o trabalho de um servo. Aliás, a unção
sobre Jesus era para que Ele servisse bem, e não para que fosse servido (Lc
4.18).
Davi veio a ser o que foi porque soube muito bem conduzir-se como um
servo. Mesmo ungido por Samuel, ele não criou nenhum tipo de rebelião
contra Saul para tomar posse do trono. Na posição de servo, Davi foi
introduzido na corte real. Devido ao pecado de Saul, que, por estar distante
da presença de Deus, passou a ser atormentado por um espírito maligno,
pensou-se em alguém que soubesse tocar bem um instrumento e que o
acalmasse. Foi, então, apontado o jovem Davi.
Davi era simples e humilde. Estando na corte real, ele jamais relatou a Saul
a unção de Samuel sobre sua vida, ou seja, que seria o rei de Israel. Na
verdade, ele contentava-se com cada momento que lhe era concedido por
Deus, nunca ambicionando coisa alta demais (Rm 12.7).
A unção divina torna-nos conscientes de que somos servos e separados
para fazer a vontade daquEle que nos consagrou. Não é para termos
pensamento de grandeza, de que somos alguma coisa, de que a seleção divina
aconteceu por sermos os mais perfeitos, e sim porque fomos alcançados pela
misericórdia e graça divinas. Por isso, é sempre bom dizer como Paulo: “[...]
pela graça de Deus, sou o que sou” (1 Co 15.10). É triste dizer isto, mas
muitos hoje não querem ser servos, desprezando, assim, o exemplo de Cristo,
o qual diz que veio para servir, e não para ser servido (Mc 10.45).
III. DAVI: O REI QUE ERA GUERREIRO
O Gigante Golias
O gigante que aparece para lutar contra Davi (1 Sm 17.1-11) chamado
Golias de Gate era sobrevivente de uma raça antiga denominada anaquins,
que se refugiou em Gate no tempo em que foi derrotada pelo grande guerreiro
Josué (Js 11.21,22). Golias era um grande guerreiro e imenso em estatura. Ele
tinha aproximadamente 2,97 metros de altura e um armamento pesado que
assustava tanto Saul quanto seu exército. Quando o homem não está na
direção de Deus, tudo lhe causa medo, pois ele não tem confiança plena, visto
que é dEle que vem a vitória (1 Sm 14.6; 17.47).
Golias surge no cenário do desafio como um soldado bem armado com
uma couraça feita de escamas de metal que pesava 80 quilos. Tinha como
propósito proteger o corpo, incluindo os joelhos. Um capacete de bronze
protegia a cabeça. Seu escudo era carregado entre os ombros, e a ponta de sua
lança era de ferro, que pesava aproximadamente 8,5 quilos. As armas que
protegiam Golias eram todas feitas de bronze, mas as que ele usava para
ataque eram de ferro.
Tudo isso evidenciava que Golias não somente era um guerreiro afamado,
mas bem armado e preparado para qualquer batalha. Por isso, ele desafia a
companhia dos israelitas pedindo apenas um homem dentre eles para que
pudesse lutar. Quem perdesse iria tornar-se escravo do outro. O Targum de
Jônatas afirma que Golias gabava-se e orgulhava-se de ter matado Hofni e
Fineias, levando a Arca para a casa do deus Dagom e também por ter tirado a
vida de muitos outros israelitas.
Davi, Ungido e Cheio de Fé
Do versículo 12 ao 37, Davi surge como o menor, ou seja, o mais novo da
casa de seu pai. Observe que o autor não faz menção de sua unção; apenas o
apresenta levando comida aos seus irmãos no acampamento dos israelitas.
Ainda que haja uma discrepância na narrativa para muitos, não havia
qualquer problema para os israelitas. É interessante que o texto descreve sempre Davi trabalhando. Ele cuidava das ovelhas do seu pai. Sua presença na casa de Saul não era permanente; por isso, ele sempre voltava a Belém. Frente ao grande e temido gigante,
ninguém ousava lutar mesmo diante das propostas oferecidas por Saul — a mão de sua filha e a isenção de impostos para a família do vencedor. Davi revela-se aqui como um homem de grande fé em Deus e zelo. Ele não teme as armas de Golias, seu tamanho, sua experiência de guerra; por isso, ele prontamente se dispõe a lutar contra o gigante.
Vale dizer que, por sua ousadia, Davi é repreendido por Eliabe. Na
verdade, este não tinha compreendido bem o porquê da unção de Samuel
sobre Davi. A fé de Davi é revelada quando ele dispõe-se a lutar contra
Golias. Ainda que Saul diga que o gigante fosse grande guerreiro, Davi conta
com duas experiências vividas como pastor de ovelhas: quando teve que
enfrentar um urso e, depois, um leão para protegê-las. Estudiosos dizem que
os ursos eram mais temidos que um leão. Davi diz a Saul que matou tanto o
leão como o urso para proteger suas ovelhas. Da mesma forma, ele iria fazer
com Golias, pois este havia afrontado o exército do Deus vivo.
Davi tinha fé em Deus. Ele diz que a vitória conquistada contra esses dois
animais ferozes fora devido a sua confiança em Deus, que o livrou. Esse
jovem revela-se como um pastor do rebanho de Deus. Ele quer proteger as
ovelhas tímidas e medrosas frente ao desafio do gigante. É importante dizer
que as experiências passadas por Davi foram vividas em Deus. Elas
tornaram-se suficientes para gerar nele fé, e fortalecê-lo, e encorajá-lo diante
da nova crise que teria que enfrentar naquele momento.
O cristão que já passou experiências duras no passado, mas que saiu
vitorioso em Deus, pode enfrentar crises no presente depositando sua
confiança plena em Deus, pois tem ciência de que Ele concede livramento.
As experiências que Paulo viveu durante sua vida ministerial faziam-no
confiante e ensinaram-no a estar contente em toda e qualquer situação (Fp
4.12).
As Armas do Garoto
Já mencionamos as armas de Golias, sendo elas de bronze e de ferro.
Vendo o rei Saul a disposição de Davi para lutar, procurou conceder-lhe
algumas armas para o combate também; por isso, colocou no jovem um
capacete de bronze e uma couraça, dando-lhe também como arma de ataque
uma espada. Davi não conseguiu andar quando foi vestido com as armas que
Saul tinha proposto que usasse.
O jovem Davi tinha consciência de que era inútil tentar usar as armas
concedidas pelo rei. Ele jamais as tinha usado e, por isso, deixou-as de lado e
foi à luta com aquilo que ele tinha costume de usar: um cajado, sua funda de
pastor e cinco seixos do ribeiro. Estudiosos dizem que a razão de ele levar
cinco pedras seria porque, caso aparecessem outros gigantes, ele estaria
pronto para outra luta.
O cajado era usado para facilitar a caminhada e enxotar os cães ferozes; a
funda, que era feita de tira de couro, contendo um bolso no fundo, era uma
arma muito utilizada pelos pastores da Síria. Sabe-se que os benjaminitas
tinham habilidade com elas (Jz 20.16). O alforje era uma pequena bolsa para
ser colocado dinheiro, e foi nela que Davi pôs as cinco pedras.
Cajado, pedra, funda. Todos esses eram simples ou rudes objetos para uma
atividade pastoril, mas quem tivesse habilidade com uma funda e boa
pontaria podia ser temido (1 Cr 12.2). Lutar com um gigante apenas com
essas armas aos olhos humanos era loucura, mas a questão não eram as armas
que o garoto Davi usava, e sim a unção e a fé em Deus que nele estavam; por
isso, elas tornaram-se poderosas, conforme escreveu Paulo (2 Co 10.4). Na
batalha espiritual desta vida, o cristão pode revestir-se das armas espirituais e
entrar no combate confiantemente (Ef 6.13-17).
O Contraste entre Davi e Golias
Humanamente falando, a luta entre Davi e Golias era algo totalmente ilógico. Já destacamos sua altura e sua capacidade física e militar. Ademais, ele estava todo protegido. Davi era pequeno e estava totalmente vulnerável a uma derrota, pois só tinha em mãos uma lançadeira de pedra.
Quando olha para Davi, Golias entende que alguém o estava insultando ao mandar um jovem daquela qualidade lutar com ele. O gigante entendeu que não teria qualquer dificuldade em derrotar Davi. O texto deixa claro que Golias amaldiçoou Davi em nome dos seus deuses. Entretanto, nem altura, armadura e capacidade física colocaram medo no pequenino pastor, que deixou claro ao gigante que o Senhor Deus dos Exércitos estava do seu lado. Davi diz que logo todos iriam ficar sabendo que o Senhor livra sem que seja necessário espada e lança
Golias representava os filisteus; Davi, o povo de Deus — inclusive o próprio Deus. Caso perdesse a luta, a honra de Deus é que estaria em jogo. Uma coisa importante pode ser descrita aqui: enquanto o poderio de Golias dava esperança a todos os filisteus, a vulnerabilidade de Davi causava medo, mas isso era ainda motivo maior para a expressão do poder de Deus, que livra o seu povo não pela força física ou instrumentos de guerra, mas, sim, pela fé no verdadeiro Deus. Como disse Paulo: “Deus usa os que não são para confundir os que são” (1 Co 1.28).
Uma coisa interessante que podemos notar é que Davi sempre manifestou confiança em Deus e jamais creditou a si mesmo vitória. Davi preferiu usar seu próprio armamento, a atiradeira, pois poderia manter distância do gigante. Nem toda a parafernália que Golias carregava era capaz de protegê-lo, pois Davi estava na direção divina, de modo que uma simples pedra atirada no gigante foi bastante mortal. O texto é bem enfático e deixa claro que não houve guerra com espada ou pau. Por meio da pedra atirada, o gigante caiu, e
Davi termina o seu trabalho com a espada do próprio gigante, de modo que os filisteus foram destruídos.
Davi leva a cabeça do gigante para Jerusalém. Essa cidade estava antes no controle dos jebuseus (2 Sm 5.6,10), mas é bom lembrar que não existem dados da questão política antes desse acontecimento. Para entendermos bem a questão de Jerusalém, precisaremos ler as seguintes referências bíblicas: Juízes 1.18 descreve que ela foi tomada e destruída por Judá; posteriormente se recupera (Jz 1.21; 15.63). Pode-se perceber ainda que havia uma relação harmoniosa entre Jerusalém e Israel (Jz 19.10,12). Pode-se crer que o motivo de Davi levar a cabeça do gigante para Jerusalém foi um ato estratégico: evidenciar o grande poder de Israel.
O Governo divino em mãos humana
- Osiel Gomes
I-e-II-Samuel
I SAMUEL 16.1
preparado para o surgimento de alguém melhor do que Saul (1 Sm15.28) e para todas as tensões que esse aparecimento provocará.b. Davi se destaca (16.1-19.17) i. A unção secreta de Davi (16.1-13). Samuel não teve permissão para continuar se queixando do fracasso de Saul. O Senhor o havia dirigido até o primeiro rei de Israel e agora, uma vez mais, ele era enviado numa missão secreta até a família escolhida para proporcionar a dinastia duradoura. Apesar do grande significado desse novo desenvolvimento, o incidente é narrado com palavras contidas, numa simplicidade atraente. Samuel, reverenciado e honrado como era, é claramente visto como o mensageiro do Senhor, discernindo o que o Senhor está dizendo e agindo de acordo com isso. Sua grandeza não estava na originalidade de suas idéias ou nas iniciativas que tomou, mas no cumprimento da instrução do Senhor: o que importava era a simples obediência.
1. Jessé, o belemita, era neto de Rute e Boaz (Rt 4.17, 22), e tem-se sugerido que esta narração da visita de Samuel a Belém fazia parte de uma coletânea de preciosos registros transmitidos de geração em geração naquele local, possuindo toda a objetividade de um relato de primeira mão. Samuel devia apanhar seu chifre de óleo sagrado para a cerimônia de unção, mas o significado do ritual, que anteriormente sófora realizado uma única vez e de maneira secreta (1 Sm 10.1), teria indicado apenas a Saul que um novo rei havia sido nomeado. A expressão me provi de um rei contrasta com “ estabelece-lhe [isto é, ao povo] um rei” no caso de Saul (1 Sm 8.22).
2-3. Nessa ocasião, Samuel teme que a obediência lhe custe avida. Saul já havia dado a Samuel razões para suspeitar que seu ódio poderia explodir num ataque assassino; contudo, sob o disfarce de um sacrifício, Samuel pode executar sua tarefa. 4-5. O receio com que os anciãos encararam Samuel revela a reputação do profeta e como ele estava solitário em sua posição. Visto que tanto os anciãos quanto Jessé e sua família foram convidados para o sacrifício, um número considerável de pessoas testemunhou a unção de Davi, e alguém pode ter passado a informação a Saul. 136
I SAMUEL 16.14 6-10. O filho mais velho, Eliabe, impressiona Samuel como um possível candidato, mas sua aparência é enganosa, como também tinha sido a de Saul. A frase o Senhor não vê como vê o homem toma-se uma máxima importante (cf. 1 Cr 28.9), que iluminou a visão profética do servo do Senhor, “ aspecto... desfigurado, mais do que o de outro qualquer”, “desprezado, e o mais rejeitado entre os homens” (Is 52.14; 53.3). Aqui, há uma correção para aquele juízo meramente superficial. Eliú, que Davi nomeou governador de Judá (1 Cr 27.18), é provavelmente Eliabe. Samá é também chamado de Siméia (2 Sm13.3; 1 Cr 2.13; 20.7). Segundo 1 Crônicas 2.13-15, a expressão seus sete filhos incluía Davi, mas é possível que um tenha morrido ainda novo. Quando Samuel não conseguiu descobrir o homem da escolha divina, ele verificou primeiramente um possível erro humano.
11-13. O mais jovem, considerado tão improvável que não acharam necessário chamá-lo do trabalho com as ovelhas, é quem o Senhor escolhe (cf. 1 Cr 1.27). O Senhor tem um método de escolher apessoa que os outros consideram a menos provável, mas, ainda assim,Davi tinha boa aparência; ruivo implicava pele clara em comparação com seus compatriotas e, por isso, seria uma aparência marcante. Sua escolha, porém, foi inteiramente feita pelo Senhor, e, com o passar do tempo, Davi veio a perceber que havia sido guardado desde o nascimento (SI 22.9, 10), a fim de cumprir um propósito especial. Sua unção não é explicada, mas o fato de o Espírito do Senhor se apossar dele garantia que ele também estava sendo equipado por Deus, não importando o que o futuro reservava. Samuel retirou-se para Ramá, coma missão cumprida, e a família de Jessé continuou como antes. it. Saul precisa de um músico (16.14-23). Enquanto isso, estavam transcorrendo acontecimentos que trariam mudanças para Davi. 14. O Espírito do Senhor se retirou de Saul, como havia feito com Sansão (Jz 16.20), havendo conseqüências igualmente trágicas, pois Saul passou a ser perturbado por um espírito maligno da parte do Senhor. Embora aqui se deva ler “maligno” no sentido de “ arruinador”(assim o diz a N IV na margem), a frase continua sendo difícil para o leitor moderno, que a considera incompatível com a bondade de Deus.O escritor do livro de Jó abordou o problema: “ Se recebemos de Deus as coisas boas, por que não vamos aceitar também as desgraças?” (Jó2.10, BLH), ao mesmo tempo em que indica no restante do livro como pode ser alto o preço de uma aceitação assim. Em nível nacional, a invasão e a derrota infligidas por um inimigo cruel também tinham de ser aceitas como vindas da parte do Senhor, cuja direção soberana da história envolvia a disciplina de Seu povo: “Eu sou Javé e não há nenhum outro! Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem-estar e crio a desgraça: sim eu, Javé, faço tudo isto” (Is 45.6, 7, BJ). Como problema filosófico, a origem do sofrimento continua a ser frustrante,mas o povo de Deus é estimulado nas Escrituras a considerar todo tipo de adversidade como vindo diretamente da mão do Senhor (cf. Jo 9.3;11.4; 2 Co 12.7-10), e por meio de tal aceitação Deus é glorificado. No caso do rei Saul, é importante observar que os sinais de doença mental só começaram a aparecer depois do confronto com Samuel sobre a questão da obediência à ordem divina. Isso indica que sua enfermidade devia-se à sua rebelião contra Deus; certamente, ele foi considerado responsável por suas ações e considerava a si mesmo responsável (1 Sm 24.16-21; 26.21).'
preparado para o surgimento de alguém melhor do que Saul (1 Sm15.28) e para todas as tensões que esse aparecimento provocará.b. Davi se destaca (16.1-19.17) i. A unção secreta de Davi (16.1-13). Samuel não teve permissão para continuar se queixando do fracasso de Saul. O Senhor o havia dirigido até o primeiro rei de Israel e agora, uma vez mais, ele era enviado numa missão secreta até a família escolhida para proporcionar a dinastia duradoura. Apesar do grande significado desse novo desenvolvimento, o incidente é narrado com palavras contidas, numa simplicidade atraente. Samuel, reverenciado e honrado como era, é claramente visto como o mensageiro do Senhor, discernindo o que o Senhor está dizendo e agindo de acordo com isso. Sua grandeza não estava na originalidade de suas idéias ou nas iniciativas que tomou, mas no cumprimento da instrução do Senhor: o que importava era a simples obediência.
1. Jessé, o belemita, era neto de Rute e Boaz (Rt 4.17, 22), e tem-se sugerido que esta narração da visita de Samuel a Belém fazia parte de uma coletânea de preciosos registros transmitidos de geração em geração naquele local, possuindo toda a objetividade de um relato de primeira mão. Samuel devia apanhar seu chifre de óleo sagrado para a cerimônia de unção, mas o significado do ritual, que anteriormente sófora realizado uma única vez e de maneira secreta (1 Sm 10.1), teria indicado apenas a Saul que um novo rei havia sido nomeado. A expressão me provi de um rei contrasta com “ estabelece-lhe [isto é, ao povo] um rei” no caso de Saul (1 Sm 8.22).
2-3. Nessa ocasião, Samuel teme que a obediência lhe custe avida. Saul já havia dado a Samuel razões para suspeitar que seu ódio poderia explodir num ataque assassino; contudo, sob o disfarce de um sacrifício, Samuel pode executar sua tarefa. 4-5. O receio com que os anciãos encararam Samuel revela a reputação do profeta e como ele estava solitário em sua posição. Visto que tanto os anciãos quanto Jessé e sua família foram convidados para o sacrifício, um número considerável de pessoas testemunhou a unção de Davi, e alguém pode ter passado a informação a Saul. 136
I SAMUEL 16.14 6-10. O filho mais velho, Eliabe, impressiona Samuel como um possível candidato, mas sua aparência é enganosa, como também tinha sido a de Saul. A frase o Senhor não vê como vê o homem toma-se uma máxima importante (cf. 1 Cr 28.9), que iluminou a visão profética do servo do Senhor, “ aspecto... desfigurado, mais do que o de outro qualquer”, “desprezado, e o mais rejeitado entre os homens” (Is 52.14; 53.3). Aqui, há uma correção para aquele juízo meramente superficial. Eliú, que Davi nomeou governador de Judá (1 Cr 27.18), é provavelmente Eliabe. Samá é também chamado de Siméia (2 Sm13.3; 1 Cr 2.13; 20.7). Segundo 1 Crônicas 2.13-15, a expressão seus sete filhos incluía Davi, mas é possível que um tenha morrido ainda novo. Quando Samuel não conseguiu descobrir o homem da escolha divina, ele verificou primeiramente um possível erro humano.
11-13. O mais jovem, considerado tão improvável que não acharam necessário chamá-lo do trabalho com as ovelhas, é quem o Senhor escolhe (cf. 1 Cr 1.27). O Senhor tem um método de escolher apessoa que os outros consideram a menos provável, mas, ainda assim,Davi tinha boa aparência; ruivo implicava pele clara em comparação com seus compatriotas e, por isso, seria uma aparência marcante. Sua escolha, porém, foi inteiramente feita pelo Senhor, e, com o passar do tempo, Davi veio a perceber que havia sido guardado desde o nascimento (SI 22.9, 10), a fim de cumprir um propósito especial. Sua unção não é explicada, mas o fato de o Espírito do Senhor se apossar dele garantia que ele também estava sendo equipado por Deus, não importando o que o futuro reservava. Samuel retirou-se para Ramá, coma missão cumprida, e a família de Jessé continuou como antes. it. Saul precisa de um músico (16.14-23). Enquanto isso, estavam transcorrendo acontecimentos que trariam mudanças para Davi. 14. O Espírito do Senhor se retirou de Saul, como havia feito com Sansão (Jz 16.20), havendo conseqüências igualmente trágicas, pois Saul passou a ser perturbado por um espírito maligno da parte do Senhor. Embora aqui se deva ler “maligno” no sentido de “ arruinador”(assim o diz a N IV na margem), a frase continua sendo difícil para o leitor moderno, que a considera incompatível com a bondade de Deus.O escritor do livro de Jó abordou o problema: “ Se recebemos de Deus as coisas boas, por que não vamos aceitar também as desgraças?” (Jó2.10, BLH), ao mesmo tempo em que indica no restante do livro como pode ser alto o preço de uma aceitação assim. Em nível nacional, a invasão e a derrota infligidas por um inimigo cruel também tinham de ser aceitas como vindas da parte do Senhor, cuja direção soberana da história envolvia a disciplina de Seu povo: “Eu sou Javé e não há nenhum outro! Eu formo a luz e crio as trevas, asseguro o bem-estar e crio a desgraça: sim eu, Javé, faço tudo isto” (Is 45.6, 7, BJ). Como problema filosófico, a origem do sofrimento continua a ser frustrante,mas o povo de Deus é estimulado nas Escrituras a considerar todo tipo de adversidade como vindo diretamente da mão do Senhor (cf. Jo 9.3;11.4; 2 Co 12.7-10), e por meio de tal aceitação Deus é glorificado. No caso do rei Saul, é importante observar que os sinais de doença mental só começaram a aparecer depois do confronto com Samuel sobre a questão da obediência à ordem divina. Isso indica que sua enfermidade devia-se à sua rebelião contra Deus; certamente, ele foi considerado responsável por suas ações e considerava a si mesmo responsável (1 Sm 24.16-21; 26.21).'
15-18. Profundamente abalado pela perda do apoio de Samuel,Saul precisava de ajuda. A essa altura, ele sofria de crises intermitentes de perturbação mental, para a qual o “tratamento” conhecido era evidentemente a música. E interessante notar que ainda hoje a música é uma forma reconhecida de terapia, freqüentemente prescrita para reverter estados de perturbação mental. Os servos de Saul conheciam um músico hábil, cujas qualidades viriam a enriquecer a corte de Saul. Era um dos filhos de Jessé de Belém. Não é preciso enfatizar a mão de Deus nesse desdobramento da história. A “ lira” (BJ; kinnôr) de Daviera evidentemente portátil, enquanto ilustrações da antigüidade indicam que a harpa era um instrumento maior, mais difícil de ser carregado de um lado para outro.2 E o mais antigo instrumento de cordas mencionado na Bíblia (Gn 4.21) e o único citado no Pentateuco.1. O texto não insinua que Saul já tivesse um a tendência física a alguma doença depressiva séria, o que poderia ter atenuado sua responsabilidade por seu comportamento.2. Cf. a lira suméria com as harpas ( n d b p. 1079). Entretanto, raramente tem-se certeza quanto à identificação exata dos diversos instrumentos. 138
I SAMUEL 16.19-23 19-23. A mensagem real constituía uma ordem e exigia obediência imediata (em contraste com a aceitação relutante, por parte de Saul,das ordens que Deus lhe dava). Além disso, ninguém aparecia diante do rei de mãos vazias, de forma que Jessé enviou não somente seu filho, mas também algo dos bens produzidos em seus campos. Saul o amou muito: Davi deve ter sido uma pessoa cativante, e o afeto de Saul por ele teria ajudado em seu restabelecimento, enquanto o efeito terapêutico da música de Davi o tranqüilizava e acalmava em períodos de agitação. Inconscientemente, Saul estava começando a depender daquele que fora designado para sucedê-lo. iii. Saul precisa de um guerreiro para combater Golias (17.118.5). Essa fascinante história da fé e da coragem joviais de Davi é uma das narrativas mundiais clássicas e uma das mais conhecidas da Bíblia. Propicia um exemplo destacado do poder que o Senhor tem de conceder a vitória em circunstâncias dramaticamente adversas, em resposta à fé e à coragem. A passagem apresenta dificuldades com relação ao capítulo anterior, do qual parece ser completamente independente. Não precisamos ficar surpresos com o fato de a unção de Davi não ser mencionada, porque, de qualquer forma, ela foi feita emparticular e seus propósitos não tinham sido revelados; contudo, se os acontecimentos de 1 Samuel 16 precederam os deste capítulo, a pergunta óbvia é: por que Saul não reconheceu Davi como aquele que os erviu na corte como músico e escudeiro? E possível supor que, nesse ínterim, Davi tinha voltado para a casa de seu pai e amadurecido, tornando-se um homem adulto, de barba, bem diferente do jovem de 1Samuel 16; provavelmente, o compilador estava utilizando fontes diversas, mas o fato é que não ocorre no texto qualquer tentativa de conciliar os dois relatos.1 Se 1 Samuel 16 teve origem em Belém, parece que 1 Samuel 17 fazia parte de registros militares, com sua ênfase na derrota dos filisteus e no fim dado à espada de Golias.1. O m s Vaticano da LXX omite partes extensas do capítulo (1 Sm 17.12-31; 17.55-18.5), incluindo algumas das passagens que acentuam as discrepâncias. No entanto, o texto hebraico é coerente e apresenta todos os indícios de ser uma unidade; é menos provável que tenha sido ampliado do que a versão grega ter sido abreviada, talvez com o objetivo de harmonização. 139
I SAMUEL 17.1-3 1-3. A guerra interminável com os filisteus estava para entrar numa nova fase, desta vez com combates a serem travados não nas colinas centrais a partir das quais o inimigo havia sido perseguido na direção oeste, porém mais perto de seu território, nas fronteiras de Judá. A expressão enfática Socó, que está em Judá, mostra, contudo,os filisteus indo além dos limites. Os nomes Socó e Azeca estão preservados nas denominações de vilarejos dos dias atuais, situados nos contrafortes bem a oeste de Belém, e o vale de Elá, onde as duas cidades estavam situadas, durante a estação das chuvas drena a água das colinas para o Mediterrâneo.
4-7. “ Um campeão” (Ts-habbenayím), “cujo nome era Golias”(IBB): a palavra traduzida por “campeão” ocorre apenas aqui no Antigo Testamento, mas é empregada com freqüência no “Rolo da Guerra” de Qumran, onde significa simplesmente “ combatente” ,“ soldado de infantaria” . O fato de ele ser escolhido para representar os filisteus num combate solitário implica aqui uma reivindicação do título “campeão” . Golias é um nome que tem afinidades com a Ásia Menor. Gate, a cidade filistéia, ficava um pouco mais a oeste no vale de Elá. Esse campeão local foi escolhido devido a sua imensa estatura,(seis côvados e um palmo), que era de “mais de nove pés” (2,70 m;NEB; N IV );1 contudo, uma vez que Saul era, do ombro para cima, mais alto do que qualquer um do povo (1 Sm 10.23), é possível que tenham esperado que ele respondesse ao desafio de Golias. O combate solitário como meio de definir o resultado de um guerra entre dois exércitos não está bem confirmado no antigo Oriente Próximo. Segundo Roland de Vaux, os textos históricos mesopotâmicos não fornecem exemplo algum, embora esse tema seja usado em conflitos entre os deuses.2 Sob Davi, no entanto, soldados que se destacassem por atos pessoais de bravura eram recompensados com o título gibbôr (2 Sm 23.8-39). Toda vez que o relato fornece detalhes, é sem1. Dois M SS da LXX têm a variante “ quatro côvados e um palm o”, leitura sustentada por 4QSama; daí “ os seis pés e meio [um metro e noventa e cinco] de altura” da n a b (cf. b l h ) . Cf. IDBS, verbete “ G oliath” , p . 370.2. R. de Vaux, The Bible and the Ancient Near East (Londres: Darton, Longman and Todd, 1972), p. 13. 140
I SAMUEL 17.8-11pre o filisteu quem faz o desafio para a luta. “Portanto, a propósito de 1 Samuel 17, a pergunta óbvia é se o combate individual não foi umcostume ocidental importado pelos filisteus” .1 Isso parece provável. E revelado um grande interesse pela armadura de Golias: seria de esperar que o capacete de bronze protegesse as têmporas, assim como o capacete de ouro, encontrado em Ur, deve ter feito.2 Por alguma razão, esse não era o caso. A couraça de escamas, com peso de cinco mil siclos de bronze, isto é, aproximadamente 57 quilos, era uma armadura que se tornou conhecida a partir de trabalhos arqueológicos nacidade de Nuzi, do século XV a.C.. Centenas de escamas metálicas eram presas com barbante ao pano ou couro. Caneleiras para protegeras pernas completavam sua armadura, cujo custo toma provável que,dentre os soldados, somente ele estaria tão bem equipado. Quanto àssuas armas, o dardo (kidôn), que provavelmente deve ser traduzido por“espada”, tinha uma lâmina chata e curva, semelhante a uma foice,mas afiada do lado de fora; a lança (hanit) era mais como um dardo,com uma ponta de ferro e uma haste como o eixo do tecelão, isto é,equipada para o uso como atiradeira.3 Seu escudo (sinnâ), carregadopor um escudeiro, era retangular, proporcionando o máximo de proteção.
8-11. Confiando na superioridade de seu equipamento, assim como em sua grande força física, o gigante desafia Israel a encontrar alguém para lutar com ele em combate individual. Ele está tão seguro de ganhar a luta que promete entregar seus compatriotas à escravidão,1. Ibid., p. 127.2. A cerca da armadura mencionada aqui, veja 1BD 1, verbete “ armour” . O termo traduzido por “ capacete”, kô b a ' (v. 5) e grafado q ô ta ' (v. 38), usado pela primeira vez neste capítulo, pode ser cognato de uma palavra hitita, kupahi, “ roupa para a cabeça” , introduzida em Canaã pelos filisteus. Cf. T. C. Mitchell, AOTS, p. 415; J. P. Brown, “ Peace Symbolism in Ancient Military V ocabulary”, V T 2 \ (1971), p. 3.3. O desenho de um dardo assim encontra-se num prato de cerâmica da Grécia (Museu Britânico, peça e380) datado do quinto século a.C. M ostra uma corda enrolada em torno da haste para dar um a distância e uma rotação maiores; veja Y. Yadin, The A rt o f Warfare in Biblical Lands (Londres: Weidenfeld and Nicolson, 1963), p. 355. 141
I SAMUEL 17.12-18
caso perca, embora, quando aconteceu o inesperado e Israel triunfou,os filisteus não tenham servido os israelitas. 12-18. A menção do nome de Davi exige uma explicação de suas circunstâncias à época. Seu pai efrateu (cf. 1 Cr 4.4; Efrate foi mãe de Hur, que foi “pai” , talvez o líder civil, de Belém), já era idoso demais para o serviço militar, mas seus três filhos mais velhos estavam na linha de frente do exército de Saul e precisavam de suprimento de comida. Davi, o mais jovem, tinha a responsabilidade de cumprir essa missão, além de cuidar de suas ovelhas. Enquanto Saul estava inteiramente ocupado com manobras militares, não precisaria de seu menestrel, de modo que Davi voltou para casa por algum tempo. A necessidade de manter o exército alimentado levou Davi à frente e o fez tomar conhecimento do filisteu desafiante.
19-23. Os detalhes — a partida de Davi bem cedo, sua chegada exatamente quando os combatentes se movimentavam para enfrentar o exército inimigo e a maneira como deixou a bagagem no acampamento— tudo isso contribui para dar vida ao clímax que está se desenvolvendo.
24-27. Ver Golias de perto provocou pânico entre as tropas de Israel, o que foi uma surpresa para Davi, que, enquanto se aproximava,tomou conhecimento de apenas metade da história. Davi fica indignado com o fato de que alguém, não importa quão poderoso, tivesse aousadia de insultar o povo de Israel e, conseqüentemente, o Deus de Israel. Esse incircunciso filisteu, que adora deuses feitos pelo homem,nada sabe acerca do Deus vivo, em quem Davi declara sua confiança.Em resposta à sua pergunta, Davi toma conhecimento do prêmio tríplice que receberá aquele que matar Golias: riquezas e uma noiva da família real, além de ficar “ livre a casa de seu pai em Israel” (IBB).Este último privilégio, isentando de serviço ao rei na corte a família do vitorioso, era equivalente a um nível de igualdade com o rei.11. A. F. Rainey, em L. R. Fisher (ed.), Ras Shamra Parallels 2 (1975), p. 104. Em 1 Samuel, “ livre” (hopsl) geralmente significa “ liberdade da escravidão” , mas o Ugarite fornece um paralelo para seu emprego aqui: “ ...e o rei o isentou [isto é, a um homem que realizou um feito de bravura] do serviço prestado ao palácio” (RS 16.269:14-16). 142
I SAMUEL 17.41-47 28-30.
É compreensível o ressentimento de Eliabe contra o“garoto lá de casa”, que deixa os irmãos embaraçados. Eliabe fica irritado com seu irmão mais novo, pois este tem a pretensão de entrar no mundo militar dos outros, e isso implica que poderá superá-los. 31-40. Saul é informado do fato de que talvez haja um voluntário para enfrentar o desafiante, e Davi assegura ao rei que é capaz de matar Golias, apesar de ser relativamente jovem e inexperiente em combate. O filisteu selou seu próprio destino ao desafiar os exércitos do Deus vivo, que já havia livrado Davi de um leão e de um urso;1e,porque Ele é vivo, está sempre pronto para salvar. Por essa razão, Davi pode afirmar: O Senhor... me livrará da mão deste filisteu. Agora ficamos sabendo que o rei Saul tinha uma armadura, pois instou Davi a usá-la; contudo, Davi preferiu combater da maneira como estava acostumado, livre de impedimentos, usando apenas sua atiradeira e pedras escolhidas, do ribeiro de Elá.
41-47. Dificilmente poderia existir um contraste maior do que esse entre o Golias extremamente armado, com toda sua parafernália de proteção, e Davi, que parecia totalmente vulnerável e fácil de derrotar, a tal ponto que Golias recebeu a escolha do jovem como um insulto. Davi não se intimida com o filisteu que, pelos seus deuses,amaldiçoou ... a Davi, e ameaçou torná-lo comida para os animais selvagens da região. Davi declara que está do lado do Senhor dos Exércitos ( “Deus Todo-poderoso” , BLH), e a prova de que sua palavra é honrada será a vitória tanto sobre Golias quanto sobre o exército filisteu. Quando Davi for vitorioso, o resultado será que toda a terra saberá que há Deus em Israel e que o Senhor salva, não com espada,nem com lança. Esse combate não foi como qualquer outro, mas uma1. G. S. Cansdale, Anim ais o f Bible Lands (Exeter: Patem oster Press, 1970), p. 105-111, 116-119, confirma que tanto leões quanto ursos eram bem comuns na Palestina e países vizinhos durante todo o período do Antigo Testamento, e os ursos sobreviveram na serra do Hermom até este século. Ambos os animais, mas na prática especialmente o urso, podiam nocautear uma vítima com uma patada, daí a menção à “ garra” no versículo 37: em geral, um leão é mais previsível e, por isso, mais seguro; um urso esconde suas intenções. Isso também é insinuado em 1 Samuel 17.36, ‘o leão... o urso... este... filisteu’, onde os três são relacionados em ordem crescente de perigo” (p. 118-119). 143
I SAMUEL 17.48-49
luta em que a honra de Deus estava em jogo, e, nessas circunstâncias, a exposição de Davi ao perigo permitia que a honra divina fosse mais claramente reconhecida do que se ele tivesse um físico mais à altura do filisteu. Em momento algum Davi reivindicou crédito pelo resultado positivo, que ele esperava com toda confiança. Utilizando sua atiradeira, Davi podia agir e ao mesmo tempo estar fora do alcance das armas de Golias.
48-49. O filisteu mal teve tempo de se mover na direção de Davi quando foi abatido por somente uma pedra, atirada com pontaria mortal, de modo que penetrou pelo único ponto vulnerável da sua primorosa armadura. O combate terminou em segundos. 50-54. Embora a batalha tivesse sido ganha sem ser desferido um único golpe de espada, Davi não se importou em tomar a espada de Golias para concluir seu trabalho. A pedra havia derrubado o gigante, e agora a espada devia matá-lo. Os filisteus retiraram-se a toda velocidade, e o exército israelita os perseguiu, expulsando-os para suas cidades e, depois, saqueando seus campos, usufruindo assim dos despojos. E surpreendente ler que Davi tomou... a cabeça do filisteu, e a trouxe a Jerusalém, em vista do fato de que essa cidade ainda se encontrava em mãos dos jebuseus, até que Davi a capturasse (2 Sm 5.610); contudo, não há quase nada registrado para dar informações sobre a situação política da cidade pouco antes desse acontecimento. A cidade fora tomada e destruída por Judá (Jz 1.8), mas ela logo se recuperou (Jz 1.21; cf. Js 15.63), ainda que depois disso não se mencione qualquer rei nela. Relações amistosas entre Israel e Jerusalém, ou pelo menos um estado de neutralidade, prevaleceram durante o período dos juizes (Jz 19.10-12); a cidade estava cercada de povoações israelitas por todos os lados, com exceção do oeste, que era semidesértico, e,junto com o restante da população cananéia, devia a Israel a proteção contra os invasores. Será que Davi já estava se tomando o estrategista,dando a essa importante cidade um motivo para reconhecer o domínio de Israel? 144


Nenhum comentário:
Postar um comentário