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aulo falou sobre a questão da carne apresentando-a como um
inimigo que impede o homem a servir a Deus em Romanos 8.5-9 e destacou suas
obras em Gálatas 5.19, 20.
A palavra carne na Bíblia têm dois sentidos:
corpo e natureza pecaminosa. O corpo foi formado por Deus, já a natureza
pecaminosa o homem adquiriu logo após a queda. É preciso muito cuidado nessa
questão, pois algumas vezes a palavra carne pode ser confundida por corpo, em
vez da natureza pecaminosa. Jó e Paulo respectivamente em Jó 19.26 e 1
Coríntios 15.39 falam da carne no sentido corpo, já em Romanos 8.9 e Gálatas
2.20, Paulo fala de carne no sentido de natureza pecaminosa.
Pode-se dizer, teologicamente, que a carne na
Bíblia não tem apenas o sentido de corpo, ela pode também referir-se ao
espírito, pois comete pecado. Quando Deus criou o homem, Ele o fez sem pecado;
ao pecar o homem herdou a natureza pecaminosa, por essa razão que o seu corpo
precisa passar pela transformação gloriosa da qual Paulo fala (1Co 15. 53.54).
Já falamos que sárx é o termo usado no Novo Testamento para expressar a
realidade da natureza pecaminosa do homem, ela destaca a personalidade humana
separada de Deus, fora da influência do Espírito Santo, razão pela qual as obras maléficas da carne aparecem conforme descrito em Gálatas 5,19-21 e Colossenses 3.5-9. Não é fácil entendermos no seu aspecto geral os diversos sentidos da expressão sárx. Como já mencionamos, ela está marcada de mistério, mas Agostinho procurou dividir as obras da carne em dois ramos: Ramo do Orgulho e Ramo da Sensualidade.
Esses dois ramos juntos produzem todo tipo de pecado, isto segundo Agostinho. Já Lutero dizia que a raiz da carne era a incredulidade, e não o orgulho; porém, a conclusão a que se chega é a seguinte: a carne age fora da esfera do Espírito Santo, ela tem seu próprio mundo, de modo que suas ações sempre se inclinam para coisas más, pois a carne está fora de Deus, antes deseja colocar o homem no lugar de Deus. Paulo diz que quem vive dominado pela “carne” não pode agradar a Deus (Rm 8.8). “Carne” aqui pode ser uma referência à substância física, o corpo do homem, como também à natureza pecaminosa. E ela que pode levar o cristão a viver e apresentar aspectos negativos em sua vida.
O que se pode dizer em relação às obras da carne é que: por trás dela existe uma deserdação absoluta e irreconciliável, pois a carne é incrédula e independente de Deus, age no princípio do egoísmo, com base nas trevas, para que uma nova luz possa surgir é preciso que o Espírito Santo entre no coração do homem para conduzi-lo às verdades divinas.
Jesus é quem pode libertar todos quantos estão dominados pelo poder da carne (Jo 8.31,32), oferecer ao homem a libertação espiritual e conduzi-lo à comunhão com o Espírito Santo de Deus, de modo que ele não estará mais em trevas (Jo 1.5-7). O Espírito Santo mostra ao pecador a necessidade de abandonar as obras da carne para ter o caráter de Cristo. Ademais, Ele aplica ao coração do homem os ensinamentos cristalinos das Sagradas Escrituras. Por meio deles é possível viver a verdadeira e dinâmica vida no Espírito. Já dissemos também que a carne trabalha buscando independência, ela age fora de Deus. Os perigos da obra da carne são que, além de ser dominada completamente pela incredulidade, agindo na vida do homem, ela quer mostrar que o mesmo não precisa mais de Deus, pois já alcançou a maioridade e pode seguir seu caminho sem depender de qualquer divindade.
Paulo em sua segunda carta a Timóteo, capítulo 3, mostra uma sociedade dominada pela carne, que deixa Deus de fora, mas que adota uma piedade falsa (2 Tm 3.1-5), dessa maneira vive como se tudo estivesse normal, mas se esquece de que suas ações são obras puramente da carne.
Todos nós precisamos da presença do Espírito Santo de Deus para não sermos dominados pelas obras da carne, que pode resultar em religiosidade carnal, avivamento carnal, ou experiências puramente no campo carnal.
Esses dois ramos juntos produzem todo tipo de pecado, isto segundo Agostinho. Já Lutero dizia que a raiz da carne era a incredulidade, e não o orgulho; porém, a conclusão a que se chega é a seguinte: a carne age fora da esfera do Espírito Santo, ela tem seu próprio mundo, de modo que suas ações sempre se inclinam para coisas más, pois a carne está fora de Deus, antes deseja colocar o homem no lugar de Deus. Paulo diz que quem vive dominado pela “carne” não pode agradar a Deus (Rm 8.8). “Carne” aqui pode ser uma referência à substância física, o corpo do homem, como também à natureza pecaminosa. E ela que pode levar o cristão a viver e apresentar aspectos negativos em sua vida.
O que se pode dizer em relação às obras da carne é que: por trás dela existe uma deserdação absoluta e irreconciliável, pois a carne é incrédula e independente de Deus, age no princípio do egoísmo, com base nas trevas, para que uma nova luz possa surgir é preciso que o Espírito Santo entre no coração do homem para conduzi-lo às verdades divinas.
Jesus é quem pode libertar todos quantos estão dominados pelo poder da carne (Jo 8.31,32), oferecer ao homem a libertação espiritual e conduzi-lo à comunhão com o Espírito Santo de Deus, de modo que ele não estará mais em trevas (Jo 1.5-7). O Espírito Santo mostra ao pecador a necessidade de abandonar as obras da carne para ter o caráter de Cristo. Ademais, Ele aplica ao coração do homem os ensinamentos cristalinos das Sagradas Escrituras. Por meio deles é possível viver a verdadeira e dinâmica vida no Espírito. Já dissemos também que a carne trabalha buscando independência, ela age fora de Deus. Os perigos da obra da carne são que, além de ser dominada completamente pela incredulidade, agindo na vida do homem, ela quer mostrar que o mesmo não precisa mais de Deus, pois já alcançou a maioridade e pode seguir seu caminho sem depender de qualquer divindade.
Paulo em sua segunda carta a Timóteo, capítulo 3, mostra uma sociedade dominada pela carne, que deixa Deus de fora, mas que adota uma piedade falsa (2 Tm 3.1-5), dessa maneira vive como se tudo estivesse normal, mas se esquece de que suas ações são obras puramente da carne.
Todos nós precisamos da presença do Espírito Santo de Deus para não sermos dominados pelas obras da carne, que pode resultar em religiosidade carnal, avivamento carnal, ou experiências puramente no campo carnal.
A Degradação do Caráter Cristão
A concupiscência da carne está ligada à natureza pecaminosa do homem, é claro já falamos que o termo concupiscência pode ter seu lado positivo e negativo. No sentido positivo, falando de desejo, a epithumía aparece em Lucas 22.15; 1 Tessalonicenses 2.17, porém, no Novo Testamento essa palavra recebe mais uma conceituação negativa, apontando para desejos impuros, como procediam os pagãos (Rm 1.24).
O que degrada o homem é a natureza pecaminosa, e quem não tem o Espírito Santo sempre irá desejar aquilo que contraria a vontade de Deus. Precisamos saber que são os desejos influenciados pela carne que produzem pecados mais grosseiros, levando pessoas a um estilo de vida aviltado, o que fere grandemente a santidade de Deus.
O cristão pode desejar algo, isso não é errado, mas desejos que vêm dominados pela concupiscência da carne devem ser evitados, porquanto eles causam grandes estragos. Jamais devemos agir como os estoicos, os quais procuravam fugir dos desejos, pelo contrário, os desejos que não ferem e o homem m nada a santidade de Deus podem ser cultivados, porém, aqueles que se comprazem na prática do mal, da prostituição, na corrupção, no sexo ilícito, prontamente devem ser rejeitados (2 Tm 2.22; Cl 3.5; 1 Pe 2.11; 2 Pe 1.4; 2.10).
Para o cristão não se deixar dominar pela concupiscência da carne precisa do Espírito Santo de Deus, caso contrário os desejos pecaminosos irão derrota-lo (Ef 5.5,6).
A concupiscência da carne no livro de João não tem o mesmo sentido do que Paulo escreveu em Romanos 8.8. Paulo fala da carne no sentido da natureza pecaminosa, já o apóstolo João descreve sárx como Jesus tornando-se pessoa humana (Jo 1.14; 1 Jo 4.2). Podemos dizer que a palavra concupiscência nos escritos de João fala de “desejos físicos”, e mencionamos anteriormente que ter desejos não é pecado.
A carne pode desejar comida, festa, passeio e coisas desta vida. O problema está quando tais desejos vêm influenciados pela natureza pecaminosa, porque desse modo pode levar o homem para uma degradação espiritual completa. Nosso corpo e olhos podem desejar o que é material, mas não podemos colocar nossos desejos e olhos apenas no que é deste mundo. Esse é o ensino que João nos dá quando faz uso da palavra sárx.
Ao pecar o homem tomou-se depravado, ficou desprovido da justiça original de Deus e do desejo pelas coisas santas, sua natureza ficou adulterada e cedendo fortemente para o mal, por isso a ênfase da Bíblia é que o homem possa nascer de novo (Jo 3.3).
Ao falarmos sobre a depravação do homem, não queremos dizer que nele não exista qualquer coisa boa, que todas as suas ações são pecaminosas e opostas a Deus, nada disso, na Bíblia o próprio Senhor Jesus destacou coisas importantes nos homens (Mt 23.23), e nas palavras de Paulo é destacado que certos gentios agiam segundo a Lei (Rm 2.14).
A grande questão na depravação do homem, que o leva a ter um viver que não agrada a Deus, é que ele sempre vai preferir a si próprio (2 Tm 3.4), posto que está destituído do amor verdadeiro de Deus, para amá-lo de todo coração e com todas as suas forças, sempre desejando fazer a sua vontade (Dt 6.4,5; Mt 22.35-38). Na degradação espiritual o homem procura colocar-se em primeiro lugar, e passa a ter aversão a Deus, isso porque todo o seu ser está corrompido pela natureza pecaminosa, quer seja coração, pensamentos, sentimentos e vontade (Ef 4.18), de modo que está em inimizade com o Senhor (Rm 7.18).
Vivendo em estado de depravação o homem não pode por si mesmo mudar seu caráter, ele não tem poder para conduzir sua vida segundo o desejo de Deus e não consegue adequar-se a sua Lei. O homem não pode dominar o seu eu para dirigir-se a Deus com prazer. Caso ele deseje realmente uma transformação, tem que depender da ajuda do Espírito Santo.
O homem pode, até certo momento, com a liberdade que tem de praticar certas coisas boas, escolher não cometer pecados contra Deus e resistir à tentação, mas tais ações são motivadas por seus próprios motivos, não por meio da ação direta do Espírito Santo de Deus.
Ao pecar, o homem não perdeu sua capacidade pensante nem sua livre agência, ele pode determinar seus atos e ter inclinação para o que é bom, contudo sua bondade não agrada a Deus, pois não é oriunda da ação direta do Espírito Santo. É tão somente por meio do Espírito Santo que o homem pode ter o seu coração transformado, ações adequadas e exercer verdadeira fé para com Deus.
A Vida que não Agrada a Deus
A carne é inimiga do Espírito Santo. Desse modo facilmente podemos concluir que ela jamais irá querer agradar a Deus, já que se opõe a Ele constantemente. Os que vivem na carne, diz Paulo, não têm uma vida que agrada a Deus, isso só é possível quando uma nova natureza é implantada dentro do homem.
A expressão agradar a Deus, segundo Paulo, na verdade é expressar um viver em plena harmonia com Deus, uma vida que de fato já foi transformada ou santificada pelo Espírito Santo. O homem pode ter coisas boas em sua vida, mas caso não seja transformada pelo Espírito, tudo resultará em obras, e jamais chamará a atenção de Deus. Deus tem prazer em tudo o que fazemos quando nascemos outra vez por meio do sacrifício do seu Filho Jesus Cristo.
Para Deus somente a obra não basta, muitas igrejas da Ásia tinham muitas obras, eram atuantes, como no caso da igreja de Éfeso, o apóstolo mostra que ela tinha muitas obras, mas Deus não aprovou completamente o seu trabalho, posto que estava faltando o primeiro amor (Ap 2.4).
Deus deseja da parte do homem ações, mas que elas brotem de uma vida transformada, aperfeiçoada em Cristo (2 Co 3.18). É importante ressaltar aqui que, quando Paulo faz menção de agradar, deve estar ligado à santificação, que já está declarando a ação do Espírito Santo na vida do homem. O que agrada a Deus não é o que o homem faz, mas, sim, o que o Espírito Santo faz no homem. Desse modo, podemos dizer que os que estão na carne não têm nada para chamar a atenção de Deus, visto que o Espírito de Deus ainda não trabalhou em seu ser.
Deus sempre se agradou do seu Filho, porque o Espírito Santo estava nEle, e Ele procurava fazer sempre aquilo que agradava o Pai (Mt 3.17; Lc 4.18). E aquele que me enviou está comigo; o Pai não me tem deixado só, porque eu faço sempre o que lhe agrada. (Jo 8.29).
Não agradamos a Deus realizando grandes sacrifícios, não agradamos por meio de muitos trabalhos, nem por sermos religiosos, antes, agradamos a Deus quando correspondemos aos seus ideais, quando o seu Espírito atua em nossa vida, pois desse modo estamos participando de sua natureza divina.
A Bíblia mostra Caim querendo agradar a Deus, mas tudo foi em vão, porque ele andava dominado pela carne, quem mandava em sua vida era o Maligno, a natureza velha, de modo que suas ações eram motivadas com outras intenções. Não como Caim, que era do maligno, e matou a seu irmão. E por que causa o matou? Porque as suas obras eram más e as de seu irmão, justas.
Coloque em sua mente que jamais podemos agradar a Deus apenas com o que fazemos; na verdade, o que agrada a Deus é um espírito contrito, arrependido, que se deixa moldar pelo Espírito Santo (Sl 51.17). Não pense que seus muitos sacrifícios e o cumprimento de regras tocam o coração de Deus, o que lhe agrada é quando o homem se volta para o seu filho Jesus Cristo (1 Jo 2.2). Os judeus pensavam que tão somente guardando a Lei iriam produzir um tipo de justiça que agradaria a Deus, mas Paulo fala que isso não causa prazer em Deus, somente a justiça de Cristo na vida do homem é o que agrada ao Senhor. No Antigo Testamento está claro que Abraão agradou a Deus porque creu plenamente nEle (Gn 15.6). O caminho para quem deseja agradar a Deus é deixar de ser carnal e seguir a Cristo Jesus (Jo 14.6), pois é seu sacrifício que dá prazer ao Pai. Quem vive na carne não pode agradar a Deus, porque quem o domina é a natureza pecaminosa. Estava claro na Lei que todos deveriam amar a Deus e amar o próximo, mas o trabalho da carne é fazer do homem um ser egoísta que pensa apenas em si e prioriza suas vantagens.
Os homens do presente século tentam dissimular suas obras da carne por intermédio da cultura, tradição, arte e razão, porém de maneira oculta o que realmente domina é a carne. Para que se possa de fato agradar ao Pai é preciso que o homem renda-se ao Espírito Santo de Deus e seja educado pela graça de Deus (Tt 2.11).
Produzindo Frutos Diferentes
Em Mateus 7.17-20 Jesus disse:
Não pode a árvore boa dar maus frutos; nem a árvore má dar frutos bons. Toda a árvore que não dá bom fruto corta-se e lança-se no fogo. Portanto, pelos seus frutos os conhecereis. (Mt 7.18-20)
O cristão precisa produzir frutos diferentes daqueles que vivem nos domínios da carne, isso porque sua vida já foi transformada e, agora, é dirigida pelo Espírito Santo. Os que vivem a nova vida são saudáveis e expressam que tem ligação com o que Jesus falou: “árvore boa”. Os que são dominados pela natureza pecaminosa, conforme descrito na citação acima, são considerados por Jesus árvores más, que apontam para a podridão ou estrago, sendo assim jamais poderão produzir frutos de qualidade, tudo que fazem não tem utilidade para Deus, porquanto suas obras são ruins e inúteis (Mt 13.48).
Para se produzir fruto diferente é preciso que haja um tratamento, Jesus disse que a árvore que dá bom fruto deve ser bem tratada. Uma árvore má, no caso de uma videira que não é bem tratada, poderá dar frutos de péssima qualidade, como, por exemplo, uvas azedas demais.
Isso que aconteceu com Israel, Deus investiu grandemente nesse povo, esperando que desse uvas boas, mas, infelizmente, deu uvas bravas e inferiores (Is 5.1-4).
O fruto diferente fala de uma vida que tem a ação dinâmica do Espírito Santo, que se deixa dominar realmente por Ele. Com o Espírito Santo na vida o homem separa-se daquilo que não agrada a Deus. As Escrituras mostram que Deus é santo e deseja que todos quantos se aproximem dEle sejam santos também, essa exigência era direcionada até para os sacerdotes (Êx 19.22).
Aos que nasceram de novo o Espirito trabalha fazendo suas exigências, dizendo para se separarem daqueles que são injustos (2Co 6.17, 18), dos que ensinam falsas doutrinas (2Tm 2.21; 2 Jo 9.10), mas a nota forte soa para a natureza pecaminosa (Rm 6.11,12; 2 Co 7.1; lTs 4.3,7).
O cristão tem que procurar ser diferente, pois já foi separado por Deus para viver uma nova vida em Cristo. O cristão precisa produzir um estilo de vida distinto, que envolve o fruto do Espírito, porque seu alvo é ser como Jesus Cristo (Rm 8.29), desse modo deve viver em santificação constante, isto é, separando-se daquilo que Deus não aprova. A santificação é um processo em nossa vida que acontecer diariamente, até o dia em que Jesus se manifestar (Fp 1.6), e os que procedem segundo ela logo irão contemplar a Jesus e ser como Ele é (ljo 3.2).
autor : OSIEL GOMES
Na sua natureza, morrerá. Mas tem potencialidades tremendas para o bem e para o mal, dependendo se é dominado pelo pecado ou dedicado a DEUS.
Para Paulo, o corpo em si mesmo é bem neutro.
A direção que seguirá depende da força que o controla, para o bem ou para o mal.
Mas agora chegamos a uma palavra muito mais difícil, sarx, a carne.
Esta é uma das palavras características de Paulo, uma das palavras que percorre suas cartas, e especialmente as cartas aos Romanos, aos Gálatas e aos Coríntios. É uma palavra que representa certos fatos na situação humana que fazem parte da experiência básica de todos os homens. Procuremos, portanto, penetrar em seu significado.
Podemos começar com dois fatos fundamentais a respeito dela.
i. Sarx é a inimiga mortal do pneuma. O conflito na alma é exatamente entre a carne, para usar a tradução comum da palavra, e o Espírito.
“Estes,” diz Paulo, “são opostos entre si” (G1 5.17). Qualquer que seja uma outra verdade a este respeito, estas duas são as forças opostas dentro da existência humana.
ii. Sarx é muito mais do que o corpo. No pensamento de Paulo os pecados da carne incluem muito mais do que os pecados carnais que tem a ver com o corpo. Quando Paulo alista as obras da carne, é certo que começa com a imoralidade, a impureza e a licenciosidade, mas daí passa para a inimizade, as contendas, os ciúmes, a ira e o espírito partidário que não são pecados do corpo, de modo algum. Os pecados da carne, no sentido moderno e normal do termo, estão longe de serem aqueles
que são usados no sentido paulino do termo. Na realidade, é verdade dizer que nem sequer são os pecados principais e mais sérios da carne.
iii. Paulo usa o termo para denotar uma condição física, do corpo.
Fala da circuncisão da carne, em comparação com a circuncisão do coração (Rm 2.28). Fala de um espinho na carne, com o que quer dizer uma enfermidade ou doença física (Gl 4.13). Ha ocasiões em que Paulo emprega sarx onde poderia ter usado sõma com igual efeito, e onde seu significado é físico sem quaisquer implicações ou ideias subentendidas.
iv. Paulo usa sarx em frases que poderíamos expressar em português assim: “humanamente falando” , ou: “do ponto de vista humano” . Assim, JESUS descendeu de Davi segundo a carne (Rm 1.3).
Abraão e o nosso antepassado segundo a carne (Rm 4.1). JESUS é um judeu segundo a carne (Rm 9.5).
Quando sarx é usada assim, sempre subentende que o assunto não se esgota ai, que ha algo mais a ser dito, que o que é dito é verdadeiro do ponto de vista humano, embora não seja a totalidade da verdade.
v. Paulo usa sarx em frases e contextos onde usaríamos uma frase tal como: “julgando por padrões humanos” .
Não muitos sábios segundo a carne são chamados para fazer parte da Igreja (1 Co 1.26), ou seja: não muitos que são sábios segundo os padrões mundanos (RSV), ou qualquer padrão humano (NEB). Paulo, escrevendo aos coríntios, defende-se contra a possível acusação de ter propósitos segundo a carne (2 Co 1.17), ou seja: de fazer planos com um homem mundano que esta disposto a alterá-los de conformidade com aquilo que a conveniência venha a sugerir.
Escreve aos coríntios afirmando que, agora, não conhece a homem algum, nem sequer a Cristo, segundo a carne (2 Co 5.16).
Aqui a RSV traduz: “Não consideramos a ninguém do ponto de vista humano” , e a NEB: “Os padrões do mundo deixaram de ser levados em conta nossa estimativa de qualquer homem.” Em tais frases, a carne representa o padrão humano, o ponto de vista humano, a avaliação humana.
vi. Paulo usa sarx onde o pensamento principal diz respeito a humanidade.
A expressão: “Nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras da lei” (Rm 3.20; Gl 2.16; 1 Co 1.29) e um hebraísmo e uma expressão judaica normal, a passo que a linguagem moderna diria “ninguém” (AKA, cf. ARC supra). Assim, JESUS veio na semelhança da carne pecaminosa (Rm 8.3), onde a ideia e que CRISTOtomou sobre Si a nossa humanidade.
A língua hebraica sempre preferiria uma expressão concreta suma expressão abstrata, e, portanto, prefere falar na carne ao invés da humanidade.
vii. Agora chegamos ao uso paulino, único e distintivo, da palavra sarx, o conceito que Paulo tem de sarx como a inimiga suprema no conflito na alma. Vejamos, pois, como Paulo usa a palavra neste sentido especial.
(a) Pode-se dizer que viver na carne é exatamente o inverso de ser um cristão. “Vós, porém, não estais na carne, mas no Espírito” (Rm 8.9, 12).
É o não-cristão que vive na carne. Paulo pode relembrar o tempo “ quando vivíamos segundo a carne” (Rm 7.5; 8.5). O cristão crucificou a carne com suas paixões e desejos (Gl 5.24). Viver na carne é exatamente o inverso de viver no ESPÍRITO, em Cristo; é o oposto de ser cristão.
(b) Para expressar o assunto de modo ainda mais amplo, estar na carne é estar sujeito ao pecado (Rm 7.14). Ser dominado pela carne e ser escravo do pecado são a mesma coisa.
(c ) A carne é a grande inimiga da vida virtuosa e da vida cristã:.
É esta sarx que torna a lei fraca e enferma (Rm 8.3). Isto quer dizer que a sarx é a responsável pela situação humana sempre repetida, em que o homem sabe com perfeita clareza o que deve fazer, mas é totalmente incapaz de fazê-lo. Na sarx não habita nada de bom (Rm 7.18). Se entendermos que esta é uma declaração generalizada, é exatamente aqui que vemos a diferença entre sõma e sarx, o corpo e a carne. O corpo pode tornar-se instrumento do serviço e da glória de DEUS; a carne não o pode. O corpo pode ser purificado e até mesmo glorificado; a carne deve ser eliminada e erradicada. É com a carne que o homem serve a lei do pecado (Rm 7.25).
E a sarx que torna o homem totalmente incapaz de assimilar o ensino que deveria saber receber (1 Co 3.1-3). A sarx não pode agradar a DEUS (Rm 8.8). Pior do que isso, a sarx é essencialmente hostil a DEUS
(Rm 8.7). Os ciúmes, as contendas e a amargura são a prova de que o homem ou a comunidade está vivendo na sarx (1 Co 3.3).
Fica bem claro que temos um problema bem considerável na tradução.
De modo geral, as traduções mais usadas no Brasil mantém a palavra “ carne,” com o adjetivo “ carnal.” Das paráfrases, temos: P: “baixos instintos da natureza” ; BLH: “a natureza humana” ; BV: “ suas próprias inclinações erradas.” As versões mais atuais em inglês oferecem variações de frases tais como: “a natureza inferior” , “a natureza terrena” , “a natureza não-espiritual” , “a natureza pecaminosa” , “ a natureza carnal” , “a fraqueza da natureza humana” . Há, sem dúvida, uma série específica de passagens em Gálatas em que a ideia de baixos instintos da natureza serve muito bem. A ARA traduz Gl 5:13: “Não useis da liberdade para dar ocasião à carne.” Phillips traduz: “Apenas convém usar de cautela, para que essa liberdade não vá estimular-vos aos baixos instintos.” A ARA traduz Gl 5:16:
“Andai no ESPÍRITO, e jamais satisfareis a concupiscência da carne.”
Phillips traduz: “Vivei a sua vida no Espírito, em nada satisfazendo os baixos instintos da natureza humana.” A ARA traduz Gl 5.24: “E os que são de CRISTOJESUS crucificaram a carne, com as suas paixões e concupiscências.”
Phillips traduz: “Quem é de Cristo, crucificou a sua velha natureza com tudo o que amava e cobiçava.” A ARA traduz Gl 6.8: “Porque o que semeia para a sua própria carne, da carne colherá corrupção; mas o que semeia para o ESPÍRITO, do ESPÍRITO colherá vida eterna.” Phillips traduz:
“ Se semeia para os baixos instintos da natureza, a colheita só pode ser a corrupção e a morte da sua própria natureza. Se semeia, porém, para o ESPÍRITO, a colheita será a vida eterna por esse mesmo ESPÍRITO.” Em todos estes casos, a tradução de sarx por “baixos instintos da natureza” aparece
de forma bem apta e relevante.
O que, pois, é a carne? Logicamente, a carne não é o corpo.
Fica igualmente claro (se o pensamento de Paulo for consistente) que a carne não é o homem natural, porque ele disse que este homem não-cristão, o homem pagão, não precisa necessariamente ser totalmente mau. Mesmo em tais condições há ocasiões em que o homem pode fazer por natureza
aquilo que a lei requer, porque as exigências da lei estão escritas no seu coração, e porque mesmo em tal condição o homem possui consciência (Rm 2.14, 15). (N.E.: Mas Paulo de maneira nenhuma ensina que o homem na carne pode agradar a DEUS [1 Co 2.14]). Falar da carne como a natureza
inferior ( “ os baixos instintos da natureza” ) não é inteiramente satisfatório.
Fazer assim subentende que há no homem uma natureza que é capaz de produzir a bondade, assim como há uma natureza que é fadada ao mal. O problema com semelhante ponto de vista é que a podridão, a despeito de tudo quanto temos dito a respeito do homem natural, perpassa a natureza humana inteira; toda a estrutura está minada. É cheio de relevância o fato de que Paulo fala das obras da carne e do fruto do ESPÍRITO (Gl 5.19, 22). Uma obra é algo que o homem produz para si mesmo; um fruto é algo produzido por um poder que ele não possui.
Os homens não podem fabricar um fruto. Isto quer dizer que o homem pode produzir o mal por si só, com bastante facilidade, e não pode deixar de fazê-lo; a bondade, no entanto, tem que ser produzida para ele por um poder que não é seu. A verdade é que, embora a tradução “os baixos instintos
da natureza” frequentemente faça bom sentido, não atinge suficientemente o sentido.
A essência da carne é a seguinte. Nenhum exército pode invadir um país pelo mar a não ser que possa obter uma cabeça de ponte.
A tentação não teria a capacidade de afetar os homens, a não ser que houvesse algo já existente no homem que correspondesse a tentação. O pecado não poderia obter nenhuma cabeça de ponte na mente, coração, alma e vida do homem a não ser que houvesse um inimigo dentro dos portões que estivesse disposto a abrir a porta ao pecado. A carne é exatamente a cabeça de ponte através da qual o pecado invade a personalidade humana.
A carne é como o inimigo do lado de dentro e que abre o caminho para o inimigo que está forçando a porta.
Mas de onde vem esta cabeça de ponte? De onde surge este inimigo do lado de dentro? É experiência universal da vida que um homem pela sua conduta capacita-se ou não a experimentar certas coisas.
Faz de si mesmo uma pessoa tal que se dispõe ou se indispõe a corresponder a certas experiências. A carne é aquilo que homem fez de si mesmo em contraste com o homem conforme DEUS o fêz. A carne e o homem de conformidade com aquilo que permitiu que viesse a ser, em contraste com o homem conforme DEUS pretendeu que ele fosse. A carne representa o efeito total do pecado do homem sobre si mesmo e do pecado dos seus pais e de todos os homens que existiram antes dele. A carne é a natureza humana conforme se tornou através do pecado. O pecado do homem é o pecado da humanidade, tornou-o, por assim dizer, vulnerável ao pecado. Fê-lo cair mesmo quando sabia que estava caindo, e mesmo quando não queria cair. Fez dele uma pessoa tal que não pode nem evitar o fascínio do pecado nem resistir ao poder do pecado. A carne é o homem enquanto está separado
de JESUS CRISTO e Seu ESPÍRITO.
Assim o crente deve tomar todo cuidado para não deixar que a carne o domine, pois estaria voltando ao estado original, sem salvação, sem vida eterna.
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