Quando Deus criou o homem, colocou-o num ambiente extraordinário onde nada lhe faltaria para sua subsistência física e espiritual. O Jardim do Éden possuía um meio-ambiente perfeito. O
primeiro lar foi feito por Deus. Era maravilhoso. Nele, antes da queda, havia
amor, havia paz, união, saúde, alegria, harmonia, felicidade e comunhão com
Deus. O ambiente era agradável. Podemos imaginar o dia a dia do primeiro
casal! O trabalho era suave, resumindo-se na colheita dos frutos e alimentos
outros, necessários ã manutenção do metabolismo mínimo do corpo, pois
não havia desgaste físico como se conhece hoje. Antes da Queda, o homem
era vegetariano. Não era preciso comer carne, pois as necessidades orgânicas
eram supridas pelo alimento vegetal (Gn 1.29).
A vida no Jardim , no entanto, não era de ociosidade. O hom em foi lá
colocado “para lavrar e guardar” (Gn 2.15). Mesmo antes de o pecado entrar
no mundo, havia trabalho de natureza agrária. Mas é “interessante notar que
o trabalho, a atividade da mente e do corpo, desde o princípio, foi dignificado
por Deus. Havia trabalho, mas, em compensação, não havia doenças, nem
dor, nem morte. O pranto era desconhecido. A tristeza não existia. Tudo era
belo, agradável e muito bom”.1
No Éden, “ [...] não foram colocadas pessoas para ficarem ociosas, en-
tregues a um a vida inútil e sem objetivo. Não. O homem teria de trabalhar.
Tanto é assim, que o Criador lhe proveu um a ‘adjutora’. U m a coisa, porém,
diferenciava o trabalho antes da Queda do trabalho após a Queda. Antes,
o labor era agradável, útil e interessante, pois, nele, o homem colocava
em ação a sua capacidade criadora de m aneira fantástica, pois não havia
desgaste físico ou mental, nem doença, nem a perspectiva da morte.”2
Depois da Queda, no entanto, toda a realidade do homem foi modificada
com tremendos prejuízos espirituais, emocionais e físicos, além de terríveis
transtornos para o meio ambiente.
0 homem conheceu a maldição da terra. A ecologia foi mudada. As
condições ambientais foram transformadas. Antes, a terra só produzia para
benefício do homem. Depois, passou a germinar cardos e espinhos. Isso,
sem dúvida, se refere a tudo o que, na natureza, prejudica o homem. Este se
serve da terra, mas com dor, com sofrimento. Mesmo que use a inteligência
e consiga utilizar os instrumentos materiais para o cultivo da terra, isso tem
um custo muito alto, e os frutos da produção não são acessíveis a todos. O
trabalho tornou-se fatigante. Antes, era leve, suave, agradável, pois, com
sua força física e mental era possível obter o sustento sem maiores esforços
e sem desgaste orgânico. Depois, custaria o suor do seu rosto, e assim ele
obteria o seu pão (Gn 3.19).
Foi depois da Queda que o homem conheceu o trabalho em sua confer-
mação histórica e atual, sempre com demandas enormes de suas energias
mentais e físicas. Elifaz, amigo d e jó , discorrendo sobre Deus e seu rela-
cionamento com o homem mortal, concluiu sobre a origem, a natureza e a
necessidade do trabalho e disse: “Porque do pó não procede a aflição, nem
da terra brota o trabalho. Mas o homem nasce para o trabalho, como as
faíscas das brasas se levantam para voar” (Jó 5.6,7). Ele afirmou que “a afli-
ção” e “o trabalho” são inerentes à realidade humana. O homem já “nasce
para o trabalho”. Ele não nasce para ficar ocioso, inerte, sem ocupar sua
mente, energias e esforço diante da vida. A preguiça é condenada na ética
da Bíblia. O homem, portanto, nasce program ado para exercer atividades
dignas de sua natureza humana.
1 - A BÍBLIA E O TRABALHO DE DEUS
Podemos afirmar, à luz da Bíblia, que Deus foi o primeiro “Trabalhador”.
Ele utilizou seu poder, sua inteligência e sabedoria divinas para criar o universo
a partir do nada ^‘ex-nthüo"). Só um a mente sobrenatural, divina, de um Ser
Onipotente, Onisciente e Onipresente poderia imaginar, planejar e criar todas
as coisas de modo tão extraordinário, organizado e complexo.
O Trabalho de Deus no Universo. A Criação foi o “Trabalho”
de Deus (.Elohim, hb).3 Diz-nos a Bíblia: “Porque em seis dias fez o S e n h o r
os céus e a terra, o m ar e tudo que neles há e ao sétimo dia descansou;
portanto, abençoou o S e n h o r o dia do sábado e o santificou” (Ex 20.11).
O texto sagrado mostra-nos que Deus fez o Universo em sua imensidão e
complexidade inigualáveis, com planetas, estrelas, galáxias e outros corpos
celestes, tudo com seu poder sobrenatural. Diz a Bíblia: “Tu só és S e n h o r ,
tu fizeste o céu, o céu dos céus e todo o seu exército, a terra e tudo quanto
nela há, os mares e tudo quanto neles há; e tu os guardas em vida a todos,
e o exército dos céus te adora” (Ne 9.6). A Palavra de Deus é tão poderosa
que, à proporção que Ele falava, todas as coisas tornaram-se realidade do
nada, na seqüência dos dias da Criação: Luz (dia e noite); céu, atmosfera,
mares; continentes, vegetação; corpos celestes, sol e lua e outros; animais
marinhos e aves; animais terrestres e o homem; no último dia, Deus “des-
cansou”, ou seja, term inou seu trabalho criador.
“A ciência ensina-nos que se pode transformar matéria em energia, mas pa-
rece que Deus converteu energia em matéria”.4 Somente uma mente deturpada
pelo pecado do orgulho, incutido por Satanás, pode admitir que todo o cosmos
foi resultado de um processo aleatório, que começou a partir de um a partícula
infinitamente pequena, altamente condensada, que explodiu (“Big Bang”), e
expandiu-se “por acaso”, e formou o Universo (ou “Universos”, dizem), sem
a presença ou intervenção de um Ser Supremo, como creem os materialistas.
Uma teoria absurda sem fundamento científico consistente. Os ateus têm muita
fé. Fé sem razão. Acreditam no “deus Acaso” sem a mínima lógica científica.
A Bíblia explica o que tal ideia significa: “Por causa do seu orgulho, o ímpio
não investiga; todas as suas cogitações são: Não há Deus” (SI 10.4; 14.1; 53.1).
O Trabalho de Deus na C riação do H om em . O Universo foi
formado como efeito da poderosa energia criadora de Deus {Elohim, hb) me-
3 Bíblia de estudo palavras-chave. 2a Edição; Reimpr., Rio de Janeiro: CPAD,
diante sua palavra viva (“rhema”, hb). “No princípio, criou Deus os céus e a
terra” (Gn 1.1). Jesus disse que sua palavra era “espírito e vida” Jo 6.63). Ao
criar o homem, Deus utilizou um processo igualmente sobrenatural, porém
a partir de substâncias já existentes no “pó da terra”, no barro ou na argila:
“Pois ele conhece a nossa estrutura; lembra-se de que somos pó” (Sl 103.14;
Is 64.8). O Criador teve um trabalho mais refinado, mais delicado, para
produzir um ser “à sua imagem”, “conforme a sua semelhança”. Ao criar
a mulher, Deus recorreu a um processo mais refinado ainda. De um a parte
do homem (Adão), Ele criou a mulher: “E disse Adão: Esta é agora osso dos
meus ossos e carne da m inha carne; esta será chamada varoa, porquanto
do varão foi tom ada” (Gn 2.23). Como Deus é Onipotente, seu trabalho na
criação do ser humano produziu um resultado perfeito, jam ais admitido ser
produto de um processo aleatório.
O planejamento e a organização de Deus na constituição do corpo humano
refletem seu imensurável e divino poder.5 No aspecto espiritual, o trabalho
de Deus foi infundir no ser criado o “homem interior” (2 Co 4.16), formado
do conjunto espírito-alma. Foi um trabalho divino da Trindade. Acerca de
Deus, o Pai, está escrito: “E formou o S e n h o r Deus o homem do pó da terra
e soprou em seus narizes o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente”
(Gn 2.7). Acerca de Cristo, o Filho, está escrito: “Porque nele foram criadas
todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos,
sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por
ele e para ele” (Cl 1.16). Acerca do Espírito Santo está escrito: “O Espírito
de Deus me fez; e a inspiração do Todo-poderoso me deu vida” (Jó 33.4).
Deus Continua a Trabalhar. O Deus Supremo, Onipotente, Onis-
ciente e Onipresente também é o Deus imanente, ou seja, o Criador, que se
relaciona com suas criaturas. Ao ser acusado de desrespeitar o sábado, Jesus
declarou que o Pai continua trabalhando: “E Jesus lhes respondeu: Meu Pai
trabalha até agora, e eu trabalho também” (Jo 5.17). O trabalho de Deus e
de Cristo é diferente do trabalho do homem. Na verdade, o Pai, e o Filho, e
o Espírito Santo trabalham na esfera espiritual, divina. Diferentemente da
visão do deísmo, que afirma que Deus ou uma força superior criou o mundo
e o homem, deixando-os à própria sorte. O Deus da Bíblia, Criador dos céus
e da terra, continua a trabalhar em prol de sua criação (SI 115.3).
Deu s continua a trabalhar no Universo. Deus não abandonou
a terra e nem suas criaturas. De forma alguma! Sendo dono de tudo o que
há nos céus e na terra, Deus age em prol das coisas criadas, especialmente
do homem, “imagem”, conforme “a semelhança” de Deus. Diz o salmis-
ta: “Do S e n h o r é a terra e a sua plenitude, o mundo e aqueles que nele
habitam. Porque ele a fundou sobre os mares e a firmou sobre os rios” (SI
24.1,2). Deus cuida da terra sem que a m aioria dos homens tenha conhe-
cimento e consciência dessa verdade: “Tu visitas a terra e a refrescas; tu a
enriqueces grandemente com o rio de Deus, que está cheio de água; tu lhe
dás o trigo, quando assim a tens preparada; tu enches de água os seus sul-
cos, regulando a sua altura; tu a amoleces com a m uita chuva; tu abençoas
as suas novidades” (SI 65.9,10).
D eu s co n tin u a a tra b a lh a r e m p r o l do h o m e m . Deus age so-
bre as nações: “O que aplaca o ruído dos mares, o ruído das suas ondas e o
tumulto das nações” (SI 65.7). Deus infunde tem or no coração dos homens:
“E os que habitam nos confins da terra temem os teus sinais [...]” (SI 65.8).
Por sua bondade, o Senhor dá alegria e prosperidade aos homens: “ [...]
tu fazes alegres as saídas da m anhã e da tarde [...]; tu coroas o ano da tua
bondade, e as tuas veredas destilam gordura; destilam sobre os pastos do
deserto, e os outeiros cingem-se de alegria.
Os campos cobrem-se de rebanhos, e os vales vestem-se de trigo; por isso,
eles se regozijam e cantam” (SI 65.8b, 11-13). E o Espírito Santo que renova a
face da terra: “Envias o teu Espírito, e são criados, e assim renovas a face da
terra” (SI 104.30). O profeta Isaías proclamou ante a grandeza e a atividade
de Deus, que trabalha em favor de seus servos: “Porque desde a antiguidade
não se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu um
Deus além de ti, que trabalhe para aquele que nele espera” (Is 64.4).
Deus trabalha na redenção do homem . Ele mandou Jesus como
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” Jo 1.29). A expiação,
trazida por Cristo, está à disposição de todos os homens: “Porque Deus amou
o mundo de tal m aneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele
que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu
Filho ao mundo não para que condenasse o mundo, mas para que o mundo
fosse salvo por ele” (Jo 3.16,17). Contudo, a salvação só se concretiza se o
homem aceitar a Cristo e confessá-lo como Salvador: “Portanto, qualquer
que me confessar diante dos homens, eu o confessarei diante de meu Pai, que
está nos céus” (Mt 10.32; 1 Jo 4.15). Enquanto “a porta da G raça” não se
fechar, a redenção de Cristo está disponível a todo o que crê. Diz João: “Se
confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados
e nos purificar de toda injustiça” (1 Jo 1.9).
I I - A BÍBLIA E A MORDOMIA DO TRABALHO
Compulsando o Dicionário, encontramos alguns conceitos ou definições
para “trabalho”: “ 1. Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar
um determinado fim; 2. Atividade coordenada, de caráter físico e/o u intelec-
tual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento:
trabalho especializado; [...] 3. O exercício dessa atividade como ocupação,
ofício, profissão, etc”.6 H á diversas outras acepções do termo. N um a concei-
tuação livre, podemos dizer que trabalho é o esforço do homem, visando a
sua sobrevivência na Terra.
O Homem Foi Criado para Trabalhar. Quando Deus criou o
homem, Ele já previra que a atividade laborai faria parte de sua vida: “Toda
planta do campo ainda não estava na terra, e toda erva do campo ainda não
brotava; porque ainda o S e n h o r Deus não tinha feito chover sobre a terra,
e não havia homem para lavrar a terra” (Gn 2.5). No plano de Deus para o
planeta, o Senhor incluiu a terra como habitat do ser “semelhante” ao Cria-
dor, de tal forma que, assim como Deus trabalhou (e trabalha), o homem,
à semelhança dEle, haveria de trabalhar: “E plantou o S e n h o r Deus um
jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs ali o homem que tinha formado
[...]. E tomou o S e n h o r Deus o homem e o pôs no jardim do Éden para o
lavrar e o guardar” (Gn 2.8,15).
A Bíblia fala sobre o trabalho humano desde o princípio: Adão cuidava
do jardim do Éden, um trabalho que lhe foi dado por Deus, e seus filhos
seguiram trabalhando — Abel era pastor de ovelhas, Caim, lavrador
(Gênesis 4.2). O homem trabalhava, puramente para sua subsistência,
portanto, as atividades ligadas a terra eram predominantes.7
O Trabalho antes da Queda. Desse modo, as duas primeiras ativi-
dades laborais que houve na terra foram “lavrar” e “guardar” o que Deus
criara. Adão foi o primeiro lavrador e guardador que o mundo conheceu.
Logo, na criação do homem, no 6o dia, Deus concluiu que não seria bom o
homem (Adão) viver só, e Ele criou uma “adjutora” para estar ao seu lado,
diante da missão que o Senhor confiara a ele. Eva, portanto, foi a primeira
trabalhadora da face da terra ao lado de seu marido.
Não sabemos quanto tempo o primeiro casal passou desfrutando de toda
a beleza do Éden enquanto obedeciam a Deus, mas podemos deduzir com
razoável consistência que o trabalho “era agradável, útil e interessante, pois,
nele, o homem colocava em ação a sua capacidade criadora de maneira
fantástica, pois não havia desgaste físico nem mental, nem doença, nem a
perspectiva da morte”8.
O Trabalho depois da Queda. Após o conhecimento e cometi-
mento do pecado, tudo mudou na vida do homem (para pior, infelizmen-
te). Para começar, homem e mulher conheceram o medo (doenças nervosas,
emocionais); ambos perderam a autoridade de dominar sobre os demais se-
res; conheceram a maldição da terra. A ecologia foi mudada; as condições
ambientais foram transformadas. Gomo conseqüência, o homem passou a
conhecer outro tipo de trabalho.
O que era leve, suave, agradável, passou a ser desgastante: “ [...] mal-
dita é a terra por causa de ti; com dor comerás dela todos os dias da tua
vida. [...] No suor do teu rosto, comerás o teu pão, até que te tornes à terra
[...]” (Gn 3.17,19). A expressão “com dor” pode ser entendida como “com
fadiga”, desgaste, estresse. O trabalho físico cansa o homem: “No suor do
teu rosto [...]”. Muitas vezes, o trabalho mental cansa muito mais. Quantos
estão agora nos consultórios médicos com estafa e estresse: “Tenho visto
o trabalho que Deus deu aos filhos dos homens, para com ele os afligir”
(Ec 3.10). Elifaz, que confrontou o p atriarcajó , afirmou em seu tempo:
“Porque do pó não procede a aflição, nem da terra brota o trabalho. Mas
0 homem nasce para 0 trabalho, como as faíscas das brasas se levantam para
voar” (Jó 5.6,7 - grifos acrescentados).
III - COMO O HOMEM DEVE TRABALHAR
Como visto, antes da Queda, o trabalho do homem era essencialmente a
agricultura, a pecuária e a guarda do planeta. Ele tinha a incumbência dada
por Deus para “lavrar” e “guardar” a terra. O texto das Escrituras mostra-nos
algumas características do trabalho hum ano conforme a vontade de Deus.
O Homem Deve Trabalhar “ com o Suor de seu Rosto” .
Depois da Q ueda, o trabalho era desenvolvido no campo, essencialmente,
na área agrícola e na pecuária. O homem passou a ter grandes desgastes
emocionais e físicos. Por isso, haveria de sobreviver derramando seu suor.
Em tempos passados e no presente, o ambiente de trabalho passou a contar
com a tecnologia de refrigeração, de form a que, com o ar refrigerado, há
atividades em que as pessoas quase não sentem calor ou suor nas chama-
das atividades do “terceiro setor” dos serviços, muitos dos quais usando
tecnologia avançada, em que o esforço físico é mínimo. O decreto de Deus,
contudo, continua atual.
Disse Deus ao homem depois da Queda: “No suor do teu rosto, co-
merás o teu pão, até que te tornes à terra; porque dela foste tomado, por-
quanto és pó e em pó te tornarás” (Gn 3.19).Deus, portanto, quer que o
homem seja trabalhador esforçado desde a idade própria para o trabalhó
até sua velhice, quando não mais pode trabalhar, e desfrute do merecido
repouso mediante um a aposentadoria digna. E importante observarmos
que Deus não amaldiçoou o homem, mas a terra. O suor tem função termorregulatória.
O suor é um elemento presente no esforço do trabalho, que se tornou mais
pesado pelo pecado, mas não é somente uma característica do trabalho após
a queda do homem; é também uma expressão do cuidado de Deus para
com o trabalhador, pois é primordial para a saúde do corpo, realizando
o processo de termorregulação.9
O Trabalho Deve Ser Diuturno. Diz a Palavra de Deus: “Então,
sai o homem para a sua lida e para o seu trabalho, até à tarde” (Sl 104.23).
O Senhor abençoa o trabalho do homem fiel: “Bem-aventurado aquele que
teme ao S e n h o r e anda nos seus caminhos! Pois comerás do trabalho das
tuas mãos, feliz serás, e te irá bem” (Sl 128.1,2). Paulo, “doutor da Lei”,
após tornar-se cristão mediante seu encontro impactante com Jesus, elabo-
rou uma verdadeira “teologia do trabalho”. Suas exortações e ensinos sobre
o dever de trabalhar merecem muita atenção, pois ele antecipou-se a muitos
textos legais sobre o trabalho e o trabalhador. Ele deu um exemplo eloqüente
de como deve ser o trabalho de um cristão (2 Ts 3.6-13).
Não Ser Pesado a ninguém . Primeiro, Paulo exorta os crentes para
que não sejam aproveitadores da boa vontade de ninguém e nem que vi-
vam sem trabalhar, pois isso não é digno da condição cristã: “ [...] nem, de
graça, comemos o pão de homem algum, mas com trabalho e fadiga, tra-
balhando noite e dia, para não sermos pesados a nenhum de vós; não por-
que não tivéssemos autoridade, mas para vos dar em nós mesmos exemplo,
para nos imitardes” (2 Ts 3.8,9). O apóstolo deu exemplo aos seus discípulos
sobre como exercer a mordomia do trabalho. Apesar de ser um “ministro
do evangelho”, pastor e evangelista de grande conceito perante a igreja em
que servia a Deus, Paulo tinha uma atividade paralela ao ministério para
não sobrecarregar as igrejas que ele abria em diversos lugares. Ele diz que
trabalhava “noite e dia” para não ser pesado a ninguém. Hoje, em muitas
igrejas, há pessoas ociosas, preguiçosas, que não querem trabalhar, mas viver
de modo oportunista, explorando os irmãos com pedido de esmolas, ajudas
financeiras e mantimento de suas necessidades. H á pessoas, inclusive cris-
tãs, que realmente necessitam das coisas mínimas para um a vida digna. Ha-
vendo pessoas realmente carentes, a igreja local deve ajudar conforme suas
condições. O salmista exclamou: “Fui moço e agora sou velho; mas nunca vi
desamparado o justo, nem a sua descendência a mendigar o pão” (SI 37.25).
Escrevendo aos tessalonicenses, Paulo chegou a ser mais radical que quais-
quer sindicalistas e representantes de diversas classes de trabalhadores. Ele
considerou “desordenados” os que não queriam trabalhar: “Porque, quando
ainda estávamos convosco, vos mandamos isto: que, se alguém não quiser
trabalhar, não coma também ” (2 Ts 3.10). Pessoas incapacitadas, doentes,
deficientes físicos no meio da igreja local devem ser ajudadas com amor e
sabedoria. Diz o apóstolo: “[...] o que reparte, faça-o com liberalidade; o que
preside, com cuidado; o que exercita misericórdia, com alegria” (Rm 12.8). Ele,
porém, reprovava a ociosidade e a falta de vontade em trabalhar: “Porquanto
ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando,
antes, fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos e exortamos, por
nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio
pão. E vós, irmãos, não vos canseis de fazer o bem” (2 Ts 3.11-13). N a Bíblia,
a preguiça é clara e veementemente condenada. O livro de Provérbios é rico
em exortações e advertências contra os preguiçosos: “Vai ter com a formiga,
ó preguiçoso; olha para os seus caminhos e sê sábio” (Pv 6.6,9; 13.4; 19.24ss).
Os Empregadores Cristãos. Nas relações de trabalho, os cris-
tãos devem ter muito cuidado para não serem condenados por Deus. Há
preciosos ensinos tanto para os empregados, ou servidores, que traba-
lham sob a autoridade de alguém, quanto para os que são considerados
servos ou empregados.
P a tr õ e s c r is tã o s . Os patrões cristãos devem ser exemplo no trato com
seus empregados. Empresários, comerciantes ou gestores de quaisquer or-
ganizações devem estar pautados pela ética no trabalho à luz da Palavra de
Deus. Eis o que a Bíblia diz em relação ao tratamento dos patrões para com
seus empregados: “E vós, senhores, fazei o mesmo para com eles, deixando
as ameaças, sabendo também que o Senhor deles e vosso está no céu e que
para com ele não há acepção de pessoas” (Ef 6.9). Paulo exorta aos efésios
a lidarem com seus serviçais de forma respeitosa, alertando que os empre-
gados humanos merecem respeito e consideração, pois o Senhor do patrão
é o mesmo Senhor dos servos, que não faz acepção de pessoas. A falta desse
respeito dos patrões para com os empregados ou trabalhadores foi uma das
razões pela qual o desempregado, desocupado e usado pelo Diabo, Karl
M arx (1818—83), inventou o comunismo juntam ente com Friedrich Engels
(1820-95) com base na chamada “luta de classes” entre patrões e emprega-
dos, que eram, de fato, explorados pelos industriais na Revolução Industrial
(1760-1840 aproximadamente). Entre os cristãos, não deve haver nenhuma
“luta de classes”, mas, sim, um relacionamento amoroso e sincero entre em-
pregadores e empregados.
Tiago, irmão de Jesus, em sua epístola reverbera um a tremenda repre-
ensão contra crentes ricos que, nas relações de trabalho, agem com injustiça
contra seus empregados: “Eis que o salário dos trabalhadores que ceifaram
as vossas terras e que por vós foi diminuído clama; e os clamores dos que
ceifaram entraram nos ouvidos do Senhor dos Exércitos. Deliciosamente,
vivestes sobre a terra, e vos deleitastes, e cevastes o vosso coração, como num
dia de matança. Condenastes e matastes o justo; ele não vos resistiu” (Tg
5.4-6). Aos gálatas, Paulo ensina que não há discriminação racial, social ou
sexual em Cristo: “Porque todos quantos fostes batizados em Cristo já vos
revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego; não há servo nem livre■, não
há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus” (G13.27,28
- grifo acrescentado). Jesus ordenou que devemos am ar os outros como Ele
amou a cada um de nós: “Um novo m andam ento vos dou: Que vos ameis
uns aos outros; como eu vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos
ameis. Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns
aos outros” (Jo 13.34,35).
E m p r e g a d o s c r i s t ã o s . Jesus jamais se comportou como “comunis-
ta”, como querem forçar os marxistas-leninistas, que pregam o ódio entre
os homens. Ele nunca insuflou patrões contra empregados e vice-versa.
Pelo contrário, Jesus pregou que o amor deve ser a m arca do cristão em
todas as áreas da vida. Ele ensinou que devemos amar a Deus acima de
tudo e de todos e ao nosso próximo como a nós mesmos (Mt 22.34-40). No
mesmo texto em que exorta os patrões, Paulo ensina aos servos, ou empre-
gados, como se relacionar no trabalho com seus patrões ou senhores: “Vós,
servos, obedecei a vosso senhor segundo a carne, com temor e tremor, na
sinceridade de vosso coração, como a Cristo, não servindo à vista, como
para agradar aos homens, mas como servos de Cristo, fazendo de coração
a vontade de Deus; servindo de boa vontade como ao Senhor e não como
aos homens, sabendo que cada um receberá do Senhor todo o bem que
fizer, seja servo, seja livre” (Ef 6.5-8).
N ã o s e s u b m e t e r a u m tr a b a lh o v il. Infelizmente, há o trabalho
indigno, que deve ser condenado pelos cristãos. Trata-se da exploração vil
do homem pelo homem, no trabalho escravo, no trabalho infantil, nas ativi-
dades sujas do vício, do crime, da miséria; ou a exploração do homem pelo
Estado. Deus deseja que o homem tenha um trabalho digno com esforço e
honestidade. O homem deve trabalhar para viver, e não viver para traba-
lhar. As atividades exercidas pelo homem são reguladas em qualquer lugar
do mundo pelas chamadas “leis trabalhistas”, que preservam a saúde física
e mental do trabalhador, bem como a sua dignidade. Por isso, é preciso dis-
ciplina garantida pela lei para que o homem não seja explorado por outros
semelhantes.
O cristão deve orar a Deus para não ser obrigado a sujeitar-se a qualquer
trabalho aviltante, mesmo que ele passe por grandes necessidades financeiras.
Ele deve recorrer à igreja local em busca de ajuda, pois a missão da igreja não
é só pregar a fé, mas também pregar com fé, que é demonstrada pelas obras de
salvo: “Porque somos feitura sua, criados em Cristo Jesus para as boas obras,
as quais Deus preparou para que andássemos nelas” (Ef 2.10). Nem o justo
ou sua descendência devem mendigar o pão (SI 37.25).
CONCLUSÃO
O Senhor, o Criador do Universo, fez tudo com seu poder divino e rea-
lizou o seu trabalho cósmico de forma maravilhosa, que transcende a toda
a compreensão humana. Ele foi, é e sempre será um Deus que trabalha,
diferentemente dos deuses inventados pelo Diabo ou pela imaginação vã do
ser humano, desnorteado pela tragédia do pecado. Muitos desses “deuses”
são representados por seres ociosos, que se limitam a receber oferendas e até
mesmo sacrifícios humanos, mas que nada fazem pelo homem.
O Deus da Bíblia, entretanto, é onipotente, onisciente e onipresente e ainda
trabalha em favor do homem, visando a sua redenção através de Cristo Jesus.
Assim, Ele quer que seus servos também trabalhem diuturnamente para o seu
bem, o de sua família e o de todos ao seu redor. A Bíblia, como vimos neste
capítulo, é um verdadeiro manual de orientação sobre o valor do trabalho e
como este deve ser executado, isto é, com ética e labor constantes.
Elinaldo Renovato
TEMPO, BENS
E TALENTOS
2011. ELOHIM: “Substantivo masculino plural que significa Deus, deuses, juizes, anjos.
Ocorre mais de 2600 vezes no Antigo Testamento. Esta palavra normalmente designa
o único Deus verdadeiro (Gn 1.1) [...]. Embora a forma desta palavra seja plural, ela é
frequentemente usada se fosse singular — i.e., com um verbo no singular (Gn 1.1-31);
Ex 2.24). A forma plural desta palavra pode ser considerada (1) como intensiva, para
indicar a plenitude do poder de Deus; (2) como majestosa, para indicar o governo real
de Deus; ou (3) como uma alusão à Trindade (Gn 1.26)”. Em Gênesis 1.26, Deus disse:
“E disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança [...]”;
entende-se como a convocação da Trindade para o ato criador divino do ser humano.
4 HOFF, Paul. O Pentateuco, p. 26.
5 Elementos químicos: “Todas as formas de m atéria são compostas de um número
limitado de unidades básicas chamadas de elementos q u ím ic o s , os quais não
podem ser desdobrados em substâncias mais simples por meio de reações químicas
comuns. Por hora, os cientistas reconhecem 109 elementos diferentes. O s elementos
químicos são designados abreviadamente por letras chamadas de símbolos químicos:
H (hidrogênio), C (carbono), O (oxigênio), N (nitrogênio), N a (sódio), K (potássio),
Fe (Ferro) e Ca (Cálcio). Vinte e seis destes elementos são encontrados no organismo
humano. Oxigênio, carbono, hidrogênio e nitrogênio constituem aproximadamente
96% da massa corpórea. Outros elementos como cálcio, fósforo, potássio, enxofre,
sódio, cloro, magnésio, iodo e ferro constituem aproxim adam ente 3,9% da massa
corpórea. O utros treze elementos químicos encontrados no corpo hum ano são
chamados de e le m e n to s -tr a ç o , por serem encontrados em baixas concentrações, e
constituem o 0,1% restante”. Disponível em http://www.corpohumano.hpg.ig.com.
br/generalidades/quim ica/quim ica_05.htm l. Acesso em 27 de jan de 2006.
6 HOLANDA, Aurélio Buarque de. Novo dicionário da língua portuguesa. Rio
de Janeiro: Editora Nova Fronteira.
7 MAIA, Kleber. A bíblia e o trabalho, p. 28, 29.
8 LIMA, Elinaldo Renovato de. A família cristã nos dias atuais. Rio, CPAD,
1986., p. 20, 21.

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