domingo, 22 de setembro de 2019

Lição 13: Existe Filho Predileto?



TEXTO ÁUREO

Pois este meu filho estava morto e voltou à vida; estava perdido e foi achado’. E começaram a festejar.
Lucas 15:24




                                         

Certa vez perguntaram a uma mãe
qual era seu filho preferido,
aquele que ela mais amava.
E ela, deixando entrever um sorriso, respondeu:
Nada é mais volúvel que um coração de mãe.
E, como mãe, lhe respondo:
o filho dileto,
aquele a quem me dedico de corpo e alma...
É o meu filho doente, até que sare.
O que partiu, até que volte.
O que está cansado, até que descanse.
O que está com fome, até que se alimente.
O que está com sede, até que beba
O que está estudando, até que aprenda.
O que está nu, até que se vista.
O que não trabalha, até que se empregue.
O que namora, até que se case.
O que casa, até que conviva.
O que é pai, até que os crie.
O que prometeu, até que se cumpra.
O que deve, até que pague.
O que chora, até que cale.
E já com o semblante bem distante daquele sorriso, completou:
O que já me deixou...
...até que o reencontre...
                                                                        
                                                                                              Erma Bombeck




                                                 Existe filho predileto?
 por Pr. Natanael Rinaldi

O JORNAL DA ORLA* traz um artigo discutível com o título EXISTE FILHO PREDILETO?  
Diz a notícia que passamos a comentar:

“Ter preferência pelo filho mais velho, pelo caçula, pelo do meio ou por aquele que se mostra frágil ou problemático é uma situação bastante comum, diz a psicóloga clínica Rosangela Stamini Negreiros. “‘ Só quando exposta, é interpretada como ciúmes, já que os pais nunca admitem”. O favoritismo não é falado claramente, mas é vivido de maneira explícita. Em nossa cultura a figura da mãe é idealizada, santificada, lhe é cobrado um comportamento impecável, de amor incondicional, por isso este tipo de situação choca. ’’’ Na opinião de Rosangela, o sentimento inicial da maternidade é o mesmo, mas as afinidades vão se revelando durante a vida e com cada filho há pontos de identificação e discordância.”.

PR. NATANAEL: A Bíblia faz alusão a esse problema que parece comum em quase todas as famílias quando os pais demonstram preferência por um determinado filho? 
A rivalidade entre irmãos quando sentem que está havendo preferência de um ou de outro, isto é, seja pai ou mãe por um deles é grave e pode resultar até em tragédias. Haja vista como se deu o primeiro homicídio, ou melhor, dizendo, o primeiro fratricídio quando Caim sentiu inveja do seu irmão Abel porque Deus atentou para o sacrifício de Abel e não de Caim. Este sem misericórdia e mesmo advertido por Deus, não perdoou o irmão e o matou. É verdade que não se trata exatamente da preferência dos pais de Abel por ele, mas o próprio Deus aceitou o sacrifício de Caim e matou o seu irmão inocente. Por que essa preferência de Deus pelo sacrifício de Abel e não de Caim? Havia alguma razão especial?


Sim. Caim era jovem de más obras. Isto descobrimos em (I João 3:12) – “Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão justas.” Deus não aceita sacrifícios de pessoas que pensam agradá-lo com tais sacrifícios, mas não se propõe fazer a sua vontade. Foi o que declarou também o profeta Samuel ao rei Saul que desobedeceu a Deus e depois queria oferecer sacrifícios para despistar o seu mau feito. (I Samuel 15:22) – “Porém Samuel disse: Tem porventura o SENHOR tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à palavra do SENHOR? Eis que o obedecer é melhor do que o sacrificar; e o atender melhor é do que a gordura de carneiros. (I Samuel 15:23) – Porque a rebelião é como o pecado de feitiçaria, e o porfiar é como iniqüidade e idolatria. Porquanto tu rejeitaste a palavra do SENHOR, ele também te rejeitou a ti, para que não sejas rei.” Os pais precisam ter cuidado com as preferências com seus filhos?


Sim. Um exemplo bíblico que podemos citar é o caso de Isaque por seu filho Esaú. Leiamos a Bíblia: Gn.32:26-30 “Então o homem disse: Deixa-me ir pois já rompeu o dia. Porém Jacó respondeu; Não te deixarei ir, se não me abençoares. Perguntou-lhe o homem. Qual é o teu nome? E Jacó respondeu: Jacó. Então o homem disse: Não te chamarás mais Jacó, mas Israel, porque lutaste com Deus, e com os homens, e prevaleceste. Perguntou-lhe Jacó: Dizeme, peço-te o teu nome. Mas o homem respondeu: Por que perguntas pelo meu nome? E ali o abençoou. Jacó chamou aquele lugar Peniel. Pois disse. Vi a Deus face a face e a minha vida foi poupada”. Jacó e Esaú há muito não se viam, porque Jacó recebera a bênção da primogenitura no lugar de Esaú, enganando o seu pai, que era avançado em idade e de pouca visão, se fazendo passar por seu irmão Esaú.
Por que viviam distantes os dois irmãos Esaú e Jacó a ponto de se odiarem?


Essa briga começou quando seus pais começaram a ter preferências pessoais, pois cada qual tinha o seu filho preferido. O filho do coração. Veja o que está escrito em Gn. 25:28 – “Isaque , que tinha gosto pela caça, amava a Esaú, mas Rebeca amava a Jacó”. Embora gêmeos Esaú e Jacó eram fisicamente diferentes e Esaú por ser o primogênito tinha o seu direito garantido por lei, porém insensatamente trocou este direito da primogenitura por um guisado de lentilhas que o irmão prepara. Foi o suficiente para não receber os créditos da benção paterna que viria mais tarde. Bom a história nos mostra que Jacó foi super abençoado pelo pai já velho e que mal enxergava, enquanto que Esaú reteve as menores bênçãos. Deste fato resultou a briga entre ambos e fez com que Esaú odiasse a seu irmão a ponto de querer matá-lo. Jacó passou os seus dias longe dos olhos de seu irmão Esaú em terras de parentes. E agora depois de anos a possibilidade do reencontro e de fazerem as pazes, seria algo mais real do que nunca. Deus havia preparado Jacó nas terras para a qual havia ido e foi justamente depois de alguns anos distante, que este toma a iniciativa de encaminhar presentes e coloca a sua família na frente para o encontro de seu irmão. Jacó teve uma de suas experiências com Deus mais fantásticas que a Bíblia apresenta. Nossos filhos devem ser amados de igual forma?


Sim. Este foi justamente um dos motivos pelos quais os irmãos chegaram a ponto de brigas, discórdias e ódio, tendo inclusive de separar-se geograficamente, para que o pior não viesse acontecer. Isto, devido à insensatez por parte de seus pais em se afeiçoarem em extremo cada qual à sua preferência. Isaque amava Esaú e Rebeca amava Jacó. Os filhos devem ser amados de igual forma. Os pais devem amá-los, mesmo que as personalidades, sexo ou outras qualidades criem elos de identificação diferenciados. Devem procurar estabelecer parâmetros quanto aos exageros preferências que podem com certeza trazer sérios problemas de ordem emocional, psíquica e comportamental na vida deles. Por mais difícil que possa ser os pais devem procurar amá-los de igual forma. Este amor deve ser traduzido não somente na base de declarações amorosas, como também em atividades práticas, que justifiquem com cada um deles o espaço de aproximação que se faz necessário. Em outras palavras. Deve-se procurar amadurecer na idéia de não acumular benefícios e elogios em relação a um filho em detrimento do outro. Os nossos filhos devem se sentir amados, protegidos, respeitados, seguros e tranqüilos em relação ao amor que temos para com eles. Existe algum meio de irmãos separados possam reconciliar-se?


Sim. Este meio é o perdão. É o que lemos em (Gênesis 33:1) – “E LEVANTOU Jacó os seus olhos, e olhou, e eis que vinha Esaú, e quatrocentos homens com ele. Então repartiu os filhos entre Lia, e Raquel, e as duas servas. (Gênesis 33:2) – E pôs as servas e seus filhos na frente, e a Lia e seus filhos atrás; porém a Raquel e José os derradeiros. (Gênesis 33:3) – E ele mesmo passou adiante deles e inclinou-se à terra sete vezes, até que chegou a seu irmão. (Gênesis 33:4) – Então Esaú correu-lhe ao encontro, e abraçou-o, e lançou-se sobre o seu pescoço, e beijou-o; e choraram.”.


                                          * O JORNAL DA ORLA de 30 de abril de 2011

FONTE: 


Sete
Uma troca celestial
O Fardo da Culpa
Guia-me pelas veredas da justiça por amor do seu nome.
SALMO 23.3

 Um amigo organizou uma troca de biscoitos de natal para o staff de nossa igreja. O plano era simples. O preço da admissão era uma bandeja de biscoitos.


Sua bandeja autorizava você a pegar biscoitos de outras bandejas. Você podia sair com tantos biscoitos quanto houvesse trazido.

Parece simples, se você sabe cozinhar. Mas se você não sabe? E se você não pode distinguir uma frigideira de uma panela? E se igual a mim, você é culinariamente desafiada? E se você se sente tão à vontade num avental quando um fisiculturista numa roupa de bailarina? Se este é o caso, você tem um problema.


Este era o caso, e eu tinha um problema. Não tinha biscoitos para trazer; conseqüentemente, não teria lugar à festa. Seria deixado de fora, mandado embora, evitado, afastado, rejeitado. (Você sente por mim?)

Esta era a minha condição. E, perdoe-me por trazer isto à tona, mas a sua situação é até pior.


Deus está planejando uma festa - uma festa para festa nenhuma botar defeito. Não uma festinha de biscoitos, mas um banquete. Não risadinhas e bate-papo na sala de conferências, mas olhos arregalados de admiração na sala do trono de Deus.


Sim, a lista de convidados é impressionante. Sua pergunta para Jonas, sobre como é sofrer nas entranhas de um peixe? Você poderá interrogá-lo. Porém, mais impressionante que os nomes dos convidados é a natureza deles. Nada de egos, nada de poderio. Culpa, vergonha e tristeza serão detidas no portão. Doenças, morte e depressão serão a Peste Negra de um passado distante. O que hoje vemos diariamente, lá nunca mais veremos.


E o que hoje enxergamos de modo vago, lá enxergaremos claramente. Veremos a Deus. Não pela fé. Não através dos olhos de Moisés, ou de Abraão ou de Davi. Não por meio das Escrituras, ou do pôrdo-sol, ou das chuvas de verão. Veremos não o trabalho ou as palavras de
Deus, mas Ele mesmo! Ele não é o anfitrião da festa; Ele é a própria festa. A sua bondade é o banquete. A sua voz, a música. O seu resplendor é a sua luz, e o seu amor, o tema infinito da discussão.


Há apenas um empecilho. O preço da admissão é um tanto alto. Para comparecer à festa, você precisa ser justo. Não bom. Não descente. Não um contribuinte ou um devoto.


Os cidadãos do céu são justos. R-e-t-o-s. Todos nós, ocasionalmente, fazemos o que é certo. Uns poucos fazem, predominantemente, o que é certo. Mas, alguns de nós faz sempre o que é certo? De acordo com Paulo, não. "Não há um justo, nem um sequer" (Rm 3.10). Paulo é duro quanto a isto. Ele continua dizendo: "Não há quem faça o bem, não há nem um só" (Rm 3.12).


 Alguém pode discordar. "Não sou perfeita, Max, mas sou melhor que maioria. Tenho me portado bem. Não quebro as regras. Não parto
corações. Ajudo as pessoas. Gosto das pessoas. Comparada a outros, acho que posso dizer que sou uma pessoa justa".


Eu costumava tentar isto com a minha mãe. Ela me dizia que o meu quarto não estava limpo, e eu lhe pedia para vir comigo ao quarto do meu irmão. O dele estava sempre mais bagunçado que o meu. "Veja, meu quarto está limpo; dê uma olhada neste".


Nunca funcionava. Ela me levava ao quarto dela. Em se tratando de arrumar aposentos, minha mãe era justa. O seu armário era perfeito. A sua cama era perfeita. O seu banheiro era perfeito. Comparado ao dela, o meu quarto era... bem, totalmente errado. Ela mostrava-me os seus aposentos e dizia: "É isto o que eu chamo de limpo".


Deus faz o mesmo. Ele aponta para Si mesmo e diz: "E isto o que eu chamo de retidão".


Retidão é o que Deus é.

  “... pela justiça do nosso Deus e Salvador Jesus Cristo' (2 Pé
1.1).
"Deus é um juiz justo" (Sl 7.11).


 "O Senhor é justo e ama a justiça" (Sl 11.7).


 A justiça de Deus "permanece para sempre" (Si 112.3), e "está muito alta" (Sl 71.9).


 Isaías descreve Deus como "Deus justo e Salvador'' (Is 45.21).


Na véspera de sua morte, Jesus começou a sua oração com as palavras: "Pai justo" (Jo 17.25).


Entendeu? Deus é justo. Os seus decretos são justos (Rm 2.5). As suas exigências são justas (Rm 8.4). Os seus atos são justos (Dn 9.16). Daniel declarou: "Justo é o Senhor, nosso Deus, em todas as suas obras, que fez" (Dn9.14).


Deus nunca é injusto. Ele nunca se entregou a uma decisão errada, experimentou a atitude errada, deu o passo errado, disse a coisa errada, ou agiu do modo errado. Ele nunca está atrasado ou adiantado demais, nunca é demasiadamente barulhento ou suave, rápido ou lento. Ele sempre esteve e estará certo. Ele é reto.


 E quando se trata de retidão, Deus percorre a mesa como um lance de tabela. Quando se trata de retidão, não sabemos qual extremidade do taco segurar. Daí a nossa condição. Iria Deus, que é justo, passar a eternidade com aqueles que não o são?


Iria a USP admitir um desistente da terceira série? Se o fizesse, o gesto poderia ser benevolente, mas não seria justo. Se Deus aceitasse o injusto, o convite seria ainda mais amável, mas estaria Ele sendo correto? Seria Ele justo por deixar passar nossos pecados? Baixar o seu padrão? Não. Ele não seria justo. E uma coisa que Deus é: justo.


Ele afirmou a Isaías que a justiça seria o seu prumo, o padrão pelo qual a sua casa seria medida (Is 28.17). Se somos injustos, então seremos deixados na entrada, sem biscoitos. Ou, para usar a analogia de Paulo, "e todo o mundo seja condenável diante de Deus" (Rm 3.19). Então, o que vamos fazer? Carregar um fardo de culpa? Muitos o fazem. Muitos mesmo.

E se a nossa bagagem espiritual fosse visível? Suponhamos que a bagagem de nosso coração fosse literalmente vista pelas ruas. Sabe o que mais veríamos? Malas de culpas. Bolsas estufadas com bebedeiras, explosões e compromissos. Olhe à sua volta. O camarada com o terno de lã cinza? Está arrastando uma década de pesares. O menino de calça jeans e argola no nariz? Daria qualquer coisa para retirar as palavras que disse à mãe. Mas não pode.


Então ele as reboca adiante. A mulher num tailleur executivo? Parece que ela poderia concorrer para senadora. Na verdade,
preferiria correr por socorro, mas não pode correr por nada. Não, arrastando aquela mala de remorso aonde quer que vá. Ouça. O peso do cansaço abate você. A autoconfiança desencaminha você. Os desapontamentos desencorajam você. A ansiedade contamina você.


A culpa? A culpa consome você. Então, o que fazemos? Nosso Deus é correto, e nós somos errados. A sua festa é para inocentes, e estamos longe disso. O que fazemos? Vou contar-lhe o que fiz. Confessei a minha necessidade. Lembra-se do meu dilema sobre os biscoitos? Veja o e-mail que enviei a todo o staff. "Não sei cozinhar, por isto não poderei estar na festa".


Alguma das assistentes teve piedade de mim? Não. Alguém do staff teve pena de mim? Não.


Alguém da Suprema Corte de Justiça teve misericórdia de mim? Não.


Porém, uma piedosa irmã da igreja teve compaixão de mim. Não sei como ela soube do meu problema. Talvez meu nome achou seu caminho numa lista de oração. O que sei é que momentos antes da celebração eu recebi um presente: um prato de biscoitos, doze círculos de bondade.


E em virtude daquele presente, fui privilegiado com um lugar à festa.

Se eu fui? Pode apostar seus biscoitos que sim. Como um príncipe carregando uma coroa numa almofada, carreguei o meu presente para dentro da sala, coloquei-o na mesa, e fiquei de cabeça erguida.


Porque uma boa alma ouviu o meu apelo, foi-me dado um lugar à mesa.


E porque Deus ouve o seu apelo, ser-lhe-á dado o mesmo. Só que Ele faz mais - oh, muito mais - que assar biscoitos para você.


Foi, ao mesmo tempo, o momento mais belo e o mais horrível da história. Jesus de pé, no tribunal do céu. Passando a mão sobre toda a criação, Ele defendeu: "Puna a mim pelos seus erros. Vê o assassino?
Dê-me a sua pena. A adúltera? Eu levarei a sua vergonha. O fanático, o mentiroso, o ladrão? Faça a mim o que farias a eles. Trate-me como tratadas um pecador".


E Deus o fez. "Porque também Cristo padeceu uma vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para levar-nos a Deus" (l Pé 3.18).


Sim, reto é o que Deus é, e, sim, reto é o que nós não somos, e, sim, retidão é o que Deus requer. Mas, "agora se manifestou sem a lei a justiça de Deus" (Rm 3.21).


Davi disse o mesmo desta forma: "Guia-me pelas veredas da justiça" (Sl 23.3).


A vereda da justiça é um trilha estreita, sinuosa, subindo um monte íngreme. No cume do monte há uma cruz. Ao pé da cruz estão os fardos.
Incontáveis fardos cheios de inumeráveis pecados. O Calvário é um monte feito de culpas. Gostaria de levar a sua para lá também?


Um último pensamento sobre a festa do biscoito. Todos sabiam que eu não fazia biscoitos? Se não sabiam, eu lhes contei. Contei-lhes que estava presente em virtude do trabalho de outra pessoa. A minha única contribuição fora a minha confissão.


 Estaremos dizendo o mesmo por toda a eternidade.


                                                           Max Lucado




                       13 Os Filhos e as Linguagens do Amor


O conceito das linguagens do amor também pode ser aplicado aos filhos?


Essa pergunta sempre me é feita por aqueles que participam de meus seminários sobre casamento. Minha resposta genérica é sim. Quando as crianças são pequenas, não há como saber a primeira linguagem do amor delas. Portanto, use todas as cinco e você terá mais possibilidades de descobri-la. Outra dica: ao observar o comportamento de seus filhos, será possível
desvendar, mais facilmente, a primeira linguagem do amor deles.


Bobby tem seis anos de idade. Quando seu pai chega em casa à noite, após o trabalho, ele pula em seu colo e despenteia os cabelos dele. O que esta criança quer dizer com isso?
“Quero ser tocado.”
Ele toca em seu pai porque também deseja ser acariciado. A primeira linguagem do amor de Bobby, muito possivelmente, é “Toque Físico”.
Patrick é vizinho de Bobby. Ele tem cinco anos e meio e ambos brincam juntos. O seu pai, no entanto, encontra uma situação completamente diferente ao chegar em casa do trabalho. Patrick diz entusiasmado:


— Venha cá, papai. Quero lhe mostrar uma coisa. Paiê, vem cá!
E o pai responde:
— Espere um pouco, Patrick! Deixa eu dar uma olhada no jornal, primeiro.
O menino vai ao seu quarto, mas volta em quinze segundos, e diz:
— Papai, venha até o meu quarto. Eu quero mostrar-lhe uma coisa. Papai, quero mostrar-lhe agora!!
O pai responde:
— Só um instante, filho. Deixe-me terminar de ler o jornal.
A mãe de Patrick aparece neste momento e passalhe um “pito”. Ela lhe diz que o pai está cansado, e ele deve deixá-lo ler o jornal sossegado. Ele então diz:
— Mas mamãe, eu quero mostrar paro o papai aquilo que eu fiz.
— Eu sei, mas “dê um tempo” para o seu pai ler o jornal — a mãe responde.
Um minuto mais tarde, Patrick vai em direção de seu pai e pula em cima do jornal e ri. O pai fica bravo e pergunta:
— O que é que você está fazendo, Patrick? Patrick responde:
— Quero que você vá ao meu quarto comigo, ver o que eu fiz!
O que Patrick então solicita?


“Qualidade de Tempo”. Ele quer a atenção total de seu pai e não vai parar enquanto não a conseguir, mesmo que para isso tenha de fazer uma bela cena.


Se o seu (sua) filho (a) pegar algum objeto, embrulhá-lo e der a você com um brilho todo especial nos olhos, a primeira linguagem do amor dele, provavelmente, é “Receber Presentes”. Ele (ela) os concede, porque gostaria de receber algo em troca. Se você observar seu filho, ou filha, sempre desejoso (a) de ajudar os irmãozinhos, isso provavelmente significa que a linguagem dele (dela) é “Formas de Servir”. Se ele ou ela tiver o hábito de elogiá-lo (a) constantemente, ao afirmar que você está muito elegante, é um bom pai ou uma boa mãe e que bom trabalho você fez, são fortes indicadores de que a primeira linguagem do amor dele (dela) é “Palavras de Afirmação”.


Tudo isso se passa a nível do inconsciente da criança, ou seja, ela propositadamente não pensa: “Se eu der um presente a meus pais, eles também me darão outro; se eu os tocar, também serei acariciado”; mas o comportamento dela é motivado por seus desejos emocionais. Talvez tenha aprendido, por experiência própria, que ao falar ou dizer determinadas coisas, recebe um padrão de reação dos pais. Portanto, o que ela faz ou diz tem o objetivo de suprir suas necessidades emocionais. Se tudo prosseguir normalmente e suas necessidades emocionais forem supridas, tudo se encaminhará para que se tornem adultos responsáveis. Porém, se a carência emocional não for suprida, podem chegar a violar determinados padrões, ou expressar a ira contra seus pais, por eles não terem suprido suas necessidades. Isto também os levará a procurar amor em lugares inadequados.


Dr. Ross Campbell, o psiquiatra que me falou pela primeira vez do “tanque do amor” emocional, diz que durante os muitos anos em que tratou de adolescentes envolvidos em comportamentos sexuais irregulares, havia entre eles algo cuja carência afetiva deveria ter sido suprida pelos pais. Sua opinião era que praticamente toda conduta sexual irregular em adolescentes tinha sua raiz em um “tanque” do amor emocional vazio.


Por que, quando os filhos ficam mais velhos, nossas “Palavras de Afirmação” tornam-se palavras de condenação? Você já reparou esse tipo de coisa ocorrer em sua comunidade? Um adolescente foge de casa. Os pais levantam suas mãos para o alto e perguntam:
“Como ele pôde fazer isso comigo, depois de tudo o que realizei por ele?”


Aquele adolescente, porém, a vários quilômetros de distância, abre o seu coração para algum conselheiro e diz:


“Meus pais não me amam. Eles nunca gostaram
de mim. Eles amam meu irmão, mas jamais gostaram de mim.”
Será que estes pais amam aquele adolescente? Na maioria dos casos, sim. Então, onde está o problema? Quase sempre este tipo de situação ocorre quando os pais não sabem comunicar seu amor em uma linguagem que o filho possa entender. Talvez eles comprem luvas de boxe e bicicletas para mostrar seu amor, mas talvez o filho grite:


“Por favor, alguém deseja jogar bola comigo!?”
A diferença entre comprar uma bola e jogar com seu filho pode ser um “tanque” do amor cheio ou vazio. Os pais procuram, sinceramente, amar seus filhos (a maioria deles age assim), mas somente sinceridade não adianta. Precisamos aprender a falar a primeira linguagem do amor de nossos filhos, se quisermos suprir-lhes sua necessidade emocional de amor.
Olhemos para as cinco linguagens do amor, no propósito de compreendermos nossos filhos:


PALAVRAS DE AFIRMAÇÃO


Normalmente os pais dizem “Palavras de Afirmação” a seus filhos quando eles ainda são pequenos. Mesmo antes que entendam a linguagem verbal, já lhes dizem coisas como: “Que narizinho lindo! Que olhinhos mais brilhantes! Que cabelo mais macio”, etc. Quando o bebê começa a engatinhar, elogiamos cada gesto e “esbanjamos” “Palavras de Afirmação”. Quando ele começa a andar e apóia-se com uma das mãozinhas no sofá, ficamos alguns passos à sua frente, estendemos as mãos em sua direção e dizemos: “Vem, vem, vem”. Isso mesmo... andando, vem até aqui, vem!”. O bebê dá meio passo em sua direção e cai. O que dizemos a ele?
Certamente não é nada como “Seu burro! Será que você não consegue nem andar?!”


Muito pelo contrário, nossas palavras costumam ser: “Isso mesmo, muito bem!” E dessa forma, a criança levanta-se e tenta novamente.
Por que, quando os filhos ficam mais velhos, nossas “Palavras de Afirmação” tornam-se de condenação? Quando um deles tem sete anos, entramos em seu quarto e dizemo-lhe que guarde os brinquedos na caixa. Digamos que haja doze objetos pelo chão. Voltamos ao quarto em cinco minutos e somente sete estão na caixa. O que então falamos a ele?


“Eu lhe disse para guardar esses brinquedos! Se você não fizer isso agora, eu vou...”
“Venha cá... e os sete brinquedos que já estavam guardados?!” Por que não dizemos:
“Muito bem, Johnny, você colocou sete brinquedos na caixa. Muito bem!”


Preste atenção, pois certamente os outros cinco brinquedos também “pularão” em um instante para a caixa! À medida em que os filhos ficam mais velhos, a nossa tendência é condená-los mais por seus erros do que “condecorá-los” por seus sucessos.
Para a criança que possui “Palavras de Afirmação” como sua primeira linguagem do amor, nossas palavras negativas, críticas e desanimadoras aterrorizam sua psique. Centenas de adultos por volta dos 35 anos ainda ouvem retinir em seus ouvidos, palavras de condenação proferidas há mais de vinte anos:


“Você é muito gorda! Ninguém vai querer namorar você!
“Você não estuda! Se continuar assim, poderá ser expulso da escola. Não dá para acreditar que seja tão burro!”
“Você é um irresponsável e nunca será capaz de fazer nada direito na vida!”


Muitos adultos lutam com sua auto-estima e não se sentem amados durante toda suas vidas, quando sua primeira linguagem do amor é violada de forma tão destrutiva.


QUALIDADE DE TEMPO

“Qualidade de Tempo” significa dedicar aos filhos atenção total. Para uma criança pequena, a forma de falar essa linguagem é sentar-se ao chão com ela e rolar uma bola para lá e para cá. Estamos falando de brincar com carrinhos ou bonecas, de entrar em sua caixa de areia e ajudá-la a construir um castelo; devemos, portanto, penetrar em seu mundo, fazer as coisas com ela. Talvez você, como adulto, viva em um mundo computadorizado, mas seu filho está no mundo da fantasia. Você precisa descer ao nível de uma criança, se quiser conduzi-la ao mundo adulto.


À medida em que a criança cresce e muda seus interesses, você precisa descobrir quais são eles, se deseja suprir suas necessidades. Se o seu novo prazer for basquete, então interesse-se por este tipo de esporte. Se for piano, talvez você precise assistir algumas aulas para ter noções deste instrumento musical ou, pelo menos, ouvir atentamente enquanto ele treina os exercícios. O fato de dedicar-se atenção total a um filho significa que você se importa com ele, e é importante estar ao seu lado, pois aprecia estar junto dele.


São muitos os adultos que, ao olharem para trás, para sua infância, não se lembram do que seus pais lhes disseram, mas se lembram do que lhes fizeram. Uma rapaz de 21 anos certa vez me disse:


“Eu me lembro que meu pai nunca perdia meus jogos na escola. Eu sabia que ele se interessava pelo que eu fazia.”
Para aquele homem, “Qualidade de Tempo” era um comunicador de amor extremamente importante.


Se “Qualidade de Tempo” for a primeira linguagem do amor de seu filho (a) e você usar esta linguagem para comunicar-se com ele (ela), haverá grandes chances de que, mesmo na adolescência, permita que você gaste mais tempo com ele. Se você não lhe dedicar “Qualidade de Tempo” nos anos de infância, provavelmente na adolescência ele procurará os amigos da turma e afastar-se-á dos pais, os quais, nessa época, vão desejar desesperadamente gastar mais tempo com ele.


RECEBER PRESENTES

Há muitos pais e avós que falam excessivamente a Linguagem dos Presentes. De fato, quando visitamos uma loja de brinquedos concluímos que muitos acham que dar presentes é a única linguagem do amor. Se eles têm dinheiro, a tendência é comprar brinquedos em excesso para os filhos. Há alguns que acham que, realmente, aquela é a melhor forma de demonstrar-se amor por uma criança. Alguns pais tentam fazer por seus filhos o que seus pais não puderam realizar por eles. Compram para eles coisas que desejaram ter quando crianças, mas nunca ganharam. Mas, a menos que “Receber Presentes” seja realmente a primeira linguagem do amor de seu filho, os presentes terão pouco significado emocional para ele. Os pais podem até ter boas intenções, mas nem sempre é através de um presente que se supre a necessidade emocional de um filho.


Se os brinquedos que você dá a seu filho são rapidamente postos de lado; se ele raramente lhe agradece; se a criança não valoriza o que recebeu, há grandes indícios de que “Receber Presentes” não seja a primeira linguagem do amor dela. No entanto, se ele (ela) lhe agradece efusivamente; se mostra o presente ganho a outros e diz como você costuma dar- lhe bons presentes; se ele é cuidadoso com seus brinquedos, pois guarda-os em lugar de honra no quarto, mantém-nos limpos e brinca bastante tempo com eles, talvez “Receber Presentes” seja a primeira linguagem do amor dele.
O que fazer, se você tiver um filho cuja primeira linguagem do amor é “Receber Presentes”, e não tiver dinheiro suficiente para comprar vários brinquedos para ele? Tenha em mente que não é a qualidade ou o custo do mesmo que se conta. Muitos presentes podem ser feitos manualmente e, às vezes, as crianças gostam mais desse tipo do que de outros sofisticados. A realidade é essa: Já reparou como as crianças pequenas chegam a brincar mais com a caixa do que com o presente que vem dentro dela? Outra possibilidade é trabalhar com brinquedos quebrados e reconstituí-los. Reformar um deles pode ser um projeto tanto para os pais como para os filhos. Você não precisa ter “rios de dinheiro” para dar presentes ao seu filho.


FORMAS DE SERVIR


Quando os filhos são pequenos, os pais continuamente utilizam-se de “Formas de Servir” para se relacionar com eles. Se não o fizerem, as crianças às vezes adoecem. Tomar banho, ser alimentado e vestido, tudo isso requer um bom tempo de trabalho nos primeiros anos da vida de um bebê. Além disso, é
necessário cozinhar, lavar e passar. Depois chega a época das lancheiras, dos ônibus escolares e da ajuda nas lições de casa. Tais coisas não são muito valorizadas por algumas crianças, mas para outras comunicam amor.


Observe seus filhos. Note como eles demonstram amor por outras pessoas. Isso é uma boa dica para se descobrir a primeira linguagem do amor deles. Se o seu filho costuma demonstrar apreciação por pequenas coisas que se façam por ele, é uma dica de que elas são emocionalmente importantes para ele (ela). Através de “Formas de Servir” você lhe comunica amor de forma significativa. Quando você o ajuda com um projeto de ciências, isso significa mais do que uma boa nota. O significado é “meu pai (minha mãe) me ama”. Quando você conserta uma bicicleta, o que faz é muito mais do que devolver-lhe “as rodas”. Permite que ele saia com o tanque cheio. Se o seu filho constantemente se oferece para ajudá-lo com seus projetos de consertos, provavelmente significa que, dessa forma, ele expressa amor, e “Formas de Servir” possivelmente seja sua primeira linguagem do amor.


TOQUE FÍSICO


Há anos tomamos conhecimento que o “Toque Físico” é um excelente comunicador emocional para crianças. Pesquisas têm mostrado que bebês que recebem bastante colo desenvolvem-se emocionalmente melhor do que os que não têm este privilégio. Normalmente, os pais e os outros adultos seguram o bebê, apertam-no, beijam-no, afofam-no e dizem-lhe palavras carinhosas. Muito antes de entender o significado da palavra amor, ele já se sente amado.


Abraços, beijos, cafunés, andar de mãos dadas, são formas de comunicar amor a uma criança. O abraçar e beijar um adolescente já é diferente do abraçar e beijar uma criança. Ele não gostará disso se você tomar esta iniciativa na frente de seus amigos, mas não significa que não queira receber afagos, especialmente se o “Toque Físico” for sua primeira linguagem do amor.


Se seu filho adolescente costuma chegar por trás de você e abraçá-lo (a), empurrá-lo (a), agarrar seu tornozelo ao andar, mexer com você, essas são indicações de que “Toque Físico” é importante para ele.


Observe seus filhos. Note como demonstram amor para os outros. Essa é uma boa pista para se descobrir a linguagem do amor deles. Anote os pedidos que lhe fizerem. Muitas vezes estarão relacionados com a primeira linguagem do amor deles. Note as coisas que mais gostam, pois também são indicadores para descobrirmos sua primeira linguagem do amor.


A linguagem do amor de nossa filha é “Qualidade de Tempo”; portanto, enquanto ela crescia, sempre fazíamos longas caminhadas juntos. Durante o período em que ela estudava na Academia Salém, uma das mais antigas escolas para moças de nosso país, passeávamos pelo pitoresco bairro da Salém antiga. Os moravianos restauraram a cidade que possui mais de duzentos anos de idade. Caminhar pelas ruas de pedra transportava-nos para os tempos passados de nossa história. Andar pelo antigo cemitério comunicava-nos a realidade entre a vida e a morte. Naqueles anos percorríamos aqueles locais três tardes por semana e conversávamos muito entre as austeras construções. Ela se formou em medicina, e sempre que vem à nossa casa, faz a famosa pergunta:


“Papai, que tal sairmos para dar uma volta?”
Nunca recusei seus convites.
Meu filho, porém, jamais caminhou comigo. Ele diz:
“Caminhar é muito chato! Você não vai a lugar nenhum. Se quiser ir a algum local específico, vá de carro.”


A primeira linguagem do amor dele nada tem a ver com “Qualidade de Tempo” dela. Como pais, sempre tentamos colocar nossos filhos na mesma forma. Vamos a conferências sobre as crianças, lemos livros sobre como ser melhores pais, aprendemos algumas boas idéias e queremos chegar logo em casa para colocá-las em prática com cada um deles. O problema é que cada filho é diferente e o que comunica amor para um, necessariamente não transmite ao outro. Forçar uma criança a caminhar a seu lado para que você possa ter “Qualidade de Tempo” com ela não comunicará amor. Precisamos aprender a linguagem do amor de nossos filhos se quisermos que eles se sintam amados.


Acredito que a maioria dos pais realmente ama seus filhos. Também admito que milhares de pais não conseguiram comunicar amor na linguagem certa e milhares de crianças em nosso país vivem com o “tanque” emocional vazio. Acho que grande parte das crianças com comportamento inadequado tem por trás um tanque vazio.


Nunca é tarde demais para se demonstrar amor. Se seus filhos são mais velhos e você percebe que durante anos falou com eles na linguagem errada, por que não comunicar isso a eles? Que tal falar-lhes assim:


“Sabe de uma coisa, li um livro sobre como se demonstra amor e percebi que, durante anos, nunca expressei carinho por você da forma mais adequada. Tenho tentado de mostrar meu amor através de; porém, agora percebo que essa forma provavelmente não lhe comunicou meu carinho, pois sua linguagem do amor é outra. Chego à conclusão que sua linguagem do amor possivelmente seja . Como você sabe muito bem, eu sempre o (a) amei, e espero que no futuro consiga expressar-lhe isso da melhor maneira possível.”
Talvez você queira até explicar as cinco linguagens do amor para eles e conversar sobre a sua e a deles.


Talvez seja você quem não se sinta amado (a) por seus filhos mais velhos. Se forem maduros o suficiente para entender o conceito das linguagens do amor, sua conversa poderá abrir-lhes os olhos. É bem provável que se surpreenda com a boa vontade deles em tentar falar sua linguagem do amor e, quando o fizerem, surpreender-se-á como seus sentimentos e atitudes para com eles começarão a mudar. Quando os membros de uma família começam a falar a primeira linguagem do amor um ao outro, o clima emocional aumenta grandemente.


                                                                   Gary Chapman


FAVORITISMO OU IDENTIFICAÇÃO?

Os frutos do favoritismo. A família desajustada não é uma descoberta recente. Quando examinamos o registro bíblico podemos identificá-la desde o início da existência humana. Adão e Eva tiveram dois filhos. Caim e Abel. Caim alimentava uma pequena inveja pela boa postura de seu irmão perante Deus; tal inveja brotou em ressentimento e floresceu em ódio. Apesar da advertência do Senhor: "o pecado ameaça à porta" (Gn 4.7), a raiz do ódio levou, por fim, ao fruto do assassinato.

Isaque, filho do grande Abraão, foi pai de gêmeos com sua mulher, Rebeca. Esaú e Jacó competiram no útero da mãe, lutaram pelo favoritismo dos pais quando crianças, brigaram pela fortuna da família quando jovens, e geraram duas nações que se digladiavam até depois do tempo de Cristo. Herodes, o Grande, um descendente de Esaú, se declarou "rei dos judeus" e, para proteger sua posse ilegítima do trono, tentou matar o menino Jesus, descendente de Jacó. Essa era uma vingança familiar  de proporções épicas!

Jacó gerou doze filhos, incluindo o favorito dele, José. Os irmãos mais velhos daquele rapaz cresceram nutrindo tal ódio por ele, que conspiraram seu assassinato com a intenção verdadeira de levar tarefa a cabo. Apenas a consciência ressentida de um deles o poupou. Em vez de matarem o irmão, eles o desnudaram e o jogaram em um poço seco, até que um conveniente mercador de escravos tirou o problema das mãos deles em troca de um ganho considerável. Para encobrir o crime, irmãos de José mergulharam sua túnica multicolorida no sangue de um bode e convenceram o pai de que ele tinha sido devorado por um animal selvagem.

ESAÚ E JACÓ

Jacó nasceu como resposta da oração de sua mãe (Gn 25.21), nas asas de uma promessa. Será que Isaque e Rebeca compartilharam os termos da bênção com os filhos gêmeos enquanto eles cresciam? Contaram logo de início que de acordo com a vontade de Deus, o "maior serviria  o menor?". Deveriam ter contado, mas evidências indicam que não o fizeram. De acordo com o que aconteceu, o modo como Jacó nasceu ("agarrado" Gn 25.26), e o nome que lhe deram (Jacó "suplantador"), por muito tempo a marca registrada do seu caráter foi o oportunismo, a luta para tirar vantagem a qualquer preço e desonestamente. Além disso, a própria Rebeca, diante da possibilidade de que Esaú alcançasse a preeminência, não apelou para a confiança  na promessa divina, e sim para seu próprio oportunismo inescrupuloso (Gn 25.5-17).

Esaú era um indivíduo rude e despreocupado, que não levava nada muito a sério e que dava um valor  exagerado aos prazeres passageiros. Jacó percebeu que essa era a sua chance. Certo dia, Esaú voltou faminto de uma caçada e encontrou a casa imersa no aroma de uma apetitosa refeição preparada por Jacó. Esaú não teve dúvida em trocar seu direito de primogenitura por um prato de comida e podemos imaginar um sorriso de maliciosa satisfação nos lábios de Jacó pelo negócio bem sucedido! A família patriarcal era a administradora da bênção do Senhor para o mundo, e a experiência de Gênesis 22.1-18, deve ter gravado essa promessa em Isaque. Quando, porém ele sentiu a aproximação da morte - de maneira totalmente equivocada, percebeu que era uma questão de extrema importância assegurar a transmissão da bênção. Quantas tragedias seriam evitadas se vivêssemos plenamente conscientes das promessas e da Palavra de Deus ! Rebeca achava que era sua obrigação providenciar o cumprimento da promessa feita no nascimento dos gêmeos; Isaque esqueceu totalmente a mensagem. Uma terrível fraude foi praticada, e as consequências foram a inimizade entre irmãos (Gn 27.41), e a separação de Rebeca do seu querido Jacó, o qual, de fato ela nunca mais viu.



"Na história de Rebeca, é possível ver a manipulação bem desenvolvida em ação. Quando finalmente teve um bebê - na verdade dois - ela era manipuladora e parcial no amor que tinha pelos filhos. Amava mais a Jacó, provavelmente porque tinha um temperamento parecido com o dela (um bom exemplo de amor condicional). Jacó era "homem simples, habitando em tendas" (Gn 25.27), o oposto de seu irmão Esaú, que era preferido de seu pai por ser "homem perito na caça, homem do campo". Por ter sido o primeiro dos gêmeos ao nascer, Esaú tinha o direito de receber a bênção uma porção dobrada da herança do pai, inclusive de terras, bens e animais. Mas, porque Rebeca amava mais a Jacó, conspirou com ele para tomar o que era de Esaú por direito. O processo de manipulação provavelmente começou de forma bastante inocente, quando ela ouviu "por acaso" Isaque dizendo a Esaú que fosse caçar, preparasse um cozido e então o trouxesse para que Isaque o abençoasse antes de morrer. Então Rebeca começou a esquematizar como Jacó poderia "passar a perna" em Esaú. Ela se ofereceu para preparar um "guisado saboroso (...) como ele [Isaque] gosta" (Gn 27.9). "Tomou Rebeca os vestidos de gala de Esaú, seu filho mais velho, e vestiu a Jacó, seu filho menor" (27.15). E para fechar a manipulação com chave de ouro, pegou peles de cabrito e cobriu as mãos e o pescoço de Jacó para que, até ao ser apalpado, ele se parecesse com seu irmão peludo. Ao cair na armadilha da manipulação, Rebeca apenas serviu para introduzir um tremendo ódio entre irmãos. Esaú ficou tão furioso com Jacó que planejou matá-lo. Rebeca novamente interveio para ajudar seu filho favorito, encorajando-o a fugir de seu irmão para a casa de seu tio Labão, em Harã, a fim de esperar que Esaú se acalmasse. A história de Rebeca, revela que a manipulação (não importa de que tipo), nunca funciona. Não traz paz. Pelo contrário, causa mais inveja e ciúme". Bíblia de Estudo da Mulher - Ed. Atos.


OS IRMÃOS DE JOSÉ

O nascimento de José é narrado em Gênesis 30.22-24. Nasceu na época em que Jacó ainda trabalhava para  Labão, seu sogro. Foi o primeiro filho de Raquel, como prova do fim da esterilidade dela. O nome que sua mãe lhe deu, refere-se no contexto imediato, o desejo dela de ter outro filho, o que aconteceu no nascimento de Benjamim. O nome, entretanto, também, prefigurava o amplo papel que o filho desempenharia no progresso da futura nação. A história dele começa aos dezessete anos de idade, revelando atitudes que contribuíram muito para uma amarga rivalidade entre ele e os dez irmãos mais velhos. Costumava contar para o pai as coisas erradas que eles faziam (Gn 37.2). Em uma ocasião, contou aos familiares dois sonhos que tivera, os quais prediziam que um dia seu pai e seus irmãos se inclinariam diante dele (Gn 37.5-10). Todos ficaram ressentidos com  a atitude de José e profundamente enciumados pelo tratamento preferencial que recebia do pai. Quando Jacó enviou-o para supervisionar o trabalho dos irmãos, sem dúvida eles se lembraram dos incidentes anteriores e conspiraram contra ele. Determinaram matá-lo, mas foram dissuadidos por Rúben, o mais velho, que chegara após a decisão tomada. Ele convenceu os irmãos de José a jogá-lo numa cisterna vazia, pois tencionava resgatá-lo mais tarde.

Os irmãos arrancaram de José o símbolo do favoritismo de seu pai, uma túnica multicolorida (Gn 37.23) e, sem o conhecimento de Rúben, o venderam para uma caravana de comerciantes de escravos. Numa mudança irônica, a vestimenta que representava o favoritismo de Jacó por José foi embebida com o sangue de um cabrito a apresentado ao patriarca como sinal de que seu filho amado fora morto por animais selvagens. A ironia maior é que os próprios irmãos agiram como animais ferozes, ao conspirar para assassinar José, enquanto o garoto permanecia prostrado, despido e sedento na cisterna.

CAIM E ABEL

Filhos de Adão e Eva, Abel tornou-se pastor de ovelhas (Gn 4.2), enquanto Caim, agricultor. Na época das colheitas, o mais velho ofereceu a Deus alguns frutos colhidos; o mais novo, porém apresentou os melhores animais do rebanho, para enfatizar o valor e o custo deles. O sacrifício e Abel foi recebido favoravelmente pelo Senhor, mas o de Caim, não. A despeito de uma advertência sobre a necessidade de que ele dominasse o ímpeto do pecado, Caim conspirou contra seu irmão e o matou. Seu ato pecaminoso não ficou escondido do Senhor, e a morte de Abel trouxe-lhe juízo divino. O Senhor aceitou a oferta de Abel em detrimento da de Caim, porque o mais moço era justo (Mt 23.35), e oferecia o melhor do seu rebanho. Os descendentes de Caim tornaram-se transgressores. As gerações futuras foram desafiadas a se lembrarem de Caim e aprender do seu pecado, dos seus ciúmes e da sua falta de fé.



"Onde estavam Adão e Eva quando Caim, de forma vil, intentava contra seu irmão Abel Talvez o autor de Gênesis, pretendesse anunciar, já no início das Escrituras, que, quando os pais não intervêm no relacionamento de seus filhos, tragédias familiares podem ser deflagradas" Pr. Josué Gonçalves, comentarista da lição.






MOISÉS, ARÃO E MIRIÃ

Miriã era a irmã mais velha de Moisés. Era profetisa e também tornou-se líder do povo de Israel. Embora não seja mencionada pelo nome, ajudou a proteger Moisés do massacre dos meninos, no Egito. Vigiou o bebê, após ele ser colocado no Rio Nilo, dentro de um cesto de junco. É mencionada pela primeira vez pelo nome quando, tocando seu tamborim, e dançando, liderou as mulheres de Israel no louvor do Senhor depois da travessia do Mar Vermelho (Êx 15.20,21). Junto com Arão, questionou Moisés por seu comportamento ao decidir casar-se com uma mulher etíope. Os dois enfatizaram que o Senhor também falava por meio deles e destacaram seu dom profético. Parece que houve certa inveja por parte dela, devido a posição privilegiada de Moisés. O castigo do Senhor sobre a arrogância de Miriã, ao falar asperamente com Moisés, foi o de ficar leprosa por sete dias (Dt 24.9).

Arão nasceu durante a opressão de Israel no Egito, mas evidentemente antes do edito genocida de Êxodo 1.22. Tinha três anos de idade quando Moisés nasceu ao passo que Miriã já era uma jovem cheia de si. Desde cedo. portanto, ele encontrava entre o bebê que exigia total atenção, e uma irmã auto-confiante e incisiva. Durante toda a narrativa de Êxodo, Arão é um auxiliar de Moisés. Ele foi enviado para prover uma voz para as palavras de Moisés, quando reivindicaram a liberdade dos israelitas diante de Faraó. Subordinou-se a Moisés durante todo o período das pragas. e compartilhou com ele as reclamações do povo, participando também dos momentos de oração, e de alguns privilégios no Sinai. Apenas uma vez o nome de Arão recebe a prioridade de irmão mais velho (Nm 3.1); Deus falou diretamente com ele apenas duas vezes. Em duas ocasiões, entretanto, Arão agiu independente de Moisés e em ambas as vezes aconteceram desastres desproporcionais. Primeiro, quando ficou no comando durante a viagem de Moisés ao Monte Sinai (Êx 24.14). Pressionado pelo povo, teve a iniciativa de fazer um bezerro de ouro e promover sua adoração. Com isso, provocou ira de Deus e só foi salvo pela intercessão do seu irmão. Segundo, quando tomou parte numa insensata rebelião familiar contra Moisés. Arão, facilmente manipulado, foi persuadido a ficar indignado e assumir uma firme posição no lugar errado!

Moisés nasceu durante os terríveis anos em que os egípcios decretaram que todos os bebês do sexo masculino fossem mortos ao nascer. Seus pais o esconderam em casa e depois o colocaram no meio da vegetação, na margem do Rio Nilo, dentro de um cesto de junco. A descoberta daquela criança pela filha de Faraó foi providencial e ela salvou a vida do menino. Mais tarde, o Senhor o chamou para ser líder, por meio do qual, falaria com Faraó. Moisés foi exaltado por meio de sua comunhão especial com o Senhor. Quando Arão e Miriã reclamaram contra a posição privilegiada que ele ocupava como mediador de Deus e Israel, ele nada respondeu. Pelo contrário, foi o Senhor quem se empenhou em defender seu servo.

CARTA AOS PAIS

Infelizmente, essa questão não é apenas uma ilustração bíblica, mas um problema bem real e atual na nossa sociedade. Quantos pais tem seus filhos favoritos e por isso entram em desacordo entre eles mesmos, em favor de um ou outro irmão! É a mãe que defende o caçula, alegando que seu desinteresse pelos estudos é normal, impedindo o pai de cobrar uma postura mais responsável do filho; é o pai que defende a filha porque não acha justo que a mãe lhe atribua tantas responsabilidades em tão tenra idade (embora a mesma já  seja moça e até namorando esteja). É a mãe que faz todas as sobremesas prediletas do filho mais velho e esquece dos gostos e preferências dos outros irmãos...é o pai que só paga a faculdade do filho, se este fizer medicina,  direito ou outro curso que o pai considera "ideal". Exemplos não faltam. Tem aqueles casos em que ambos os pais demonstram favoritismo por um dos filhos, porque este tem um temperamento mais dócil e portanto, mais fácil de lidar. Ou então aquela filha que demonstra maior potencial para os estudos ou possui habilidade que os pais admiram, e portanto, é alvo de maiores elogios e apreciação.

Muito cuidado com o favoritismo por um dos filhos. A Palavra de Deus diz que os filhos são herança do Senhor. Todos eles foram - nos dados como presentes de Deus. Todos são especiais de formas e maneiras diferentes. Cada um tem dons, talentos e habilidades que são de grande valor para o Senhor e devem ser para os pais também! Não se deve fazer distinção entre os filhos. Muitas brigas e discórdias poderiam ser evitadas nos relacionamentos familiares se os pais não cometessem o terrível erro de preferir um filho a outro.

Talvez o pai ou a mãe se identifique mais com um determinado filho, mas devemos refletir sobre a importância de amar igualmente a cada um deles, respeitando e incentivando os dons e talentos que Deus designou a cada um. Não deixemos brechas. A Palavra de Deus diz que o Senhor não faz acepção de pessoas, e os pais não devem cometer tal tolice. Satanás está atento a qualquer fissura que possamos deixar em nosso relacionamento familiar. Vigiemos. Estejamos atentos! A família é um projeto de Deus e cada filho, uma bênção especial do Senhor!


                                                       FONTE : http://ebdbelasartes.blogspot.com               

 

NOTA :✔📚

Existe filho favorito?

Pesquisas comprovam que os pais têm, sim, um filho predileto. E, para ninguém se sentir culpado, explicam por que isso acontece.

 Atualizado em 21/01/16 - 11h16
Se há mais de uma criança em casa, o indigesto tema já foi colocado à mesa. Às vezes por algum desavisado, que pergunta, despretensiosamente, qual o filho predileto da família. Ou pelo próprio suposto preterido, que acusa, sem dó: “Você gosta mais do meu irmão do que de mim.” Na literatura, a figura do filho rejeitado é recorrente e, não raras vezes, vem acompanhada de um final trágico. Que o diga Abel, morto pelo irmão Caim após se sentir desvalorizado diante do caçula. O temor de gerar um conflito entre irmãos, talvez tão fatal quanto o célebre embate bíblico, faz os pais tremer toda vez que o assunto vem à tona. A máxima “para mim meus filhos são iguais” tornou-se um escudo para dissipar esses dissabores familiares. Mas será realmente possível gostar do mesmo jeito de crianças que, muitas vezes, são quase o oposto uma da outra? Quando a filha mais velha “tem o jeitinho da mamãe” e a mais nova “puxou o temperamento do pai”, a relação vai ser realmente igual?

Durante muito tempo esses questionamentos habitaram apenas a mente angustiada de pais e mães – temerosos por não saber estabelecer uma relação harmoniosa entre os filhos. A boa notícia é que a busca por respostas a essas dúvidas ultrapassou o âmbito doméstico e ganhou status científico. E, para alívio dos progenitores, as pesquisas têm constatado que é natural ter um preferido. Na Universidade da Califórnia, nos Estados Unidos, cientistas observaram, por três anos, as relações familiares de 384 pares de irmãos e seus pais. Constatou-se que 65% das mães e 70% dos pais pendiam para uma das crias. “A melhor palavra para definir esse fenômeno não é favoritismo, mas afinidade”, esclarece Ana Olmos, psicanalista especializada em crianças, adolescentes e família. “É natural ter mais afinidade com um filho do que com outro. O que não significa amá-los de forma diferente.” Tampouco que tal sintonia estará sempre acompanhada de mais benefícios. “Muitas vezes, por se sentirem culpados por esse sentimento, os pais penalizam o filho com o qual têm um vínculo mais forte”, completa Ana.
O que move a predileção não é necessariamente a semelhança. O processo pode estar fundamentado no sentimento contrário, o de complementaridade. Nesses casos, os pais apreciam no filho a característica que não possuem, mas gostariam de ter. Por exemplo: a mãe economista demonstra maior afeição pelo filho pianista do que pela filha administradora porque sempre sonhou tocar algum instrumento, mas nunca conseguiu. Além disso, a preferência não necessariamente é a mesma por toda a vida. Às vezes, o predileto da infância perde o posto para o irmão na adolescência, ou mesmo na fase adulta.

Também por várias décadas apostou-se em uma visão simplista da teoria freudiana do complexo de Édipo para explicar as relações entre progenitores e prole. O conceito, desenvolvido por Freud, designa a relação do filho de amor à mãe e ódio ao pai. E se popularizou na crença de que as mães naturalmente prefeririam os filhos, e os pais, as filhas. “Hoje sabemos que não é isso o que acontece”, diz a professora Leila Salomão Tardivo, do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP). “Um pai pode se sentir mais vinculado à filha, mas isso ocorre por afinidade, não por ela ser do sexo oposto.”

Não foi Édipo, mas o amor à gastronomia que fez Miréia Vila Garcia, 25 anos, buscar desde pequena a companhia do pai, o chef Allan Vila Espejo, 53 anos. “Na infância, em vez de desenho animado, eu assistia ao programa da (cozinheira) Ofélia e queria brincar nas cozinhas dos restaurantes do meu pai”, lembra Miréia, que seguiu a profissão de Espejo. E a sintonia da dupla vai além das panelas. Os dois também têm personalidades semelhantes – são organizados, pontuais e gostam de criar coisas. Situação parecida, mas com a combinação inversa, é a do estudante de medicina Vinícius Leduc, 24 anos. Ele se considera muito mais parecido com a mãe, Eleusa, 53 anos, do que com o pai, Mauro, 57 anos. “Cheguei até a tentar vestibular para odontologia, área de formação da minha mãe, mas optei por medicina.” Se a profissão não será a mesma, o gosto pela leitura e pelo cinema segue parecido. “Já meu pai e meu irmão não curtem muito. Livro, para eles, só se for técnico.” O jovem brinca que, em casa, ele é o “filho da mãe”, e o irmão mais velho, “o filho do pai”.

Desde pequenos, os irmãos são capazes de perceber que os pais estabelecem relações diferentes entre eles. E isso não os incomoda. Pelo menos é o que defende a pesquisadora Laurie Kramer, da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos. Entrevistando 61 meninos e meninas entre 11 e 13 anos, Laurie constatou que, uma vez que identificavam um tratamento diferente entre elas e seus irmãos, 75% das crianças eram capazes de compreender por que isso acontecia. “Interessa mais às crianças um tratamento justo do que um tratamento igual”, disse à ISTOÉ a especialista. Por isso, não há nenhum problema se o pai leva só o filho para andar de bicicleta, caso a filha deteste essa atividade e prefira passar essas horas brincando na casa de uma amiga. O problema se instala, explica Laurie, se essa menina começa a sentir que apenas o irmão está recebendo atenção, sem que haja nenhuma razão aparente para essa preferência. “Isso sim faz a criança se sentir mal.” Contornar essa situação é simples. Basta que, do mesmo modo como pai e filho tiveram seu momento de diversão sobre rodas, a filha também tenha o direito de escolher uma atividade de que goste para fazer junto aos pais.

Pode ser que na infância a criança não absorva bem essas diferenças. Mas, se não houve excessos nem negligência por parte dos genitores, essa situação pode ser superada sem maiores dificuldades. A estudante Fernanda Cansanção, 21 anos, só foi entender o que os pais diziam depois de adulta. “Quando eu tinha uns 8 anos, percebi que eles me deixavam mais solta e ficavam em cima da minha irmã Laura, dois anos mais nova do que eu”, relembra. “Isso me incomodava, comecei a me sen­tir preterida.” Quando os questionava, ouvia que eles davam mais atenção para a irmã porque ela era menos madura e mais dependente. “Quando era criança, eu não entendia isso, mas hoje vejo que faz sentido”, diz. Depois de muita briga na infância, as irmãs, agora adultas, dividem um apartamento no Rio de Janeiro. “A Laura se tornou uma das minhas melhores amigas. A gente compartilha tudo, até as roupas, o que era impensável quando éramos pequenas”, diz Fernanda.

Quando os pais não conseguem administrar os anseios e as vontades dos filhos e deixar claro por que eles têm espaços diferentes dentro de casa, o equilíbrio doméstico fica ameaçado. E, ao contrário do que possa parecer, usar dois pesos e duas medidas para lidar com as crianças pode causar danos para ambas – tanto a favorecida quanto a preterida. Em seu livro “The Favorite Child” (“A criança favorita”, em tradução livre), a psicóloga americana Ellen Liby garante que, nessa guerra, não há vencedores. Até mesmo quem à primeira vista levou a melhor é prejudicado. “Esse ‘menino de ouro’ aprende a ter todos os seus desejos atendidos pelo pai ou pela mãe e se torna um mestre na arte da manipulação”, fala. Outras vezes, o preferido pode se sentir sufocado pelo excesso de atenção. Já o filho que viu todos os benefícios irem para o irmão cresce inseguro. Se nem os pais o amaram, como conseguirá a atenção das outras pessoas?

São diversos os distúrbios comportamentais que podem ser gerados quando a criança percebe que está sendo deixada de lado pelo pai ou pela mãe, sem nenhuma explicação. Após analisar 136 pares de irmãos, Clare Stocker, do departamento de psicologia da Universidade de Denver, nos Estados Unidos, anotou os problemas mais comuns. “Agressividade e comportamento destrutivo e antissocial apareceram com maior frequência entre as crianças que falavam que os pais favoreciam o irmão”, disse à ISTOÉ. Nos questionários aplicados com as crianças, porém, não foi possível identificar características que revelassem o porquê da preferência. “Ao que parece, o favoritismo está mais ancorado nas características psicológicas que em diferenças de idade, ordem de nascimento ou sexo”, observa Clare.

Isso, porém, ainda é um ponto de discórdia entre os pesquisadores. Muitos garantem que, sim, a idade e a ordem de nascimento são fatores determinantes para a preferência dos progenitores. “Ser ou não o primeiro a nascer, por exemplo, implica diferenças no investimento dos pais na criação e na necessidade de competir por atenção no ambiente familiar”, falou à ISTOÉ Catherine Salmon, psicóloga da Universidade de Redlands, nos Estados Unidos. Quem tem mais de um filho, em especial com grande diferença de idade, sabe que os mais novos são mestres nas artimanhas para chamar a atenção. A assessora Soraia Nigro, 45 anos, acostumou-se às peripécias da filha Laura, 7 anos, para se sobrepor à irmã Nathália, de 19 anos. Enquanto todos os olhares da casa não estão voltados para ela, a pequena não descansa. “Se a Nathália vem conversar comigo, a Laura imediatamente vem também e interrompe a irmã”, conta. “Sem contar as invasões que promove ao quarto da mais velha para usar os perfumes e a maquiagem dela.” Nathália, conta a mãe, era bem diferente da irmã mais nova quando tinha essa idade. “Ela nem imaginava o que era perfume ou maquiagem e era muito mais quieta”, diz Soraia.

Histórias como as das irmãs Nigro confirmariam a tese de Catherine de que é impossível negar que a ordem de nascimento não influencie na escolha dos progenitores. Em especial nas famílias constituídas por três crianças. “Meus estudos mostram que os pais dão menos atenção ao filho do meio, especialmente quando todas as crianças são do mesmo sexo”, diz. O jogo muda quando este é do sexo oposto aos demais. Nessas situações, ele entra na briga pela atenção dos pais com as mesmas condições do caçula e do primogênito. Catherine lançou em agosto, nos Estados Unidos, o livro “The Secret of Middle Children” (“O segredo do irmão do meio”, em tradução livre), no qual enumera características comuns aos filhos “sanduíche”, como são conhecidos. “A menor atenção dos progenitores os faz desenvolver mais relações de amizades e a valorizá-las mais”, constata.

A ancestralidade também é evocada por alguns cientistas para explicar o favoritismo entre os filhos. Quem segue a abordagem darwiniana, por exemplo, acredita que, por trás das preferências dos pais, está o potencial de sucesso reprodutivo de cada filho. “O mais saudável e mais forte é o escolhido”, disse à ISTOÉ Frank Sullo­way. Teoria bastante contestada no mundo moderno, uma vez que, não raro, o filho mais frágil recebe mais atenção que os irmãos.

Se a ciência admite o favoritismo, porém, não o coloca em um patamar de tolerância. “Os critérios usados dentro de casa devem ser os mesmos para os todos os filhos”, esclarece Ana Olmos. Até quando eles são de casamentos diferentes. Nesses casos, não raro a criança tenta tirar a autoridade da mãe ou do pai não biológico. “Isso não pode ocorrer. Os filhos devem obedecer à constelação familiar na qual estão inseridos”, diz a psicoterapeuta. E isso deve começar desde os primeiros dias em que a nova família é constituída. Em seu terceiro casamento, a comerciante Fabiana Abbas, 34 anos, explica com naturalidade para os filhos a relação deles com o novo pai, o publicitário Henrique Visconte, 37 anos, com quem mora há dois anos. O segundo marido de Fabiana é pai de Mariah, 9 anos, mas não de Vinícius, 13 anos, filho de outro relacionamento. “Mas o Vinícius sempre chamou o Paulo, meu ex-marido, de pai”, diz. A mesma coisa acontece com Henrique. “O que a gente passa para as crianças é que agora essa é a nossa família.” Não é preciso sentir culpa por ter mais afinidade com um filho do que com outro. Mas o recado dos especialistas para os pais é claro. O mais prudente é manter a conduta de nossos pais e avós: negue, com convicção, que você tem predileção por algum.


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                           FONTE : https://istoe.com.br/164482_EXISTE+FILHO+FAVORITO+/






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