Os Ministros
do Culto Levítico
Introdução
N
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este
capítulo, faremos algumas considerações acerca do chamado extraordinário dos
levitas ao ministério sacerdotal de Jeová. Logo de início, buscaremos responder
à pergunta: “Por que a escolha recaiu sobre Levi, se esta tribo não era a mais
excelente de Israel?”. Em seguida, contemplaremos outra questão igualmente
importante: “Não teria sido mais consensual se Moisés houvesse selecionado os
ministros do altar dentre os melhores homens de cada tribo?”.
Antes, porém, de nos ocuparmos dessas
questões, trataremos de uma temática comum às comunidades divinas de ambos os
Testamentos: o serviço a Deus. Afinal, todos fomos chamados a servir ao
Criador, pois Ele nos fez e dEle somos.
Portanto, ainda que não sejamos chamados
a trabalhar num ministério específico, não poderemos ficar inativos; na Vinha
do Senhor, há um trabalho para cada um de nós. Às vezes, o nosso afazer nem
lembra um ministério, devido à sua pequenez e aparente insignificância. Mas, se
é feito para Deus, jamais deixará de ter a glória e o galardão de ministério.
Feitas essas considerações, voltaremos
às perguntas que deram ocasião à abertura deste capítulo. Que Deus nos ajude.
I.
Diaconologia, A Teologia do Serviço
Divino
Em qualquer
diálogo teológico, precisamos levar em conta este pressuposto básico: “Ao
Senhor pertence a terra e tudo o que nela se contém, o mundo e os que nele
habitam” (Sl 24.1, ARA). A partir daí, conscientizar-nos-emos de que, neste
mundo, devemos atuar como servos humildes e fiéis a Deus, e não como soberanos
e ditadores; tudo pertence ao Senhor, inclusive você e eu, querido leitor. Eis
a essência do que chamamos de diaconologia.
1.
Etimologia e definição.
A palavra “diaconologia” provém de
dois vocábulos gregos: diáconos: servo ou ministro; e logos: tratado ou discurso
racional. Portanto, a diaconologia é a seção da teologia bíblica que se aplica
ao estudo do serviço consagrado ao Reino de Deus. Tal serviço não compreende
apenas o esforço dos membros do ministério santo; reclama também o concurso de
todos os que foram chamados à vida eterna.
2.
A diaconologia no Antigo Testamento.
No período do Antigo Testamento, a diaconologia divina repousava sobre o
tripé: rei, sacerdote e profeta. Todavia, em momentos de emergência nacional, todo
o povo erguia-se como um só homem (1 Sm 11.7). Nessas ocasiões, não se fazia
distinção entre o clero e o laicato – todos, sem exceção, identificavam-se como
povo de Deus. Mas, com a burocratização do serviço divino, a nação hebreia
fragmentou-se de tal forma, que a união do povo com a classe dirigente
tornou-se impossível.
A maior expressão da
diaconologia vétero-testamentária deu-se na construção do Tabernáculo. Apesar
das agruras do deserto, o povo atendeu prontamente ao apelo de Moisés, trazendo-lhe
não apenas matérias-primas como ouro, prata, madeira e essências aromática,
como também mão de obra especializada. Nesse serviço, os hebreus mostraram-se
de tal forma liberais e generosos, que Moisés foi obrigado a proibi-los de
trazer-lhe mais oferendas (Êx 36.6).
Nunca mais se repetiu, em Israel, tal exemplo de diaconia. Foi um
exemplo único no Antigo Testamento.
3.
A diaconologia no Novo Testamento.
Nos Atos dos Apóstolos, as ações evangelísticas e missionárias não se
limitavam ao colégio apostólico; ilimitavam-se nas intervenções de diáconos
como Estêvão e Filipe e dos crentes anônimos que, aonde iam, espalhavam as
Boas-Novas de Cristo.
O mais perfeito exemplo de
diaconia do Novo Testamento é assim descrito por Lucas:
E
perseveravam na doutrina dos apóstolos e na comunhão, no partir do pão e nas
orações. Em cada alma havia temor; e muitos prodígios e sinais eram feitos por
intermédio dos apóstolos. Todos os que creram estavam juntos e tinham tudo em
comum. Vendiam as suas propriedades e bens, distribuindo o produto entre todos,
à medida que alguém tinha necessidade. Diariamente perseveravam unânimes no
templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e
singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo.
Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor, dia a dia, os que iam sendo salvos.
(At 2.42-47)
Tendo por base o relato lucano,
concluímos que a diaconia da Igreja Primitiva estava longe de ser um ativismo
social. Em primeiro lugar, era essencialmente teológica, uma vez que os crentes
só vieram a doar seus bens depois de se haverem fundamentado na doutrina dos
apóstolos. Em segundo lugar, era litúrgica e orante: acompanhavam-na a
celebração da Santa Ceia e as preces cotidianas. E, finalmente, era marcada por
uma profunda koinonia: todos, possuindo tudo em comum, depositavam o resultado
de suas ofertas e despojamentos aos pés dos apóstolos. Acrescentemos, ainda,
que a diaconia de Atos dos Apóstolos era fortemente soteriológica; redundava na
salvação de almas.
Ao contrário da diaconologia de muitos
ramos da cristandade atual, quer do catolicismo romano, quer do protestantismo
nominal, que resultaram em ações pastorais contrárias às Sagradas Escrituras, a
diaconia da Igreja Primitiva teve como fruto imediato a expansão do Reino de
Deus.
Feitas essas considerações, voltemo-nos
agora ao ministério levítico que, em si, representava formal e essencialmente a
diaconologia do Antigo Testamento.
II.
O Chamado de Levi em Abraão
O autor da
Epístola aos Hebreus, inspirado pelo Espírito Santo, teve um discernimento
excepcional quanto à chamada de Levi ao ministério sagrado. Conforme veremos, o
terceiro filho de Jacó fora chamado a servir como sacerdote antes mesmo de
nascer.
1.
A presença de Levi na celebração de
Melquisedeque.
Segundo vimos no capítulo anterior, o encontro de Abraão com
Melquisedeque, rei de Salém, constituiu-se na maior celebração divina do Antigo
Testamento (Gn 14.18-20).
Nessa ocasião, de acordo com
o autor sagrado, Levi, bisneto de Abraão, ali esteve presente nos lombos de seu
avoengo: “Considerai, pois, como era grande esse a quem Abraão, o patriarca,
pagou o dízimo tirado dos melhores despojos. E, por assim dizer, também Levi,
que recebe dízimos, pagou-os na pessoa de Abraão. Porque aquele ainda não tinha sido gerado por seu pai, quando Melquisedeque saiu ao encontro deste” (Hb 7.4,9,10). Na presciência de Deus, Levi já havia sido escolhido mesmo antes de nascer. Sua diaconologia, como sacerdote transitório dos bens que serviriam de sombra aos eternos, consistiria em servir ao sacerdócio eterno de Melquisedeque, que, naquele momento, representava o Senhor Jesus Cristo.
2. A importância de Levi no Concerto Sagrado. Se lermos o capítulo 14 de Gênesis, à luz de Hebreus 7, concluiremos que, no âmbito da diaconologia do Antigo Testamento, o patriarca Levi foi mais importante do que Isaque, Jacó, Judá e o próprio José. Tais varões, apesar de sua importância na formação e preservação do povo escolhido, jamais tiveram acesso ao sacerdócio litúrgico. Mas, ao acompanharmos a biografia de Levi, ficamos sem entender por que o patriarca, que nem primogênito era de Jacó, alcançaria tanta preeminência no decorrer da História Sagrada.
III. O CARÁTER FORTE E CONSERVADOR DE LEVI
Só viremos a entender a pessoa de Levi, se nos detivermos em sua biografia que, a rigor, nem biografia pode ser considerada. No entanto, o que a narrativa sagrada revela acerca de sua juventude e velhice é suficiente para formarmos uma imagem de seu caráter.
1. O nascimento de Levi. Levi, ao contrário de José, não era filho de Raquel, a esposa sempre querida e predileta de Jacó. Quando de seu nascimento, Lia, sua mãe, ainda ressentida por ter sido preterida em relação à irmã, desabriu toda a sua mágoa: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos” (Gn 29.34). Por isso, deu-lhe um nome que reunia esperança e redenção: Levi, que, em hebraico, significa ligado, unido ou vinculado. Pelos usos e costumes da época, o menino já estava destinado, desde o ventre, a uma vida comum, medíocre e sem ascendência no clã. Afinal, além de não ser o primogênito, era o terceiro filho de uma mulher que, no coração do marido, estava longe do primeiro lugar.
2. O episódio de Diná. O caráter forte, conservador e moralista de Levi aflorou quando do estupro de Diná. Após tramar, juntamente com Simeão, a ruína da família de Siquém, o jovem que abusara de sua irmã, justificou o seu ato com uma alegação que, ainda hoje, reflete os costumes de alguns clãs:
“Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta?” (Gn 34.31). O autor sagrado não deixa claro se tais palavras foram proferidas por Levi. Mas, tendo em conta a história de seus descendentes, entendo que tal discurso é mais apropriado a Levi do que a Simeão. Em termos morais, aliás, Simeão era nada recomendável. Talvez, por isso mesmo, José o manteria preso no Egito, ao receber a primeira visita de seus irmãos (Gn 42.24).
3. O episódio de José. Da história de José, inferimos que Levi estivera tão envolvido na venda do jovem sonhador quanto os outros irmãos. O que ele fez para livrar o caçula? Embora fosse o terceiro filho em responsabilidade moral, agiu, naquele momento, como Caim: “Acaso sou eu o guardador de meu irmão?”. Portanto, se fôssemos analisar a vida de Levi, até aqui, jamais poderíamos referendar-lhe o nome como o chefe da tribo sacerdotal de Israel. Mas Deus, que nos sonda as intenções mais profundas, age doutra forma; usa as coisas que não são, para confundir as que são.
4. A bênção de Levi. Estando já próximo da morte, Jacó reúne seus filhos para abençoá-los e profetizar-lhes o futuro na História Sagrada. Das palavras do velho patriarca ao terceiro filho, logo concluímos que, para Levi, não haveria futuro ou promissão:
Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. (Gn 49.5-7)
Naquele momento, o moribundo Jacó jamais poderia vir a imaginar que o
seu terceiro filho erguer-se-ia, séculos depois, como o sacerdote de toda a sua família. Levi, devido ao seu furor, foi disciplinado. Em Israel, espalhou-se; nenhuma herdade jamais. Todavia, a maldição seria revertida em bênçãos. A sua única herança, agora, era o Deus de Abraão.
IV. LEVI, UMA FAMÍLIA DE NOBRES
Seja-me permitido dizer que Levi, apesar de seu furor juvenil, amadureceu e soube como educar seus filhos. Acredito que, dentre todas as tribos hebreias, a mais piedosa e espiritual era a dos levitas, pois destes o Senhor chamaria o Legislador, o Sumo Sacerdote de Israel. Não nos esqueçamos dos cantores e músicos saídos desse abençoadíssimo clã.
1. Moisés, o legislador dos hebreus. Se estivéssemos à beira da cama do moribundo Jacó, a ouvir-lhe as profecias quanto ao futuro de seus filhos, jamais poderíamos supor que, de Levi, tão censurado quanto Simeão, sairia um Moisés, um Arão, uma Miriã e, mais tarde, um Barnabé, fazedor de missionários. Talvez, ali, ao pé daquele leito terminal, imaginássemos que Moisés viria de Judá, a tribo do cetro; Arão proviria de José, o ramo frutífero; e Miriã seria gerada por Naftali, a tribo das palavras formosas. E quanto a Barnabé? Talvez de Zebulon, uma gente dada ao mar e às viagens ao desconhecido. Mas, surpreendendo a todas as expectativas, Deus suscitou o maior profeta do Antigo Testamento da tribo de Levi, conforme lemos no Êxodo:
Foi-se um homem da casa de Levi e casou com uma descendente de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses. Não podendo, porém, escondêlo por mais tempo, tomou um cesto de junco, calafetou-o com betume e piche e, pondo nele o menino, largou-o no carriçal à beira do rio. (Êx 2.1-3)
Da frágil arcazinha, levada pelas águas do Nilo, o Senhor chama o libertador de seu povo. Essa família levita, por sua coragem e bravura, entra na História Sagrada como heróis da fé (Hb 11.23).
2. Arão, o sumo sacerdote de Israel. Da família de Anrão e Joquebede, o Senhor vocacionaria ainda o sumo sacerdote de Israel (Êx 6.20). Três anos mais velho que Moisés, ajudou-o a organizar Israel como nação santa, sacerdotal e profética. Mais adiante, veremos como se deu a sua vocação ao ministério sacerdotal. Volto a repetir que nem mesmo Levi, em sua mais profunda comunhão com o Senhor, fora capaz de imaginar que, de seus lombos, o Senhor levantaria os mais ilustres personagens do Antigo Testamento.
3. Miriã, a profetisa de Israel. Miriã, irmã de Moisés e Arão, reunia três virtudes à execução de um trabalho extraordinário: profecia, poesia e vocação celibatária (Êx 15.20,21). Ao contrário de seus irmãos, ela não constituiu família, pois a sua família eram Arão e Moisés, mais novos do que ela. E, pelo que inferimos da narrativa sagrada, ela esteve ao lado de ambos até que Deus a tomou para si. Apesar do lamentável episódio de Números 12, Miriã entrou para a História Sagrada como um exemplo de coragem, audácia e sabedoria. Deus usou-a para salvar o infante Moisés das garras de Faraó. Em seus lábios, havia um cântico de vitória; era uma mulher de Jeová. O que mais diremos dos descendentes de Levi? Hoje, não são poucos os judeus que trazem, no nome, tão ilustre ascendência. E, no período do Milênio, conforme vimos no capítulo anterior, voltarão eles a exercer novamente o seu ofício. Dessa feita, porém, em caráter memorial, recordando a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
V. LEVITAS, OS PRIMOGÊNITOS DE DEUS
De acordo com o princípio pascal, todos os primogênitos israelitas teriam de ser apresentados a Deus como as primícias da nação (Êx 13.2). Ao Senhor, entretanto, aprouve substituí-los pela tribo de Levi. Vejamos por que Deus assim agiu.
1. A formação espiritual da tribo de Levi. Se lermos com atenção o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, constataremos que, após os 400 anos de cativeiro no Egito, a única família mencionada, como exemplo de fé e coragem, foi a de Anrão e Joquebede, da tribo de Levi (Hb 11.23). Isso levanos a inferir que os levitas, instruídos por seu patriarca, conservaram-se fiéis aos princípios da fé abraâmica. Nem mesmo a tribo de Judá, que receberia o cetro e o trono de Israel, alcançara tamanha excelência espiritual. Tendo em vista a urgência do estabelecimento de seu Reino, por meio de Israel, o Senhor houve por bem santificar a tribo de Levi, colocando-a em lugar dos primogênitos de todas as tribos: “Eis que tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus” (Nm 3.12). A partir desse momento, Levi, embora fosse o terceiro filho de Jacó com Lia, a mulher menosprezada, passou a figurar como o primogênito espiritual do Senhor Deus. Quanto a Judá, o quarto filho do patriarca com a mesma esposa, seria galardoado com a primazia messiânica. A desprezada Lia, sem o saber, seria honrada eternamente em dois de seus filhos.
2. O comprometimento da tribo de Levi com a obra de Deus. Tenho para mim que o episódio do bezerro de ouro foi mais do que decisivo para o Senhor chancelar, de vez, a escolha de Levi para exercer o sacerdócio. Enquanto os hebreus todos embeveciam-se com a imagem concupiscente e lasciva, os levitas permaneciam fiéis ao Deus Único e Verdadeiro. E, conclamados a lutar pela santidade do Senhor, não se ausentaram; fizeram-se
presentes, conforme o relato sagrado:
Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens. (Êx 32.25-28, ARA)
Desse episódio, aprendemos que o compromisso com a santidade divina é imprescindível ao ministério sagrado. Tanto ontem quanto hoje, o Senhor continua a requerer homens fiéis e comprometidos com a sua obra, a fim de levarem o Reino dos Céus até aos confins da Terra.
3. A logística ministerial. Além do compromisso espiritual de Levi, levou Deus em conta, também, a logística do ofício sagrado. Já imaginou formar um ministério a partir dos primogênitos de cada tribo? O futuro rei de Israel, para evitar ciúmes e queixas, teria de fazer rodízios contínuos, a fim de agradar razoavelmente a todos. Mas, na prática, ninguém ficaria satisfeito. E, com o tempo, a função, que deveria ser ungida e santa, transformar-se-ia num cadinho de vaidades e orgulhos incandescentes. Ao escolher Levi, como a tribo sacerdotal, o Senhor não precisou formar uma equipe específica, porque esta já estava devidamente formada. Por acaso não agiu o Senhor Jesus de igual modo ao estabelecer o colégio apostólico? O núcleo de seu grupo foi constituído a partir dos irmãos pescadores da Galileia. Seu ministério, a partir daí, fluiu até a fundação da Igreja, no Pentecostes.
VI. DIREITOS E DEVERES DOS LEVITAS
Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.
1. Viver do altar. Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, do altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção eram o Senhor (Nm 18.20). Moisés, então, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio ao homicida involuntário (Nm 35.6).
2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3).
3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de constituirse num modelo espiritual, moral e ético a Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se uma péssima referência aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1 Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor. Ele continua a reivindicar santidade de todo o seu povo, principalmente de nós, obreiros.
VII. A ESCOLHA DE ARÃO COMO SUMO SACERDOTE
O sumo sacerdote de Israel teria de ser, obrigatoriamente, descendente de Arão, aspergido com sangue, vitalício e servo de Deus.
1. Descendente de Arão. O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). Por essa razão, o Senhor exigia que ele proviesse de uma tribo específica, a de Levi, e de uma família ainda mais específica, a casa de Arão (Êx 6.16-23). Assim, duplamente separado, teria condições de apresentar-se como a maior autoridade espiritual da nação; era o símbolo da plenitude espiritual requerida pelo Deus de Israel (Sl 133.1). Constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, o sumo sacerdote oferecia dons e sacrifícios pelos pecados do povo (Hb 5.1). Portanto, ele fazia a intermediação entre Israel e o santíssimo Deus. Era sua responsabilidade, ainda, instruir o povo na Lei divina (Lv 10.10,11).
2. Ungido para o ofício. O Senhor determinou que o sumo-sacerdote fosse ungido, a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). Assim teria condições de tornar a nação israelita propícia diante do Santíssimo Deus (Hb 5.1).
3. Aspergido com sangue. Ao consagrar Arão e seus filhos ao ofício sagrado, Moisés tomou do sangue do carneiro da consagração e lho pôs sobre o polegar da mão direita, o dedão do pé direito, e a ponta da orelha direita (Lv 8.22-24). O sangue fala de redenção e de purificação. O seu significado para, hoje, é claro: que ninguém ministre no altar do Senhor, se ainda não foi remido pelo sangue de Cristo. O sangue na mão direita fala de destreza para a execução dos deveres sacerdotais, além de atos santos e justos. Sobre o pé direito, demanda que o ministro ande na vereda da justiça e só trilhe caminhos retos. E, sobre a orelha direita, que seja capaz de ouvir o Espírito Santo e atender, prontamente, às ordens do Senhor.
4. Vitaliciedade no cargo. A vitaliciedade do sumo sacerdócio está patente
na história da família de Arão. Antes de este morrer, Moisés o desvestiu das roupas litúrgicas, para vesti-las em Eleazar, seu filho (Nm 20.23-29). Mais tarde, o mesmo Eleazar faria o mesmo em relação ao seu filho, Finéias (Js 24.33; Jz 20.28). Todavia, no tempo do Novo Testamento, a vitaliciedade já não era observada (Jo 11.49-51). Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2).
5. Servo de Deus. Apesar da importância do cargo, o sumo sacerdote não era considerado infalível, nem estava acima da Lei de Deus (At 23.1). Sua obrigação era servir o altar e conservar-se puro, a fim de que o nome do Senhor fosse exaltado tanto entre os israelitas quanto entre os gentios (Êx 28.43). O capítulo três de Zacarias detém-se na dignidade do sumo sacerdote constituído sobre Israel.
VIII. A EXCLUSIVIDADE DO SUMO SACERDÓCIO HEBREU
Na História Sagrada do Antigo
Testamento, os bons reis, como Davi, Salomão, Ezequias e Josias, muito auxiliaram o sumo sacerdote a cumprir seus deveres. Eles sabiam que, se a Casa de Arão fracassasse, todo o Israel fracassaria com ela. Vejamos, pois, a participação de cada um desses monarcas no ofício araônico.
1. Davi, o rei sacerdote. Devido ao caráter de seu chamamento, Davi pode ser considerado o primeiro rei-sacerdote de Israel. Nalgumas ocasiões, ele fazia questão de vestir-se sacerdotalmente, a fim de emprestar maior solenidade às celebrações de Jeová (2 Sm 6.14). Como se não bastasse tamanho zelo, o filho de Jessé estabeleceu turnos de cantores e músicos na Casa de Deus (1 Cr 15.16). Embora admirasse o ofício sacerdotal, Davi jamais transpôs seus limites como rei, a fim de apropriar-se das honras devidas somente aos filhos de Levi e, mui reservadamente, aos descendentes de Arão. E, como profeta e excelente
teólogo que era, ele sabia que, acima do ofício araônico, achava-se o sacerdócio messiânico de Melquisedeque (Sl 110.4). Ele também sabia que semelhante ofício seria exercido por um de seus descendentes, Jesus Cristo, Senhor nosso.
2. Salomão, o rei do Templo Sagrado. O ministério levítico alcançou o seu auge com a inauguração do Santo Templo, por Salomão, filho de Davi (1 Rs 8). Não somente pela suntuosidade do edifício, mas notadamente pela manifestação da glória divina, o Santuário de Jerusalém legou aos filhos de Levi uma honra que, doutro modo, jamais viriam a desfrutar. De acordo com a profecia, eles só voltarão a participar de semelhante honraria quando da inauguração do Templo do Milênio. Para maiores informações, leia os últimos nove capítulos de Ezequiel.
3. Ezequias e Josias. Estes foram os dois últimos bons reis de Judá. Cada um, a seu tempo, empreendeu grandes reformas estruturais e espirituais no Santo Templo, objetivando o sustento do ministério levítico. Mas, com o desaparecimento de ambos os monarcas, o sacerdócio sagrado pôs-se a degenerar a tal ponto, que levou Jeremias a protestar duramente contra a Casa de Levi (Jr 5.31). Os levitas, por não guardarem o seu ministério, também foram censurados por Malaquias. O importante, em toda essa história, é que o patriarca da família, apesar de seus arroubos juvenis, foi recolhido em paz ao seu povo. E, na Jerusalém Celeste, terá o seu nome honradamente destacado (Ap 21.12).
CONCLUSÃO
O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal – recebemos a incumbência de proclamar o
Evangelho e interceder pelos que perecem (1 Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, por meio de nossa vida, venha o Reino do Céus à Terra.
2. A importância de Levi no Concerto Sagrado. Se lermos o capítulo 14 de Gênesis, à luz de Hebreus 7, concluiremos que, no âmbito da diaconologia do Antigo Testamento, o patriarca Levi foi mais importante do que Isaque, Jacó, Judá e o próprio José. Tais varões, apesar de sua importância na formação e preservação do povo escolhido, jamais tiveram acesso ao sacerdócio litúrgico. Mas, ao acompanharmos a biografia de Levi, ficamos sem entender por que o patriarca, que nem primogênito era de Jacó, alcançaria tanta preeminência no decorrer da História Sagrada.
III. O CARÁTER FORTE E CONSERVADOR DE LEVI
Só viremos a entender a pessoa de Levi, se nos detivermos em sua biografia que, a rigor, nem biografia pode ser considerada. No entanto, o que a narrativa sagrada revela acerca de sua juventude e velhice é suficiente para formarmos uma imagem de seu caráter.
1. O nascimento de Levi. Levi, ao contrário de José, não era filho de Raquel, a esposa sempre querida e predileta de Jacó. Quando de seu nascimento, Lia, sua mãe, ainda ressentida por ter sido preterida em relação à irmã, desabriu toda a sua mágoa: “Agora, desta vez, se unirá mais a mim meu marido, porque lhe dei à luz três filhos” (Gn 29.34). Por isso, deu-lhe um nome que reunia esperança e redenção: Levi, que, em hebraico, significa ligado, unido ou vinculado. Pelos usos e costumes da época, o menino já estava destinado, desde o ventre, a uma vida comum, medíocre e sem ascendência no clã. Afinal, além de não ser o primogênito, era o terceiro filho de uma mulher que, no coração do marido, estava longe do primeiro lugar.
2. O episódio de Diná. O caráter forte, conservador e moralista de Levi aflorou quando do estupro de Diná. Após tramar, juntamente com Simeão, a ruína da família de Siquém, o jovem que abusara de sua irmã, justificou o seu ato com uma alegação que, ainda hoje, reflete os costumes de alguns clãs:
“Abusaria ele de nossa irmã, como se fosse prostituta?” (Gn 34.31). O autor sagrado não deixa claro se tais palavras foram proferidas por Levi. Mas, tendo em conta a história de seus descendentes, entendo que tal discurso é mais apropriado a Levi do que a Simeão. Em termos morais, aliás, Simeão era nada recomendável. Talvez, por isso mesmo, José o manteria preso no Egito, ao receber a primeira visita de seus irmãos (Gn 42.24).
3. O episódio de José. Da história de José, inferimos que Levi estivera tão envolvido na venda do jovem sonhador quanto os outros irmãos. O que ele fez para livrar o caçula? Embora fosse o terceiro filho em responsabilidade moral, agiu, naquele momento, como Caim: “Acaso sou eu o guardador de meu irmão?”. Portanto, se fôssemos analisar a vida de Levi, até aqui, jamais poderíamos referendar-lhe o nome como o chefe da tribo sacerdotal de Israel. Mas Deus, que nos sonda as intenções mais profundas, age doutra forma; usa as coisas que não são, para confundir as que são.
4. A bênção de Levi. Estando já próximo da morte, Jacó reúne seus filhos para abençoá-los e profetizar-lhes o futuro na História Sagrada. Das palavras do velho patriarca ao terceiro filho, logo concluímos que, para Levi, não haveria futuro ou promissão:
Simeão e Levi são irmãos; as suas espadas são instrumentos de violência. No seu conselho, não entre minha alma; com o seu agrupamento, minha glória não se ajunte; porque no seu furor mataram homens, e na sua vontade perversa jarretaram touros. Maldito seja o seu furor, pois era forte, e a sua ira, pois era dura; dividi-los-ei em Jacó e os espalharei em Israel. (Gn 49.5-7)
Naquele momento, o moribundo Jacó jamais poderia vir a imaginar que o
seu terceiro filho erguer-se-ia, séculos depois, como o sacerdote de toda a sua família. Levi, devido ao seu furor, foi disciplinado. Em Israel, espalhou-se; nenhuma herdade jamais. Todavia, a maldição seria revertida em bênçãos. A sua única herança, agora, era o Deus de Abraão.
IV. LEVI, UMA FAMÍLIA DE NOBRES
Seja-me permitido dizer que Levi, apesar de seu furor juvenil, amadureceu e soube como educar seus filhos. Acredito que, dentre todas as tribos hebreias, a mais piedosa e espiritual era a dos levitas, pois destes o Senhor chamaria o Legislador, o Sumo Sacerdote de Israel. Não nos esqueçamos dos cantores e músicos saídos desse abençoadíssimo clã.
1. Moisés, o legislador dos hebreus. Se estivéssemos à beira da cama do moribundo Jacó, a ouvir-lhe as profecias quanto ao futuro de seus filhos, jamais poderíamos supor que, de Levi, tão censurado quanto Simeão, sairia um Moisés, um Arão, uma Miriã e, mais tarde, um Barnabé, fazedor de missionários. Talvez, ali, ao pé daquele leito terminal, imaginássemos que Moisés viria de Judá, a tribo do cetro; Arão proviria de José, o ramo frutífero; e Miriã seria gerada por Naftali, a tribo das palavras formosas. E quanto a Barnabé? Talvez de Zebulon, uma gente dada ao mar e às viagens ao desconhecido. Mas, surpreendendo a todas as expectativas, Deus suscitou o maior profeta do Antigo Testamento da tribo de Levi, conforme lemos no Êxodo:
Foi-se um homem da casa de Levi e casou com uma descendente de Levi. E a mulher concebeu e deu à luz um filho; e, vendo que era formoso, escondeu-o por três meses. Não podendo, porém, escondêlo por mais tempo, tomou um cesto de junco, calafetou-o com betume e piche e, pondo nele o menino, largou-o no carriçal à beira do rio. (Êx 2.1-3)
Da frágil arcazinha, levada pelas águas do Nilo, o Senhor chama o libertador de seu povo. Essa família levita, por sua coragem e bravura, entra na História Sagrada como heróis da fé (Hb 11.23).
2. Arão, o sumo sacerdote de Israel. Da família de Anrão e Joquebede, o Senhor vocacionaria ainda o sumo sacerdote de Israel (Êx 6.20). Três anos mais velho que Moisés, ajudou-o a organizar Israel como nação santa, sacerdotal e profética. Mais adiante, veremos como se deu a sua vocação ao ministério sacerdotal. Volto a repetir que nem mesmo Levi, em sua mais profunda comunhão com o Senhor, fora capaz de imaginar que, de seus lombos, o Senhor levantaria os mais ilustres personagens do Antigo Testamento.
3. Miriã, a profetisa de Israel. Miriã, irmã de Moisés e Arão, reunia três virtudes à execução de um trabalho extraordinário: profecia, poesia e vocação celibatária (Êx 15.20,21). Ao contrário de seus irmãos, ela não constituiu família, pois a sua família eram Arão e Moisés, mais novos do que ela. E, pelo que inferimos da narrativa sagrada, ela esteve ao lado de ambos até que Deus a tomou para si. Apesar do lamentável episódio de Números 12, Miriã entrou para a História Sagrada como um exemplo de coragem, audácia e sabedoria. Deus usou-a para salvar o infante Moisés das garras de Faraó. Em seus lábios, havia um cântico de vitória; era uma mulher de Jeová. O que mais diremos dos descendentes de Levi? Hoje, não são poucos os judeus que trazem, no nome, tão ilustre ascendência. E, no período do Milênio, conforme vimos no capítulo anterior, voltarão eles a exercer novamente o seu ofício. Dessa feita, porém, em caráter memorial, recordando a morte e ressurreição de Jesus Cristo.
V. LEVITAS, OS PRIMOGÊNITOS DE DEUS
De acordo com o princípio pascal, todos os primogênitos israelitas teriam de ser apresentados a Deus como as primícias da nação (Êx 13.2). Ao Senhor, entretanto, aprouve substituí-los pela tribo de Levi. Vejamos por que Deus assim agiu.
1. A formação espiritual da tribo de Levi. Se lermos com atenção o capítulo 11 da Epístola aos Hebreus, constataremos que, após os 400 anos de cativeiro no Egito, a única família mencionada, como exemplo de fé e coragem, foi a de Anrão e Joquebede, da tribo de Levi (Hb 11.23). Isso levanos a inferir que os levitas, instruídos por seu patriarca, conservaram-se fiéis aos princípios da fé abraâmica. Nem mesmo a tribo de Judá, que receberia o cetro e o trono de Israel, alcançara tamanha excelência espiritual. Tendo em vista a urgência do estabelecimento de seu Reino, por meio de Israel, o Senhor houve por bem santificar a tribo de Levi, colocando-a em lugar dos primogênitos de todas as tribos: “Eis que tenho eu tomado os levitas do meio dos filhos de Israel, em lugar de todo primogênito que abre a madre, entre os filhos de Israel; e os levitas serão meus” (Nm 3.12). A partir desse momento, Levi, embora fosse o terceiro filho de Jacó com Lia, a mulher menosprezada, passou a figurar como o primogênito espiritual do Senhor Deus. Quanto a Judá, o quarto filho do patriarca com a mesma esposa, seria galardoado com a primazia messiânica. A desprezada Lia, sem o saber, seria honrada eternamente em dois de seus filhos.
2. O comprometimento da tribo de Levi com a obra de Deus. Tenho para mim que o episódio do bezerro de ouro foi mais do que decisivo para o Senhor chancelar, de vez, a escolha de Levi para exercer o sacerdócio. Enquanto os hebreus todos embeveciam-se com a imagem concupiscente e lasciva, os levitas permaneciam fiéis ao Deus Único e Verdadeiro. E, conclamados a lutar pela santidade do Senhor, não se ausentaram; fizeram-se
presentes, conforme o relato sagrado:
Vendo Moisés que o povo estava desenfreado, pois Arão o deixara à solta para vergonha no meio dos seus inimigos, pôs-se em pé à entrada do arraial e disse: Quem é do Senhor venha até mim. Então, se ajuntaram a ele todos os filhos de Levi, aos quais disse: Assim diz o Senhor, o Deus de Israel: Cada um cinja a espada sobre o lado, passai e tornai a passar pelo arraial de porta em porta, e mate cada um a seu irmão, cada um, a seu amigo, e cada um, a seu vizinho. E fizeram os filhos de Levi segundo a palavra de Moisés; e caíram do povo, naquele dia, uns três mil homens. (Êx 32.25-28, ARA)
Desse episódio, aprendemos que o compromisso com a santidade divina é imprescindível ao ministério sagrado. Tanto ontem quanto hoje, o Senhor continua a requerer homens fiéis e comprometidos com a sua obra, a fim de levarem o Reino dos Céus até aos confins da Terra.
3. A logística ministerial. Além do compromisso espiritual de Levi, levou Deus em conta, também, a logística do ofício sagrado. Já imaginou formar um ministério a partir dos primogênitos de cada tribo? O futuro rei de Israel, para evitar ciúmes e queixas, teria de fazer rodízios contínuos, a fim de agradar razoavelmente a todos. Mas, na prática, ninguém ficaria satisfeito. E, com o tempo, a função, que deveria ser ungida e santa, transformar-se-ia num cadinho de vaidades e orgulhos incandescentes. Ao escolher Levi, como a tribo sacerdotal, o Senhor não precisou formar uma equipe específica, porque esta já estava devidamente formada. Por acaso não agiu o Senhor Jesus de igual modo ao estabelecer o colégio apostólico? O núcleo de seu grupo foi constituído a partir dos irmãos pescadores da Galileia. Seu ministério, a partir daí, fluiu até a fundação da Igreja, no Pentecostes.
VI. DIREITOS E DEVERES DOS LEVITAS
Os descendentes de Levi, principalmente os da casa de Arão, deveriam observar estes direitos e deveres: viver do altar, santificar-se ao Senhor e ser uma referência moral, ética e espiritual.
1. Viver do altar. Já que os sacerdotes dedicavam-se ao ministério do altar, do altar deveriam viver (Lv 7.35). Portanto, não tinham eles direito a qualquer herança territorial entre os seus irmãos, porque a sua herança e porção eram o Senhor (Nm 18.20). Moisés, então, divinamente instruído, destinou-lhes cidades estratégicas por todo o Israel (Nm 35.8). Algumas delas serviam também como refúgio ao homicida involuntário (Nm 35.6).
2. Santificar-se ao Senhor. Em virtude de seu ofício, os sacerdotes deveriam erguer-se, em Israel, como referência de santidade e pureza. O sumo sacerdote, por exemplo, tinha de ostentar uma faixa de ouro, em sua mitra, na qual estava escrito: “Santidade ao SENHOR” (Êx 28.36). Caso o sacerdote profanasse o seu ofício, seria punido com todo o rigor (Lv 10.1-3).
3. Tornar-se uma referência espiritual e moral. Os sacerdotes, por serem responsáveis pela aplicação da Lei de Deus, tinham a obrigação de constituirse num modelo espiritual, moral e ético a Israel (Ml 2.1-10). Os filhos de Eli, em consequência de seu proceder, tornaram-se uma péssima referência aos israelitas. E, por causa disso, Deus os matou (1 Sm 2.25). Andemos, pois, em santidade e pureza diante do Senhor. Ele continua a reivindicar santidade de todo o seu povo, principalmente de nós, obreiros.
VII. A ESCOLHA DE ARÃO COMO SUMO SACERDOTE
O sumo sacerdote de Israel teria de ser, obrigatoriamente, descendente de Arão, aspergido com sangue, vitalício e servo de Deus.
1. Descendente de Arão. O sumo sacerdote era o principal representante do culto divino no Antigo Testamento (Êx 28.1). Por essa razão, o Senhor exigia que ele proviesse de uma tribo específica, a de Levi, e de uma família ainda mais específica, a casa de Arão (Êx 6.16-23). Assim, duplamente separado, teria condições de apresentar-se como a maior autoridade espiritual da nação; era o símbolo da plenitude espiritual requerida pelo Deus de Israel (Sl 133.1). Constituído a favor dos homens nas coisas concernentes a Deus, o sumo sacerdote oferecia dons e sacrifícios pelos pecados do povo (Hb 5.1). Portanto, ele fazia a intermediação entre Israel e o santíssimo Deus. Era sua responsabilidade, ainda, instruir o povo na Lei divina (Lv 10.10,11).
2. Ungido para o ofício. O Senhor determinou que o sumo-sacerdote fosse ungido, a fim de dignificá-lo como ministro extraordinário do culto divino (Êx 28.41; 29.1-7). Assim teria condições de tornar a nação israelita propícia diante do Santíssimo Deus (Hb 5.1).
3. Aspergido com sangue. Ao consagrar Arão e seus filhos ao ofício sagrado, Moisés tomou do sangue do carneiro da consagração e lho pôs sobre o polegar da mão direita, o dedão do pé direito, e a ponta da orelha direita (Lv 8.22-24). O sangue fala de redenção e de purificação. O seu significado para, hoje, é claro: que ninguém ministre no altar do Senhor, se ainda não foi remido pelo sangue de Cristo. O sangue na mão direita fala de destreza para a execução dos deveres sacerdotais, além de atos santos e justos. Sobre o pé direito, demanda que o ministro ande na vereda da justiça e só trilhe caminhos retos. E, sobre a orelha direita, que seja capaz de ouvir o Espírito Santo e atender, prontamente, às ordens do Senhor.
4. Vitaliciedade no cargo. A vitaliciedade do sumo sacerdócio está patente
na história da família de Arão. Antes de este morrer, Moisés o desvestiu das roupas litúrgicas, para vesti-las em Eleazar, seu filho (Nm 20.23-29). Mais tarde, o mesmo Eleazar faria o mesmo em relação ao seu filho, Finéias (Js 24.33; Jz 20.28). Todavia, no tempo do Novo Testamento, a vitaliciedade já não era observada (Jo 11.49-51). Ao que tudo indica, havia um rodízio entre os principais membros da família de Arão (Lc 3.2).
5. Servo de Deus. Apesar da importância do cargo, o sumo sacerdote não era considerado infalível, nem estava acima da Lei de Deus (At 23.1). Sua obrigação era servir o altar e conservar-se puro, a fim de que o nome do Senhor fosse exaltado tanto entre os israelitas quanto entre os gentios (Êx 28.43). O capítulo três de Zacarias detém-se na dignidade do sumo sacerdote constituído sobre Israel.
VIII. A EXCLUSIVIDADE DO SUMO SACERDÓCIO HEBREU
Na História Sagrada do Antigo
Testamento, os bons reis, como Davi, Salomão, Ezequias e Josias, muito auxiliaram o sumo sacerdote a cumprir seus deveres. Eles sabiam que, se a Casa de Arão fracassasse, todo o Israel fracassaria com ela. Vejamos, pois, a participação de cada um desses monarcas no ofício araônico.
1. Davi, o rei sacerdote. Devido ao caráter de seu chamamento, Davi pode ser considerado o primeiro rei-sacerdote de Israel. Nalgumas ocasiões, ele fazia questão de vestir-se sacerdotalmente, a fim de emprestar maior solenidade às celebrações de Jeová (2 Sm 6.14). Como se não bastasse tamanho zelo, o filho de Jessé estabeleceu turnos de cantores e músicos na Casa de Deus (1 Cr 15.16). Embora admirasse o ofício sacerdotal, Davi jamais transpôs seus limites como rei, a fim de apropriar-se das honras devidas somente aos filhos de Levi e, mui reservadamente, aos descendentes de Arão. E, como profeta e excelente
teólogo que era, ele sabia que, acima do ofício araônico, achava-se o sacerdócio messiânico de Melquisedeque (Sl 110.4). Ele também sabia que semelhante ofício seria exercido por um de seus descendentes, Jesus Cristo, Senhor nosso.
2. Salomão, o rei do Templo Sagrado. O ministério levítico alcançou o seu auge com a inauguração do Santo Templo, por Salomão, filho de Davi (1 Rs 8). Não somente pela suntuosidade do edifício, mas notadamente pela manifestação da glória divina, o Santuário de Jerusalém legou aos filhos de Levi uma honra que, doutro modo, jamais viriam a desfrutar. De acordo com a profecia, eles só voltarão a participar de semelhante honraria quando da inauguração do Templo do Milênio. Para maiores informações, leia os últimos nove capítulos de Ezequiel.
3. Ezequias e Josias. Estes foram os dois últimos bons reis de Judá. Cada um, a seu tempo, empreendeu grandes reformas estruturais e espirituais no Santo Templo, objetivando o sustento do ministério levítico. Mas, com o desaparecimento de ambos os monarcas, o sacerdócio sagrado pôs-se a degenerar a tal ponto, que levou Jeremias a protestar duramente contra a Casa de Levi (Jr 5.31). Os levitas, por não guardarem o seu ministério, também foram censurados por Malaquias. O importante, em toda essa história, é que o patriarca da família, apesar de seus arroubos juvenis, foi recolhido em paz ao seu povo. E, na Jerusalém Celeste, terá o seu nome honradamente destacado (Ap 21.12).
CONCLUSÃO
O sacerdócio levítico era glorioso; seus membros eram considerados príncipes de Deus (Zc 3.8). Todavia, o Senhor Jesus Cristo é superior ao sacerdócio levítico, pois é eterno (Sl 110.4). Quanto a nós, somos uma nação santa, profética e sacerdotal – recebemos a incumbência de proclamar o
Evangelho e interceder pelos que perecem (1 Pe 2.9). Portanto, sirvamos ao Senhor com todo o nosso ser, para que, por meio de nossa vida, venha o Reino do Céus à Terra.
ADORAÇÃO, SANTIDADE E SERVIÇO
CLAUDIONOR DE ANDRADE
OS
MINISTROS DO CULTO LEVÍTICO
Na verdade,
o sacerdócio do Antigo Testamento clamava por algo melhor; e, no propósito
eterno de Deus, o sacerdócio melhor estava por vir.
Somos
eternamente gratos que “possuímos tal sumo sacerdote, que se assentou à destra
do trono da Majestade nos céus, como ministro do santuário e do verdadeiro
tabernáculo que o Senhor erigiu, não o homem” (Hebreus 8:1-2).
TEXTO
BÍBLICO
(Levítico
8.1-13).
1 – Falou mais o SENHOR a Moisés,
dizendo:
2 – Toma a Arão, e a seus filhos
com ele, e as vestes, e o azeite da unção, como também o novilho da expiação do
pecado, e os dois carneiros, e o cesto dos pães asmos
3 – e ajunta toda a congregação ŕ
porta da tenda da congregação.
4 – Fez, pois, Moisés como o SENHOR
lhe ordenara, e a congregação ajuntou-se à porta da tenda da congregação.
5 – Então, disse Moisés à
congregação: Isto é o que o SENHOR ordenou que se fizesse.
6 – E Moisés fez chegar a Arão e a
seus filhos, e os lavou com água,
7 – e lhe vestiu a túnica, e
cingiu-o com o cinto, e pôs sobre ele o manto; também pôs sobre ele o éfode, e
cingiu-o com o cinto lavrado do éfode, e o apertou com ele.
8 – Depois, pôs-lhe o peitoral,
pondo no peitoral o Urim e o Tumim;
9 – e pôs a mitra sobre a sua
cabeça e na mitra, diante do seu rosto, pôs a lâmina de ouro, a coroa da
santidade, como o SENHOR ordenara a Moisés.
10 – Então, Moisés tomou o azeite da
unção, e ungiu o tabernáculo e tudo o que havia nele, e o santificou;
11 – e dele espargiu sete vezes
sobre o altar e ungiu o altar e todos os seus vasos, como também a pia e a sua
base, para santificá-los.
12 – Depois, derramou do azeite da
unção sobre a cabeça de Arão e ungiu-o, para santificá-lo.
13 – Também Moisés fez chegar os
filhos de Arão, e vestiu-lhes as túnicas, e cingiu-os com o cinto, e
apertou-lhes as tiaras, como o SENHOR ordenara a Moisés.
CONTEXTO
LEVÍTICO
Os hebreus
haviam deixado o Egito e era preciso que a adoração fosse institucionalizada e
diferente do que tinham visto e aprendido durante os anos de escravidão.
Veremos que
Deus escolheu e separou uma única tribo, a de Levi, para a adoração e o serviço
no Tabernáculo. Ser escolhido para tal função era um privilégio, uma honra, mas
também uma grande responsabilidade e abnegação já que os descendentes de Levi
não teriam herança como às demais tribos.
O Senhor
seria a herança deles e o sustento viria das outras tribos. Era preciso ter fé
e viver dela. Deus determinou que os sacerdotes deveriam ser descendente de
Arão. Também era exigido que as mulheres dos sacerdotes fossem israelitas de
sangue puro.
Mesmo depois
da vinda de Jesus, para atuar como sacerdote, era preciso comprovar por meio de
registros genealógicos a descendência de Arão. Mas, graças ao sacrifico de
Jesus Cristo na nova aliança, cada crente é um sacerdote santo, chamado para
oferecer sacrifícios espirituais (1 Pe 2.5).
OS LEVITAS
Levi, um dos
doze filhos de Jacó, tinha três filhos: Gérson, Coate e Merari (Gn 46.8,11).
Quando a família aumentou durante a estada no Egito, a família de Levi passou a
ser uma tribo e as famílias dos três filhos se tornaram divisões tribais. Arão,
Miriã e Moisés nasceram na divisão coatita da tribo (Êx 2.4; 6.16-20; 15.20).
Quando os
judeus adoraram o bezerro de ouro no sopé do Monte Sinai, foram os levitas que
se uniram a Moisés contra a idolatria e na consagração a Deus. Ao tomarem essa
atitude, eles destruíram muito dos idólatras.
Sua
consagração resultou em se envolverem na construção do Tabernáculo (Êx 28.1-30)
e em cuidar dele. Quando o Tabernáculo foi removido, os coatitas levaram a
mobília, os gersonitas , as cortinas e seus pertences, e os meratitas
transportaram e instalaram o Tabernáculo propriamente dito (Nm 3.35-37;
4.29-33).
Segundo
Números 3.40-51, os levitas agiram como substitutos dos primogênitos de toda
casa judia. Em vista de Deus ter poupado a vida dos primogênitos judeus por
ocasião da primeira Páscoa (Êx 11.5; 12.12,13), o primogênito pertencia
tecnicamente ao Senhor, mas os levitas deviam atuar no serviço de Deus em lugar
deles.
Por serem
separados para o serviço de Deus, não se esperava que fossem à guerra (Nm 1.3;
cf. v. 49) ou plantassem seus próprios alimentos numa área tribal. Eles deviam
espalhar-se por toda a Terra Prometida e viver entre o povo (Nm 35.1-8) e
deviam ser sustentados com os dízimos do povo (Nm 18.21) (GOWER, Ralph. Novo
Manual dos Usos & Costumes dos Tempos Bíblicos. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, pp. 325, 326).
Os levitas
eram descendentes de Levi, o escolhido por Deus no deserto durante a época de
Moisés, encarregados de deveres específicos em relação ao Tabernáculo, embora
proibidos de ministrar diante do santuário sagrado, eles afirmavam ser servos
especiais de Deus em assuntos da religião.
Deviam
ensinar o livro da Torá ao povo e ajudar os sacerdotes em todos os assuntos
ligados à adoração no santuário.
A eles não
seria reservada qualquer herança na nova terra quando Josué fez a divisão
oficial do território, pois Deus seria a sua herança. Quarenta e oito cidades e
vilas foram separadas com os lugares onde deveriam viver.
Os três
filhos de Levi — Gersón, Coate e Merari — foram relacionados como aqueles por
quem fluiram as bênçãos divinas. Nos primeiros anos da vida nacional, essas
famílias receberam a função de cuidar do Tabernáculo e transportá-lo.
Quando Arão
e seus familiares foram escolhidos como sacerdotes, foi necessário escolher um
grupo de pessoas para ajudá-los e toda a tribo se julgou diferenciada por ser
um grupo sagrado designado para executar deveres relacionados com os ritos e as
funções sacerdotais.
Os levitas
recebiam uma posição apropriada no acampamento quando a nação viajava pelo
deserto. Como estavam localizados em volta do Tabernáculo, eram considerados
protetores em quem se podia confiar, e que dariam a própria vida para proteger
a sagrada casa de Deus. […] Os levitas estavam localizados entre os sacerdotes
e o povo.
A maior
parte de seu trabalho era pesada e servil. Não podiam entrar para ver o altar
santo, nem tocar no santuário senão morreriam (Nm 4.15). Eram servos dos
sacerdotes, e passavam a vida executando tarefas comuns que tornavam possível a
realização dos serviços sagrados (Dicionário Bíblico Wycliffe. 7.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2010, pp. 1148,1149)
O SUMO
SACERDOTE
Dentro da
divisão dos coatitas, a família de Arão passou a ser de sacerdotes. De um lado
isso os tornou encarregados dos levitas. Itamar supervisionava os gersonitas
(Nm 4.28) e os meraritas (v. 33); Eleazar cuidava dos coatitas (v. 16).
Por outro
lado os sacerdotes eram distintos dos levitas, porque só eles podiam tocar nas
coisas santas — tudo que tivesse a ver com o altar, a lâmpada, ou a mesa da
proposição (Nm 5.5-15).
O sacerdote
nem sempre era quem fazia o sacrifício, mas era ele quem levava o sangue para o
altar (por exemplo, Lv 3.2). O próprio Arão veio a ser sumo sacerdote (às vezes
chamado de principal sacerdote).
Ele usava
roupas especiais (Lv 16.2), interpretava o lançamento das sortes sagradas que
eram mantidas em seu peitoral. Arão tinha quatro filhos. Nadabe, Abiú, Eleazar
e Itamar. Nadabe e Abiú morreram por terem cometido sacrilégio em seus deveres
religiosos como sacerdotes e o sumo sacerdócio passou então para Eleazar e foi
mantido em sua família (Nm 20.25-29). Eli era um sacerdote da família de
Eleazar.
O sumo
sacerdócio parece ter passado depois para a família de Itamar. Foi Salomão quem
fez retornar a linguagem de volta à família de Eleazar, colocando Zadoque na
posição de sumo sacerdote. Essa posição foi mantida na família dele até que seu
descendente veio a ser deposto por Antíoco Epifânio nos dias dos macabeus.
Neste
período posterior, os sumo sacerdotes eram indicados pelo poder reinante (Anás
foi deposto pelos romanos e substituído por Caifás — veja Lucas 3.2; Jo
18.13-24), mas quando eles se tornaram forte o bastante para resistir às
autoridades, adotaram seu próprio estilo de soberania” (GOWER, Ralph. Novo
Manual dos Usos & Costumes dos Tempos Bíblicos. 2.ed. Rio de Janeiro: CPAD,
2012, pp. 326, 327).
SACERDOTES
E LEVITAS
História,
Funções e cumprimento neotestamentário
1 – Nome
Apesar dos
termos “sacerdote” e “levita” aparecerem centenas de vezes no AT e no NT, há
muita divergência entre os estudiosos quanto à identidade, função e
desenvolvimento dos indivíduos assim designados. Basicamente o assunto tem
amplas consequências sobre a história, adoração e religião de Israel.
A palavra
“sacerdote”, com e sem modificadores, aparece mais de 700 vezes no AT e mais de
80 vezes no NT. A palavra usual para sacerdote é kohen. Alguns acreditam que é
possível que os sacerdotes do AT fossem, a princípio, adivinhadores (veja
kâhin, “adivinhador” em árabe), mas admite que não há evidência no AT de
condições extáticas por parte dos sacerdotes.
Uma parte
importante do ministério deles, porém, era a entrega de oráculos por meio da
sorte (Urim e Tumim). Em Deuteronômio, os sacerdotes são chamados “os
sacerdotes levitas”, pois Moisés havia delegado direitos sacerdotais aos filhos
de Levi (Êx 32.6ss.; Dt 33; Jr 33.17ss.). O sacerdote seria aquele que se
coloca de pé perante Deus para ministrar.
2 – Origens
Sacerdócio
em geral. Nos países pagãos ao redor de Israel, como Egito e Babilônia, o
sacerdócio estava intimamente relacionado à magia e superstição. Há muitos
exemplos dos laços entre o sacerdócio e o ocultismo nas religiões antigas.
Sacerdócio semítico.
Nessa área,
estudiosos do assunto traçaram grande quantidade de paralelos da religião árabe
em suas formas pagãs. Esse procedimento está de acordo com as leis, mas deve-se
ter cuidado em se traçar paralelos com as condições em Israel.
O sacerdócio
em Israel leva em consideração outra dimensão no mundo religioso, o da
revelação sobrenatural. O sacerdócio de Israel (os levitas). O registro
histórico coloca a origem do sacerdócio de Israel no período mosaico em conexão
com o ministério no Tabernáculo, onde a arca era guardada, relaciona o
sacerdócio com a família de Moisés e especificamente o conecta ao ofício
sacerdotal a Arão e sua família (Êx 25-40).
O oficio do
sacerdócio foi legado à tribo de Levi. Os levitas traçam sua origem a um
ancestral comum (Gn 49). Deuteronômio 33.8-10 indica, de um modo geral, que os
sacerdotes deveriam ministrar no altar, queimar os sacrifícios e ensinar a lei.
Os levitas
eram definidos como os descendentes de Levi (Gn 29.34). Ele era o terceiro
filho de Jacó e Lia, e ancestral da tribo dos levitas. A maldição de Jacó sobre
Levi (34.25ss.; 49.5ss.) transformou- se em bênção por meio de Moisés (Êx
32.29; Dt 33.8,9).
Eles não
receberam nenhuma herança tribal em Canaã. Havia três famílias: Gérson, Coate e
Merari. Foi Coate quem proveu os verdadeiros sacerdotes.
Os outros
levitas ajudavam como seus auxiliares ao redor do santuário (Nm 3.5ss.). Quando
Ezequias e Josias instituíram suas reformas (2Rs 18.4; 23.8s.), os levitas que
estavam ministrando em outros santuários no país perderam suas posições.
O sacerdócio
ficou restrito aos descendentes de Arão. Porém, alguns não levitas realizaram
funções sacerdotais de vez em quando: o filho de Mica, um efraimita (Jz 17.5);
os filhos de Davi (2Sm 8.18); Gideão (Jz 6.26) e Manoá de Dã (Jz 13.19).
3 –
Importância do sacerdócio levítico
Em Israel, o
sacerdócio representava o relacionamento da nação com Deus. A intenção original
da aliança mosaica era para que toda a nação fosse um reino de sacerdotes (Êx
19.6; cp. Lv 11.44ss.; Nm 15.40). A aliança de Deus era mediada por intermédio
do sacerdócio.
Na teologia
bíblica, os conceitos de sacerdócio e aliança estão intimamente ligados. Por
causa da aliança no Sinai, Israel deveria ser um “reino de sacerdotes e uma
nação santa” (Êx 19.5,6; cp. Is 61.6). O fato de Deus delegar funções sacerdotais
a uma tribo não liberou o resto da nação de suas obrigações originais.
Os levitas
serviam num caráter representativo em favor de toda a nação no que se referem a
honra, privilégio e obrigação do sacerdócio. Quando os sacerdotes ministravam,
eles o faziam como representantes do povo. Era uma necessidade prática que a
obrigação corporativa do povo da aliança fosse levada a cabo por representantes
sacerdotais.
Além disso,
os sacerdotes, em sua condição separada, simbolizavam a pureza e a santidade que
Deus exigia. Eles eram um lembrete visível das justas exigências de Deus. Além
do mais, como substitutos do povo eles mantiveram intacto do relacionamento de
aliança da nação com Deus.
A função
primária do sacerdócio levítico, consequentemente, era manter, assegurar e
restabelecer a santidade do povo escolhido de Deus(Êx 28.38;Lv 10.7;Nm 18.1). O
sacerdócio mediava a aliança de Deus com Israel (Ml 2.4ss.; Nm 18.19; Jr
33.20-26).
No Israel
antigo, uma função importante dos sacerdotes era revelar a vontade de Deus, por
meio do éfode (ISm 23.6-12). Eles estavam constantemente ocupados com a
instrução na lei (Ml 2).
Certamente
seus deveres sempre incluíam a oferta de sacrifícios. Os sacerdotes antigos
eram guardiões do santuário e intérpretes dos oráculos (ISm 14.18).
As
instruções na lei pertenciam aos sacerdotes (Os 4.1-10). O sacerdote agia como
juiz, uma consequência de suas respostas a questões legais (Êx 33.7-11).
4 –
Tríplice divisão da hierarquia
O sacerdócio
era dividido em três grupos: (1) o sumo sacerdote, (2) os sacerdotes comuns e
(3) os levitas. Todos os três descendiam de Levi. Todos os sacerdotes eram
levitas, mas nem todos os levitas eram sacerdotes.
A ordem mais
baixa do sacerdócio era a dos levitas, que cuidavam do serviço do santuário.
Eles tomaram o lugar dos primogênitos que pertenciam a Deus por direito (Êx
13.2,12,13; 22.29; 34.19,20; Lv 27.26; Nm 3.12,13,41,45; 8.14-17; 18.15; Dt
15.19).
Os filhos de
Arão, separados para o ofício especial de sacerdote, estavam acima dos levitas.
Apenas eles podiam ministrar nos sacrifícios do altar. O nível mais elevado do
sacerdócio era o sumo sacerdote. Ele representava fisicamente o cume da pureza
do sacerdócio.
Carregava os
nomes de todas as tribos de Israel em seu peitoral para o interior do santuário,
representando todo o povo perante Deus (Êx 28.29). Apenas ele podia entrar o
santo dos santos e apenas um dia no ano, para fazer expiação pelos pecados de
toda a nação.
5 –
Consagração de sacerdotes
As
cerimônias ligadas com a consagração dos sacerdotes estão descritas em Êxodo 29
e Levítico 8. Elas incluíam um banho de consagração, unção, vestimenta e
sacrifícios.
A lavagem
simbolizava a limpeza do coração para as obrigações ligadas à pureza da nação
perante Deus. A unção (Lv 8.10,11) envolvia o derramar óleo na cabeça do sumo
sacerdote e respingá-lo nas vestimentas dos outros sacerdotes (vv. 22-24).
As
vestimentas dos sacerdotes e especialmente a do sumo sacerdote eram caras e
bonitas (Êx 28.3-5; Lv 8.7-9). Os sacrifícios de consagração incluíam a oferta
pelo pecado (8.14-17), oferta queimada (vv. 18-21) uma oferta de consagração
especial (vv. 22-32).
O sangue do
carneiro era aplicado na orelha, no dedo polegar e no dedo do pé direitos de
Arão e de seus filhos, para simbolizar consagração física completa ao Senhor.
HISTÓRIA
E DESENVOLVIMENTO
Conceito
tradicional.
Observação
geral.
Provavelmente
em nenhum outro campo de pesquisa do AT as conclusões da investigação crítica
moderna estão em oposição tão marcante ao conceito tradicional quanto na
questão dos sacerdotes e levitas.
A abordagem
de Wellhausen da religião do AT efetuou-se uma reconstrução radical da história
do sacerdócio em Israel e da relação entre sacerdotes e levitas. Os estudiosos
críticos, porém, estão longe de qualquer acordo. Exigem-se modificações de
caráter radical na avaliação crítica.
Antes do
início do criticis- mo histórico do AT, o registro do sacerdócio no Pentateuco
era aceito como uma história válida. O registro indica que o sacerdócio começou
com Moisés, que era da tribo de Levi. Pela autoridade divina, Moisés consagrou
seu irmão Arão e seus filhos para serem sacerdotes (Êx 28.1).
Os rituais
de consagração duraram uma semana (29.35,36; Lv 8.15-29,35). Após isso, Arão e
seus filhos tomaram para si as obrigações sacrificiais (Lv 9). O sacerdócio era
restrito à família de Arão e seus descendentes (Êx28.1,43;Nm 3.10).
Aposição de
Arão era única como sacerdote ungido (Êx 29.7), e ele utilizava túnicas
especiais para o ofício (28.4; 6.39; Lv 8.7-9). Quando de sua morte, o ofício
passaria a seu filho Eleazar (Nm 20.25-28).
O sumo
sacerdote estava no primeiro nível entre os sacerdotes, e sua morte marcava o
fim de um ciclo ou era teocrática (Lv 21.10; Nm 35.28).
Pelo fato de
Arão ser levita, o sacerdócio hebreu residia exclusivamente nos levitas. Todos
os sacerdotes legítimos eram levitas.
Após a
introdução de Arão e seus filhos no sacerdócio, toda a tribo de Levi foi
separada, como substituta dos primogênitos, para ministrar no serviço do
santuário (Nm 3.5ss.). Os levitas consistiam de três grupos: gersonitas, coatitas
e meraritas, com obrigações específicas para cada grupo (3.14-18).
Quando Coré
e seus seguidores se rebelaram contra a autoridade de Arão (Nm 16), eles foram
destruídos e o sacerdócio de Arão foi confirmado de forma notável. A posição
tradicional sobre o sacerdócio é simples. De acordo com esse conceito, os três
níveis da hierarquia são o sumo sacerdote, os sacerdotes e os levitas.
Eles se
originaram com Moisés no deserto, e o sistema está em vigor em todo o período
pós- exílico, estendendo-se, assim, por toda a história de Israel.
Em resumo,
todas as leis do Pentateuco vieram de Deus por meio de Moisés; o registro da
história posterior dada em Crônicas é preciso; a visão de Ezequiel, se
interpretada literalmente, não poderia ser reconciliada com os fatos
conhecidos.
Portanto,
precisaria de uma explicação adicional e, nos casos de discrepâncias nos
registros, as harmonizações deveriam ser aceitas.
Sacerdócio
nos tempos pré-mosaicos.
No período
hebreu antigo, como na época anterior a Abraão (pré e pós-diluviana), não havia
uma classe sacerdotal especial.
O Pentateuco
relaciona explicitamente o santuário, o sistema de sacrifício e a classe
sacerdotal com a revelação divina por meio de Moisés.
No período
patriarcal, o cabeça de cada família exercia a função sacerdotal do sacrifício.
Na verdade, o próprio Deus iniciou o conceito de sacerdócio por ocasião da
queda de Adão (Gn 3.21).
Sugeriu-se
que a pergunta num oráculo (25.22) e a entrega de dízimos (28.22) implicavam em
um santuário com um sacerdote no ofício, mas isto pode ser sobrecarregar os
fatos com uma conclusão sem garantias.
Os únicos
sacerdotes mencionados em Gênesis e Êxodo, antes da entrega da lei de Moisés,
eram sacerdotes estrangeiros: Melquisedeque (Gn 14.18), os sacerdotes egípcios
(41.45) e Jetro, o sacerdote midianita (Êx2.16; 3.1; 18.1).
Referências
gerais a sacerdotes antes da lei são encontradas em Êxodo 19.22,24, que parece
sugerir sacerdócio anterior a Moisés. Além disso, Êxodo 32.25-29 indica que aos
levitas foi dado o sacerdócio por sua fidelidade em cumprir a ira de Deus após
o pecado do bezerro de ouro.
A princípio,
o sacerdote estava preocupado com o sacrifício e com a instrução nos afazeres
da vida. Em Deuteronômio 33, a função de ensinar do sacerdote é proeminente (v.
10). Era feita por meio do Urim e Tumim (v. 8) e pela referência ao código
legal. Ele era professor e administrador da justiça e precedente legais (Dt
17.8-9; 21.5).
No período
primitivo, o sacrifício não era a única ocupação de um sacerdote, e.g., Caim e
Abel (Gn 4.4), Noé (8.20), Abraão (12.7,8), Isaque (26.25) e Jacó (35.3,7). Os
chefes das famílias exerciam funções sacerdotais antes da construção do Templo
(Jz 13.19; cp. Jó 1.5).
O mesmo
ocorria com um juiz (Jz 6.19ss.), um profeta (lRs 18.30ss.) e um rei (2Sm 6.17;
lRs 8.22,54ss.). Parece que os sacerdotes estavam ligados a santuários específicos,
onde transmitiam a vontade de Deus por meio de oráculos, e ofereciam
sacrifícios (Jz 20.18,27; ISm 1.3ss.).
Nessa época
(pré-monárquica) o sacerdócio não era exclusivamente levítico (Jz 17.5,7-13).
Na monarquia primitiva as referências mostram que sacerdotes não-levíticos
estavam presentes ao lado da ordem levítica.
Duas
famílias levíticas existiam na época dos juízes: a de Dã, estabelecida por
Jônatas, neto de Moisés (Jz 18.1-4,14-20,30) e ade Siló, ocupado por Eli e seus
filhos, descendentes de Arão (1 Sm 1-4; 22.20; lRs 2.27). Provavelmente, alguns
que não eram descentes levíticos foram unidos à tribo de Levi (Dt 33.8,9).
O mesmo
ocorreu com Samuel. Ele era um efraimita por nascimento (1 Sm 1.1 ss.), mas
ministrou como sacerdote no santuário (1.27,28; 2.11,18; 3.1); assim, o
cronista o considerou um levita (lCr 6.16-28).
Na era
mosaica.
Como dito
anteriormente, o sistema sacerdotal completo começou com Moisés. Isso não quer
dizer que as funções sacerdotais de sacrifícios e presentes a Deus estavam ausentes,
porque os pais das famílias cuidavam desses assuntos importantes.
Os livros do
Pentateuco firmam o sacerdócio na tribo de Levi, na casa de Arão, por direção
de Deus por meio de Moisés. Arão e seus filhos foram consagrados para suas
obrigações. Êxodo 28s. trata dos detalhes da consagração deles (Lv 8; 9).
Os
sacerdotes ministravam sobre o altar (Lv 1; 4), e ensinavam ao povo a lei do
Senhor (Lv 10.11; Dt 24.8; 33.10; Os 4.1-6). Havia leis especiais para a
conservação da sua pureza (Lv 21; 22). As provisões estavam principalmente
relacionadas com a prevenção da contaminação, que os tomava inadequados para o
serviço.
Uma parte do
sacrifício era dada ao sacerdote como renda pela oferta do israelita, e a pele
do animal morto era dele. Em Deuteronômio é declarado que no santuário o
sacerdote participava em parte das primícias e do dízimo. Todo terceiro ano o
dízimo deveria ser distribuído para o pobre, entre os quais os levitas foram
listados (Dt 12.17-19; 14.22,29; 26.12).
Foi
estabelecido que um décimo da produção da terra deveria ir para os levitas,
para sustento deles (Nm 18.21-24). As ofertas pelo pecado e pela transgressão
pertenciam aos sacerdotes, juntamente com uma taxa anual de meio siclo por cada
israelita, para o sustento do santuário.
Um décimo
dos dízimos recolhidos pelos levitas ia para os sacerdotes. Cidades com
pastagens foram designadas aos levitas, e um determinado número dessas cidades
designadas aos sacerdotes.
Aos levitas
foram dados deveres adicionais, no lugar de suas obrigações de transporte, e
eles foram as pessoas necessárias para implementar a legislação quando Israel
foi espalhado pela terra de Canaã (Dt 18.6-8; 21.5; 24.8; 33.8).
De Moisés
a Malaquias.
A evidência
de Ezequiel será adiada dessa discussão para um período posterior. O sacerdócio
é designado como a herança dos levitas (Js 18.7). “Os sacerdotes e levitas” e
“os sacerdotes” são expressões encontradas alternadamente no mesmo livro.
Está claro
que o caráter sagrado da tribo de Levi foi reconhecido em períodos pós-mosaicos
primitivos. Eli foi ameaçado (ISm 2.27-36) de perder o sumo sacerdócio, que se
cumpriu (lRs 2.27) quando Salomão substituiu Abiatar por Zadoque. Zadoque (lCr
6.8,53: 24.3; 27.17) era descendente de Arão por meio de Eleazar.
Outros não
tomam o cronista literalmente, e sustentam que Zadoque não provinha de Arão.
Assim, a sucessão araônica foi terminada e transferida para uma família de
levitas não araônica. 1 Samuel 2.27-36 informa sobre a organização do
sacerdócio, mostrando que o sumo sacerdote tinha autoridade sobre vários
ofícios sacerdotais, com remuneração e outros privilégios.
Passagens
nos livros de Reis revelam desenvolvimento na organização sacerdotal (2Rs
12.10; 19.2; 25.18; cp. Jr 20.1,2; 29.26).
De Davi
ao exílio.
Quando Davi
fez da fortaleza jebusita sua capital, ele transferiu a arca da aliança para
lá, fazendo dela um santuário real. Ele exerceu algumas funções sacerdotais
(2Sm 6.17s.) e vestiu, numa determinada ocasião, a estola sacerdotal de linho
(v. 14).
Salomão
ofereceu sacrifícios na dedicação do Templo (lRs 8.5,62ss.), e certas ofertas
três vezes ao ano (9.25). Apesar de os sacerdotes não serem mencionados nestes
períodos, a presença deles parece ser evidente. A relação dos reis do Reino do
Norte com o santuário em Betel era análoga à dos reis de Judá com o Templo em
Jerusalém.
Em Jerusalém
havia um grande quantidade de sacerdotes, dos quais uma era designado como
estando em primeiro lugar, o sacerdote chefe ou o “chefe da guarda” e, e.g.,
Joiada (2Rs 11,9s.), Urias (16.1 Os.), Hilquias (22.10) e Seraías (25.18).
“Chefe da guarda” é encontrado apenas em 2 Reis 25.18; Jeremias 52.24; Esdras
7.5; e Crônicas, e ocorre juntamente com “sumo sacerdote”. Sua influência em
Jerusalém era considerável (Joiada e Atalia, 2Rs 8.26; 12.2; 2Cr 22.2).
Há uma
referência feita a um Sofonias, juntamente com o sacerdote chefe Seraías, como
literalmente “sacerdote da repetição”, provavelmente o representante ou o
segundo em posição em relação ao chefe da guarda (2Rs 23.4; 25.18).
Os guardas
do limiar (25.18), cuja posição era próxima à do sacerdote chefe e à do segundo
sacerdote, devem ter sido mais elevados que os porteiros. Na época de Jóas
(12.10), eles eram vistos como os guardas da entrada para o pátio interno do
altar de oferta queimada.
Eles também
recolhiam as ofertas do povo para o Templo (22.4). O ofício sacerdotal deles
era pré-exílico, porque não há menção disso em períodos posteriores.
Após o
exílio, há referências feitas aos servidores do Templo, (“aqueles dados” Ed
2.54ss.), que foram dados por Davi e pelos príncipes para o ministério dos levitas
ou do Templo (Ed 8.20). Os cantores e os porteiros do Templo pós-exílico eram
descendentes dos que haviam servido na mesma posição no Templo pré-exílico (Ed
2.41s.; Ne 7.44s.).
As leis de
Deuteronômio a favor dos levitas não foram completamente implementadas na
reforma de Josias. Não há indicação de uma afluência em massa de levitas de
fora de Jerusalém à cidade e da participação deles no ministério ali.
Segundo Reis
23 faz uma tríplice distinção entre os sacerdotes que não eram de Jerusalém: os
kemerím foram destituídos (v. 5), pois eram sacerdotes idólatras; os sacerdotes
das cidades de Judá foram reunidos por Josias (v. 8); não era permitido aos
sacerdotes dos lugares altos se aproximarem do altar em Jerusalém, mas lhes foi
permitido permanecer onde residiam e obter ali seu sustento (v. 9).
Jeremias
chamou seus parentes sacerdotes que estavam em Anatote (1.1). O livro de
Jeremias não apresenta provas da existência de uma classe de levitas distinta
da dos sacerdotes.
Alguma
organização de sacerdotes evidentemente existia, pois há referência aos anciãos
dos sacerdotes (19.1), à posição do principal administrador do Templo (20.1;
29.25s.) e à guarda do limiar (35.4). Os sacerdotes parecem ser considerados
como oficiais da corte (21.1; 29.25s.; 29; 37.23).
Durante esse
tempo, o sacerdócio estava assentado em famílias. O sacerdócio de Dã durou até
o fim do Reino do Norte, em 721 a.C. Quando os filisteus capturaram a arca (1
Sm 4.10,11), a casa de Eli provavelmente se mudou de Silo para Nobe, onde Saul
os matou (21.1-9; 22.9-19). Abiatar escapou (22.20) e oficiou no reinado de
Davi em Jerusalém com Zadoque (2Sm8.17; 15.24-29). Ele foi removido do oficio
por Salomão, por ter apoiado Adonias (lRs 1.5-8; 2.26,27); Zadoque tomou seu
lugar (2.35). A casa de sacerdotes zadoquitas permaneceu em Jerusalém até a
destruição do Templo, em 586 a.C. (1 Cr 6.8). A descendência de Zadoque é
traçada até o filho de Arão, Eleazar (lCr 6.3-12,50-53; 24.3). Durante a
monarquia o sacerdócio não-levítico foi estabelecido por Jeroboão, filho de
Nebate, no Reino do Norte (lRs 12.31; 12.33).
Três outras
referências a sacerdotes, separadas da ordem levítica, são: (1) os filhos de
Davi (2Sm 8.18); (2) Ira, o jairita, como sacerdote de Davi (2Sm 20.26); (3) e
Zabude, filho de Natã, como sacerdote de Salomão (lRs 4.5).
A
dificuldade é que Zadoque e Abiatar, sacerdotes regulares, estavam ministrando
também durante os reinados de Davi e Salomão. Acredita-se que esses homens eram
amigos do rei, e que receberam o título de sacerdote como cortesia.
Durante a
monarquia primitiva o rei tinha responsabilidades sacerdotais. Saul ofereceu
uma oferta queimada e ofertas pacíficas em Gilgal durante a ausência de Samuel,
sendo repreendido mais tarde (1Sm 13.8-13). Davi administrou a mudança da arca
para Jerusalém (2Sm 6.12-19), vestiu a estola sacerdotal (v. 14), ofereceu
sacrifícios (vv. 13,17) e abençoou o povo, em nome de Deus (v. 18).
Na dedicação
do Templo Salomão colocou-se perante o altar para oferecer a oração de
dedicação; apresentou as ofertas (animal e cereal) e abençoou o povo (lRs
8.22-53,62,63,64; cp. 8.14ss.,54ss.), enquanto os sacerdotes e levitas traziam
a arca e os vasos santos ao santo lugar (vv. 4,6ss.).
Salomão
apresentava ofertas queimadas, ofertas pacíficas e incenso três vezes ao ano
(9.25). Jeroboão, filho de Nebate, ofereceu sacrifícios e incenso queimado
(12.32,33). Acaz, no séc. 8 a.C., instruiu Urias, o sacerdote, a construir em
Jerusalém uma cópia do altar em Damasco, mas ele mesmo ofereceu sacrifícios
nele (2Rs 16.10-13).
Evidentemente
o rei era um rei-sacerdote, mediador entre Deus e Israel. O cronista, porém,
viu a tentativa de Uzias de queimar incenso no Templo como uma violação dos
direitos sacerdotais, de forma que o rei foi ferido com lepra, até morrer (2Cr
26.16-20).
Uma
observação geral sobre esse período é que, com a multiplicação dos santuários e
a formação dos sacerdotes por toda a terra em uma classe bem definida,
sacerdotes e levitas se tomaram termos equivalentes. Suas tradições comuns de
lei e ritual foram traçados, então, até Moisés (Dt 33.11). Embora dependentes
da monarquia, eles gozaram de influência crescente (Joiada, 2Rs 11.4ss.).
Em
Ezequiel.
Ezequiel
mostrou um conjunto de leis durante o exílio para a futura teocracia. Por causa
da proeminência que deu aos zadoquitas, acredita-se que ele também era dessa
família (Ez 1.3).
Em seu
Templo do futuro, apenas os sacerdotes levitas, filhos de Zadoque, deverão
usufruir dos privilégios sacerdotais (43.19): oferecer sacrifícios e
aproximar-se da mesa da proposição, porque na época da apostasia eles não se
tomaram idólatras.
Aqueles
sacerdotes que participaram no afastamento de Israel para a idolatria, não lhes
será permitido ministrar no ofício de sacerdote ou se aproximar das coisas
santas, mas que se ocuparão das obrigações menos sagradas (44.6ss.; 46.24).
Ezequiel não
fala de um sacerdote ou rei na futura comunidade, mas de um príncipe com certos
privilégios sacerdotais.
No Templo de
Ezequiel não há uma arca sagrada da qual o sacerdote pudesse aproximar-se, pois
Deus habita no Templo. Ezequiel apresenta algumas regras para os sacerdotes
relacionadas à sua vestimenta (44.17s.), à forma de cozer os sacrifícios,
(46.19s.), à forma de assar a oferta de farinha, ao cuidado com o cabelo, ao
beber do vinho (44.20s.), ao casamento (v. 22), à contaminação com corpos
mortos (v. 26s.), aos hábitos alimentares (v. 31) e às decisões judiciais (v.
23s.).
Os
sacerdotes não têm uma herança na terra (44.28). Porém, uma parte da terra ao
redor do Templo é designada a eles (45.1ss.; 48.10ss.), e uma região delimitada
na terra dos sacerdotes é destinada aos levitas (45.5; 48.13). Porções de
sacrifícios, assim como os presentes sagrados, deveriam ser dados a eles.
Sob
Josias (Deuteronômio).
A reforma de
Josias em 621 a.C. teve como propósito por um fim nos lugares altos e
centralizar a adoração em Jerusalém (2Rs 23.1-24). O livro da lei encontrado no
Templo é, em geral, considerado o livro de Deuteronômio (22.8-13; 23.1-3).
O sacrifício
pertencia agora ao sacerdócio e poderia ser oferecido apenas no Templo, em
Jerusalém (Dt 12.5-7,11,13,14).
Os
sacerdotes eram todos filhos de Levi (10.8; 18.1; 21.5; 33.8). Tem-se sugerido
que nem todo sacerdote tinha de ser da linhagem de Levi; os levitas podem ter
recebido no sacerdócio levítico os que não eram parentes de Levi.
O consenso
da maioria dos estudiosos do AT é que em Deuteronômio “sacerdote” e “levita”
são sinônimos, ou seja, todos os sacerdotes e levitas são sacerdotes sem
distinção (Dt 10.8; 18.1; 21.5; 33.8ss.). Quanto a isso há alguma controvérsia.
Antes da
reforma de Josias o sacerdócio estava amplamente distribuído por todo o país.
Nobe era a cidade dos sacerdotes na antiga monarquia (1Sm 22.18,19); no reinado
de Josias havia um grupo sacerdotal em Anatote (Jr 1.1).
Cada cidade
parecia ter seu santuário local com pelo menos um sacerdote levítico (Dt 18.6).
Esse sacerdócio não tinha herança territorial (Dt 18.1). Não há menção de um
dízimo levítico, mas o levita deveria participar com o viajante, o órfão e a
viúva do dízimo da comunidade onde ele residia (14.27-29; 16.11,14; 26.12).
A remoção
dos santuários locais representou a perda do sustento dos que ficaram
desempregados por intermédio desse decreto. Josias fez com que todos viessem a
Jerusalém para participar das responsabilidades do sacerdócio no Templo (2Rs
23.8; cp. Dt 18.6-8).
Na prática
vigente os sacerdotes dos lugares altos não ministravam no altar em Jerusalém,
mas recebiam sua porção do sustento (2Rs 23.9). Há possibilidade de que 2 Reis
23.8 se refira a outros sacerdotes além dos idólatras dos lugares altos (v. 5).
Nesse caso,
Josias deve ter feito uma distinção, destituindo os que apostataram e dando aos
outros igualdade no sacerdócio de Jerusalém (Ez 44.10). Está claro que Ezequiel
fez esta distinção.
Embora
Ezequiel restrinja certos deveres sacerdotais à casa de Zadoque (44.13-15; lCr
6.3-8), Deuteronômio mostra que todos os levitas eram considerados sacerdotes;
“os sacerdotes levitas”, ou os “sacerdotes levíticos” (Dt 18.1).
Como já
declarado, os sacerdotes são constantemente mencionados em Deuteronômio como
“os sacerdotes levíticos” (17.9,18; 18.1).
Uma
descendência especial é indicada (também 21.5; 31.9). Deuteronômio não
distingue entre “sacerdotes levíticos” e “levitas” (18.1). Os levitas que
viviam no país, separados de Jerusalém, não podiam reivindicar os mesmos
privilégios dos sacerdotes estabelecidos em Jerusalém, se fossem residir na
capital (18.6ss.).
Por todo o
livro os levitas eram aqueles chamados ao próprio sacerdócio. O principal
sacerdote é pretendido onde Eleazar foi chamado para suceder Arão (Dt 10.6), e
provavelmente este é o sentido em 26.3.
A tribo de
Levi não tinha herança na terra, de acordo com Deuteronômio, pois o Senhor era
a porção deles, ou seja, eles deveriam ser sustentados por seu serviço (10.9;
18.1). Deuteronômio enfatiza o bom tratamento dado aos levitas que não
ministravam no santuário central (12.12,18).
Foram feitas
provisões específicas para eles, convites para refeições feitas a partir dos dízimos
(14.27,29), para refeições sacrificiais (12.12,18s.; 26.11), para celebrações
de festas (16.11,14) e o recebimento do dízimo do terceiro ano com outros
necessitados (26.12).
O sacerdócio
da Judéia, em tempos posteriores, tornou-se conhecido também como levitas (Dt
10.8s.; 18.1s.). E revelado que os levitas da Judéia não estavam limitados ao
serviço do Templo, mas envolvia os sacerdotes dos lugares altos removidos por
Josias (Ez 44.10s.).
Em Judá e no
Norte os direitos sacerdotais de Levi foram traçados no período mosaico (Dt
10.8; 33.8). Porém, os sacerdotes da Judéia não reconheceram a posição levítica
de sua contraparte no Norte (lRs 12.31).
No
período de restauração.
No segundo
Templo havia três ordens na hierarquia — o sumo sacerdote, o sacerdote e o
levita. Cada um tinha seus próprios privilégios e responsabilidades.
O
relacionamento preciso de sacerdotes e levitas, assim como a origem e o
desenvolvimento deles, são o núcleo do problema com o qual essa parte lida. A
posição tradicional, como mostrado, que o sistema sacerdotal foi inaugurado por
Moisés no deserto, sob a autoridade divina.
Esse sistema
continuou inalterado por toda a história de Israel. Nos livros pós-exílicos do
AT, é dado um quadro claro do sacerdócio da restauração do Templo. Há a mesma
tripla hierarquia com níveis, responsabilidades e privilégios distintos.
Aposição do
sumo sacerdote é de grande poder. A nação, que perdeu sua monarquia, tomou-se
uma hierocracia. A maior parte da honra que pertencia ao rei foi concedida
agora ao sacerdote. A influência material do sacerdócio era maior do que em
qualquer época anterior.
O Templo era
o centro visível da vida nacional com o fim da monarquia. Os sacerdotes eram os
únicos líderes nacionais.
Quando o
sumo sacerdote se colocava no altar, com suas vestes suntuosas, derramando a
libação acompanhada pelo tocar das trombetas, com cantores erguendo suas vozes
e o povo se prostrando em oração até que ele descesse e levantasse suas mãos
para abençoar, os judeus, sob jugo estrangeiro, esqueciam momentaneamente sua
opressão e tinham suas esperanças de libertação reacendidas.
Em 520 a.C.,
Josué, o sumo sacerdote, e Zorobabel, descendente de Davi, foram considerados
iguais (Ag 1.1,12,14; 2.2,4). Eles são os dois ungidos de Zacarias 4.14. Quando
a casa de Davi não era mais a cabeça da nação, o sumo sacerdote se tornou o
líder incontestado do povo judeu nas áreas civil e religiosa.
O mais
conhecido destes foi Simão o Justo (Eclo 50.1-21). O sumo sacerdote no séc. 2.
a.C. encabeçava o (“senado”) dos sacerdotes, escribas e cabeças de famílias (1
Mac 12.6; 2Mac 4.44; 11.27).
O poder do
sumo sacerdote era tão grande que se tomou o objetivo de homens imorais no
período grego (2Mac 4.7-10,18-20,23-36,33-35). No período macabeu, o sumo
sacerdote recuperou seu prestígio anterior sob o breve reinado da dinastia
asmonéia.
O sumo
sacerdote poderia traçar sua descendência a partir de Eleazar, o filho de Arão.
Sua posição era hereditária e vitalícia (Nm 3.32; 25.11 ss.; 35.25,28; Ne
12.10,11). Ele assumia o cargo com rituais elaborados de banho, vestimenta,
unção, oferta de sacrifício e o ato de aspergir.
As
cerimônias aconteciam durante sete dias (Êx 29.1-37; Lv 8.5-35). As roupas do
sumo sacerdote eram diferentes: túnica azul com sinos e romãs, estola, um
peitoral quadrado com doze pedras preciosas inscritas com os nomes das doze
tribos de Israel e com o Urim e o Tumim, e o turbante de linho com uma placa de
ouro trazendo a inscrição “Santidade ao Senhor” (Êx 28.4-39; 39.1-31; Lv
8.7-9).
No Dia da
Expiação, essas belas vestimentas eram trocadas por vestimentas simples de
linho (Lv 16.4,23,32). Essa celebração anual compreendia sua mais importante
obrigação. Nesse dia ele entrava no santo dos santos, aspergia o sangue da oferta
pelo pecado por si mesmo, por sua família e pela nação (16.1-25).
Parece que
ele deveria participar das responsabilidades gerais do sacerdócio (Êx 27.21) e
oferecer uma oferta diária de manjares (Lv 6.19-22).
Como líder
espiritual de Israel, se esperava um grande cerimonial de purificação do sumo
sacerdote. Ele não poderia ter contato com morto, nem ter cabelo comprido, nem
estar de luto, nem se casar com uma moça que não fosse virgem de Israel
(21.10-15).
Qualquer
pecado cometido por ele traria culpa sobre o povo, exigindo uma oferta especial
pelo pecado (4.3-12). Sua importância para com a nação pode ser medida pelo
fato de que sua morte marcava a conclusão de uma era teocrática, e o homicida
era liberto da cidade de refúgio (Nm 35.25,28,32).
Os sacerdotes
eram os associados do sumo sacerdote que serviam na adoração da nação. Eles
estavam restritos à casa levítica de Arão (Êx 28.1,41; 29.9; Lv 1.5,7,8,11; Nm
3.10; 18.7), e não deviam ter defeitos físicos (Lv 21.16-23).
O sacerdócio
foi organizado com vinte e quatro turnos ou divisões, que serviam ao santuário
por escalas. Cada um dos turnos ministrava por uma semana, iniciando no sábado,
à parte das festas anuais, quando todos serviam juntos.
Dezesseis
divisões (famílias) descendiam de Eleazar por meio de Zadoque, oito de Itamar,
outro filho de Arão (lCr 24.1-19). As cerimônias para a consagração dos
sacerdotes eram semelhantes às do sumo sacerdote, mas não tão elaboradas (Êx
29.137; Lv 8.5-35).
Apenas o
sumo sacerdote recebia a unção (Lv 21.10). A vestimenta dos sacerdotes incluía
uma túnica, calças e um turbante (tudo de linho branco), assim como uma cinta
feita de linho branco bordado com azul, púrpura e escarlate (Êx 28.40,42;
29.8,9; 39.27-29; Lv 8.13).
Os deveres
dos sacerdotes eram o cuidado com os vasos do santuário e os sacrifícios no
altar (Nm 18.5,7). O sacerdote também deveria instruir na lei de Deus (Ml
2.6,7). Ele era a autoridade final em todos os assuntos da lei.
No período
pós-exílico, essa função de ensino ético vinha pelas mãos dos escribas, ao
passo que ministrar nas cerimônias religiosas estava na esfera da instrução
sacerdotal (Ag 2.10-13). Os sacerdotes zelavam pela saúde física da nação (Lv
13-15).
Eles
administravam a justiça (Dt 17.8-9; 21.5; 2Cr 19.8-11; cp. Ez 44.25), em casos
de julgamento mediante teste (Nm 5.11-31), reconsagração de um nazireu
contaminado (6.121), e votos (Lv 27.8-25). Após o exílio, parece que os
assuntos fiscais em Judá eram cuidados pelo pessoal do Templo (Ed 8.33,34).
Era dever
dos sacerdotes tocar as trombetas para a guerra, para a assembleia ou para
celebrar uma festa (Nm 10.1-10). Apenas eles podiam abençoar o povo em nome de
Deus (6.22-27).
Pelo fato da
tribo de Levi não ter um território, parte das ofertas trazidas a Deus era dada
aos sacerdotes (Nm 18.20; Dt 10.9; 18.1,2).
Foi
permitido aos indivíduos possuírem a terra (lRs 2.26; Jr 32.6ss.; Am 7.17) e a
provisão da casa era feita para os sacerdotes em Jerusalém e seus arredores (Ne
11.3,21). Treze das quarenta e oito cidades levíticas foram dadas a eles (Js
21.4,1319).
O sustento
principal, porém, vinha das ofertas do povo. Essa renda vinha de três fontes:
(1) as
primícias da produção e os primogênitos dos animais, o dinheiro da redenção
pago pelos filhos primogênitos e pelos primogênitos dos animais impuros (Êx
13.12-13; Nm 18.12-19);
(2) alguns
direitos sacrificiais, como o do pão da proposição (Lv 24.5-9), todas as
ofertas de cereal (2.3,10; 6.16; 10.12,13; Nm 18.9), as ofertas pelo pecado (Lv
5.13; 6.26), a melhor parte das ofertas pacíficas (Êx 29.26-28; Lv 7.30-34; Nm
18.11), o couro dos holocaustos (Lv 7.8);
(3) e um
décimo dos dízimos da nação dado pelos levitas (Nm 18.26-28). O sacerdote
deveria simbolizar em todo tempo pureza e santidade. Ele deveria ser livre de
qualquer defeito físico (Lv 21.16ss.); era consagrado por meio de rituais de
purificação (Êx 29.1ss.; Lv 8.5ss.); deveria se lavar antes de ministrar no
altar ou no santuário (Êx 30.19ss.; 40.31 ss.); deveria vestir túnicas de linho
branco (39.27-29). Não lhe era permitido ter contato com um morto, exceto um
parente próximo. Não lhe era permitido mostrar sinais de luto. Não lhe era
permitido casar com mulher impura ou divorciada. A filha de um sacerdote que
caiu em prostituição deveria ser queimada (Lv 21.1-9). Qualquer transgressão da
pureza sacerdotal tinha que ser limpa pelo sumo sacerdote e por todos os
sacerdotes juntos (Nm 18.1).
Os levitas
eram oficiais subordinados do santuário, que supervisionavam as
responsabilidades menores do lugar sagrado (Nm 1.50; 3.6,8; 16.9; 18.2; lCr
23.28,32; Ed 3.8,9). Eles eram instalados no ofício por meio de cerimônias de
banho, raspagem do corpo, sacrifício, imposição de mãos e dedicação solene a
Deus (Nm 8.5-13).
O dever
deles era ajudar os sacerdotes e servir a congregação (Nm 1.50; 3.6,8; 16.9;
18.2; lCr 32.28,32; Ed 3.8,9). Eles cuidavam dos átrios e das câmaras do
santuário, da limpeza dos vasos, da preparação da oferta de cereais e do louvor
(1 Cr 23.28-32).
Alguns eram
designados porteiros ou guardas (9.19; 26.1,19; 2Cr 8.14). Alguns eram designados
como porteiros (9.19; 26.1.19; 2Cr 8.14), como tesoureiros (1 Cr 26.20) e
alguns como músicos (Ed 3.10;Ne 12.27).
As vezes, os
músicos e porteiros são referidos como distintos dos levitas (Ed 2.40-42; Ne
12.47). Os levitas instruíam na lei (Ne 8.7,9), função assumida pelos escribas,
posteriormente. Os levitas também ajudavam os sacerdotes a administrar a
justiça (lCr 23.4; 26.29; 2Cr 19.8-11) e nos assuntos da tesouraria (Ed
8.33,34; cp. lCr 26.20ss.).
Os levitas
parecem ter sido menores em número do que os sacerdotes na restauração do
Templo (Ed 2.36-40,41,42; Ne 7.39-43,44,45). Os netinins, servos do Templo,
ajudavam os levitas (Ed 8.20), da mesma maneira que os levitas ajudavam os
sacerdotes (Nm 3.9; 8.19).
A duração do
serviço levítico variava. Números 4.3 indica de trinta aos cinquenta anos.
Números 8.23-26 determina vinte e cinco anos para cima com o acréscimo de uma
regra de que a partir dos cinquenta anos, eles deveriam apenas ajudar seus
colegas levitas.
Em 1
Crônicas 23.24 a idade de início é de vinte anos em diante, sem data específica
para aposentadoria. Os levitas eram sustentados pelo dízimo (Lv 27.32,33;Nm
18.21,24ss.), mas um décimo dele tinha que ser dado aos sacerdotes (Nm
18.26-28).
Visto que a
tribo de Levi não tinha território, quarenta e oito cidades e seus arredores
foram cedidas aos levitas (Nm 35.1-8; cp. Js 21.1-41). Treze delas pertenciam
aos sacerdotes araônicos (Js 21.4,13-19). Essas cidades estavam localizadas nos
dois lados do Jordão, nas próprias áreas onde Israel tinha se estabelecido.
Assim como
os sacerdotes, os levitas da época do segundo Templo ministravam em turnos, em
seu período designado (lCr 24.31; 28.13,21; 2Cr 8.14; Ne 13.30). Eles eram
empossados no cargo mediante rituais de purificação (Nm 8.5-13). A Bíblia não
menciona túnicas especiais para o ofício dos levitas. Eles, assim como os
sacerdotes, tinham de fazer expiação por qualquer transgressão de sua pureza
(18.23).
O decreto de
Ciro (538 a.C., Ed 1.1-4) sinalizou o início da restauração da nação judaica. O
retomo dos exilados por sua vez começou a reinstituição da adoração tradicional
(3.1-6), que envolvia diretamente a restauração do sacerdócio.
Em que base
os sacerdotes poderiam servir? As limitações do ministério sacerdotal não foram
aplicadas aos zadoquitas. A distinção foi feita entre sacerdotes e levitas nas
listas dos exilados que retornaram (Ed 2.36-42; Ne 7.39-43;12.1ss.) e dos
associados de Neemias (Ne 10.28; 11.3,10-18) e Esdras (Ed 7.7,13; 8.15ss., 30;
9.1).
A
descendência araônica era a marca da elegibilidade no sacerdócio judaico
restaurado. Na literatura pós-exílica os sacerdotes são sempre mencionados como
a casa de Arão ou os filhos de Arão (lCr 15.4; 23.28,32; Sl 115.10,12; 118.3;
cp. também 1Mac 7.14).
Acredita-se
que isto esteja de acordo com o Pentateuco, que fornece a mais completa
informação sobre o sacerdócio. O sacerdócio é designado como investido de autoridade
divina na casa de Arão (Êx 28.1,43; Nm 3.10; 8.2,17). A rebelião de Coré está
registrada para advertir os levitas não araônicos a não procurarem se apropriar
dos privilégios dos sacerdotes arônicos (Nm 16.8-10,40).
Ao
reconstruir as condições daquela época, esses elementos têm sido apresentados
como certos:
(1) havia
sacerdotes ministrando no Templo destruído em Jerusalém durante o
exílio. Isso está implícito no registro dos oitenta homens de Siquém, Silo
e Samaria que trouxeram ofertas ao Templo (Jr 41.4ss.), da mesma forma como os
sacerdotes mencionados em Lamentações 1.4.
(2) Os
sacerdotes araônicos de Abiatar, removidos do ofício por Salomão, viviam em
Anatote (cerca de 3,2 km ao norte de Jerusalém), e Jeremias viveu em Judá (Jr
39.11-14; 40.2-6).
(3) Os
sacerdotes araônicos de Itamar, de quem Abiatar veio, são mencionados com os
zadoquitas nas listas dos exilados que retomaram (Ed 8.2).
(4) Conforme
já declarado, na literatura pós-exílica os sacerdotes foram indicados como a
casa ou os filhos de Arão.
Parece
provável que o sacerdócio pós-exílico se expandiu para incluir todos os
araonitas, porque:
(1) a
adoração em Jerusalém durante o exílio foi mantida por sacerdotes não
zadoquitas;
(2) as
condições em Jerusalém eram conhecidas dos exilados na Babilônia, uma vez que a
referência em Esdras 8.2 de sacerdotes não zadoquitas e zadoquitas parece
comprovar algum acordo feito entre os exilados, antes do retomo deles para a
Palestina. Sob o decreto de Ciro sacerdotes retomaram com Zorobabel (Ed
2.36-39; Ne 7.39-42), uma condição improvável de que todos eles seriam
descendentes dos zadoquitas exilados. Os poucos levitas que retomaram (apenas
setenta e quatro) poderiam apontar para o fato de que toda a descendência
araônica foi admitida ao sacerdócio.
Há uma
mudança definitiva na ênfase sobre os deveres do sacerdócio na sociedade
judaica restaurada. Um dos principais deveres do sacerdote não é mais
considerado como sendo o ensino da moral; ele está agora quase totalmente
ocupado com os assuntos cerimoniais (Lv 10.10,11; Ag 2.10-13).
Malaquias
reclamou que os sacerdotes eram negligentes em dar instrução moral (Ml 2.7,8).
O Urim e o Tumim não estão mais disponíveis (Ed 2.63). Quando Esdras apresentou
a lei, os levitas instruíram o povo (Ne 8,7), e a prerrogativa do ensino parece
ter sido continuada mais pelos levitas do que pelos sacerdotes no segundo
Templo.
No
período persa (Esdras).
O sacerdote
principal, com o líder político removido da liderança da nação, tomou-se a
personalidade dominante entre o povo na era persa.
Nos dias de
Esdras um em cada sete exilados restabelecidos era sacerdote. Esdras e Neemias
separaram os levitas dos sacerdotes: os levitas devem ser compreendidos como os
descendentes dos sacerdotes não jerusalemitas dos lugares altos.
Diz-se que o
novo sistema sacerdotal tem sua base na legislação sacerdotal reconhecida como
parte da lei sob Esdras e Neemias. Aqui se encontra a exclusão dos levitas do
sacerdócio dos filhos de Arão (Nm 3). Eles eram, na verdade, os servos dos
sacerdotes (3.9), mas num plano mais alto que o resto do povo.
Após O
Antigo Testamento.
Na época dos
macabeus há uma menção sobre a ordem superior e a inferior dos sacerdotes, mas
é difícil haver qualquer referência aos levitas.
O dízimo e
outros direitos foram retirados dos levitas, de acordo com Josefo e o Talmude.
Em períodos posteriores, os deveres do sacerdote se tomaram mais minuciosos. O
ofício do sumo sacerdote passou por mudança. Não era mais vitalício nem
hereditário.
A literatura
rabínica fala do acréscimo de um substituto do sumo sacerdote, no caso de ele
contrair impureza e ser impedido de executar os deveres de sua posição. Essa
não era a posição de uma única pessoa, pois sete dias antes do Dia da Expiação,
“outro sacerdote” tinha que ser separado, caso o sumo sacerdote não pudesse
oficiar. Os deveres se multiplicaram ao longo dos anos e as responsabilidades
tiveram que ser divididas mais amplamente.
Bibliografia
–
Bíblia de Estudo Palavra Chave (ARC)
–
Dicionário Online
–
Apontamentos do Autor
FONTE : https://ctecvidacrista.com.br/os-ministros-do-culto-levitico/
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