terça-feira, 8 de setembro de 2015

LIÇÃO 11 A Organização de uma Igreja Local






Capítulo 11                 

A Organização de uma Igreja Local

Vamos estudar sobre a terceira carta pastoral de Paulo, destinada a Tito. Se Timóteo foi encarregado de transmitir ensinamentos, exorta­ções e mensagens a um a igreja que sofria os ataques dos falsos mestres, Tito teve missão semelhante, porém com um a incumbência a mais, que foi a de estabelecer presbíteros, “em cada cidade”, pondo “em ordem ” coisas que deveriam ser bem organizadas e estabelecidas. Paulo demonstra, na carta a Tito, que não era apenas pregador, ensinador e “doutor dos gentios” , mas, também , um administrador eclesiástico de larga visão ministerial.
Ele sabia avaliar as necessidades da obra do Senhor. E orientou Tito para que selecionasse obreiros cristãos, que podiam ser separados ou consagrados a presbíteros, com o líderes que ficariam encarregados da direção de novas igrejas, “de cidade em cidade” (Tt 1.5). D essa designação é que as igrejas em geral entendem que o cargo ou função de presbítero deve ser local, sendo suscetível de reconhecimento ministerial por parte de outras igrejas. Chama a atenção, mais um a vez, nas cartas pastorais, o cuidado de Paulo quanto às qualificações a serem exigidas para o exercício das funções ministeriais, em especial, no caso dos presbíteros.
São funções ministeriais idênticas às que constam de 1 Timóteo 3.1-7, em que Paulo fala a Timóteo para que observe tais requisitos, na administração eclesiástica da igreja em Efeso. Esse detalhe mostra que as três epístolas pastorais formam de fato um a unidade de pensamento e de finalidade, pois têm a mesma autoria. Nessas cartas, as orientações são aplicáveis à administração eclesiástica, nas igrejas locais, em todos os tempos e lugares. Por não serem observadas, nos dias presentes, em mui­tos ministérios é que têm ocorrido sérios problemas organizacionais e de relacionamento entre obreiros.
 A lista de qualificações, constantes de Tito 1.6-8, corrobora o extraordinário discernimento que Paulo teve, como nenhum outro apóstolo, com relação aos requisitos para ser um presbítero, um bispo ou um pastor. A organização eclesiástica deve começar com a organização ministerial. E esta se faz com obreiros primeiramente chamados por Deus de forma convincente (2 Tm 2.15). A observância das qualificações bí­blicas para o ministério evita a “consagração” de obreiros oportunistas ou aventureiros, que se servem da igreja em lugar de servirem à igreja. Em segundo lugar, com o preparo desses obreiros para assumir as grandes responsabilidades da Igreja, através das igrejas locais. O século XXI apresenta desafios muito maiores para o exercício pastoral do que em qualquer outra época da História.
Na introdução da carta a Tito, vemos que, a exemplo do que disse acerca de Timóteo, Paulo também teceu comentário sincero e reconhecedor do valor do destinatário, como obreiro fiel, fruto do seu abnegado ministério de evangelização e missões: “a Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum: graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo, nosso Salvador” (Tt 1.4). Tito era amigo de longa data. De origem grega, foi companheiro de Paulo, ao lado de Barnabé, desde que começou de fato seu trabalho, após ter o apoio dos líderes da Igreja, em Jerusalém (G1 2.1-9).

I - ORGANIZAÇÃO DA IGREJA E ESCOLHA DOS OBREIROS

1. Resultado de uma Viagem Missionária
 “Em sua carta a Tito, Paulo mostra que é um verdadeiro pastor e lí­der, chamado por Deus (1 C o 1.1; G 1 1.1), e tem cuidado das igrejas que fundou em suas viagens missionárias. E diz para seu discípulo: ‘Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei’ (Tt 1.5). De acordo com o entendimento da época, a igreja local deveria ter à frente um obreiro experiente e de mais idade. Que fosse um ancião, Um jovem obreiro pode ter muito conhecimento bí­blico e até muita unção de Deus. Mas a experiência só se consegue com o tempo, com o passar dos anos (Jó 32.7)”.1 O texto indica que Paulo estivera em Creta, em uma de suas viagens missionárias, em companhia de Tito, cumprindo a sua tarefa de pastor e bispo, ou supervisor da obra de evangelização, em ocasião diferente da viagem em que sofreu terrível naufrágio e foi salvo pela bondade de Deus (ver At 27.8).
Em sua visita à famosa ilha, Paulo percebeu a necessidade de deixar ali, com o obreiro supervisor, o seu discípulo amado, Tito, que sempre lhe fora fiel e disponível para ajudar na obra. Sabedor de que um pastor ou missionário não pode fazer tudo nem atender a todas as igrejas por ele fundadas, Paulo escolheu Tito para prosseguir o trabalho por ele iniciado. Ao que tudo indica, a viagem a Creta deve ter ocorrido após a sua saída da prisão, no primeiro encarceramento, que durou dois anos (At 28.30), e sua última prisão, que resultou em sua morte. A carta a Tito, portanto, deve ter sido escrita antes de 1 Timóteo.
Com a incumbência confiada por Paulo, Tito tornou-se um a espé­cie de supervisor missionário, com autoridade delegada para visitar, acompanhar e avaliar todos os trabalhos abertos, nas diversas cidades da ilha. Uma providência ministerial de grande valor, pois muitos trabalhos missionários são abertos, em lugares diversos no mundo, e não são avaliados por uma supervisão efetiva.

2. Colocando em Ordem as Atividades na Igreja
 As necessidades de organização das igrejas, na época de Paulo e de Tito, eram bem prementes. A obra do Senhor estava crescendo, e certamente distorções, dificuldades e transtornos eram observados pelos supervisores da obra. Mas aquelas atividades eram idênticas às que são observadas hoje nas igrejas locais. Estas podem ser resumidas, pela ordem de importância e prioridade, nas seguintes ações:

1) Evangelização e discipulado
Essas atividades não são “modernas”, mas sempre foram desenvolvidas, desde os primórdios das igrejas locais. Por meio da mensagem do evangelho, as pessoas aceitavam a Cristo como seu Salvador, mas precisavam de ensino apropriado à sua condição de novos convertidos para se tornarem discípulos de Jesus. Paulo dava muito valor ao discipulado. Ele ficou um ano e meio em Corinto, “ensinando entre eles a palavra de Deus” (At 18.11). Em outra viagem, passou “sucessivamente pela província da Galácia e da Frigia, confirmando a todos os discípulos” (At 18.23). Tito tinha a missão de reforçar as atividades de evangelização, discipulado e integração dos irmãos nas igrejas por onde ele passava, com autoridade delegada pelo apóstolo supervisor.

2) Adoração a Deus
Depois da conversão, vem a adoração. Logo em seus primeiros passos, o novo discípulo precisa ser ensinado e levado à adoração sincera a Deus. Naturalmente, na época de Paulo, não havia hinários cristãos à disposição dos crentes. Eles louvavam a Deus, certamente, utilizando o saltério, ou os cânticos dos salmos que, em sua maioria, são adequados para louvar a Deus, em todos os tempos, e em todos os lugares, pelo mundo afora. Mas Paulo era um adorador por excelência. E incentivava o cântico e o louvor nas igrejas por onde passava ou para quem enviava suas epístolas: “falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais, cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.19). Na organização e funcionamento das igrejas, em Creta, não poderia ser diferente. Tito teria que lembrar aos irmãos o valor da adoração a Deus.

3) Ensino e educação cristã
Estabelecer igrejas significa não apenas inaugurar um edifício, ou mesmo dar início a uma com unidade cristã, num determinado local. Significa reunir pessoas que se tornam cristãs, congregá-las num local, ainda que sem melhores estruturas físicas, para ministrar-lhes o ensino da Palavra de Deus. Paulo enviou Tito a Creta para ensinar as igrejas locais e os líderes que haveria de estabelecer, dando destaque ao ensino da Palavra de Deus. Sem ensino fundamentado na Palavra de Deus, nenhum a igreja pode sustentar-se firme na Rocha dos Séculos.
4) Integração entre os irmãos
 Uma das características da igreja em seus primórdios era a união e a com unhão entre os crentes. “Todos os que criam estavam juntos e ti­nham tudo em comum ” (At 2.44). Não havia apenas reunião entre os primeiros cristãos, mas havia união e comunhão, em torno dos que se integravam uns com os outros. Certamente, Tito deve ter ensinado aos irmãos de Creta a importância da com unhão com Deus, com Cristo, com o Espírito Santo e com os irmãos.

5) Assistência social ou ajuda mútua
 Os cristãos, em seus primórdios, levavam a com unhão (koinonia) tão a sério que chegaram a tomar atitudes radicais em relação às necessidades. “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Tito, representando Paulo, deve ter orientado os crentes de Creta a respeito desse importante objetivo da igreja local.

6) Organização e administração patrimonial
Nos primeiros séculos do cristianismo, a Igreja nasceu de forma bem simples e desprovida de estrutura física para a acolhida dos irmãos. A princípio, reuniam-se no cenáculo (At 1.13); depois, no alpendre de Salomão (At 5.12); com o passar dos anos, os cristãos reuniam-se no Templo e nas casas de suas famílias (At 5.42; 20.20). Em Creta, provavelmente, a organização das igrejas teve início nas casas, nos lares cristãos.

3. Qualificações dos Bispos ou Presbíteros

Em sua carta a Tito, Paulo indica as qualificações para o presbitério (ou episcopado) idênticas às que constam em 1 Timóteo 3.1-7, já estudadas no capítulo 4 deste comentário.
Em seguida, mostra que “o bispo”, o mesmo que presbítero no texto (Tt 1.5) deve ser pessoa íntegra, irrepreensível, “com o despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7a). Outras qualidades morais são requeridas para quem deseja o presbitério ou o episcopado (1 T m 3.1), como humildade, “não soberbo”; mansidão, “não iracundo”; sobriedade em relação ao uso do vinho, evitando exceder-se nesse aspecto, para que não perca seu equilíbrio e cause escândalo à igreja do Senhor. Exige-se, também, que o presbítero, ou bispo, seja pessoa educada, equilibrada emocionalmente e não seja “espancador” de ninguém (Tt 1.7).
No mesmo trecho da carta, Paulo determina que o presbítero ou bispo não seja “nem cobiçoso de torpe ganância”. O u seja: não seja amante e cobiçoso de dinheiro.
Completando a lista virtuosa de qualificações ministeriais, Paulo diz que o presbítero, bispo ou pastor deve ser obreiro “dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, tem perante” (Tt 1.8). Para ter essas qualificações, é necessário que o líder seja acolhedor, não irascível, não neurastênico, não mal educado, que não sabe receber ou tratar as pessoas. Deve ser benigno, possuidor de equilíbrio emocional (moderado), tenha uma vida justa, seja santo em toda a maneira de viver (1 Pe 1.15), viva em santificação (Hb 12.14) e demonstre equilíbrio em tudo, na prática do fruto da temperança.


II - O OBREIRO DEVE PROTEGER O POVO DE DEUS

1. Crentes Problemáticos
 Após discriminar as qualificações necessárias ao presbítero, Paulo ressalta o respeito que deve ter à doutrina e a capacidade e autoridade ministerial para argumentar contra os contradizentes (Tt 1.9,10).
 Na igreja de Creta, uma ilha tão pequena, de apenas 250 quilô­metros de extensão por 11 a 56 de largura, a comunidade cristã não deveria ter mais que algumas dezenas ou poucas centenas de cristãos. Mas, no meio deles, surgiram os “com plicados” e “contradizentes”, “faladores”. Tipos não raros em igrejas nos tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a maneira de tratá-los.

2. Como Tratar os Desordenados
Aos contradizentes e desordenados, desobedientes ao ensino da Palavra de Deus, Paulo demonstra não ter nenhum a contemplação com os mesmos, pois são perigosos, não só para a igreja local, mas para as famílias cristãs, e devem ser detidos, tapando-lhes a boca, ou seja, com argumentação, admoestação e repreensão à altura: “aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras, ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tt 1.11). O fato de tais falsos crentes terem espaço para transtornar “casas inteiras” se devia à realidade das igrejas cristãs em seus primórdios. Elas funcionavam, em grande parte, nas residências dos convertidos (Rm 16.5; 1 C o 16.19; C l 4.15).
Além de faladores ou murmuradores, os falsos crentes ensinavam coisas inconvenientes, visando obter algum proveito pessoal; eram gananciosos. Os obreiros que lideram, presbíteros, bispos ou pastores, precisam ter autoridade espiritual, moral e pastoral para afastar os fiéis em Cristo do assédio dessa gente a serviço do Diabo. Além de desordenados, eles são “faladores” ou murmuradores. Certo pastor chamava esse tipo de crente de “línguas de gravata”.1 – (1 Eles não precisavam usar gravatas. A língua seria tão grande que cumpria esse papel. )

 Há quem queira fazer-se de “bonzinho” e “cheio de amor” no trato com os contradizentes e inimigos da liderança. Mas a Bíblia, manual da Igreja por excelência, mostra que, mesmo com amor, deve haver firmeza e determinação, no trato com os desordeiros. Paulo m anda que se deve tapar a boca dos tais; devem ser admoestados, ou advertidos, censurados, repreendidos. Completando a exortação acerca dos desordeiros, Paulo recorre à palavra de um profeta cretense a respeito deles e diz que os tais devem ser repreendidos “severamente”: “Um deles, seu próprio profeta, disse: O s cretenses são sempre mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro. Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tt 1.12,13).

3. Não Dar Ouvidos a Ensinos Falsos
 Não era fácil a missão de Tito. Ele, na condição de “missionário supervisor”, estabelecendo igrejas “de cidade em cidade”, ainda tinha que ministrar a palavra de edificação e advertência contra os falsos cristãos; deveria repreendê-los de modo veemente, “não dando ouvidos às fábulas judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tt 1.14). Isso mostra que os falsos mestres e os falsos cristãos eram homens que queriam manter os novos convertidos sujeitos ao judaísmo e comportavam-se como se fossem formuladores de doutrinas com seus mandamentos espúrios.

III - A PERCEPÇÃO DA PUREZA PARA OS PUROS E PARA OS IMPUROS

1. Tudo É Puro para os Puros
 Nesta seção da carta a Tito, Paulo faz declaração que tem sido mal entendida por muitos que leem a epístola. Ele diz que “todas as coisas são puras para os puros” (Tt 1.15a). Separam os o versículo para melhor entendimento. Já ouvimos alguém, de má fé e péssima intenção, querer interpretar esse versículo ensinando que, se a pessoa é pura, pode fazer o que bem quiser, pois “tudo é puro” para ela. M as a Bíblia explica a si mesma. Para o puro, ou santo, todas as coisas são puras, porque são “santos em toda a maneira de viver” (1 Pe 1.5); buscam “a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14); são santificados em tudo e todo “espírito, alma e corpo” são “conservados plenamente irrepreensíveis para a vinda do Senhor” (1 Ts 5.23).

2. Nada É Puro para os Contaminados
 “[...] mas nada é puro para os contaminados e infiéis; antes, o seu entendimento e consciência estão contaminados” (Tt 1.15). No contexto da carta e no fundo histórico de sua época, decerto Paulo tinha em mente os ensinos falsos dos gnósticos, que apregoavam muitos ensinos sobre alimentos, vida íntima, sexualidade e outros temas, os quais consideravam coisas impuras. Para eles, tudo o que fosse material era reprovável, “impuro” . De fato, para os “contaminados e infiéis”, que viviam cheios de malícia, maldade e torpeza, em seus corações corrompidos, tudo o que eles pensavam e praticavam eram de má natureza.
Eles apregoavam que para o crente ser puro deveria abster-se de relações sexuais. Tal generalização contrariava a Palavra de Deus, no que respeita ao sexo conjugal, pois é mandamento de Deus que, através do sexo, o esposo se faça “uma só carne” com sua esposa (G n 2.24; M t 19.6). Muitos defendiam o vegetarianismo pleno, como os “veganos”, ou “frugívoros”, que não se apropriam de nada de origem animal, para não se contaminarem. Tais dietas podem ser saudáveis, mas não podem ser exigidas com o mandamento bíblico de forma alguma (ver Lv 11). Mas o motivo pelo qual “nada é puro para os contaminados” é porque “confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e desobedientes, e reprovados para toda boa obra” (Tt 1.16). O u seja: são hipócritas e maliciosos. Dizem um a coisa e fazem outra.

CONCLUSÃO

Um a igreja local, pequena, média ou grande, é um universo humano, pleno de grande variedade de circunstâncias e realidades que envolvem os mais diferentes tipos de pessoas. Nela, há o “joio”, ou falsos crentes, e “o trigo”, os crentes fiéis, sinceros e santos, cujos nomes estão inscritos no “livro da vida do Cordeiro”. E na igreja local que se desenvolvem ministérios, dons e talentos, a serviço do Reino de Deus, ou contrários a ele. E na igreja local que a Igreja Universal, “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm3.15), se torna visível. Sua administração requer a observância de preceitos e diretrizes, emanadas da Palavra de Deus, o maior e melhor “Manual de Administração Eclesiástica”. Por isso, Paulo escreveu três cartas pastorais, visando ao estabelecimento, à organização e ao crescimento sadio da Igreja do Senhor Jesus.

 

Capítulo X: A Igreja

Conhecendo as Doutrinas da Bíblia
Myer Pearlman




. Antes de partir da terra, Cristo prometeu assumir esse novo corpo. Entretanto, usou outra ilustração: 
"Eu sou a videira, vós as varas" (João 15:5). A videira está incompleta sem as varas e as varas nada são à parte da vida que flui da videira. Se Cristo há de ser conhecido pelo mundo, terá que ser mediante aqueles que tomam o seu nome e participam de sua vida.
Assim como o corpo humano é vivificado pela alma, da mesma maneira o corpo de Cristo é vivificado pelo Espírito Santo. "Pois todos nós fomos batizados em um Espírito formando um corpo" (1Cor. 12:13). Os fatos supra citados indicam uma característica única da religião de Cristo. Assim escreve W. H. Dunphy: Ele — e unicamente ele — dos fundadores de religião, produziu um organismo permanente, uma união permanente de mentes e almas, concentradas em torno de sua Pessoa. Os cristãos não são meramente seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e membros uns dos outros. Buda reuniu sua sociedade de "esclarecidos", mas a relação entre eles não passa de relação externa, de mestre para com o aluno. O que os une é sua doutrina, e não a sua vida. O mesmo pode dizer-se de Zoroastro, de Sócrates, de Maomé, e dos outros gênios religiosos da raça. Mas Cristo não somente é Mestre, ele é a vida dos cristãos. O que ele fundou não foi uma sociedade que estudasse e propagasse suas idéias, mas um organismo que vive por sua vida, um corpo habitado e guiado por seu Espírito.


A igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecoste, quando foi consagrada pela unção do Espírito. Assim como o Tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória divina (Êxo. 40:34), assim os primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como igreja pela descida do Espírito Santo. É muito provável que os cristãos primitivos vissem nesse evento o retorno da "Shekinah" (a glória manifesta no Tabernáculo e no templo) que, havia muito, partira do templo, e cuja ausência era lamentada por alguns dos rabinos. Davi juntou os materiais para a construção do templo, mas a construção foi feita por seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira, Jesus, durante seu ministério terreno, havia juntado os materiais da sua igreja, por assim dizer, mas o edifício foi erigido por seu sucessor, o Espírito Santo. Realmente, essa obra foi feita pelo Espírito, operando mediante os apóstolos que lançaram os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação, ensino e organização. Portanto, a igreja é descrita como sendo "edificados sobre o fundamento dos apóstolos..." (Efés. 2:20).



É evidente que o propósito do Senhor era que houvesse uma sociedade de seus seguidores que comunicasse seu Evangelho aos homens e o representasse no mundo. Mas ele não moldou nenhuma organização ou plano de governo; não estabeleceu nenhuma regra detalhada de fé e prática. Entretanto, ele ordenou os dois singelos ritos de batismo e comunhão. Ao mesmo tempo, ele não desprezou a organização, pois sua promessa concernente ao Consolador vindouro deu a entender que os apóstolos seriam guiados em toda a verdade concernente a esses assuntos. O que ele fez para a igreja foi algo mais elevado do que organização: ele lhe concedeu sua própria vida, tornando-a em organismo vivo. Assim como o corpo vivo se adapta ao meio ambiente, semelhantemente, ao corpo vivo de Cristo foi dada liberdade para selecionar suas próprias formas de organização, segundo suas necessidades e circunstâncias. Naturalmente, a igreja não era livre para seguir nenhuma manifestação contrária aos ensinos de Cristo ou à doutrina apostólica. Qualquer manifestação contrária aos princípios das Escrituras é corrupção. Durante os dias que se seguiram ao Pentecoste, os crentes praticamente não tinham nenhuma organização, e por algum tempo faziam os cultos em suas casas e observavam as horas de oração no templo. (Atos 2:46.) Isso foi completado pelo ensino e comunhão apostólicos. Ao crescer numericamente a igreja, a organização originou-se das seguintes causas: primeira, oficiais da igreja foram escolhidos para resolver as emergências que surgiam, como, por exemplo, em Atos 6:1-5; segunda, a possessão de dons espirituais separava certos indivíduos para a obra do ministério.
As primeiras igrejas eram democráticas em seu governo, circunstância natural em uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava disponível a todos, e onde toda e qualquer pessoa podia ser dotada de dons para um ministério especial. É verdade que os apóstolos e anciãos presidiam às reuniões de negócios e à seleção dos oficiais; mas tudo se fez em cooperação com a igreja. (Atos 6:3-6; 15:22; 1Cor. 16:3; 2Cor. 8:19; Fil. 2:25.) Pelo que se lê em Atos 14:23 e Tito 1:5, poderá entender-se que Paulo e Barnabé nomearam anciãos sem consultar a igreja; mas historiadores eclesiásticos de responsabilidade afirmam que eles os "nomearam" da maneira usual, pelo voto dos membros da igreja. Vemos claramente que no Novo Testamento não há apoio para uma fusão das igrejas em uma "máquina eclesiástica" governada por uma hierarquia. Nos dias primitivos não havia nenhum governo centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local era autônoma e administrava seus próprios negócios com liberdade. Naturalmente os "Doze Apóstolos" eram muito respeitados por causa de suas relações com Cristo, e exerciam certa autoridade. (Vide Atos 15.)
Paulo exercia certa supervisão sobre as igrejas gentílicas; entretanto, essa autoridade era puramente espiritual, e não uma autoridade oficial tal como se outorga numa organização. Embora que cada igreja fosse independente da outra, quanto à jurisdição, as igrejas do Novo Testamento mantinham relações cooperativas umas com as outras. (Rom. 15:26, 27; 2Cor. 8:19; Gál. 2:10; Rom. 15:1; 3João 8.) Nos séculos primitivos as igrejas locais, embora nunca lhes faltasse o sentimento de pertencerem a um só corpo, eram comunidades independentes e com governo próprio, que mantinham relações umas com as outras, não por uma organização política que as reunisse todas elas, mas por uma comunhão fraternal mediante visitas de delegados, intercâmbio de cartas, e alguma assistência recíproca indefinida na escolha e consagração de pastores.

No Novo Testamento são reconhecidas duas classes de ministério:

1) O ministério geral e profético geral, porque era exercido com relação às igrejas de modo geral mais do que em relação a uma igreja particular, e profético, por ser criado pela possessão de dons espirituais.

2) O ministério local e prático local porque era limitado a uma igreja, e prático, porque tratava da administração da igreja.

(a) O ministério geral e profético.

1) Apóstolos. Eram homens que receberam sua comissão do próprio Cristo em pessoa (Mat. 10:5; Gál. 1:1), que haviam visto a Cristo depois de sua ressurreição (Atos 1:22; 1Cor. 9:1); haviam gozado duma inspiração especial (Gál. 1:11,12; 1Tess. 2:13); exerciam um poder administrativo sobre as igrejas (1Cor. 5:3-6; 2Cor. 10:8; João 20:22, 23); levavam credenciais sobrenaturais (2Cor. 12:12), e cujo trabalho principal era estabelecer igrejas em campos novos. (2Cor. 10:16.) Eram administradores da igreja e organizadores missionários, chamados por Cristo e cheios do Espírito. Os "doze" apóstolos de Jesus, e Paulo (que por sua chamada especial constituía uma classificação à parte), eram apóstolos por preeminência; entretanto, o título de apóstolo também foi outorgado a outros que se ocupavam na obra missionária. A palavra "apóstolo" significa simplesmente "missionário". (Atos 14:14; Rom. 16:7.) Tem havido apóstolos desde então? A relação dos doze para com Cristo foi uma relação única que ninguém desde então pôde ocupar. Sem dúvida, a obra de homens tais como João Wesley, com toda razão, pode ser considerada como apostólica.

2. Profetas. Eram os dotados do dom de expressão inspirada. Desde os primeiros dias até ao fim do século constantemente apareceram, nas igrejas cristãs profetas e profetisas. Enquanto o apóstolo e o evangelista levavam sua mensagem aos incrédulos (? 2:7,8), o ministério do profeta, era particularmente entre os cristãos. Os profetas viajavam de igreja em igreja, tanto como os evangelistas o fazem na atualidade; não obstante, cada igreja tinha profetas que eram membros ativos dela.

3. Mestres. Eram os dotados de dons para a exposição da Palavra. Tal qual os profetas, muitos deles viajavam de igreja em igreja.

(b) O ministério local e prático. O ministério local, que era nomeado pela igreja, com base de certas qualidades (1Tim. cap. 3), incluía os seguintes:

1. Presbíteros, ou anciãos, aos quais foi dado o título de "bispo", que significa supervisor, ou que serve de superintendente. Exerciam a superintendência geral sobre a igreja local, especialmente em relação ao cuidado pastoral e à disciplina. Seus deveres eram, geralmente de natureza espiritual. Às vezes se chamam "pastores". (Efés. 4:11, Vide Atos 20:28.) Durante o primeiro século cada comunidade cristã era governada por um grupo de anciãos ou bispos, de modo que não havia um obreiro só fazendo para a igreja o que um pastor faz no dia de hoje. No princípio do terceiro século colocava-se um homem à frente de cada comunidade com o título de pastor ou bispo.

2. Associados com os presbíteros havia um número de obreiros ajudantes chamados diáconos (Atos 6:1-4; 1Tim. 3:8-13; Fil. 1:1) e diaconisas (Rom. 16:1; Fil. 4:3), cujo trabalho parece, geralmente, ter sido o de visitar de casa em casa e exercer um ministério prático entre os pobres e necessitados (1Tim. 5:8-11). Os diáconos também ajudavam os anciãos na celebração da Ceia do Senhor.



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