Capítulo
11
A Organização de uma
Igreja Local
Vamos
estudar sobre a terceira carta pastoral de Paulo, destinada a Tito. Se Timóteo
foi encarregado de transmitir ensinamentos, exortações e mensagens a um a
igreja que sofria os ataques dos falsos mestres, Tito teve missão semelhante,
porém com um a incumbência a mais, que foi a de estabelecer presbíteros, “em
cada cidade”, pondo “em ordem ” coisas que deveriam ser bem organizadas e
estabelecidas. Paulo demonstra, na carta a Tito, que não era apenas pregador,
ensinador e “doutor dos gentios” , mas, também , um administrador eclesiástico
de larga visão ministerial.
Ele sabia
avaliar as necessidades da obra do Senhor. E orientou Tito para que
selecionasse obreiros cristãos, que podiam ser separados ou consagrados a
presbíteros, com o líderes que ficariam encarregados da direção de novas
igrejas, “de cidade em cidade” (Tt 1.5). D essa designação é que as igrejas em
geral entendem que o cargo ou função de presbítero deve ser local, sendo
suscetível de reconhecimento ministerial por parte de outras igrejas. Chama a
atenção, mais um a vez, nas cartas pastorais, o cuidado de Paulo quanto às
qualificações a serem exigidas para o exercício das funções ministeriais, em especial,
no caso dos presbíteros.
São funções
ministeriais idênticas às que constam de 1 Timóteo 3.1-7, em que Paulo fala a
Timóteo para que observe tais requisitos, na administração eclesiástica da
igreja em Efeso. Esse detalhe mostra que as três epístolas pastorais formam de
fato um a unidade de pensamento e de finalidade, pois têm a mesma autoria.
Nessas cartas, as orientações são aplicáveis à administração eclesiástica, nas
igrejas locais, em todos os tempos e lugares. Por não serem observadas, nos dias
presentes, em muitos ministérios é que têm ocorrido sérios problemas
organizacionais e de relacionamento entre obreiros.
A lista de qualificações, constantes de Tito
1.6-8, corrobora o extraordinário discernimento que Paulo teve, como nenhum
outro apóstolo, com relação aos requisitos para ser um presbítero, um bispo ou
um pastor. A organização eclesiástica deve começar com a organização
ministerial. E esta se faz com obreiros primeiramente chamados por Deus de
forma convincente (2 Tm 2.15). A observância das qualificações bíblicas para o
ministério evita a “consagração” de obreiros oportunistas ou aventureiros, que
se servem da igreja em lugar de servirem à igreja. Em segundo lugar, com o
preparo desses obreiros para assumir as grandes responsabilidades da Igreja,
através das igrejas locais. O século XXI apresenta desafios muito maiores para
o exercício pastoral do que em qualquer outra época da História.
Na
introdução da carta a Tito, vemos que, a exemplo do que disse acerca de
Timóteo, Paulo também teceu comentário sincero e reconhecedor do valor do
destinatário, como obreiro fiel, fruto do seu abnegado ministério de
evangelização e missões: “a Tito, meu verdadeiro filho, segundo a fé comum:
graça, misericórdia e paz, da parte de Deus Pai e da do Senhor Jesus Cristo,
nosso Salvador” (Tt 1.4). Tito era amigo de longa data. De origem grega, foi
companheiro de Paulo, ao lado de Barnabé, desde que começou de fato seu
trabalho, após ter o apoio dos líderes da Igreja, em Jerusalém (G1 2.1-9).
I - ORGANIZAÇÃO DA
IGREJA E ESCOLHA DOS OBREIROS
1.
Resultado de uma Viagem Missionária
“Em sua carta a Tito, Paulo mostra que é um
verdadeiro pastor e líder, chamado por Deus (1 C o 1.1; G 1 1.1), e tem
cuidado das igrejas que fundou em suas viagens missionárias. E diz para seu
discípulo: ‘Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem
as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros,
como já te mandei’ (Tt 1.5). De acordo com o
entendimento da época, a igreja local deveria ter à frente um obreiro
experiente e de mais idade. Que fosse um ancião, Um jovem obreiro pode ter
muito conhecimento bíblico e até muita unção de Deus. Mas a experiência só se
consegue com o tempo, com o passar dos anos (Jó 32.7)”.1 O texto indica
que Paulo estivera em Creta, em uma de suas viagens missionárias, em companhia
de Tito, cumprindo a sua tarefa de pastor e bispo, ou supervisor da obra de
evangelização, em ocasião diferente da viagem em que sofreu terrível naufrágio
e foi salvo pela bondade de Deus (ver At 27.8).
Em sua visita
à famosa ilha, Paulo percebeu a necessidade de deixar ali, com o obreiro
supervisor, o seu discípulo amado, Tito, que sempre lhe fora fiel e disponível
para ajudar na obra. Sabedor de que um pastor ou missionário não pode fazer
tudo nem atender a todas as igrejas por ele fundadas, Paulo escolheu Tito para
prosseguir o trabalho por ele iniciado. Ao que tudo indica, a viagem a Creta
deve ter ocorrido após a sua saída da prisão, no primeiro encarceramento, que
durou dois anos (At 28.30), e sua última prisão, que resultou em sua morte. A
carta a Tito, portanto, deve ter sido escrita antes de 1 Timóteo.
Com a
incumbência confiada por Paulo, Tito tornou-se um a espécie de supervisor
missionário, com autoridade delegada para visitar, acompanhar e avaliar todos
os trabalhos abertos, nas diversas cidades da ilha. Uma providência ministerial
de grande valor, pois muitos trabalhos missionários são abertos, em lugares
diversos no mundo, e não são avaliados por uma supervisão efetiva.
2.
Colocando em Ordem as Atividades na Igreja
As necessidades de organização das igrejas, na
época de Paulo e de Tito, eram bem prementes. A obra do Senhor estava
crescendo, e certamente distorções, dificuldades e transtornos eram observados
pelos supervisores da obra. Mas aquelas atividades eram idênticas às que são
observadas hoje nas igrejas locais. Estas podem ser resumidas, pela ordem de
importância e prioridade, nas seguintes ações:
1) Evangelização e discipulado
Essas
atividades não são “modernas”, mas sempre foram desenvolvidas, desde os
primórdios das igrejas locais. Por meio da mensagem do evangelho, as pessoas
aceitavam a Cristo como seu Salvador, mas precisavam de ensino apropriado à sua
condição de novos convertidos para se tornarem discípulos de Jesus. Paulo dava
muito valor ao discipulado. Ele ficou um ano e meio em Corinto, “ensinando
entre eles a palavra de Deus” (At 18.11). Em outra viagem, passou
“sucessivamente pela província da Galácia e da Frigia, confirmando a todos os
discípulos” (At 18.23). Tito tinha a missão de reforçar as atividades de
evangelização, discipulado e integração dos irmãos nas igrejas por onde ele
passava, com autoridade delegada pelo apóstolo supervisor.
2) Adoração a Deus
Depois da
conversão, vem a adoração. Logo em seus primeiros passos, o novo discípulo
precisa ser ensinado e levado à adoração sincera a Deus. Naturalmente, na época
de Paulo, não havia hinários cristãos à disposição dos crentes. Eles louvavam a
Deus, certamente, utilizando o saltério, ou os cânticos dos salmos que, em sua maioria,
são adequados para louvar a Deus, em todos os tempos, e em todos os lugares,
pelo mundo afora. Mas Paulo era um adorador por excelência. E incentivava o
cântico e o louvor nas igrejas por onde passava ou para quem enviava suas
epístolas: “falando entre vós com salmos, e hinos, e cânticos espirituais,
cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Ef 5.19). Na organização e
funcionamento das igrejas, em Creta, não poderia ser diferente. Tito teria que
lembrar aos irmãos o valor da adoração a Deus.
3) Ensino e educação cristã
Estabelecer
igrejas significa não apenas inaugurar um edifício, ou mesmo dar início a uma
com unidade cristã, num determinado local. Significa reunir pessoas que se
tornam cristãs, congregá-las num local, ainda que sem melhores estruturas
físicas, para ministrar-lhes o ensino da Palavra de Deus. Paulo enviou Tito a
Creta para ensinar as igrejas locais e os líderes que haveria de estabelecer,
dando destaque ao ensino da Palavra de Deus. Sem ensino fundamentado na Palavra
de Deus, nenhum a igreja pode sustentar-se firme na Rocha dos Séculos.
4) Integração entre os irmãos
Uma das características da igreja em seus
primórdios era a união e a com unhão entre os crentes. “Todos os que criam
estavam juntos e tinham tudo em comum ” (At 2.44). Não havia apenas reunião
entre os primeiros cristãos, mas havia união e comunhão, em torno dos que se
integravam uns com os outros. Certamente, Tito deve ter ensinado aos irmãos de
Creta a importância da com unhão com Deus, com Cristo, com o Espírito Santo e
com os irmãos.
5) Assistência social ou ajuda mútua
Os cristãos, em seus primórdios, levavam a com
unhão (koinonia) tão a sério que chegaram a tomar atitudes radicais em relação
às necessidades. “Não havia, pois, entre eles necessitado algum; porque todos
os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora
vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Tito, representando
Paulo, deve ter orientado os crentes de Creta a respeito desse importante
objetivo da igreja local.
6) Organização e administração patrimonial
Nos
primeiros séculos do cristianismo, a Igreja nasceu de forma bem simples e
desprovida de estrutura física para a acolhida dos irmãos. A princípio,
reuniam-se no cenáculo (At 1.13); depois, no alpendre de Salomão (At 5.12); com
o passar dos anos, os cristãos reuniam-se no Templo e nas casas de suas
famílias (At 5.42; 20.20). Em Creta, provavelmente, a organização das igrejas
teve início nas casas, nos lares cristãos.
3.
Qualificações dos Bispos ou Presbíteros
Em sua carta a Tito, Paulo indica as
qualificações para o presbitério (ou episcopado) idênticas às que constam em 1
Timóteo 3.1-7, já estudadas no capítulo 4 deste comentário.
Em seguida,
mostra que “o bispo”, o mesmo que presbítero no texto (Tt 1.5) deve ser pessoa
íntegra, irrepreensível, “com o despenseiro da casa de Deus” (Tt 1.7a). Outras
qualidades morais são requeridas para quem deseja o presbitério ou o episcopado
(1 T m 3.1), como humildade, “não soberbo”; mansidão, “não iracundo”; sobriedade
em relação ao uso do vinho, evitando exceder-se nesse aspecto, para que não
perca seu equilíbrio e cause escândalo à igreja do Senhor. Exige-se, também,
que o presbítero, ou bispo, seja pessoa educada, equilibrada emocionalmente e
não seja “espancador” de ninguém (Tt 1.7).
No mesmo
trecho da carta, Paulo determina que o presbítero ou bispo não seja “nem
cobiçoso de torpe ganância”. O u seja: não seja amante e cobiçoso de dinheiro.
Completando
a lista virtuosa de qualificações ministeriais, Paulo diz que o presbítero,
bispo ou pastor deve ser obreiro “dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado,
justo, santo, tem perante” (Tt 1.8). Para ter essas qualificações, é necessário
que o líder seja acolhedor, não irascível, não neurastênico, não mal educado,
que não sabe receber ou tratar as pessoas. Deve ser benigno, possuidor de
equilíbrio emocional (moderado), tenha uma vida justa, seja santo em toda a
maneira de viver (1 Pe 1.15), viva em santificação (Hb 12.14) e demonstre
equilíbrio em tudo, na prática do fruto da temperança.
II - O OBREIRO DEVE PROTEGER O POVO DE DEUS
1. Crentes Problemáticos
Após discriminar as qualificações necessárias
ao presbítero, Paulo ressalta o respeito que deve ter à doutrina e a capacidade
e autoridade ministerial para argumentar contra os contradizentes (Tt 1.9,10).
Na igreja de Creta, uma ilha tão pequena, de
apenas 250 quilômetros de extensão por 11 a 56 de largura, a comunidade cristã
não deveria ter mais que algumas dezenas ou poucas centenas de cristãos. Mas,
no meio deles, surgiram os “com plicados” e “contradizentes”, “faladores”.
Tipos não raros em igrejas nos tempos presentes. Mas o apóstolo indicou a
maneira de tratá-los.
2. Como Tratar os Desordenados
Aos
contradizentes e desordenados, desobedientes ao ensino da Palavra de Deus,
Paulo demonstra não ter nenhum a contemplação com os mesmos, pois são perigosos,
não só para a igreja local, mas para as famílias cristãs, e devem ser detidos,
tapando-lhes a boca, ou seja, com argumentação, admoestação e repreensão à
altura: “aos quais convém tapar a boca; homens que transtornam casas inteiras,
ensinando o que não convém, por torpe ganância” (Tt 1.11). O fato de tais
falsos crentes terem espaço para transtornar “casas inteiras” se devia à
realidade das igrejas cristãs em seus primórdios. Elas funcionavam, em grande
parte, nas residências dos convertidos (Rm 16.5; 1 C o 16.19; C l 4.15).
Além de
faladores ou murmuradores, os falsos crentes ensinavam coisas inconvenientes,
visando obter algum proveito pessoal; eram gananciosos. Os obreiros que
lideram, presbíteros, bispos ou pastores, precisam ter autoridade espiritual,
moral e pastoral para afastar os fiéis em Cristo do assédio dessa gente a
serviço do Diabo. Além de desordenados, eles são “faladores” ou murmuradores. Certo
pastor chamava esse tipo de crente de “línguas de gravata”.1 – (1 Eles não precisavam usar
gravatas. A língua seria tão grande que cumpria esse papel. )
Há quem queira fazer-se de “bonzinho” e “cheio
de amor” no trato com os contradizentes e inimigos da liderança. Mas a Bíblia,
manual da Igreja por excelência, mostra que, mesmo com amor, deve haver firmeza
e determinação, no trato com os desordeiros. Paulo m anda que se deve tapar a
boca dos tais; devem ser admoestados, ou advertidos, censurados, repreendidos.
Completando a exortação acerca dos desordeiros, Paulo recorre à palavra de um
profeta cretense a respeito deles e diz que os tais devem ser repreendidos
“severamente”: “Um deles, seu próprio profeta, disse: O s cretenses são sempre
mentirosos, bestas ruins, ventres preguiçosos. Este testemunho é verdadeiro.
Portanto, repreende-os severamente, para que sejam sãos na fé” (Tt 1.12,13).
3. Não Dar Ouvidos a Ensinos Falsos
Não era fácil a missão de Tito. Ele, na condição
de “missionário supervisor”, estabelecendo igrejas “de cidade em cidade”, ainda
tinha que ministrar a palavra de edificação e advertência contra os falsos
cristãos; deveria repreendê-los de modo veemente, “não dando ouvidos às fábulas
judaicas, nem aos mandamentos de homens que se desviam da verdade” (Tt 1.14).
Isso mostra que os falsos mestres e os falsos cristãos eram homens que queriam
manter os novos convertidos sujeitos ao judaísmo e comportavam-se como se
fossem formuladores de doutrinas com seus mandamentos espúrios.
III - A PERCEPÇÃO DA
PUREZA PARA OS PUROS E PARA OS IMPUROS
1. Tudo É Puro para os Puros
Nesta seção da carta a Tito, Paulo faz
declaração que tem sido mal entendida por muitos que leem a epístola. Ele diz
que “todas as coisas são puras para os puros” (Tt 1.15a). Separam os o
versículo para melhor entendimento. Já ouvimos alguém, de má fé e péssima
intenção, querer interpretar esse versículo ensinando que, se a pessoa é pura,
pode fazer o que bem quiser, pois “tudo é puro” para ela. M as a Bíblia explica
a si mesma. Para o puro, ou santo, todas as coisas são puras, porque são
“santos em toda a maneira de viver” (1 Pe 1.5); buscam “a santificação, sem a
qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14); são santificados em tudo e todo
“espírito, alma e corpo” são “conservados plenamente irrepreensíveis para a
vinda do Senhor” (1 Ts 5.23).
2. Nada É Puro para os Contaminados
“[...] mas nada é puro para os contaminados e
infiéis; antes, o seu entendimento e consciência estão contaminados” (Tt 1.15).
No contexto da carta e no fundo histórico de sua época, decerto Paulo tinha em
mente os ensinos falsos dos gnósticos, que apregoavam muitos ensinos sobre
alimentos, vida íntima, sexualidade e outros temas, os quais consideravam
coisas impuras. Para eles, tudo o que fosse material era reprovável, “impuro” .
De fato, para os “contaminados e infiéis”, que viviam cheios de malícia,
maldade e torpeza, em seus corações corrompidos, tudo o que eles pensavam e
praticavam eram de má natureza.
Eles
apregoavam que para o crente ser puro deveria abster-se de relações sexuais.
Tal generalização contrariava a Palavra de Deus, no que respeita ao sexo
conjugal, pois é mandamento de Deus que, através do sexo, o esposo se faça “uma
só carne” com sua esposa (G n 2.24; M t 19.6). Muitos defendiam o
vegetarianismo pleno, como os “veganos”, ou “frugívoros”, que não se apropriam
de nada de origem animal, para não se contaminarem. Tais dietas podem ser
saudáveis, mas não podem ser exigidas com o mandamento bíblico de forma alguma
(ver Lv 11). Mas o motivo pelo qual “nada é puro para os contaminados” é porque
“confessam que conhecem a Deus, mas negam-no com as obras, sendo abomináveis, e
desobedientes, e reprovados para toda boa obra” (Tt 1.16). O u seja: são
hipócritas e maliciosos. Dizem um a coisa e fazem outra.
CONCLUSÃO
Um a igreja local, pequena, média ou grande, é
um universo humano, pleno de grande variedade de circunstâncias e realidades
que envolvem os mais diferentes tipos de pessoas. Nela, há o “joio”, ou falsos
crentes, e “o trigo”, os crentes fiéis, sinceros e santos, cujos nomes estão
inscritos no “livro da vida do Cordeiro”. E na igreja local que se desenvolvem
ministérios, dons e talentos, a serviço do Reino de Deus, ou contrários a ele.
E na igreja local que a Igreja Universal, “coluna e firmeza da verdade” (1 Tm3.15),
se torna visível. Sua administração requer a observância de preceitos e
diretrizes, emanadas da Palavra de Deus, o maior e melhor “Manual de Administração
Eclesiástica”. Por isso, Paulo escreveu três cartas pastorais, visando ao
estabelecimento, à organização e ao crescimento sadio da Igreja do Senhor
Jesus.
Capítulo X: A Igreja
Conhecendo as Doutrinas da
Bíblia
Myer Pearlman
. Antes de partir da terra, Cristo
prometeu assumir esse novo corpo. Entretanto, usou outra ilustração:
"Eu
sou a videira, vós as varas" (João 15:5). A videira está incompleta
sem as varas e as varas nada são à parte da vida que flui da videira. Se
Cristo há de ser conhecido pelo mundo, terá que ser mediante aqueles
que tomam o seu nome e participam de sua vida.
Assim
como o corpo humano é vivificado pela alma, da mesma maneira o corpo de
Cristo é vivificado pelo Espírito Santo. "Pois todos nós fomos
batizados em um Espírito formando um corpo" (1Cor. 12:13). Os fatos
supra citados indicam uma característica única da religião de Cristo.
Assim escreve W. H. Dunphy: Ele — e unicamente ele — dos fundadores de
religião, produziu um organismo permanente, uma união permanente de mentes
e almas, concentradas em torno de sua Pessoa. Os cristãos não são
meramente seguidores de Cristo, senão membros de Cristo e membros uns
dos outros. Buda reuniu sua sociedade de "esclarecidos", mas a
relação entre eles não passa de relação externa, de mestre para com
o aluno. O que os une é sua doutrina, e não a sua vida. O mesmo pode
dizer-se de Zoroastro, de Sócrates, de Maomé, e dos outros gênios religiosos da
raça. Mas Cristo não somente é Mestre, ele é a vida dos cristãos. O que
ele fundou não foi uma sociedade que estudasse e propagasse suas idéias,
mas um organismo que vive por sua vida, um corpo habitado e guiado por seu
Espírito.
A
igreja de Cristo veio a existir, como igreja, no dia de Pentecoste, quando foi
consagrada pela unção do Espírito. Assim como o Tabernáculo foi construído e
depois consagrado pela descida da glória divina (Êxo. 40:34), assim os
primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como
igreja pela descida do Espírito Santo. É muito provável que os
cristãos primitivos vissem nesse evento o retorno da "Shekinah"
(a glória manifesta no Tabernáculo e no templo) que, havia muito, partira
do templo, e cuja ausência era lamentada por alguns dos rabinos. Davi
juntou os materiais para a construção do templo, mas a construção foi
feita por seu sucessor, Salomão. Da mesma maneira, Jesus, durante seu
ministério terreno, havia juntado os materiais da sua igreja, por assim
dizer, mas o edifício foi erigido por seu sucessor, o Espírito Santo.
Realmente, essa obra foi feita pelo Espírito, operando mediante os
apóstolos que lançaram os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação,
ensino e organização. Portanto, a igreja é descrita como
sendo "edificados sobre o fundamento dos apóstolos..." (Efés.
2:20).
É
evidente que o propósito do Senhor era que houvesse uma sociedade de seus
seguidores que comunicasse seu Evangelho aos homens e o representasse no
mundo. Mas ele não moldou nenhuma organização ou plano de governo; não
estabeleceu nenhuma regra detalhada de fé e prática. Entretanto, ele
ordenou os dois singelos ritos de batismo e comunhão. Ao mesmo tempo, ele
não desprezou a organização, pois sua promessa concernente ao Consolador
vindouro deu a entender que os apóstolos seriam guiados em toda a
verdade concernente a esses assuntos. O que ele fez para a igreja foi algo
mais elevado do que organização: ele lhe concedeu sua própria vida, tornando-a
em organismo vivo. Assim como o corpo vivo se adapta ao
meio ambiente, semelhantemente, ao corpo vivo de Cristo foi
dada liberdade para selecionar suas próprias formas de
organização, segundo suas necessidades e circunstâncias. Naturalmente,
a igreja não era livre para seguir nenhuma manifestação contrária aos
ensinos de Cristo ou à doutrina apostólica. Qualquer manifestação
contrária aos princípios das Escrituras é corrupção. Durante os dias que se
seguiram ao Pentecoste, os crentes praticamente não tinham nenhuma organização,
e por algum tempo faziam os cultos em suas casas e observavam as horas de
oração no templo. (Atos 2:46.) Isso foi completado pelo ensino e comunhão
apostólicos. Ao crescer numericamente a igreja, a organização originou-se das
seguintes causas: primeira, oficiais da igreja foram escolhidos para
resolver as emergências que surgiam, como, por exemplo, em Atos 6:1-5;
segunda, a possessão de dons espirituais separava certos indivíduos para a
obra do ministério.
As
primeiras igrejas eram democráticas em seu governo, circunstância natural em
uma comunidade onde o dom do Espírito Santo estava disponível a todos, e
onde toda e qualquer pessoa podia ser dotada de dons para um ministério
especial. É verdade que os apóstolos e anciãos presidiam às reuniões de
negócios e à seleção dos oficiais; mas tudo se fez em cooperação com a igreja.
(Atos 6:3-6; 15:22; 1Cor. 16:3; 2Cor. 8:19; Fil. 2:25.) Pelo que se lê em Atos
14:23 e Tito 1:5, poderá entender-se que Paulo e Barnabé nomearam anciãos
sem consultar a igreja; mas historiadores eclesiásticos de
responsabilidade afirmam que eles os "nomearam" da maneira usual,
pelo voto dos membros da igreja. Vemos claramente que no Novo Testamento não há
apoio para uma fusão das igrejas em uma "máquina eclesiástica"
governada por uma hierarquia. Nos dias primitivos não havia nenhum governo
centralizado abrangendo toda a igreja. Cada igreja local era autônoma
e administrava seus próprios negócios com liberdade. Naturalmente
os "Doze Apóstolos" eram muito respeitados por causa de suas
relações com Cristo, e exerciam certa autoridade. (Vide Atos 15.)
Paulo
exercia certa supervisão sobre as igrejas gentílicas; entretanto, essa
autoridade era puramente espiritual, e não uma autoridade oficial tal como
se outorga numa organização. Embora que cada igreja fosse independente da
outra, quanto à jurisdição, as igrejas do Novo Testamento mantinham relações
cooperativas umas com as outras. (Rom. 15:26, 27; 2Cor. 8:19; Gál. 2:10; Rom.
15:1; 3João 8.) Nos séculos primitivos as igrejas locais, embora nunca lhes
faltasse o sentimento de pertencerem a um só corpo, eram comunidades
independentes e com governo próprio, que mantinham relações umas com as outras,
não por uma organização política que as reunisse todas elas, mas por
uma comunhão fraternal mediante visitas de delegados, intercâmbio
de cartas, e alguma assistência recíproca indefinida na escolha
e consagração de pastores.
No
Novo Testamento são reconhecidas duas classes de ministério:
1)
O ministério geral e profético geral, porque era exercido com relação às
igrejas de modo geral mais do que em relação a uma igreja particular, e
profético, por ser criado pela possessão de dons espirituais.
2)
O ministério local e prático local porque era limitado a uma igreja, e
prático, porque tratava da administração da igreja.
(a)
O ministério geral e profético.
1)
Apóstolos. Eram homens que receberam sua comissão do próprio Cristo em pessoa
(Mat. 10:5; Gál. 1:1), que haviam visto a Cristo depois de sua
ressurreição (Atos 1:22; 1Cor. 9:1); haviam gozado duma inspiração especial
(Gál. 1:11,12; 1Tess. 2:13); exerciam um poder administrativo sobre as igrejas
(1Cor. 5:3-6; 2Cor. 10:8; João 20:22, 23); levavam credenciais sobrenaturais
(2Cor. 12:12), e cujo trabalho principal era estabelecer igrejas em campos
novos. (2Cor. 10:16.) Eram administradores da igreja e organizadores missionários,
chamados por Cristo e cheios do Espírito. Os "doze" apóstolos de
Jesus, e Paulo (que por sua chamada especial constituía uma
classificação à parte), eram apóstolos por preeminência; entretanto, o
título de apóstolo também foi outorgado a outros que se ocupavam na
obra missionária. A palavra "apóstolo" significa simplesmente
"missionário". (Atos 14:14; Rom. 16:7.) Tem havido apóstolos desde
então? A relação dos doze para com Cristo foi uma relação única que
ninguém desde então pôde ocupar. Sem dúvida, a obra de homens tais como
João Wesley, com toda razão, pode ser considerada como apostólica.
2.
Profetas. Eram os dotados do dom de expressão inspirada. Desde os primeiros
dias até ao fim do século constantemente apareceram, nas igrejas cristãs profetas
e profetisas. Enquanto o apóstolo e o evangelista levavam sua mensagem aos
incrédulos (? 2:7,8), o ministério do profeta, era particularmente entre
os cristãos. Os profetas viajavam de igreja em igreja, tanto como os
evangelistas o fazem na atualidade; não obstante, cada igreja tinha
profetas que eram membros ativos dela.
3.
Mestres. Eram os dotados de dons para a exposição da Palavra. Tal qual os
profetas, muitos deles viajavam de igreja em igreja.
(b)
O ministério local e prático. O ministério local, que era nomeado pela
igreja, com base de certas qualidades (1Tim. cap. 3), incluía os
seguintes:
1.
Presbíteros, ou anciãos, aos quais foi dado o título de "bispo",
que significa supervisor, ou que serve de superintendente. Exerciam a
superintendência geral sobre a igreja local, especialmente em relação ao
cuidado pastoral e à disciplina. Seus deveres eram, geralmente de natureza
espiritual. Às vezes se chamam "pastores". (Efés. 4:11, Vide Atos
20:28.) Durante o primeiro século cada comunidade cristã era governada por
um grupo de anciãos ou bispos, de modo que não havia um obreiro só fazendo
para a igreja o que um pastor faz no dia de hoje. No princípio do terceiro
século colocava-se um homem à frente de cada comunidade com o título de pastor
ou bispo.
2.
Associados com os presbíteros havia um número de obreiros ajudantes
chamados diáconos (Atos 6:1-4; 1Tim. 3:8-13; Fil. 1:1) e diaconisas (Rom. 16:1;
Fil. 4:3), cujo trabalho parece, geralmente, ter sido o de visitar de casa em
casa e exercer um ministério prático entre os pobres e necessitados (1Tim.
5:8-11). Os diáconos também ajudavam os anciãos na celebração da Ceia do
Senhor.
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