(Pr. Moacyr Campista)
Texto Bíblico Básico: Rm 5.1-6; 1Pe
5.6-10
Texto Áureo: Jo 16.33
1 – INTRODUÇÃO
A lição é
dividida em quatro tópicos:
Causas da adversidade
O que não fazer durante a adversidade
Crescendo na adversidade
Como enfrentar a adversidade
Adversidade
significa contratempo, obstáculo, dificuldade. É um imprevisto, um aborrecimento,
uma contrariedade, um impedimento.
Queiramos ou
não, a adversidade faz parte da vida. Superar as adversidades é um dos maiores
obstáculos que enfrentamos. Os problemas, sejam grandes ou pequenos,
apresentam-se a nós durante toda a nossa existência.
Independente
da vida correr ou não às mil maravilhas, somos confrontados de forma inesperada
com problemas, lutas, desafios e dificuldades. Somos, então, desafiados a
superá-los.
Heródoto,
filósofo grego, disse que a “adversidade tem o efeito de atrair a força e as
qualidades de um homem, que as teria adormecido na sua ausência”. Havelock
Ellis escreveu que “a dor e a morte são parte da vida, rejeitá-las é rejeitar a
própria vida”.
2 – COMO DEVEMOS ENCARAR?
As
tribulações e sofrimentos devem ser encarados de dois prismas:
O sofrimento é todo mal causado pelo pecado.
O sofrimento para o cristão deve ser visto de
forma positiva, ou seja, o cristão pode tirar proveito das tribulações, porque
tem a esperança, e esta esperança o habilita a ser paciente e perseverante.
Paulo
escreveu em Rm 5.3: “E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações,
sabendo que a tribulação produz paciência”. Quando nos referimos em “NOS
GLORIAMOS NAS TRIBULAÇÔES“, significa que podemos tirar proveito dela, ao invés
de sermos vencidos por elas.
3 – EFEITOS DA ADVERSIDADE
Confronta a nossa fé.
Abala o nosso emocional.
Produz
maturidade. “As tribulações aperfeiçoam a vida cristã, quando o crente possui a
convicção firme da esperança do porvir”. A adversidade é um trampolim para a
maturidade.
Nos aproxima mais de Deus (Jó 42.5)
Nos leva a reagir. “As dificuldades devem ser
usadas para crescer e não desencorajar“.
Nos traz oportunidades (1Sm 17.26). “Um
pessimista vê dificuldade em cada oportunidade, um otimista vê oportunidade em
cada dificuldade”.
4 – ADOTE ALGUMAS ATITUDES PARA QUE
AS ADVERSIDADES NÃO SE TORNEM UMA PEDRA DE TROPEÇO
4.1 –
Desabafe com Deus
“Confiai
nele, ó povo, em todos os tempos; derramai perante ele o vosso coração; Deus é
o nosso refúgio” (Sl 62.8).
4.2 –
Reafirme a Soberania de Deus
“Vós, na
verdade, intentastes o mal contra mim; porém Deus o tornou em bem, para fazer,
como vedes agora, que se conserve muita gente em vida” (Gn 50.20).
4.3 – Leia a
Palavra de Deus
“Enviou-lhes
a sua palavra e os sarou, e os livrou do que lhes era mortal” (Sl 107.20).
4.4 – Reveja
os propósitos de Deus no sofrimento
Procure, com
esclarecimento do ESPÍRITO SANTO, tentar discernir qual o propósito de DEUS
nesse problema especifico. Contudo, tome cuidado, pois talvez não consiga
descobrir o motivo. O Senhor quer que cheguemos ao ponto em estejamos desejosos
de confiar nele, e até lhe agradecer por confiar a nós a experiência da
adversidade mesmo que nunca saibamos o porquê.
4.5 –
Compartilhe com um amigo de confiança
“Levai as
cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de CRISTO” (Gl 6.2).
5 – CONCLUSÃO
É importante
entender que há variedades infinitas de adversidades. DEUS pode ter vários
propósitos em mente quando permite que as tribulações entrem em nossas vidas.
Contudo, o assunto central que devemos compreender, é como responder apropriada
e biblicamente aos problemas e tratá-los do modo de DEUS, afim de crescer na semelhança
com CRISTO, e não permitir, de maneira nenhuma, que Satanás os utilize para nos
desencorajar e nos desqualificar para o ministério efetivo.
Surpreendidos pelas tempestades da vida
INTRODUÇÃO
Deus é bom,
sempre bom. Às vezes, porém, não conseguimos ver a bondade de Deus nas
circunstâncias da vida, mas, mesmo assim, Deus continua sendo sempre bom. Havia
um súdito que dizia sempre para o rei que Deus é bom. Um dia saíram para caçar
e um animal feroz atacou o rei e ele perdeu o dedo mínimo. O súdito ainda lhe
disse: Deus é bom. O rei mandou prendê-lo. Noutra caçada o rei foi capturado
por índios antropófagos. Na hora do sacrifício o cacique percebeu que ele era
imperfeito, porque lhe faltava um dedo. O rei foi solto e chegou para o súdito
e disse-lhe: é verdade, Deus é bom. Mas por que então, eu lhe mandei para a
prisão? O súdito, respondeu: porque se estivesse contigo eu seria sacrificado.
As tempestades
da vida não anulam a bondade de Deus. Não haveria o arco-íris sem a tempestade,
nem o dom das lágrimas sem a dor. Só conseguimos enxergar a majestade dos
montes quando estamos no vale. Só enxergamos o brilho das estrelas quando a
noite está trevosa É das profundezas da nossa angústia que nos erguemos para as
maiores conquistas da vida.
Jesus
passara todo o dia ensinando à beira-mar sobre o Reino de Deus. Ao final da
tarde, ele deu uma ordem para os discípulos para entrarem no barco e passarem
para a outra margem, para a região de Gadara, onde havia um homem possesso.
Enquanto atravessam o mar, Jesus cansado da faina, dormiu e uma tempestade
terrível os surpreendeu, enchendo dágua o barco. Os discípulos apavorados
clamaram a Jesus. Ele repreendeu o vento, o mar e os discípulos e aqueles
homens apavorados com a fúria dos ventos ficaram maravilhados diante do seu
milagre.
William
Hendriksen, analisando este texto, diz que podemos sintetizá-lo em seis pontos
básicos: uma noite a bordo; uma tempestade furiosa; um clamor desesperado; um
milagre impressionante; uma reprovação amorosa e um efeito profundo.
I. COMO SÃO
AS TEMPESTADES DA VIDA
Aprendemos
aqui algumas lições importantes:
Em primeiro
lugar, as tempestades da vida são inesperadas. William Barclay diz que o Mar da
Galiléia era famoso por suas tempestades. É um lago de águas doces, de 21
quilômetros de comprimento por 14 de largura, há 220 metros a baixo do nível do
Mar Mediterrâneo e é cercado de montanhas por três lados, que têm até 300 metros
de altura. Os ventos gelados do Monte Hermon (2.790m), coberto de neve durante
todo o ano, algumas vezes, descem com fúria dessa região alcantilada e sopram
com violência, encurralados pelos montes, caindo sobre o lago, encrespando as
ondas e provocando terríveis tempestades. A palavra usada é seismós terremoto
(Mt 24:7). As tempestades da vida são também inesperadas: é um acidente, uma
enfermidade, uma crise no casamento, um desemprego. As tempestades não mandam
telegrama. Elas chegam em nossa vida sem mandar recado e sem pedir licença. As
tempestades, algumas vezes nos colhem de surpresa e nos deixam profundamente
abalados. Como seguidores de Cristo devemos estar preparados para as
tempestades que certamente virão. John Charles Ryle diz que os discípulos tinham
passado o dia ouvindo o Mestre e fazendo sua obra, mas isso não os isentou da
tempestade. Eles amavam a Jesus e tinham deixado tudo para segui-lo, mas isso
não os poupou do mar revolto. As aflições e as tempestades da vida fazem parte
da jornada de todo cristão.
Em segundo
lugar, as tempestades da vida são perigosas. Mateus diz que o barco era varrido
pelas ondas (Mt 8:24). Marcos diz que se levantou grande temporal de vento, e
as ondas se arremessavam contra o barco, de modo que o mesmo já estava a
encher-se de água (Mc 4:37). Lucas diz que sobreveio uma tempestade de vento no
lago, correndo eles o perigo de soçobrar (Lc 8:23). As tempestades da vida
também são ameaçadoras. Elas são perigosas. São verdadeiros abalos sísmicos e
terremotos na nossa vida.
Eu morei nos
Estados Unidos com minha família no ano 2000 e 2001. Estava no meu ano
sabático, fazendo doutorado em ministério na área de pregação no Seminário
Reformado de Jackson, Mississippi. Durante todo o tempo que lá vivemos, ficamos
encantados com a pujança da nação e a segurança que seus cidadãos gozavam.
Findo o nosso tempo na América, era hora de voltar ao Brasil. Nossas malas já
estavam prontas. Nossas passagens já estavam marcadas para regressarmos ao
Brasil no dia 12 de setembro de 2001. No dia 11 de setembro, fui ao seminário
para entregar minha tese e concluir todos os meus compromissos acadêmicos. De
repente comecei assistir uma cena cinematográfica. As torres gêmeas do World
Trade Center estavam em chamas. Pensei que fosse um filme de ficção. Quando
cheguei em casa, minha esposa estava alarmada. Não era um filme, mas uma cena
real e dramática de um atentado terrorista. O símbolo maior da pujança
econômica da nação estava entrando em colapso. Jamais podia imaginar que o país
mais poderoso do mundo pudesse ser tão vulnerável. A tempestade havia chegado
repentinamente e de forma avassaladora.
Muitas
vezes, as tempestades chegam de forma tão intensa que deixam as estruturas da
nossa vida abaladas. Põem no chão aquilo que levamos anos para construir. É um
casamento edificado com abnegação e amor, que se desfaz pela tempestade da
infidelidade conjugal. É um sonho nutrido na alma com tanto desvelo que se
transforma num pesadelo. De repente uma doença incurável abala a família, um
acidente trágico ceifa uma vida cheia de vigor, um divórcio traumático deixa o
cônjuge ferido e os filhos amargurados. Uma amizade construída pelo cimento dos
anos naufraga pela tempestade da traição.
Em terceiro
lugar, as tempestades da vida são inadiministráveis. Elas são maiores do que
nossas forças. Os discípulos se esforçaram para contornar o problema, para
saírem ilesos da tempestade. Mas eles nada puderam fazer para enfrentar a fúria
do vento. Seus esforços não puderam vencer o problema. Eles precisaram clamar a
Jesus. O problema era maior do que a capacidade deles de resolver. Há problemas
que nos deixam com uma profunda sensação de impotência. Não temos força para
resistir a fúria dos ventos e a força das ondas. Certa feita, Josafá, rei de
Judá, foi encurralado por três inimigos que se armaram até os dentes para
atacar Jerusalém. Mandaram-lhe um recado insolente, dizendo que o rei não podia
escapar de suas mãos. Josafá teve medo, pôs-se a buscar a Deus e decretou um
jejum em toda a nação. Então, Josafá orou e disse: “Ó Deus não há em nós força
para resistirmos a essa grande multidão que vem contra nós e não sabemos o que
fazer, mas os nossos olhos estão postos em ti” (2 Cr 20:12). Quando o problema
é maior do que a nossa força, quando não temos capacidade nem estratégia, precisamos
olhar para Deus e depender dele, pois quando a tempestade está fora do nosso
controle, certamente não está fora do controle de Deus.
Em quarto
lugar, as tempestades da vida são surpreendentes. Elas podem transformar
cenários domésticos em lugares ameaçadores. O Mar da Galiléia era um lugar
muito conhecido daqueles discípulos. Alguns deles eram pescadores profissionais
e conheciam cada palmo daquele lago. Muitas vezes eles cruzaram aquele mar
lançando suas redes. Ali era o lugar do seu ganha pão. Mas agora, estão em
apuros. O comum tornou-se um monstro indomável. Aquilo que parecia ser
administrável torna-se uma força incontrolável. Muitas vezes, as tempestades
mais borrascosas que enfrentamos na vida não vêm de horizontes distantes nem
trazem coisas novas, mas apanham aquilo que era ordinário e comum em nossa vida
e bota tudo de cabeça para baixo. Muitas vezes, é o cônjuge que foi fiel tantos
anos que dá uma guinada e se transforma numa pessoa amarga, agressiva e
abandona o casamento para viver uma aventura com outra pessoa. Outras vezes, é
o filho obediente que resvala os pés e transforma-se numa pessoa agressiva,
irreverente, dissimulada e insolente com os pais. Ainda hoje, há momentos em
que as crises maiores que enfrentamos nos vêm daqueles lugares onde
sentíamo-nos mais seguros.
II. OS
CONFLITOS QUE ENFRENTAMOS NAS TEMPESTADES DA VIDA
Esse texto
nos apresenta algumas tensões que enfrentamos nas tempestades da vida:
Em primeiro
lugar, como conciliar a obediência a Cristo com a tempestade (4:35). Os
discípulos entraram no barco por ordem expressa de Jesus e mesmo assim,
enfrentaram a tempestade. Eles estavam no centro da vontade de Deus e ainda
enfrentaram ventos contrários. Eles estavam onde Jesus os mandou estar, fazendo
o que Jesus os mandou fazer, indo para onde Jesus os mandou ir e mesmo assim,
enfrentaram uma terrível borrasca.
Jonas
enfrentou uma tempestade porque desobedecia a Deus; os discípulos porque
obedeciam. Você tem enfrentado tempestade pelo fato de andar com Deus, de
obedecer aos mandamentos de Jesus? Você tem sofrido oposição e perseguição por
ser fiel a Deus. Tem perdido oportunidade de negócios por não transigir. Tem
perdido concorrências em seus negócios por não dar propina. Tem sido
considerado um estorvo no seu ambiente de trabalho por não se envolver no
esquema de corrupção. Há momentos que sofremos, não por estarmos na contramão,
mas por andarmos pelo caminho direito. O mundo odiou a Cristo e também vai nos
odiar. Seremos perseguidos por vivermos na luz.
Em segundo
lugar, como conciliar a tempestade com a presença de Jesus (4:35, 36). O fato
de Jesus estar conosco não nos poupa de certas tempestades. Ser cristão não é
viver numa redoma de vidro, numa estufa espiritual. O céu não é aqui. Jesus foi
a uma festa de casamento e mesmo ele estando lá, faltou vinho. Um crente que
anda com Jesus pode e muitas vezes enfrenta também terríveis tempestades. Jesus
passara todo aquele dia ensinando os discípulos as parábolas do Reino. Mas
agora viria uma lição prática. Jesus sabia da tempestade. Ela estava no
currículo de Jesus para aquele dia. A tempestade ajudou os discípulos a
entenderem que podemos confiar em Jesus nas tempestades da vida.
Em terceiro
lugar, como conciliar a tempestade com o sono de Jesus. Talvez o maior drama
dos discípulos não foi a tempestade, mas o fato de Jesus estar dormindo durante
a tempestade. Na hora do maior aperto dos discípulos, Jesus estava dormindo. Às
vezes, temos a sensação de que Deus está dormindo. O Salmo 73 fala sobre o sono
de Deus. Aquele que não dormita nem dorme, às vezes, parece não estar atento
aos dramas da nossa vida e isso gera uma grande angústia em nossa alma.
III. AS
GRANDES PERGUNTAS FEITAS NAS TEMPESTADES DA VIDA
Esse texto
apresenta-nos três perguntas. Todas elas são instrutivas. Elas nos apresentam a
estrutura do texto. As lições emanam dessas perguntas. Aqui temos a pedagogia
da tempestade:
1. Mestre,
não te importa que pereçamos (4.38)
Essa
pergunta nasceu do ventre de uma grande crise. Seu parto se deu num berço de
muito sofrimento. Os discípulos estavam vendo a carranca da morte. O mar
embravecido parecia sepultar suas últimas esperanças. Depois de esgotados todos
os esforços e baldados todos os expedientes humanos, eles clamaram a Jesus:
“Mestre, não te importa que pereçamos”.
Em primeiro
lugar, esse grito evidencia o medo gerado pela tempestade. A tempestade provoca
medo em nós, porque ela é maior do que nós. Em tempos de doença, perigo de
morte, desastres naturais, catástrofes, terremotos, guerras, comoção social,
tragédias humanas, explode do nosso peito este mesmo grito de medo e dor:
“Mestre, não te importa que pereçamos?” (Mc 4:38). Mateus registra: “Senhor,
salva-nos! Perecemos!” (Mt 8:25). Lucas diz: “Mestre, Mestre estamos
perecendo!” (Lc 8:24). Essas palavras expressaram mais uma crítica do que um
pedido de ajuda. Às vezes é mais fácil reclamar de Deus do que depositar nossa
ansiedade aos seus pés e descansar na sua providência.
Um dos
momentos mais comoventes que experimentei na vida foi a visita que fiz ao museu
Yad Vasheim, em Jerusalém. Esse museu é um memorial das vítimas do holocausto.
Seis milhões de judeus pereceram nos campos de concentração nazista, nos
paredões de fuzilamento e nas câmaras de gás. Um milhão e meio de crianças
foram mortas sem qualquer piedade. No jardim de entrada do museu há um
monumento de uma mulher cuja cabeça é uma boca aberta com dois filhos mortos no
colo. Essa mulher retrata o desespero de milhares de mães que ergueram seu
grito de dor, sem que o mundo as ouvisse. Representa o sofrimento indescritível
daquelas mães que marchavam para a morte e viam seus filhos tenros e indefesos
serem vítimas da mais brutal e perversa perseguição de todos os tempos. Ao
entrar no museu, enquanto caminhava por uma passarela escura, sob o som
perturbador do choro e gemido de crianças, vi um milhão e meio de velas acesas,
refletidas em espelhos. Enquanto cruzava aquele corredor de lembranças tão
amargas não pude conter as lágrimas. Lembrei-me do medo, pavor e desespero que
tomou conta dos pais naqueles seis anos de barbárie e cruel perseguição.
Quantas vezes, nas tempestades avassaladoras da vida também encharcamos a nossa
alma de medo. Os problemas se agigantam, o mar se revolta, as ondas se
encapelam e o vento nos açoita com desmesurado rigor.
Em segundo
lugar, esse grito evidencia alguma fé. Se os discípulos estivessem
completamente sem fé, eles não teriam apelado a Jesus. Eles não o teriam
chamado de Mestre. Eles não teriam pedido a ele para salvá-los. Naquela noite
trevosa, de mar revolto, de ondas assombrosas que chicoteavam o barco e
ameaçava engoli-los, reluz um lampejo de fé. Quantas vezes, nessas horas também
nos voltamos para Deus em forte clamor. Quantas vezes há urgência na nossa voz.
Na hora da tempestade, quando os nossos recursos se esgotam, a nossa força se
esvai precisamos clamar ao Senhor. Quando as coisas fogem do nosso controle,
continuam ainda sob o total controle de Jesus. Para ele não há causa perdida.
Ele é o Deus dos impossíveis.
Em terceiro
lugar, esse grito evidencia uma fé deficiente. Se os discípulos tivessem uma fé
madura, eles não teriam se entregue ao pânico e ao desespero. A causa do
desespero não era a tempestade, mas a falta de fé. O perigo maior que
enfrentavam não era a fúria do vento ao redor deles, mas a incredulidade dentro
deles. Havia deficiência de fé no conhecimento deles. Mesmo dormindo Jesus
sabia da tempestade e das necessidades deles. Havia deficiência de fé na
convicção do cuidado de Cristo. Jesus já havia provado para eles que ele se
importava com eles.
Um dos sentimentos
que nos assaltam na hora da tempestade é que Deus não se importa conosco. Somos
apressados em concluir que ele está indiferente à nossa dor. Mas quando
julgamos que ele está longe ou indiferente, ele sabe o que está fazendo. Não há
Deus como o nosso que trabalha para aqueles que nele esperam. Ele trabalha no
turno da noite preparando algo melhor e maior para a nossa vida. Quando ele
permite a tempestade é porque está desejoso de nos ensinar profundas lições de
vida.
2. Por que
sois assim tímidos. Por que não tendes fé (4.40)
Os
discípulos falharam no teste prático e revelaram medo e não fé. Onde o medo
prevalece, a fé desaparece. Ficamos com medo porque duvidamos que Deus está no
controle. Enchemos nossa alma de pavor porque pensamos que as coisas estão fora
de controle. Desesperamo-nos porque julgamos que estamos abandonados à nossa
própria sorte. A palavra grega para medo deiloi significa “medo covarde”. Os
discípulos estavam agindo covardemente, quando poderiam ter agido com plena
confiança em Jesus. Aqueles discípulos deviam ter fé e não medo, e isso por
quatro razões:
Em primeiro
lugar, a promessa de Jesus (4:35). Jesus havia empenhado sua palavra a eles:
“passemos para a outra margem”. O destino deles não era o naufrágio, mas a
outra margem. O Senhor vela pela sua palavra em a cumprir. Quando ele fala, ele
cumpre. Promessa e realidade são a mesma coisa. A Palavra de Jesus, as
promessas de Jesus não podem ser frustradas. São planos são perfeitos. Pode
passar o céu e a terra, mas as palavras do Senhor não passarão. O que ele fala,
ele cumpre. Ele não é homem para mentir. Ele é a verdade.
Jesus não
promete viagem calma e fácil, mas garante chegada certa e segura. Jesus não nos
promete ausência de luta, mas vitória garantida. A palavra de ordem de Jesus
tornou-se uma promessa segura de Jesus. Essa promessa deveria ter encorajado e
fortalecido os discípulos (Sl 89:9).
Quando o
medo assaltar a sua fé, agarre-se nas palavras e nas promessas de Jesus. Quando
as pessoas à sua volta disserem para você que a situação está perdida e que não
existe mais solução, creia na Palavra de Jesus. Para ele não há impossíveis.
Ele caminha sobre as ondas. Ele põe termo à guerra. Ele salva o perdido, cura o
enfermo, levanta o caído e faz novas todas as coisas.
Em segundo
lugar, a presença de Jesus (4:36). É a presença de Jesus que nos livra do temor.
Davi diz que ainda que andasse pelo vale da sombra da morte não temeria mal
algum (Sl 23:4). Não porque o vale seria um caminho seguro. Não porque a
circunstância era fácil de enfrentar, mas porque a presença de Deus era o seu
amparo. A presença de Deus nas tempestades é nossa âncora e nosso porto seguro.
O profeta Isaías ergue sua voz em nome de Deus e diz que quando tivermos que
passar pelas águas revoltas do mar da vida, Deus estaria com conosco. Quando
precisássemos cruzar os rios caudalosos eles não nos submergiriam. Quando
tivéssemos que entrar nas fornalhas acesas da perseguição e do sofrimento, a
chama não arderia em nós, porque Deus estaria conosco (Is 43:1-3). Jesus disse
aos seus discípulos: “Eis que estou convosco todos os dias até a consumação dos
séculos” (Mt 28:20). Os discípulos se entregaram ao medo porque esqueceram-se
de que Jesus estava com eles. O Rei do céu e da terra estava no mesmo barco e
por isso, o barco não podia afundar. O criador do vento e do mar está conosco,
não precisamos ter medo das tempestades.
Quando dos
discípulos noutra ocasião enfrentaram a fúria desse mesmo mar, Jesus apareceu a
eles andando sobre as águas e dizendo-lhes: “Não tenham medo, sou eu.” Queridos
leitores, as tempestades virão. Elas podem ser maiores do que nossas forças.
Elas podem desafiar nossa capacidade de resistência. Elas podem tirar o leme do
nosso barco das nossas mãos. As coisas podem fugir do nosso controle. Mas, o
Senhor do céu e da terra, prometeu estar conosco sempre. Ele é o nosso refúgio
e libertador. Sendo ele o nosso guia e protetor nada precisamos temer.
Em terceiro
lugar, a paz de Jesus (4:38). Enquanto a tempestade rugia com toda fúria, Jesus
estava dormindo. Dewey Mulholland diz que assim como o homem que jogou a
semente no solo e depois adormeceu tranquilamente (4.26), Jesus descansa certo
de que o Pai cuidará dele e da semente que plantara. Será que Jesus sabia que a
tempestade viria. É óbvio que sim. Ele sabe todas as coisas, nada o apanha de
surpresa. Aquela tempestade estava na agenda de Jesus; ela fazia parte do
curriculo de treinamento dos discípulos. Mas, se Jesus sabia da tempestade, por
que durmiu. Ele dormiu por duas razões: dormiu porque descansava totalmente na
providência do Pai; dormiu porque sabia a tempestade seria pedagógica na vida
dos seus discípulos. O fato de Jesus estar descansando na tempestade já deveria
ter acalmado e encorajado os discípulos. Jesus estava descansando na vontade do
Pai e sabia que o Pai podia cuidar dele enquanto dormia. Isso é paz no vale. Jonas
dormiu na tempestade com uma falsa segurança, visto que estava fugindo de Deus.
Jesus dormiu na tempestade porque ele estava verdadeiramente seguro na vontade
do Pai.
As
tempestades da vida podem nos abalar, mas não abalam o nosso Senhor. Elas podem
ficar fora do nosso controle, mas não fora do controle de Jesus. Quando Jesus
chegou na aldeia de Betânia, Marta disse para ele: “Se tu estiveras aqui meu
irmão não teria morrido”. Ela pensou que a morte colocava um ponto final nas
inesgotáveis possibilidades de Jesus. Ela pensou que a morte tinha a última
palavra. Jesus ao chegar no túmulo de Lázaro, disse: “Tirai a pedra”. Marta
retrucou: “Já cheira mal”. Agora é tarde, não se pode fazer mais nada. Mas
Jesus disse: “Se creres, verás a glória de Deus”. Para Jesus não há causa
perdida, não há problema insolúvel. Mesmo que você esteja no fundo do poço, no
fim da linha e tenha chegado um estado de completo esgotamento, Jesus pode
colocar você de pé e fazer um milagre. Lázaro estava morto e sepultado há
quatro dias, mas ele ouviu a voz de Jesus e saiu do túmulo. A morte não tem a
última palavra. Jesus está no controle!
Em quarto
lugar, o poder de Jesus (4:39). Aquele que estava no barco com os discípulos é
o criador da natureza. As leis da natureza estão nas suas mãos. Ele controla o
universo. A natureza ouve a sua voz e o obedece. Seguimos ao Senhor que tem
todo poder e autoridade no céu e na terra. Ele trabalha em nosso favor. Ele nos
conheceu e nos amou antes da fundação do mundo. Ele já nos destinou para a glória.
Ele nos chamou e converteu o nosso coração. Somos dele. Ele cuida de nós. Quem
tocar em nós, toca na menina dos seus olhos.
Marcos
insere esse registro da tempestade num contexto que enaltece e destaca o poder
de Jesus. Ele está revelando seu poder sobre as leis da natureza, acalmando o
mar. Ele revela sua autoridade sobre os demônios, libertando o gadareno de uma
legião, ou seja, seis mil demônios. Ele acentua sua autoridade sobre a
enfermidade, curando uma mulher hemorrágica, que vivia doze anos prisioneira de
sua enfermidade. Ele ressuscita a filha de Jairo, para provar que até a morte
está debaixo da sua absoluta autoridade e poder.
Jesus
repreendeu o vento e o mar e eles se aquietaram e se emudeceram. Adolf Pohl
diz: “Não temos mais Jesus adormecido no rugido da tempestade, mas a tempestade
adormecida aos pés do Senhor que dera a ordem”. Ele tem poder para repreender
também os problemas que nos atacam, a enfermidade que nos assola, a crise que
nos cerca, as aflições que nos oprimem. Jesus repreendeu o mar pela sua fúria e
depois repreendeu os discípulos pela sua falta de fé. Muitas vezes, a
tempestade mais perigosa não é aquela levanta os ventos e agita o mar, mas a
tempestade do medo e da incredulidade. O nosso maior problema não está ao nosso
redor, mas dentro de nós. O Senhor é a nossa bandeira. É o nosso defensor. Ele
é o nosso escudo. Não precisamos temer.
3. Quem é
este que até o vento e o mar lhe obedecem (4.41)
As
tempestades são pedagógicas. Elas são a escola de Deus para nos ensinar as maiores
lições da vida. Aprendemos mais na tempestade do que nos tempos de bonança. Foi
através do livramento da tempestade que eles tiveram uma visão mais clara da
grandeza singular de Jesus. Os discípulos que estavam com medo da tempestade,
estão agora cheios de temor diante da majestade de Jesus. A palavra grega para
medo aqui, phobeo é outra e não significa medo covarde, mas temor reverente.
Seu medo e a falta de fé vêm à tona por um único motivo: eles não sabem quem é
Jesus. Quando passa o medo da tempestade e da morte, eles são acometidos por um
outro tipo de temor; uma sensação de assombro, porque Deus estava bem ali. Eles
passaram a ter uma fé real e experimental e não uma fé de segunda-mão. A
pergunta deles é respondida pelo próprio texto em apreço.
Em primeiro
lugar, Jesus é o mestre supremo que veio estabelecer o Reino de Deus (34,38).
Jesus ensinou através das parábolas do Reino e também através da tempestade.
Seus métodos são variados, seu ensino eficaz. Ele é o grande Mestre que nos
ensina pela Escritura e também pelas circunstâncias da vida. Devemos aprender
com ele e sobre ele. O Reino chegou com o Rei. Ele é o Rei. O Reino já foi
inaugurado. O Reino já está entre nós e dentro de nós.
Em segundo
lugar, Jesus é perfeitamente homem (4:38). O sono de Jesus mostra-nos sua
perfeitamente humanidade. O verbo se fez carne. Deus se fez homem. O infinito
entrou no tempo. Aquele que nem o céu dos céus podem conter foi enfaixado em
panos e deitado numa manjedoura. Aquele é criador e dono do universo se fez pobre
e não tinha onde reclinar a cabeça. Esse é um grande mistério. Quem pode crer
na encarnação de Jesus não deveria mais duvidar de nenhum de seus gloriosos
milagres.
Em terceiro
lugar, Jesus é perfeitamente Deus (4:39). Ele é o criador, sustentador e o interventor
na natureza. O vento ouve a sua voz. O mar se acalma quando ele fala. Todo o
universo se curva diante da sua autoridade. Ele é o verdadeiro Deus. É ele quem
livra o seu povo e acalma as nossas tempestades. É ele quem acalma os
terremotos da nossa alma. Ernesto Trenchard diz que todos os milagres, este é
onde vemos mais intimamente entrelaçados a humanidade e a divindade do Senhor
Jesus. O mesmo Jesus que dormiu exausto depois de um dia de ensino, levanta-se
e repreende o vento e o mar.
Em quarto
lugar, Jesus é o benfeitor desconhecido (4:36). Algumas pessoas que enfrentavam
a mesma tempestade naquele mar, seguindo a carava em outros barcos, foram
beneficiadas sem saber que a bonança fora intervenção de Jesus. Há muitas
pessoas que recebem milagres e livramentos, mas não sabem que esses prodígios
vieram das mãos de Jesus.
Em quinto
lugar, Jesus é aquele que tem toda autoridade para libertar o aflito (4:39,41).
A pergunta foi: “Quem é este que até o vento e o mar lhe obedecem?”. O contexto
mostra que Jesus é o Senhor sobre cada circunstância e o vencedor dos inimigos
que nos ameaçam: 1) Vitória sobre os perigos – Mc 4:35-41; 2) Vitória sobre os
demônios – Mc 5:1-20; 3) Vitória sobre a enfermidade – Mc 5:21-34; 4) Vitória
sobre a morte – Mc 5:35-43.
A
intervenção soberana de Jesus, às vezes, acontece quando todos os recursos
humanos acabam. Nossa extremidade é a oportunidade de Deus.
As
tempestades fazem parte do currículo de Jesus para nos fortalecer na fé. As
provas não vêm para nos destruir, mas para nos fortalecer. O fogo não vêm para
nos destruir, mas para nos purificar. Jesus está no controle das tempestades
que nos ameaçam. Ele pode fazê-las cessar a qualquer momento!
As grandes
lições da vida nós as aprendemos nas tempestades. Na Costa da Califórnia há uma
praia famosa que se chama “Pebble Beach” em uma reentrância cercada de
muralhas, as pedras, impelidas pelas ondas, se atiram umas contras as outras e
também nas saliências agudas dos penhascos. Turistas de todas as partes do
mundo ali já se têm reunido para recolher daquelas pedras arredondadas e
preciosas. Elas servem de ornamentos para escritórios e salas de visita. Ali
bem perto há uma outra enseada em que se não verifica a mesma tormenta. Existem
ali pedras em grande abundância, mas nunca são escolhidas pelos viajantes. Elas
escaparam do alvoroço e da trituração das ondas. A quietude e a paz as deixam
como as encontraram: toscas, angulosas e sem beleza. O polimento das outras,
tão apreciadas se verifica por meio da tribulação constante. Comentando esse
fato, um escritor escreveu: “Quase todas as jóias de Deus são lágrimas
cristalizadas.”
Quando Jesus
fez cessar o vento e o mar, e eles se acalmaram como uma criança que se aquieta
diante da ordem e autoridade do pai, Mateus diz que os discípulos se
maravilharam. Marcos diz que eles temeram grandemente. Antes eles tinham medo
da natureza. Agora eles temem o criador da natureza. Antes eles estavam
amedrontados pelo vento, agora estão cheios de temor pelo Senhor do vento.
Agora eles estão cheios de temor e admiração diante do poder de Jesus.
A quem você
teme: as circunstâncias ou o Senhor das circunstâncias?
Rev.
Hernandes Dias Lopes
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