segunda-feira, 21 de julho de 2025

CPAD : A Igreja em Jerusalém — Lição 4: Uma Igreja cheia do Espírito Santo



TEXTO ÁUREO

E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.

(At 4.31).

VERDADE PRÁTICA

Uma igreja cheia do Espírito Santo suporta aflições, ora com poder e ousa no testemunho cristão.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE 

Atos 4.24-31. 

24 — E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a voz a Deus, e disseram: Senhor, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar e tudo o que neles há;

25 — Que disseste pela boca de Davi, teu servo: Por que bramaram os gentios, e os povos pensaram coisas vãs?

26 — Levantaram-se os reis da terra, e os príncipes se ajuntaram à uma, contra o Senhor e contra o seu Ungido.

27 — Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel;

28 — Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que se havia de fazer.

29 — Agora, pois, ó Senhor, olha para as suas ameaças, e concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra;

30 — Enquanto estendes a tua mão para curar, e para que se façam sinais e prodígios pelo nome de teu santo Filho Jesus.

31 — E, tendo orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos; e todos foram cheios do Espírito Santo, e anunciavam com ousadia a palavra de Deus.

PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

A Igreja de Jerusalém, cheia do Espírito Santo, enfrentava desafios com perseverança, oração e ousadia. Diante da perseguição, os primeiros cristãos não recuaram, mas buscaram ainda mais a presença de Deus, fortalecendo-se na comunhão e na oração. O Espírito Santo capacitou a igreja a suportar aflições, permanecer firme na fé e proclamar o Evangelho com coragem. Assim, aprenderemos que uma igreja cheia do Espírito não se intimida diante das dificuldades, mas avança em sua missão com poder e autoridade.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Identificar as características de uma igreja cheia do Espírito Santo, destacando sua perseverança em meio às provações; II) Analisar a importância da oração com poder na vida da igreja; III) Demonstrar como a ousadia espiritual fortalece a pregação do Evangelho.

B) Motivação: Diante dos desafios da vida cristã, muitas vezes nos perguntamos: como a igreja pode permanecer firme e influente em um mundo hostil? A resposta está na plenitude do Espírito Santo. Uma igreja cheia do Espírito não se abala diante das adversidades, mas persevera, ora com fervor e anuncia o Evangelho com ousadia. Ao estudarmos esta lição, reflitamos sobre nosso papel como igreja e sobre como podemos buscar essa mesma capacitação para impactar o mundo ao nosso redor.

C) Sugestão de Método: Você pode iniciar a aula promovendo uma reflexão, perguntando: “Como a igreja deve reagir diante das dificuldades e perseguições?”. Após ouvir as respostas, conduza a leitura de Atos e leve os alunos a identificarem as características de uma igreja cheia do Espírito Santo. Em seguida, guie-os na análise da importância da oração e, por fim, desafie-os a demonstrar como podem agir com ousadia em sua caminhada cristã. Faça essa atividade de acordo com a exposição da lição. Ela incentiva a participação ativa e leva os alunos a aplicarem os princípios bíblicos à sua própria realidade.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Assim como a igreja primitiva enfrentou desafios com oração, ousadia e fé no Espírito Santo, somos chamados a viver da mesma forma hoje. Diante das adversidades, devemos buscar a Deus com fervor, permanecer firmes na fé e proclamar o Evangelho com coragem.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 102, p.38, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “A Corajosa Declaração”, localizado depois do primeiro tópico, traz uma reflexão a respeito da perseverança cristã diante das perseguições; 2) No final do segundo tópico, o texto “A Busca de Poder” traz uma reflexão da relação entre oração e o poder do Espírito Santo.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos como uma igreja cheia do Espírito Santo se comporta. A partir do capítulo 4.24-31 do livro de Atos dos Apóstolos, encontramos uma das principais marcas que caracterizam a igreja de Jerusalém: a perseverança. Uma igreja perseverante é capacitada para dar testemunho de sua fé mesmo que em meio ao fogo da provação (1Pe 4.12). Essa igreja suporta as provações porque é cheia do Espírito. Por causa do Evangelho, ela renuncia seu próprio bem-estar e não aceita ficar na “zona de conforto”. Na verdade, sem a capacitação do Espírito, o Corpo de Cristo não suporta as provas para cumprir sua missão no mundo. Outra marca uma igreja cheia do Espírito Santo é a sua capacidade de orar com poder e, por isso, impactar o mundo ao seu redor. Essa oração fortalece a igreja, capacita-a a testemunhar de maneira eficaz. Da mesma forma, uma igreja cheia do Espírito Santo é marcada pela ousadia para proclamar o Evangelho com poder. E, por isso, se tornar relevante para o mundo.

Palavras-Chave:

ESPÍRITO SANTO

 AUXÍLIO BÍBLICO—TEOLÓGICO

 “A CORAJOSA DECLARAÇÃO. A situação era difícil, porque Pedro e João eram cidadãos leais. Eles deviam obedecer às autoridades constituídas, especialmente em se tratando de autoridade religiosa. [...] Pedro estabeleceu, para sempre, o princípio fundamental entre os limites da obediência cívica e do dever cristão de testemunhar. Quando existe clara contradição entre os mandamentos dos homens e os de Deus, de tal forma que obedecer a uns é desobedecer aos outros, não sobra mais nenhuma dúvida quanto ao que o crente deve fazer. Juízes justos têm de optar entre o caminho de punir e o de declarar inocente. Estes sacerdotes, no entanto, não eram justos. Irritados contra os apóstolos não ousavam fazer nada contra eles, ‘por causa do povo’. Medo do povo, e não o senso de justiça, levou-os a soltar os apóstolos”. (PEARLMAN, Myer. Atos: Estudo do Livro de Atos e o Crescimento da Igreja Primitiva. Rio de Janeiro: CPAD, 2023, p.52).

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos o que caracteriza, de fato, uma igreja pentecostal. Suas características se tornam visíveis e estão diretamente associadas à plenitude do Espírito Santo. A Primeira Igreja não foi perfeita, como o livro de Atos deixa bem claro. Contudo, suas limitações eram superadas por um viver diário sob a capacitação do Espírito Santo. Se queremos, de fato, ser uma igreja relevante, devemos nos deixar encher do Espírito Santo.

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

UMA IGREJA CHEIA DO ESPÍRITO SANTO

  Amigo(a) professor(a), a paz do Senhor. Nesta lição, veremos que a igreja primitiva tinha uma qualidade diferenciada que a tornava capaz de suportar as aflições e perseguições. Estamos falando da convicção da igreja em relação ao Evangelho. A motivação dos primeiros cristãos frente aos desafios impostos pela sociedade, bem como pelas forças imperiosas das trevas, era fruto da ação do Espírito Santo em cada coração. A perseverança dos irmãos em testemunhar as verdades da fé, mesmo em meio ao fogo das provações, refletia uma igreja convicta da sua missão e comprometida com os princípios cristãos.

  O comprometimento da igreja primitiva não se via na beleza dos discursos, e sim em fatos que podiam ser observados por quaisquer que questionassem a razão da fé demostrada por cada irmão. Era uma igreja que não negociava seus valores, não flertava com o pecado, nem flexibilizava suas práticas evangelísticas para ser aceita pela sociedade. Tais práticas revelavam uma igreja fundamentada na Palavra de Deus e cheia do Espírito Santo.

  Lawrence Richards, na obra Comentário Devocional da Bíblia (CPAD), discorre que “os apóstolos tinham sido advertidos a não falar em nome de Jesus. Eles tinham continuado a pregar. Não houve necessidade de uma investigação. Tudo o que o sumo sacerdote precisava dizer era, ‘Não vos admoestamos nós expressamente?’. Os apóstolos não se equivocaram. ‘Mais importa obedecer a Deus do que aos homens’. Quanto à acusação de que os apóstolos estavam determinados a ‘lançar sobre’ eles ‘o sangue desse homem’, eles eram culpados. Como respondeu Pedro, ‘ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro’ (v.30). É importante que nos lembremos de que, às vezes, podemos fazer o que é certo, ser culpados perante a lei, e inocentes diante de Deus. [...] Infringir as leis da nossa nação jamais é uma coisa insignificante. Mas há ocasiões, quando, como os apóstolos, ‘mais importa obedecer a Deus do que aos homens’. Dessa maneira, nós realmente mostramos um respeito reverente por Deus” (2012, p.724).

  O comportamento observado na igreja primitiva serve de exemplo à igreja dos dias atuais. Não é difícil constatar que o nível de comprometimento da igreja atual em relação aos princípios bíblicos está muito aquém da igreja primitiva. Essa é uma verdade que deveria nos deixar extremamente desconfortáveis. Como fizeram nossos primeiros irmãos, devemos nos posicionar convictamente e corajosamente contra tudo o que se levanta contra o Senhor Jesus e reafirmar nossa fidelidade aos princípios e valores da Palavra de Deus. Que o Senhor nos encha com o Seu Espírito Santo para tal.

   CPAD : A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

Comentarista: José Gonçalves

Lição 4: Uma Igreja cheia do Espírito Santo

N

 este capitulo, conheceremos alguns aspectos que caracterizam uma igreja cheia do Espirito Santo. Em alguns circulos pentecostais, o avivamento é entendido quase que como sendo o sinónimo de "movimento". Geralmente, o que se tem em mente quando se fala de um derramamento do Espírito é a imagem de um ambiente carregado de emoções. É bem verdade que há em todo avivamento um "movimento" sagrado do Espírito e que, sem dúvida, as emoções não estão fora dele. O próprio Espírito é movimento: "O vento sopra onde quer" (Jo 3.8, NAA), Deve-se ser observado, contudo, que um avivamento não se resume a um "movi mento" nem tampouco pode ser confundido com mero emocionalismo.

   Quando o fogo de um avivamento resume-se a experiências sensoriais, marcadas apenas pela presença de demonstrações fisicas sem, contudo, apontar nenhuma mudança interior ou de caráter, ele está fadado ao fracasso. Logo será esquecido. Talvez isso explique muitos "movimentos" modernos onde se pensava que o Espírito Santo estivesse presente não terem dado em nada. Nada lhes restou, além de cinzas, Esse tipo de movimento não prevalece porque não está preparado para o que vem depois dele, isto é, para o pós-avivamento.

  Com a igreja de Jerusalén, essa dinâmica deu-se de forma totalmente diferente. A igreja começou avivada e continuou dessa forma porque estava energizada pelo poder do Espirito Santo e totalmente preparada para o que poderia encontrar pela frente. Quando as adversidades chegaram, ela não recuou, nem esmoreceu, mas, com resignação, ficou firme diante dessas circunstâncias adversas.

  "Respondendo, porém, Pedro e João, thes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus" (At 4.19). A igreja de Jerusalém havia experimentado um grande avivamento que veio com o derramamento do Espírito no Pentecostes (At 2.1-4).

  Posteriormente, o encarceramento dos apóstolos provocou uma sequência de fatos que demonstraram que o fogo do Espírito não se havia arrefecido nem tampouco se apagado. Na verdade, houve uma reação organizada e coordenada por parte do clero daqueles dias para barrar a ação da igreja.

Não houve, contudo, êxito nesse intento porque a igreja ainda estava impulsionada e preparada pelo poder do Espírito. O que observamos nesse texto é uma igreja totalmente determinada, firme e perseverante.

  O expositor William Barclay comenta:

Nesta passagem, encontramos a reação da Igreja crista no momento de perigo. Poder-se-ia pensar que, quando Pedro e João regressaram e contaram o que lhes tinha acontecido, uma grande depressão ter-se-ia abatido sobre a Igreja, ao considerarem os problemas que tinham pela frente. Mas o que nem sequer lhes passou pela cabeça foi o fato de terem de obedecer ao Sinédrio e deixar de falar de Jesus. Pelo contrário, vieram-lhes à mente grandes convicções, e uma onda de força surgiu nas suas vidas. (1) Eles estavam convencidos do poder de Deus. O Criador e Sustentador de todas as coisas estava do lado deles.

  Uma vez o enviado do Papa ameaçou Lutero com o que lhe aconteceria se persistisse na sua atitude, e avisou-o que todos os que pareciam estar com ele iriam abominá-lo. "Onde esta-ras então?", perguntou-lhe. "Então, como agora", respondeu Laitero, "nas mãos de Deus". Para os cristãos, aquele que está conosco é maior do que todos aqueles que podem estar contra nós. (2) Estavam convencidos da futilidade da rebelião humana. A palavra que traduzimos por "rugir" "Por que rugem as nações é usada para designar o relinchar de cavalos espiri-tuosos: dão coices e abanam a cabeça, mas acabam por subme ter-se à disciplina das rédeas. Assim, os homens podem fazer gestos de desafio contra Deus, mas Deus prevalecerá sempre. (3) Trazem à memória a lembrança de Jesus. Lembraram-se de como Ele tinha sofrido e como tinha triunfado; e essa memória restaurou-lhes a confiança, pois basta ao discipulo ser como o seu Senhor (4) Pediram a Deus que lhes desse coragem. Não procuraram enfrentar a situação confiando nas suas próprias forças, mas procuraram o poder que está acima de tudo. (5)

  O resultado foi o dom do Espírito. A promessa cumpriu-se, e eles não ficaram desamparados: receberam a coragem e a força necessárias para testemunhar, quando o seu testemunho podia levar à morte.

  Como observou Barclay, mesmo diante do perigo de serem mortos, aqueles crentes não se intimidaram: "Respondendo, porém, Pedro e João, lhes disseram: Julgai vós se é justo, diante de Deus, ouvir-vos antes a vós do que a Deus" [ A t 4,19] Isso mostra a atitude de uma igreja convicta da sua fë e firme nos seus valores. Ser perse-verante, portanto, não significa aceitar as circunstâncias passivarnente nem tampouco ter uma atitude quietista diante das adversidades.

    Significa, sim, agir na força do Espírito Santo tendo como lastro das suas ações a orientação da Palavra de Deus, mesmo que isso signifique, como foi o caso aqui, enfrentamento. Esse fato fica bem evidente quando vemos o apóstolo Pedro opondo-se ao Sinedrio, que era a autoridade governamental judaica naqueles dias. Nesse caso, a igreja podia desobedecer à autoridade constituida?

   O teólogo Wayne Grudem respondeu:

  Deus não exige que as pessoas obedeçam ao governo civil quando essa obediència implica desobedecer de forma direta a uma ordem do próprio Deus. Esse princípio é indicado por várias passagens nos trechos da narrativa biblica. Encontramos um exemplo claro no início da igreja. Depois de Jesus ter ordenado aos apóstolos que pregassem o evangelho (cf. Mt 28.19,20), o Sinédrio, autoridade governamental judaica, prendeu alguns deles e ordenou "que não falassem nem ensinassem em nome de Jesus" (At 4.18). Os apóstolos Pedro e João, porém, responderam: "Não podemos deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos" (At 4.20) e, posteriormente, Pedro declarou: "É mais importante obedecer a Deus que aos homens" (At 5.29). Trata-se de uma afirmação clara do princípio de que Deus requer que seu povo desobedeça ao governo civil nos casos em que a obediência ao governo implique desobediência direta a Deus.

  Deve ser observado com muito cuidado, entretanto, que essas palavras não devem servir para alimentar algum ativismo político, acreditando que há base biblica que justifique todo e qualquer tipo de desobediência civil. As Escrituras não têm, portanto, o propósito de autorizar nenhuma ideologia de natureza política ou religiosa para opor-se a um governo civil pelo simples fato de discordar dele.

GREDEM, Wayne. Hulitica Segundo a Bilia praneipos que todo cristão de conhear. São Paulie Vida Nova, 2014

O principio bíblico de que as autoridades devem ser respeitadas porque foram constituídas por Deus continua de pé (Rm 13.1). O que está em foco aqui é que uma igreja cheia do Espírito Santo está convicta da sua missão de pregar a mensagem da cruz independentemente das circunstâncias. Nesse sentido, essa igreja está disposta e perseverante para suportar o sofrimento e até mesmo sentir satisfação quando isso acontecer (At 5.41).

  "E, ouvindo eles isto, unânimes levantaram a vaz a Deus e disseram: Senhos, tu és o Deus que fizeste o céu, e a terra, e o mar, e tudo o que neles hat" (At 4.24). A primeira coisa que os apóstolos fizeram ao serem soltos foi juntarem-se com os demais crentes. Juntos, levantaram a voz a Deus em oração. Como demonstra o texto, essa oração terá um efeito extraordinário não só na esfera espiritual, mas também na fisica. Ela fez o lugar tremer. Antes, contudo, de qualquer manifestação sobrenatural, houve uma ação humana extremamente necessária para que a oração tivesse efeito a unidade da igreja. O texto diz que aqueles crentes oraram unanimes.

  Lucas usa o termo grego homothymadon, traduzido como "unanimes", com o sentido de com uma só mente e de comum acordo. Na sua oração sacerdotal, Jesus orou pela unidade da igreja Jo 17.1-26). Na sua oração por unidade, Jesus mostra que realizou o propósito de Deus: "Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer" (Jo17.4). Nesse aspecto, Ele mostrou que a unidade deve ser o telos, isto é, o propósito, o fim último de Deus para a Igreja Jo 17.4,23). Essa unidade era para ser vivenciada pela comunidade presente, isto é, os discípulos (Jo 17.9), bem como a comunidade futura, a Igreja Jo 17.20).

  Jesus também mostrou que a unidade não é uniformidade: "E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um" (Jo 17.22). A expressão "como nós somos um" é uma referência à unidade da Trindade. Três pessoas diferentes, contudo, numa só essência. Assim também deve ser a unidade da Igreja.

   Pessoas diferentes, porém compartilhando de um mesmo objetivo e vivendo em torno de um único propósito.

Ha, ainda, alguns conceitos na oração sacerdotal de Cristo que envolvem a unidade da Igreja que precisamos destacar. Em primeiro lugar, a unidade é mostrada como sendo experimental: "E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste" (Jo 17.3).

  Só há unidade na Igreja se os seus membros conhecerem o Deus de Jesus Cristo. Sem o conhecimento de Deus não haverá unidade. Dizendo isso de outra forma, se não houver experiência com Deus não haverá unidade. Isso explica o processo de fragmentação que a igreja vem enfrentando amiudamente. Pessoas carnais, egoistas e narcisistas jamais conseguem viver em unidade. A igreja é um ambiente hostil para elas.

  Por último, uma igreja unida estará pronta para ser enviada ao mundo (Jo 17.18). Uma igreja desarranjada, dividida e fragmentada não consegue sair para cumprir a sua missão.

   Por fim, convém fazer alguns destaques da unidade na diversidade:

  Quatro conceitos diferentes de unidade. Unidade espiritual

A igreja universal invisível é unificada por um Espirito e evangelho comuns. Essa unidade pode não ser experimentada ou testemunhada na história. Unidade relacional-Reconhecimento mútuo e comunhão entre grupos cristãos. Esse pode ser o tipo de identidade mútua que os primos de uma família teriam entre si. Pode ser muito superficial. Por exemplo, presbiterianos e metodistas podem ter comunhão estreita numa base informal. Unidade de tarefa Frequentemente grupos cristãos podem unir-se numa tarefa ou ministério comum. Nesse tipo de unidade, podem existir diferenças significativas entre grupos que são separados com o propósito de alcançar um objetivo comum. Os católicos romanos e os protestantes, por exemplo, estão frequentemente unidos na resistência ao aborto. Unidade organizacional Ligações políticas e estruturais entre vários grupos cristãos. A identidade denominacional é um exemplo desse tipo de unidade.

Voltamos a tratar sobre a oração neste livro. Já haviamos feito isso no capítulo 2, quando tratamos dos fundamentos de uma igreja modelo. Lucas destaca na sua narrativa que, "tendo eles orado, moveu-se o lugar em que estavam reunidos" (At 4.31). A oração é portanto, um tema recorrente no livro de Atos dos Apóstolos. A igreja de Jerusalém estava em constante oração. Ela está presente em todos os avivamentos e, sem dúvidas, é o fundamento deles.

  "E, tendo orado [...] todos foram cheios do Espírito Santo" (Al 4.31). Na gènese da Assembleia de Deus no Brasil, está uma reunião de oração. Em 1902, o pastor batista sueco de Chicago, J. W. Hjerts-tröm, levantou uma campanha de oração às segundas-feiras. De acordo com o escritor batista Adolfo Olson, que também participou desse avivamento, as orações duravam a noite toda."

   Quatro anos depois de iniciada essa oração, mais precisamente em fevereiro de 1906, irrompeu o poderoso derramamento do Espírito naquela congregação. E possivel observarmos no periódico batista sueco Nja Wecko-posten que Hjertström encontrou muitas críticas por conduzir aquelas reuniões de oração.

   Esse avivamento foi marcado por várias manifestações do Espírito, inclusive o falar em outras linguas. Muitas pessoas vinham confessar os seus pecados. Olson detalha que muitas pessoas vinham de longe, até mesmo de outras cidades, para participarem daquela reunião de oração.

   Três anos depois, em 1909, o avivamento estava consolidado na Segunda Igreja Batista de Chicago. O pastor batista sueco Gunnar Vingren diz que Deus deu a ele um forte desejo de ser batizado naquele ano e, com esse fim, ele dirigiu-se à cidade de Chicago para participar de uma Conferència para a Edificação Espiritual que estava acontecendo naquela igreja. Vingren participou todos on dias, orando para receber o batismo pentecostal. Ele, contudo, não foi batizado naquela Conferência. No dia imediato ao término da Conferência, Vingren, juntamente com outros irmãos, dirigiram-se à casa do irmão Otto Mellquist, onde era costume os irmãos orarem. Foi ali que ele foi cheio do Espirito Santo e falou em outras linguas." E tendo orado cmmcixen com exsadia a palavra de Deus" (At 4.31).

  Os léxicos traduzem a palavra grega farnésia, traduzida aqui como "ousadia", como significando confiança e, especialmente, liberdade para falar. A ideia é de possuir autoridade. Esse mesmo vocábulo é usado no Novo Testamento grego para referir-se à cousadia de Pedro e João diante das autoridades religiosas quando foram questionados sobre a sua fë: "Então, eles, vendo a ousadia de Pedro e João e infor mados de que eram homens sem letras e indoutos, se maravilharam; e tinham conhecimento de que eles haviam estado com Jesus" (At 4.13). Em outras palavras, significa poder para testemunhar

  O professor e escritor Tiago Rosas sublinha esse fato quando diz:

  Após a ressurreição e antes da ascensão, Jesus soprara uma porção do Espirito sobre seus discipulos (Jo 20.22), mas eles necessitariam de mais que aquela provisão temporária pré-Pentecoste; eles necessitaram do revestimento completo de poder! Mais que o Espirito residente, eles precisariam do Espírito presidente; mais que o Espirito consolador, eles precisariam do Espírito empoderador! Não à tona Jesus os advertiu para que ficassem em Jerusalem até que do alto fossem revestidos de poder (1 24.49), e lhes assegurou: "receberão poder, ao descer sobre vocês o Espírito Santo" (At 1.8).

  O pastor Estevam Angelo de Souza, pioneiro da evangelização no Nordeste, conta um incidente que aconteceu com ele nos anos 1950 e como sentiu a autoridade de Deus para enfrentar a situação:

  Eu estava para realizar mais uma daquelas viagens de dezenas de dias. Foi quando eu tive uma visão, na qual via um touro valente, acompanhado de outros, que partiam furiosamente contra mim. Tomei uma pedra e atirei-a com força na testa do touro. Este ficou tremendo por pouco tempo, mas logo disparou numa violenta corrida, acompanhado do grupo que o seguia. Quando eu despertei, disse à esposa: "Ore por mim, alguma coisa vai acontecer nesta viagem, mas Deus me dará vitória". Num lugarejo chamado Mata Alta, municipio de Porto, ao começar o culto, entrou um homem forte, enfiou um cacete de jucă na parede de palha e veio sentar-se hem na minha frente, com o facão colins atravessado sobre as pernas. Ele passou a me insultar, chamando-me de mentiroso, enganador, exigindo que eu me calasse. Preguei cerca de 40 minutos, diante desse "ouvinte" preocupante. Quando fiz o apelo, ele levantou-se e, de modo furioso, exigiu que eu me calasse. Naquele momento, ao mesmo tempo que cu falava com os olhos fitos no homem perverso, comunicava-me com o céu. Então, me veio a resposta. Movido pelo Espírito Santo de Deus, disse-lhe: "O senhor está cometendo um grande crime, passivel de processo e de cadeia. A lei maior do Brasil, a Constituição Federal, no seu artigo 141, assegura a liberdade de crença e o direito de pregar o evangelho, enquanto o artigo 108 do Código Penal diz que insultar, ameaçar a ministro de qualquer culto religioso sujeita o infrator à pena de prisão celular de três meses a um ano, além da multa de 500 a 3.000 cruzeiros (dispositivos legais e moeda da época)". Quando terminei estas palavras, aquele homem, que era vermelhão, estava pálido e tremendo. Olhou para a porta e saiu correndo, visivelmente assombrado. O grupo que o acompanhava também o seguiu em desesperada carreira. Compreendi a visão que eu tivera. A pedra atingiu em cheio a testa do touro valente. Tempos depois, soube que o homem era um paraibano muito valente. Seus companheiros haviam ficado do lado de fora, esperando que ele começasse o confronto, para então se manifestarem, completando todo o trabalho, cuja finalidade maior seria fazer-me silenciar de uma vez por todas. Soube depois que eles correram até longe, à casa do patrão, implorando-o que os livrasse da cadeia. Vi repetir-se o que aconteceu com Jacó, quando partiu de Siquém para Betel: "O terror de Deus caiu sobre eles... e não perseguiram aos filhos de Jacó" (Gn 35.5).

   Fatos assim não eram incomuns na evangelização e implantação de igrejas no Nordeste. Tenho um amigo pastor que, há muitos anos, fez um trabalho pioneiro em uma das cidades de nosso estado, Piaui. Ele contou-me que, naquela pequena cidade do sertão nordestino, havia uma feira-livre onde as pessoas reuniam-se para vender e comprar animais e cereais. Ele viu ali um lugar propicio para a pregação da palavra. Antes, contudo, de ir pregar naquela feira-livre, ele foi advertido por alguns irmãos da igreja que ninguém se arriscava pregar ali porque havia um valentão da cidade que não permitia isso acontecer.

  Aquele pastor disse-me que, mesmo tendo sido advertido, foi pregar naquela feira-livre. Quando ele começou a pronunciar as primeiras palavras evangelisticas, viu um homem aproximar-se. Logo ele percebeu que aquele cidadão estava portando um revólver na cintura. Era o valentão da cidade. Ao aproximar-se do pastor, o valentão disse que ele parasse de pregar aquela "besteira", pois, se não o fizesse, ele mesmo o faria.

  Meu amigo disse que sentiu um calor começando nas pernas e que tomou todo o seu corpo. Naquele momento, ele sentiu que o poder do Espírito Santo viera sobre ele. Sentiu a autoridade de Deus tomando conta do seu ser. Em vez de sentir-se intimidado, deslocou-se até onde se encontrava o valentão e, fixando os olhos nos olhos dele, disse: "Quem é você para chamar a Palavra de Deus de besteira'. Eu estou aqui pregando no nome de Jesus, e você não pode me impedir". Naquele momento, o pastor viu aquele homem ficar paralisado e, num gesto inusitado, pedir-lhe desculpas. Tendo-se desculpado, foi embora. Meu amigo contou-me que só se deu conta da sua ousadia depois que o valentão foi embora. Ele sabia que havia sido o Senhor que o revestira de força da mesma forma como capacitara Sansão.

   A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

   José Gonçalves

 


























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