Capítulo 3
Esperando a
Volta de Jesus
“E o mesmo Deus de paz vos
santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente
conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1 Ts
5.23)
Como não sabemos o dia da volta de
Jesus para arrebatar a sua Igreja, é indispensável estarmos preparados para
aquele grande acontecimento, como se ele viesse a ocorrer hoje, agora.
Infelizmente, na prática, há muitos cristãos que não estão preparados para
subir com a Igreja, na volta do Senhor. Assim como as “virgens loucas”, de
Mateus 25, estão descuidados, não têm reserva espiritual, negligenciam o seu
testemunho e alguns escandalizam o nome do evangelho. No entanto, a volta de
Jesus será repentina, como a vinda de um ladrão para assaltar uma residência.
Não há hora marcada, não há dia conhecido. A surpresa é o fator preponderante.
Por isso, a santificação é requisito fundamental para o encontro com o Senhor
nos ares, em sua volta (1 Ts 5.23).
Jesus usou outras metáforas para demonstrar a
surpresa de sua volta. Aludiu aos dias de Noé, quando os homens de sua época
não estavam nem um pouco interessados em saber o que aconteceria, anos depois,
quando o patriarca lhes alertava para a catástrofe hídrica que destruiria a
humanidade de então. Alertou que sua vinda seria como nos dias de Ló,
acrescentando apenas alguns poucos detalhes que diferenciavam uns dos outros.
Nos dias de Noé: “Porquanto, assim como, nos dias anteriores ao dilúvio,
comiam, bebiam, casavam e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou
na arca” (Mt 24.38). “Com o também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló:
comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam” (Lc 17.28). Eles
pensavam em tudo, menos em santidade. Só olhavam para as coisas da terra, e se
esqueciam de olhar para cima (Cl 3.2).
Qual a diferença entre os dias de Noé
e os dias de Ló? Nos primeiros, havia vida social normal, incluindo o casamento
entre as pessoas; havia agricultura, pois “comiam, bebiam”. Nos dias de Ló, as
atividades eram semelhantes, mas não se fala em casamento. Coincide com o
relato de Gênesis 19. Em Gênesis 19.4,5, ficou registrado que os homens de
Sodoma eram praticantes da homossexualidade. Queriam “conhecer”, ou ter
relações com os visitantes que foram tirar Ló, imaginando que seriam apenas
homens comuns. Diante da maldade excessiva daquelas cidades, Deus tirou Ló de
lá, repentinamente, sem que os habitantes soubessem, e mandou um fogo dos céus
que destruiu a todos. A pecaminosidade e a corrupção alcançaram níveis além do
suportável pelo Deus sumamente santo.
Assim, uma característica comum ao
que aconteceu com os povos antediluvianos e os de Sodoma e Gomorra foi a
surpresa com que foram alcançados pelas respectivas tragédias. Jesus alertou
que, na sua volta para buscar a Igreja, também as pessoas, no mundo, serão
tomadas de surpresa. Jesus virá num dia e numa hora que ninguém sabe (Mt
24.36). Dessa forma, é indispensável que os cristãos estejam preparados,
sabendo como esperar a volta do Senhor Jesus. E estar preparado é estar em
santidade e em santificação, que é o processo contínuo da separação do mal.
I
- Atitudes Corretas ante a Volta do Senhor
A primeira fase da volta de Jesus para buscar
a sua Igreja, integrada pelos crentes fiéis e santos, será tão repentina que
não haverá tempo para ninguém preparar-se de última hora. Os meios de
comunicação antigos e os mais modernos não terão oportunidade para anunciar a
iminência da volta de Cristo. Essa premência e surpresa do arrebatamento dos
salvos já foi anunciada há muitos
séculos, e estão bem claras nas Escrituras. Diante dessa realidade profética e
real, o cristão verdadeiro, que tem consciência do que é ser salvo para ir para
o céu, onde Cristo está (Jo14.3), deve viver num estilo de vida e conduta de
quem está esperando seu Senhor a qualquer momento.
1. Esperar com Vigilância
Quem espera a volta de Jesus a
qualquer momento precisa estar vigilante, tanto ao que acontece ao seu redor,
como dentro de si próprio.
Os sinais exteriores da volta
iminente de Jesus já foram resumidos no capítulo anterior, e estão se cumprindo
na História de maneira infalí vel, pois as palavras de Jesus não passarão (Mt
24.35). Porém, o crente em Jesus deve vigiar o que se passa no “ambiente”
interior de seu ser, do seu coração. Os acontecimentos proféticos hão de
cumprir-se independentemente da vontade dos homens sem Deus ou mesmo dos
crentes fiéis. Mas o que acontece no interior de cada pessoa depende de si, de
suas atitudes mentais, de seus sentimentos e emoções, ou “do coração”. O Dicionário
Houaiss diz que vigilância é “ 1. Ato ou efeito de vigiar(-se); 2. Estado de
quem vigia; 3. Precaução; 4. Cuidado, atenção desvelada” (grifo nosso). A
partícula se indica a vigilância de si mesmo.
A maioria absoluta dos crentes que
ficarão para trás na volta de Jesus deixará de ir para os céus por causa de
suas atitudes erradas, de sua conduta em desacordo com a vontade Deus, expressa
em sua Palavra. Jesus alertou quanto a isso e exortou os discípulos a serem
vigilantes: “Vigiai, pois, porque não sabeis a que hora há de vir o vosso
Senhor” (Mt 24.42). Ele também ensinou sobre a natureza tendente ao pecado que
está dentro de cada um: “Porque do coração procedem os maus pensamentos,
mortes, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos e blasfêmias” (Mt
15.19; Mc 7.21). Todos esses pecados começam no interior do homem. Satanás
conhece bem essa realidade, desde que tentou o homem no Éden e viu que o ser
criado era suscetível de deixar de ouvir a voz de Deus e ouvir a tentação.
Para não cair em tentação, e ficar
para trás na volta de Jesus, só existe uma receita, dada por Jesus (Mt 26.41).
Somente com oração, muitas vezes reforçada pela prática do jejum, é que podemos
vencer as concupiscências da carne. É evidente que a maioria dos crentes, hoje,
não gosta de orar. As jovens consideradas loucas em Mateus 25 ficaram de fora
da festa nupcial porque não vigiaram, deixando faltar o azeite em suas
vasilhas. Nos dias presentes, há muitos evangélicos negligentes. Mas Jesus
mandou vigiar constantemente, pois não sabemos a hora em que Ele há de vir.
“Sabei, porém, isto: se o pai de família soubesse a que hora havia de vir o
ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa” (Lc 12.39).
2. Viver na Unção do
Espírito Santo
Na parábola das Dez Virgens (Mt 25), vemos a
necessidade do azeite, que simboliza a presença do Espírito Santo, para esperar
“o Noivo”. Somente as “virgens prudentes”, que tinham azeite em suas vasilhas,
e também reservas por precaução, puderam entrar com o noivo para as bodas. As
“insensatas” ou imprudentes “ainda” foram comprar azeite, e se atrasaram para
as bodas: “E, tendo elas ido comprá-lo, chegou o esposo, e as que estavam
preparadas entraram com ele para as bodas, e fechou-se a porta” (Mt 25.10 -
grifo nosso). A parábola retrata um casamento oriental, em que, durante uma
semana, havia as bodas. As dez virgens representam os crentes em geral. As
prudentes representam os crentes que estão esperando a volta de Jesus, na
comunhão do Espírito Santo, sentindo a sua presença, tipificada pelo azeite. As
virgens “loucas” não são débeis mentais, mas crentes que, ao longo dos anos, se
descuidam, e deixam de buscar a presença de Deus e de seu Espírito. Notemos que
a diferença fundamental entre as prudentes e as loucas era o que elas tinham
quanto à provisão do azeite. Nas igrejas em geral, há um esfriamento quanto à
busca do batismo com o Espírito Santo, que corresponde à “reserva”
indispensável para esperar com segurança a volta de Jesus.
Quando o crente aceita a Cristo, já tem o Espírito Santo habitando
com ele, “habita convosco”, mas Jesus prometeu: “estará em vós” (Jo 14.17). Os
discípulos já eram salvos, mas ainda precisavam ser “revestidos de poder” (Lc
24.49). E esse revestimento especial, distinto da salvação, começou a acontecer
e a estar à disposição dos salvos, quando da descida do Espírito Santo, como
Jesus prometeu (At 1.8; 2.1-13). Sem a presença do Espírito Santo, no crente, e
na sua vida, é impossível esperar a vinda de Jesus de forma correta. Precisamos
ser cheios do Espírito (Ef 5.18; At 13.52); andar em Espírito (Rm 8.1;
G15.19); ser guiados pelo Espírito (Rm 8.14); ser templo do Espírito Santo (1
Co 6.19). Sem a unção do Espírito Santo, nos dias presentes, é impossível viver
a Palavra de Deus, obedecer ao Senhor e estar pronto para o arrebatamento.
3. Viver com Santidade
Santidade é uma palavra esquecida por muitos
pastores. Para agradar a todos, numa atitude demagógica, muitos deixam de
ministrar a doutrina da santificação, principalmente para a juventude. Há
igrejas que inventaram as “boates-templo” para atrair jovens para um ambiente
parecido com os locais de reunião de jovens para namorar, beber, marcar
encontros, etc., mesmo que em tais “boates evangélicas” não haja bebidas
alcoólicas. Há igrejas que usam estruturas de luta-livre, de artes marciais e
até de “rodeios”, com animais dentro dos templos, para atrair os jovens! No
tempo de Jesus e no de Paulo já havia os Jogos Olímpicos, com diversas
modalidades, mas nem Cristo nem Paulo, nem de longe, sugeriram tais aberrações para
atrair pessoas para o evangelho.
O evangelho do entretenimento tem suplantado o
evangelho do sofrimento por Cristo. Mas sem santificação “ninguém verá o
Senhor” (Hb 12.14). Ser santo é ser separado, consagrado para Deus. O apóstolo
Pedro nos exorta a sermos obedientes e santos em toda a nossa maneira de viver
(1 Pe 1.13-15). Santidade pressupõe irrepreensibilidade. Paulo exortou: “E o
mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e
corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor
Jesus Cristo” (1 Ts 5.23). Quando falamos de santificação não queremos passar a
ideia do legalismo e do fanatismo de algumas denominações, de forma alguma.
Para ser santo, um servo ou uma serva de Deus não precisa tornar-se um eremita
ou um monge medieval, que se isolavam das cidades, para “não se contaminar com
o mundo”.
Santificação é uma
necessidade imperiosa de separação de tudo o que a Bíblia condena e não do que
certos líderes elegem como pecado, sem qualquer fundamento bíblico. Houve tempo
em que, se um homem não usasse chapéu, não seria santo; se uma mulher não
usasse um vestido longo, com decote no pescoço e mangas compridas até aos
punhos, mesmo num clima tropical, não seria santa; também não seria santa uma jovem
que, mesmo tendo cabelos longos, aparasse as pontas; se usasse um diadema
estaria condenada ao inferno. Isso não é santidade. Isso é fanatismo,
intolerância e sectarismo, sem qualquer base na Palavra de Deus. O mais
terrível e detestável dessa visão de santidade é que tais coisas são
consideradas pecados, enquanto outras, claramente condenadas pela Bíblia, não
são consideradas, como mentira, calúnia, difamação (crimes contra a honra),
calotes, desvio de dinheiro dos cofres de igrejas, falta de amor, aborrecimento
ou ódio a quem não pensa da mesma forma, e tantos outros comportamentos
execráveis. Isso é farisaísmo, e não santidade.
Não defendemos o desrespeito aos bons
usos e aos bons costumes, que têm fundamento bíblico, mas rejeitamos o
legalismo e o autoritarismo que já empurraram muitos para o inferno. Com o
ficam diante de Deus aqueles que contribuíram para a matança espiritual sem
motivo ou fundamento na lei de Deus? A eles faltava o requisito a seguir
comentado.
4. Esperando com Amor
Os crentes que subirão ao encontro do
Senhor serão seus discípulos fiéis e verdadeiros. Já vimos que a “marca
registrada” do cristão não é o nome da denominação, nem o nome de família, nem
o cargo que ocupa na igreja local, mas o amor de Deus no coração e na prática diária.
Jesus disse: “Um novo mandamento vos dou: Que vos ameis uns aos outros; como eu
vos amei a vós, que também vós uns aos outros vos ameis. Nisto todos conhecerão
que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros” (Jo 13.34,35 - grifo
nosso). Esta é uma verdade neotestamentária, pouco anotada por grande parte dos
evangélicos, inclusive por pastores de grandes igrejas.
Os verdadeiros cristãos,
que esperam a volta de Jesus, não são identificados pelo nome ou razão social
da denominação, do ministério ou da igreja. O Senhor Jesus, num de seus
discursos, em presença dos seus discípulos lhes apresentou “um novo
mandamento”, por assim dizer, o “décimo primeiro mandamento”, que eles não
tinham em mente. Conheciam bem os Dez Mandamentos da Lei de Moisés, que também
era a Lei de Deus. Ele ressaltou o valor desse “novo mandamento”, que o dever
de os seus servos amarem uns aos outros, da mesma forma como Ele nos amou. Essa
é a identidade do verdadeiro cristão, preparado para subir no arrebatamento -
ter amor pelos seus irmãos em Cristo. E característica ou a marca distintiva do
verdadeiros discípulos de Jesus ter amor pelos irmãos.
Nesse quesito, ou requisito, como estão os
crentes no século XXI? Tomemos o exemplo de nosso Brasil. O evangelho tem um
crescimento numérico extraordinário. São milhares de igrejas e milhões de
crentes, numa dimensão que, segundo estatísticas com projeções do IBGE, em
2014, os evangélicos seriam 25% da população (em torno de 52 milhões de
pessoas). No entanto, são evidentes as divergências, as competições e as
discordâncias entre igrejas históricas e as chamadas neopentecostais. Não só em
termos doutrinários, mas, também em termos comportamentais. Há líderes de
grandes igrejas, que, em programas de televisão, abertamente criticam outras
igrejas e outros pastores. Isso é falta de ética, e também falta de amor.
Atitudes que em nada glorificam a Deus (cf. 1 Co 10.31). Mais triste é ver
obreiros que não conseguem sequer saudarem-se com a paz do Senhor. Como estarão
esses na vinda de Jesus?
Se pudéssemos perguntar ao apóstolo
João como estarão os crentes que não têm amor a seus irmãos, o que ele nos
responderia? Vejamos: “Aquele que diz que está na luz e aborrece a seu irmão
até agora está em trevas” (1 Jo 2.9). Isto é, quem aborrece a seu irmão, mesmo
que esteja numa igreja há muitos anos, nasceu nela, é obreiro, prega bem, canta
bem, etc., simplesmente “está em trevas”, ou seja, não é salvo. Acreditamos
que, ampliando sua resposta sobre os que não vivem em amor e aborrecem seus
irmãos, João nos acrescentaria: “E tem mais, é muito perigoso não amar o irmão
por que ‘aquele que aborrece a seu irmão está em trevas, e anda em trevas, e
não sabe para onde deva ir; porque as trevas lhe cegaram os olhos’” (1 Jo
2.11).
Se insistíssemos, dizendo: “Apóstolo
João, esse não seria apenas um ‘pecado que não é para a morte’, e podemos orar
por eles, como o senhor diz em 1 João 5.16?”, o apóstolo, certamente, ficaria
mais sério, e responderia: “Meu filho, há muita gente, inclusive pastores, que
consideram os maiores pecados a falta de obediência aos usos e costumes, mas
muitos desses nem sequer serão reconhecidos na vinda de Jesus. Sabe por quê?
Anote: “Nós sabemos que passamos da morte para a vida, porque amamos os irmãos;
quem não ama a seu irmão permanece na morte. Qualquer que aborrece a seu irmão
é homicida. E vós sabeis que nenhum homicida tem permanente nele a vida eterna”
(1 Jo 3. 14,15 - grifo nosso).
II
- Atitudes Errôneas Diante da Vinda de Jesus - no Arrebatamento
1. Ignorando a Vinda de
Jesus
Em Mateus 24.48, o mau servo diz: “O meu
senhor tarde virá”, e passa a viver de modo negligente e desatento,
completamente alheio à volta de Cristo. A este, diz o Senhor: “Virá o senhor
daquele servo num dia em que o não espera e à hora em que ele não sabe, e
separa-lo-á, e destinará a sua parte com os hipócritas; ali haverá pranto e
ranger de dentes” (Mt 24.50). Nestes tempos de sinais evidentes da proximidade
da vinda de Jesus, há muitos evangélicos brincando de ser crentes. Há obreiros
que não mais falam na vinda de Jesus. É negligência espiritual. Quanto aos
ímpios, é natural que não levem em conta as advertências da Palavra de Deus
quanto à proximidade e surpresa da volta de Jesus. Mas os cristãos não devem
descuidar-se dessa realidade espiritual tão significativa.
2. Escarnecendo das
Profecias
O apóstolo Pedro escreveu: “sabendo
primeiro isto: que nos últimos dias virão escarnecedores, andando segundo as
suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda?
Porque desde que os pais dormiram todas as coisas permanecem como desde o
princípio da criação” (2 Pe 3.3,4). O apóstolo deu como resposta o ensino
bíblico, que indica a matemática de Deus quanto à contagem dos tempos, dizendo:
“Mas, amados, não ignoreis uma coisa: que um dia para o Senhor é como mil anos,
e mil anos, como um dia” (2 Pe 3.8). Pedro envia essa mensagem a pessoas
crentes, que estão nas igrejas. Como visto, no capítulo 1, há diversas
interpretações quanto ao arrebatamento da Igreja. Há, inclusive, teólogos que
dizem que Jesus jamais virá nas nuvens para buscar a sua Igreja (1 Ts 4.17),
que isso é apenas uma utopia motivadora para os crentes se comportarem de modo
santo. É melhor estar preparado, e conferir os sinais proféticos de acordo com
a santa Palavra de Deus.
3. Traição e Aborrecimento
E um dos sinais da vinda do Senhor Jesus. Esse
comportamento pode levar muitos à condenação eterna. Jesus profetizou: “Nesse
tempo, muitos serão escandalizados, e trair-se-ão uns aos outros, e uns aos
outros se aborrecerão” (Mt 24.10). Qual a causa dessa traição entre os que se
dizem cristãos, no tempo da volta de Jesus? Ele responde: “E, por se
multiplicar a iniqüidade, o amor de muitos se esfriará” (Mt 24.12). Não há
necessidade de nenhuma pesquisa para constatar, pelas evidências diárias, na
mídia e no comportamento humano, que a iniqüidade está generalizada, no mundo
todo, e com muita incidência em nosso país. Esse aumento da iniqüidade acaba
influenciando o comportamento dos crentes negligentes quanto à volta do Senhor.
E muitos nem percebem que estão aborrecendo seus irmãos, seja pelo legalismo
III
- Os Dois Tipos de Servos
Na vinda de Jesus, haverá dois tipos
de servos. Os fiéis e os infiéis. Os que fazem a vontade de Deus e os que estão
fora de sua vontade. Os que estão no seu lugar e os que estão fora do lugar. Os
que estão vigiando e os que estão descuidados, como na parábola das Dez
Virgens. E Jesus proferiu outra parábola, enfatizando esses dois tipos de
crentes. A parábola dos dois servos.
1. O Servo Fiel
“Quem é, pois, o servo fiel e prudente, que o
Senhor constituiu sobre a sua casa, para dar o sustento a seu tempo?
Bem-aventurado aquele servo que o Senhor, quando vier, achar servindo assim. Em
verdade vos digo que o porá sobre todos os seus bens” (Mt 24.4547). Essa parte
da parábola, no meio do Sermão Profético de Jesus, dá a entender que Ele se
referia a servos que têm liderança, ou seja, obreiros, pastores, dirigentes de
congregação ou de trabalhos, nas igrejas locais, que, no seu conjunto, se forem
verdadeiras, formam o todo maior que constitui a Igreja do Senhor. E que
deverão prestar contas, de modo “que o Senhor, quando vier, achar servindo
assim”. “Primeiro, porque eles são constituídos “sobre a sua casa”. Estar
“sobre a casa” é ser líder, mordomo, ou administrador dos bens de seu Senhor.
Hoje, a “casa de Deus”, ou “casa de Jesus”, pode ser identificada como uma
igreja cristã, que reúne servos ou discípulos de Jesus num determinado lugar.
Numa visão mais ampla, ser “servo fiel e prudente” pode-se aplicar a cada
crente individualmente, homem ou mulher, que espera a volta do Senhor.
Esse “servo fiel e prudente” são os
líderes ou pastores, que atuam na obra do Senhor com fidelidade e amor. Em
segundo lugar, o texto diz que esse servo, elogiado pelo seu Senhor, é
constituído “para dar o sustento a seu tempo” sobre a sua casa, ou seja, aos
que vivem e trabalham na “casa do Senhor”. Os pastores das igrejas, sejam quais
forem elas, pequenas, médias ou grandes, devem ser realmente apascentadores do
rebanho de Jesus. As ovelhas não lhes pertencem. Todo pastor cristão pastoreia
ovelhas que não lhes pertencem. E um dia haverão de prestar contas de como as
trataram como ovelhas do Senhor. Nesse aspecto, é o apóstolo Pedro quem melhor
traduz como deve ser o comportamento dos pastores, como servos fiéis e
prudentes: “Aos presbíteros que estão entre vós, admoesto eu, que sou também
presbítero com eles, e testemunha das aflições de Cristo, e participante da
glória que se há de revelar: apascentai o rebanho de Deus que está entre vós,
tendo cuidado dele, não por força, mas voluntariamente; nem por torpe ganância,
mas de ânimo pronto; nem como tendo domínio sobre a herança de Deus, mas
servindo de exemplo ao rebanho. E, quando aparecer o Sumo Pastor, alcançareis a
incorruptível coroa de glória. (1 Pe 5.1-4)
Essas são as qualidades que devem
identificar um “servo fiel e prudente” constituído para cuidar da casa do
Senhor. Dando o alimento ao “rebanho de Deus”, agindo, nesse cuidado, sem
autoritarismo; trabalhando sem “torpe ganância”, como tantos têm aparecido, em
noticiários na mídia, apropriando-se de dinheiros das ofertas e dízimos das
igrejas. A cobiça e a ganância têm tornado muitos obreiros em ladrões e
corruptos no meio evangélico, causando escândalos ao bom nome do evangelho (Mt
18.7). Ao servo “fiel e prudente”, que lidera a obra do Senhor, está reservado
um galardão especial, não concedido a nenhum outro tipo de servo: “a
incorruptível coroa de glória”!
2. O Mau Servo
“Porém, se aquele mau servo disser
consigo: O meu senhor tarde virá, e começar a espancar os seus conservos, e a
comer, e a beber com os bêbados, virá o senhor daquele servo num dia em que o
não espera e à hora em que ele não sabe, e separá-lo-á, e destinará a sua parte
com os hipócritas; ali haverá pranto e ranger de dentes” (Mt 25.48-51). Nesse
ponto, na parábola dos dois servos, parece que Jesus quis mesmo exagerar nas
qualidades negativas do mau servo. Se, no caso do “servo fiel e prudente”,
pudemos relacionar Com os obreiros fiéis, sobre as igrejas cristãs, nesse caso
do “mau servo” não é fácil fazer a correlação dessas péssimas qualidades com os
líderes da obra do Senhor. Admitimos que há maus servos, ou maus obreiros, à
frente de igrejas, como dirigentes, bispos, presbíteros ou pastores. Mas
entendemos que são exceções.
Certamente, tais qualidades não
recomendáveis para um servo ou serva de Deus aplicam-se bem a todos os crentes,
que estão esperando a volta de Jesus. A exemplo das “virgens loucas”, de Mateus
25, o “mau servo” racionaliza, em função do tempo de crente, ou da história da
igreja, ao longo dos séculos, e diz: “O meu senhor tarde virá”. Tal raciocínio
leva o crente a se descuidar, e negligenciar sua fé e sua conduta. O que é
muito perigoso. Facilmente, esse tipo de pensamento leva o crente a cair em
tentação, visto que, descuidado, se esquece de orar e de vigiar como Jesus
exortou em Mateus 26.41.
Há muitos que começam a carreira cristã, mas
não a terminam. Em Mateus 24.45, o Senhor destaca a qualidade de fidelidade e
prudência do servo que estará esperando a sua vinda. Essas características
devem fazer parte da vida dos que entendem que estamos vivendo a geração da
última hora, da geração que verá e fará parte do arrebatamento da Igreja. “Quem
é, pois, o servo fiel e prudente, que o Senhor constituiu sobre a sua casa,
para dar o sustento a seu tempo?”.
O Final de Todas as Coisas
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia
Myer
Pearlman
V. O destino dos justos.
1. Natureza do céu.
Os justos são destinados à vida eterna na presença de Deus.
Deus criou o homem para ser ele conhecido pelo homem, amado e
servido por ele no presente mundo, como também gozar eternamente de
sua presença no mundo vindouro.
O cristão durante a sua vida terrestre experimenta pela fé
a presença do Deus invisível, mas na vida vindoura essa experiência da fé
tornar-se-á um fato consumado. Ele verá a Deus face a face, terá a
experiência que alguns teólogos chamam a "Visão Beatifica".
O céu descreve-se por vários títulos:
1) Paraíso (literalmente, jardim), lembrando-nos a
felicidade e o contentamento dos nossos primeiros pais ao participarem de
comunhão e conversação com o Senhor Deus. (Apo. 2:7; 2Cor. 12:4)
2) "Casa de meu Pai", com suas muitas mansões (João
14:2) expondo o conforto, descanso e comunhão do lar.
3) O país celestial, a caminho do qual estamos viajando, como
Israel naquele tempo se destinava a Canaã, a Terra da Promissão. (Heb.
11:13-16.)
4) Uma cidade, sugerindo a idéia duma sociedade organizada.
(Heb. 11:10; Apo. 21:2.) Devemos distinguir as seguintes três fases na condição
dos cristãos que partiram desta vida: primeira, existe um estado
intermediário de descanso enquanto aguardam a ressurreição; segunda, depois da
ressurreição segue-se o juízo sobre as obras (2Cor. 5:10; 1Cor. 3:10-15);
terceira, ao fim do Milênio descerá do céu a Nova Jerusalém, o lar final dos
remidos (Apoc. 21). A Nova Jerusalém descerá do céu, faz parte do céu,
e, portanto, é o céu no pleno sentido da palavra. Sempre que Deus se
revela pela sua presença pessoal e glória celeste, ai é céu, e dessa
maneira podemos descrever a Nova Jerusalém. (Apo. 22:3,4.) Por que desce essa
cidade do céu? O propósito final de Deus é trazer o céu à terra. (Vide
Deut. 11:21.) Ele tornará "a congregar em Cristo todas as coisas, na
dispensação da plenitude dos tempos, tanto as que estão nos céus como as
que estão na terra" (Efés. 1:10); então Deus será "tudo em
todos" (1Cor. 15:28).
Embora a Nova Jerusalém não chegue até a terra, ela será
visível aos moradores terrestres, pois "as nações andarão à sua
luz" (Apo. 21:24).
2. Necessidade do céu.
O estudo das religiões revela o fato de que a alma humana
instintivamente crê que existe céu. Esse instinto foi implantado no coração do
homem pelo próprio Deus, o Criador dos instintos humanos. Os argumentos
que provam a existência da vida futura não são formulados principalmente para
que os homens acreditem nessa vida, mas porque os homens já acreditam, e
desejam trazer a inteligência sujeita às mais profundas instituições do
coração.
Também o céu é essencial às exigências da justiça.
Os sofrimentos dos justos sobre a terra e a prosperidade dos
ímpios exigem um estado futuro no qual se faça plena justiça. A
Bíblia ensina que tal lugar existe. Platão, o mais sábio dos gregos, opinou
que a vida futura era uma probabilidade, e aconselhou os homens a colherem
as melhores opiniões a respeito, e a embarcar nelas como que numa balsa, e
navegar perigosamente os mares da vida, "a não ser que com mais
segurança pudesse achar um navio melhor, ou uma palavra divina". Essa
palavra divina que os sábios desejaram são as Escrituras Sagradas, nas quais se
ensina a existência da vida futura, não como opinião ou teoria, mas
como fato absoluto.
3. As bênçãos do céu.
(a) Luz e beleza. (Apo. 21:23; 2:5.) A melhor linguagem
humana é inadequada para descrever as gloriosas realidades da vida futura.
Nos caps. 21 e 22 do Apocalipse o Espírito emprega linguagem que nos ajuda
a compreender algo das belezas do outro mundo. A toupeira que vive no
buraco na terra não pode compreender como é a vida da águia que se eleva
acima das altas montanhas. Vamos imaginar um mineiro que nascesse em uma
mina 500 metros abaixo da superfície e que ai passasse todos os seus dias, sem
nunca ter visto a superfície da terra. Como seria difícil tentar
descrever-lhe as delicias visuais de verdes árvores, campos floridos,
rios, pomares, picos de montanhas, e o céu estrelado. Ele nada
disso apreciaria, pois seus olhos não viram, seus ouvidos não
ouviram e não entrou em seu coração o conhecimento dessas coisas.
(b) Plenitude de conhecimento, (1Cor. 13:12.) O sentimento
expresso pelo sábio Sócrates ao dizer: "Uma coisa sei, é que nada
sei", tem sido repetido pelos sábios daquele tempo. O homem está
rodeado dos mistérios e anseia pela sabedoria. No céu esse anseio será
satisfeito absolutamente; os mistérios do universo serão desvendados;
problemas teológicos difíceis desvanecerão. Então gozaremos de melhor
qualidade de conhecimento, o conhecimento de Deus.
(c) Descanso. (Apo. 14:13; 21:4.) Pode-se formar certa
concepção do céu contrastando-o com as desvantagens da vida presente. Pense em
tudo que neste mundo provoca: fadiga, dor, luta e tristeza, e considere
que no céu essas coisas não nos perturbarão.
(d) Servir. Existem pessoas acostumadas a uma vida muito
ativa que não se interessam pelo céu, pensando que o céu seja lugar
de inatividade, onde seres etéreos passem o tempo tocando harpa. Essa,
porém, não é uma concepção exata. É verdade que os redimidos tocarão
harpas, pois o céu é lugar de música. "Haverá trabalho a fazer também.
"... Estão diante do trono de Deus, e o servem de dia e de noite no
seu templo." "(Apo. 7:15); "... e os seus servos o
servirão"... (Apo. 22:3). Aquele que colocou o homem no primeiro
paraíso, com instruções sobre como cuidar dele, certamente não deixará o
homem sem ter o que fazer no segundo paraíso.
(e) Gozo. (Apo. 21:4.) O maior prazer experimentado neste
mundo, mesmo que ampliado um milhão de vezes, ainda não expressaria o gozo que
espera os filhos de Deus nesse reino. Se um poderoso rei, possuidor de
ilimitadas riquezas, quisesse construir um palácio para sua noiva, esse
palácio seria tudo quanto a arte e os recursos pudessem prover. Deus ama
seus filhos infinitamente mais que qualquer ser humano. Possuindo recursos
inexauríveis, ele pode fazer um lar cuja beleza ultrapasse tudo quanto a arte e
imaginação humanas poderiam conceber. "Vou preparar-vos lugar."
(f) Estabilidade. O gozo do céu será eterno. De fato, a
permanência é uma das necessidades para que a felicidade seja perfeita.
Por muito gloriosas que sejam a beleza e a felicidade celestiais, saber que
essas coisas acabariam já é suficiente para que o gozo perca sua
perfeição. Lembrar-se de que inevitavelmente tudo findará , seria um
empecilho ao gozo perfeito. Todos desejam o estado permanente: saúde
permanente, paz permanente e prosperidade permanente. A instabilidade
e insegurança são temidas por todos. Mas a felicidade no céu
é justamente a divina promessa de que o seu gozo nunca há de terminar
nem diminuir de intensidade.
(g) Gozos Sociais. (Heb. 12:22, 23; 1Tess. 4:13-18) Por
natureza, o homem é um ser social. O homem solitário é anormal. Se na vida
presente os gozos sociais proporcionam tanta felicidade, como não será
muito mais gloriosa a amável comunhão social no céu. Nas relações humanas,
mesmo as pessoas mais chegadas a nós têm suas faltas e características que
destroem a sua personalidade. No céu os amigos e parentes não terão
faltas. Os gozos sociais nesta vida fazem-se acompanhar de desapontamento.
Muitas vezes os próprios familiares nos causam grandes tristezas; as amizades
acabam e o amor desvanece. Mas no céu não haverá os mal-entendidos e nenhuma
rixa; tudo será bom e belo, sem sombra e sem defeito, cheio de sabedoria
celestial e resplandecente com a glória de Deus.
(h) Comunhão com Cristo. (João 14:3; 2Cor. 5:8; Fil. 1:23.)
"Ao qual, não o havendo visto, amais; no qual, não o vendo agora, mas
crendo, vos alegrais com gozo inefável e glorioso" (1Ped. 1:8). Naquele
dia seremos como ele é; os nossos corpos serão como o seu glorioso corpo; nós o
veremos face a face; aquele que pastoreou o seu povo no vale das lágrimas, no
céu conduzirá esse povo de gozo em gozo, de glória em glória, e de
revelação em revelação.
VI. O destino dos ímpios.
1. O ensino bíblico.
O destino dos ímpios é estar eternamente separados de Deus e
sofrer eternamente o castigo que se chama a segunda morte. Devido à
sua natureza terrível, é um assunto diante do qual se costuma recuar;
entretanto, é necessário tomar conhecimento dele, pois é uma das grandes
verdades da divina revelação. Por essa razão o manso e amoroso Cristo
avisou os homens dos sofrimentos no inferno. Sua declaração acerca da
esperança do céu aplica-se também à existência do inferno "se não
fosse assim, eu vo-lo teria dito" (João 14:2). O inferno é um lugar
de: extremo sofrimento (Apo. 20:10), onde é lembrado e sentido o remorso
(Luc. 16:19-31), inquietação (Luc. 16:24), vergonha e desprezo (Dan. 12:2), vil
companhia (Apo. 21:8) e desespero (Prov. 11:7, Mat. 25:41).
2. Opiniões errôneas.
(a) O universalismo ensina que todos os homens, no fim, serão
salvos, argumentando que Deus é amoroso demais para excluir alguém do céu. Essa
teoria é refutada pelas seguintes passagens: Rom. 6:23; Luc. 16:19-31; João
3:36 e outras. Na realidade, é a misericórdia de Deus que exclui do céu o
ímpio, pois este não se acomodaria no ambiente celestial como também o
justo não teria prazer em estar no inferno.
(b) O restauracionismo. A doutrina da restauração de todas
as coisas ensina que o inferno não é eterno, e, sim, apenas
uma experiência temporária que tem por fim purificar o pecador
para que possa entrar no céu. Se assim fosse, então o fogo
infernal teria mais poder do que o sangue de Cristo. Também, a experiência
nos ensina que a punição, em si, não regenera; ela pode restringir mas não
transformar. Os partidários dessa escola de pensamento afirmam que a palavra "eterno",
na língua grega, significa "duração de século ou época" e não
duração sem fim. Mas, segundo Mat. 25:41, se a punição dos ímpios tiver
fim, então o terá também a felicidade dos justos. Assim comenta o Dr.
Maclaren: Reverentemente aceitando as palavras de Cristo como palavras de
perfeito amor e sabedoria infalível, este autor... receia que, na avidez
de discutir a duração, o fato solene da realidade da futura retribuição
seja ofuscado, e os homens discutam sobre o "terror do Senhor" a
ponto de não sentirem mais receio a seu respeito. Os hábitos tendem a se
fixar. A tendência do caráter é tornar-se permanente; não há razão para
crer que Deus futuramente, mais do que no presente, obrigue a pessoa a ser
salva.
(c) Segundo período probatório. Ensina que todos, no tempo entre
a morte e a ressurreição, terão outra oportunidade para aceitar a
salvação. As Escrituras, entretanto, ensinam que na morte já se fixou o
destino do homem. (Heb. 9:27.) Além disso, quantos aceitarão a presente
oportunidade se pensarem que haverá outra? E, segundo as leis da natureza
humana, se negligenciarem a primeira oportunidade, estarão menos dispostos
a aceitar a segunda.
(d) Aniquilamento. Ensina que Deus aniquilará os ímpios.
Os partidários dessa doutrina citam 2Tess. 1:9 e outras passagens que
afirmam que os ímpios serão destruídos. Contudo, o sentido da palavra,
como usada nas Escrituras, não é "aniquilar", mas causar ruína.
Se a palavra perdição (Almeida) nesse verso significa aniquilar, então a
palavra "eterna" no mesmo verso seria supérflua, pois aniquilamento
só pode ser eterno. Também citam passagens que expõem a morte como a pena
do pecado. Mas, nesses casos, refere-se à morte espiritual e não à morte
física, e morte espiritual significa separação de Deus. A promessa de vida
feita ao obediente não significa o dom de "existência", pois
esse dom todos os homens o possuem. E se a vida, como um galardão, não
significa mera existência, então a morte também não significa mera perda
VII. A segunda vinda de Cristo.
1. O fato de sua vinda.
O fato da segunda vinda de Cristo é mencionado mais de 300
vezes no Novo Testamento. Paulo refere-se ao evento umas cinqüenta vezes.
Alguém já disse que a
segunda vinda é mencionada oito vezes mais do que a primeira. Epístolas
inteiras (Cl e 2Tess.) e capítulos inteiros (Mat. 24, Mat. 13) são dedicados ao
assunto. Sem dúvida, é uma das doutrinas mais importantes do
Novo Testamento.
2. A maneira de sua vinda.
Será de maneira pessoal (João 14:3; Atos 1:10,11; 1Tess.
4:16; Apo. 1:7; 22:7), literal (Atos 1:10; 1Tess. 4:16, 17; Apo. 1:7; Zac.
14:4), visível (Heb. 9:28; Fps. 3:20; Zac. 12:10) e gloriosa (Mat. 16:27;
25:31; 2Tess. 1:7-9; Gál. 3:4). Há interpretações que procuram evitar a opinião
de que a vinda de Cristo seja literal e pessoal. Alguns ensinam que a morte
é a segunda vinda de Cristo. Mas a Bíblia mostra que a segunda
vinda é o contrário da morte, pois os mortos em Cristo ressuscitarão nessa
ocasião. Com a morte iremos para Cristo, mas na sua vinda ele virá para
nos buscar. Certas passagens (Mat. 16:28; Fil. 3:20) perdem seu significado se
substituíssemos morte por segunda vinda. Finalmente, a morte é um inimigo,
enquanto a vinda de Cristo é a gloriosa esperança. Alguns sustentam que a
segunda vinda foi a descida do Espírito no dia de Pentecoste. Outros ensinam
que Cristo veio no tempo da destruição de Jerusalém no ano 70 A.D., mas em cada
um desses casos não houve ressurreição dos mortos, nem o arrebatamento dos
vivos, nem outros eventos preditos que acompanharão o segundo advento.
3. O Tempo da sua vinda.
Tentativas houve para determinar a data da vinda de Cristo,
mas em nenhuma delas o Senhor veio na hora marcada pelos homens! Ele declarou
que o tempo exato de sua vinda está oculto nos conselhos divinos. (Mat.
24:36-42; Mar. 13:21, 22.) é bom que seja assim.
Quem gostaria de saber com antecedência a hora exata de
sua morte? Tal conhecimento teria o efeito de perturbar e
inutilizar a pessoa. Basta que saibamos que a morte pode vir a
qualquer instante; portanto, devemos trabalhar "enquanto é dia pois
a noite vem quando ninguém pode trabalhar". O mesmo raciocínio
serve quanto ao fim da presente dispensação. Esse dia também não
nos foi revelado, mas sabemos quê será repentino (1Cor. 15:52; Mat. 24:27)
e inesperado (2Ped. 3:4; Mat. 24:48-51; Apo. 16:15). O Senhor avisa seus
servos: "Negociai até que eu venha"
Damos em seguida uma visão geral do ensino de Cristo sobre o
tempo da sua vinda: após a destruição de Jerusalém os judeus
serão desterrados entre todas as nações, expulsos de sua terra, a
qual passará a ser subjugada pelos gentios até ao fim dos
tempos, quando Deus julgará as nações gentias (Luc. 21:24). Durante esse
período os servos de Cristo levarão sua obra avante (Luc. 19:11-27) pregando o
Evangelho a todas as nações (Mat. 24:14).
Será um tempo de demora durante o qual muitas vezes a igreja
será tentada a duvidar do retomo do seu Senhor (Luc. 18:1-8),
quando alguns se prepararão e outros se tornarão negligentes, enquanto
o Noivo demora (Mat. 25:1-11). Ministros infiéis desviar-se-ão, dizendo
consigo mesmos: "O meu Senhor tarda a vir" (Luc. 12:45).
"Muito tempo depois" (Mat. 25:19), "…
meia-noite (Mat. 25:6), ‹a hora e no dia dos quais nenhum dos seus
discípulos sabe (Mat. 24:36, 42,50), o Senhor repentinamente aparecerá para
ajuntar seus servos e julgá-los segundo as suas obras (Mat. 25:19; e 2Cor.
5:10). Mais tarde, depois de ter sido pregado universalmente o Evangelho e
após o mundo havê-lo rejeitado, quando o povo estiver vivendo
completamente ignorante quanto à iminente catástrofe, como nos dias de Noé
(Mat. 24:37-39) e nos dias da destruição de Sodoma (Luc. 17:28, 29) virá o
Filho do homem em glória e poder para julgar as nações do mundo e sobre elas
reinar (Mat. 25:31-46).
4. Sinais de sua vinda.
As Escrituras ensinam que a aparição de Cristo inaugurando
a Idade Milenial será precedida por um tempo agitado de transição, no
qual haverá distúrbios físicos, guerras, crises econômicas, declínio
moral, apostasia religiosa, infidelidade, pânico geral e perplexidade. A
última parte desse período transitório chama-se "A Grande
Tribulação", durante a qual o mundo inteiro estará sob o domínio dum
governo contra Deus e anticristão. Crentes em Deus serão brutalmente
perseguidos, e a nação judaica, em particular, passará pela fornalha da
aflição.
5. O propósito de sua vinda.
(a) Em relação à igreja. Assim escreve o Dr. Pardington:
Assim como a primeira vinda do Senhor se estendeu sobre um período
de 30 anos, assim a segunda vinda influirá em vários eventos.
Na primeira vinda ele foi revelado como o Menino de Belém; mais tarde
como o Cordeiro de Deus, ao ser batizado, e como o Redentor no Calvário. Na
segunda vinda aparecerá aos seus secreta e repentinamente para
trasladá-los às Bodas do Cordeiro. Essa aparição chama-se o arrebatamento ou
"Parousia" (que significa "aparição" ou "presença"
ou "chegada" na língua grega). Nessa ocasião os crentes serão
julgados para determinar as suas recompensas por serviços prestados (Mat.
25:14-30). Após o arrebatamento, segue-se um período de terrível tribulação,
que terminará na revelação, ou manifestação aberta de Cristo proveniente
do céu, quando ele estabelecerá seu reino messiânico sobre a terra.
(b) Em relação a Israel. Aquele que é a Cabeça e Salvador
da igreja, do povo do céu, é também o prometido Messias de Israel, do
povo terrestre. Como Messias, ele libertará esse povo da tribulação,
congregá-lo-á dos quatro cantos da terra, restaurá-lo-á na sua antiga terra e
sobre ele reinará como seu, há muito prometido, Rei sobre a Casa de Davi.
(c) Em relação ao anticristo.
O espírito do anticristo já
está no mundo (1João 4:3; 2:18; 2:22), mas ainda virá outro
anticristo final (2Tess. 2:3). Nos últimos dias ele se levantará dentre
o velho mundo (Apo. 13:1) e tornar-se-á o soberano sobre um
Império Romano ressuscitado que dominará todo o mundo. Assumirá grande poder
político (Dan. 7:8, 25), comercial (Dan. 8:25; Apo. 13:16, 17) e religioso
(Apo. 17:1-15). Ele será anti-Deus e anti-Cristo, e perseguirá os cristãos
numa tentativa de extinguir o Cristianismo. (Dan. 7:25; 8:24; Apo. 13:7,
15). Sabendo que os homens desejam ter alguma religião, ele estabelecerá
um culto baseado na divindade do homem e na supremacia do Estado. Como
personificação desse Estado, ele exigirá o culto do povo, e formará um
sacerdócio para fazer cumprir e promulgar esse culto. (2Tess. 2:9,10; Apo. 13:
12-15.) O anticristo levará ao extremo a doutrina da supremacia do
Estado, a qual ensina que o governo é o supremo poder, em torno do
qual tudo, incluindo a própria consciência do homem, tem que
lhe estar subordinado. Visto que não existe poder ou lei mais elevados do
que o Estado, segundo eles, Deus e sua lei precisam ser abolidos para se
prestar culto ao Estado. A primeira tentativa para estabelecer o culto ao
Estado está registrada em Daniel cap. 3. Nabucodonosor orgulhou-se do poderoso
império que edificara. "não é esta a grande Babilônia que
eu edifiquei?..." (Dan. 4:30). Tão deslumbrado ficou ele diante
do poderio e governos humanos, que o Estado para ele se tomou como um
deus. Que melhor maneira para impressionar os homens com sua glória, do que
ordenar-lhes que o símbolo desse governo fosse venerado! Portanto, ele
edificou uma grande imagem dourada e mandou que todos os povos se
prostrassem diante dela, sob pena de morte. A imagem não foi a de uma
divindade local, mas representava o próprio Estado. Recusar cultuar a
imagem era considerado ateísmo ou traição. Ao instituir essa nova
religião, Nabucodonosor como que dizia ao povo: "Quem vos deu as
belas cidades, as boas estradas, e belos jardins? O Estado! Quem vos provê
de alimentos e serviço, quem funda escolas e patrocina templos? O Estado! Quem
vos defende dos ataques dos inimigos? O Estado! não será então o Estado,
esse poderio, um deus? Portanto, que maior deus quereis do que vosso exaltado
governo? Prostrai-vos perante o símbolo da grande Babilônia!" E se Deus
não o tivesse humilhado do seu orgulho blasfemo (Dan.
4:28-37), Nabucodonosor talvez teria exigido o culto de sua própria
pessoa como chefe do Estado. Como os três filhos hebreus (Dan. 3) foram
perseguidos por se recusarem a curvar-se perante a imagem de Nabucodonosor,
assim os cristãos do primeiro século sofreram porque se recusaram a render
homenagens divinas à imagem de César. Havia tolerância de todas as
religiões no Império Romano, mas sob a condição de que fosse venerada a
imagem de César como símbolo do Estado. Os cristãos foram perseguidos, não
tanto por sua lealdade a Cristo, mas porque se recusaram a adorar a César
e dizer: "César é Senhor." Recusaram-se a cultuar o Estado como deus.
A Revolução francesa oferece outro exemplo dessa política. Deus e Cristo
foram lançados fora e um deus, ou deusa, se fez da "Pátria" (o
Estado). Assim disse um dos lideres: "O Estado é supremo em todas as
coisas. Quando o Estado se pronuncia, a igreja não tem nada a dizer."
A lealdade ao Estado elevou-se à posição de religião. A assembléia
decretou que em todas as vilas fossem levantados altares com a seguinte
inscrição: "O cidadão nasce, vive e morre por La Patrie."
Preparou-se um ritual para batismos, casamentos e enterros civis. A religião do
Estado possuía seus hinos e orações, seus jejuns e festas. O Novo
Testamento reconhece o governo humano como divinamente ordenado para a
manutenção da ordem e da justiça. O cristão, por conseguinte, deve lealdade à
sua pátria. Tanto a igreja como o estado têm sua parte no programa divino,
e cada qual deve limitar-se à sua esfera. Deus deve receber o que lhe pertence,
e César deve receber o que lhe pertence. Mas acontece que muitas vezes César
exige coisas que são de Deus, resultando que a igreja, muito contra sua
vontade, entra em choque com o governo. As Escrituras prevêem que esses
conflitos futuramente chegarão ao seu ponto máximo. A última civilização será
anti-Deus, e o anticristo, seu chefe, o ditador mundial, tornará as leis
desse superestado supremas sobre todas as demais leis", e exigirá o
culto à sua pessoa como a personificação do Estado. As mesmas Escrituras
predizem a vitória de Deus e que sobre as ruínas do império mundial"
anticristão, ele levantará seu reino no qual Deus é supremo — o Reino de Deus.
(Dan. 2:34, 35, 44; Apo. 11:15; 19:11-21.)
(d) Em relação às nações.
As nações serão julgadas, os reinos
do mundo destruídos, e todos os povos estarão sujeitos ao Rei dos reis.
(Dan. 2:44; Miq. 4:1; Isa. 49:22, 23; Jer. 23:5; Luc. 1:32; Zac. 14:9; Isa.
24:23; Apo. 11:15.) Cristo regerá as nações com vara de ferro; tirará toda
a opressão e injustiça da terra e inaugurará a Idade áurea de mil anos.
(Sal. 2:7-9; 72; Isa. 11:1-9; Apo. 20:6.) "Depois virá o fim, quando
houver entregado o reino a Deus, o Pai, e quando houver aniquilado todo o
império, e toda potestade e força" (1Cor. 15:24). Há três estágios na
obra de Cristo como Mediador: Sua obra como Profeta, cumprida durante seu
ministério terrestre; sua obra como Sacerdote, começada na cruz e continuada durante
a dispensação atual; e sua obra como Rei, começando com a sua vinda e
continuando durante o Milênio. Depois do Milênio ter cumprido sua obra de
unir a humanidade a Deus, de forma que os habitantes do céu e da terra
formem uma só grande família onde Deus será tudo e estará em todos. (Efés.
1:10; 3:14, 15.)
Contudo, Cristo continuará a reinar como o Deus-homem,
e partilhar do governo divino, pois "o seu reino não terá fim"
(Luc. 1:33).
Conhecendo as Doutrinas da Bíblia - Myer Pearlman
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