Classe: Adultos
Revista: Do professor - CPAD
Data da aula: 30 de Abril de 2017
Trimestre: 2° de 2017
Texto Áureo
"Como está escrito: Amei Jacó e aborreci Esaú." (Rm 9.13)
Verdade Prática
Com base em sua presciência e propósitos, Deus escolhe pessoas para que cumpram seus desígnios.
Capítulo 5
JACÓ: UM EXEMPLO DE
UM
CARÁTER
RESTAURADO
A família de Abraão destaca-se na Bíblia desde que o patriarca
foi chamado por Deus
para uma grande missão. Ele vivia em Ur, na Caldeia, juntamente com seu pai,
Tera. Dali, saiu de Ur, na Caldeia, e foi para Harã, já na terra de Canaã com
sua família (Gn 11.31). Em Elarã, Abrão ouviu o chamado de Deus para sua vida
para que deixasse sua parentela e fosse para uma terra que ele não conhecia (Gn
12.1-3). Aos 75 anos, Abrão saiu com Sarai, sua esposa, e também com Ló, seu
sobrinho, atendendo ao chamado de Deus, e foi estabelecer-se em Canaã. Como
vimos no capítulo anterior, Abraão, quando tinha 100 anos de idade, foi pai de
Isaque, e Sara, a esposa de Abraão, tinha 90 anos. Isaque seguiu os passos do
pai e habitou em Gerar, na terra dos filisteus.
Seus filhos nasceram gêmeos. Esaú, o primogênito, tinha índole e caráter
completamente diferentes de Jacó, o mais novo. Não se sabe quase nada sobre a
infância do primogênito de Isaque.
Esaú tinha uma inclinação para o campo, para a
vida pastoril e também para a caça. Ele gostava de viver nas planícies, nos
montes e nos vales que havia na sua terra. Jacó, ao contrário, pelo seu
temperamento e também por sua personalidade, voltou-se para a vida doméstica.
Ele já gostava mais de estar ao lado dos seus pais, ajudando nos afazeres do
lar e apreciando a confecção
de alimentos e refeições.
O Caráter
do Cristão
Um episódio que marcou para
sempre a vida dos dois irmãos ocorreu quando, em um determinado dia, Esaú
chegou da sua jornada, cansado e faminto, e encontrou Jacó, seu irmão, que
preparara uma sopa de lentilhas que exalava um cheiro agradável, despertando
ainda mais a fome de Esaú. Naquela ocasião, Esaú
fez um pedido a Jacó, dizendo: “Dá-me da tua sopa, pois estou
com muita fome”.
Jacó não perdeu tempo.
Usando de esperteza e astúcia, disse para o seu irmão: “Eu lhe dou a minha sopa
se você me vender o seu direito de primogenitura. Naquele momento, Esaú disse:
“De que me serve o direito de primogenitura se, no momento, estou com fome”. E
ele trocou seu precioso direito por um prato de lentilhas. Aí, podemos ver duas
atitudes que demonstram o caráter respectivo dos dois irmãos. De um lado, vemos
Jacó usando de esperteza e ambição. De outro, vemos Esaú desprezando o precioso
direito de primogenitura.
Jacó poderia ter
compartilhado da sua sopa com seu irmão, que estava faminto e cansado, mas não
fez isso. Ele aproveitou-se da ocasião para obter um direito que, pela Lei, não
era dele, querendo, de fato, usurpar o direito de primogenitura do seu irmão.
Por outro lado, vemos Esaú, um homem que não dava valor à bênção de ser o filho
mais velho. Ele nem ao menos considerou
o valor de ser o primogênito diante de Deus, da família e do seu povo.
De uma maneira muito irresponsável, ele trocou seu direito de primogenitura
por um prato de lentilhas, e isso acabou custando muito caro.
Dessa forma, os dois
irmãos tinham temperamentos e personalidades bem diferentes. Noutra ocasião,
Isaque, já bastante idoso, resolveu determinar uma benção de Deus sobre a vida
de Esaú, o seu primogênito. Fazia parte da história e da tradição do povo
hebreu do Antigo testamento o primogênito ter seus direitos dobrados com
relação à partilha da herança. E Isaque quis, além desse direito natural,
ministrar, pela fé em Deus, uma benção especial sobre seu filho primogênito.
Ele, porém, foi surpreendido pela astúcia da própria esposa, que induzira seu
filho a enganar seu pai e apropriar-se da bênção de Isaque. As consequências
nãoforam nada desejáveis. Sentindo-se traído, Esaú quis matar
Jacó, que teve que fugir do seu irmão. Diante de todos esses fatos, Jacó
demonstrava que tinha um caráter prejudicado por falhas de sua personalidade.
Ele precisava ser restaurado.
I - JACÓ: QUEM ERA ELE?
O caráter de Jacó foi
moldado pela direção de Deus como parte da bênção divina sobre Abraão, seu avô,
e sobre Isaque, seu pai. Ele, no entanto, também teve marcante influência de
sua criação familiar, especialmente por parte de sua mãe.
1. O Filho mais Novo
de Isaque
Ele integra a lista dos
três patriarcas hebreus que marcaram a história de Israel: Abraão, Isaque e
Jacó. Sua história foi pontilhada de episódios dramáticos desde o seu
nascimento. Isaque e Rebeca oraram a Deus para que pudessem ter filhos, pois
ela era estéril, e Deus ouviu suas orações (Gn 25.20,21). Quando Isaque tinha
60 anos, o casal teve dois filhos gêmeos como resposta de Deus. O texto diz que
havia, no ventre, uma luta entre os bebês (Gn 25.22). Em oração, Deus revelou
que, no ventre da mãe, havia duas nações
(v. 23). Um fato profético que se cumpriu plenamente. A nação de Jacó
sempre viveu em confronto com a
nação descendente de Esaú.
Se os meninos lutavam no
ventre ao nascer, houve disputa para ver quem sairia primeiro. Esaú nasceu
primeiro, peludo e ruivo. Essa é a razão do seu nome, que tem o significado de
vermelho, ou Edom (v. 25).
O segundo recebeu o nome de Jacó,
que, em hebraico, é Yaakov, que significa “Deus protege”, o sentido primeiro e
original do nome. Esaú foi o primogênito por uma questão de poucos minutos ou
de segundos na hora do parto. Segundo o relato bíblico de Gênesis 25.26, Jacó
nasceu agarrado ao calcanhar do seu irmão. Por causa disso, o seu nome passou a
ter o significado de “aquele que segura pelo calcanhar”
ou “suplantador”.
2. O Preferido
de sua Mãe
Isaque tinha preferência por
Esaú porque gostava da caça, e Rebeca amava mais a Jacó por ser “varão simples,
habitando em tendas” (v. 27). Essa preferência dividida entre os pais por causa
dos filhos não resultou em benefício algum para a família. Busic diz a respeito
dessa preferência:
“Com o resultado do flagrante favoritismo de seus
pais, a devastação emocional é desencadeada nos dois irmãos, e os seus caracteres são destruídos pelo tratamento preferencial. Esaú cresceu obstinado e orgulhoso, sem
autocontrole. Jacó tornou-se mentiroso e conspirador, sem autoestima, querendo,
desesperadamente, ser amado e aceito por seu pai, estando disposto a fazer
qualquer coisa para ganhar a aprovação de Isaque, mesmo que isso significasse
enganar”.1
1) Abençoado por engano.
Quando Isaque quis dar a bênção a Esaú, seu primogênito, ele chamou-o,
determinando que fosse ao campo, apanhasse “alguma caça” e fizesse um “guisado
saboroso” como ele apreciava, para que, depois de comer, viesse a dar sua
bênção (Gn 27.1-5). Rebeca, numa
demonstração clara do seu caráter astucioso, chamou Jacó e, usando a autoridade
materna, induziu-o a trazer uma caça para preparar um guisado saboroso como o
patriarca gostava. Tudo isso para Isaque abençoar Jacó antes de morrer. Diante
de tal proposta indecente, Jacó fez objeção, dizendo: “ [...] Eis que Esaú,
meu irmão, é varão cabeludo, e eu, varão liso. Porventura, me apalpará o meu
pai, e serei, a seus olhos, enganador; assim, trarei eu sobre mim maldição e
não bênção” (Gn 27.11,12). Ou seja: Jacó percebeu a malícia de sua mãe,
questionou sua intenção carnal, mas não tomou posição ética com firmeza.
Rebeca provou que era
obstinada em suas intenções. Além de induzir o filho ao pecado, requereu para
si a maldição decorrente do engano e da mentira. Sem força moral para enfrentar
a mãe, Jacómostrou o lado fraco de seu caráter. Ele cedeu, foi
buscar a caça, e sua mãe apressou-se em fazer a comida que o pai gostava. Pior
ainda: fez um arranjo mentiroso no filho, enfeitando-o com pelos
de carneiros para que parecesse a seu pai que era Esaú. Quando toda a
trama astuciosa estava completa. Jacó foi à presença de Isaque e apresentou-se,
passando-se por Esaú, com o guisado que o pai pedira. O velho Isaque estranhou
o filho trazendo o que ele pedira tão rápido. Jacó, porém, seguindo o mau exemplo
da mãe, enganou seu pai, dizendo que Deus o tinha abençoado e mandado a caça a
seu encontro. Ele mentiu, enganou e usou o nome de Deus em vão (Gn 27.14-25).
Isaque desconfiou de tudo,
mas, pelo fato de não mais ver com nitidez, deixou-se levar pelo filho
enganador. O patriarca chamou o filho para beijá-lo e dar a bênção a ele. A
exemplo de Judas, que traiu Jesus com um beijo (Lc 22.48). E, por engano, com
base numa trama mentirosa, ministrou uma linda bênção
sobre Jacó, imaginando estar abençoando Esaú. “E chegou-se e beijou-o.
Então, cheirou o cheiro das suas vestes, e abençoou-o, e disse: Eis que o
cheiro do meu filho é como o cheiro do campo, que o Se n h o r abençoou. Assim,
pois, te dê Deus do orvalho dos céus, e das gorduras da terra, e abundância de
trigo e de mosto. Sirvam-te povos, e nações se encurvem a ti; sê senhor de teus
irmãos, e os filhos da tua mãe se encurvem a ti; malditos sejam os que te
amaldiçoarem, e benditos sejam os que te abençoarem”
(Gn 27.27-29).
2) Consequências do engano.
Há quem ensine que o plano astucioso de Rebeca somado à leniência de Jacó foi
da vontade de Deus — para justificar a doutrina da predestinação absoluta. Não
compartilhamos dessa interpretação. Deus não aprova a mentira. Podemos dizer
que Deus permitiu que tudo acontecesse. Rebeca usou Jacó para mentir e enganar
Isaque, seu pai, para apropriar-se da bênção que seria de Esaú, e as
consequências logo foram sentidas.
a) A mentira descoberta.
Quando Jacó saiu da presença de Isaque com a bênção pelo engano, Esaú
apresentou-se com o guisado que preparara, a fim de receber a bênção do pai. Ao
ouvir a voz inconfundível de Esaú, Isaque estremeceu e indagou sobre quem seria
aquele que o enganara e tomara a bênção de Esaú, concluindo que fora Jacó.
Exasperado, Esaú levantou a voz e chorou, acusando o irmão de ser usurpador,
pois este já o tinha enganado duas vezes: tomando a sua primogenitura e,
depois, a bênção do seu pai.
b) Uma bênção secundária. O
que aconteceu depois foi terrível. Isaque, estremecido, dominado pelo desespero
e num clima emocional carregado de tensão, deu a Esaú uma bênção significativa,
porém subordinando Esaú a Jacó, pelo menos até que saísse do jugo de seu irmão:
“Então, respondeu Isaque, seu pai, e disse-lhe: Eis que a tua habitação será
longe das gorduras da terra e sem orvalho dos céus.
E pela tua espada viverás e ao teu irmão servirás. Acontecerá, porém,
que, quando te libertares, então, sacudirás o seu jugo do teu pescoço” (Gn
27.39,40). Apesar de ter dado uma bênção a Jacó por ter sido enganado, ela não
podia mais ser revogada. Isaque fez isso pela fé, e Deus honrou o que seus
lábios proferiram com sinceridade na vida do filho mais novo, tendo em vista
seus propósitos para com a nação israelita. Ainda assim, houve mudança no teor
da bênção. Na primeira, dada a Jacó por engano, Isaque diz que Deus daria “o
orvalho dos céus” a ele e,
também, “das gorduras da terra, e abundância de trigo e de mosto” (Gn
26.28).
c) O ódio domina o coração de Esaú. Usando de astúcia,
Jacó tomou mais uma vez o lugar do seu irmão, apropriando-se da bênção de seu
pai. “E aborreceu Esaú a Jacó por causa daquela bênção, com que seu pai o tinha
abençoado; e Esaú disse no seu coração: Chegar-se-ão os dias de luto de meu
pai; então, matarei a Jacó, meu irmão” (Gn 27.41).
d) A benção consciente. O velho Isaque, percebendo que Deus tinha
um plano na vida de Jacó, despediu-o com exortação paternal, debaixo de sua
bênção de caráter profético: “E Isaque chamou a Jacó, e abençoou-o, e
ordenou-lhe, e
disse-lhe: Não tomes mulher de entre as filhas de Canaã. Levanta-te,
vai a Padã-Arã, à casa de Betuel, pai de tua mãe, e toma de lá uma mulher das
filhas de Labão, irmão de tua mãe. E Deus Todo-poderoso te abençoe, e te faça
frutificar,
e te multiplique, para que sejas uma multidão de povos; e te dê a bênção
de Abraão, a ti e à tua semente contigo, para que em-herança possuas a terra de
tuas peregrinações, que Deus deu a Abraão” (Gn 28.1-4). Muito mais por causa
das
promessas feitas a Abraão do que por Jacó, Deus reiterou a bênção de
Abraão sobre ele, como já o fizera com Isaque. “ [...] peregrina nesta terra, e
serei contigo e te abençoarei; porque a ti e à tua semente darei todas estas
terras e confirmarei o juramento que tenho jurado a Abraão, teu pai. E
multiplicarei a tua semente como as estrelas dos céus e darei à tua semente
todas estas terras. E em tua semente
serão benditas todas as nações da terra, porquanto Abraão obedeceu à
minha voz e guardou o meu mandado, os meus preceitos, os meus estatutos e as
minhas leis” (Gn 26.3-5).
e) Jacó foge como um homem
culpado. Seguindo a orientação dos pais, Jacó saiu de Berseba e fugiu para
Harã (Gn 28.10). Ele caminhou solitário durante o dia, e a noite alcançou-o num
lugar deserto. Foi uma noite de tristeza e solidão para o filho de Jacó. Em
lugar de uma cama confortável, ele fez de uma pedra o seu travesseiro (Gn 28.10,11).
II - ASPECTOS DO CARÁTER DE
JACÓ
1. Antes do seu Encontro com
Deus
Só conhecemos Jacó a
partir de sua juventude. Àquela altura, seu caráter já se construía, com
experiências desde a sua infância. Até o encontro com Deus em Betei, ele era
apenas um “homem natural”, ou carnal (1 Co 2.14). Naquela fase de sua vida,
podemos ver alguns aspectos negativos de seu caráter.
1)
Oportunista e egoísta. Quando seu irmão chegou com fome e
pediu-lhe para comer do seu guisado, ele poderia ter-lheoferecido de sua
comida, compartilhando sua refeição. No entanto, numa prova de oportunismo e
ambição, disse logo: “Vende-me, hoje, a tua primogenitura” (Gn 25.31). Imagine
se, hoje em dia, um irmão cobrasse do outro um carro novo por um prato de sopa!
Seria notícia nos noticiários da televisão. Nas redes sociais, seria
“viralizado” com algum título absurdo, do tipo: “Crente de uma igreja troca um
prato de sopa por um carro zero quilômetro”. Jacó fez pior que isso. Em seu
oportunismo e ambição, pediu a seu irmão o que ele tinha de mais precioso em
troca de um prato
de lentilhas, que foi o direito de primogenitura, que lhe garantia
privilégios quando da partilha da herança do seu pai. O primogênito era
santificado ou consagrado a Deus (Ex 13.2, Nm 3.13; Lc 2.23); era tão
importante ser o primogênito que Deus deu os levitas em lugar deles (Nm 3.12);
a herança do primogênito era odobro do que os demais filhos receberíam, mesmo
que fosse filho de esposa “aborrecida” pelo marido (Dt 21.17); o primogênito tinha o direito de
assumir a liderança do pai sobre o grupo, o clã, a tribo ou o reino (2 Rs
3.27).Esse defeito ocorre ainda hoje quando há cristãos que dão lugar à sua
velha natureza e barganham coisas com seus irmãos, explorando-os por suas
necessidades. Se um pastor diz para a igreja que os crentes devem dar “tudo o
que têm”, “todo o seu salário”, “o seu carro” ou “sua casa” para que seja
abençoado,
ele, então, está agindo como Jacó, pois está trocando até o que não lhe
pertence por coisas que são valiosas para os necessitados.
2)
Interesseiro e calculista. Enquanto Esaú era imediatista e agia
por impulso, Jacó era frio e calculista. Conhecedor do comportamento leviano
do irmão, Jacó não apenas propôs trocar algo tão insignificante, como um prato
de sopa de lentilhas, por algo tão valioso, como também exigiu que Esaú fizesse
um juramento que garantisse que sua troca seria respeitada por toda a vida.
“Então,
disse Jacó: Jura-me hoje. E jurou-lhe e vendeu a sua primogenitura
a Jacó” (Gn 25.33; Hb 12.16). Só depois do juramento, ele “ [...] deu
pão a Esaú e o guisado das lentilhas”
(Gn 25.34). Jacó era inteligente, provavelmente de temperamento
fleumático, o que lhe dava condição de raciocinar com calma para alcançar o que queria. Ele só esquecia uma coisa: da lei da semeadura e da sega.
O que ele estava plantando em sua juventude havería de colher mais tarde
(Gl 6.7) em proporção muito maior.
3) Um caráter fraco e leniente. Jacó já não era mais um
adolescente; porém, quando foi induzido por sua mãe a mentir e enganar seu
pai?ele sabia que tal proposta era errada (Gn 27.11,12). Sua mãe insistiu na
prática do erro, chamando para si a maldição daquele engano, daquele arranjo
fraudulento. Jacó, por sua vez,
não teve força moral para ficar firme e, mesmo contrariado, fez tudo o
que sua mãe lhe obrigara: levou os cabritos para ela fazer o guisado, vestiu as
roupas de Esaú, deixou sua mãe cobrir suas mãos com pelos de cabrito e levou o
guisado para seu pai (Gn 27.6-17). Um filho deve honrar seus pais, pois é
mandamento
de Deus, mas não tem obrigação de compactuar com a mentira e a trapaça.
4) Mentiroso e enganador. Ao chegar à presença de Isaque, este
perguntou: “Quem és tu, meu filho?” (Gn 27.18). Era a hora da verdade. Ainda
assim, Jacó preferiu continuar na mentira: “Eu sou Esaú, teu primogênito. Tenho
feito como me disseste [...]” (v. 19).
Eis a primeira mentira. Onde estava o temor de Deus na
vida de Jacó? Responder ao pai que era o irmão?! Isaque ficou admirado,pensando ser Esaú, e
também como teria retornado tão rápido com a caça. Mais uma vez, Jacó
mentiu: “Porque o Se n h o r,
teu Deus, a mandou ao meu encontro” (v. 20). Aí está a segunda mentira.
Ao abraçar Jacó, Isaque disse: “A voz é a voz de Jacó, porém as mãos são as
mãos de Esaú” (v. 22). Confuso, Isaque perguntou: “Es tu meu filho Esaú mesmo?
E ele disse: Eu sou” (v. 24). E assim
Jacó mentiu pela terceira vez. Mesmo em
dúvida, Isaque abençoou Jacó, pensando que era Esaú (w. 24-29).
2.
Depois do seu Encontro com
Deus.
1) Um caráter agradecido. Surpreendentemente, Jacó passou a ver as
coisas numa perspectiva espiritual de um novo relacionamento com Deus e fez-lhe
um voto, dizendo: “[...] Se Deus for comigo, e me guardar nesta viagem que
faço, e me der pão para comer e vestes para vestir, e eu em paz
tornar à casa de meu pai, o Se n h o r será o meu Deus; e esta pedra, que tenho
posto por coluna, será Casa de Deus; e, de tudo quanto me deres, certamente te
darei o dízimo” (Gn 28.2022). Nesse fato, vemos que Jacó tinha consciência do
valor do dízimo como expressão sincera de gratidão a Deus, a exemplo do que
fizera Abraão, seu avô, perante Melquisedeque (Gn 14.18-20). A atitude de Jacó em relação ao
dízimo responde
a uma questão que muitos crentes fazem: se o dízimo é sobre o bruto da
renda ou sobre a renda líquida. Em seu voto, ele prometeu dar “de tudo” quanto
Deus desse a ele, e não do que lhe sobrasse. Abraão também deu “o dízimo de
tudo” (Hb 7.2). Isso mostra que o
cristão grato a Deus entrega o dízimo da sua renda bruta e
não do que lhe sobra. A atitude de Jacó demonstra sua gratidão a Deus de
forma antecipada. E o Senhor honrou a sua fé.
2) Um caráter esforçado e
sofredor. Ao chegar à casa de Labão, seu tio, Jacó revelou-se um homem
trabalhador. Em lugar de receber um salário em dinheiro, preferiu trabalhar
sete anos por Raquel, a quem amava. Mas, na noite de núpcias, ele experimentou,
em termos de engano, o resultado daquilo que plantara. Jacó foi enganado pelo
sogro e, em lugar de casar-se com Raquel, acabou casando-se com Léia. Só depois
que terminou a semana de festas de casamentos, Jacó casou-se com Raquel, sua
amada, e ficou trabalhando para Labão “outros sete anos” (Gn 29.21-30). Não foi
apenas esse o preço que Jacó teve que pagar por sua vida de enganos e mentiras.
Labão mudou o seu salário dez vezes durante 20 anos (Gn 31.7). Em sonho, Deus
mostrou como suplantar a ambição e a injustiça de Labão. O “anjo de Deus”
mostrou-lhe como fazer para que o seu rebanho ficasse forte e o rebanho do
sogro enfraquecesse (Gn 31.10-12).
Alguém escreveu que ele enganou o sogro. Mas, se foi o anjo de Deus que
lhe orientou, não é considerado engano.
3) Um homem na direção de Deus. Após ser enganado
pelo sogro, Jacó reuniu sua família e fugiu de Harã. Mas ele não o fez apenas
pelo medo do sogro. Sua saída de Harã foi por direção de Deus, com quem ele
aprendeu a relacionar-se. “E disse o Se n h o r a Jacó: Torna à terra dos teus
pais e à tua parentela, e eu serei contigo. (Gn 31.3). Ao explicar o plano de fuga à
família, Jacó repetiu o que ouvira da parte de Deus: “Eu sou o Deus de Betei,
onde tens ungido uma coluna, onde me tens feito o voto; levanta-te agora,
sai-te desta terra e torna-te à terra da tua parentela” (Gn 31.13). Desse modo, Jacó empreendeu a
fuga com a família, sendo imediatamente perseguido pelo sogro. Este não pôde
fazer-lhe
mal algum porque Deus entrou em ação e determinou que ele não falasse
“nem bem nem mal” (Gn 31.24).
3. O Reencontro com Esaú
Aproximando-se de Seir, na terra de Canaã, onde seu irmão vivia, Jacó
enviou mensageiros a Esaú e anunciou o seu retorno. Os mensageiros voltaram e
disseram que Esaú vinha ao seu encontro com 400 homens.
1) Um homem
quebrantado e temente a Deus. Jacó lembrou-se do passado e de sua
desavença com o irmão e, temeroso, dividiu a família em dois bandos para que um
pudesse escapar em caso de ataque. Sua angústia era grande, porém sua oração
revela seu temor (Gn 32.9-12). Ele enviou três grupos de servos, cada um
levando presentes para aplacar uma suposta agressão por parte de Esaú (Gn
32.13-21).
2) Um homem que lutou
com Deus. Após tomar as precauções que julgava necessárias, Jacó passou o vau
de Jaboque e travou uma luta com um varão até pela manhã. O “varão” era um ser
celestial — provavelmente um anjo — que não prevaleceu contra Jacó. Não pode
ter sido o próprio Deus, pois um homem jamais
podería vencer Deus. Além disso, o “varão” perguntou pelo seu nome, e
ele respondeu: “Jacó”. E o anjo lhe disse: “Então, disse: Não se chamará mais o
teu nome Jacó, mas Israel, pois, como príncipe, lutaste com Deus e com os
homens e prevaleceste. E Jacó lhe perguntou e disse: Dá-me, peço-te, a saber o
teu nome.
E disse: Por que perguntas pelo meu nome? E abençoou-o ali. E chamou
Jacó o nome daquele lugar Peniel, porque dizia: Tenho visto a Deus face a face,
e a minha alma foi salva” (Gn 32.28-30). A experiência do encontro de Jacó com
Esaú mostra que, quando Deus age na vida das pessoas, seus caracteres são
transformados. Jacó passou a ser humilde, sofredor, paciente, longânimo,
altruísta. Esaú passou a ser manso, perdoador e maduro. Em ambos os casos,
vemos a graça de Deus superabundando onde, antes, abundou o pecado na vida
desses irmãos (Rm 5.20). Foi pela sua
incomensurável graça que Deus escolheu Jacó em lugar de Esaú, mesmo com seu
caráter deficiente. Esaú e Jacó passaram
a viver o que diz o salmo: “Oh!
Quão bom e quão suave é que os irmãos vivam em união!” (Sl 133.1).
CONCLUSÃO
A escolha de Jacó para ser
o patriarca que tomou o nome de Israel, sendo ele o líder das
12 tribos da nação israelita, não atende aos pressupostos da lógica racional, sob o ponto de vista humano. Mesmo assim, representa uma das insondáveis decisões
divinas que atende aos propósitos de Deus, especialmente em cumprimento às promessas feitas a Abraão, de que ele seria pai de uma grande nação, quando de sua extrema velhice e também esterilidade de sua esposa. Deus não escreve certo por linhas tortas, como diz o dito popular, mas escreve certo pelos seus retos propósitos e insondáveis pensamentos.
jacó: Um Exemplo de Um Caráter restaurado
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