Introdução
Na noite de
um domingo comum, um menininho adormece no sofá ao som da televisão. Aos
poucos, deixa a mamadeira escorregar e sucumbe ao cansaço do fim de semana. Sua
família acabou de voltar da igreja. Todos estão cansados e famintos. Tudo o que
querem é fazer uma refeição rápida, tomar banho e dormir. A filha adolescente
encosta a Bíblia a uma pilha de outras coisas em seu quarto e vem juntar-se aos
pais, diante da televisão, enquanto comem. Eles não se reúnem à mesa. Não
agradecem a Deus pelo alimento. Não conversam. Pouco depois, o pequenino é
posto no berço, já adormecido. A garota dá um beijo nos pais, antes de se
recolher, mas não lhes pede a bênção.
Na
segunda-feira de manhã, como de costume, o pai sai de casa apressado. Lê,
sozinho, uma passagem bíblica aleatória, faz uma oração curta e despede-se do filho
e da esposa. Como a filha está pronta, ele a leva à escola. Talvez conversem no
trajeto, porém é mais certo que ela mantenha os olhos na tela do celular, e que
ele empreste os ouvidos ao programa de rádio, que fala do clima e do trânsito.
Em casa, a mãe corre com uma série de
afazeres. Ela tem poucas horas para arrumar a bagunça, e não terá tempo para o
bebê, que lhe exigirá toda a atenção. Ela não conseguirá cantar para ele, ou
contar-lhe uma historinha. O dia terminará da mesma forma. E assim será na
terça-feira, e na quarta...
I. A Família É uma Igreja
A família
acima retratada é como muitas que frequentam nossas igrejas. Uma família
normal, dentro dos padrões: pai, mãe e filhos. Todos se acham plenamente
familiarizados ao linguajar dos crentes, comportam-se de forma apropriada,
amam-se mutuamente, não escandalizam a vizinhança com gritos e brigas, mas são
apenas isto: uma família. Todo o seu cristianismo está contido nas paredes
físicas do templo onde congregam, quando deveria acompanhá-los aonde quer que
fossem, a ponto de fazer-lhes da casa uma igreja — um local onde Deus é
adorado, onde a Bíblia é consultada, onde existe graça e perdão, e para onde
correm os vizinhos incrédulos quando precisam de ajuda.
Para que a
família cristã funcione como uma congregação doméstica, deve seguir a mesma
dinâmica de uma igreja. A igreja tem um líder, que é o pastor. Dele as ovelhas
recebem instrução e cuidados. Os membros da igreja, reunindo-se regularmente para
cultuar a Deus, promovem ações evangelísticas, visando integrar outras vidas ao
corpo de Cristo. Nos tópicos a seguir, veremos como a família cristã atuará
para ser, também em casa, uma igreja evangelizadora.
1. O marido ensina a esposa. Ao contrário do que muitos pensam, a
submissão da esposa ao marido não é um conceito ultrapassado; é mandamento
bíblico. Deus fez o homem e a mulher com distinções que vão além das que
podemos ver na anatomia masculina e feminina. Quanto aos sentimentos e às
estruturas psicológicas, o homem e a mulher também diferem. Em 1 Pedro 3.7,
vemos a mulher ser descrita como “vaso mais fraco” . Deus criou o homem e a
mulher, macho e fêmea (Gn 1.27), para que formassem a família. E, dentro dessa
organização, todos desempenham um papel muito importante.
Em Efésios
5.23, o apóstolo Paulo armou que a liderança da família compete ao pai: “porque
o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da igreja” . Isso
não significa que o líder da família esteja numa posição privilegiada, ou que
possa esbravejar ordens à esposa e aos lhos, suscitando-lhes a ira. Contudo,
ser o líder, ou , implica responder por todos os membros da família.
O chefe da
casa tem o dever de ensinar a Palavra de Deus à esposa: “As mulheres estejam
caladas nas igrejas, porque lhes não é permitido falar; mas estejam sujeitas,
como também ordena a lei. E, se querem aprender alguma coisa, interroguem em
casa a seus próprios maridos; porque é indecente que as mulheres falem na
igreja” (1 Co 14.34,35).
Esse versículo
de Coríntios não foi deixado à igreja para evitar que as mulheres cooperem
ensinando, mas para acentuar que a responsabilidade de seu discipulado cabe
antes ao marido que ao pastor. Em troca, a mulher deve obedecer a Cristo,
sujeitando-se à orientação do esposo.
Na função de chefe do lar, o marido ensinará
também os filhos a trilhar os caminhos do Senhor e será, ele próprio, um
exemplo. Os filhos devem obedecer a Jesus submetendo-se à autoridade paterna.
O maior
serviço que um homem pode ofertar ao Senhor é o bom governo de sua casa. Ao
discorrer sobre os deveres dos bispos e dos diáconos, Paulo advertiu: “Que
governe bem a sua própria casa, tendo seus lhos em sujeição, com toda a
modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado
da igreja de Deus?)” (1 Tm 3.4,5). Nessa mesma carta, disse o apóstolo: “Mas,
se alguém não tem cuidado dos seus e principalmente dos da sua família, negou a
fé e é pior do que o infiel” (1 Tm 5.8).
2. Os pais ensinam os filhos. O cuidado primordial de todo pai e
mãe para com os lhos deve ser o de ensiná-los no caminho em que devem andar (Pv
22.6).
a) nas atividades
cotidiana .
Nesta conhecida passagem de Deuteronômio, temos instruções bem claras aos pais:
Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único Senhor.
Amarás, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu coração, e de toda a tua alma,
e de todo o teu poder. E estas palavras que hoje te ordeno estarão no teu coração;
e as intimarás a teus filhos e delas falarás assentado em tua casa, e andando pelo
caminho, e deitando-te, e levantando-te. Também as atarás por sinal na tua mão,
e te serão por testeiras entre os teus olhos. E as escreverás nos umbrais de
tua casa e nas tuas portas. (Dt 6.4-9)
Sabemos que
os ensinamentos básicos da fé são transmitidos pelas igrejas. Entretanto,
conforme acabamos de ler, devem ser intimados , ou inculcados , aos filhos, pelos pais. Amar
a Deus de todo coração tem de ser uma prática indissociável da rotina do lar
cristão. Os princípios bíblicos devem habitar no coração dos pais de tal forma
que fluam naturalmente de sua boca aos ouvidos dos filhos.
b) No culto doméstico . Em um dia normal, a família dispõe
de inúmeras oportunidades de falar com Deus, ou de conversar sobre Ele. A
família pode orar: ao acordar, antes de cada refeição, antes de sair de casa,
antes de dormir, ou ao trazer alimentos do mercado. Essas pequenas preces podem
ser facilmente ensinadas às criancinhas, que crescerão confiando em Deus e
dependendo dEle.
Além das
preces vinculadas aos afazeres, a família reservará momentos especiais para
fazer orações específicas de súplica ou de ações de graças. Esses pedidos, ou
agradecimentos, poderão ser feitos nos cultos diários da família, conhecidos
como “cultos domésticos”.
O culto
doméstico deve abranger toda a família e adequar-se à rotina de cada lar.
Algumas famílias preferem realizá-lo logo pela manhã; outras, ao nal do dia, ou
nos minutos que antecedem a hora de dormir. O importante é que esse momento de
comunhão seja agradável e envolva a todos. Para tanto, os pais levarão em conta
a idade dos lhos e o seu desenvolvimento escolar. Crianças de até seis anos
apreciam ouvir pequenas narrativas bíblicas e entoar cânticos infantis. As que
já sabem ler gostam de participar da leitura alternada de um capítulo da
Bíblia. O culto doméstico pode, ainda, ser enriquecido com a leitura em voz
alta de livros devocionais, biografias de pessoas piedosas, ou relatos
missionários.
Além de
agradar a Deus, a devoção em família permite aos pais acompanharem a caminhada
espiritual dos filhos, ajudando-os a aprofundar o relacionamento com o Senhor.
A responsabilidade de falar de Jesus às crianças cabe primeiramente aos pais e,
depois, à igreja. Mesmo as que nasceram em lares evangélicos devem ter a
oportunidade de confessar a sua fé em Cristo como o único Salvador. O que o
salmista disse sobre si aplica-se a todos, incluindo lhos salvos: “Eis que em
iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha mãe” (Sl 51.5).
A
preocupação que o apóstolo Paulo tinha pelos seus filhos espirituais serve de
inspiração para que, da mesma forma, ansiemos por vê-los fruticar: “Meus filhinhos,
por quem de novo sinto as dores de parto, até que Cristo seja formado em vós”
(Gl 4.19).
c) pela decoração do lar. Já não seguimos, como os israelitas,
o mandamento de escrever a lei nos umbrais e portas da casa. Mas podemos ter
versículos escritos em quadros, espelhos, porcelanas decorativas e mesmo
utilizáveis. Eles estarão lá, ao alcance dos olhos e da mente, como um lembrete
do bem e da santidade do Senhor. A família acabará por memorizá-los, e o
Espírito Santo os aplicará ao coração de cada um, no momento oportuno.
d) pelo lazer. Bons filmes evangélicos e música de
adoração a Deus devem fazer parte do repertório de lazer da família. Por meio
deles, a mensagem de salvação é anunciada e a edificação cristã é solidificada.
II. A Família Evangelista
Sinto-me
feliz em minha igreja. Os irmãos e irmãs com quem congrego são realmente povo
de Deus. Tenho a alegria de ir com minha família a uma igreja onde as pessoas
são capazes de rir e chorar juntas. E sabe o que seria perfeito? Tê-los como
vizinhos. Imagine um bairro cheio de crentes! As crianças brincariam livres, só
haveria rostos alegres pelas ruas e cumprimentaríamos o porteiro do condomínio
com a paz do Senhor! Mas as coisas não são assim. Pelo contrário! Veja como
Paulo descreveu, em 2 Timóteo 3.1-5, as pessoas dos últimos dias:
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão
tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos,
presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos,
profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes,
cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais
amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas
negando a eficácia dela. Destes afasta-te.
Como seguir
o conselho do apóstolo, se a nossa rotina em casa e no trabalho leva-nos à
convivência com pessoas que não servem a Deus? O que quer realmente dizer? A resposta está no
Salmo 1: “Bem aventurado o varão que não anda segundo o conselho dos ímpios,
nem se detém no caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos
escarnecedores” (Sl 1.1).
A família
cristã deve estar convicta de sua missão na vizinhança: 1) dar bom testemunho
de Cristo; 2) aproveitar as oportunidades para falar de Jesus; e 3) demonstrar
o amor de Deus socorrendo os vizinhos em suas necessidades. Quando os membros
da família cristã compreendem que o seu papel na vizinhança não é ser íntimo
dos vizinhos, mas evangelizá-los, torna-se mais fácil manter uma postura
íntegra e contrastante ao estilo de vida mundano.
1. A família evangelista é cortês e
cumpre as regras.
Ser cortês, ou afável, é seguir as normas básicas da boa educação. É importante
saber o nome dos vizinhos e, se você mora em um condomínio, conhecer os
funcionários e cumprimentá-los diariamente. De que adianta a vizinhança toda
ver que a família vai e volta dos cultos com a mesma cara emburrada, e com os
mesmos maus hábitos?
Quanto ao
cumprimento das normas, a família cristã deve: manter sua calçada limpa, não
colocar o lixo à frente do portão dos vizinhos, não sujar o condomínio, guardar
o silêncio nos horários estabelecidos, não piratear sinal de televisão ou de
internet, pagar as contas em dia e evitar gritos. E, por que não, ser
misericordiosa e fazer o bem aos que nos aborrecem, oferecer a outra face,
emprestar ovos ou açúcar, sem esperar em troca um pedaço de bolo (Lc 27.36)?
2. A família evangelista é seletiva e
consistente. Ninguém
pode escolher os vizinhos que tem. Mas pode, sim, escolher o relacionamento que
terá com eles. A família evangelizadora será educada, amistosa e receptiva. Mas
haverá momentos em que terá de provar a consistência de seu relacionamento com
Deus dizendo não a determinados convites. O fato de gostarmos dos nossos
vizinhos não é desculpa para participarmos de bailinhos de carnaval, de festas
juninas ou de halloween . Ao sermos convidados a esses eventos, respondamos
gentilmente, em nome de toda a família, e não inventemos desculpas para a nossa
ausência: “Estamos felizes em receber o convite. Entretanto, a nossa família
serve a Jesus e não participa dessa festa” . Ao recusar um convite desses, não
devemos ser agressivos, nem atacar a religião dos vizinhos.
A postura
seletiva e consistente da família cristã evitará a assimilação dos maus
costumes e dos valores corrompidos de seus vizinhos. Em Êxodo 23.24,25, vemos
que esta era uma preocupação de Deus. Ele conhecia o risco que os israelitas
corriam de adotar as práticas idólatras dos povos adjacentes. Além disso, a
nossa firme decisão de não nos contaminarmos é exatamente o que os vizinhos
esperam de uma família proclamadora do evangelho.
3. A família evangelista socorre os
vizinhos e leva-os a Jesus. Admita: Os seus vizinhos parecem tão felizes e realizados, que você já
chegou a pensar que eles não precisam de Jesus? Que engano terrível! Todos
precisam ouvir as Boas-Novas da salvação, pois todos pecaram e estão separados
de Deus (Rm 3.23). Embora não exista família perfeita, nem entre os crentes,
existe uma diferença entre o lar que serve a Cristo e aquele que não o conhece
como Salvador: a presença redentora de Jesus.
Em Marcos
2.1,2, lemos: “E, alguns dias depois, entrou outra vez em Cafarnaum, e soube-se
que estava em casa. E logo se ajuntaram tantos, que nem ainda nos lugares junto
à porta eles cabiam; e anunciava-lhes a palavra” . Observe: a vizinhança soube
que Jesus estava em casa, e por isso ajuntou-se. Dentre aqueles que encheram os
cômodos e até o quintal, certamente havia pessoas deprimidas, injustiçadas, com
vícios, enfermas e infelizes. Em nossa vizinhança também é assim. E além dos
problemas mencionados, também há, entre os nossos vizinhos, gente que pensa
estar no caminho certo e que se sente razoavelmente satisfeita com as respostas
obtidas na religião que professa. Seja qual for o problema que enfrentam, ou a
religião que seguem, todos precisam de Jesus e correrão em busca dEle, tão logo
saibam que Ele está em nossa casa. Além do bom testemunho cristão, a família
salva pode evangelizar de forma intencional.
Considere as
sugestões a seguir e pense em outras maneiras de falar de Jesus aos vizinhos:
a) Convide os amiguinhos de seus
filhos para o culto doméstico. Prepare uma história bíblica atraente e adequada à idade
das crianças. Apresente-lhes, de forma simples, o plano da salvação e pergunte
se desejam aceitar Jesus. Ore com a criança que se decidir. Encerre a reunião
com brincadeiras e um lanche simples.
b) Dê
presentes que fale de Cristo. Aproveite aniversários e outras datas
comemorativas para dar cartões, livros e CDs que comuniquem a mensagem da
salvação. Ao oferecer à família ao lado um pedaço de bolo, entregue junto um
folheto evangelístico.
c) Pergunte como vai? Ao cumprimentar os vizinhos,
indague: “Como vai?” A resposta a essa pergunta corriqueira pode surpreender
você e abrir-lhe uma grande oportunidade evangelística. Escute o problema de
seu vizinho e mostre-lhe que achará descanso ao entregar a vida a Cristo.
d) Convide-os a ir a Igreja. A maioria não aceitará esse
convite, e por isso você precisará repeti-lo diversas vezes. Uma boa tática é
aproveitar os cultos de Páscoa, ou natalinos. Em vez de chamar os vizinhos para
o culto, convide-os para “assistir a uma apresentação do coral” , ou “uma peça
teatral”.
III. A Igreja Vazia
Você já
entrou em uma igreja vazia? Já teve a oportunidade de percorrer a nave e a
galeria fora do horário dos cultos? Tudo ca diferente. Qualquer palavra que
você diz, por mais que tente cochichar, propaga-se pelo templo e ganha volume
graças ao eco. Os passos também podem ser ouvidos enquanto você caminha em direção
ao altar. Os bancos reservados aos pastores estão vazios. Não há ninguém para
ministrar a Palavra. A Bíblia está no púlpito, e você pode abri-la se quiser.
Se olhar à
direita, verá os bancos do coral. Todos vazios. A acústica da igreja é boa.
Você pode arriscar um solo, mas sabe que ninguém se unirá a você para criar uma
harmonia. À esquerda estão os instrumentos. Sem os músicos, eles não oferecem
acompanhamento. Você tenta um acorde ou outro ao piano, bate de leve nas caixas
da bateria, e sai pela porta lateral. O pátio da igreja está deserto. Não há
crianças correndo, e a cantina está fechada. Subindo as escadas, você chega a
um corredor com muitas portas. São as salas de Escola Dominical. Você não
avança porque sabe que as classes estão trancadas e as luzes, apagadas. De
volta à nave da igreja, você sente a presença de Deus. Mas você está sozinho,
sem amigos para cumprimentá-lo, sem um professor para ensiná-lo, sem um
conselheiro, sem um pastor. Você está sozinho na igreja.
Abrimos este
capítulo defendendo o conceito do lar como igreja — o lar como um lugar de
adoração, comunhão, cura e salvação. Mas é possível fazer do lar uma
congregação quando você é o único em sua casa que serve ao Senhor? Você pode
ser um chefe de família crente, mas sua esposa e lhos não o acompanham em sua
jornada cristã. Ou você é a esposa salva de um homem iníquo, ou o lho
convertido de pais incrédulos. Seja como for, a sua igreja, não a que você
frequenta, mas o seu lar, está vazia. Os bancos estão lá, esperando que os seus
familiares os ocupem. Mas enquanto isso não acontecer, você terá de assumir
todas as funções: evangelista, recepcionista, professor, pastor, conselheiro,
intercessor, cantor e, dependendo do estado em que se encontre a família, ainda
fará a limpeza do templo.
Parece que
alguns dos novos convertidos de Corinto enfrentavam uma situação semelhante. Em
1 Coríntios 7.12-15, lemos:
Mas, aos outros, digo eu, não o Senhor: se algum
irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E
se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o
deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher, e a mulher
descrente é santificada pelo marido. Doutra sorte, os vossos lhos seriam
imundos; mas, agora, são santos. Mas, se o descrente se apartar, aparte-se;
porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus
chamou-nos para a paz.
A sensação de estar sozinho, ou o desejo de
servir melhor a Cristo, pode levar o único convertido de uma casa a pensar que
deve afastar-se da família. O apóstolo Paulo, porém, deixa claro que essa não é
a decisão sábia a tomar. O conselho de Paulo a esses crentes concorda com
Gênesis 2.24 e com Marcos 10.2-12, onde Jesus arma que “qualquer que deixar a
sua mulher e casar com outra adultera contra ela. E, se a mulher deixar a seu
marido e casar com outro, adultera” (Mc 10.12).
1. Instruções ao esposo salvo. O marido convertido, ou a esposa
crente, não deve repudiar os laços matrimonias que estabeleceu antes de aceitar
Cristo. Contudo, pode se alegrar em saber que a sua presença santifica o
cônjuge e coloca os filhos sob a bênção de Deus. O marido crente deve amar a
esposa conforme instrui a Bíblia:
Vós, maridos, amai vossa mulher, como também Cristo
amou a igreja e a si mesmo se entregou por ela, para a santificar, purificando-a
com a lavagem da água, pela palavra, para a apresentar a si mesmo igreja
gloriosa, sem mácula, nem ruga, nem coisa semelhante, mas santa e
irrepreensível. Assim devem os maridos amar a sua própria mulher como a seu
próprio corpo. Quem ama a sua mulher ama-se a si mesmo. Porque nunca ninguém
aborreceu a sua própria carne; antes, a alimenta e sustenta, como também o
Senhor à igreja; porque somos membros do seu corpo. Por isso, deixará o homem
seu pai e sua mãe e se unirá à sua mulher; e serão dois numa carne. Grande é
este mistério; digo-o, porém, a respeito de Cristo e da igreja. Assim também
vós, cada um em particular ame a sua própria mulher como a si mesmo, e a mulher
reverencie o marido. (Ef 5.25-33)
2. Instruções à esposa salva. A esposa crente deve respeitar o
marido e edificar o lar: Vós, mulheres, sujeitai-vos a vosso marido, como ao
Senhor; porque o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da
igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como a
igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam em tudo sujeitas a
seu marido. (Ef 5.22-24)
Toda mulher
sábia edifica a sua casa, mas a tola derriba-a com as suas mãos. (Pv 14.1)
Além disso,
deve zelar por sua conduta, ciente de que o bom comportamento faz-se mais
eloquente que as palavras:
Semelhantemente, vós, mulheres, sede sujeitas ao
vosso próprio marido, para que também, se algum não obedece à palavra, pelo
procedimento de sua mulher seja ganho sem palavra, considerando a vossa vida
casta, em temor. (1 Pe 3.1,2)
3. Instruções ao filho salvo. O filho convertido pode ganhar os
pais para Cristo honrando-os e portando-se com sabedoria. O fato de não haverem
aceitado Jesus não dá ao lho o direito de desobedecer-lhes. A autoridade que os
pais exercem sobre os lhos foi estabelecida por Deus. A quebra desse princípio
é pecado e descumpre um dos mandamentos: “Honra a teu pai e a tua mãe, para que
se prolonguem os teus dias na terra que o Senhor, teu Deus, te dá” (Êx 20.12).
4.
Exemplos bíblicos da eficácia da evangelização doméstica. Diante da
salvação de nossos familiares e vizinhos, não podemos agir com displicência. Se
nos aplicarmos à evangelização doméstica, colheremos excelentes frutos, como
mostram os seguintes exemplos bíblicos:
a) o endemoninhado de Gadara.Jesus Cristo, o missionário por excelência,
não restringiu o seu ministério às multidões. Em Gadara, preferiu investir na salvação
de um homem, pois sabia que os habitantes daquela região, majoritariamente
pagãos, não formariam um grande número para ouvi-lo ensinar, nem se disporiam a
segui-lo na esperança de ver milagres. A estratégia de Jesus para ganhar Gadara
foi salvar “um homem com espírito imundo, o qual tinha a sua morada nos
sepulcros, e nem ainda com cadeias o podia alguém prender” (Mc 5.2,3).
Ao
experimentar a salvação e ao ver-se liberto daqueles demônios, o homem,
revigorado e exultante, quis acompanhar Jesus, segui-lo por onde fosse. Tenho
certeza de que, se Cristo lho pedisse, ele percorreria as terras já descobertas
para partilhar a transformação operada pelo evangelho. “Jesus, porém, não lho
permitiu, mas disse-lhe: Vai para tua casa, para os teus, e anuncia-lhes quão
grandes coisas o Senhor te fez e como teve misericórdia de ti” (v. 19).
b) A serva de Naamã.A salvação que alcança toda a casa
graças a um crente também é observável no Antigo Testamento. Naamã, general do
exército do rei da Síria, era um homem valente, mas leproso(2 Rs 5.1). Em sua
casa, vivia uma menina cujo nome não sabemos. Ela fora levada do território de
Israel pelo exército sírio, e fora feita serva da esposa de Naamã.
Conforme o tempo passou, a menina pôde
observar a rotina da família, os modos de sua ama e a forma pela qual cultuava
tantos deuses. Que contraste entre a família de Naamã e essa pequena serva!
deveria ser chocante, para ela, presenciar a idolatria dentro das paredes
que a abrigavam. Mas a menina era serva, e era obediente também. Um dia, a
jovem ousou falar. Ela não foi insolente, não quebrou os ídolos de sua ama, nem
lhe insultou a fé. Sabendo que Naamã era leproso, “disse esta à sua senhora:
Tomara que o meu senhor estivesse diante do profeta que está em Samaria; ele o
restauraria da sua lepra” (2 Rs 5.3).
Sendo o
único membro da igreja em seu lar, talvez você seja obrigado a ver os seus
queridos adorando outros deuses, ou até tenha de suportar comentários e
escárnios. Contudo, a história da serva de Naamã ensina que a postura honrosa e
obediente é que produzirá cura e salvação. Na hora certa, a menina soube
apresentar à ama a solução que, embora parecesse simples demais, por m levou
Naamã a reconhecer: “Eis que tenho conhecido que em toda a terra não há Deus,
senão em Israel” (v. 15).
Conclusão
A
evangelização doméstica, ou a pregação do evangelho no lar, ocorre quando a
rotina familiar é impregnada pela mensagem da salvação, fazendo com que o lar
espelhe o que é ser salvo pela fé em Jesus. Em uma casa onde Cristo é o centro,
existe alegria, cura, perdão, salvação e comunhão. O bom testemunho também
caracteriza a família que serve a Deus.
O
evangelismo doméstico ocorre mesmo quando apenas um familiar é salvo. Através
de seu viver controlado pelo Espírito, os demais moradores da casa têm a
oportunidade de ver o que é servir a Jesus e de conhecer o caminho da salvação.
LIÇÃO 10: O
Poder da Evangelização na Família
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