sexta-feira, 12 de setembro de 2025

CPAD : A Igreja em Jerusalém — LIÇÃO 11 Uma Igreja Hebreia na Casa de um Estrangeiro

 

TEXTO ÁUREO

 “Respondeu, então, Pedro: Pode alguém, porventura, recusar a água, para que não sejam batizados estes que também receberam, como nós, o Espírito Santo?”

 (At 10.47).

VERDADE PRÁTICA

O episódio da igreja hebreia na casa do gentio Cornélio demonstra que Deus não faz acepção de pessoas.

  CPAD : A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

Comentarista: José Gonçalves

Lição 11: Uma igreja hebreia na casa de um estrangeiro

 





 

E

sta grande narrativa de Lucas mostrando em detalhes a conversão do gentio Cornélio demonstra a grande importância que esse fato tem para a fé cristã. Cornélio era um gentio e militar a serviço de Roma em Israel. Como centurião, ele comandava 100 homens (Mt 8.11; Lc 7.2-19). O texto diz que ele era da “coorte” italiana. Uma coorte era a décima parte de uma legião que era composta por 6 mil homens. Lucas destaca que Cornélio era um gentio temente a Deus. Convém destacar que, em relação à religião judaica dos dias do Novo Testamento, é possível identificar três classes de pessoas. Primeiramente, temos o judeu de nascença, considerado o povo da aliança. Foi aos judeus que Deus havia se revelado (Gn 12.1). Em segundo lugar, temos o “prosélito”, um gentio que se convertia ao judaísmo, submetia-se ao rito da circuncisão e guardava todas as leis cerimoniais. Por último, temos os “tementes a Deus”, um gentio monoteísta que aceitava a maioria das leis cerimonialistas do judaísmo, incluindo a observância do sábado e prescrições alimentares sem, contudo, submeter-se ao rito da circuncisão.

  A Revelação Divina aos Gentios

   Foi durante a hora nona, isto é, as três horas da tarde, quando se apresentava no Templo o sacrifício vespertino, que Cornélio teve uma visão. Nessa visão, um anjo de Deus orientou-o a chamar o apóstolo Pedro para dizer-lhe “palavras com que te salves, tu e toda a tua casa” (At 11.14). O anjo mesmo não lhe pregou o evangelho, mas orientou-o acerca de quem poderia fazer isso. A carta aos Hebreus informa-nos que os anjos são mensageiros de Deus enviados a favor daqueles que vão herdar a salvação (Hb 1.14). A pregação do evangelho, portanto, não é missão dos anjos; é missão do crente em Jesus.

   No dia seguinte, Pedro também teve uma visão. Por volta do meio-dia, quando lhe preparavam uma refeição, sobreveio-lhe um êxtase. Um objeto no formato de um lençol descia do céu e, dentro dele, havia toda sorte de quadrúpedes, répteis da terra e aves do céu. A ordem divina para Pedro era que ele matasse e comesse-os. Sabendo que aqueles eram animais imundos, Pedro apresentou a sua recusa ao Senhor. Deus diz a Pedro que ele não deveria considerar comum ou imundo aquilo que o Senhor purificou. A visão foi dramática. Pedro estava perplexo procurando entender a visão. Foi, então, que chegaram os emissários do centurião Cornélio. Instruído pelo Espírito Santo, Pedro vai com eles e, quando chega à casa do gentio, prontifica-se a atendê-los no que foi solicitado.

  A Mensagem aos Gentios

  Deus ama e quer salvar a todos

  “E, abrindo Pedro a boca, disse: Reconheço, por verdade, que Deus não fa z acepção de pessoas” (At 10.34). Tendo chegado à casa de Cornélio, Pedro logo discerniu o sentido da visão que tivera — Deus não exclui ninguém do seu plano salvífico. Ele quer salvar a todos (2 Pe 3.9; 1 Tm 2.4). Os gentios, portanto, foram incluídos no plano salvífico de Deus. Até então, Pedro acreditava que os judeus eram os únicos escolhidos no plano da redenção.

   Deus não quer que ninguém pereça (Lc 19.10). Mediante Cris to, Deus salvará todos os que nEle creem. Assim, todos os que vêm a Cristo e creem nEle (sem exceção) podem ter a vida eterna. A doutrina que alega estarem algumas pessoas condenadas arbitra riamente não se sustenta. O Senhor não quer que ninguém pereça, mas que todos venham ao arrependimento (2 Pe 3.9). O veredito de Paulo é que se ore “por TODOS os homens”, pois Deus deseja que “TODOS os homens sejam salvos” porque Cristo “deu a si mesmo em resgate por TODOS” (1 Tm 2.1-6, NAA). O escopo da salvação de Deus é ilimitado do lado dEle, mas os homens fazem limitações para as suas próprias feridas por sua incredulidade.1

   Deus proveu salvação para toda a humanidade, sem exceção: “Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo [não apenas alguns selecionados]” (2 Co 5.19); “Reconciliou ambos [judeus e gentios] a Deus em um corpo pela cruz” (Ef 2.16). A Bíblia põe em relevo o caráter universal da expiação: “E ele é a propiciação [ou propiciatória] pelos nossos pecados — e não somente pelos nossos próprios, mas também pelos do mundo inteiro” (1 Jo 2.2, NAA; Rm 5.6-18). Assim sendo, ninguém é excluído nessa reconciliação” (Hb 2.9; At 10.34). A Bíblia contraria o ensino que afirma que somente os eleitos são influenciados a arrepender-se e crer no evangelho. Contra essa teoria, destacam-se Palavras de Jesus: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” Jo 12.32). Há vários textos bíblicos que corroboram esse fato: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna. Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo não para que condenasse o mundo [isto é, as pessoas no mundo], mas para que o mundo fosse salvo por ele (Jo 3.16,17). Deus é amor. O amor é próprio da natureza divina. O seu amor modera a sua justiça em misericórdia e graça. E um erro pensar que Deus quer condenar certas pessoas arbitrariamente. O seu poder e sabedoria foram mostrados na criação, mas o seu amor é mostrado em redenção. O homem precisava muito de misericórdia, mas não a merecia o mínimo. Cristo morreu por nós enquanto ainda éramos pecadores (Rm 5.8). O amor divino deu à luz a graça. A graça divina deu à luz a redenção mediante a morte de Cristo, e a redenção deu à luz a salvação.

  Há várias passagens nas Escrituras exortando ao arrependimento e que demonstram a verdade da responsabilidade do homem na dinâmica da salvação. Isso pode ser visto no chamado de João Batista ao arrependimento e de Jesus e dos apóstolos que verberaram a mesma mensagem. Pedro conclamou ao arrependimento chamando o povo a “arrepender-se” e a “converter-se”. Da mesma forma, Paulo, anos depois, exclamou que Deus ordena a todos os homens que “se arre pendam” (At 17.30,31). A salvação é concedida a todos os que se arre penderem e crerem. Se as pessoas estivessem decretadas à condenação, que necessidade havería do arrependimento? Se algumas pessoas já estão condenadas, então por que perder tempo e energia para ordená-las a fazer o que era impossível para elas fazerem? Se as pessoas já estão condenadas ao Inferno, por que agonizar em oração para que as pessoas sejam salvas? Por que ordenar que se arrependam? No último livro da Bíblia, lemos sete vezes a exortação ao arrependimento e cinco vezes que “eles não se arrependeram”. Isso tudo seria farsa se a doutrina do decreto condenatório estivesse correta.

   Cristo fez tudo por nós pelo Espírito Santo. O homem tem a sua parte no processo da salvação porque não é uma máquina — imóvel, insensível, sem vida, irresponsável. A fé é despertada pela chamada do evangelho. Quando as pessoas escutam a mensagem do Reino e nela creem, então recebem a vida eterna. Foi assim quando Pedro pregou a Palavra de Deus, mostrando que Cristo era o Messias prometido, e muitos creram. Os que receberam as suas palavras entraram na eleição de Deus. O Espírito Santo usa a verdade para trabalhar obediência no coração dos homens. O poder da Palavra é expresso pelo seguinte texto: “e conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (Jo 8.32). O Espírito Santo emprega a cruz para atrair as pessoas para Deus: “E eu, quando for levantado da terra, todos atrairei a mim” Jo 12.32). Ele tem poder de persuasão.

   A salvação, portanto, é pela fé, e não pelo destino; pela graça, e não pela arbitragem; por escolha, e não por compulsão. Foi plane jada e provida pela soberania do amor, sendo recebida e desfrutada pela fé. A salvação está condicionada à fé do homem: “Pela graça sois salvos”. O caminho da salvação de Deus é absoluto e arbitrário: “Sendo justificados livremente pela sua graça”, isto é, sem o mérito do homem. A graça foi mostrada através da redenção (Rm 3.24-25); esse é o lado de Deus. “Salvo pela fé” é o lado do homem. A fé é o elo que conecta o pecador necessitado ao poderoso e misericordioso Salvador. “Não de obras”. Existe apenas um elo, e isso é a fé: “E isso não é de vós, é dom de Deus”. Sim. Ninguém acredita independentemente de Deus; mas essa fé não é forçada arbitrariamente no ser humano contra a vontade do homem. Não é dada a poucos eleitos, nem retido de outros não eleitos.2

   O Pentecostes Gentílico

  “E, dizendo Pedro ainda estas palavras, caiu o Espírito Santo sobre todos os que ouviam a palavra. E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios. Porque os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.44-46).

   O Espírito foi derramado sobre os gentios enquanto Pedro ainda pregava a Palavra. Um sinal notório serviu de evidência para os crentes judeus presentes que vieram com Pedro de que a salvação, de fato, fora dada aos gentios. Eles haviam recebido o Espírito Santo. Eles também os ouviram falar em outras línguas e magnificar a Deus. Fica evidente que esses crentes nessa época consideravam o fenômeno do falar em línguas como a evidência do batismo pentecostal.

   Convém destacar que o falar em línguas em Atos (2.4; 10.46; 19.6) é o mesmo em natureza e essência daquelas faladas em 1 Coríntios (14.2,4,5,13,14), porém diferindo no seu propósito. Na ocorrência de Atos 2.4, foram reconhecidas pelos presentes, mas isso não aconteceu com as línguas de Atos 10.46 e em 1 Coríntios, que, neste último caso, precisavam de interpretação para serem entendidas. Assim, as línguas são sempre espirituais, uma vez que são inspiradas pelo Espírito Santo, podendo, dessa forma, ser conhecidas por quem ouve e desconhecidas para quem fala ou desconhecidas para quem ouve e para quem fala, a menos que haja interpretação. A razão de que essas línguas são sempre espirituais está no fato de que o falante de línguas deve orar para interpretá-las, e não estudar como se requer de um aprendiz de idiomas (1 Co 14.13). Assim, em Corinto, por haver indoutos e descrentes no culto, havia a necessidade de alguém, também movido pelo Espírito, interpretar as línguas que estavam sendo faladas. Todavia, em uma reunião de caráter privativo, como a que aconteceu na casa de Cornélio em Cesareia, isso não era necessário. Dizer que as línguas em Atos eram autênticas por tratar-se de idiomas reais e, em Corinto, um falar “extático” sem sentido algum porque não eram compreendidas não tem fundamentação. Quem pensa assim desconsidera, por exemplo, o alto conceito que Paulo tinha sobre o fenômeno glossolálico em 1 Coríntios 12—14. Paulo afirmou que as línguas em Corinto permitiam a quem falava comunicar-se diretamente com Deus (1 Co 14.2), trazendo, dessa forma, edificação ao falante; edificava a quem ouvia quando interpretadas (1 Co 14.5); e engrandeciam a Deus como expressão de louvor (1 Co 14.14-17). O próprio Paulo era grato a Deus por falar línguas em abundância (1 Co 14.18).

   Vamos ilustrar o que está sendo afirmado aqui. O pastor Jack Hayford conta que, certa vez, voou ao lado de um engenheiro civil. As primeiras palavras trocadas demonstraram que aquele homem não era muito simpático à fé cristã. Durante o voo, Hayford diz que estava procurando alguma forma de estabelecer uma conexão onde fosse possível compartilhar o evangelho de Jesus. Assim, durante o voo, Hayford diz ter ouvido a voz do Senhor orientando-o a falar em línguas com aquele homem. Hayford, depois de receber permissão do engenheiro para falar-lhe, narra o que segue:

  Desviei o olhar do rosto dele, meus olhos focalizados no padrão do estofamento da parte de trás do assento na frente dele e, em um tom de conversa, comecei a falar em minha linguagem espiritual. Eu mal tinha começado quando parecia que eu tinha um canto linguístico, e me ouvi falando uma língua diferente de qualquer outra que eu já tinha ouvido em oração antes. A duração total de tudo o que eu falei foi aproximadamente a duração deste parágrafo. Parei e olhei de volta para Bill. Sua resposta foi imediata e profissional. “Essa é uma língua pré-kiowa, de onde veio nossa língua indígena kiowa.” Incrivelmente, consegui manter a naturalidade, embora tudo dentro de mim quisesse gritar: “Sério?! Aleluia!” Ele continuou: “Não conheço todas as palavras que você falou, mas conheço a ideia que elas expressam.” Eu mal podia acreditar no que ele estava dizendo — eu estava perplexo, mas totalmente reservado em meu comportamento exterior. “Que ideia elas expressam?” Perguntei. “Bem”, ele gesticulou de forma ascendente com a mão. “Algo a respeito da luz que vem do alto.” Foi algo do Espírito Santo, e eu sabia o que deveria dizer agora. “Obrigado, Bill. E incrível que isso tenha acontecido.

   Agradeço de coração por ter me permitido fazer essa pergunta.” Ele gesticulou simplesmente, dizendo: “Imagine. Foi interessante.”3

   Hayford finaliza o seu testemunho contando da sua felicidade quando viu o próprio Senhor revelando-se àquele homem como “luz que vem do alto”. Era assim que a cultura daquele engenheiro entendia o divino. Hayford viu um diálogo inusitado como parte do propósito divino para abençoar aquela vida, que, até então, demonstrara ser totalmente cética com a fé cristã. Depois do que acabara de acontecer e tendo ouvido Hayford explicar de que fenômeno tratava-se, o engenheiro ficou totalmente aberto à fé cristã.

   Em 1993, eu estava no templo central da AD de Altos, Piauí, igreja da qual eu era membro. Naquela época, eu buscava orientação do Senhor em relação ao seu propósito e obra em minha vida. Foi então que, numa sexta-feira, quando me encontrava orando no templo, o Espírito Santo encheu-me, e eu comecei a falar em línguas. Logo em seguida, o sentido daquelas palavras começou a fluir em minha mente. O Senhor deu-me a interpretação do que havia sido dito: “Eu tenho uma aliança com você”. Entendí com clareza que essa aliança era de natureza ministerial. Naquele momento, percebi, sem nenhuma dúvida, que o Senhor certamente me chamaria para o ministério de tempo integral. Foi o que aconteceu oito anos depois.

   Craig S. Keener apresenta um quadro comparativo entre a ocorrência do fenômeno de línguas em Atos e Coríntios.4 É possível ver neste quadro comparativo elaborado por Keener que as línguas são as mesmas em natureza e essência em Lucas e em Paulo.

 



 

   Como vimos, em essência, o falar em línguas em Atos e 1 Coríntios referem-se ao mesmo fenômeno, podendo, contudo, ter propó sitos diferentes. Na verdade, as línguas diferem mais na forma do que na função. Em Atos 2.4, o fenômeno assume a forma de línguas conhecidas por quem ouvia, embora permanecessem desconhecidas para quem falava. Já em Atos 10.46 e 1 Coríntios 14.2, manifestava-se na forma de línguas desconhecidas tanto para quem falava como para quem ouvia. Em ambos os casos, tinham a função de revelar Deus, engrandecer o seu nome e trazer edificação ao cristão e à igreja (At 2.11; 10.46; 1 Co 14.4,5; 14.15).

   Dessa forma, Menzies destaca que:

   As línguas pessoais, ou seja, o dom de falar em línguas desconhecidas, têm, nas devoções particulares, o valor de edificar quem estiver ocupado na oração. Orar em uma língua desconhecida é forma exaltada de adoração (1 Co 14.4). Orar em línguas é uma prática útil, e deveria ser cultivada na vida diária do crente, pois assim a pessoa é edificada em sua fé e na vida espiritual [...] há também outro uso para as línguas. Embora seja o mesmo em essência, o dom de línguas empregado nos cultos públicos visa um propósito distinto. As línguas mencionadas no livro de Atos são evidenciais e privadas; as mencionadas nas epístolas são públicas, e visam a edificação geral.3

   Esse fato é confirmado pelas palavras do apóstolo Pedro, que via a experiência pentecostal dos gentios igual àquela que os apóstolos tiveram no Pentecostes: “estes que também receberam, como nós, o Espírito Santo?” (At 10.47). Para Pedro, portanto, os gentios haviam recebido a mesma experiência que eles haviam recebido no Pentecostes: “E, quando comecei a falar, caiu sobre eles o Espírito Santo, como também sobre nós ao princípio” (At 11.15).* * 6 Pedro identifica as línguas em Cesareia como sendo essencialmente iguais àquelas faladas em Jerusalém, porém diferindo no propósito, uma vez que, em Jerusalém, as línguas foram entendidas pelos que as ouviram, mas não foram em Cesareia.

  Uma Igreja Hebreia na Casa de um Estrangeiro | 129

 

 

 

 


segunda-feira, 1 de setembro de 2025

CPAD : A Igreja em Jerusalém — Lição 10: A expansão da Igreja

 


TEXTO ÁUREO

Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra. E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.

 (At 8.4,5).

VERDADE PRÁTICA

A igreja só crescerá quando ultrapassar seus próprios limites e levar a mensagem de Cristo para além de suas paredes.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 8.1-8,12-15.

1 — E também Saulo consentiu na morte dele. E fez-se, naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos foram dispersos pelas terras da Judeia e da Samaria, exceto os apóstolos.

2 — E uns varões piedosos foram enterrar Estêvão e fizeram sobre ele grande pranto.

3 — E Saulo assolava a igreja, entrando pelas casas; e, arrastando homens e mulheres, os encerrava na prisão.

4 — Mas os que andavam dispersos iam por toda parte anunciando a palavra.

5 — E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo.

6 — E as multidões unanimemente prestavam atenção ao que Filipe dizia, porque ouviam e viam os sinais que ele fazia,

7 — pois que os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados.

8 — E havia grande alegria naquela cidade.

12 — Mas, como cressem em Filipe, que lhes pregava acerca do Reino de Deus e do nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres.

13 — E creu até o próprio Simão; e, sendo batizado, ficou, de contínuo, com Filipe e, vendo os sinais e as grandes maravilhas que se faziam, estava atônito.

14 — Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João,

15 — os quais, tendo descido, oraram por eles para que recebessem o Espírito Santo.

 1. INTRODUÇÃO

A igreja primitiva, mesmo em meio à perseguição, não recuou diante das dificuldades, mas se espalhou e continuou a anunciar com poder o Evangelho de Cristo. Deus usou até mesmo o sofrimento para expandir sua obra, cumprindo a promessa de Atos 1.8.

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Apresentar como a perseguição contribuiu para a expansão da igreja primitiva; II) Expor a centralidade de Cristo e da Palavra de Deus na evangelização realizada pela Igreja; III) Enfatizar o papel da Igreja em apoiar e discipular os novos convertidos.

B) Motivação: Vivemos tempos em que a igreja enfrenta desafios e pressões externas, mas, assim como na igreja primitiva, essas situações podem ser oportunidades para crescimento e testemunho.

C) Sugestão de Método: Para iniciar a lição de forma significativa, o professor pode utilizar o método da pergunta provocativa para estimular a reflexão. Pergunte à classe: “O que você faria se, por causa da sua fé, fosse forçado a deixar sua casa e sua cidade?”. Após ouvir algumas respostas voluntárias, conduza a classe a pensar sobre como a igreja primitiva reagiu diante da perseguição: não com medo ou silêncio, mas com ousadia e fé.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: Assim como a igreja primitiva, sejamos fiéis em anunciar Cristo em qualquer circunstância, confiando no poder do Espírito e na direção da Palavra.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 102, p.41, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “Deus usa as Circunstâncias”, ao final do primeiro tópico, amplia a reflexão a respeito da perseguição e sua influência para os cristãos saírem de Jerusalém; 2) O texto “Orando para receber o Espírito Santo”, localizado depois do terceiro tópico, aprofunda a respeito do Batismo no Espírito Santo como completude do discipulado cristão.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO 

Nesta semana, vamos estudar como a Igreja foi dispersa por causa de uma grande perseguição. Até então, os cristãos estavam concentrados em Jerusalém e não tinham avançado na missão de espalhar o Evangelho. Mas tudo mudou quando Estêvão, um dos sete escolhidos para servir, foi morto por causa de sua fé. Na verdade, Jesus já havia predito em Atos 1.8 que os cristãos seriam espalhados pelo mundo para anunciar a sua mensagem. Muitas vezes, Deus usa circunstâncias para cumprir seus propósitos. Foi isso que aconteceu com a igreja em Jerusalém: mesmo sofrendo uma grande perda e tendo de sair da cidade, os cristãos não fugiram derrotados. Pelo contrário, eles continuaram firmes, levando as Boas-Novas para outras pessoas.

Palavra-Chave:

EVANGELIZAÇÃO

AUXÍLIO VIDA CRISTÃ

DEUS USA AS CIRCUNSTÂNCIAS

 “A perseguição forçou os cristãos a saírem de Jerusalém e seguirem para a Judeia e Samaria, cumprindo deste modo a segunda parte da ordem de Jesus (1.8). [...] Às vezes, Deus nos faz sentir incomodados para que mudemos. Talvez não desejemos experimentar tal sensação, mas o desconforto pode ser benéfico para nós, porque Deus pode trabalhar através de nossa dor. Quando você for tentado a reclamar sobre as circunstâncias incômodas ou dolorosas, pare e pergunte se não seria Deus, preparando-lhe para uma tarefa especial.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, pp.1493,1494).

AUXÍLIO BIBLIOLÓGICO 

 

ORANDO PARA RECEBER O ESPÍRITO SANTO

 “O Espírito Santo, no entanto, ‘sobre nenhum deles tinha ainda descido’ [Os Samaritanos] (isto é, eles ainda não haviam sido batizados no Espírito Santo), desde a aceitação de Cristo e do batismo nas águas, como testemunho de sua decisão de seguir a Cristo [...]. Depois de algum tempo, Pedro e João vieram a Samaria e oraram para que os samaritanos recebessem o Espírito Santo (vv.14,15). Houve um intervalo definido entre a sua salvação espiritual (que veio pela fé em Cristo) e o seu recebimento do batismo no Espírito Santo (vv.16,17; cf. 2.4). A maneira como os samaritanos receberam o Espírito Santo seguiu o modelo da experiência dos discípulos de Jesus, no Pentecostes.” (Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global. Rio de Janeiro: CPAD, 2022, p.1949).

SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

A EXPANSÃO DA IGREJA

  Honrado(a) professor(a), a paz do Senhor. Nesta lição, veremos como a perseguição aos cristãos da igreja primitiva teve efeito diferente daquele que as autoridades políticas e religiosas pensavam alcançar (At 4.16-18). Em vez de a igreja recuar, a história de Atos vai nos mostrar que a perseguição resultou na dispersão de muitos cristãos por várias regiões além dos muros de Jerusalém (At 11.19). O interessante é que a igreja reagiu à forma como foi perseguida com muita coragem e resiliência. Embora afligida em razão da morte de um de seus mais ilustres irmãos, a igreja se manteve unida e comprometida com a pregação do Evangelho. Essa postura revela uma igreja consolidada na Palavra e cheia do Espírito Santo.

  A história vai mostrar que foi em meio ao período de maior aflição que a igreja alcançou seu maior crescimento. Quanto mais renhida a peleja, maior era a fidelidade da igreja à mensagem do Reino e, por isso, ocorriam tantas conversões, milagres e libertações (At 5.12-16). Isso se deve ao fato de que a pregação não se baseava em discursos de autoajuda ou prosperidade material, mas na mensagem da cruz. Nesse sentido, a igreja da atualidade tem muito a aprender com os primeiros irmãos.

  Bíblia de Estudo Pentecostal — Edição Global (CPAD), discorre que “tragicamente, depois de concluído o período registrado no Novo Testamento e depois da morte dos líderes originais da igreja, ela começou a se distanciar da revelação original de Deus. Os líderes da igreja começaram a modificar o modelo celestial de Deus, passando a estar em conformidade com os padrões mundanos e se adaptando excessivamente à cultura que estava a sua volta. Eles começaram a estruturar a sua organização, de acordo com ideais e propósitos humanos. Isto resultou na disseminação de ideias e padrões feitos pelo homem para a igreja. Se a igreja de Jesus Cristo desejar receber, outra vez, todo o plano, poder e presença de Deus, então o povo de Deus, como um todo, deve se afastar de seus próprios caminhos e aceitar o padrão do Novo Testamento, como modelo atemporal de Deus para a sua igreja” (2022, p.1948).

  Portanto, a igreja deve se expandir pelo poder do Espírito e pela essência da Palavra de Deus, e não por modismos ou aconselhamentos de coachs das redes sociais, como se a vida se resumisse a um grande empreendimento terreno. Sabemos que uma vida próspera espiritualmente é resultado da obediência aos princípios e valores da Palavra de Deus. Se a igreja na atualidade quiser experimentar novamente do poder de Deus nos moldes da igreja primitiva, será necessário voltar às práticas das primeiras obras (Ap 2.5).

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos como o Evangelho se espalhou rapidamente após a perseguição contra a Igreja. Isso só aconteceu porque a mensagem cristã tinha um foco claro: a Palavra de Deus e a cruz de Cristo. Sem Cristo e sem a Bíblia, não há Evangelho. A Bíblia não destaca os métodos que Filipe usou para evangelizar Samaria, mas enfatiza o poder do Espírito Santo e da Palavra de Deus. Esse é o exemplo que devemos seguir.

    CPAD : A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

Comentarista: José Gonçalves

Lição 10: A expansão da Igreja

 

 

J

á temos escrito bastante sobre a perseguição aos cristãos de Jerusalém. Desde o seu início, a Igreja enfrentou questiona mentos, oposição e perseguição. Quando a Igreja nasce no Pentecostes, os curiosos presentes já apresentavam os seus primeiros questionamentos: “Que quer isto dizer?” (At 2.12). A fé cristã nasce chamando a atenção e provocando interrogações. A medida que a Igreja crescia e aumentava a sua influência, passou a ser vista como uma nova concorrente da fé já estabelecida. Isso porque mais e mais pessoas agregavam-se à nova doutrina. Os cris tãos passaram, então, a ser invejados pelo judaísmo. A fé que era admirada passa, agora, a ser contestada.

   A perseguição, portanto, sempre esteve presente na História da Igreja. A missão “Portas Abertas”, que se dedica a ajudar cristãos perseguidos em todo o mundo, destaca que:

   A perseguição, como temos visto, nunca se afastou da igreja. Certamente, para os que viveram durante as primeiras ondas de perseguição que varreram a história eclesiástica, ser perseguido parecia fazer parte normal da vida cristã. De fato, a perseguição tem acompanhado a história da igreja, mas ela vem e vai como o movimento das ondas do mar. Os períodos de “tolerância” foram conseguidos a duras penas, seguidos inevitavelmente por novos ataques, tanto por forças de fora da igreja ou, tragicamente, de dentro dela própria. Nós, no Ocidente, no início do terceiro milênio, temos desfrutado de um longo período de liberdade religiosa. A história, no entanto, nos ensina que não há garantia de que essa liberdade continue.1

   No capítulo 8 de Atos, temos, na verdade, o que poderiamos chamar de as consequências ou efeitos da perseguição. Estêvão já havia sido martirizado por conta da sua fé, e os cristãos estavam sendo espalhados por toda parte. A igreja expande-se, mas não de forma voluntária e organizada. Até então, nenhum plano de evangelismo ou implantação de igreja havia sido discutido com vistas ao cumprimento da Grande Comissão. O projeto “confins da terra” (At 1.8) ainda não havia saído do papel.

   Tudo isso mudou com a morte de Estêvão e o consequente aumento e expansão da perseguição. Aqui, precisamos chamar a atenção para um fato: embora a incursão evangelística dos cristãos que saíram de Jerusalém não tenha sido organizada nem planejada, mas motivada pela perseguição, não há nenhuma dúvida de que Deus usou essa circunstância para a expansão do seu Reino. No contexto bíblico, esse fato é de fácil verificação. José do Egito, por exemplo, tinha consciência de que o Senhor havia usado circunstâncias adversas para a preservação do seu próprio povo: “Pelo que Deus me enviou adiante de vós, para conservar vossa sucessão na terra, e para guardar-vos em vida por um grande livramento” (Gn 41.7). O Senhor agiu com Ester da mesma forma (Et 4.14).

   Justo González chama a atenção, por exemplo, sobre como Deus usou as circunstâncias para que o evangelho tivesse um tremendo impacto na evangelização de marginalizados e dependentes químicos na cidade norte-americana de Nova York.

   Assim escreve González:

   Em uma grande cidade dos Estados Unidos, três ou quatro dependentes químicos começam a visitar uma pequena igreja latina. O pastor e os membros da igreja lhes dão as boas- vindas, pois o evangelho os ensinou a fazer isso, mas eles não se preocupam em saber quem são eles nem de onde vêm. Contudo, os vizinhos ficam preocupados. Alguns deles que sempre se opuseram à igreja começam a dizer que, agora, a igreja está sendo usada para o tráfico de drogas. A polícia intervém. Há investigações. O pastor é levado para a delegacia e é interrogado. Durante todo o processo, o pastor e diversos membros da igreja começam a questionar sobre o tráfico de drogas no bairro e, em especial, sobre a vida dos três ou quatro cuja presença na igreja levantou a suspeita inicial. Aos poucos, eles ficam cada vez mais interessados na questão. No fim, como resultado de um conflito muito doloroso, eles têm na igreja um centro para recuperação de viciados em drogas e compram uma casa vizinha na qual fornecem abrigo para alguns de seus clientes. Por meio desse ministério, essa pequena igreja recebe nova vida e torna-se um centro de renovação e de esperança em sua comunidade. Muitos dos que apresentaram a acusação inicial ainda demonstram hostilidade em relação à igreja, mas mesmo inconscientemente, eles foram usados pelo Espírito Santo para ajudar essa igreja a descobrir a vontade de Deus.2

  Outro fato que nos chama a atenção é que, embora, os crentes tenham se dispersado, não perderam a motivação por conta disso. O alvo de uma perseguição religiosa é sempre intimidar, dispersar e acabar com a fé concorrente. Há uma pressão social e psicológica que é posta sobre os perseguidos. Geralmente, as perseguições, de alguma forma, acabam calando a voz ou arrefecendo a fé dos perseguidos. Muitos que são perseguidos perdem o ânimo e acabam silenciados. Isso, contudo, não acontece com a Igreja de Jerusalém. Expulsos dos seus habitats, aqueles cristãos difundiam a fé por onde iam. A igreja estava dispersada, mas não fragmentada. Cada cristão era um foco de avivamento. Continuavam enlutados, mas não desesperados! Estavam motivados e inspirados a pregar o poderoso nome de Jesus.

   E aqui que entra um personagem que se tornará central na história de expansão da Igreja de Jerusalém — Filipe, um dos sete escolhidos para a diaconia. Assim como Estêvão, Filipe também era um homem de boa reputação, cheio do Espírito Santo e de sabedoria (At 6.3). Sem essas qualificações, nenhum obreiro é aprovado por Deus. Nem Estêvão nem Filipe faziam parte do colégio apostólico, nem tampouco do presbitério. Eles faziam parte da diaconia da Igreja. Deus usava os apóstolos e presbíteros, mas não só eles. Os serviçais também eram instrumentos poderosos do seu Espírito. De fato, o Espírito foi derramado sobre toda a carne, sem exceções (At 2.17). Por esse tempo, a atenção não estava voltada para o oficio ou o cargo, mas na pessoa e função a que exercia. Ali, como deve ser, era a unção que determinava o ofício, e não o contrário.

   Pois bem, o ministério de Filipe move-se em três eixos: (1) o eixo logocêntrico, (2) o eixo cristocêntrico e (3) o eixo pneumodinâmico. Isso quer dizer que o ministério dele era centralizado na Palavra de Deus, na cruz de Cristo e no poder do Espírito Santo. E possível ver com clareza no capítulo 8 de Atos essas três dimensões do ministé rio de Filipe. E exatamente por estar firmado nesse tripé teológico que o ministério de Filipe contribuiu extraordinariamente para a expansão da Igreja.

   I. Um Ministério Logocêntrico

   Filipe foi um dos dispersos que ia “por toda parte anunciando a palavra” (At 8.4). O seu ministério em Samaria teve por fundamento a Palavra de Deus: “Os apóstolos, pois, que estavam em Jerusalém, ouvindo que Samaria recebera a palavra de Deus, enviaram para lá Pedro e João” (At 8.14). O seu ministério, portanto, era logocêntrico. Já pudemos observar que a ênfase na pregação da Palavra de Deus é um tema recorrente no livro de Atos dos Apóstolos. Pedro já havia dito que a pregação da Palavra era prioridade dos apóstolos (“Mas nós perseveraremos na oração e no ministério da palavra”, At 6.4) e orado pedindo que Deus concedesse a eles a ousadia necessária para pregar a Palavra (“[...] concede aos teus servos que falem com toda a ousadia a tua palavra”, At 4.29). Se firmarmos nossa pregação e ministério na Palavra de Deus, então não tem como as coisas não darem certo. Tudo que tem como base a Palavra do Senhor funciona. A Palavra de Deus não volta vazia: “Assim será a palavra que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia; antes, fará o que rne apraz e prosperará naquilo para que a enviei” (Is 55.11).

   Um fato a ser destacado na pregação de Filipe era o seu conteú do. O texto afirma que Filipe “pregava acerca do Reino de Deus” (At 8.12). O Reino deve estar no centro da pregação. No livro de minha autoria, 0 Corpo de Cristo (CPAD, 2024), chamei a atenção para os aspectos presente e futuro do Reino de Deus. Sobre o aspecto presente, escreví:

   O Reino de Deus no seu aspecto presente já pode ser sentido. Isso fica claramente demonstrado na resposta de Jesus aos fariseus que o acusaram de estar possuído por Belzebu quando Ele libertava um oprimido pelo Diabo. Naquela passagem bíblica, Jesus assegurou que a libertação do endemoninhado era uma prova cabal da presença do Reino entre eles (Mt 12.28). Assim também, inúmeras outras Escrituras destacam o Reino de Deus como uma realidade presente como, por exemplo, Colossenses 1.13.3

   Jesus viera implantar o Reino de Deus e ele já era uma realidade presente. O ministério de Filipe em Samaria era uma demonstração dessa verdade:“[...] os espíritos imundos saíam de muitos que os tinham, clamando em alta voz; e muitos paralíticos e coxos eram curados” (At 8.7). O evangelho é a promessa de cura da alma, mas também do corpo (Is 53.4,5; Mt 8.16,17). A doença, evidentemente, é um subproduto do pecado, isto é, uma consequência dele.

   II. Um Ministério Cristocêntrico

   A centralização em Cristo do ministério de Filipe é claramente demonstrada no texto bíblico em Atos 8.5 (“E, descendo Filipe à cidade de Samaria, lhes pregava a Cristo”) e em Atos 8.12 (“Mas, como cres sem em Filipe, que lhes pregava acerca do [...] nome de Jesus Cristo, se batizavam, tanto homens como mulheres”). Pregar a Cristo e o nome dEle é pregar tudo o que Cristo é e representa. A pregação no contexto da Igreja Primitiva era centrada na cruz de Cristo e tinha como tema central a sua morte, ressurreição e glorificação. Tanto os apóstolos como os demais crentes demonstravam nas suas vidas e testemunhos que Jesus Cristo continuava vivo! A cura dos doentes e a libertação dos oprimidos pelo Diabo em solo samaritano por meio da pregação de Filipe eram uma prova incontestável de que Jesus Cristo havia ressuscitado.

   III. Um Ministério Pneumodinâmico

   Outro eixo da pregação de Filipe estava fixado nos carismas do Espírito. Era movido pela força do Espírito Santo. Filipe curava os enfermos e expulsava os demônios mediante o poder do Espírito Santo. Simão, o mágico, que se convertera por meio do ministério de Filipe, queria esse poder: “Dai-me também a mim esse poder” (At 8.19). Ele ficou impressionado com a unção do Espírito na vida e ministério de Filipe (At 8.13).

   Joseph Fitzmyer destaca que:

   O Espírito de Deus não somente será responsável pela instru ção dos apóstolos e outros discípulos, senão que desempenhará um papel no desenvolvimento da narração sobre a propaga ção da Palavra de Deus desde Jerusalém até “os confins da terra” (1.8). Em Atos há somente poucos capítulos nos quais a influência do Espírito não se faz, de algum modo, patente. O Espírito aparece pela primeira vez em 1.2 e logo cinquenta e seis vezes mais. Lucas ressalta assim a ação do Espírito, já desde o começo dos Atos, como a força-motriz que impulsiona o período da igreja (cf 9.31). Já havia sido descrito de maneira semelhante no período de Israel e especialmente no começo do período de Jesus. O Espírito se converte agora no motor da narração que vai se desenvolver. Assim, Atos se apresenta como a continuação da história de Jesus do Evangelho lucano e ressalta a continuidade do que havia começado no ministério terreno de Jesus e da igreja cristã, iniciada por instrução dos apóstolos do Cristo ressuscitado mediante o Espírito Santo.4

   Sem a capacitação do Espírito Santo na vida e ministério de Filipe, a entrada do evangelho em Samaria não teria tido tanto efeito. O Espírito de Deus, portanto, foi a grande força-motriz que impulsionou a Igreja na sua missão.

  A Supervisão Apostólica

   Observe este texto de uma carta missionária: “...Acabo de receber uma carta do irmão G. Sandberg, com um cheque de 400 francos, que ele foi instruído por você a enviar.

   Muito obrigado por ele. Deus o abençoe e a todos os seus amigos. O Senhor os recompensará ricamente por tudo quando vier. Nós sempre compartilhamos fraternalmente com os outros que servem na vinha, com todos os recursos que o Senhor nos dá. Acabei de chegar em casa depois de uma viagem. Estive ausente por dois meses. O Senhor estava conosco e nos abençoou de maneira maravilhosa, glória seja dada ao seu nome. O primeiro lugar que visitamos foi Afuá, uma pequena cidade, a quatro dias de barco do Pará. Fica mos lá por um mês testificando do Senhor e, durante esse tempo, 13 almas se renderam a Jesus e foram batizadas nas águas. Jesus também veio e batizou um irmão com seu Espírito Santo, e ele falou em novas línguas, que o Espírito lhe deu para falar. Esse irmão foi então escolhido para liderar a missão naquele lugar. Ore por ele...”.5

   Esse texto foi extraído de uma carta que foi enviada pelo missionário assembleiano Daniel Berg para o pastor escandinavo O. L. Bjõrk e foi publicada no periódico sueco Brudgummens Rõst em julho de 1915. Nessa época, Berg estava radicado em Belém, PA, de onde partia para alcançar outros municípios do estado. Observamos a gratidão de Berg pelo suporte espiritual e apoio financeiro que recebia da igreja sueca. Algo parecido com isso aconteceu em Samaria, quando a igreja de Jerusalém soube que Samaria havia recebido a Palavra de Deus e enviou dois dos seus membros para darem suporte ao evangelista e apoiar os recém-convertidos. É assim que uma igreja comprometida com a evangelização e discipulado faz.

          126 | A Igreja em Jerusalém


quinta-feira, 28 de agosto de 2025

CPAD : A Igreja em Jerusalém — Lição 9: Uma Igreja que se arrisca

 


TEXTO ÁUREO

Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus.

(At 7.55).

VERDADE PRÁTICA

A igreja foi capacitada por Deus para enfrentar um mundo que é hostil à sua fé e valores.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 6.8-15; 7.54-60.

Atos 6

8 — E Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo.

9 — E levantaram-se alguns que eram da sinagoga chamada dos Libertos, e dos cireneus, e dos alexandrinos, e dos que eram da Cilícia e da Ásia, e disputavam com Estêvão.

10 — E não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava.

11 — Então, subornaram uns homens para que dissessem: Ouvimos-lhe proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus.

12 — E excitaram o povo, os anciãos e os escribas; e, investindo com ele, o arrebataram e o levaram ao conselho.

13 — Apresentaram falsas testemunhas, que diziam: Este homem não cessa de proferir palavras blasfemas contra este santo lugar e a lei;

14 — porque nós lhe ouvimos dizer que esse Jesus Nazareno há de destruir este lugar e mudar os costumes que Moisés nos deu.

15 — Então, todos os que estavam assentados no conselho, fixando os olhos nele, viram o seu rosto como o rosto de um anjo.

 

Atos 7

54 — E, ouvindo eles isto, enfureciam-se em seu coração e rangiam os dentes contra ele.

55 — Mas ele, estando cheio do Espírito Santo e fixando os olhos no céu, viu a glória de Deus e Jesus, que estava à direita de Deus,

56 — e disse: Eis que vejo os céus abertos e o Filho do Homem, que está em pé à mão direita de Deus.

57 — Mas eles gritaram com grande voz, taparam os ouvidos e arremeteram unânimes contra ele.

58 — E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam. E as testemunhas depuseram as suas vestes aos pés de um jovem chamado Saulo.

59 — E apedrejaram a Estêvão, que em invocação dizia: Senhor Jesus, recebe o meu espírito.

60 — E, pondo-se de joelhos, clamou com grande voz: Senhor, não lhes imputes este pecado. E, tendo dito isto, adormeceu.

PLANO DE AULA

1. INTRODUÇÃO

Nesta lição, estudaremos a vida e o testemunho de Estêvão, um homem cheio de fé, de sabedoria e do Espírito Santo. Ele enfrentou oposição, falsas acusações e, por fim, o martírio, mas permaneceu firme na fé e na defesa do Evangelho. Sua história nos ensina que a Igreja, ao cumprir sua missão, inevitavelmente enfrentará perseguições e desafios. No entanto, assim como Estêvão contemplou a glória de Deus mesmo em meio à adversidade, somos chamados a confiar plenamente no Senhor e a perseverar até o fim. Que esta lição fortaleça nossa fé e nos inspire a ser testemunhas fiéis de Cristo, independentemente das circunstâncias.

 

2. APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO

A) Objetivos da Lição: I) Elencar os desafios enfrentados por Estêvão ao ter sua fé questionada e como isso reflete na experiência da Igreja hoje; II) Mostrar a defesa da fé feita por Estêvão e sua aplicação para os cristãos na atualidade; III) Refletir sobre o martírio de Estêvão e a importância da perseverança e fidelidade à missão da Igreja.

B) Motivação: Ao longo da história, a Igreja sempre enfrentou oposição, mas, assim como Estêvão, somos chamados a permanecer firmes na fé. A verdade do Evangelho será contestada, e nossa responsabilidade é conhecer, defender e viver essa fé com coragem. Diante das dificuldades, devemos lembrar de que nosso compromisso com Cristo pode exigir sacrifícios, mas a fidelidade a Ele nos garante a vitória eterna. Que esta lição nos motive a confiar no Senhor e testemunhar o Evangelho com ousadia.

C) Sugestão de Método: Para reforçar o tópico 1, “Estêvão e a Igreja que tem sua fé contestada”, você pode utilizar o método de reflexão dirigida. Inicie apresentando um cenário em que a fé cristã é questionada atualmente, como nas redes sociais, no ambiente acadêmico ou no trabalho. Peça que os alunos discutam desafios que enfrentam ao defender sua fé. Em seguida, oriente-os a relacionar essas experiências com a história de Estêvão, destacando sua postura diante da oposição. Após a discussão e reflexão, escolha alguns alunos para compartilhar suas conclusões e, logo depois, você reforçará que, assim como Estêvão, devemos responder com sabedoria, graça e firmeza na Palavra de Deus.

3. CONCLUSÃO DA LIÇÃO

A) Aplicação: A história de Estêvão nos ensina que a fé genuína permanece firme, mesmo diante da oposição. Assim como ele, devemos confiar em Deus, defender o Evangelho com coragem e viver de modo que Cristo seja visto em nós. Sua vida e morte nos mostram que o verdadeiro testemunho cristão vai além das palavras. Mesmo em meio ao sofrimento, Estêvão refletiu a glória de Deus e perdoou seus perseguidores com graça, verdade e ousadia.

4. SUBSÍDIO AO PROFESSOR

A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 102, p.40, você encontrará um subsídio especial para esta lição.

B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula: 1) O texto “Estêvão”, localizado depois do segundo tópico, aprofunda um pouco a respeito das características de Estêvão; 2) No final do terceiro tópico, o texto “Honrando a Deus” analisa a forma que podemos ser fiéis ao Senhor sem duvidar.

COMENTÁRIO

INTRODUÇÃO

Na lição de hoje vamos conhecer um pouco mais sobre a vida de Estêvão, um dos sete escolhidos para a diaconia (At 6.1-7). Quando lemos esse texto do Livro de Atos, logo percebemos que estamos diante de uma pessoa extraordinária — de grande fé, cheio do Espírito Santo e de sabedoria. Um autêntico cristão destemido! Estêvão é um modelo para todo cristão e, sem dúvida, serve de modelo para a Igreja do Senhor. Observamos que a perseguição a Estêvão e seu consequente martírio marcam um momento decisivo na história da igreja cristã — quando a igreja sai para fora dos muros de Jerusalém para alcançar o mundo. Estava tendo, portanto, cumprimento das palavras de Jesus de que a Igreja seria testemunha tanto em Jerusalém, Judeia, Samaria e até os confins da terra. Atos 8.1 marca o início daquilo que foi anunciado em Atos 1.8.

Palavra-Chave:

MARTÍRIO

AUXÍLIO VIDA CRISTÃ

“ESTÊVÃO, além de ser um bom administrador, foi também um poderoso orador. Quando confrontado no Templo por vários grupos antagônicos ao Cristianismo, usou uma lógica convincente para refutá-los. Isto está claro na defesa da fé que ele fez diante do Sinédrio. Estêvão apresentou um resumo da história dos judeus e fez poderosas aplicações das Escrituras, o que atormentou seus ouvintes. Durante seu discurso, ele provavelmente percebeu que estava redigindo sua sentença de morte. Os membros do Sinédrio não podiam suportar que suas motivações ‘malignas’ fossem expostas. Apedrejaram Estêvão até à morte enquanto ele orava pedindo que o Senhor os perdoasse. As palavras finais do discípulo demonstram o quanto se tornou parecido com Jesus em pouco tempo. A morte de Estêvão causou um duradouro impacto sobre o jovem Saulo de Tarso, que deixou de ser um violento perseguidor dos cristãos para tornar-se um dos maiores defensores e pregadores do evangelho que a Igreja já conheceu.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p.1490).

AUXÍLIO VIDA CRISTÃ

HONRANDO A DEUS

 “Estêvão viu a glória de Deus e Jesus, o Messias, à direita do Pai. As palavras do discípulo foram semelhantes às de Jesus diante do Sinédrio (Mt 26.64; Mc 14.62; Lc 22.69). A visão de Estêvão apoiava a reivindicação de Jesus; ela irritou os líderes judeus que condenaram Jesus à morte por blasfêmia. Por não tolerarem as palavras de Estêvão, mataram-no. Talvez as pessoas não nos matem por testemunharmos a respeito de Cristo, mas podem deixar claro que não desejam ouvir a verdade e tentar nos calar. Continue honrando a Deus por meio de sua conduta e de suas palavras; embora muitos possam rebelar-se contra você e sua mensagem, alguns seguirão a Cristo. Lembre-se de que a morte de Estêvão causou um profundo impacto na vida de Paulo, que mais tarde se tornou o maior missionário cristão. Mesmo aqueles que se opõem a você agora, podem mais tarde se voltar para Cristo.” (Bíblia de Estudo Aplicação Pessoal. Rio de Janeiro: CPAD, 2013, p.1492).

 SUBSÍDIOS ENSINADOR CRISTÃO

 UMA IGREJA QUE SE ARRISCA

  Amigo(a) professor(a), a paz do Senhor. A lição desta semana pretende ensinar o que torna uma igreja destemida e disposta a sacrificar-se em favor da causa do Reino de Deus. Estevão é apresentado na lição como um exemplo de cristão sólido na fé, fundamentado nas Escrituras Sagradas e que enfrentou o ódio dos perseguidores judeus helenistas. Mesmo diante das ameaças, assim como do ultraje sofrido pelas mãos de seus algozes, ele não sucumbiu na fé, mas foi fiel até à morte (At 6.8 — 7.60). O exemplo de Estevão nos ensina muitas lições e nos encoraja a perseverar na fé, mesmo sob incessantes ataques. Uma lição importante se destaca na circunstância em que Estevão se encontrava. Ele soube manter uma postura apologética, isto é, de defesa da fé cristã do início até o fim. Isso se deve em razão do seu profícuo conhecimento sobre o que professava, bem como de sua disposição para responder aos desafios decorrentes de ser um seguidor de Jesus.

  A igreja de Cristo na atualidade deve seguir o modelo de defesa da fé observado em Estevão. Os crentes devem conhecer profundamente a fé que professam. A dificuldade que muitas igrejas têm em relação à defesa da fé se deve ao fato de que muitos irmãos não são frequentadores assíduos da Escola Dominical. Jesus afirmou que as Sagradas Escrituras deveriam ser examinadas a fim de conhecermos os fundamentos da fé que nos mostram o trajeto à vida eterna (Jo 5.39). Portanto, conhecer as Escrituras é primordial para que o crente não seja levado por qualquer vento de doutrina (Ef 4.14,15). Outro aspecto importante é a disposição para defesa da fé. Se o conhecimento bíblico é indispensável, a prontidão por defender o que se acredita, quando se é questionado sobre a razão da fé, requer o preparo espiritual e intelectual.

  Na obra Razões para crer, editada pela CPAD, os autores Norman L. Geisler e Chad V. Meister discorrem que “a Bíblia diz que devemos fazer o que for preciso para estarmos preparados para dar uma resposta clara e abalizada. Primeira Pedro 3.15 diz: ‘Estai sempre preparados para responder com mansidão e temor a qualquer que vos pedir a razão da esperança que há em vós’. Neste versículo, a palavra grega original traduzida por ‘responder’ é apologia, que significa ‘um discurso de defesa’. É de onde vem a palavra apologética, que é uma defesa explicada e interpretada da nossa fé” (2013, p.16). Devemos estar preparados para defender a doutrina bíblica pentecostal, afirmando e reafirmando a atualidade do batismo no Espírito Santo e dos dons espirituais. As obras Bíblia de Estudo PentecostalDeclaração de Fé das Assembleias de Deus e Teologia Sistemática de Stanley M. Horton, por exemplo, oferecem bastante apoio nesse sentido.

CONCLUSÃO

Estêvão, um dos sete escolhidos para o trabalho social da primeira igreja, representa o modelo de uma igreja verdadeiramente bíblica. Qualificado, cheio de fé e do Espírito Santo, não teme se posicionar diante de um mundo e de uma cultura contrários. Não teme o sofrimento e nem mesmo a morte na defesa daquilo que acredita e prega. É o modelo de uma igreja, que em vez de ficar no seu conforto, vai até as últimas consequências, arriscando-se pelo seu Senhor.

    CPAD : A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições

Comentarista: José Gonçalves

Lição 9: Uma Igreja que se arrisca

 

 

T

odos nós gostamos de ler sobre a vida de homens e mulheres que, de alguma forma, impactaram as suas gerações com a sua vida e testemunhos. Temos na História da Igreja muitos exemplos que são inspiradores. Eles certamente nos emocionam, impactam e também nos desafiam. Lembro-me de como o livro Heróis da Fé, escrito pelo missionário pentecostal Orlando Boyer, teve impacto no início de minha fé.1 Ao ler, por exemplo, a história de D. L. Moody, não pude conter as lágrimas.1 2 Somam-se a eles os nomes de mulheres também extraordinárias. Quem não se emociona com o testemunho de Susanna Wesley, mãe do gigante e pai do metodismo, John Wesley? O que dizer de Betsy Moody, sobre quem o seu notável filho, D. L. Moody, disse publicamente ter feito por ele “mais do que qualquer outro ser na Terra”?

   No contexto bíblico, os exemplos multiplicam-se. Quem não se emociona, por exemplo, com a história de José do Egito? Lembro- -me dos longínquos anos 1980 quando meu velho pai, Antônio Gonçalves da Costa, ainda vivia. Bem no início de minha fé, eu abria a Bíblia e lia para ele ouvir a história de José do Egito. Mesmo ainda não tendo confessado a Cristo como Senhor da sua vida, eu via as lágrimas rolando pela sua face. Com a voz carregada de emoção, meu pai dizia: “Esse aí era um homem de verdade”. Não muito tempo depois disso, meu pai confessou a Cristo como Senhor da sua vida, exemplo que posteriormente foi seguido por minha mãe, de saudosa memória, Geni Fausto Gomes. Esse é o resultado do testemunho de homens de fé.

  Estêvão, um Homem de Deus

  E fácil constatar que existem dezenas de personagens na Bíblia que inspiram nossa fé tanto no Antigo como no Novo Testamento.3 No Novo Testamento, Estêvão, um dos sete diáconos da Igreja Primitiva, é um deles.4 5 A história de- Estêvão, de fato, é impactante e fascinante ao mesmo tempo.3 Lucas, o escritor de Atos dos Após tolos, reservou uma boa parte do seu livro para tratar sobre ele. O historiador Justo González6 teve a curiosidade de verificar que 5% de todo o conteúdo de Atos dos Apóstolos é reservado para a história de Estêvão. A sua importância e influência, portanto, não podem ser diminuídas. O seu exemplo de fé, ousadia e coragem, sem sombra de dúvida, tipifica a igreja que se arrisca no seu testemunho de Cristo.

   A Falsa Narrativa

   Um fato que logo se destaca na narrativa lucana sobre Estêvão é que ele não se limitou a cuidar da parte social da igreja. O seu testemunho também se estendeu para a esfera evangelística, esta com muito mais notoriedade e visibilidade. A Bíblia diz que “Estêvão, cheio de fé e de poder, fazia prodígios e grandes sinais entre o povo” (At 6.8). Foi essa capacidade de demonstrar o evangelho tanto em palavras como em obras, no poder do Espírito Santo, que causou grande impacto na comunidade judaica de Jerusalém. Motivados pela inveja, os adversários de Estêvão passaram a propagar muitas coisas negativas sobre o seu ousado testemunho. Isso, contudo, não o intimidou, pois “não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com que falava” (At 6.10). Não podendo calar a Estêvão, procuraram logo uma narrativa falsa para minar o seu testemunho e credibilidade. Assim, acusaram-no de “proferir palavras blasfemas contra Moisés e contra Deus” (At 6.11).

   De forma ardilosa, criaram uma narrativa em que Estêvão era posto como um adversário de Moisés. Justo González observa que essa é a primeira vez que esses líderes hostis à igreja conseguem trazer o povo para o lado dele. Nos levantes anteriores, não eram bem-sucedidos nos seus intentos porque a igreja tinha “a simpatia de todo o povo” (At 2.47, NAA). A falsa narrativa, entretanto, conseguiu influenciar o povo e colocá-lo contra Estêvão. Mesmo o acusando falsamente, o povo tinha de reconhecer que ele era um homem justo, puro e santo: “Olhando para ele, todos os que estavam sentados no Sinédrio viram que o seu rosto parecia o rosto de um anjo” (At 6.15, NVT).

   A Igreja vai ter sempre de enfrentar as falsas narrativas que engenhosamente são criadas contra ela. Não há como escapar disso. A Igreja está em oposição ao mundo e ao Diabo. À medida que avança, a Igreja torna-se uma ameaça ao reino do mal. As falsas narrativas são criadas para tentar minar o testemunho da Igreja. Karl Marx (1818-1883), por exemplo, via a religião como uma droga usada para alienar as pessoas da realidade; por outro lado, Friedrich Nietzsche (1844-1900) propagou que Deus estava “morto” não no sentido de que deixara de existir, mas que não fazia mais sentido acreditar nEle. Da mesma forma, Auguste Comte (1798-1857) propagou que as religiões estavam contaminadas de superstições e irracionalidades, sendo, portanto, necessário substituí-las por uma nova forma de crer e pensar — o positivismo lógico. Assim, o positivismo de Comte excluía qualquer manifestação sobrenatural, aceitando apenas o que pudesse ser provado cientificamente mediante dados observáveis. As narrativas criadas por Marx, Nietzsche e Contiveram enorme influência no mundo ocidental. Na verdade, as narrativas criadas por esses ideólogos moldaram a forma de crer, pensar e agir da cultura moderna e pós-moderna. Qual narrativa está em voga hoje ou está sendo criada para atacar a Igreja?

   A Mensagem

   Estêvão é considerado o primeiro apologista da igreja. Quando é chamado pelo Sinédrio para dar explicações das acusações que lhe foram feitas, Estêvão faz uma defesa memorável da fé cristã. E importante observarmos que Estêvão em nenhum momento demonstra estar intimidado pelas falsas acusações. A forma como conduz o seu discurso demonstra que não teme a perseguição e o sofrimento. Sobre isso, Gardner observa que:

   A resposta de Estêvão não representava uma tentativa de se livrar da perseguição ou do sofrimento; pelo contrário, foi uma magnífica confissão de sua fé em Cristo contra o pano de fundo do tratamento dispensado por Deus ao povo da Aliança através da história. O sermão realmente nos oferece uma “teologia bíblica” — um exame do Antigo Testamento à luz do advento de Cristo. Mostra um triste quadro de constantes escorregões por parte do povo de Deus e aponta a rejeição deles ao Messias prometido, como o trágico clímax de uma longa história de apostasia e desobediência (7.2-53).8

  Como já foi observado neste texto, o sermão de Estêvão é um dos mais longos da Bíblia. A sua exposição demonstra que Estêvão possuía um grande conhecimento da história e cultura do seu povo. Ele não apenas possuía um grande conhecimento teológico, como também sabia interpretar esses fatos à luz da profecia bíblica. Dessa forma, é possível observarmos claramente que a pregação de Estê vão pode ser dividida em três partes seguidas de uma conclusão. Na primeira parte, ele faz referência aos patriarcas (At 7.2-16); na segunda, a referência é a Moisés (At 7.17-42); e, na terceira, faz alusão ao Tabernáculo e ao Templo (At 7.44-50); na conclusão, Estêvão mostra Cristo, o Messias, como a convergência e cumprimento de todas as profecias bíblicas (At 7.51-60).

  Deus na História do seu Povo

  I. Os Patriarcas, Vivendo das Promessas de Deus

  “O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parmtela e dirige-te à terra que eu te mostrar” (At 7.2,3). Tudo começa com a chamada de Abraão, o grande patriarca hebreu. Deus chamou Abrão quando este estava em Ur dos caldeus, Mesopotâmia, antes de habitar em Harã. Saindo de Ur, Abrão foi habitar em Harã e posteriormente se deslocou até Canaã. Deus, contudo, “não lhe deu nela herança, nem ainda o espaço de um pé; mas prometeu que lhe daria a posse dela e, depois dele, à sua descendência, não tendo ele filho” (At 7.5). O ponto central aqui é que o chamado estava relacionado com uma promessa, e não com uma herança.

  Grant Osborne destaca que:

  No entanto, Estêvão deixa claro que o chamado de Abraão não implicava em receber uma herança, mas uma promes sa. (7.5). Como sabemos do livro de Êxodo, inclusive seus descendentes não viram seus pés na terra prometida antes de Josué. A herança era deles, mas era preciso confiar na promessa de Deus ao longo de gerações. Abraão fora um nômade durante toda sua vida e não tinha literalmente uma terra sequer para chamar de lar, mas apenas uma vaga ideia de uma futura “herança” que muito tardiamente viraria de sua posse, a terra que lhes pertencería. O problema é que quando Abraão recebeu essa promessa de herança e progê- nie, ele ainda não tinha filhos, de modo que foi preciso ter uma fé dupla, em uma terra futura e em futuros descendentes (12.2; 15.2.6) para habitar a terra. O ponto de Estêvão reside no fato de que o chamado de Abraão não era centrado na posse da terra, mas na promessa de uma futura herança.9

   Fica em relevo, portanto, que o povo de Deus é peregrino na sua caminhada e precisa manter os olhos fixos na promessa de Deus. Na verdade, a carta aos Hebreus vai revelar que o tão esperado descanso do povo de Deus não veio nem mesmo com a entrada do povo na Terra Prometida por meio da liderança de Josué, ficando assim demonstrado que o verdadeiro descanso era uma promessa a ser cumprida em Jesus. Esse fato mostra que a Igreja, como o povo de Deus, também é peregrina na sua jornada.

   II. Moisés, de Líder Rejeitado

       a Legislador Aprovado

  “E Moisés foi instruído em toda a ciência dos egípcios e era poderoso em suas palavras e obras [...] E ele cuidava que seus irmãos entenderíam que Deus lhes havia de dar a liberdade pela sua mão; mas eles não entenderam” (At 7.22,25). Estêvão faz uma síntese detalhada sobre a vida de Moisés, como sendo uma demonstração da soberania de Deus na história do seu povo. Na fala de Estêvão, fica claro que ele quer contrastar a forma como o seu antigo povo tratava com aqueles a quem Deus enviava e a forma como os líderes religiosos dos seus dias agiam. As duas eram marcadas pela rejeição aos mensageiros enviados por Deus. No passado, rejeitaram a Moisés; agora rejeitavam a Jesus.

  Grant Osborne destaca que:

  Israel é decididamente ingrato pelo que Moisés fizera. Ele pensava que seus irmãos entenderíam que Deus queria salvá-los por meio dele; eles, porém, não entenderam (7.25). Esse havia sido seu propósito, e ele esperava que seus irmãos reconhecessem isso. O grego tem “Deus estava dando-lhes a salvação por meio de sua mão”, olhando para Moisés como o salvador de Israel. Mas ele era rejeitado pelos próprios israelitas que o consideravam mais egípcio do que um hebreu, e, portanto, um inimigo. A ignorância dos israelitas e suas resultantes faltas de consciência espiritual é uma das marcas da fala de Estêvão [...] O relato de Êxodo diz que ele fugiu com medo da vingança do faraó, mas Estêvão considera que ele fugira pela rejeição dos israelitas, seu próprio povo. O homem personifica o povo hebreu como um todo, ao rejeitar Deus e seu escolhido mensageiro Moisés. Há, ainda, uma conexão tipológica aqui, pois a rejeição do povo contra Moisés é cumprida na rejeição de Jesus e também de Estêvão e dos seguidores de Cristo.1

   Em seguida, Estêvão faz referência ao Tabernáculo feito por Moisés e ao Templo construído por Salomão (At 7.44-50).

  III.  O lugar do Tabernáculo e do Templo

  NA HISTÓRIA DA REDENÇÃO

  O Templo era um local sagrado para os judeus. O que ele simbolizava ia muito além do que era visto na sua estrutura física. Deus habitava ali. Era o local do devoto encontrá-lo. Ao dizer que Deus “não habita em templos feitos por mãos de homens” (At 7.48), Estêvão selou o seu destino.

  Justo González observa que:

  No versículo 44, o discurso toma um novo rumo, o qual levará ao martírio de Estêvão. Nele, ele começa a atacar o templo e sua religião. Tudo que Israel tinha no deserto era a tenda do testemunho, construída de acordo com as instruções dadas por Deus a Moisés. O que Davi pediu para construir (7.46) ainda não era um templo, mas uma “habitação” ou tabernáculo. Depois, chega o momento em que, de acordo com Estêvão, Israel perdeu o seu caminho: “porém foi Salomão que construiu a casa de Deus” (7.47). De acordo com Estêvão, o Deus de Israel é um Deus peregrino, sempre marchando adiante do povo, que não pode ficar circunscrito a um único lugar. Acima de tudo o mais, Estêvão está convencido de que Deus “não habita em templos feitos por mãos humanas”.11

   Estêvão chega à conclusão da sua pregação acusando os seus compatriotas de rebeldia e dureza de coração. Eles, assim como os seus antepassados, sempre resistiram ao Espírito Santo (At 7.51-53). A história, portanto, repetia-se: ‘A qual dos profetas não perseguiram vossos pais? Até mataram os que anteriormente anunciaram a vinda do Justo [Jesus Cristo], do qual vós agora fostes traidores e homicidas” (At 7.52). Esse Jesus rejeitado era o Messias prometido!

   A pregação de Estêvão era por demais dura para ser ouvida. Eles “taparam os ouvidos” (At 7.57). Tapar os ouvidos era um gesto praticado por judeus que se consideravam piedosos para impedir que palavras de blasfêmias fossem ouvidas e entrassem nas suas mentes. Era preciso fazer Estêvão calar-se: “E, expulsando-o da cidade, o apedrejavam” (At 7.58). Mesmo sendo apedrejado, Estêvão não se calou: “Senhor Jesus, recebe o meu espírito” (At 7.59). Pelo seu Mestre e Senhor, Estêvão entregou a sua vida.

    Uma Igreja que se Arrisca | 117

   A Igreja em Jerusalém — Doutrina, Comunhão e Fé: a base para o crescimento da Igreja em meio às perseguições