INTRODUÇÃO
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eremos, neste capítulo, por que a graça e a paz, tidas como virtudes teologais, são imprescindíveis à vida cristã. Nas epístolas paulinas, vêm mencionadas conjuntamente: são irmãs gêmeas, inseparáveis. Se nos voltarmos às ofertas pacíficas do livro de Levítico, constataremos que elas constituíam o cerne da alma do ofertante. Por essa razão, os princípios coinológicos, ou seja, de comunhão, que acompanhavam tais sacrifícios, têm de ser aplicados com urgência escatológica ao mundo evangélico atual.
Embalada por tralhas, refugos e modismos, como a teologia da prosperidade e a confissão positiva, boa parte dos crentes, hoje, é mais doutrinada a pedir do que a agradecer.
Em suas orações, quer públicas, quer privadas, os tais crentes não demonstram a mínima referência a Deus. Tratam-no como se Ele não passasse de um lacaio ou de um mero garoto de recados. Já não veem Deus como Deus. Enxergam-no como o mordomo que, nas mansões e palacetes, inibe-se à espera do próximo capricho de um crente mundano e compromissado com as obras infrutuosas das trevas.
Nesse mundo estranho e bizarro, desprezam-se as ofertas de paz e os sacrifícios de louvor. Tais formas de adoração, tão comuns à Igreja Primitiva, rareiam-se hoje. Aliás, por que agradecer se é mais lucrativo exigir e determinar? Mas a Palavra de Deus exorta-nos à gratidão e ao reconhecimento. Ao bom e santo Senhor, deveríamos agradecer até mesmo pelas lutas e vicissitudes; sem estas, jamais teríamos qualquer experiência
pessoal com Jesus Cristo.
A fim de compreendermos as ofertas de paz prescritas no Levítico, deternos-emos, inicialmente, em duas ciências teológicas que nem sempre são lembradas: a irenologia e a carislogia. Nesta era, de completa inversão de valores, até mesmo na Igreja de Cristo, é urgente um retorno à paz e à graça do Senhor Jesus.
I. IRENOLOGIA, UM ESTUDO URGENTE
Quando ainda jovem, li um livro, escrito por um general francês, acerca da ciência da guerra. Já nas páginas iniciais, descobri que o estudo das artes bélicas recebe um nome quase eufônico: polemologia. Acredito que tal nomenclatura aplica-se também aos confrontos ideológicos e doutrinários. Mas, ao por-me a escrever o presente capítulo, veio-me à mente uma pergunta: “Existe alguma ciência dedicada à pesquisa científica da paz?”. Pesquisei. E vim a descobrir duas páginas que tratam do assunto, uma em latim e outra em espanhol. A esse saber, um tanto peregrino, dá-se o nome de irenologia.
1. Irenologia, a definição de uma ciência ainda desconhecida. A palavra irenologia é composta por dois vocábulos gregos: eirene, paz, e logos, estudo. Portanto, a irenologia é o estudo sistemático da paz conforme a concebem as diversas culturas, sociedades, religiões e saberes. Trata-se de uma disciplina acadêmica, que tem por objetivo investigar as condições, o ambiente e os envolvidos no esforço comum para se estabelecer, manter e promover a paz quer entre nações, quer entre grupos sociais ou mesmo entre indivíduos.
Os estudos irenológicos andam, paradoxalmente, de mãos dadas com os polemológicos. No estouro de um conflito, armado ou não, a primeira coisa a ser buscada é a paz. Nesse esforço, até mesmo um armistício é motivo de festejos e comemorações. Etimologicamente, o termo “armistício”, oriundo do latim armistitium, significa “cessação das armas”. Nessas ocasiões, como
resultado dos movimentos diplomáticos, os lados envolvidos sentam-se a negociar uma paz definitiva; às vezes, nem provisoriamente se logra obtê-la. Naquele momento, os adversários igualam-se à mesa de negociações; todos querem acabar com o conflito; pelo menos é o que se espera.
Todavia, nem sempre a ausência de um conflito armado pode ser qualificada como paz. Há de fato ausência de guerra, mas não há presença de paz efetiva. Foi o que ocorreu após a Segunda Guerra Mundial. A União Soviética e os Estados Unidos, polarizando o mundo, viveram uma guerra fria de quatro décadas. Se nos voltarmos à Bíblia, porém, descobriremos que a paz é possível até mesmo em meio aos embates mais violentos.
2. Paz, uma definição sempre possível e esperada. Tenho para mim que a paz é caracterizada por uma serenidade íntima inexplicável. Foi o que Paulo escreveu aos irmãos de Filipos sempre às voltas com os inimigos da cruz: “E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus” (Fp 4.7, ARA). Como explicar semelhante paz que amaina até o sol mais abrasador ou a tempestade mais bravia.
Em hebraico, a palavra paz vai além de um mero enfoque filosófico. O termo shalom, além de paz, evoca augúrios de saúde, prosperidade e autocontrole. Quando um judeu pergunta ao seu companheiro: “Como vai você?”. Em hebraico: Ma ? Na verdade, indaga-lhe, antes de tudo: “Como vai a sua paz?”. Hoje, infelizmente, o poético e doce vocábulo foi reduzido a um trivial “oi” ou a um mero “olá”. É o que se observa no cotidiano israelense.
No grego, a palavra eirene, traduzida adequadamente para a língua portuguesa como paz, tem uma origem interessante, apesar da mitologia que a cerca. Irene era filha de Zeus e de Têmis. Juntamente com suas irmãs Eunomia e Dice, achava-se responsável pelo bom andamento das coisas. Enfim, a boa e solícita Irene tinha por tarefa zelar pelas afeições cósmicas. Se ela viesse a falhar, Céus e Terra perderiam toda a harmonia, melodia e ritmo;
a música universal seria impossível.
Quando nos voltamos à Bíblia Sagrada, constatamos que a verdadeira paz vai além dos mitos e transcende as academias mais lógicas. Em Isaías, descobrimos que a paz tem como príncipe o Filho de Deus. O profeta, ao alinhar os principais títulos de Jesus Cristo, poeticamente anuncia: “Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; o governo está sobre os seus ombros; e o seu nome será: Maravilhoso Conselheiro, Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz” (Is 9.6, ARA).
Se a paz tem como príncipe o Senhor Jesus, como podemos defini-la? Antes de tudo, ela não é uma simples e expectada ausência de conflitos; ela é possível até mesmo em meio aos entreveros mais indescritíveis. Alguém, certa vez, pintou-a como um pássaro a cantar em plena tempestade. Enquanto tudo ruía à sua volta, a avezinha teimosamente canora trinava uma bela melodia ao Criador. Se na paz, não temos paz, como nos comportaremos num conflito? Foi o que o Senhor indagou ao seu profeta: “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os que vão a cavalo? Se em terra de paz não te sentes seguro, que farás na floresta do Jordão?” (Jr 12.5, ARA).
Às vezes, surpreendo-me na mesma condição de Jeremias. Embora tudo à minha volta rescenda à paz, acho-me em guerra comigo mesmo. Mas, como superar os conflitos que nos assolam a interioridade? A resposta é simples e teologicamente comezinha: encher-se do Espírito Santo, o promotor da paz por excelência.
3. Jesus é o Príncipe da Paz. Sim, o Senhor Jesus é o Príncipe da Paz. Que nobiliarquia pode ostentar semelhante título? Nenhum monarca terreno, ainda que traga a alcunha de pacífico, reúne as condições necessárias para efetivar a paz no coração humano. Uma paz, aliás, que só foi possível no Calvário, conforme escreve Paulo: “Justificados, pois, mediante a fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo; por intermédio de
quem obtivemos igualmente acesso, pela fé, a esta graça na qual estamos firmes; e gloriamo-nos na esperança da glória de Deus” (Rm 5.1,2, ARA).
Nessa passagem, observamos que a verdadeira paz é o resultado de um processo redentor que, tendo início antes da fundação do mundo, culminou na morte, ressurreição e glorificação de Jesus Cristo. Por intermédio de seu sacrifício vicário, Ele reconciliou-nos com Deus, tornando-nos propícios à sua justiça. No exato instante em que o aceitamos como Salvador e Senhor, justificou-nos Ele perante o Justíssimo Deus. E, desde então, passamos a ser vistos, pelo Juiz de toda a Terra, como se jamais tivéssemos cometido qualquer delito, transgressão ou pecado. O encerramento desse processo judicial, junto à corte celeste, trouxe-nos uma paz que o mundo não pode conhecer.
É por essa razão, primordial e essencialmente soteriológica, que o Senhor Jesus foi honrado com a elevada nobiliarquia de Príncipe da Paz. Não podemos atribuir-lhe semelhante título apenas em virtude das profecias que o mostram a pacificar as nações no Milênio. Ele é assim chamado, porquanto infunde, nos corações mais tormentosos e revoltos, a paz que excede todo o entendimento.
No ato de nossa conversão, recebemos a paz como resultado do processo de justificação perante o trono de Deus. Todavia, para mantermos a qualidade e a excelência dessa mesma paz, é imperativo cultivá-la, não como um mero adorno processual, mas como fruto do Espírito Santo (Gl 5.22). Se o fizermos, não teremos dificuldade alguma em oferecer a Deus o que o autor sagrado chama de sacrifícios de louvor. Era assim que o adorador do Antigo Testamento apresentava-se ante Jeová para apresentar-lhe ofertas e dons pacíficos. Nesse ato litúrgico, ele sabia que estava sendo contemplado pela graça divina que, tanto naquele tempo quanto agora, deve acompanhar todas as nossas devoções.
II. CARISLOGIA, UM ESTUDO GRACIOSO
Nos meus primeiros estudos teológicos, deliciei-me ao descobrir que a definição de graça era favor imerecido. A partir daquele dia, sempre que me era facultada a oportunidade de pregar, gostava de evocar aquela lição que, conquanto simples, é tão elevada e eficaz. Decorridas quatro décadas, ainda me delicio com o estudo da graça de Deus. Hoje, porém, constato que as implicações teológicas dessa virtude teologal são mais profundas do que eu supunha naquela época já distante e bela.
1. A graça não é uma deusa; é um dom de Deus. Não sei por que Homero e Hesíodo apraziam-se em ornar a árvore genealógica do imoral Zeus com as mais elevadas virtudes morais. A graça, por exemplo, era tida em tão alta conta que, no Olimpo, aparecia como trigêmea. Sempre juntas, as três irmãs, talvez as filhas mais queridas de Zeus, eram as divindades responsáveis pelos banquetes, encontros, concórdias e riquezas.
Vistas assim, as Graças do Olimpo em nada diferiam das socialites que estrelam nas revistas, jornais e televisões. Sua reputação, segundo Homero, era nada recomendável; faziam parte da comitiva de Afrodite, a deusa da libido, cuja alcovitice era bem conhecida nas paragens olímpicas e nos recônditos gregos.
Nas Sagradas Escrituras, a graça jamais foi uma deusa. Quer no Antigo, quer em o Novo Testamento, ela aparece aqui, entre os apóstolos; ali, junto aos profetas e justos. E, mais além, ressurge com os peregrinos que subiam a adorar em Jerusalém. A graça é mais do que um atributo divino. Entre as perfeições, bondades e grandezas do Senhor, evidencia-se como a qualidade que lhe expressa o amor, até mesmo nos momentos de castigo, disciplina e provação. A graça não é uma deusa; é a mais sublime expressão do Deus amoroso e bom.
2. Graça, a virtude teológica por excelência. Na língua hebraica, há uma palavra usada para sublimar a graça divina: chesed. Seus significados
emprestariam beleza ao cântico mais simples e à poesia mais singela: bondade, favor, amorosa benignidade. À semelhança de sua congênere grega, pode ser resumida numa única expressão: obséquio imerecido. Trata-se de algo que recebemos sem o merecermos.
Em grego, a palavra “graça” provém do vocábulo kharis; sua etimologia lembra alegria e contentamento. O seu real significado, porém, vai além da semiologia clássica. Nessa lexicografia, ajuntemos estes piedosos sinônimos: bondade, amor incondicional, dom gratuito, generosidade e, também, favor inesperado.
O substantivo “carislogia” é formado por dois vocábulos gregos: kharis: graça; e logia, estudo. Esse termo, que não é um simples neologismo, significa etimologicamente “estudo da graça”. Por ser a maior expressão do amor de Deus, a graça merece um estudo mais atento e próprio.
De meus estudos bíblicos, sou levado a inferir que a graça é a síntese das três virtudes cardeais que recebemos no ato da conversão: fé, amor e esperança. Aliás, a graça salvadora nos é manifestada antes mesmo de conhecermos a Jesus. Mas é somente por meio da fé salvadora que começamos a experimentá-la interiormente. Quanto mais amamos a Deus e ao próximo, mais a graça, agora multiforme em seus feitos redentores, faz-se presente em nossa vida. Nessa militância por Jesus Cristo, ela é a esperança do arrebatamento; constrange-nos a ir além de nossos próprios limites.
Se, por acaso, vermo-nos cansados e já por esmorecer, ouviremos do Senhor aquele lenitivo que levou Paulo ao Terceiro Céu: “A minha graça te basta” (2 Co 12.9). Nessa declaração de Cristo, todas as nossas carências e necessidades, quer espirituais, quer emocionais, ou até mesmo físicas, são plenamente supridas; em glória são supridas (Fp 4.19). No enunciado ao apóstolo dos gentios, Jesus deixava-lhe bem claro que, em sua graça, temos as virtudes e provisões de que precisamos para alcançar a Jerusalém Celeste.
Quando o crente hebreu, por conseguinte, apresentava ao Senhor um sacrifício pacífico manifestava ali, diante do altar, por intermédio de gestos e
ações dramáticas, a graça que lhe ia na alma. O ofertório era apenas a exteriorização daquilo que lhe inundava o coração: os favores imerecidos de Deus. E, se tantos favores recebia, por que não agradar a Deus com uma oferta de paz? Tal princípio não deve perder-se nas páginas do Levítico; tem de ser posto em prática em nosso atribulado dia a dia.
3. Graça e paz, a comunidade dos sacrifícios de louvores. Em suas epístolas, Paulo saudava as igrejas com uma fórmula que, embora provinda do grego e do hebraico, expressava a plenitude do Evangelho: graça e paz (Rm 1.7; 1 Co 1.3; Ef. 1.2). Ao dirigir-se aos santos com uma expressão tão profunda e significativa, o apóstolo conscientizava-os de que eles se constituíam na comunidade de sacrifícios de louvores e paz por excelência: obra da graça. Mesmo sem a beleza da liturgia e do cerimonialismo levíticos, não deixavam eles de expressar toda a formosura da vida cristã.
O que é um sacrifício de louvor? Atentemos às palavras do autor da Epístola aos Hebreus: “Por meio de Jesus, pois, ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome” (Hb 13.15, ARA). Nessa exortação, distinguimos a diferença entre o sacrifício de louvor do Antigo e o do Novo Testamento. O primeiro era gestual e dramático; o segundo é oral e marcado por amorosas proposições. Aquele dependia de um altar; este tem como altar o próprio adorador que, soteriologicamente, é o templo do Espírito Santo. Na Antiga Aliança, o crente dependia de um lugar específico para oferecer a sua oferenda ao Senhor. Já em a Nova Aliança, o discípulo de Jesus é instado a demonstrar o seu culto racional em todos os tempos e lugares; ele é o altar e o santuário.
O sacrifício de louvor manifesta-se por meio do fruto dos lábios. Louvando a Deus em todo o tempo, não nos desboquemos em murmurações, impropérios e palavras de calão. Em todo o tempo, demonstremos nossa gratidão ao Senhor. Até mesmo nas instâncias mais insuportáveis, curvemonos, qual Jó resignado, a adorar aquEle que faz com que todas as coisas
concorram para o bem dos que o amam.
Mais adiante, voltaremos a falar da Igreja de Cristo como a sociedade de sacrifício de louvores. Agora, faremos uma pausa para ver como os hebreus apresentavam suas oferendas pacíficas a Jeová.
III. A EXCELÊNCIA DA OFERTA PACÍFICA
Os dois sacrifícios mais antigos da História Sagrada são o holocausto e a oferta pacífica. Ambas as oferendas eram tidas, às vezes, como um único sacrifício.
1. Oferta pacífica. A voluntariedade da oferta pacífica fica bem evidente no livro de Levítico (Lv 7.12). A oferenda, para ser caracterizada como tal, deveria ser acompanhada de ações de graças; nenhuma petição era admitida. Naquele momento, o crente hebreu tinha como único desejo adorar e agradecer ao Senhor por todas as bênçãos, galardões e livramentos. Nos Salmos, as ofertas pacíficas manifestam-se em louvores ao Senhor por todas as suas benignidades (Sl 106,1). Leia atentamente os Salmos 118 e 136.
Nas Escrituras do Novo Testamento, somos instados a oferecer a Deus contínuas ações de graças (1 Ts 5.18). Dessa forma, jamais perderemos a comunhão quer com Deus, quer com a Igreja de Cristo (Cl 3.15).
2. Tipos de ofertas pacíficas. As ofertas pacíficas compreendiam três modalidades ou fases: ações de graças, voto e oferenda movida diante do altar.
a) Ações de graças. A fim de agradecer ao Senhor por um favor recebido, o crente hebreu oferecia-lhe bolos e coscorões ázimos amassados com azeite. Os bolos, feitos da flor de farinha, tinham de ser fritos (Lv 7.12-15). A carne, que acompanhava o sacrifício pacífico, devia ser consumida no mesmo dia (Lv 7.15).
Os produtos trazidos a Deus eram acompanhados de louvores (Hb 13.15). Tanto ontem quanto hoje, somos instados a louvar e a enaltecer
continuamente o Senhor.
b) Voto. Nos momentos de angústia, os filhos de Israel faziam votos ao Senhor, prometendo-lhe ofertas pacíficas (Gn 28.20; 1 Sm 1.11). Nesse caso específico, o sacrifício poderia ser comido tanto no mesmo dia quanto no dia seguinte (Lv 7.15,16). No terceiro dia, nada dele podia ser ingerido. O voto, por ser uma ação voluntária, requeria igualmente uma atitude voluntária. Que o ofertante participasse das ofertas com alegria e regozijo.
c) Oferta movida. Na última etapa, o adorador entregava a oferta pacífica ao sacerdote que, seguindo o manual levítico, aspergia o sangue do sacrifício sobre o altar. Em seguida, queimava a gordura do animal (Lv 7.30). O peito era entregue a Arão e a seus filhos. Num último ato, o sacerdote movia a parte mais excelente da oferenda perante o altar: o peito e a coxa (Lv 7.31-35).
Objetivos das ofertas pacíficas. Como já dissemos, eram dois os objetivos da oferta pacífica: aprofundar a comunhão entre Deus e o crente, e levar o ofertante a reconhecer que tudo quanto temos vem do Senhor, porque dEle é a terra e a sua plenitude (Sl 24.1).
IV. A OFERTA PACÍFICA NA HISTÓRIA SAGRADA
Neste tópico, veremos três exemplos de pessoas que fizeram voto ao Senhor, e foram plenamente atendidas: Jacó, Ana e Davi.
1. Jacó, filho de Isaque. Quando fugia de Esaú, seu irmão, Jacó fez um comovente voto ao Senhor. Depois de ter visto o céu aberto e os santos anjos subirem e descerem sobre uma escada que ligava a Terra ao Céu, prometeu ao Deus de seus pais: “Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz tornar à casa de meu pai, o SENHOR será o meu Deus” (Gn 28.20,21). A partir daí, o patriarca tornou-se um fiel e zeloso adorador (Gn 35.1-3).
Fazer votos ao Senhor não constitui pecado algum. Lembro-me de que, certa vez, minha mãe fez um voto a Deus em favor de meu irmãozinho, que se achava gravemente enfermo. Segundo os médicos, a broncopneumonia
acabaria por matar o Eliseu; um bebê frágil, já moribundo. Mas, para a nossa surpresa, Jesus interveio eficazmente, trazendo-o de volta à casa.
Não podemos fazer do voto, porém, um aríete contra a vontade divina. Quer Deus nos atenda, quer não, Deus continua a ser Deus. Além disso, o voto não pode contemplar o costumeiro e o ordinário de nossas obrigações junto ao Reino de Deus; antes, deve compreender o incomum e o extraordinário. Num voto, não há por que incluir o dízimo, por que este já é uma parte obrigatória da mordomia cristã. Prometamos-lhe, então, uma generosa oferta missionária.
2. Ana, mãe de Samuel. Afligida por sua rival, por não dar filhos a Elcana, seu marido, a desolada Ana fez este voto ao Senhor: “Senhor dos Exércitos! Se benignamente atentares para a aflição da tua serva, e de mim te lembrares, e da tua serva te não esqueceres, mas à tua serva deres um filho varão, ao SENHOR o darei por todos os dias da sua vida, e sobre a sua cabeça não passará navalha” (1 Sm 1.11, ARA). Após haver desmamado a Samuel, entregou-o ao Senhor, cumprindo a ordenança quanto ao sacrifício pacífico (1 Sm 1.24-28).
O altruísmo de Ana caracteriza admiravelmente o sacrifício pacífico. Ela, que ainda não tinha filhos, rogava um ao Senhor, para, em seguida, santificálo ao serviço divino. Pode haver maior sacrifício que este? Em sua atitude, observamos uma forte convicção messiânico-soteriológica. Sem o saber, consagrava o seu primogênito à redenção de Israel. E, de acordo com a História Sagrada, o profeta Samuel impulsionou a libertação dos israelitas; julgou-os e ungiu-lhes os dois primeiros monarcas.
3. Davi, rei de Israel. Pelo que observamos nos Salmos, Davi foi o homem que, em todo o Israel, mais sacrifícios pacíficos apresentou ao Senhor (Sl 22.25; 56.12; 61.5,8). Aliás, os seus cânticos já são, em si mesmos, um sacrifício de louvor e paz ao Deus de Abraão.
Na biografia de Davi, encontramos não um rei, em primeiro plano, mas um homem apaixonado pelo Senhor. Tem-se a impressão de que ele andava de sacrifício em sacrifício e de voto em voto. Eis porque, ao pecar duplamente contra Deus, centuplicadamente viu-se no pó e na cinza. Para o homem segundo o coração de Jeová, mais valia um sacrifício de louvor do que mil pelo pecado.
V. A OFERTA PACÍFICA NA VIDA DIÁRIA
De que modo apresentaremos, hoje, nossos sacrifícios pacíficos ao Senhor? Há três maneiras: consagrando-nos; perseverando nos sacrifícios de louvores e adorando a Deus em todo o tempo.
1. Consagração incondicional. O melhor sacrifício que um crente pode oferecer ao Senhor é apresentar a si mesmo a Deus (Rm 12.1). Neste momento, nossa oferenda é, além de pacífica, amorosa e plena de serviços. A partir daí, começamos a experimentar as excelências da vontade divina. Paulo considerava-se uma libação ao Senhor Jesus (2 Tm 4.6).
Num momento tão difícil e escatológico quanto este, entreguemo-nos sem reservas a Cristo. Que homens e mulheres, moços e moças e meninos e meninas, desprezando os encantos do presente século, deleitem-se em servilo. Já é momento de nos depositarmos no altar divino; sacrifício pacífico.
2. Sacrifícios de louvores. Oferecemos um sacrifício de louvor a Deus, quando lhe cumprimos plenamente a vontade (Hb 13.15). Mas, para que a plenifiquemos em nosso dia a dia, é imprescindível apresentarmo-nos diante dEle com um espírito humilde e quebrantado (Sl 51.17). Ao nos conformarmos à sua vontade, entregamos-lhe a mais excelente das oferendas: nosso amor incondicional e provado.
Veja o Senhor Jesus. Até mesmo às vésperas de sua paixão louvou ao Pai; cantou um hino. Conquanto não lhe saibamos a letra, a melodia está em
nossa alma. Isso é sacrifício de louvor; adorar a Deus ante o algoz.
3. Adoração contínua. Paulo e Silas, quando presos, cantavam e adoravam a Deus, ofertando-lhe um sacrifício que, além de pacífico, era profundamente redentor (At 16.25-31). Por isso, o apóstolo recomenda-nos a louvar continuamente a Deus (Ef 5.19; Cl 2.16).
Nesse momento, vejo-me a constrangido a perguntar-me: “Como está o meu louvor?”. Canto na bonança ou na tempestade também canto? Ajuda-me Senhor.
CONCLUSÃO
Adoramos a Deus com ofertas pacíficas, quando nos apresentamos diante dEle com o propósito de render-lhe graças por todas as bênçãos recebidas. Com tal atitude, honramos ao Senhor com um culto racional, agradável e vivo.
Neste capítulo, vimos que, das cinco ofertas prescritas no livro de Levítico, a mais excelente em voluntariedade era a pacífica, pois tinha como objetivo aprofundar a comunhão de Israel com o seu Deus. Ao aproximar-se de Jeová, com tal oferta, o crente do Antigo Testamento manifestava-lhe, em palavras e gestos, que o seu único almejo era agradecê-lo por todos os benefícios recebidos (Sl 103.1,2).
Que preciosa lição para os dias de hoje. Como agradecer ao Senhor Jesus Cristo por todos os benefícios que, diariamente, dEle recebemos?
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O método de
pôr vários tipos um ao lado do outro é bíblico, conforme vemos nos primeiros
capítulos de Levítico. O próprio Espírito Santo adotou esse plano nessa parte
da Bíblia e nos ofereceu um grupo maravilhoso que representa a obra e a pessoa
de nosso Senhor Jesus Cristo em vários aspectos.
Muitos
escreveram sobre as ofertas, e os que mais as estudaram talvez concordem que
estão apenas começando a ver a beleza delas. “Jesus Cristo, e este crucificado”
é o assunto que elas nos apresentam. E parece estranho que o crente que ama a
Bíblia deixe essas páginas inexploradas.
O estudo das
ofertas é uma grande salvaguarda contra opiniões confusas a respeito da
santidade, da santificação, do pecado, etc. É impossível subestimar o que o
pecado é de fato, depois de estudar as exigências de Deus e sua provisão.
Nenhum exame
geral dos tipos seria completo sem pelo menos um breve olhar nesse tesouro
inexaurível. Por isso, aqui se oferecem algumas reflexões, colhidas de muitas
fontes, que se revelaram úteis nesse estudo. Vários aspectos dessas idéias já
foram aludidos em capítulos anteriores.
A ordem das
ofertas em Levítico é segundo o ponto de vista de Deus. Primeiro, há o
holocausto, depois, a oferta do cereal; a oferta de comunhão; a oferta pelo
pecado; e a oferta pela culpa. Quando comparecemos diante de Deus como
pecadores, temos vislumbres dos vários aspectos da obra de Cristo na ordem
oposta a essa.
Em primeiro
lugar, ficamos sabendo que precisamos de perdão pelos atos específicos de
pecado que cometemos, e nossa necessidade é atendida na oferta pela culpa.
Em seguida,
ficamos sabendo que não somente pecamos repetidas vezes, mas também que nossa
natureza é maligna; Deus, porém, fez provisão para isso na oferta pelo pecado.
Depois, somos ensinados a entrar no significado da oferta de comunhão e na
oferta de cereal, e festejar com elas. Finalmente, vemos no holocausto Cristo e
sua obra, e aprendemos algo do que Cristo é para Deus e de nossa posição em
Cristo: “aceitos no Amado”.
A obra de
Cristo é uma só, contudo, embora prefigurem seus diferentes aspectos, as
ofertas estão estreitamente associadas entre si. Desse modo, no caso do
holocausto e da oferta pelo pecado, os dois sacrifícios eram abatidos no mesmo
local, ao lado do altar de bronze (Lv 6.25); a gordura da oferta pelo pecado
era queimada no altar dos holocaustos (4-19); e o restante da oferta pelo
pecado era queimado no local em que as cinzas do holocausto tinham sido
derramadas (4-12; 6.11); enquanto o ofertante, nos dois casos, impunha a mão
sobre a cabeça do animal diante da porta do tabernáculo da congregação, ou melhor,
da Tenda do Encontro.
Não se
menciona o pecado no holocausto, pois este fala mais da justificação que do
perdão, e por isso prefigura a verdade de Atos 13.39: “Por meio dele, todo
aquele que crê é justificado de todas as coisas”; ao passo que o aspecto da
oferta pelo pecado na obra de Cristo é prefígurado no versículo anterior:
“Quero que saibam que mediante Jesus lhes é proclamado o perdão dos pecados”.
No holocausto, Deus vê o pecador justificado em Cristo, como se não tivesse
pecado, e na oferta pelo pecado faz provisão para sua culpa.
Embora a
idéia de pecado não nos seja apresentada no holocausto, está indiretamente
implícita no fato de nossa necessidade de aceitação. Lemos que será “aceito
como propiciação em seu lugar”. Propiciação significa “cobertura”, e a
necessidade dessa cobertura pressupõe o pecado. Mas, estando cobertos por
Cristo, “o qual se tornou sabedoria de Deus para nós, isto é, justiça”, somos
considerados justos. “O Senhor justiça nossa” significa muito mais do que a
justiça de Cristo a nós imputada. Não é que simplesmente a devoção de Cristo,
sua fidelidade à Lei e sua obediência sejam lançadas em nossa conta corrente
como crédito, mas, sim, que Deus nos vê nele em toda sua perfeição.
Os animais
oferecidos como holocausto podem ser tirados da manada (de gado) ou do rebanho.
O povo podia oferecer novilhos, cordeiros, cabritos, rolinhas ou pombinhos. A
variedade em geral denota o diferente grau de apreço espiritual que temos por
Cristo como nosso holocausto. Embora nossa falta de apreço possa interferir em
nossa alegria da salvação, somos abençoados conforme a estima que Deus atribui
à excelência de Cristo, não segundo o nosso próprio valor. Para cada um de nós
é necessário um Cristo inteiro. A força caracteriza o boi (Pv 14-4); a submissão,
o cordeiro (Is 53.7); e a inocência que geme, o pombo (Is 59.11; 38.14; Mt
10.16).
Quando o
holocausto era constituído de cabeça de gado ou de rebanho, os sacerdotes
deviam cortá-lo em pedaços e os arrumar sobre o altar. Examinavam cada pedaço.
Spurgeon, falando de Hebreus 12.2, disse que “olhando para Jesus” (arc) pode
ser interpretado “olhando para dentro de Jesus”. Compara isso com o dever dos
sacerdotes em relação ao holocausto: quanto mais fixamente olhamos, mais vemos
quanto Cristo foi completamente do agrado do Pai. A cabeça é geralmente
considerada representação da inteligência, dos pensamentos; a gordura
representa a saúde e o vigor gerais, ou excelência; as entranhas, os motivos e
inclinações; e as pernas, o andar.
Levítico 1.9
fala da lavagem na água. Parece que isso se refere ao teste pela Palavra. De
toda e qualquer maneira que se teste Cristo, sua excelência se revela.
As cinzas do
holocausto eram primeiro depositadas no lado oriental do altar (Lv 1.16). Elas
falavam do sacrifício aceito. No salmo 20, Davi ora: “Que o Senhor te responda
no tempo da angústia [...] Lembre-se de todas as tuas ofertas e aceite os teus
holocaustos”. Deus demonstrava aceitação da oferta enviando fogo, e as cinzas
comprovavam que o fogo dissera: “É o bastante” (Pv 30.16). O fogo fez sua obra
completa no Calvário. Deus está satisfeito. E nós tomamos nossa posição, agora
e por toda a eternidade, como os sacerdotes em 2Crônicas 5.12, no lugar das
cinzas, o lugar do sacrifício aceito. O tabernáculo orientava-se na direção
leste — oeste, e o lugar das cinzas, a extremidade mais próxima da entrada,
ficava de frente para o leste, ao passo que a tampa da arca, voltava-se para o
oeste.
No conhecido
texto de Salmos 103.12, não se pode incluir a interpretação do tabernáculo? O
versículo refere-se principalmente à distância imensurável entre oriente e
ocidente, na infinitude do espaço, quando nos diz: “Como o Oriente está longe
do Ocidente, assim ele afasta para longe de nós as nossas transgressões”, mas
não existe também uma distância infinita entre nossa posição de pecadores,
quando comparecemos ao tabernáculo pela primeira vez e nos colocamos em pé ao
lado do altar de bronze, no local das cinzas, e a posição que ocupamos quando,
com ousadia, passamos pelo véu e entramos no lugar santíssimo e nos aproximamos
do trono da graça? Do mesmo modo que o local das cinzas está longe da tampa da
arca, também Deus afasta para longe as nossas transgressões.
Temos uma
bela descrição de uma cena dos tempos de Ezequias, em que o holocausto era
oferecido no meio da multidão que se regozijava e adorava: “Iniciado o
sacrifício, começou também o canto em louvor ao Senhor, ao som das cornetas e
dos instrumentos de Davi, rei de Israel. Toda a assembléia prostrou-se em
adoração, enquanto os músicos cantavam e os corneteiros tocavam, até que
terminou o holocausto” (2Cr 29.27,28).
Enxergar o
Senhor Jesus Cristo como o holocausto certamente nos traz alegria ao coração.
Quando ele desceu para cumprir a vontade de Deus na terra, levantou-se um coro
de louvor no céu que até na terra se fez ouvir. O evangelho de Lucas registra
que se ouviu uma grande multidão do exército celestial “louvando a Deus e
dizendo: ‘Glória a Deus nas alturas, e paz na terra aos homens aos quais ele
concede o seu favor’” (2.13,14).
O holocausto
era perfeitamente aceitável a Deus, e em Cristo os homens podiam achar favor. A
hoste celestial não podia cantar como uma multidão de redimidos, nem louvar por
ter sido aceita desse modo, mas houve júbilo na presença dos anjos quando o Bom
Pastor saiu voluntariamente para a obra. Tudo isso continuou até que terminou o
holocausto”, e nós ouvimos o eco dos brados de triunfo que ressoaram por todo o
céu quando Jesus voltou para lá, conforme lemos nas palavras exultantes do
salmo 24: “Abram- se, ó portais; abram-se, ó portas antigas, para que o Rei da
glória entre. Quem é o Rei da glória? O Senhor forte e valente, o Senhor
valente nas guerras”. A batalha terminara, o holocausto fora aceito. Vem o dia
em que as portas eternas serão abertas pela segunda vez, assim como no salmo, e
o Rei da glória entrará — não sozinho, mas acompanhado por todos os que o viram
como o Cordeiro de Deus.
“Quem é esse
Rei da glória? O Senhor dos Exércitos; ele é o Rei da glória!”
Na oferta de
cereal, não se menciona a morte propriamente dita, pois essa oferta fala mais
da vida imaculada de Cristo conforme apresentada a Deus. Vimos que seus
sofrimentos são representados no esmagar, bater e moer, necessários para
preparar as várias substâncias ofertadas.
Uma das
lições principais ensinadas pelas ofertas de cereal e de comunhão é que, embora
uma porção fosse queimada no altar, os sacerdotes tinham licença de se
alimentar do restante. Alimentavam- se daquilo em que Deus se deleitava — “o
pão de Deus”, conforme é chamado (Lv 21.6,8,17,21,22; 22.25). Na oferta de
comunhão, duas porções são mencionadas especialmente como o alimento dos
sacerdotes — “o peito que é movido ritualmente e a coxa que é ofertada” (Lv
7.31-34). A coxa indica o lugar da força, e o peito, o lugar da afeição. Essas
duas são particularmente o alimento do crente. As duas idéias estão em geral
ligadas entre si. O sumo sacerdote levava os nomes dos israelitas nos seus
ombros e “sobre o seu coração no peitoral de decisões” (Êx 28.12,29), o que nos
lembra como nós também repousamos nos ombros da força de Cristo e no peito do
seu amor infinito: “Com o braço ajunta os cordeiros e os carrega no colo” (Is
40.11); “Aquele a quem o Senhor ama descansa nos seus braços” (Dt 33.12). Ele
diz: “A mim pertence o poder” e “Amor” (Pv 8.14, 17); “Deus [...] é poderoso e
firme em seu propósito” (Jó 36.5). As duas orações de Paulo a favor dos efésios
caracterizam-se por essas mesmas idéias. A oração de Efésios 1 é que conheçam o
poder; em Efésios 3, que conheçam o amor.
O tema de
alimentar-se de Cristo conforme tipificam as ofertas é muito amplo.
Em Levítico
22.4, lemos que nem o leproso, nem o defeituoso podem comer delas. Se houver
pecado conhecido, não poderá haver comunhão nem alimentação. O filho pródigo no
país distante lembrou-se da comida que havia na casa de seu pai e disse:
“Quantos empregados de meu pai têm comida de sobra, e eu aqui morrendo de
fome!”.
O impuro
precisava esperar até que fosse oferecido o sacrifício da tarde. “Depois do
pôr-do-sol estará puro, e então poderá comer as ofertas sagradas” (Lv 22.7).
Desse modo isso seria no crepúsculo, não em plena luz do sol — o brilho se
perdería. Não é isso que acontece freqüentemente conosco? Depois de perder a
comunhão, somos restaurados, e podemos nos alimentar de novo, mas por um tempo
o brilho permanece reduzido, e é como se nos alimentássemos no crepúsculo, não
na plena luz do dia.
Era
privilégio de todos os sacerdotes comer das ofertas, “tanto de um como do
outro” (Lv 7.10, ra) . “Todos recebemos da sua plenitude.” (Jo 1.16) Devia
haver para cada dia a devida porção e, nos tempos de Ezequias, quando o culto
no templo foi purificado e renovado, os sacerdotes e os levitas confessaram:
“Temos tido o suficiente para comer e ainda tem sobrado muito” (2Cr 31.10).
Essa é também a nossa experiência na casa do nosso Pai. Há “comida de sobra”.
E, assim como Paulo, podemos dizer “temos tudo em abundância”.
Levítico
22.10 informa que alguns na casa do sacerdote não podiam comer das ofertas:
nenhum estrangeiro (cf. Ef 2.12,19), nem inquilino (cf. 1 Jo 2.19), nem
empregado (Jo 15.15). O pródigo sabia que havia grande diferença entre a
posição de empregado e de filho, mas, quando seu pai o acolheu de volta como
filho, e disse: “Esse é o meu filho”, não conseguiu pedir (conforme pretendera)
para ser feito um dos empregados.
O versículo
seguinte nos fala a respeito de duas classes de pessoas que podiam receber sua
porção. “Mas, se um sacerdote comprar um escravo [...] esse escravo poderá
comer do seu alimento” (cf. 1Co6.20; 1Pe 1.18,19; e Act 20.28); “ouse um
escravo nascer na sua casa, esse escravo poderá comer do seu alimento” (comp.
1Pe 1.23 e 1Pe 2.2).
A oferta
pelo pecado e a oferta pela culpa eram diferentes das demais. O cadáver do
animal era queimado não no altar de bronze, mas fora do arraial. Tudo quanto se
queimava no altar do holocausto era de cheiro suave diante de Deus, mas Deus
desviou seu rosto do Senhor Jesus como oferta pelo pecado. Foi nesse momento
que Jesus exclamou: “Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?” (Mt 27.46).
Mesmo como oferta pelo pecado, Jesus era agradável a Deus, e isso se expressa
pela gordura da oferta pelo pecado ser queimada no altar do holocausto.
Em Levítico
4, são mencionadas ofertas pelo pecado para quatro classes de pessoas: o
sacerdote, a congregação inteira, um líder do povo, e uma pessoa comum da
comunidade. Provavelmente isso nos fale a respeito da provisão feita por Deus
para lidar com o pecado nos nossos vários relacionamentos.
Assim sendo, “a
oferta pelo pecado em favor do sacerdote trataria do pecado em nossa posição
como sacerdotes diante de Deus; a oferta em favor da congregação inteira
representaria nossa posição coletiva como a assembleia de Deus; a oferta em
favor do líder, nossa posição em relação àqueles que podem ser influenciados
por nós; e a oferta em favor de um membro do povo, a nossa posição individual”.
Nos dois
primeiros casos, a oferta pelo pecado do sacerdote e a oferta pelo pecado da
congregação, o sangue era levado para dentro do Lugar Santíssimo, aspergido
sete vezes diante do véu, depois colocado nas pontas do altar de ouro, e o
restante era derramado na base do altar de bronze. “O sangue aspergido diante
do véu restabelecia o relacionamento entre Deus e seu povo, o véu cobria o
lugar onde Deus se encontrava com eles; o sangue no altar de ouro restabelecia
a adoração pela assembléia; e o sangue na base do altar de bronze restabelecia
a comunhão individual, pois tudo isso tinha sido interrompido pelo pecado.”
Na oferta
pela culpa, no caso de a culpa ter sido contra o Senhor, o sacrifício antecedia
à restituição (Lv 5.15,16). No caso de a culpa ter sido contra o homem, a
restituição antecedia ao sacrifício (6.5,6).
Um estudo
muito interessante é classificar as passagens que se referem à obra de Cristo
segundo seus diferentes aspectos e as ofertas que lhes eram apropriadas.
Desse modo,
temos em Isaías 53 todas as ofertas — o holocausto no versículo 11: “pelo seu
conhecimento meu servo justo justificará a muitos”; a oferta de comunhão no
versículo 5: “o castigo que nos trouxe paz estava sobre ele”; a oferta pelo
pecado nos versículos 6, 10 e 12: “o Senhor fez cair sobre ele a iniqüidade de
todos nós”, “embora o Senhor tenha feito da vida dele uma oferta pela culpa” e
“ele derramou sua vida até a morte”; pois na oferta pelo pecado o sangue era
derramado na base do altar. A oferta pelo pecado no grande Dia da Expiação,
quando o bode emissário levava embora o pecado do povo, é dada a entender nos
versículos 11 e 12: “levará a iniqüidade deles” e “ele levou o pecado de
muitos”. A oferta pela culpa está no versículo 5: “ele foi transpassado por
causa das nossas transgressões, foi esmagado por causa de nossas iniqüidades”;
e o esmagamento da melhor farinha na oferta de cereais, nos versículos 3 e 10:
“Foi desprezado e rejeitado pelos homens, um homem de dores e experimentado no
sofrimento” e “foi da vontade do Senhor esmagá-lo”.
No primeiro
capítulo da Primeira epístola de João, parece haver diante de nós uma visão
quíntupla da obra de Cristo, na mesma ordem das ofertas, começando, como em
Levítico 1, com ponto de vista de Deus e terminando com a provisão pela nossa
pecaminosidade. Nos versículos 1 a 3, temos o aspecto do holocausto, a oferta
que ficava totalmente no altar de Deus, oferta da qual os sacerdotes não podiam
participar, mas apenas contemplar com os olhos e apalpar com as mãos. Nos
versículos 3 a 7, há a idéia da comunhão e da alegria — assim como na oferta de
cereal e na oferta de comunhão o sacerdote participava do “alimento da oferta”,
do “pão do seu Deus”, nós podemos dizer: “Nossa comunhão é com o Pai e com seu
Filho Jesus Cristo”. E nos versículos 7 a 10, temos a provisão de Deus para o
pecado e para a pecaminosidade, conforme tipificam a oferta pelo pecado e a
oferta pela culpa.
As seguintes
passagens, entre outras, também nos oferecem o aspecto de holocausto da vida e
obra de Jesus Cristo — as que falam da sua realização perfeita da vontade do
Pai, (Mt 26.39; Jo 4.34; e Hb 10.7); da sua oferta voluntária de si mesmo, (Jo
10.11,15,17; 15.13; Hb 9.14; 10.10; Is 50.5,6); da sua obediência, (Rm 5.19; Fp
2.5-8); e da nossa aceitação, (Ef 1.6; e 1Pe 2.5).
Muitos
versículos falam de Jesus como a oferta de cereal, como, por exemplo, os que se
referem a sua vida perfeita e sofredora, a sua preciosidade diante de Deus, a
ele ser ungido com o Espírito Santo e estar totalmente debaixo da orientação de
Deus, etc.
Colossenses
1.20 e Efésios 2.13-17 põem diante de nós Cristo como nossa oferta de comunhão.
Alimentar-se da oferta de comunhão está em João 6.51-57 e em 1Coríntios 10.16.
Apresentar a oferta de comunhão está em 2Coríntios 9.15 e Hebreus 13.15, pois
era o sacrifício de ação de graças.
O aspecto da
oferta pelo pecado é constantemente mencionado quando se fala que o Senhor
Jesus “se tornou maldição em nosso lugar” (Gl 3.13); foi afligido por Deus (Lm
1.12; 3.1-19; Sl 22); e feito sacrifício pelo pecado (Jo 1.29; Rm 5.8; 8.3; 2Co
5.21; 1Tm 1.15; Hb 10.187; 1Jo 1.7).
Enxergamos
Jesus como oferta pela culpa onde lemos a respeito de nossas culpas terem sido
removidas (Cl 2.13,14; 2Co 5.19); de nossos pecados terem sido perdoados (Mt
26.28; Ef 1.7; Cl 1.14); e de Jesus ser oferta pelos nossos pecados (1Co 15.3;
Gl 1.4; Hb 10.12; 1Pe 2.24; 3.18; Mt 1.21; Sl 50.12).
É possível
que tanto o holocausto quanto a oferta de comunhão estejam representados em
Efésios 5.2: “Cristo nos amou e se entregou por nós como oferta e sacrifício de
aroma agradável a Deus”, pois ambos eram de aroma agradável a Deus. A palavra
sacrifício em Levítico normalmente se refere à oferta de comunhão.
As quatro
ofertas são indicadas em Hebreus 10 e no salmo 40: “Sacrifício e oferta não
quiseste [...] de holocaustos e ofertas pelo pecado não te agradaste”.
O povo de
Israel fazia ofertas e sacrifícios a Deus regularmente, assim como os cristãos
hoje em dia tomam a comunhão na igreja, dão ofertas e oram.
Os
Israelitas entregavam a Deus ofertas e sacrifícios para restabelecer um
relacionamento com Deus.
Eles faziam
isso numa época específica do ano, como na lua nova e na colheita.
Eles também
faziam quando um voto era quebrado ou quando uma pessoa era julgada suja por
causa de um problema médico.
Alguns
sacrifícios e ofertas eram feitos para comemorar alguns tempos chaves na
história de Israel, como por exemplo a páscoa.
As regras
quanto a ofertas e sacrifícios eram bem detalhadas e Deus esperava que os
israelitas as seguissem minuciosamente.
A
PERFORMANCE E A ORDEM DOS SACRIFÍCIOS
A fonte
principal de uma descrição de sacrifícios é o início do livro de Levitico
(Levítico 1:1-17).
Ele consiste
de duas partes.
A primeira
parte lida com duas categorias de sacrifícios (Levitico 1:1- 6:7).
A primeira
categoria inclui os sacrifícios com "cheiro suave ao Senhor", e isso
inclui a oferta queimada (Levitico 1:1-17), a oferta de cereais (Levitico
2:1-16) e os sacrifícios de ofertas pacíficas (Levitico 3:1-17).
A segunda
parte inclui os sacrifícios expiatórios (aqueles que expiam ou reparam os
erros).
Isso inclui
sacrifício pelos pecados (Levitico 4:1 -5:3) e oferta pela culpa (Levitico
5:14-6:7).
É prestada
uma enorme atenção aos detalhes desses rituais e eles são agrupados de acordo
com suas associações lógicas.
A oferta do
grão sempre segue a queimada porque sempre a acompanhava na prática em si
(Numeros 15:1-21; 28:1-29).
Também podia
acompanhar a oferta pacífica (Levitico 7:12-14; 15:3-
4).
Uma ênfase
especial é colocada em queimar as partes internas de um sacrifício no altar
para fazer um "cheiro suave ao Senhor" (Levitico 1:9; 1:17; 2:2; 2:9;
2:12; 3:5; 3:11; 3:16).
Quando o
Senhor estava satisfeito com o sacrifício (Gênesis 8:21), era um sinal de favor
divino.
Quando se
recusava a reconhecer a oferta e cheirar o aroma agradável, mostrava que Deus não
estava satisfeito (Levitico 26:31).
É evidente
que o sacerdote sabia como ler os sinais e falaria a pessoa que estava fazendo
a oferta se o seu sacrifício tinha sido aceito ou não (1 Samuel 26:19; Amós
5:21-23).
As ofertas
de culpa e pecado permitia que a pessoa restaurasse o seu relacionamento
quebrado com Deus (Levitico 4:1-6:7; 4:20).
As situações
que requeiram tais ofertas estão listadas e uma ênfase especial é feita ao
descrever como se devia lidar com o sangue no ritual.
A segunda
parte principal nessa passagem (Levitico 6:8-7:38) enfatiza os detalhes
administrativos das varias ofertas.
Essa seção
consiste de uma série de instruções para cada tipo de oferta a respeito da
distribuição do material sacrificado.
Umas partes
pertenciam ao sacerdote, outras a pessoa que havia oferecido o sacrifício e
outras eram queimadas no altar ou jogadas fora do acampamento.
Aqueles
sacrifícios que o sacerdote considerava mais santos eram para ser comidos
somente por aqueles membros qualificados do sacerdócio (Levitico 2:3; 2:10;
10:12-17; 14:13; Números 18:9).
As ofertas
queimadas são primeiramente discutidas porque eram inteiramente consumidas no
altar e não eram comidas por ninguém.
Depois dela,
os sacrifícios que eram distribuídos aos sacerdotes são descritos (Levitico
6:17; 6:26; 6:29; 7:1; 7:6).
E então
finalmente as ofertas pacíficas são descritas.
Uma parte
significativa da oferta pacífica era devolvida as pessoas que tinham feito a
oferta.
A ordem em
que os sacrifícios são lidados, corresponde a freqüência com a qual eles eram
realizados durante o curso do ano religioso (Números 28:19; 2 Crônicas 31:3;
Ezequiel 45:17).
Isso seria
particularmente importante para os sacerdotes e para os levitas de serviço no
templo porque eles eram responsáveis pela organização dos sacrifícios diários,
especialmente durante os feriados.
Durante as
festas e os festivais, dirigir os sacrifícios no templo era uma tarefa
formidável (1 Crônicas 23:28-32; 26:15; 26:20-22; 2 Crônicas 13:10-11; 30:3-19;
34:9-11).
As ofertas
pacíficas não tinham uma parte no calendário sagrado exceto durante o Festival
da Colheita (Levitico 23:19-20).
Em todas as
outras ocasiões, com duas exceções (o voto de nazireu e a instalação de um novo
sacerdote), as ofertas pacíficas eram sacrifícios puramente voluntários e ele
não requeria nenhum tipo de escrituração.
Em outros
contextos bíblicos, os sacrifícios são listados de acordo com a mesma
escrituração ou ordem administrativa.
Estes
incluem ofertas queimadas, ofertas de grão, ofertas de bebida e
ofertas pelo
pecado.
As
instruções para que tipo de oferta trazer quando sacrifícios eram requeridos em
casos específicos seguem o mesmo tipo de seqüência.
Quando um
voto de Nazireu era terminado, o Nazireu trazia ofertas queimadas, pelo pecado
e pacíficas. No entanto, o sacerdote fazia o ritual numa ordem diferente.
A oferta
pelo pecado era feita primeiro seguida pela oferta queimada e por último a
oferta pacífica (Números 6:16-17).
No caso de
um voto incompleto, o primeiro passo seria oferecer uma oferta pelo pecado e
depois a oferta queimada para renovar o voto (Números 6:11).
O
renovamento do voto de Nazireu requeria uma oferta de culpa especial que era um
ritual distinto (Números 6:12).
A descrição
das ofertas feitas pelo príncipe de Israel nos últimos dias, apresenta o mesmo
contraste entre os dois tipos diferentes de sacrifícios.
Em feriados
festivos o príncipe trazia ofertas queimadas, de grão e de bebida, mas ele as
oferecia como ofertas pelo pecado, ofertas de grão, ofertas queimada e ofertas
pacífica (Ezequiel 45:17).
Essa segunda
ordem dos sacrifícios na qual a oferta de pecado vinha antes da oferta
queimada, também era seguida durante a rededicação do altar (Ezequiel 43:18-27).
A ordem
detalhada dos sacrifícios ilustra a idéia no Velho Testamento de como Deus
poderia ser abordado.
Primeiro,
tinha que ser feito uma expiação pelo pecado e depois a pessoa fazendo o
sacrifício tinha que ser consagrada.
Quando essas
condições tinha sido alcançadas, a pessoa fazendo a oferta poderia expressar a
sua devoção continua com mais ofertas queimadas e ele também poderia fazer
parte nos sacrifícios em comunhão aonde ele mesmo ganhava uma grande parte do
animal morto para dividir com seus amigos (Deuteronômio 12:17-19).
FONTE :
APAZDOSENHOR.ORG
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