terça-feira, 24 de novembro de 2015

LIÇÃO 9 : BÊNÇÃO E MALDIÇÃO NA FAMÍLIA DE NOÉ



             Capítulo 9    


BÊNÇÃO E MALDIÇÃO NA FAMÍLIA DE NOÉ

I. A FAMÍLIA DE NOÉ 

Já estabelecidos nas imediações do Ararate, Noé e sua família recebem do Senhor a incumbência de repovoar a Terra. E, assim, tem início um novo processo civilizatório. Daquele único clã, sairão as tribos, nações e povos que, espalhados pelos cinco continentes, hão de originar reinos e impérios.
A tarefa será nada fácil. A ruptura cultural com o mundo de Lameque envidará muito trabalho. Por isso mesmo, os filhos de Noé empenhar-se-ão em recompor as ciências, engenhos e tecnologias de quase vinte séculos. Se algum esforço foi requerido de Adão, de Noé há de ser exigida redobrada pertinácia, para que a nova civilização finque suas raízes.
Em meio a tantos afazeres e preocupações, eis que um incidente na família do patriarca cinde a humanidade ali representada. Tudo começou quando Noé retomou suas lides agrárias.

 II. NO PRINCÍPIO, ERA A AGRICULTURA

Sem a agricultura, a civilização seria impossível. É o que nos ensina a História. Os povos que, hoje, nos encantam com o seu progresso e desenvolvimento são os que mais se entregaram ao amanho da terra. Os europeus, norte-americanos e japoneses são um exemplo clássico. 

O cultivo do solo exigiu-lhes o domínio da meteorologia, da química, da metalurgia e de outras ciências fronteiriças. Quem lida com a plantação há de necessitar de enxadas e relhas, adubos e previsões do tempo. Concernente aos povos que se limitaram à caça e à coleta vegetariana, jazem tão primitivos quanto há dois mil anos.

1. Noé, o agricultor.

Já fora da arca e já estabelecido nas imediações de Sinear, passou Noé a trabalhar a terra, pois não desconhecia os benefícios da agricultura. Assim o autor sagrado descreve a fadiga do patriarca: “Sendo Noé lavrador, passou a plantar uma vinha” (Gn 9.20). O verbo hebraico natah não significa apenas plantar; seu significado tem sérias implicações civilizatórias: estabelecer, edificar e construir.

Em sua essência, plantar é fazer cultura.
Ciente da importância da agricultura, eis que Noé põe-se a trabalhar a terra. E, dessa forma, semeia uma nova civilização que, dentro em pouco, não terá apenas recuperado o que se havia perdido, mas se haverá surpreendentemente. Haja vista o que dirá o próprio Senhor quando da soberba de Babel: “Agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer” (Gn 11.6).

 Noé volta à terra. Ele planta uma vinha e semeia uma civilização; seus filhos colherão reinos e impérios.

2. A vinha de Noé.

Pelo que depreendo das palavras de Jesus, a uva já era bastante cultivada no período pré-diluviano, pois os discípulos de Lameque entregavam-se à comida e à bebida. Vinhas e adegas eram mui encontradiças naquele tempo. Ninguém desconhecia o poder inebriante do fruto da vide.

Juntamente com a vinha, o patriarca constrói uma adega. E, com a ciência que trouxera da primeira civilização, põe-se a vinificar suas uvas. Desenvolvendo a enologia, produz a primeira safra de vinho da segunda civilização. De vinhateiro, faz-se vinicultor. Mas essa sua faina trar-lhe-ia constrangimento e desinteligência ao l ar.

 III. O BOM E VELHO VINHO DE SEMPRE

Se por um lado, o vinho é o mais notório símbolo da alegria, por outro, é o emblema mais poderoso da intemperança. Quem a ele se entrega, por mais avisado e sábio, acaba comportando-se de maneira inconveniente. Por isso, o rei Salomão alerta-nos a tratá-lo com cuidado e duplicada prudência. Que o exemplo de Noé sirva-nos de alerta.

1. Um homem piedoso e íntegro.

Na História Sagrada, foi Noé considerado um dos três varões mais piedosos de todos os tempos (Ez 14.14). Pontificando-se ao lado de Jó e Daniel, não soube, porém, como se comportar diante do vinho. Para comemorar a primeira safra de sua vide, embebedou-se e pôs-se nu na tenda patriarcal (Gn 9.21). Que escândalo! O homem que sobrevivera ao Dilúvio deixava-se, agora, afogar numa taça de vinho. O patriarca, embriagando-se, desveste-se e cai num sono profundo. Sua vinolência chega a tal ponto que o leva a perder a noção do certo e do errado. Por algum tempo, faz-se dissoluto. Por isso, recomenda-nos Paulo: “E não vos embriagueis com vinho, no qual há dissolução, mas enchei-vos do Espírito” (Ef 5.18).

 2. Quando o vinho faz-se irresistível.

Aconselhando Timóteo a selecionar avisadamente os obreiros, Paulo é incisivo: “Que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher, temperante, sóbrio, modesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não violento, porém cordato, Noé volta à terra. Ele planta uma vinha e semeia uma civilização; seus filhos colherão reinos e impérios. inimigo de contendas, não avarento” (1 Tm 3,2,3).
O Senhor dera a vinha a Noé, mas Noé, imoderando-se, dera-se à vinha, entregando-se ao desprezo doméstico.

Se um homem santo e piedoso como o patriarca não se houve com moderação ante o vinho, sejamos precavidos. Doutra forma, corremos o risco de cometer até inimagináveis torpezas (Gn 19.31-38). Quem não pode conter-se, abstenha-se. O ideal é agir como os recabitas que, ansiando por agradar a Deus, evitavam o vinho (Jr 35.1-19). O patriarca não ignorava os efeitos da fermentação. Certamente vira ele, no período antediluviano, o que os seguidores de Lameque faziam sob o jugo da bebida. Além de comer imoderadamente, imoderadamente bebiam, dando-se a todos os excessos. Noé, embriagado, caiu num pecado que, sóbrio, condenara.

3. A nudez de Noé.

Dando-se ao  vinho, Noé embriaga-se. Perde a noção do certo e do errado. Ignora os limites da ética e do decoro mínimo. Agora, ei-lo irreconhecível em sua tenda. Despe-se e deixa-se vencer pela vinolência. Ali estava um dos três homens mais piedosos da História Sagrada exposto diante da esposa, filhos, noras e netos.
Vejamos como se comportavam Jó e Daniel citados por Ezequiel juntamente com Noé. Pelo que nos relata o autor sagrado, o patriarca de Uz, ao contrário dos filhos, não se dava ao vinho. Quanto a Daniel, observamos que, de fato, el e não compartilhava do vinho do rei. Mas, particular e reservadamente, bebia o seu vinho. Num momento de ansiedade e interrogações, o profeta abstém-se das iguarias e bebidas: “Manjar desejável não comi, nem carne, nem vinho entraram na minha boca, nem me ungi com óleo algum, até que passaram as três semanas inteiras” (Dn 10.3).



Dos três varões mais piedosos da História Sagrada, observamos três diferentes posturas: duas louváveis e uma condenável. Jó era abstêmio, e Daniel, moderado. Quanto a Noé, deixou-se dominar pela imoderação, trazendo escândalo ao lar. Nos países mediterrâneos, onde o vinho fermenta a cultura e o cotidiano das gentes, a bebida é larga e, às vezes, prodigamente consumida até por cristãos professos. Não são poucos os servos de Deus que se permitem embriagar, comprometendo a saúde física e espiritual. Enfermam o corpo e a alma. Nossa piedade resiste ao orgulho, à concupiscência e aos pecados mais grosseiros. Todavia, é incapaz de resistir ao vinho. Na taça, fruto da vide; no estômago, reação química e escândalo. Se imoderados, agiremos soberbamente, dar-nos-emos à lascívia e agiremos como os mais grosseiros e vulgares pecadores. Portanto, moderação e cuidado. Se você dele se abstiver, melhor. Embora todas as coisas sejam-nos lícitas, nem todas convém-nos. Afinal, somos a comunidade ética e moral por excelência.

IV. A IRREVERÊNCIA DE CAM

Cam, o filho mais novo de Noé, representou à nova civilização o que 
Caim, o filho mais velho de  Adão, representara à antiga .Na História Sagrada, foi Noé considerado um dos três varões mais piedosos de todos os tempos (Ez 14.14). De sua pouquíssima história, podemos extrair muita conclusão. Embora salvo do Dilúvio, não conseguira livrar-se dos pecados que ocasionaram a grande inundação. Na primeira oportunidade, sua loucura e irreverência vieram à tona, revelando quem, de fato, era ele. Pelo jeito, em nada diferia dos herdeiros espirituais de Lameque. Não fora seu pai, teria perecido nas águas da ira divina .

1. O desamor. Quem ama não é indecente. Mas discreto, lhano, gentil. 
Se assim devemos portar-nos em relação aos estranhos, o que não faremos concernente aos nossos pais? O filho mais novo de Noé, conforme j á vimos, não se importava com tais questões. Imbuído ainda do espírito da geração que perecera no Dilúvio, estava sempre disposto a caçoar e irreverenciar a todos, inclusive o próprio pai.

Ao deparar-se com o pai desnudo na tenda, Cam não se conteve. Saiu a contar a todos o que presenciara. Chamou a atenção de Sem, Jafé, das cunhadas, filhos e sobrinhos. Ele fez questão que todos vissem o homem mais piedoso da Terra numa situação acabrunhante e vergonhosa. Já imaginou se todos tivessem acorrido à porta da tenda do velho patriarca para ver-lhe o opróbrio? Num único momento a humanidade teria se desencaminhado e, por certo, haveria de tornar-se pior do que a geração pré diluviana.
Cam era desamoroso, debochado e insolente. Ele caricaturava tudo o que via.

2. A irreverência. No meio pentecostal, a irreverência não é vista como pecado. Brincamos com os dons espirituais, imitamos as línguas estranhas e, de quando em quando, urdimos algumas profecias e visões. Ao que parece, o único pecado que leva para o inferno é o que diz respeito à castidade. Desde que não se adultere, nem se prostitua, que o deboche seja liberado.

 A Palavra de Deus, porém, coloca a irreverência no mesmo patamar dos pecados grandes e temíveis. Afirma Paulo que a Lei foi promulgada inclusive para castigar os irreverentes (1 Tm 1.9). O mesmo apóstolo deixa claro que, nos últimos dias, a falta de respeito surgirá como um dos mais fortes sinais da chegada da apostasia final.

Por conseguinte, o pecado de Cam não era uma simples brincadeira. Levando-se em conta que Noé representava a Deus naquele momento, a irreverência camita avultava-se como gravíssima blasfêmia. Por muito menos, o profeta Eliseu amaldiçoou uns garotos (2 Rs 2.23). Narra o autor sagrado que o profeta os desventurou, e, na mesma hora, apareceram duas ursas que despedaçaram 42 daqueles meninos. Noutras palavras, o pecado de Cam era tão grave, que poderia ser punido com a morte. Sua transgressão constituiu-se na primeira apostasia da segunda civilização.

V. O JUÍZO SOBRE CANAÃ

Segundo a doutrina da responsabilidade pessoal, os filhos não serão castigados pelas transgressões dos pais, nem os pais serão penalizados pelas iniquidades dos filhos. A sentença divina não isenta o transgressor nem o iníquo: a alma que pecar esta morrerá. Mas no caso específico de Cam, parece que há uma exceção a essa regra. No entanto, como veremos, a justiça divina foi perfeita no castigo imposto a Canaã, filho de Cam.

1. A apostasia de Cam.

Conforme já vimos, tudo começou com a irreverência de Cam que, ao ver a nudez do pai, não somente contemplou-a, mas a expôs a toda a família. A reverência fez-se grave apostasia, levando a iniquidade e o pecado à nova civilização. Mas, mercê de Deus, a transgressão não se generalizou. Pelo contexto da narrativa bíblica, constatamos que Canaã, filho de Cam, não somente caiu no mesmo erro do pai, como veio a superá-lo.

Portanto, Noé não foi respeitado nem pelo filho, nem pelo neto; ambos fizeram-se igualmente réprobos. Quanto aos outros filhos de Cam, não tomaram parte naquele pecado. Por isso, não foram penalizados.

 2. A sedição de Canaã.

O que era irreverência em Cam fez-se apostasia e sedição em Canaã. Não faltou muito para que a segunda civilização, ainda no nascedouro, viesse a se corromper. Se lermos os capítulos 10 e 11 de Gênesis com atenção e cuidado, verificaremos que a rebelião de Canaã não se deteve com a reprimenda de Noé. Mais adiante, constataremos que ela foi crescendo até alcançar todos os caimitas, num primeiro momento, e, num segundo, as demais famílias de Noé. E, assim, os filhos do patriarca irmanaram-se contra o Senhor, no episódio da Torre de Babel. Por isso, a justiça divina recaiu pesadamente sobre Canaã e seus descendentes.

3. A maldição de Canaã.

Entre as mitologias hermenêuticas, há uma que vem causando mal-estar devido à sua conotação racista. Há gente que ainda acha que a maldição que Deus impôs a Cam foi a cor que, hoje, caracteriza os povos subsaarianos. Na verdade, o Senhor não castigou todos os camitas, mas apenas Canaã que, ao contrário de seus irmãos e primos, pôs-se a debochar da nudez do avô.
Sua maldição consistiu na perda de suas terras aos filhos de Abraão, o mais ilustre representante de Sem depois de Jesus Cristo. Eis o que decreta Noé: “Maldito seja Canaã; seja servo dos servos a seus irmãos. E ajuntou: Bendito seja o SENHOR, Deus de Sem; e Canaã lhe sej a servo. Engrandeça Deus a Jafé, e habite ele nas tendas de Sem; e Canaã lhe seja servo” (Gn 9.25-27).

Os descendentes de Canaã vieram a habitar as terras que, hoje, pertencem ao Estado de Israel. Ali, começaram a deteriorar-se de tal maneira, que o seu modo de vida passou a ser sinônimo de pecado e abominação. A sociedade cananeia tornou-se irrecuperável; depravara-se essencial e totalmente. Não havia entre os descendentes de Canaã pensadores, filósofos ou sábios, mas sacerdotes ávidos por sacrifícios infantis. Por esse motivo, o Senhor removeu, daquelas terras boas e amplas, os descendentes de Canaã, até que viessem a desaparecer como nação.

Se do Senhor é a Terra e a sua plenitude, conclui-se que Ele a dá a quem lhe aprouver, e, dela, desaloja os povos segundo o seu querer e justiça. Por isso, houve por bem desalojar os cananeus daquela boa terra, para dar-lha aos hebreus. Não somente a História, mas a própria Geografia, acham-se sob o absoluto controle de Deus. Eis porque o Senhor entrega o território cananeu a Israel. Aquelas terras, portanto, são propriedade dos filhos de Abraão. Os descendentes de Canaã vieram a habitar as terras que, hoje, pertencem ao Estado de Israel.

VI. O DESTINO DOS CAMITAS

Se Deus o quisesse, poderia ter amaldiçoado todos os clãs provenientes do caçula de Noé. Mas, castigando Cam, amaldiçoou a seu filho, Canaã, que, à sua semelhança, era também irreverente, debochado e sedicioso. Quanto aos outros filhos de Cam, imigraram à África, ao Oriente Médio e, segundo é-nos possível depreender linguisticamente, até mesmo ao Extremo Oriente.

1. Os camitas da África.

Segundo a genealogia de Gênesis 10, estes são os filhos de Cam: Cuxe, Mizraim, Pute e Canaã. Os três primeiros, já em solo africano, dão origem a poderosos reinos e impérios. De Cuxe, veio a Etiópia, cujo poderio militar amedrontava povos e nações. Vamos encontrá-los no Novo Testamento, na figura daquele oficial de Candace, rainha dos etíopes. Mizraim foi o pai dos egípcios que, na História Sagrada, detinha a hegemonia na região do Oriente Médio. Quanto a Pute, é o patriarca que deu origem à Líbia que, nos tempos bíblicos, era uma potência não desprezível.
Canaã, o caçula de Cam, seguiu o caminho do pai. E, hoje, j á não há indícios de sua civilização, a não ser as informações da Bíblia Sagrada.

2. Os camitas da África e os hebreus.

Foi numa nação camita que os filhos de Israel abrigaram-se até que tivessem condições de assumir o controle das terras que o Senhor prometera a Abraão. No Egito, os hebreus peregrinaram por 430 anos. De início, o relacionamento entre semitas e camitas, em solo egípcio, foi amistoso e mui produtivo. José, filho de Jacó, assumiu o governo egípcio e, dessa forma, preservou a progênie hebreia num momento de dificuldade e fome.

Passados quatro séculos, porém, eis que um Faraó, que não conhecia a José, passou a oprimir os hebreus. Sua intenção era destruir a nação que, embora escolhida por Deus, ainda não havia assumido a sua identidade profética e sacerdotal. Por essa razão, interveio o Senhor com mão poderosa, a fim de arrancar Israel do Egito.

Na verdade, o Senhor castigou severamente o Egito, mas não o destruiu, porque tinha, e ainda tem, grandes promessas a essa nação camita. Os israelitas, por exemplo, eram exortados a não maltratar os egípcios, pois em sua terra peregrinaram (Dt 23.7). Nos últimos dias, o Egito terá um lugar especial no plano divino, e estará relacionado estreitamente com o povo de Israel (Is 19.21-25).

O interessante é que Israel abrigou-se entre um povo camita até que tivesse condições de apossar-se do território de outro camita que, segundo a promessa divina, cabia-lhe como hebrança. Mas qual a diferença entre o Egito e Canaã. Os cananeus, devido à sua deplorável idolatria, j amais produziram moralistas ou reformadores sociais, ao passo que entre os egípcios, os sábios eram comuns, conforme observamos nesta passagem do livro dos Reis: “Era a sabedoria de Salomão maior do que a de todos os do Oriente e do que toda a sabedoria dos egípcios” (1 Rs 4.30). Vê-se, pois, que o saber dos egícpios era proverbial e lendário. Quanto aos cananeus, eram tidos como grandes pecadores. Haja vista que os sodomitas e gomorritas provinham de clãs cananeus. Nos últimos dias, o Egito terá um lugar especial no plano divino, e estará relacionado estreitamente com o povo de Israel (Is 19.21-25).

CONCLUSÃO

Sem e Jafé, ao contrário de Cam, não escarneceram da embriaguez de Noé. Mas, reverentemente, cobriram a nudez do pai, impedindo que o incidente levasse a sua família a um escândalo ainda maior. Se agirmos assim, evitaremos falatórios, maledicências e sedições na família de Deus. Por isso, foram eles abençoados de uma forma peculiar. O primeiro tornou-se num dos principais ascendentes legais de Jesus Cristo. Quanto a Jafé, pai dos europeus, ajudou a propagar a mensagem do Evangelho até aos confins da Terra. Portanto, não exponhamos as faltas de nossos irmãos. Mas, discreta e amorosamente, ajudamo-los a se reerguerem. Afinal, todos podemos cair em muitas faltas e tentações. Se quisermos, pois, ser tratados com amor e consideração, usemos de iguais medidas

 O começo de todas as coisas - Claudionor de Andrade


 Estudo no livro de Gênesis - Antônio Neves de Mesquita - Editora: JUERP

Um Novo Pecado Depois do Dilúvio (Gên. 9:20-27)


Temos de lamentar a queda de Noé, tão depressa, depois do Dilúvio. O uso do vinho não era proibido naqueles tempos, mas sim o abuso. Logo que saiu da arca, Noé plantou e colheu. Esta a norma de continuação da vida. Plantou vinhas, e colheu vinho. Bebeu demais, e embebedou-se. Caído descompostamente, provocou o riso do filho Cão, que por isso lhe faltou com o respeito. Acordando e sabedor do ato generoso dos filhos Sem e Jafé, daí nasceu uma das mais notáveis profecias, com largo e profundo sentido na história humana. Não foi, entretanto, o filho Cão o amaldiçoado pelo seu mau ato, mas o filho mais velho deste, por nome Canaã, como que a designar que não seria um homem, mas um povo, a sofrer as conseqüências do pecado.

   
Os versos 25-27 do capitulo 9 de Gênesis dão-nos conta dos efeitos da falta de respeito filial. Canaã, o filho mais velho de Cão, seria maldito. Jafé seria o dono do mundo; Sem, o pai da religião. Com um mapa diante de nós e um pouco de conhecimento da distribuição dos primeiros povos, iremos descobrir que os jafetitas tomaram o rumo da Europa e conquistaram e deram ao mundo o que nós conhecemos hoje como civilização ocidental.
Foram os jafetitas feitos gregos e romanos
antigos que nos deram os povos neolatinos, senhores do mundo por suas conquistas e por sua indústria. Foram eles que descobriram outras terras e as dominaram. Não contentes com a Europa, levaram suas naus ao Oriente distante, tomaram as ilhas do Pacífico, dominaram a China, a fndia e até o Japão, em certo sentido, senão poeticamente, industrialmente, pelo menos. Conquistariam a África e a dominaram até recentes anos. A profecia foi: "Alargue ou engrandeça Deus a Jafé e more nas tendas de Sem." Depois de dominar o mundo, veio a dominar também o povo semita, que só atualmente está procurando reconquistar a sua independência.
O povo camita nos deu algumas civilizações notáveis na Caldéia e no Egito, mas sempre sob o domínio dos jafetitas. Os semitas nunca se afastaram do Oriente Próximo. Na Caldéia, misturando-se com acádios e amoritas, depois difundindo-se nos edomitas, amonitas e moabitas, formando o mundo árabe, foram sempre, de um modo geral, os encarregados de preservar a religião. A profecia é: "Bendito seja o Senhor Deus de Sem". Deus seria bendito neste povo. Aqui está o retrato dos mundos antigo e moderno.
Como se aproxima o fim desta geração, os três ramos da raça humana estão se misturando e confundindo, de modo a formar uma só civilização. O estudante de história bíblica não pode deixar de anotar que os conflitos modernos são um meio rústico de acabar com as barreiras entre camitas, jafetitas e semitas. O povo semita, conhecido como israelita, descendente de Abraão, o pai da fé, tem vivido segregado por muitos séculos, por um lado, e misturado com todos os povos, por outro. Desde o ano 70 da nossa era, com a dispersão dos judeus, a sua nacionalidade desapareceu, mas, em verdade, o povo continuou a viver a sua vida comunitária entre as nações do mundo. Agora, com o estabelecimento da sua nacionalidade na Palestina, foi restaurada simbolicamente a sua nacionalidade. Continua um povo à parte. Tanto quanto o gênio industrial dos jafetitas pertence a todos, eles também estão partilhando desse gênio.


Linhagem de Sem (Gênesis 10:21-31):
1. Elão;
2. Assur;
3. Arfaxade, que gerou Salá, que gerou Eber; que gerou Pelegue e Joctã; Joctã
gerou Almodade,
Selefe, Hazarmavé, Jerá, Adorão, Uzal, Diclá, Obal, Abimael, Seba, Ofir,
Havilá, Jobabe; Pelegue gerou Reú, que gerou Serugue, que gerou Naor, que gerou Terá, que gerou Abraão, Naor e Harã, que por sua vez, gerou Ló.
4. Lude;
5. Arã, que gerou Uz, Hul, Geter e Más;

Moisés não dá os filhos de Assur e Lude, ou porque não os tivessem tido ou porque
não ocupassem papel saliente entre os povoados da terra.

O V. 21 diz que Sem é o pai de todos os filhos de Eber ou hebreus (conf. 14:13).

 É ainda questão aberta, se o termo hebreu vem de Eber, filho de Arfaxade, ou se é derivado do verbo "aver", que significa "passar além" e se refere ao fato da saída de Abraão de Babilônia. A primeira vez que o nome aparece é em conexão com a chegada de Abraão à terra de Canaã, e parece dar a idéia de estrangeiro ou emigrante (Gên. 14:13). Os heteus conheciam Abraão como o hebreu, mas não sabemos como este nome se tornou conhecido nem em que sentido o usavam. A expressão "pai de todos os filhos de Eber", liga-os aos hebreus, à raça eleita, e são filhos de Sem. (Algumas tradições, sem grande fundamento, recordam que Abraão e seu pai Taral ou Terá se envolveram em grandes guerras antes de Abraão passar à Palestina.
Uma tabuinha cuneiforme, escrita em hebraico arcaico, nas ruínas de Raas-shanra, dá-nos a notícia de um conflito entre Querete, rei da Sidônia, e seus inimigos, comandados por Teraque. Seria este Teraque o pai de Abraão? Parece que não, porque Terá ou Teraque já era bastante velho quando chegou a Padã-Arã. De qualquer sorte, só agora é que se está tomando conhecimento de muitos fatos com respeito a Abraão e sua família. O que nos causa certa dificuldade é terem os heteus recebido Abraão com honras de grande chefe e o terem chamado de "senhor". De onde lhes velo este conhecimento? Que Abraão era guerreiro, demonstrou-o quando desbaratou numa noite os exércitos conjuntos de quatro monarcas caldeus. Isso nos basta!)

1. Elão, o primeiro filho de Sem, foi o pai dos antigos vizinhos dos persas; aparecem
com o nome de elamitas, habitando o Norte da Pérsia no tempo de Moisés.
2. Assur foi o pai dos assírios, aquele poderoso reino que derrotou as dez tribos do
Norte e que foi o mais famoso império antigo.
3. Arfaxade foi o pai dos babilônios ou caldeus.
4. Lude foi o pai dos lídios, na Ásia Menor.
5. Arã foi o pai dos sírios, povo que habitou o nordeste da Palestina e que por
diversas vezes entrou em conflito com os israelitas. Uz, filho de Arã, deu nome à terra de Uz, onde morava Jó, na direção do Norte da Arábia. Dos outros três filhos de Arã, só sabemos que formaram pequenas tribos aramaicas ou sírias. Todo o resto da narrativa centraliza-se em Eber.
Dos filhos de Eber, o mais importante é Pelegue, que significa "Divisão". "Porque nos seus dias foi a terra dividida." O que esta expressão significa é difícil dizer. Não se sabe se a divisão da terra foi moral ou física, e ambas as possibilidades têm bons defensores. Alguns crêem que se refere à divisão da terra em continentes, que até
aqui toda a terra era unida; outros crêem que se refere ao vale do Jordão, que desde o pé do Líbano até ao Mar Vermelho, numa profundidade de 420 metros abaixo do nível do mar, foi aberto por ocasião do Dilúvio, quando a terra sofreu enormes convulsões. Ainda outros acham que esta divisão significa o espalhamento do povo após a confusão das línguas na torre de Babel. Qualquer que seja a verdadeira interpretação, não resta dúvida que foi um acontecimento extraordinário, de modo a ser comemorado e perpetuado no nome de Pelegue. A confusão das línguas e conseqüente dispersão não foi de modo algum um acontecimento passageiro e que, menos do que qualquer outro fenômeno, enchesse de tétrico pavor e reverência o espírito do povo, e que por isso fosse celebrado no nome deste filho de Eber. Parece muito natural aceitar-se esta última interpretação, em lugar das outras, que exigem acontecimentos físicos sobrenaturais que não são facilmente prováveis. O salmista (Salmo 55:9 no original) usa a mesma palavra (Palag) dividir, com referência à divisão das línguas.

O outro filho de Eber, Joctã, teve 13 filhos, dos quais pouco sabemos, mas crê-se que ocuparam todo o Sul da península da Arábia. Três merecem especial menção: Sabá, Havilá e Ofir. Este último nome é freqüentemente mencionado na Bíblia, para designar a terra que melhor ouro possuía. Sabá é o mesmo nome do filho de Cusi. É possível que os sebitas filhos de Cusi se detivessem na Arábia antes de descer à África, e que depois os sebitas descendentes de Eber se unissem com eles e formassem o povo que dominou na Arábia Félix. Tem sido difícil aos geógrafos identificarem este povo, de modo que uns o dão como povo camita, outros, como semita e ainda outros, como mistura de ambos. O mesmo fenômeno se deu na antiga Babilônia. Os camitas fundaram o antigo reino da Acádia, na terra de Sinar, de que Ninrode foi o primeiro rei. Os semitas invadiram a terra mais tarde, expulsaram os reis acádios e estabeleceram um novo reino; mas os camitas, que ficaram no país, foram assimilados pelos invasores semitas, de onde provieram os babilônios, povo meio semita e meio camita. Foi por este processo que muitos destes antigos povos perderam a identidade.
Os abissínios, pois, podem ser tanto semitas como camitas ou uma mistura de ambos, e talvez tenham razão na sua tradição de que a rainha de Sabá foi a fundadora do seu reino e dinastia. O problema resolve-se nisto. Houve dois Sabás, mas só se pode identificar um povo com este nome; ele é, portanto, um dos dois ou uma mistura de ambos. No caso de não ser misto, é camita, porque o maior peso da informação que temos pende para este lado.



GÊNESIS 9:24-26

A embriaguez de Noé é relatada sem comentários sobre a sua participação
no escândalo. A palavra começou (20, AV) poderia implicar
em que somente a inexperiência é que deveria ser repreendida. Mas não
podemos ter certeza.23
A perda da decência e da honra que assinala esta primeira história
bíblica de bebida forte é mais grave ainda na segunda, com a degradação
de Ló (10:30). Esse não é o seu único aspecto (cf. Dt 14:26; SI
104:15; Pv 31:6,7), mas Pv 31:4,5 comenta suficientemente a última
passagem, com o formidável apoio de Pv 23:29-35. A lei providenciaria
os votos de abstenção de bebidas fortes, como testemunha da simplicidade
primitiva (Nm 6:1), mas esses votos constituíam uma vocação especial
(ver também Jr 35; Lc 7:33). Aqui, porém, a embriaguez é casual.
O ponto central da narrativa é o prejuízo que a herança de Cão sofreu
por causa do seu ato flagrantemente antifilial. E o anverso do
quinto mandamento, que faz do mesmo ponto o pivô do destino nacional
— pois esse mandamento não é um preceito sociológico (exceto incidentalmente),
mas, sim, um chamamento a manter a autoridade delegada
por Deus e assim reter a Sua bênção.
24. A forma superlativa, o mais moço de todos (RV, RSV) é o sentido
natural do hebraico e parece mais apoiado por 10:21. O comparativo
mais moço de AV tem escasso apoio. O contato estreito entre os povos
semitas e camitas e a grande distância dos jafetitas através de todo o
período veterotestamentário podem ter levado ao agrupamento familiar
do versículo 18, etc.
25. O fato de que a maldição recaiu sobre Canaã, o filho mais novo
do ofensor (10:6), que também era o filho mais novo, salienta sua referência
à sucessão de Cão, em vez de à sua pessoa. Por sua violação da
família, a sua própria família iria fracassar. Portanto, desde que isto
limita a maldição a este único ramo dentre os camitas, aqueles que julgam
que os povos camitas em geral estão condenados à inferioridade
entenderam mal tanto o Velho como o Novo Testamento. Também é
provável que o domínio de Israel sobre os cananeus tenha cumprido suficientemente
aquele oráculo (cf. Js 9:23; 1 Rs 9:21).
26. Dos três oráculos, só o referente a Sem usa o nome pessoal de
Deus, Yahwh (o Senhor). A significação do fato começa a emergir em
GÊNESIS 9:27-10:1
12:1, e dominará o Velho Testamento (cf. Dt 4:35). Visto que Sem significa
“ Nome” , talvez haja aí um jogo de palavras; cf. comentário de
9:27. O texto tradicional: Bendito seja o Senhor, o Deus de Sem (RV;
cf. AV, AA), dá a idéia de que Sem já está em aliança com Yahweh e
que em seu Senhor acha ele toda a sua bênção. RSV (Abençoado pelo
Senhor meu Deus seja Sem) poderia estar certa em revocalizar as mesmas
consoantes para fazer de Sem o beneficiário direto da bênção. Mas
esta construção mais simples e menos fértil não encontra apoio nas versões
antigas.
27. A palavra “engrandeça” (dê espaço a) é o verbo que tem afinidade
com o nome Jafé (cf. coment. sobre Sem, v. 26). O oráculo evidentemente
confirma a oração feita por ocasião do seu nascimento. O
cumprimento das palavras habite ele nas (ou entre as) tendas de Sem
(RV, RSV, AA) é procurado em vão no Velho Testamento,24 mas salta
à vista no Novo Testamento, na colheita dos gentios (Ef 3:6), predominantemente
do ocidente. O fato de que este modo de entender o oráculo
faz dele uma predição de grandes acontecimentos, em vez de uma piedosa
retropropulsão da política do século doze, só perturbará aquele
que for decididamente cético.
GÊNESIS - Introdução e Comentário - REV. DEREK KIDNER, M. A. - Sociedade Religiosa Edições 

 Por Apazdosenhor- E.B.D web


Nenhum comentário:

Postar um comentário