Sendo Deus o
primeiro evangelista da História Sagrada, toda a sua palavra é amorosamente
evangelizadora. É por isso que a Bíblia, ao contrário
de outros livros tidos como sagrados, é lida e relida, sem jamais deixar de ser
apaixonante. Embora concluída há mais de dois mil anos, ela é repleta de
manchetes que, todas as manhãs, surpreendem-nos por sua graça, misericórdia e
alvíssaras. Do Gênesis ao Apocalipse, temos uma proclamação evangelística que,
tendo início na criação, vai até a consumação de todas as coisas, inaugurando o
Novo Céu e a Nova Terra.
Deus se compraz
em comunicar o evangelho. Quer pessoalmente, quer por intermédio de seus
arautos, Ele conclama-nos à salvação. Até mesmo em seus juízos, entrevemos o
inexplicável amor, que o constrangeu a entregar o Unigênito a morrer em nosso
lugar. Que ninguém o acuse de injustiça, pois a sua natureza leva-o a proclamar
a todos, em todo o tempo e lugar, as Boas-Novas de seu Reino. O Pai anseia por
incluir-nos em seus domínios eternos.
Neste capítulo, refletiremos acerca da ação
evangelística pessoal do próprio Deus. Surpresos,
constataremos que Ele evangeliza até mesmo quando está em silêncio.
I. As
Primeiras Notas Evangélicas de Deus
Se lermos
atentamente a Bíblia Sagrada, constataremos que, quando o universo ainda não
existia, o Plano da Salvação já estava esboçado no espírito de Deus.
1. O Cordeiro Morto na
eternidade. Em
Apocalipse, o Espírito Santo revela a João que o Senhor Jesus, para
redimir-nos, não morreu apenas no tempo. Na presciência divina, o Cordeiro de
Deus já estava morto antes mesmo dos eventos registrados em Gênesis (Ap 13.8).
Nossa redenção, por esse motivo, transcende o tempo e os eventos da criação; é
eterna (Hb 9.12). Portanto, quando ainda não havia pecado, ou pecadores, o
amoroso Deus já tinha estabelecido as bases da nossa salvação.
A morte
do Cordeiro, na presciência de Deus, foi a primeira nota evangélica da História
Sagrada. Se Cristo morreu na eternidade, na eternidade também fomos eleitos (1
Pe 1.2). Eis porque,
conforme veremos mais adiante, quando Adão pecou, Ele não se mostrou surpreso.
Na sentença sobre o pecado, anuncia a redenção do pecador (Gn 3.15).
Antecipadamente, prega o evangelho do Unigênito à humanidade, representada,
ali, no primeiro ser humano. Antes mesmo que houvesse tempo, proclamou a
salvação eterna. Era como se Deus, num tabernáculo vazio, chamasse os pecadores,
que ainda não existiam, ao arrependimento. Parece loucura? A pregação do
evangelho tem peculiaridades que só o amor divino é capaz de operar (1 Co
1.21).
2. Deus evangeliza
trabalhando. Na
criação dos céus e da terra, quando Deus montava o cenário para o drama de
nossa redenção, seus anjos, antegozando o triunfo do Calvário, louvam-no
exaltadamente (Jó 38.7). Eles sabiam que o nosso planeta não seria mais uma
esfera entre outras esferas, mas o círculo que, na plenitude do tempo, haveria
de se fechar com a morte de Cristo. Por isso, os santos anjos ensaiavam,
naquele instante da obra divina, para celebrar o nascimento do Filho de Deus em
Belém (Lc 2.13.14).
A
proclamação do evangelho evoca cânticos de júbilos. Ao descrever o regozijo dos
exércitos celestes na conversão de um pecador, declarou Jesus:
Digo-vos que assim haverá alegria no céu por um pecador que
se arrepende, mais do que por noventa e nove justos que não necessitam de
arrependimento. Ou qual a mulher que, tendo dez dracmas, se perder uma dracma,
não acende a candeia, e varre a casa, e busca com diligência até a achar? E,
achando-a, convoca as amigas e vizinhas, dizendo: Alegrai-vos comigo, porque já
achei a dracma perdida. Assim vos digo que há alegria diante dos anjos de Deus
por um pecador que se arrepende. (Lc 15.7-10)
3. Deus evangeliza
proclamando.
Deus evangeliza tanto trabalhando quanto proclamando. Ninguém melhor do que Ele
sabe usar as palavras, pois a nossa linguagem nEle nasceu e nEle se desenvolve.
Ele cria o mudo e o eloquente (Êx 4.11). Por intermédio de seu Espírito Santo,
inspirou o Livro dos livros (2 Tm 3.16). E, pela boca de seus servos, narra as
histórias mais belas, declama as poesias mais sublimes, anuncia as promessas
mais escondidas e consola-nos, diariamente, com o cajado do Bom Pastor.
A Bíblia não se limita a conter a Palavra de
Deus. Ela é a Palavra de Deus que evangeliza e redime o pecador, guiando-o às
regiões mais celestes (Ef 2.6). Todas as vezes que a Sagrada Escritura é lida,
ouve-se o próprio Deus evangelizando. Por isso, quem rejeita o Filho, rejeita o
Pai.
II. O Proto-Evangelho de Deus
Na queda de
Adão, temos a mentira que aprisiona, a verdade que liberta e a promessa da
semente que, lançada no Éden, germinaria no Calvário, trazendo a salvação a
todos os homens.
1. A mentira que aprisiona. O discurso com que Satanás enredou
a queda de Adão era lógico e filosofante. Nem mesmo Aristóteles seria capaz de
armar silogismos como aqueles. O Inimigo mentiu, fazendo-se amigo; distorceu a
verdade, levando-a a parecer mentira. Desevangelizando Adão e Eva, induziu toda
a humanidade à rebelião contra Deus. E, assim, aprisionou nossos pais.
A queda de
nossos primeiros genitores chocou os seres angelicais. Até ali, homens e anjos
formavam uma mesma grei, apesar de estarem separados por uma barreira
dimensional. Mas, agora, com o pecado, éramos tão inimigos de Deus quanto
Satanás. O Senhor dos céus e da terra, contudo, não tardaria a proclamar o
proto-evangelho que, no Calvário, desfaria a inimizade que separa a criatura do
Criador.
2. A verdade que liberta. O que
parecia a desgraça da raça humana acabaria por revelar a maravilhosa graça do
Pai Celeste. Ao ver a queda de seu lho, Adão, tão precocemente pródigo, mas
também tão precocemente arrependido e choroso, Deus não o deixou prostrado.
Antes, providenciou- lhe um inesperado acolhimento, que só os pais são capazes
de proporcionar aos filhos mais ingratos e rebeldes.
Ainda no
Jardim do Éden, o Senhor recebe-os com amor e misericórdia. Substituindo os
andrajos de figueira, dá-lhes a pele de um animal vicário como roupa. Não
bastasse tanto cuidado e afeição, juntamente com o juízo, anuncia-lhes o proto-evangelho.
Deus em nada diferia do pai daquele pródigo descrito por Jesus.
3. O
proto-evangelho. No Éden, Deus age como o Juiz da raça humana. Mas, como a sua
misericórdia sempre triunfa no juízo, não tarda em predizer a redenção da
espécie adâmica. O Juiz faz-se Evangelista, e proclama, ali mesmo, o
proto-evangelho: “E porei inimizade entre ti e a mulher e entre a tua
semente e a sua semente; esta te ferirá a cabeça, e tu lhe ferirás o calcanhar”
(Gn 3.15).
O juízo
sobre a raça tem, como exórdio, uma nota lindamente evangélica. Antes mesmo de
o Juiz sentenciar-nos os pais, evangeliza-os. Eles, de fato, seriam duramente
punidos. Se, por um lado, eram expulsos do Éden terrestre, por outro, haveriam
de ser introduzidos, por meio da semente da mulher, no Paraíso celeste.
A partir de
um evangelho tão sucinto e tão econômico nas palavras, a redenção da humanidade
começa a ganhar feições. Com menos de trinta vocábulos, o Senhor,
eloquentemente, anuncia a chegada de Jesus Cristo, nosso amado Salvador.
III. O Evangelho
de Cristo a Abraão
De Adão, o
primeiro homem, a Abraão, o primeiro patriarca dos hebreus, temos um interregno
de aproximadamente dois mil anos. Nesse período, o Reino de Deus parecia
engolido pelo império de Satanás. Todavia, o Evangelista Eterno estava apenas
preparando o caminho de seu Filho que, decorridos mais dois milênios, haveria
de nascer em Belém de Judá.
1. Abraão, o gentio. Ao ser chamado por Deus a
peregrinar numa terra desconhecida e mui distante, Abraão não passava de um
gentio como eu e você. Era um caldeu entre os caldeus. O idioma que falava não
era o hebraico, mas a língua aramaica que, nascida em Damasco, estendia-se até
as fronteiras com a Índia. Mas aprouve a Deus evangelizá-lo, separando-o dentre
as gentes, para, por meio dele, levar o mundo a uma surpreendente realidade
espiritual.
De tal forma
converte-se Abraão ao Deus Único e Verdadeiro que, ante o seu chamamento, deixa
uma cidade segura e confortável para andejar um chão ermo e cheio de
sobressaltos. Suas experiências com o Senhor são profundas; faz-se amigo de
Deus (Is 41.8). Não demora para que o seu nome seja mudado, indicando uma nova
dimensão em sua vida espiritual. Dantes, era Abrão: grande pai. Mas, agora, é
Abraão, que em hebraico signi ca pai de uma multidão não somente étnica, mas
destacadamente espiritual (Gn 17.5). Logo, o patriarca hebreu torna-se o nosso
pai na fé (Tg 2.21). O cristianismo e o judaísmo são religiões abraãmicas.
Semelhante designação é reivindicada também pelo islamismo. Todavia, ao ler o
Corão, não pude encontrar, em nenhuma de suas suratas, algo que me levasse a
identificar a fé islâmica com a crença do patriarca hebreu.
2. O evangelho de Deus
a Abraão. Em sua
belíssima teologia da justificação pela fé, Paulo, depois de condenar
energicamente o falso evangelho anunciado nas regiões da Galácia, escreve:
É o
caso de Abraão, que creu em Deus, e isso lhe foi imputado como justiça. Sabei,
pois, que os que são da fé são lhos de Abraão. Ora, tendo a Escritura previsto
que Deus havia de justificar pela fé os gentios, anunciou primeiro o evangelho
a Abraão, dizendo: Todas as nações serão benditas em ti. De sorte que os que
são da fé são benditos com o crente Abraão. (Gl 3.6-9)
Aos
israelitas, que ainda não haviam recebido o Cristo de Deus, a chamada de Abraão
era mais étnica do que espiritual. O apóstolo, porém, iluminado pelo Espírito
Santo, viu, atrás daquela narrativa, uma das mais profundas teologias do Novo
Testamento. Em Gênesis, escondia a essência do Evangelho:
Ora, o
Senhor disse a Abrão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu
pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e
abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção. E abençoarei
os que te abençoarem e amaldiçoarei os que te amaldiçoarem; e em ti serão
benditas todas as famílias da terra. (Gn 12.1-3)
- Se nos detivermos a analisar a
vocação do patriarca hebreu, encontraremos a mais bela síntese da mensagem
cristã. Em primeiro lugar, Deus individualiza a chamada de Abraão, afim de
universalizar a convocação de todas as nações a crer em Jesus Cristo.
a) Uma chamada que transcende a nacionalidade.
Deus, em primeiro lugar, intima Abraão a deixar a sua nacionalidade: “Sai-te da
tua terra”. A fé no Deus Único e Verdadeiro não pode circunscrever-se a uma
nacionalidade. Seu caráter reivindica seja ela proclamada a todos, em todo o
tempo e lugar, por todos os meios. Por esse motivo, não sou favorável a uma
igreja oficial, como a anglicana, pois sempre estará a serviço do Estado. A
Igreja, por ser Igreja, não pode ser trancada na burocracia estatal, pois a sua
natureza leva-a a forçar todas as portas, inclusive as do inferno.
Israel jamais poderia ter restringido a sua fé a um
território, a uma cidade, a um santuário e a um objeto sagrado. Infelizmente,
foi o que aconteceu. Embora fundassem uma terra santa, não foram
suficientemente zelosos para santificar os povos além de suas fronteiras. Ao
elegerem Jerusalém como a cidade santa por excelência, não saíram, a partir
dela, a proclamar a Palavra de Deus até aos confins da terra como fez o profeta
Jonas. Quanto ao Santo Templo, achavam que Deus estava restrito àquela casa e
que, de lá, jamais sairia. E, para completar o seu exclusivismo religioso,
zeram da arca sagrada um totem. Supunham que, tendo-a por perto, nenhum mal
viria a alcançá-los. O Senhor mostrou-lhes, porém, que aquele objeto tão belo e
tão cobiçado viria a perder-se um dia (Jr 3.16).
Enfim, os
israelitas, ao contrário de Abraão, não conseguiram transcender a própria
nacionalidade na divulgação da verdadeira fé. Logo, o Deus de Israel é também o
Deus de todos os povos, porque sua é a terra e a sua plenitude. Até mesmo os
apóstolos demoraram a entender o alcance universal do evangelho de Cristo.
Fez-se necessária a convocação de um concílio, para que, iluminados pelo
Espírito Santo, autorizassem Paulo e Barnabé a prosseguirem o seu ministério
junto aos gentios.
b) Uma chamada que transcende a
etnia. Deus ordenou
também a Abraão que deixasse a sua parentela, pois o chamava a ser o pai de
todos os que creem. Então, como haveria ele de confinar-se à etnia hebreia, se
o mais ilustre de seus descendentes haveria de morrer por todos os povos? Os
israelitas, porém, ignorando a natureza de sua chamada universal, isolam- se
nacionalmente.
Afim de
arrancar os apóstolos a esse exclusivismo, o Senhor concede a Pedro a visão
global do evangelho. No lençol descido do céu, o galileu contempla toda sorte
de animais imundos e repulsivos. Em seguida, ouve do próprio Jesus: “Não faças
tu comum ao que Deus purificou” (At 10.15). A partir daquele momento, a Igreja
de Cristo, ainda majoritariamente judaica, internacionaliza-se até alcançar os
povos mais inalcançáveis.
A grandeza
de Israel, portanto, não está em sua nacionalidade, nem em sua etnia; reside em
sua herança espiritual.
c) Uma chamada que transcende a
família. Abraão foi
chamado ainda a deixar a casa de seu pai, pois a família que dele sairia não se
fundaria em laços de sangue, mas importante. Precedendo o Estado e até
mesmo a Igreja, ela é a base tanto daquele quanto desta. Mas, pela fé em Jesus
Cristo, Filho de Abraão, surge um povo mais forte que a própria família.
Certa vez,
perguntou o Senhor Jesus: “Quem é minha mãe? E quem são meus
irmãos?”. Ato contínuo, destacando seus discípulos, responde: “Eis aqui
minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai, que
está nos céus, este é meu irmão, e irmã, e mãe” (Mt 12.49,50).
A família,
para Abraão, teria um fundamento mais forte que o sanguíneo. A fé no Deus Único
e Verdadeiro seria capaz de unir, num mesmo corpo, em Jesus Cristo, todos os
povos da Terra. Todos os que o aceitam, portanto, são chamados para fora de sua
nacionalidade, etnia e família, a m de formar um só organismo espiritual. Assim
é descrita a Igreja de Cristo pelo apóstolo Paulo: “Porque
todos sois filhos de Deus pela fé em Cristo Jesus; porque todos quantos fostes
batizados em Cristo já vos revestistes de Cristo. Nisto não há judeu nem grego;
não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em
Cristo Jesus” (Gl 3.26-28).
d)Uma terra que transcende os olhos. No evangelho que Deus pregou a
Abraão, havia uma terra estratégica, larga e espaçosa. Disse-lhe o Senhor:
“para a terra que eu te mostrarei”. Portanto, Abraão é chamado para fora de sua
nacionalidade, de sua etnia e de sua família, com o objetivo de possuir uma
terra que ele ainda não via. Assim, movido por uma fé justificadora, começa o
patriarca a ver o invisível. Naquele exato momento, deixando para trás o
sedentarismo confortável, faz-se nômade. E, de oásis em oásis, peregrina até
chegar a uma terra que, profeticamente, já era sua, mas, historicamente, ainda
estava em poder de gentios aguerridos, profanos e inimigos de Deus.
Por que
Canaã, e não Ur dos caldeus? Por que a terra do amorreu e do jebuseu, e não
Padã-Arã? Ambas as cidades eram mais importantes que o território cananeu.
Todavia, não eram estrategicamente localizadas para a difusão do conhecimento
divino a toda a Terra. Somente Israel serviria como a localização exata para o
Senhor Jesus iniciar a expansão do Reino de Deus. Os evangelistas, partindo de
Jerusalém, alcançariam toda a Judeia, a região de Samaria e, finalmente, os
confins do globo.
A igreja católica, sob o comando de Urbano II,
reuniu-se em cruzada, para retornar a Jerusalém. Mas a Igreja Primitiva,
impulsionada pelo Espírito Santo, partiu de Jerusalém para conquistar o mundo
para Cristo. Temos aí o verdadeiro significado de Urbi e
Orb. Ou seja: à cidade e ao mundo com um só alvo: proclamar a Palavra de
Deus.
Quanto àquela terra, não há dúvida. Pertence a
Israel.
e) Uma nação paradoxal. Na promessa que o Senhor lavra ao
seu amigo, há uma nota paradoxal: “E far-te-ei uma grande nação”. Se Abraão
fosse o pai da China, ou dos Estados Unidos, não haveria, aí, contradição
alguma. De seus lombos, porém, saiu uma das menores nações do mundo. Por mais
que se multiplique, a demografia de Israel jamais chegará ao nível da chinesa
ou da americana. Não obstante, não há povo tão influente, espiritual e
moralmente, do que o hebreu.
Nenhuma
outra escritura é tão lida quanto a Bíblia. Nenhum profeta é citado como
Moisés. Quanto a Jesus Cristo, nosso Senhor, nenhum ser humano é tão evocado
quanto Ele. Verdadeiro Homem e Deus Verdadeiro, o Nazareno reúne, em torno de
seu nome, povos de todas as nacionalidades que, vinculados pela fé, tratam-se
como irmãos. Essa é a grandeza de Israel.
f)Abraão , fonte de bênçãos e
maldição.No
evangelho que Deus pregou a Abraão, há dois mandamentos específicos. Se o
primeiro representou dificuldades geográficas e logísticas, o segundo
representará um grande desafio espiritual e teológico. Na segunda ordenança,
diz-lhe o Senhor: “e tu serás uma bênção”. Se na versão corrigida de Almeida o
mandamento parece profecia, já na tradução atualizada, a promessa soa como um
mandamento bastante claro: “Sê tu uma bênção” (Gn 12.2).
Abraão teria
de ser uma bênção à sua família e a todas as nações da Terra. Ele abençoou-nos
com os profetas, com as Escrituras Sagradas e com o Cristo. Jamais poderemos
retribuir-lhe as bênçãos que, de seus descendentes, recebemos. Por isso,
cabe-nos abençoá-lo. Hoje, abençoamos Israel não somente mantendo vínculos
amistosos com o Estado judeu, mas curvando-nos ao evangelho que nos veio por
intermédio da família hebreia.
Conclusão
Do
proto-evangelho, no Éden, ao evangelho de Cristo, no Calvário, todas as nações
foram abençoadas no patriarca Abraão. O interessante é que, em ambos os
eventos, Deus fez-se presente para atestar o seu amor pela humanidade caída.
Ele criou o mundo em seis dias. No sétimo, veio a descansar de seu trabalho.
Todavia, quando da queda de nossos pais, o Senhor recomeçou o seu labor não
apenas preservando a sua criação, mas também
evangelizando seus filhos rebeldes e apostatas.
Jesus afirmou,
certa vez, que o Pai trabalha até agora. Por essa razão, o Filho continuava o
seu labor. Mas qual o trabalho do Pai? Não é criar, porque tudo quanto havia de
ser criado, já o foi. Todavia, a evangelização sempre haverá de ser um trabalho
incompleto, por mais que nos esforcemos.
Neste
momento, Deus não mais anuncia pessoalmente o evangelho, como fez no Éden e ao
patriarca Abraão. Entretanto, não cessa de abrir portas, abençoar missões e
missionários. Por intermédio de mim e de você, Ele estende as fronteiras de seu
Reino. Paulo dizia-se imitador de Deus, porque se sentia na obrigação de
proclamar-lhe a Palavra a tempo e fora de tempo.
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