Eu tinha 16
anos, quando saí a evangelizar o Montanhão. Nesse recanto ermo e ainda selvagem
de São Bernardo do Campo, na Grande São Paulo, vim a compreender o valor de uma
ação evangelística. Naquele domingo de julho de 1971, acordara antes do horário
habitual e, na companhia de meu amigo, José Licínio, partira rumo ao
desconhecido. Eu não sabia quantas pessoas encontraríamos naquela incursão que
mais parecia aventura. Certamente, entre as clareiras daquela mata cerrada e
cheia de animais peçonhentos, haveria alguém ansioso por ouvir falar de Jesus
Cristo.
Depois de
muito andarmos, encontramos um casebre habitado por um casal de idosos. Eles
deveriam ter entre 70 e 75 anos. Isolados do mundo e daquilo que chamamos de
civilização, iam eles tocando a vida com toda a tranquilidade. No quintal, que
não chegava a ser uma chácara, havia galinhas e porcos.
Naquele dia,
falamos-lhes longamente de Cristo, como se o tempo, naquele tempo, não
carecesse de tempo algum. A vida não tinha a pressa nem a urgência de hoje.
No domingo
seguinte, voltamos a encontrar nossos anciãos. Tímida e discretamente, aquele
casal fazia questão de resguardar um amor outonal, mas ainda romântico, na
poesia e no bucolismo daquele lugar. Não precisamos de muitos argumentos para
levá-los aos pés de Jesus. Ao primeiro apelo, aceitaram o Salvador.
Mais adiante, descobrimos outras casas e
pessoas espalhadas pela região que, hoje, segundo me disseram, serve de trilha
ecológica. Mas para nós, naquela década já distante e memorial, não havia
trilha nem ecologia, mas uma aventura vivamente evangelística. Desde então, 44
anos já se passaram. Casei-me, fiz-me pai e tornei-me avô. Todavia, jamais
deixei de aventurar-me pelas sendas da evangelização. Adoro ouvir relatos
evangelísticos e missionários.
Não sei
quantas almas já ganhei para Jesus. Mas uma coisa não deixo de fazer:
evangelizar a tempo e fora de tempo. Às vezes, falo de Cristo numa fila de
banco; outras, num táxi; e, ainda outras, num leito hospitalar. Nem sempre
tenho condições de explanar todo o Plano da Salvação. Todavia, deixo bem claro
ao meu interlocutor que Jesus Cristo é a única esperança para esta geração
confusa, deprimida e sem horizontes. Sempre é possível livrar alguém do lago de
fogo.
Minha
intenção, neste livro, é despertar o ardor evangelístico do povo de Deus. Se
não falarmos de Cristo, que esperança restará a um mundo que jaz no maligno?
Neste livro, contei com a ajuda de minha esposa, Marta Doreto, e de meus filhos,
Gunar Berg e Karen Bandeira. Todos eles atuam na área das Letras, da Educação e
da Comunicação Bíblica, e auxiliaram-me na pesquisa e nas reflexões.
Agradeço ao
diretor da CPAD, irmão Ronaldo Rodrigues de Souza, que, além de suas
atribuições administrativas, dedica-se ao estudo e à exposição da Palavra de
Deus. É um grande estudioso da Bíblia Sagrada.
Minha oração
é que esta obra desperte o fervor missionário, evangelístico e pentecostal dos
crentes no Brasil, na América Latina e no mundo. Jesus em breve virá.
Amém.
Outono de 2016.
Introdução
Acabo de assistir a outra reportagem sobre os refugiados
sírios, que não param de chegar à Europa. Sãos milhares de adultos, jovens e
crianças que, na bagagem, trazem apenas fome, angústia e um restinho de
esperança. A maioria desembarca apenas com a roupa do corpo. Outros nem chegam
a pisar o solo europeu; naufragam no Mediterrâneo e, ali, longe da pátria
querida, são sepultados. Diante da maior tragédia humanitária, desde a Segunda
Guerra Mundial, não podemos sufocar a pergunta: “O que temos feito em favor
dessa gente?”.
Não os vejamos apenas como muçulmanos. Antes de tudo, são
almas preciosas por quem Jesus morreu. Todo esse campo missionário vem até nós
em busca não só de asilo, mas também de refúgio espiritual. Não podemos
ignorá-los, nem tapar os ouvidos ao seu clamor. Sem o saber, eles anseiam por
um encontro pessoal com Deus por intermédio de Cristo.
Ainda que em menor quantidade, o Brasil também é procurado
por refugiados de várias partes do mundo. Em São Paulo, não é pequeno o número
de haitianos, africanos e sírios. Diante da urgência da Grande Comissão,
descruzemos os braços e proclamemos-lhes a mensagem da cruz.
Neste capítulo, veremos
que a evangelização é a tarefa mais urgente da Igreja de Cristo. Além dos
exilados que nos vêm de longe, aqui mesmo, bem pertinho de nós, há alguém
suspirando pelo evangelho que salva, transforma e reconcilia-nos com o Pai.
I. Evangelho, as
Boas-Novas de Salvação
William
Gurnall (1616-1679) descreve com rara beleza a influência das Boas-Novas de
Cristo na alma do pecador: “O evangelho é a carruagem com a
qual o Espírito desfila em triunfo quando entra no coração dos homens”. O
admirável escritor britânico sabia que somente o evangelho, por ser o poder de
Deus, tem a virtude suficiente para transformar radicalmente a alma humana.
1. Evangelho, uma
palavra graciosa. O
termo “evangelho”, oriundo do vocábulo grego , significa literalmente
“boa-nova”. A palavra é formada por dois vocábulos gregos: , bom, e , anúncio.
Trata-se de uma expressão antiquíssima da língua grega. O poeta Homero
utilizou-a, no século oitavo a.C., com o sentido de “recompensa por uma boa
notícia”. Quando da tradução do Antigo Testamento, do hebraico para o grego, os
Setenta utilizaram-na, por exemplo, em 2 Reis 18.20,22,25. A palavra, contudo,
só viria adquirir a conotação com que, hoje, a conhecemos a partir do advento
de Cristo. Após o seu batismo, o Senhor apresentou-se a Israel com o evangelho
do Reino. Ao descrever a ação evangelizadora de Jesus, ressalta-lhe Mateus não
somente as palavras, mas notadamente os atos: “E
percorria Jesus todas as cidades e aldeias, ensinando nas sinagogas deles, e
pregando o evangelho do Reino, e curando todas as enfermidades e moléstias
entre o povo” (Mt 9.35).
O Senhor Jesus veio para transmitir, em sua plenitude, o
evangelho de Deus. Se, por um lado, proclamou a redenção da alma, por outro,
não deixou de anunciar a cura do corpo. Em seus lábios, a palavra “evangelho”
adquire um significado novo, profundo e dinâmico. O termo grego, agora, não se
refere mais à mera recompensa a quem traz uma boa notícia. A partir daquele
instante, a graciosa palavra caminha em sentido inverso. Generosamente,
contempla os que nada merecem. Basta crer na mensagem, a fim de entrar no Reino
que Deus preparou aos seus lhos desde a fundação do mundo (Mt 25.34; Ef 2.8).
Ao longo do Novo Testamento, o evangelho recebe diversas
designações: evangelho de Deus, evangelho do Reino de Deus, evangelho da graça
de Deus, evangelho eterno, meu evangelho e outro evangelho.
2. Evangelho de Deus. Jesus Cristo apresentou-se a Israel
com o evangelho de Deus (Mc 1.14). Ele deixou bem claro à sua audiência,
constituída também por escribas e fariseus, que a sua mensagem, embora nova,
não trazia qualquer inovação. Antes, era o cumprimento do que anunciara o
Antigo Testamento. Logo, os doutores da Lei poderiam constatar-lhe a veracidade
se fizessem uma releitura da Lei, dos Escritos e dos Profetas. Aliás, assim
haviam procedido os rabinos a quem Herodes indagara quanto ao lugar do
nascimento do Messias (Mt 2.1-6).
O evangelho de Deus é
o cumprimento das promessas que o Senhor fizera ao mundo, por meio de Israel,
no Antigo Testamento. Não se trata de um rompimento com o Velho Pacto, mas um fiel
cumprimento deste na Nova Aliança, que tem como base o sangue de Jesus (1 Co
11.25).
3. O evangelho de
Cristo. Paulo fazia
questão de enfatizar aos crentes gentios que o evangelho que anunciava era o de
Cristo. Na mais teológica de suas epístolas, declara à igreja em Roma: “De sorte que tenho glória em Jesus Cristo nas coisas
que pertencem a Deus. Porque não ousaria dizer coisa alguma, que Cristo por mim
não tenha feito, para obediência dos gentios, por palavra e por obras; pelo
poder dos sinais e prodígios, na virtude do Espírito de Deus; de maneira que,
desde Jerusalém e arredores até ao Ilírico, tenho pregado o evangelho de Jesus
Cristo” (Rm 15.17-19). A teologia paulina era geograficamente ampla. De
Jerusalém à Itália, o apóstolo patenteava que o evangelho não era um apêndice
do judaísmo, mas o cumprimento messiânico das promessas do Antigo Testamento.
Portanto, não era o evangelho de Israel, mas o evangelho de Cristo para Israel
e o mundo.
4. O evangelho do Reino de Deus. É a proclamação mais escatológica
do evangelho de Cristo. De maneira plena, cumpre a aliança que Deus firmara com
a Casa de Davi (2 Sm 7.16). Logo no primeiro versículo do Novo Testamento, o
evangelista destaca a eternidade da linhagem de Jessé na pessoa e no ministério
de Cristo, lho de Davi, lho de Abraão (Mt 1.1). Não foi por mero acaso que
Mateus cita o rei antes do patriarca, pois Jesus é mais conhecido como lho de
Davi do que como lho de Abraão (Mt 15.22).
Quando os apóstolos indagaram-lhe acerca do estabelecimento
do reino a Israel, tinham em vista, apenas, o aspecto escatológico e futuro do
evangelho, e não a sua urgência presente e evangelística. Para realçar a
premência da Grande Comissão, o Senhor prometeu-lhes a vinda do Espírito Santo
(At 1.18). O evangelho do Reino de Deus enfatiza o mistério daquela minúscula
semente que, geminando no coração do homem, frutifica a transformação da
sociedade e do mundo. Além dos efeitos presentes, trará a instalação do Milênio
com a apresentação de Jesus como o Rei dos reis e Senhor dos senhores.
5. O meu evangelho. Não encontramos na Bíblia um evangelho segundo
Paulo. Não obstante, o apóstolo refere-se ao evangelho como se fora a sua
propriedade (Rm 2.16; 16.25; 2 Tm 2.18). Ele recebera-o diretamente do Senhor
em, pelo menos, duas ocasiões especiais (2 Co 12.1-4; Gl 1.17,18). Quer nos
ermos da Arábia, quer no paraíso do terceiro céu, Paulo aprendera, diretamente
do Senhor, os mistérios do evangelho. Portanto, anunciava a todos, judeus e
gentios, o evangelho de Cristo que, como fundamento, tinha a graça de Deus. Por
isso, combatia sem qualquer trégua o outro evangelho, que porfiava em anular a
graça divina por meio dos rudimentos da lei mosaica.
6. O outro evangelho. Os judaizantes, empenhando-se por
desconstruir o evangelho de Paulo, ensinavam que, sem as obras da Lei, ninguém
será salvo. Contra tal ensinamento, Paulo insurge-se e denuncia a primeira
heresia evangélica:
Maravilho-me de que tão depressa
passásseis daquele que vos chamou à graça de Cristo para outro evangelho, o
qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o
evangelho de Cristo. Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie
outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema. (Gl. 1.6-8)
Hoje, além dos outros evangelhos, temos os evangelhos dos
outros. Na luta para cevar o marketing pessoal, os falsos mestres vão
acrescentando, ao evangelho de Cristo, desde as bijuterias mais nas aos
penduricalhos mais esdrúxulos. Alguns apresentam o evangelho da prosperidade;
outros vêm com o evangelho social; e ainda outros, ostentam o evangelho místico
e sincrético. Por essa razão, estejamos atentos para apresentar a mensagem da
cruz em sua simplicidade e pureza.
II. O Evangelho de
Cristo e o Cristo do Evangelho
Como separar de Cristo o seu
evangelho? Não podemos fazê-lo, porque o evangelho é Cristo e Cristo é o
evangelho. É por isso que o Novo Testamento não se preocupa em biografar
Jesus. Antes, glorifica-lhe o triunfo na cruz. 1.
- Jesus, o imbiografável. Os quatro evangelistas são assim
chamados por haverem narrado, sob a inspiração do Espírito Santo, a
encarnação, o ministério, a morte e a ressurreição do Filho de Deus. Os
seus livros poderiam ter recebido outras designações, como por exemplo, a
biografia de Jesus segundo Mateus. Entretanto, como descrever a trajetória
do Pai da Eternidade? Nesse sentido, quem mais aproximou-se de uma obra
biográfica foi João. Em três pequenos versículos, o discípulo amado resume
a revelação do Salvador: “No princípio, era o Verbo, e o
Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com
Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi
feito se fez” (Jo 1.1-3).
- Não se pode biografar quem não teve início, nem terá fim.
A Moisés, o Eterno apresentou-se como o “Eu sou” de Abraão (Êx 3.14). De
igual modo, identificou-se o Pai da Eternidade aos judeus: “Eu
sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ninguém vem ao Pai senão por mim”
(Jo 14.6).
- O objetivo dos quatro Evangelhos
não é biografar Jesus, mas ressaltar- lhe a obra evangelística. Mateus
mostra-o como o Rei almejado por Israel. Marcos destaca-lhe o espírito
manso e servidor. Lucas sublima-lhe a humanidade. Quanto a João,
teologizando-o, apresenta-o como o Unigênito do Pai. É por isso que nenhum
evangelista preocupou-se com os seus dezoito anos de silêncio. Aliás, nem
o minucioso Lucas ocupou-se desse período tido, pelos historiadores, como
obscuro e sincrético.
Jesus fez a sua primeira declaração evangélica aos 12 anos no
Santo Templo. Ansiosamente buscado por José e Maria, respondeu-lhes
gentilmente: “Por que é que me procuráveis? Não sabeis que me convém tratar dos
negócios de meu Pai?” (Lc 2.49). A partir daquele momento, tinha início os seus
dezoito anos de preparo silencioso, que somente haveria de ser quebrado quando
o Pai declara ao mundo o seu amor eterno pelo Filho: “Este é o meu Filho amado, em quem me comprazo” (Mt 3.17).
O silêncio, começado pelo Filho, é quebrado pelo Pai. Em pleno Jordão, era
inaugurada a proclamação oficial do evangelho do Reino de Deus.
A fim de proclamar as Boas-Novas do Reino, Jesus exerceu
plenamente os três ofícios messiânicos: profeta, sacerdote e rei. Nenhum
personagem, entre todos os santos do Antigo Testamento, teria condições de
revelar o evangelho de Deus, em sua plenitude, como Ele o fez. Davi entrou para
a História Sagrada como rei e profeta, mas não era sacerdote. Samuel notabilizou-se
como sacerdote e profeta, mas nunca usou a coroa real. Quanto a Moisés, o maior
dos profetas, não era sacerdote nem rei. Portanto, só o Senhor Jesus, sacerdote
eterno segundo a ordem de Melquisedeque, rei de Salém, estava habilitado a
desvendar a Israel e ao mundo a eficácia do evangelho. Em seu ministério, Jesus
mostrou que o evangelho é profético, sacerdotal e real, por incluir estes três
elementos: proclamação, intercessão e almejo pela vinda do Reino de Deus.
Faltando um desses elementos, o evangelho jaz incompleto. É impossível, pois, separar o
evangelho de Cristo e o Cristo do evangelho.
III. Evangelismo ou Evangelização
O escritor britânico John Blanchard descreveu perfeitamente
como deve ser a evangelização: “Não podemos levar o mundo todo a Cristo, mas
podemos levar Cristo a todo o mundo”. Tendo em vista essa teologia simples, mas
bastante clara da obra evangelizadora da Igreja, vejamos a diferença entre
evangelismo e evangelização.
1. Evangelismo. Não são poucos os obreiros que
desprezam o evangelismo, alegando que, neste momento, carecemos mais de ação do
que de ismos. Todavia, para sermos bem-sucedidos no ministério evangelístico,
precisamos de um bom respaldo teológico. Doutra forma, não saberemos como nos
comportar no campo de batalha.
Ao realçar a
necessidade doutrinária do evangelista, afirmou J. I. Packer: “Em última análise, só há uma forma de evangelização: o evangelho de
Cristo explicado e aplicado”. Isso significa que o evangelismo é uma
disciplina indispensável à igreja comprometida com a Grande Comissão.
É claro que não devemos car apenas no campo teórico, pois o
Mestre requer ação urgente e prioritária de cada um de seus discípulos.
Observemos que, antes de enviar os setenta em missão pelas cidades da Judeia,
Ele instruiu-os devidamente (Lc 10.1-11). Sem o evangelismo, a ação
evangelizadora daquele grupo seria inócua. A igreja comprometida com a
evangelização não despreza o evangelismo, pois sabe que sempre haverá de
precisar de homens e mulheres, adultos e crianças, que cumpram com amor, zelo e
sabedoria a Grande Comissão. Evangelismo não é teoria; é aprendizado.
2. Evangelização. Antigamente, as igrejas não se
preocupavam em formar equipes de evangelização, porque toda a congregação era
evangelizadora. Mas, com o esfriamento espiritual e a consequente
departamentalização eclesiástica, começaram a aparecer equipes especializadas
em alcançar os diversos segmentos sociais. Acho louvável semelhante iniciativa.
Entretanto, com o surgimento de tais grupos, a evangelização leiga praticamente
desapareceu. Isso não é saudável nem à igreja, nem à sociedade. É urgente,
pois, retornarmos à laicização do trabalho evangelístico. Quando isso
acontecer, a tarefa de ganhar almas não será vista apenas como um trabalho do
ministério, mas uma obrigação de todo o povo de Deus.
O escritor americano Richard C. Halverson descreve a
evangelização como atividade indispensável do povo de Deus: “Parece que a
evangelização nunca foi um problema em o Novo Testamento. Isso quer dizer que
não encontramos os apóstolos recomendando, exortando, repreendendo, planejando
e organizando programas evangelísticos. A evangelização simplesmente acontecia!
Emanando sem esforços da comunidade de crentes como a luz emana do sol, era
automática, espontânea, contínua, contagiante”.
A história da Assembleia de
Deus no Brasil, fundada em 18 de junho de 1911, realça a veracidade das
palavras de Halverson. Quando lemos a narrativa que Emílio Conde faz de nossa
igreja, temos a impressão de que, no início, todos os pentecostais eram evangelistas.
Aonde chegava um assembleiano, aí chegava um evangelista que, não demorava,
abria um ponto de pregação. Em breve, este se fazia congregação e, mais
adiante, uma próspera e robusta igreja.
Infelizmente, a burocratização denominacional
acabou por minar a espontaneidade evangelística e missionária da igreja. Hoje,
em muitos lugares, a proclamação do evangelho foi reduzida a um evento distante
e desvinculado das urgências da Grande Comissão. Destacando o compromisso dos primeiros crentes com a
visão evangelística, escreve o pastor Roy Joslin: “Para os primeiros cristãos,
a evangelização não era algo que eles isolavam das outras áreas da vida cristã
afim de nela se especializar, para analisá-la, teorizá-la e organizá-la. Eles
simplesmente a praticavam!” O irmão Joslin, autor do livro [Colheita Urbana],
sabia muito bem que, para se conquistar uma cidade para Cristo, era urgente
envolver toda a igreja local em cada estágio da cruzada.
Se ficarmos apenas na área teórica, jamais cumpriremos a
nossa obrigação evangelística. O tempo rapidamente passará e as oportunidades
que ainda temos não demorarão a esvair-se. Por isso, trabalhemos enquanto é
dia, pois a noite escatológica já começa a cobrir o mundo, levando milhões de
preciosas almas a perderem-se para sempre.
No encerramento deste tópico, vale citar a observação
bastante oportuna de Roland Allen: “O que lemos em o Novo Testamento não é um
apelo ansioso para que os cristãos disseminem o evangelho; vemos uma nota aqui
e outra ali que demonstra como o evangelho estava sendo divulgado. Durante
séculos a Igreja Cristã continuou a expandir-se por sua vontade inerente e
produziu um suprimento incessante de missionários sem qualquer exortação
direta”.
IV. Os
Fundamentos da Evangelização
O trabalho evangelístico requer um sólido alicerce
bíblico-teológico, para que seja plenamente efetivado. Eis os três principais
fundamentos da evangelização: a Bíblia, a experiência e a história
eclesiástica.
A Bíblia. Quem sai a evangelizar tem de saber que está cumprindo
uma ordenança urgente de Cristo (Mt 28.19,20). Além disso, o conteúdo da
mensagem a ser proclamada, quer individual, quer coletivamente, há de refletir a
mensagem da cruz em sua inteireza, conforme aprendemos com Paulo:
E eu,
irmãos, quando fui ter convosco, anunciando-vos o testemunho de Deus, não fui
com sublimidade de palavras ou de sabedoria. Porque nada me propus saber entre
vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado. E eu estive convosco em fraqueza,
e em temor, e em grande tremor. A minha palavra e a minha pregação não
consistiram em palavras persuasivas de sabedoria humana, mas em demonstração do
Espírito e de poder. (1 Co 2.1-4)
Que o evangelista seja bíblico em sua vocação, no exercício
de seu ministério e na mensagem que proclama. Se fugir à Palavra de Deus, num
desses itens, seu trabalho estará fadado ao fracasso.
2. A experiência. A experiência básica do evangelista
é a sua experiência pessoal com o Senhor Jesus. Paulo só transmitia um
ensinamento depois de havê-lo experimentado. Ao introduzir a doutrina da Santa
Ceia na igreja em Corinto, disse-lhes: “Porque eu
recebi do Senhor o que também vos ensinei” (1 Co 11.23). Como, pois,
haverá alguém de falar de Cristo se nenhuma experiência pessoal tem com o
Senhor? Também não é possível falar de salvação estando ainda perdido e
caminhando a passos acelerados e largos para o inferno.
A segunda experiência básica do evangelista é o batismo com o
Espírito Santo. Stanley Jones afirmou que a vida cristã tem início no Calvário,
mas o trabalho eficiente, no Pentecostes. Se Deus o chamou a evangelizar, não
deixe de buscar o poder do alto. Sem a assistência do Espírito, não poderemos
anunciar, eficazmente, o evangelho de Cristo.
No capítulo referente ao evangelista, voltaremos a tratar
mais largamente sobre os requisitos essenciais ao exercício desse glorioso ministério.
3. A História da Igreja
Cristã. A Igreja de
Cristo tem um compromisso inadiável e orgânico com a evangelização do mundo. É
o que nos mostra a História. Se avivada, a igreja evangeliza, faz missões e estende
as fronteiras do Reino de Deus. Mas, caída, faz cruzadas, promove guerras e
empreende conquistas. Haja vista o que aconteceu em 1095. Nesse ano, durante o
Concílio de Clermont, o Papa Urbano II exortou os barões franceses a libertar
Jerusalém do jugo muçulmano. Dessa forma, a guerra instalou-se novamente nas
terras de Israel, levando o nome de Cristo ao descrédito.
O evangelista deve conhecer bem a história e a tradição
eclesiástica, afim de não cometer os erros do passado. Ele tem de saber que a
missão é difundir o cristianismo, não a cristandade visível e eivada de erros.
Conclusão
Se cremos no poder do evangelho,
saiamos a falar de Cristo. Comecemos por nossa casa. E, assim, haveremos de
constatar que nenhuma porta resistirá ao impacto da Palavra de Deus. De fato,
Jesus não nos obriga a converter o mundo. Todavia, constrange-nos a espalhar a
sua mensagem até aos confins da terra. O evangelista iugoslavo Josip Horak afirmou
no auge do comunismo em seu país: “Quando nosso Senhor envia-nos a testificar
em seu nome, não nos coloca contra uma parede. Pelo contrário, dá-nos uma porta
aberta para a evangelização, uma porta que nenhum homem pode fechar”.
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