Capítulo 10A Consciência daChegada da Morte
As cartas pastorais de Paulo são ricas em ensinamentos,
conselhos, exortações e doutrinas, que têm grande valor para a vida cristã, tão
carente de consistência e fundamentos, como nos dias atuais. Paulo escrevia à
mão, em pergaminhos que, transformados em rolos, eram enviados a lugares os
mais distantes, por intermédio de mensageiros ou portadores de suas missivas.
Depois que escreveu a Timóteo, na segunda carta, acerca da
corrupção que haveria de dominar o mundo “nos últimos dias” (2 Tm 3.1), Paulo
chama a atenção do seu discípulo amado para alguns aspectos preocupantes da
realidade que viria sobre a igreja do Senhor Jesus Cristo, não só em Éfeso, na
Ásia Menor, mas em todo o mundo, com o se depreende de seu ensino pastoral. Em
primeiro lugar, o apóstolo usa um a expressão forte, que poderia assustar
Timóteo, pela veemência da recomendação do mestre ao jovem obreiro. Mas Timóteo
já conhecia o linguajar de Paulo. Ele diz: “Conjuro-te, pois, diante de Deus e
do Senhor Jesus Cristo, que há de julgar os vivos e os mortos, na sua vinda e
no seu Reino, que pregues a palavra, instes a tempo e fora de tempo, redarguas,
repreendas, exortes, com toda a longanimidade e doutrina” (2 Tm 4.1,2). Timóteo
deveria transmitir a mensagem da “sã doutrina” de modo insistente, quer os
ouvintes aceitassem quer não a palavra que lhes era enviada. A experiência,
fundada na Palavra, mostra que, quando a mensagem é de Deus, o pregador deve
falar, não o que o povo gosta de ouvir, mas o que Deus quer falar.
O verbo conjurar, no primeiro versículo, tem o sentido de
rogar, suplicar, e não de tramar, maquinar, como ocorre, nas conjurações
políticas. Paulo expressava seus sentimentos, de modo dramático, para que
Timóteo levasse em consideração até as últimas conseqüências a nobilíssima
missão que lhe era confiada, para que pregasse a Palavra de Deus, de modo
insistente, em caráter de urgência, “a tempo e fora de tempo ”, tendo em vista
o que haveria de ocorrer, conforme o sentir profético do apóstolo. E sua forte
recomendação deveria ser aceita, “diante de Deus e do Senhor Jesus Cristo”; e
num a perspectiva escatológica: “que há de julgar os vivos e os mortos, na sua
vinda e no seu Reino”! Talvez seja o trecho da carta de maior gravidade. E o
que estava por vir não era nada desejável nem comum.
Além da corrupção dos
últimos tempos, Paulo antevia tempos em que, dentro da própria igreja local,
levantar-se-iam homens que seriam usados pelo Diabo para rejeitar a sã doutrina
e usar sua influência intelectual ou teológica para deturpar a verdade do evangelho
de Cristo. Por isso, ele determina, em sua súplica, que Timóteo usasse a
Palavra para redarguir, repreender e exortar “com toda a longanimidade e
doutrina” . Aqui, há um grande ensinamento de ordem prática para a vida
ministerial do obreiro, especialmente dos que lideram, na igreja local. A
exortação não deve ser dada de forma pesada ou agressiva, como ocorre em muitos
púlpitos. A palavra exortar vem do grego, parakaleo, que tem o sentido de
chamar para fora, para consolar. Daí, porque o Espírito Santo é nosso paracleto,
nosso Consolador.
Timóteo deveria ser um obreiro firme na palavra na exortação,
mas com “longanimidade” (gr. makrothumia), isto é, com paciência, diante dos
que precisavam da mensagem firme e incisiva. Mais ainda. Paulo demonstra,
nesse texto, que a exortação só tem sentido se, além de ser dada com
longanimidade, tem que estar fundamentada na “doutrina” (gr. didache). Exortar
não é “dar carão”, “sentar a ripa”, ou “sentar o pau”, nas ovelhas, como o
fazem alguns pastores, em sua neurastenia descontrolada ou radicalismo
exacerbado. Exortar é orientar com segurança, com firmeza, mas com amor,
compreensão e longanimidade. Em seguida, Paulo esclarece o motivo da sua
veemente recomendação.
A premência da recomendação incisiva de Paulo tinha motivo
muito mais sério do que se poderia imaginar. Ele diz a Timóteo, seu filho na
fé, e portador da mensagem para a igreja: “Porque virá tempo em que não
sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, amontoarão para si
doutores conforme as suas próprias concupiscências; e desviarão os ouvidos da
verdade, voltando às fábulas” (2 Tm 4.3,4). Era a incumbência mais
significativa que Paulo daria a Timóteo, pois estava em análise o futuro e a
sobrevivência da fé cristã e da igreja de Jesus, ameaçada pelos falsos mestres,
e “doutores” falsos e hereges, que levariam os crentes a se desviarem da
verdade da Palavra de Deus, da “sã doutrina”. Preparando-se para o fecho da
carta, Paulo dá sua última palavra pessoal a Timóteo: “M as tu sê sóbrio em
tudo, sofre as aflições, faze a obra de um evangelista, cumpre o teu
ministério” (2 T m 4.5). Será que essas palavras foram só para Timóteo?
Certamente, não. O Espírito Santo pôs na mente e na escrita de Paulo recomendações
que se aplicam de modo perfeito aos obreiros do Senhor em todos os tempos,
incluindo o tempo presente, em que há tantas aberrações ministeriais, na
consagração de homens despreparados para a elevada missão de um ministro do
evangelho. O texto diz que o obreiro deve ser “sóbrio”, ou seja, simples,
humilde. Deve ser sofredor, ou seja, capaz de saber suportar as aflições que
possam surgir no ministério. E Timóteo deveria saber fazer “a obra de um
evangelista” e cumprir o seu ministério, ou sua missão ou tarefa que lhe fora
confiada. Em seguida, tal como um corredor de “corrida de revezamento” , Paulo
prepara-se para “passar o bastão” a Timóteo. O apóstolo estava perto de
terminar a corrida (ou o combate), e Timóteo deveria substituí-lo, pois Paulo sentia
que sua missão apostolar estava perto do fim. Lembremos que Paulo estava na
prisão, e não no púlpito de um a igreja. Ainda esperava ver Timóteo, mas a
urgência da mensagem apertava seu coração. Talvez Timóteo não percebesse tal
situação, até que seus olhos pousaram nos últimos parágrafos da carta. E viu
com profundo sentimento de santa tristeza que seu mestre, seu mentor e tutor,
tinha consciência de que a morte se aproximava, no fim do seu ministério. Mas,
em lugar de demonstrar medo ou pavor diante da morte, Paulo escreve o que
poderia ser considerado um “cântico de vitória” no final da missão: “Com bati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 Tm 4.7). O jovem obreiro deve
ter-se detido mais tempo ante essa declaração de Paulo do que no restante de
sua epístola. E sentido o peso da responsabilidade, ao pensar se estaria à
altura de substituir o maior evangelista do cristianismo, o maior intérprete
dos evangelhos, que se considerava, contudo, “o menor dos apóstolos” (1 C o
15.9).
I - A CONSCIÊNCIA DA MORTE NÃO TRAZ DESESPERO AO CRENTE FIEL
1. A Serenidade diante da Morte
Enquanto Timóteo ainda era um jovem obreiro, Paulo já era de
certa idade, “o velho” (Fm 9), e já tinha consciência, dada por Deus, de que
estava no final de sua longa, sacrificada e honrosa missão, que lhe fora
confiada por Jesus Cristo, quando de sua dramática conversão no caminho de
Damasco.
Ao escrever a Timóteo,
sobre os últimos dias de sua vida e de seu ministério, Paulo usou uma figura
emprestada dos antigos sacrifícios do Templo em Jerusalém. “Porque eu já estou
sendo oferecido por aspersão de sacrifício, e o tempo da minha partida está
próximo” (2 Tm 4.6). É uma linguagem “técnica”, por assim dizer. Só pode
entender quem lê acerca dos rituais dos sacrifícios na Antiga Aliança. Aquele
que oferecia sacrifício ao Senhor, com o “oferta de manjares”, o fazia com
“flor de farinha”, misturada com azeite, na proporção indicada pela lei; e também
derramava sobre ela uma porção de vinho, ou uma “libação” (Nm15.5,7,10), uma
oferta de caráter voluntário, “de cheiro suave ao Senhor” (Lv 2.2). Não era um
a oferta pelos pecados, mas uma oferta de gratidão a Deus. Paulo considerava a
sua vida, salva por Cristo, e toda a sua experiência no cristianismo, como um a
“oferta de manjares” , um a “libação” ou “aspersão do sacrifício” , ante a
proximidade da morte, que ele encarava com paz e serenidade.
2. A Certeza da Missão Cumprida
Ao se deter nas últimas linhas da carta, Timóteo deve ter
sentido muita admiração pelo velho obreiro, quando este diz: “Combati o bom
combate, acabei a carreira, guardei a fé. Desde agora, a coroa da justiça me
está guardada, a qual o Senhor, justo juiz, me dará naquele Dia; e não somente
a mim, mas também a todos os que amarem a sua vinda” (2 Tm 4.7,8). No texto,
que indica antecipadamente a consciência da proximidade da partida para a
eternidade, vemos três aspectos a destacar:
1) “Combati
o bom combate”
Paulo diz a Timóteo que está chegando ao fim da jornada, como
servo de Deus, como apóstolo e fiel testemunha do Senhor, mas, como um lutador
que enfrentava a luta, na arena, havia combatido “o bom combate”, ou seja, o
bom combate da fé. Paulo conhecia as competições atléticas de sua época, E
imaginou essa metáfora para indicar sua vitória, ante as lutas que houvera
enfrentado, desde sua conversão e o desenvolvimento do seu ministério, sempre
envolvido com opositores humanos, além da luta espiritual contra os inimigos do
crente em Jesus.
Seu combate da fé era
em defesa da igreja, lutando pelos irmãos em Cristo (Cl 2.1); era a luta contra
os opositores que se levantavam contra sua missão (1 Ts 2.2). Todos os
apóstolos de Jesus eram homens que combatiam “pela fé que um a vez foi dada aos
santos” (Jd 3). Mas nenhum teve tantas oposições e ameaças quanto Paulo. Ele
foi um obreiro muito perseguido, mas nunca desistiu da luta espiritual em prol
do evangelho (2 Tm 3.11,12; 2 Tm 4.14; 1 Tm 1.20).
2) “Acabei a carreira”
No original, o texto indica que Paulo se referia à “pista de
corrida” ’, nas com petições em Atenas, em Roma, ou em outra cidade que
conhecia. Em sua carreira ou “corrida”, Paulo diz que não olhava para trás, mas
para as coisas que estavam diante dele, prosseguindo “para o alvo, pelo prêmio
da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Fp 3.13,14). Muitos têm começado
a carreira da vida cristã, mas desistem, ante os obstáculos e os problemas que
surgem pela frente.
Nessa “carreira”, as dificuldades são enormes, porque, além
de ser um a luta constante, o crente tem que carregar um a cruz “de cada dia”
(Lc9.23). Diante dessa realidade, após as experiências vividas em seu ministério,
Paulo mostrou a Timóteo que tinha a certeza de que sua carreira como ministro
do evangelho houvera terminado. M as o fazia com a consciência tranqüila, mesmo
diante da morte, de que cumprira o seu dever para com Deus e sua Igreja.
3) “Guardei a fé’’
Paulo quis dizer que não apenas lutou o “bom combate” e
concluiu “a carreira”, mas não o fez de qualquer maneira. Ele guardou “a fé”.
Isso quer dizer que ele foi fiel a Deus, em todas as circunstâncias de sua vida
cristã. Ele não se embaraçou “com os negócios dessa vida” e militou
legitimamente (2 Tm 2.4,5). Guardar a fé significa guardar a fidelidade estrita
a Cristo e a seus ensinamentos. E Paulo ensinou de modo eloqüente sobre esse
cuidado. O crente é consolado pela fé (Rm 1.12); a justiça de Deus é pela fé
(Rm 3.22); o homem é justificado pela fé (Rm 3.28; 5.1; G1 2.16); o justo vive
pela fé (Gl. 3.11); a salvação é pela fé em Jesus (E f 2.8). Paulo sabia o que era
lutar e guardar a “fé que um a vez foi dada aos santos” (Jd 3).
II - O SENTIMENTO DE ABANDONO
O apóstolo Paulo contribuiu de forma decisiva e marcante para
a expansão do evangelho de Jesus Cristo, não só no Oriente Médio, mas na África
e na Europa. Foi o maior missionário de seu tempo. Além de seu trabalho
missionário, Paulo foi um escritor extraordinário, que contribuiu para a
formação do pensamento cristão, não só para sua época, mas para a Igreja do
Senhor em todos os tempos. Dos 27 livros do Novo Testamento, ele escreveu
treze. Mas, por permissão de Deus, terminou seus dias num cárcere de um a
prisão romana.
Pela grandeza do seu ministério, como um verdadeiro formador
de líderes e de discípulos de Cristo, como fruto de sua pregação, de suas
mensagens e ensinos profundos, era de se esperar que, nos momentos cruciais em
que estava vivendo, não faltassem os amigos e os irmãos ao seu lado. M as,
infelizmente, não foi o que aconteceu. O texto em apreço demonstra que ele
experimentou a solidão e o abandono dos que faziam parte do seu círculo de
relacionamentos. Com o um fiel discípulo e imitador sincero de Cristo, Paulo
soube o que era ficar só quando mais precisava de companhia.
1. 0 Clamor de Paulo na Solidão
Jesus exclamou sua solidão na cruz, sentindo a ausência
necessária do Pai, por ter recebido sobre si os pecados da humanidade. Deus não
poderia estar em com unhão com o pecado, no momento em que Cristo morria como
“o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” 0 o 1.29). Paulo clamou pelo amigo,
de dentro da prisão. Ele não tinha meios de comunicação rápidos, como hoje
qualquer pessoa pode dispor. Sua carta deve ter demorado dias para chegar às
mãos de Timóteo. No início da carta, ele já sentia a falta do amigo, quando escreveu:
“desejando muito ver-te, lembrando-me das tuas lágrimas, para me encher de
gozo” (2 Tm 1.4). N o final da missiva, consta a premente súplica de Paulo ao
seu filho na fé: “Procura vir ter comigo depressa” (2 Tm 4.9). Nas linhas
seguintes, ele diz o porquê de sua pressa.
1) Demas o desamparou
“Porque Demas me desamparou, amando o presente século, e foi
para Tessalônica” (2 T m 4.10a). Tal expressão dá a entender que Demas, que era
um cooperador e amigo de Paulo (Cl 4.14; Fm 24), na hora em que mais precisava
dele, sentiu sua falta de amor.
2) Dois amigos tiveram que viajar
“Crescente, para a Galácia, Tito, para a Dalmácia” (2 T m
4.10b). Não fica claro o motivo da viagem desses dois irmãos. Provavelmente,
foram a serviço do ministério, a lugares distantes. Em alguns momentos, Paulo
estivera cercado de amigos. Mas, por razões diversas, muitos tiveram que
deixá-lo só. Tíquico foi mandado para Efeso (2 T m 4.12). Os textos das cartas
dão a entender que Tíquico fora o mensageiro que levou a carta a Timóteo (cf. T
t 3.12; C l 4.7; E f 6.21,22), assim com o foi portador de outras missivas; Erasto
ficou em Corinto e Trófimo ficou doente em M ileto (2 T m 4.20).
3) Só o médico amado ficou com Paulo
“Só Lucas está comigo” (2 T m 4.11). Lucas, “o médico amado”
(2 Tm 4.14), escritor do livro de Atos dos Apóstolos, e cooperador do apóstolo
(Fm 24), fez-se presente, dando assistência a Paulo. Sem dúvida alguma, fora
providência de Deus. Em idade avançada (Fm 1.9), Paulo precisava de cuidados
médicos, de remédios e orientações clínicas. E ali estava o Dr. Lucas, seu
amigo, que não o desamparou.
4) A necessidade de um amigo
“Toma Marcos e traze-o contigo, porque me é muito útil para o
ministério” (2 T m 4.11b). E interessante esse apelo de Paulo. Marcos, ou João
Marcos, filho de Maria (At 12.12), era um obreiro jovem, que, por seus
impulsos, deixou de acompanhar Paulo, em um a de suas viagens missionárias, o
que muito lhe desagradou (At 13.13), e foi motivo de contenda e separação entre
Paulo e Barnabé (At 15.36-38). Foi um incidente muito desagradável entre
aqueles irmãos. Mas, na carta em apreço, Paulo demonstra que deve ter refletido
sobre Marcos, e conclui que, apesar do acontecido, aquele jovem obreiro lhe era
“muito útil” ao seu ministério. O perdão é assim. Sara as mágoas e reaproxima
os amigos e irmãos.
2. A Serenidade nos Últimos Dias da Vida
E impressionante o comportamento de Paulo, registrado na
segunda carta a Timóteo. Mesmo consciente de que sua vida estava prestes a
findar, ainda tem a calma para interessar-se por coisas que seriam
absolutamente desprezadas por outras pessoas, naquela circunstância. N a
primeira vez, Paulo ficou em prisão domiciliar, durante dois anos, quando podia
receber visitas (At 28.16). Mas, no segundo encarceramento, deve ter ficado
recluso em cárcere fechado. Contudo, sua serenidade era tal que ainda teve
ânimo para solicitar a Timóteo algumas coisas e fazer recomendações
importantes. “Quando vieres, traze a capa que deixei em Trôade, em casa de
Carpo, e os livros, principalmente os pergaminhos” (2 Tm 4.13).
Como se aproximava o
inverno (2 Tm 4.21), e Paulo sentia a necessidade da capa que deixara na casa
de Carpo. Mas para quê os livros, os pergaminhos, se sua morte estava iminente?
Antes de tudo, percebe-se quanto valor Paulo dava à leitura de livros,
anotações, feitas em pergaminho. Talvez aqueles livros fossem livros da lei ou
do Antigo Testamento. Ao que tudo indica, o seu julgamento, perante a justiça
de Roma, pudesse demorar alguns dias ou meses. De qualquer forma, é um eloqüente
testemunho de que o homem de Deus, quando está seguro em sua com unhão com o
Senhor, não teme a morte ou qualquer outra adversidade.
3. Preocupações Finais com o Discípulo
Parece algo desconexo, em relação às preocupações anteriores,
quando solicitou objetos pessoais a Timóteo. Paulo passa de escrita sobre sua
situação e necessidades, e se refere a um homem de mau caráter que lhe causara
muitos problemas, e orienta Timóteo a respeito do mesmo (2 Tm 4.14,15).
“Alexandre, o latoeiro, causou-me muitos males; o Senhor lhe pague segundo as suas
obras. Tu, guarda-te tam bém dele, porque resistiu muito às nossas palavras”
(2 Tm 4.14,15). Pela sua designação, “latoeiro”, esse indivíduo era um
lanterneiro ou funileiro, que se tornou cristão, aparentemente, mas tornou-se
inimigo de Paulo e de seu ministério.
III - A CERTEZA DA PRESENÇA DE CRISTO
1. Sozinho no Tribunal dos Homens
“Ninguém me assistiu
na minha primeira defesa; antes, todos me desampararam. Que isto lhes não seja
imputado” (2 Tm 4.16). De acordo com estudiosos, Paulo se referia à primeira
audiência a que se fez presente, na sua segunda prisão, e não ao primeiro
julgamento, do qual foi liberado, após ter ficado em prisão domiciliar, alugada
por ele próprio, durante dois anos (At 28.30,31). N a situação de que trata o
presente texto, Paulo se encontrava respondendo a processo judicial, e esperava
o julgamento final. Esse juízo poderia demorar ainda algum tempo, com o ocorreu
na primeira detenção do apóstolo. Por isso, ele diz a Timóteo que volte
depressa. E relata que sentiu a falta dos companheiros, naquela hora tão
difícil em que se encontrava, dizendo “todos me desampararam ”. Parece que
Tíquico e Lucas, o “médico amado” não se encontravam na cidade, quando Paulo
compareceu àquela audiência. Mas Paulo não era murmurador, nem guardou mágoa
dos amigos ausentes. Pelo contrário, demonstrou que os perdoara, pedindo a Deus
“Que isto lhes não seja imputado”.
2. Sentindo a
Presença de Cristo
“Mas o Senhor
assistiu-me e fortaleceu-me, para que, por mim, fosse cumprida a pregação e
todos os gentios a ouvissem; e fiquei livre da boca do leão” (2 Tm 4.17). N a
carta, Paulo declara que, não obstante ter sentido a falta dos irmãos e amigos,
sentiu de perto a gloriosa presença de Deus. E acentua que Cristo, seu Senhor, lhe
concedeu duas grandes bênçãos, naquela circunstância tão desconfortante.
Primeiro, o assistiu. Ele não tinha advogado hum ano; respondeu sozinho as
acusações injustas contra sua pessoa, fazendo sua própria defesa; mas o Senhor
estava ao seu lado.
A segunda
grande coisa que o Senhor proporcionou foi o fortalecimento do seu espírito,
dando-lhe energia e ânimo para enfrentar não só o julgamento injusto, mas a
própria morte, que se aproximava. Em terceiro lugar, Paulo diz que por ele
fosse “cumprida a pregação e todos os gentios a ouvissem ”, indicando que, de
alguma forma, antes da sua morte, os gentios haveriam de ouvir a mensagem do
evangelho. Há quem diga que ele se referia ao primeiro encarceramento, do qual
fora liberto. E continuou a pregar o evangelho. Em seguida, ele diz: “e fiquei
livre da boca do leão”. Há dificuldades de entendimento quanto a essa expressão.
Teria sido Paulo mais uma vez liberto da prisão, após o segundo julgamento?
Teria sido
ele inocentado e solto? Estudiosos das epístolas pastorais entendem que, em sua
própria defesa, Paulo proclamou sua fé em Cristo, perante as autoridades e
assistentes do júri. E que, dizendo que ficou “livre da boca do leão”,
refere-se à sua libertação espiritual, de Nero, o imperador sanguinário, ou de
Satanás, ainda que passando pelo “vale da sombra da morte” (SI 23.4). Tal
entendimento se fortalece quando recordamos seu brado de vitória: “Combati o
bom combate, acabei a carreira, guardei a fé” (2 T m 4.7).
3.
Palavras e Saudações Finais
“E o Senhor
me livrará de toda má obra e guardar-me-á para o seu Reino celestial; a quem
seja glória para todo o sempre. Amém !” (2 Tm 4.18). Vencendo as lutas do
combate da fé, acabando a carreira que lhe foi proposta e guardando sua fé em
Cristo, Paulo sentia-se liberto para sempre de “toda má obra” , e sentia-se
guardado “para o seu Reino celestial” (de Cristo), a quem dá “glória para todo
o sempre, amém ”.
Paulo, com o
ânimo fortalecido pelo Senhor, encontra forças para m andar saudações a seis amigos
(2 T m 4.19,20); lembra-se de Erasto, que ficou em Corinto, e do amigo Trófimo,
que ficou doente em Mileto. E pede que Timóteo procure chegar a Roma antes do
inverno, naturalmente, levando a sua capa, que deixara na casa de Carpo (2 Tm
4.21). E, de modo elegante, envia saudação em nome de “Eubulo, e Pudente, e Lino,
e C láudia, e todos os irmãos” que saudavam Timóteo. Isso mostra o quanto ele
estava tranqüilo, aguardando a vontade de Deus sobre sua vida e o fim do seu
ministério. E conclui, saudando seu
jovem discípulo, dizendo: “O Senhor Jesus Cristo seja com o teu espírito. A
graça seja convosco. Amém!” (2 Tm 4.22).
CONCLUSÃO
Os últimos
trechos da segunda carta de Paulo a Timóteo demonstram que um servo de Deus que
se pauta pela obediência ao Senhor, vivendo em santidade, e fazendo a vontade divina,
não se desespera, mesmo ante a iminência do dia final. Noutra carta, Paulo diz:
“Ora, o último inimigo que há de ser aniquilado é a morte” (1 C o 15.26),
referindo-se à vitória de Cristo sobre todos os poderes e forças contrárias à
vida do crente fiel. Ele tinha consciência de que a morte física aniquilava
apenas o corpo, mas seu espírito e sua alma (o homem interior — 2 C o 4.16)
estavam guardados em Cristo Jesus.
N. LAWRENCE
OLSON O PLANO DIVINO ATRAVÉS DOS SÉCULOS
11. O Estado Eterno.
Depois do juízo do Grande Trono Branco e da
destruição ou renovação do antigo céu e a terra, o Senhor outra vez
"plantará os céus e fundará a terra, enquanto esconde os Seus na sombra da
Sua mão". Is 51.16; 65.17; Ap 21.1-8. Nessa ocasião descerá dos céus a
"Noiva", a esposa de Cristo, como a NOVA JERUSALÉM, sendo o próprio
Jesus Cristo o eterno templo de Deus. Ef 2.19-22. Quem preparou esta cidade foi
Jesus. Jo 14.2; Ap 21.16. A cidade será quadrangular, sendo suas dimensões
cerca de 2.500 quilômetros de comprimento, e dimensões idênticas de largura e
de altura. Se fosse dividida em ruas, haveria lugar para 8 milhões de ruas de
Z500 quilômetros de comprimento cada uma! Em comparação com esta cidade
celestial, a maior cidade atual do mundo seria como insignificante aldeia
rural! Se o espaço do mesmo fosse dividido em lotes para residências haveria um
lote para cada pessoa que já nasceu neste mundo em todos os tempos! As ruas
serão transparentes e totalmente limpas. Nessa cidade "não haverá noite,
nem precisam eles de luz de candeia, nem da luz do sol, porque o Senhor Deus
brilhará sobre eles, e reinarão pelos séculos dos séculos". Ap 22.5. Que
lar glorioso para residência dos fiéis do Senhor! O curso da história da
salvação do homem realmente tem o seu ponto final em Apocalipse 21.8. A
passagem de Ap 21.9 a 22.5 serve de explicação mais detalhada sobre essa cidade
santa que é a Nova Jerusalém. Enquanto os santos gozarão eternamente da
presença de Deus, os incrédulos sofrerão o castigo eterno nas chamas do Lago de
Fogo. Ap 20.11,13-15; 21.8. Assim Deus terá separado de Si para sempre todos os
rebeldes e incrédulos, e trazido para a Sua presença todos os que aceitaram a
Jesus por seu Salvador. Aleluia! Que o leitor seja um desses!
Apocalipse 21:10 E
levou-me em espírito a um grande e alto monte, e mostrou-me a grande cidade, a
santa Jerusalém,
que de Deus descia do céu. 11 E tinha a glória de Deus; e a
sua luz era semelhante a uma pedra preciosíssima, como a pedra de jaspe, como o
cristal resplandecente. 12 E tinha um grande e alto muro com doze portas, e nas
portas doze anjos, e nomes escritos sobre elas, que são os nomes das doze
tribos dos filhos de Israel. 13 Do lado do levante tinha três portas, do lado
do norte, três portas, do lado do sul, três portas, do lado do poente, três
portas. 14 E o muro da cidade tinha doze fundamentos, e neles os nomes dos doze
apóstolos do Cordeiro. 15 E aquele que falava comigo tinha uma cana de ouro,
para medir a cidade, e as suas portas, e o seu muro. 16 E a cidade estava situada
em quadrado; e o seu comprimento era tanto como a sua largura. E mediu a cidade
com a cana até doze mil estádios; e o seu comprimento, largura e altura eram
iguais. 17 E mediu o seu muro, de cento e quarenta e quatro côvados, conforme a
medida de homem, que é a de um anjo.
Capítulo 12
As ressurreições e os julgamentos
I. AS RESSURREIÇÕES
As
Escrituras ensinam três tipos de ressurreições:
1) Nacional,
como é o caso de Israel que em nossos dias está ressuscitando, em cumprimento à
profecia deEzequiel 37 e Oséias 6.1-4;
2)
Espiritual, que é o caso da pessoa que experimenta o novo nascimento, passando
da morte espiritual para ávida eterna em Cristo. Ef 2.1-6; 5.14; Rm 6.11; e Jo
5.24; e
3) Física ou
Material. Esta refere-se ao corpo que foi sepultado. O espírito do homem não
morre, mas sim volta para Deus que o deu. Quando a pessoa morre, ocorre a
separação entre o corpo e o espírito. Jesus e os apóstolos Paulo, João e Pedro
ensinaram que à ressurreição unir-se-ão novamente o corpo e o espírito. Jo 5.28;
Lc 20.35-37; At 24.15; I Co 15.22.
Os casos de
Lázaro, a filha de Jairo e Dorcas e casos semelhantes, não são propriamente
casos de "ressurreição", mas sim de restauração à vida natural. Todos
esses tornam a morrer. A pessoa uma vez "ressuscitada" não morre
mais. Rm 6.9; Lc 20.36; Ap 19.20. A ressurreição significa que o gérmen da vida
física é revestido dum corpo glorificado e espiritual. I Co 15.35-55; M Co
5.1-4; Jó 19.25-27. Todos os mortos serão ressuscitados. Jo 5.28,29; Dn 12.2; I
Co 15.22. Somente os justos receberão corpos glorificados, semelhantes ao corpo
de Jesus após a Sua ressurreição. Fl 3.21; I Jo 3.2; Rm 6.5. Os incrédulos, na
segunda ressurreição, receberão apenas um corpo, e esse não glorificado, no
qual poderão sofrer durante a eternidade. Ap 20.5,10,12; 14.9-11; 21.8. O corpo
glorificado é composto de ossos e carne, mas não de sangue. Lc 24.39-43.
O Tribunal de Cristo.
"Porque
importa que todos nós compareçamos perante o tribunal de Cristo para que cada
um receba segundo o bem ou o mal que tiver feito por meio do corpo". II Co
5.10. Esse julgamento não foi estabelecido para determinar se as pessoas que
diante dele comparecerem são culpadas ou inocentes, isto é, salvas ou perdidas,
uma vez que este julgamento é exclusivamente para os salvos. A questão da
salvação individual fá foi resolvida, há muito. Agora se trata da questão de
recompensas, que será resolvida conforme a fidelidade ou infidelidade do
crente, como mordomo na casa do Mestre.
I Co 3.11-15.
Na
descrição de Paulo sobre este julgamento as obras do crente feitas por motivos
indignos comparam-se a feno, palha, e madeira, substâncias de fácil combustão,
enquanto as obras realizadas no amor de Deus e pelo amor às almas são como
ouro, prata e pedras preciosas que resistem a prova de fogo. O sábio Salomão
afirma em Ec 2.1-11 que as obras do homem são loucura ou vaidade, e isso em
razão de tê- las realizado num espírito egoísta, "para si" e para sua
própria glória. Faz parte do "feno, palha e madeira".
A Bíblia menciona as coroas reservadas para o
povo de Deus.
1) A Coroa
da Vida. Tg 1.12; Ap 2.10.
É a coroa especial do mártir ou aquele que
estiver tão consagrado ao Senhor que alegremente daria a sua vida na causa de
Cristo. A palavra "testemunha" em Atos 1.8, no original grego, é
"mártir", fato que ensina que a verdadeira testemunha de Jesus é
aquele que está pronto a ser morto pelo nome de Cristo.
2) A Coroa
de Glória, I Pe 5.2-4.
Esta coroa
está reservada para os servos fiéis que trabalharam não por amor ao lucro, nem
para exercer domínio, mas trabalharam de boa vontade, pelo amor a Deus e às
almas. I Ts 2.19,20; Fl 4.1; Dn 12.3; Pv 11.30. As próprias almas que ganhamos
para Cristo são como "coroa". Fl 4.1.
3) A Coroa
da Justiça. II Tm 4.8.
Esta coroa está reservada para aqueles que
amam a vinda de Cristo.
4) A Coroa
Incorruptível. I Co 9.25-27.
Esta coroa
está reservada para aqueles que venceram a carne, não vivendo segundo as
cobiças da carne, mas sim vivendo no Espírito. Gl 6.8. Que Deus nos ajude a nos
esforçar para que ganhemos essas coroas de tão alto valor.
·
Apresentamos agora o "Sonho do Obreiro" que ilustra as
verdades salientes do Juízo do Tribunal de Cristo. Esse tal obreiro do Senhor
certa noite sentou-se no sofá, extremamente cansado dos seus muitos trabalhos.
Muita gente havia se convertido. O obreiro sentia realmente
· 104. grande
alegria em trabalhar para Jesus! O trabalho ia bem, e estava coeso debaixo da
sua orientação. Seus sermões estavam fazendo grande efeito entre os ouvintes. A
igreja estava superlotada. Cansado assim, o obreiro passou a dormir e sonhou
que uma pessoa estranha entrou na sala sem se anunciar ou pedir licença. Ela
trazia consigo vários instrumentos para medir as coisas, como certos químicos e
aparelhos diversos, que lhe dava um aspecto deveras estranho. O estranho
aproximou-se do obreiro a dormir, e, estendendo a mão lhe disse: "E como
vai com o seu zelo?" O obreiro no momento pensou que o estranho estivesse
falando de sua saúde. Mas não, a interrogação tinha a ver com o ZELO, a
qualidade chamada "zelo", com o qual qualquer obreiro trabalha. Assim
ele logo respondeu que o seu zelo era muito grande e não duvidou, nem por um
minuto, que o estranho aprovaria na Integra a sua afirmação. Esperava ver
aquele sorriso de aprovação total. No sonho o obreiro julgou que o zelo fosse
uma coisa de qualidade física. Assim meteu a mão contra o peito e retirou de si
esse objeto, o zelo, e o apresentou ao estranho para ele fazer um exame
minucioso do mesmo. O estranho procedeu a colocar o "zelo"
primeiramente na balança, dizendo, "o zelo do senhor pesa 100
quilos!" O obreiro logo sentiu uma certa satisfação ao saber que pesava
tanto, mas então notou que o estranho mantinha um aspecto de pessoa um pouco
atribulada. Ele não se definiu e se notava que logo em seguida faria outros
testes e pesquisas. Foi então que ele dividiu o montante do zelo em átomos e
pôs tudo isso num cadinho, o qual foi posto no fogo. Quando a massa toda se
fundiu, então o retirou do fogo e deixou-o esfriar. Quando estava rio, notou-se
que se havia separado em camadas ou estratos. Quando o homem da ciência bateu
de leve com o martelinho, tudo se separou. Então cada camada foi novamente
analisada e posta na balança para verificar o seu peso. O estranho fazia muitas
anotações enquanto se processava a pesquisa. Quando terminada a pesquisa, o
estranho entregou ao obreiro todas as anotações, estando o seu semblante
marcado por certa tristeza e apreensão, e compaixão ao mesmo tempo. Contudo,
não lhe disse nenhuma palavra a não ser: "Que Deus tenha misericórdia de
você!" Com isso saiu da sala e desapareceu! As anotações diziam o
seguinte:
ANALISE
DO ZELO DO SENHOR JÚNIO
Peso
bruto 100 quilos
Intolerância
religiosa 11 quilos
Ambição
pessoal 22 quilos
Amor aos elogios 19 quilos
Orgulho
denominacional 15 quilos
Orgulho
dos talentos 14 quilos
Espírito
autoritário 12 quilos
Amor a
Deus 4 quilos
Amor ao
próximo 3 quilos
Total 100
quilos
Naturalmente, o obreiro levou um susto muito
grande. Tentou
· 105. encontrar algum erro nas anotações, mas
convenceu-se que estava tudo certo. Serviu para provocar nele uma atitude
realmente positiva, pois o estranho havia demorado um pouco no corredor. O
obreiro soltou um grito, dizendo, "Senhor, salva-me" e na mesma hora
ajoelhou-se ao lado do sofá, com o papel na mão, os olhos contemplando--o
demoradamente. De repente o papel transformou-se em espelho e o obreiro viu no
mesmo o seu próprio coração refletido. Estava tudo certo! Ele o reconheceu e o
sentiu de perto. Confessou que foi verdade mesmo! Deplorou esse estado de
coisas e buscou a graça de Deus, até às lágrimas, que Deus o ajudasse livrar-se
do seu egoísmo. No meio daquela angústia profunda, o Sr. Junio acordou! Para
livrar-se do inferno, ele já havia pedido ao Senhor, mas para se ver livre de
si mesmo, essa foi a primeira vez que pediu tal coisa. Ele continuou em oração
até que sentiu aquele fogo refinador ter feito a sua obra, queimando tudo que
não é de Deus e transformando o coração para a obediência total a Cristo.
Assim, irmãos, todos nós, lá no céu, estaremos aos pés de Jesus, o grande
"Químico", para Lhe agradecer ter revelado a nós os nossos defeitos e
as nossas falhas. Jesus, o nosso Mestre, espera de nós, Seus servos, uma
mordomia fiel sobre as coisas a nós confiadas, conforme a revelação de Sua
Palavra.
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