Sumário
Introdução
1. O Início da
Caminhada
2. A Escolha entre a
Porta Estreita e a Porta Larga
3. O Céu: o Destino
do Cristão
4. Como se Conduzir
na Caminhada
5. Os Inimigos do
Cristão
6. As nossas Armas
Espirituais
7. O Perigo da
Murmuração
8. Confessando e Abandonando
o Pecado
9. Resistindo à
Tentação no Caminho
10. Desenvolvendo uma
Consciência de Santidade
11. A Realidade
Bíblica do Inferno
12. A Bendita
Esperança: a Marca do Cristão
Introdução
Sinto-me muito deslumbrado pela oportunidade
que mais uma vez me é facultada, a produção desta obra literária chamada A
Carreira que nos Está Proposta. Seus capítulos são muito relevantes, envolvendo
temáticas que delineiam o início de uma vida com Cristo, que se dá pelo novo
nascimento, ao seu epílogo, ser como Cristo é e chegar às mansões celestiais.
Ao longo do conteúdo que será exposto, compreenderemos que essa jornada é longa
e requer todo o cuidado necessário para não perdermos de vista o alvo (Fp
3.14), arrefecendo em nossa vida espiritual.
Nos capítulos propostos, procuramos matizar
diversas passagens bíblicas, desde o Antigo até o Novo Testamento, evidenciando
que é possível passarmos por vales, despenhadeiros, tempestades, desafios,
inimigos, decepções, abandono, perdas, ganhos, altos e baixos, morte, mas
chegarmos ao destino prometido, pois o Supremo Pastor está conosco (Sl 23.4).
A jornada de Paulo até Roma, para estar na
presença de César, não seria nada fácil, mas Deus prometeu que o levaria até
seu destino. Esse apóstolo enfrentou tempestades, noites escuras, desespero, perda
do transporte que o conduzia, mas Deus lhe disse: "[...] não temas! É
preciso que compareças perante César" (At 27.20-26, ARA). Mas todo o diferencial
está na expressão "Deus por sua graça", afinal, é impossível chegar
ao nosso destino final se não pela graça de Deus.
Não há promessa de Deus na Bíblia de que
nossa jornada para o Céu será fácil, Jesus mesmo disse que nesse mundo teríamos
aflições, e disse isso para que tivéssemos paz (Jo 16.33). Certo escritor com
muita propriedade disse: "Deus nunca nos prometeu uma viagem tranquila,
mas, sim, que chegaríamos". Paulo chegou salvo à praia, tanto ele como os
demais companheiros, destarte, é dito como eles chegaram: em tábuas, nos
destroços do navio, por isso se diz: "E foi assim que todos se salvaram em
terra" (At 27.44, ARA).
Esse mesmo apóstolo esclareceu como foram
suas jornadas desde o momento em que abraçou a fë e o chamado de Cristo para
fazer a obra: "em jornadas, muitas vezes; em perigos de rios, em perigos
de salteadores, em perigos entre patrícios, em perigos entre gentios, em
perigos na cidade, em perigos no deserto, em perigos no mar, em perigos entre
falsos irmãos" (2 Co 11.26, ARA).
No seu
aspecto literal, a jornada aponta para a remoção de uma pessoa de determinado
lugar para outro, biblicamente fala de uma viagem ou caminhada (Gn 13.3; 2 Co
11.26). No Antigo Testamento, no livro de Números, há quatro palavras que o
descrevem bem: "serviço", "ordem", "falha",
"peregrinação". Do capítulo 1 ao 9, Israel está no Sinai; do 10 ao
19, do Sinai até Cades; do 20 ao 36, de Cades a Moabe; o versículo-chave desse
livro é Números 33.2, e a palavra-chave é peregrinação.
Durante
a peregrinação de Israel, por não atentarem para os ditames bíblicos, mas se
entregarem aos seus desejos, idolatrias, costumes dos povos pagãos, rebeldia,
murmuração, incredulidade, prostituição, muitos perderam o alvo, e o mais
triste, conforme pontuado por Paulo: "Deus não se agradou da maioria
deles, razão por que ficaram prostrados no deserto" (1 Co 10.5). Note que
há duas expressões verbais fortes nesse versículo. A primeira é não se agradou,
eudokeo, parecer bom para alguém, ser a satisfação de alguém, não houve prazer
de Deus neles; o segundo verbo é katastronnumi, espalhar sobre o chão,
prostrar, matar, abater. Não foram adiante, ficaram mortos no deserto.
Na caminhada com Cristo somos convidados a calçar os pés com a preparação do evangelho da paz (Ef 6.15). De modo análogo, as sandálias militares romanas eram projetadas especificamente para a proteção dos pés, buscando manter o soldado equilibrado e firme em qualquer combate; ainda que estivesse em terreno acidentado, capacitava-o a ter agilidade e apoio nos pés para se movimentar. Se estivermos em Cristo e calçarmos os pés com o evangelho, podemos começar a jornada, pois desse modo não temeremos as mentes usadas por Satanás, as vās filosofias, o pós-modernismo, o secularismo, ateísmo ou naturalismo. Entraremos pela porta estreita e o caminho apertado, seguiremos impávidos, frente aos nossos três grandes opositores: o Diabo, a carne e o mundo, sempre orando e vigiando (Mt 26.41), na certeza de que a Canaã Celestial é logo ali.
I – A Caminhada com Cristo
1. Compreendendo
os dois caminhos
Logo nos primeiros capítulos de Gênesis, nos
deparamos com a criação do homem, que foi algo totalmente projetado por Deus
(Gn 1.26). A princípio, Deus criou todas as coisas, o que era bom, mas sem
a presença do homem a criação estava incompleta (Gn 1.31). É importante
compreender que esse homem não surge por um acidente ou uma ideia vaga, mas é
resultado do conselho divino, bem projetado.
Na
criação do homem, pelo relato divino, descarta-se qualquer ideia de evolução,
não dando espaço para o homem pré-humano, conforme os livros seculares ensinam,
relacionando seu surgimento através de um animal. Não, antes esse homem
foi criado por meio do poder de Deus de modo muito especial (Gn 2.7),
dispensando a ideia de que o primeiro homem foi criado de uma forma
pré-orgânica. O homem foi feito de modo especial, não está no mesmo nível
do animal irracional. Isso se nota no fato de que o seu corpo, ao morrer,
volta ao pó, mas seu espírito a Deus (Gn 3.19). Jamais se pode comparar a
criação de Adão com a dos animais, ele foi feito do pó da terra, e logo sua
vida surge com o sopro de Deus. Ainda que a frase “alma vivente” seja
aplicada também aos animais (Gn 1.21-24; 2.19), jamais qualquer animal foi
feito à imagem e semelhança de Deus. Portanto, há diferença entre o homem
e o animal.
A
imagem na qual Adão foi criado foi sendo passada para os seus descendentes (Gn
5.1-3; 9.6), e por meio dela se quer expressar que esse ser feito de barro tem
o reflexo concreto de Deus em sua vida. No hebraico, a imagem é tselem:
imagem, semelhança; trata-se de uma imagem moldada, uma figura formada e
representativa (2 Rs 11.18; Ez 23.14; Am 5.26). Já a palavra
semelhança, demuth, corresponde a similaridade, a se melhança de,
como. Ao longo do tempo, houve debates constantes entre os teólogos
cristãos para a compreensão desses dois termos, afirmando que a palavra imagem
tratava da questão física, ao passo que semelhança visava ao aspecto ético da
imagem de Deus. Por exemplo, um dos Pais da Igreja, Irineu, cria que
imagem apontava para liberdade, razão, já a semelhança era a possibilidade da
comunicação do homem com Deus, a qual foi perdida na Queda.
As mais
diversas opiniões surgiram para tentar dar explicação do que seria o homem
criado à imagem de Deus. Alguns falaram de corporalidade, envolvendo o
lado material e imaterial, nesse caso, o corpo do homem seria parte da imagem
de Deus. Essa colocação não tem tanto cabimento, visto que Deus é espírito
e não possui corpo (Jo 4.24). A outra linha de pensamento fala da imagem
de Deus no tocante à sua personalidade, que é chamada visão não corpórea, a
qual destaca a questão da moral, do domínio, do exercício da vontade, das
faculdades intelectivas: a habilidade de falar, de organizar. No relato da
criação do homem e da mulher está claro que ambos foram feitos completos, tendo
a parte material e imaterial. Na verdade, esse ser criado à imagem e
semelhança de Deus tem um corpo que veio de Deus, e que no futuro será útil (1
Co 15.44), tem uma vida que se origina do Pai Eterno (At 17.28,29), tem
habilidade, capacidade, vontade própria, domínio e capacidade de manter
comunhão com Deus. Nisso tudo se configura o ser com a imagem e semelhança
de Deus.
A
Bíblia descreve no início de tudo um ser perfeito, inocente, que tinha a
santidade no nível de criatura, não absoluta, como Deus, por isso foi posto um
teste da parte de Deus e cedeu. A permanência nesse nível de santidade lhe
garantiria a imortalidade, pois a morte passou a reinar depois do seu pecado
(Rm 5.12). A história da jornada do homem nesta terra teve seu começo com
Deus. Na verdade, no geral, compreendemos que a imagem de Deus no homem
envolvia um ser que foi criado em perfeição e santidade, um ser inteligente,
vivo e moral. Após a Queda, ele não perdeu essa imagem; ela foi maculada,
contudo jamais apagada, pois, nesse caso, se a tivesse perdido, então como
poderíamos caracterizá-lo como um ser racional, inteligente e vivo?
Deus é
maravilhoso e bondoso. Apesar da Queda de Adão, sua imagem vai sendo
passada para sua geração (Gn 5.3; 1 Co 11.7), ao que vai acontecendo por meio
da geração natural. Os filhos possuem seus corpos, os quais vieram de seus
pais, dentre outros elementos genéticos; a grande questão nesse particular é
quanto à parte imaterial, como ela é passada de pai para filho? Há três
concepções para essa questão. A primeira tem base na filosofia platônica,
denominada de preexistência, na qual se afirma que a alma de todos os seres humanos
foi criada por Deus no começo do Universo e presa nos corpos humanos como uma
forma de punição. Há um processo no qual as almas vão se encarnando ao
longo do processo histórico, de maneira que vão se tornando pecadoras. Tal
ensino era chamado de transmigração da alma. Um dos Pais da Igreja,
Orígenes, tinha uma defesa similar a tal pensamento, porém, esse argumento não
tem qualquer base bíblica, de maneira que os cristãos comprometidos com a
Bíblia não apoiam tal ensino, posto que a concepção de punição e vida eterna é
outra.
Há mais
duas ideias que visam explicar como se processa a questão do imaterial para o
homem. Uma delas é o criacionismo, no qual se ensina que Deus cria a alma
do homem no momento da concepção ou do nascimento, unindo-a de imediato ao
corpo. A alma tem pecado não porque a criação tenha algum tipo de defeito,
mas porque mantém contato com a culpa herdada através do corpo. O ensino
do criacionismo tem base em Charles Hodge, c, para firmar seu ponto de vista,
faz uso de Números 16.22 e Hebreus 12.9, afirmando que a alma se origina em
Deus, en- quanto o corpo vem dos pais terrenos. Ele dizia que a alma, sendo
natu- ral, não poderia jamais ser transmitida por meio da concepção natural.
Muitos teólogos reformados são dessa opinião.
Em
relação ao traducionismo, o que se entende é que a alma vem por meio do
processo da geração natural, semelhantemente ao corpo. Para confirmar tal
ensino, se faz uso de Hebreus 7.10 e Genesis 2.1-3. Com tais passagem se afirma
que, ao descansar, Deus não criou mais nenhuma nova alma (Gn 2.7), nenhum
fölego de vida foi soprado sobre outro ser humano, além de Adão. Muitos
teólogos passaram a pender para o tra- ducionismo, pois no caso do
criacionismo, por meio de seu argumento, Deus cria uma alma perfeita, depois poderia
fazê-la cair. No seu sentido fisiológico, o ser humano é visto no aspecto geral
com alma e corpo, as- sim, o lado fisico e psicológico se desenvolve
simultancamente.
Fizemos
toda essa colocação para que o leitor entenda e compreenda que é a partir da
Queda que o ser humano passa a herdar a natureza pecaminosa estando separado de
Deus (Rm 3.23), mas o homem tem a opção de escolha, se quer trilhar sua jornada
neste mundo com Deus ou sem Deus. Depois da Queda, todas as pessoas iniciam sua
jornada por meio do nascimento natural com a natureza carnal. Isso se comprova
muito bem pelas palavras de Cristo a Nicodemos: "O que é nascido da carne
é carne, e o que é nascido do Espírito é espirito" (Jo 3.6). Por meio
desse nascimento, o homem recebe a parte humana, a carne, que está sujeita à
morte (Rm 5.12). Tudo na natureza humana está ligado ao que é próprio dessa
existência no plano fisico.
O homem
nascido da carne não tem em sua natureza a espiritualidade de Cristo, o que é
chamado de natureza espiritual: a sua inclinação é sempre para as coisas
fisicas e carnais. Como não tem a natureza espirirual plantada no seu ser, a
tendência da vida na carne é totalmente contrária aos princípios divinos, razão
pela qual Paulo diz que os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm 8.8:
GI 5.19-21). A condição pecaminosa do homem é descrita teologicamente como
pecado original.
O
nascimento espiritual só é possível mediante a regeneração, a santificação, por
meio do qual o homem poderá começar sua caminhada segundo o querer de Deus,
para ajustar-se ao padrão de Cristo Jesus, e, escatologicamente, ter como
desfecho a restauração de sua imagem e semelhança conforme Cristo (Rm 8.29; 1
Co15.49; 2 Co 3.18). Portanto, quando o homem nasce do casal, macho e fêmea, começa
sua jornada na terra, sua vida física. Se escolher andar sem Cristo, sem passar
pelo novo nascimento, seu destino é a vida eterna separada de Deus. Porém, se
aceitar o convite de Jesus (Mt 11.28-29), possibilitando a entrada em sua vida,
nasce um filho de Deus, um novo homem com um novo destino, passando a estar de
imediato nas regiões celestiais com Cristo (Ef 1.3), e, ao findar sua jornada
neste mundo, terá direito a viver na eternidade com Cristo Jesus (Jo 5.24).
2. Os três companheiros da nossa caminhada
O
começo da nossa jornada com Cristo, a salvação, tem a participação conjunta da
Trindade. É necessário uma fé firme no Deus trino e uno, no que envolve nosso
relacionamento pessoal com os membros da Trindade. No que tange ao papel que
cada membro desenvolve em prol da nossa salvação, todos os temas da
reconciliação, expiação, redenção, justificação e propiciação dependem da cooperação
distinta do Deus uno e trino (Ef 1.3-14). Na Teologia Sistemática Pentecostal
(2009), sobre a Trindade, seus autores dizem: “Cada pessoa da Trindade é Deus.
A Palavra do Senhor descarta a ideia de triteísmo (três Deuses) e de unicismo.
A Trindade pode ser definida como a união de três Pessoas — o Pai, o Filho e o
Espírito Santo — em uma só divindade. Tais pessoas, embora distintas, são
iguais, eternas e da mesma substância. Ou seja, Deus é cada uma dessas
pessoas”. Não podemos negar que a doutrina da Trindade para nós é um mistério,
primeiramente porque o Deus que a Bíblia fala é grandioso, majestoso, sublime,
não pode jamais ser dissecado, explicado pela nossa ínfima razão humana. Assim,
nesse assunto, o cristão temente e reverente às Sagradas Letras aceita com fé e
reverência ao que é revelado sobre o Deus trino e uno.
Entendemos a razão como a faculdade concedida
ao ser humano para avaliar e ponderar ideias. Teologicamente, podemos asse[1]vera que a razão é
descrita como um canal imprescindível para dar e receber informações. Cada
cristão verdadeiro é consciente disso, todavia, para a compreensão das verdades
divinas, faz-se necessário que a nossa mente seja a de Cristo (1 Co 2.16). Para
compreender as coisas espirituais, e que jamais a nossa razão deve ser
autônoma, antes ela tem que estar subordinada a uma autoridade maior, fora de
nós mesmos, em Deus, pois nossa razão é falha e finita. A nossa razão,
envolvendo a Trindade, não pode jamais ser racionalista, ela vem como um
instrumento de auxílio, e jamais de domínio, posto que uma razão humana nunca
conseguiria explicar a pessoa de um Deus Santo e Eterno.
Portanto, compreendemos a doutrina da Trindade
como uma realidade bíblica que descreve o relacionamento do Pai com o Filho e
com o Espírito Santo. Essa verdade está revelada na Palavra, dela jamais
podemos fugir, não se trata de uma invenção humana nem de algo abstrato. Nunca
podemos nos voltar para a doutrina da Trindade como uma formulação de homens da
Igreja, pelo contrário, esse ensino está revelado na Palavra, tanto no Antigo
como no Novo Testamento.
Toda a
causa da nossa salvação foi uma ação primeiramente do Pai, envolvendo o seu
Filho para a nossa redenção e justificação. É por intermédio do sangue de
Cristo Jesus que se dá o perdão dos nos[1]sos pecados. Acontece
também a denominada propiciação, que é o ato realizado para aplacar a ira de
Deus, de modo a ser satisfeita a sua santidade e a sua justiça, tendo como
resultado o perdão do pecado e a restauração do pecador à comunhão com o
Senhor. No Antigo Testamento, a propiciação era realizada por meio dos
sacrifícios de animais, os quais se tornaram desnecessários com a vinda de
Cristo, que se ofereceu como sacrifício em lugar dos pecadores (Êx 32.30; Rm
3.25; 1 Jo 2.).
Nosso Cristo Jesus, por meio do seu
sacrifício, nos tornou agra[1]dáveis a Deus. Hoje Ele
atua em nosso favor perante o Pai fazendo nossa defesa (1 Jo 2.1). Ele é a
propiciação pelos nossos pecados e do mundo inteiro (1 Jo 2.2), e isso nos dá
certeza plena e segurança da nossa salvação, por Jesus ser tanto o nosso
Salvador como também a oferta agradável a Deus pelos nossos pecados.
A terceira pessoa que está presente em nossa
jornada para o Céu é o Espírito Santo. Nosso Senhor Jesus falando dEle usa a
expressão grega allon (Jo 14.16). Seria uma Pessoa distinta, mas do mesmo tipo
que Ele. O trabalho do Espírito Santo na vida do salvo, conforme Tito 3.5, é
empregar a obra realizada por Cristo Jesus no novo nasci[1]mento.
O Espírito Santo é a terceira Pessoa da Trindade, que busca levar o cristão a
um viver santo (1 Co 6.11), nos concedendo acesso ao Pai (Ef 2.18; 2 Co
5.17,21), por meio de Jesus, o nosso Sumo Sa[1]cerdote
(Hb 4.14-16).
Portanto, pelo exposto, podemos entender que a
nossa caminha[1]da para o Céu envolve as
três Pessoas da Trindade; Pai, Filho e Espírito Santo. Sem o papel desempenhado
por cada um dEles não seria possível a doutrina da expiação vicária, por meio
da qual Cristo Jesus, na sua morte, levou os nossos pecados sobre si. Pai,
Filho e Espírito Santo são os três companheiros presentes na nossa caminhada
para a Canaã Celestial. O Pai Eterno é o Grande Criador, que envia Jesus para
morrer na cruz pelos nossos pecados, que desse modo está expressando seu grande
amor (Jo 3.16). Jesus Cristo, em ação, desenvolve o trabalho da nossa salvação,
encarnando-se para nos dar vida eterna e trazendo Deus para perto de nós (Jo
1.14; Mt 1.23). O Espírito Santo trabalha em nossa vida para que a obra de
Cristo seja uma realidade em nosso ser, nos conduzindo à santidade, às verdades
divinas (Jo 16.13).
Quem nesta vida negar a Cristo Jesus não tem o
Pai, e quem negar o Pai, não tem o Filho (1 Jo 2.23). No demais, há de perder a
vida eterna, posto que é tão somente pela obra de Cristo na cruz do Calvário
que a justiça e a graça divina nos são reveladas. O homem imperfeito é reconciliado
com o Deus Perfeito por meio de Jesus Cristo (Gl 3.11-13).
II – O
Novo Nascimento
1. Por
que precisamos do novo nascimento?
Não precisamos ir longe para respondermos tal
pergunta. Paulo diz: “pois todos pecaram e carecem da glória de Deus” (Rm 3.23,
ARA); logo, o pecado leva à morte (Rm 5.12; 6.23). No pecado, o homem não
apenas tem a consequência da morte, mas está separado de Deus, e para que possa
achegar-se a Ele é preciso nascer de novo.
Vivendo no pecado, o homem segue a vida da
velha natureza, cujas obras são descritas por Paulo em Gálatas 5.19-21. Logo,
podemos compreender o estado em que a humanidade caminha sem Deus (Rm 1.21-32).
Sobre isso, o grande pastor Billy Graham afirmou que parece que muita coisa
está melhorando no mundo, menos o homem. Isso é uma realidade sem precedente,
pois o homem, com sua capacidade, pode melhorar seu ambiente. Por meio da
cultura e da tecnologia, faz diversas mudanças e conquistas, mas como é do[1]minado por uma natureza
pecaminosa, sempre caminha para um abismo, posto que o viver na carne não o
conduz a agradar a Deus (Rm 8.8).
Os
jornais e mídias revelam o panorama em que a humanidade está envolvida:
assassinatos, roubos, crimes, desigualdade social, egoísmo, racismo, medo,
depressão, trapaças, mentiras, estupros, aborto e drogas. Não faltam análises
das ciências comportamentais, como, por exemplo, da psicologia, antropologia e
sociologia, na incansável busca de compreender o homem e sua natureza, o porquê
de suas reações maléficas e comportamento alterado. Mas esse esforço não tem
alcançado sucesso, visto que analisam o homem apenas de fora para dentro, e não
de dentro para fora. Caso isso fosse feito, logo se compreenderia a realidade,
pois Jesus deixou claro os sinais que es[1]tão
do lado de dentro de um homem de vida não transformada (Mt 15.19; Gl 5.19.21).
A sociedade olha para o homem apenas no seu
aspecto biológico, mas não crê nem aceita falar que ele é um pecador miserável,
separado de Deus, e que por viver na prática do pecado suas obras são
maléficas.
As ditas teologias modernas, teologia queer,
teologia liberal, teologia da libertação, teologia moderna e teologia crítica,
todas procuram tratar apenas das questões sociais descartando o homem como um
ser pecador separado de Deus, que precisa arrepender-se de seus pecados crendo
em Cristo para ser salvo. Na atualidade, presenciamos o abrandamento de muitas
mensagens quanto ao pecado e à necessidade de arrependimento, como pregavam
João Batista e Jesus Cristo (Mt 3.2; 4.17). É claro que a Igreja de Jesus
Cristo deve combater as injustiças sociais, as políticas opressoras e precisa
estar ao lado dos pobres e necessitados, temas que sempre es[1]tiveram presentes na
Bíblia (Dt 24.17), visto que nosso Deus é descri[1]to
como estando ao lado dos menosprezados, dos menos afortunados, e a prática do
amor e acolhimento de tais pessoas é uma recomenda[1]ção
divina presente no Antigo e Novo Testamento (Gl 2.10). Todavia, é preciso ter
em mente que não basta apenas querermos mudanças em lugares de grande pobreza e
a implantação de boas políticas públicas, se nos esquecermos de que o problema
não está do lado de fora, mas do lado de dentro, no coração, o qual precisa
passar por uma transformação urgente (Jr 17.9; Ez 11.19; 36.26). Jamais haverá
sociedade modificada, melhorada, sem a real transformação do coração, o que só
é possível pela mensagem do evangelho de Jesus Cristo (Rm 1.16).
Todos os homens na terra precisam do novo nascimento
porque existem dois problemas em suas vidas: o primeiro é espiritual e o
segundo é social. No espiritual, o homem que vive em pecado está morto (Ef
2.1,5), situação que o torna incapaz de conhecer a Deus e manter um
relacionamento com Ele (1 Co 2.14). Em Romanos 3.10- 18, Paulo evidencia a
situação espiritual do homem que vive em pecado, e que esse pecado se alastrou
e o conduziu a uma condição pecaminosa atraindo a ira de Deus.
Toda a
humanidade está em pecado, por meio de seus esforços e obras próprias jamais
conseguirão se libertar, isso foi bem pontua[1]do
por Paulo, destarte, qualquer caminho tomado pelo homem sem Cristo será
totalmente em vão (Jo 15.5), de modo que o problema do pecado só pode ser
resolvido em Cristo Jesus (At 2.38). Em Mateus 18.3 está claro: “E disse: Em
verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos tornardes como
crianças, de modo algum entrareis no reino dos céus” (ARA).
No
aspecto espiritual, o homem precisa despir-se do velho homem, isto é, da velha
natureza pecaminosa (Cl 3.9,10), passar pelo lavar regenerador do Espírito
Santo (Tt 3.5), receber uma nova natureza, a divina, e assim o problema do
pecado estará solucionado (1 Pe 1.4). O segundo grande problema do homem é a
questão do social, que é ampla e envolve questões nas mais diversas áreas. A
natureza de tais problemas é bem complexa, pela ótica humana, e a solução deles
só é possível pelas abordagens multifacetadas, envolvendo a participação do
governo, organizações, população, indivíduos. Não se pode jamais negar que há
discriminação, falta de emprego, opressão política, racismo, desigualdade
social, pobreza, violência, saúde precária. Pessoas com boas intenções podem
promover ações políticas, inclusive a Igreja poderá desenvolver atividades de
cunho social, como tem feito ao longo de sua existência, criando orfanatos,
escolas, dando dignida[1]de pela valorização da
vida humana como um presente de Deus.
A Igreja não se omite diante das questões
sociais, porém está consciente de que apenas isso não basta, pois o maior
problema é a questão espiritual, a condição pecaminosa na qual o homem vive.
Como já dito, não basta apenas sermos boas pessoas, realizarmos grandes
projetos sociais, lutar por implantações de grandes políticas públicas; tudo
isso é importante, todavia, o grande problema está alojado do lado de dentro do
homem: sua natureza pecaminosa, e ela só pode ser desfeita pela transformação
ocasionada pelo evangelho.
Além desta vida, há uma vida eterna; dela só
poderá desfrutar aquele que nasceu de novo (Jo 3.3,5). O homem que está morto
no pecado precisa da graça e do favor divino para viver, para ter os seus
pecados perdoados, pois a vida que sua alma precisa só pode vir de cima, isto
é, de Deus. Obreiros, pastores, pregadores e teólogos, proclamemos com vigor e
no poder do Espírito Santo a Palavra de Deus, dizendo ao mundo em pecado que só
Jesus pode salvar (At 4.12;16.31). Priorizemos em nossos púlpitos, escolas
bíblicas e seminários a necessidade que o homem tem do novo nascimento. Si[1]gamos a recomendação de
Deus ao profeta Ezequiel para que todos se convertam (Ez 14.6) e gritemos ao
mundo para que se voltem para Deus, pois só Ele pode salvar (Is 45.22).
2. A
religião não faz nascer de novo
O sistema religioso pode ser descrito como um
conjunto de crenças, práticas e rituais que são observados, seguidos e
praticados por um grupo de pessoas, assente na fé em alguma divindade. Podemos
asseverar que a estrutura da religião propõe ao homem respostas para muitas de
suas questões existenciais, concede orientação moral e dá um sentido à vida. No
aspecto antropológico, afirma-se que o homem é um ser em essência religioso,
naturalmente ele pende para a religião. Além do mais, outras ciências, como,
por exemplo, a sociologia, declaram que o homem anseia por uma experiência
religiosa. As muitas religiões no mundo vão surgindo e criando seus símbolos, suas
celebrações, suas doutrinas, seus ritos, suas crenças, desejando com isso,
mesmo em meio a tantas diferenças, ligar o homem a Deus.
Devemos entender que a religião sempre fez
parte da vivência humana, buscando responder às perguntas cruciais: Qual é o real
sentido da vida? De onde o homem veio? Por que estamos aqui? Para onde iremos
ao final de tudo? É na religião que tais perguntas angustiantes podem encontrar
suas respostas, concedendo ao homem certo tipo de consolo e conforto. É nesse
prisma que se pode afirmar que a religião dá respostas para as questões
existenciais, dando à alma do homem paz, consolo, esperança, e levando cada
pessoa a entender que a vida humana tem sentido.
O mundo atual é descrito como a era da
tecnologia, da globalização, da ciência, da cultura, e, mesmo assim, é marcado
também pela violência, estupro, desigualdade, terrorismo, desvalorização da
vida humana, o que revela que o ser humano perde a sua real essência. Esse
homem perdido sente um vazio em sua alma, apesar de todo avanço que possa
promover. Ele jamais pode se separar do sagrado; visto que Deus soprou em suas
narinas o fôlego de vida, há algo de Deus no homem (Gn 2.7). Ainda que
tateando, como disse Paulo, o homem busca Deus (At 17.27). A ciência com seus
avanços e a racionalidade com sua confiança plena na razão, buscando deixar
Deus de lado, não conseguem tirar a religião de cena, uma vez que não possuem
as respostas precisas para aquilo que gera desconforto e tristeza na alma do
homem. Assim, a religião se apresenta com sua proposta.
A
religião atinge o que a tecnologia não pode atingir, o que a racionalidade não
pode dar: a paz e o conforto para a alma. Entretanto, é preciso levar em
consideração que existe a religião que segue os princípios exarados na Palavra,
mas existe também a religião natural, a qual é produto do homem, cuja base é o
egoísmo humano, ela está totalmente diante de Deus, quem falou dela foi o
apóstolo Paulo (Rm 1.23). Ela pode envolver a crença em um deus ou deuses e
ensina que por meio dos esforços humanos pode se chegar a Deus. Assim, qual[1]quer coisa pode
tornar-se religião. Afirmamos categoricamente que o cristianismo verdadeiro não
é religião, mas trata-se de um relaciona[1]mento
firmado entre Deus e o homem por meio do sangue de Cristo Jesus, pelo qual
fomos perdoados (1 Pe 1.18,19; Hb 9.22).
As religiões humanas ou naturais, criadas
pelos homens, possuem seus absurdos, razão pela qual muitos dizem: “Não quero
ter religião”. Não se pode negar nem esconder que em nome da religião muitos
crimes e atrocidades foram cometidos. Em nome da religião e seus deuses, filhos
foram sacrificados, outros se lançaram às práticas mais horríveis na intenção
de terem seus pecados perdoados. Por exemplo, na Índia, pessoas se deitam em
tábuas de pregos, ficam sem comer e beber, apenas para serem perdoadas. É
costume bem prático na África homens caminharem sobre brasas; se saírem
totalmente ilesos, sem se queimar, a conclusão é de que foram aceitos por Deus.
Caso contrário, são vistos como pecadores.
Na
atualidade, muitos fazem uso do termo religião para se referir a todas as
seitas, envolvendo, identificando-as como maometismo, budismo, hinduísmo,
taoísmo, confucionismo, inclusive, colocam nesse meio também o cristianismo. É
importante analisar que as pa[1]lavras de Paulo são
certeiras quando ele faz alusão à religião natural, a qual substitui o plano
original de Deus. Sua introdução na vivência humana se dá pelo próprio homem
(Rm 1.20-25). Por meio da religião natural, pode-se analisar que houve
deturpação das verdades divinas reveladas. Assim, o homem não apenas reprimiu
tal verdade, mas trouxe o erro e criou sua religião. Nesse tipo de religião,
pode até haver certos elementos de verdade, certos padrões éticos, termos que
por vezes são semelhantes aos da Bíblia, mas, na verdade, são apenas ilusões,
nada que possa de fato salvar. No caso da religião humanista, há um desprezo
para com a Bíblia. Essa religião não aceita as ideias teológicas envolvendo a
questão do pecado, da necessidade da justificação pela fé por meio da morte de
Cristo como o Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo (Jo 1.29).
O
sistema religioso possui coisas boas, como a prática de fazer o bem; destaca
aspectos éticos e morais; têm seus ritos, boas obras, ações comunitárias,
reformas sociais; porém, nada disso salva, posto que a salvação é resultado da
fé em Cristo Jesus e na sua obra salvífica, que gera um relacionamento perfeito
com Deus e concede a verdadeira vida eterna (Rm 5.1,2).
Existe uma religião verdadeira e outra falsa.
A falsa é aquela criada pelo homem. Quem primeiro a desenvolve é Caim. Ele se
aproxima de Deus com sua oferta, mas seu coração não era verdadeiro, e sim
egoísta, falso, superficial, sem obediência, sem fé, pois era do Maligno (1 Jo
3.12). Ele quer se achegar ao Senhor do seu jeito, pois o texto diz que suas
obras eram más. Nesse particular, de modo análogo, dizemos que Caim é um
protótipo da religião hu[1]mana, natural, vazia, do
esforço próprio, Deus não se agradou de sua oferta (Gn 4.5). Por outro lado,
ainda seguindo a ilustração dos dois irmãos, temos Abel. Este foi ao Senhor com
um coração puro, verdadeiro, em uma atitude de reverência, humildade,
sinceridade, adoração, verdade, e prontamente Deus atentou para sua oferta,
isto é, se agradou, do hebraico hev (sha‘ah) olhar para, considerar, fitar ou
observar ao redor (Gn 4.4).
A religião humana, natural, não pode jamais
promover a salvação; por outro lado, a religião verdadeira, que se aproxima de
Deus com fé, buscando sua Palavra, crendo em Jesus Cristo, pode sim salvar.
3. O
que é nascer de novo?
O nascer de novo está escrito no Novo
Testamento, aparecendo aproximadamente em 85 passagens fazendo alusão à nova
vida. Essa nova vida não é produto do homem, do seu interior, de seu esforço,
mas trata-se de uma ação plenamente do Espírito Santo, o que é de[1]nominado na Bíblia de
novo nascimento (Jo 3.3-5), o que ainda pode ser descrito de nascer da parte de Deus (Jo
1.10-11; 1 Jo 3.9), nova criação (Gl 6.15).
Em suma, nascer de novo é um termo bíblico que
quer dizer regeneração (Tt 3.5). O novo nascimento trata-se especificamente de
uma ação sobrenatural, não é um esforço do homem, porém, o que o homem deve
fazer é decidir se aceita ou não essa ação do Espírito Santo que vem de cima,
isto é, de Deus. Na verdade, podemos dizer que o novo nascimento é um milagre
operado por Cristo na vida do homem que o aceita com fé, processando tudo isso
sobre quatro passos: justificação, regeneração, adoção e santificação.
A salvação como milagre começa com a
justificação. Por intermédio dela se tem a culpa do pecado apagado (Rm 5.1),
posto que antes, devido à depravação da natureza humana, colocava o homem
distante de Deus e em condenação. Quando o homem aceita a Cristo Jesus como
Senhor e Salvador pela fé, então começa a nova vida, ou seja, a regeneração.
Isso se dá de modo instantâneo, logo que a justiça de Cristo passa a agir em
sua vida. Pela regeneração o homem passa a ter a natureza de Cristo implantada
em seu ser, isso pela ação do poder do Espírito Santo, por esse motivo que
Paulo esclarece que nada disso é pelo esforço do homem (Tt 3.5; 1 Jo 1.12,13).
É importante entender que por meio dessa nova
natureza o cristão poderá seguir sua jornada de fé ciente que tem dentro de si
a força divina que o capacita a viver em retidão e seguir firme às mansões celestiais.
É possível agora seguir em frente porque a nova natureza foi implantada, não
estando mais o homem naquela situação de morte espiritual (Ef 2.1,5), sem
capacidade de manter um relacionamento perfeito com Deus, de conhecê-lo
verdadeiramente; pelo contrário, agora poderá não somente penetrar na dimensão
espiritual, como também discernir tudo espiritualmente (1 Co 2.14).
Por
intermédio da Palavra compreendemos a necessidade do novo nascimento, pois
estando na condição de um pecador, dominado pela velha natureza pecaminosa, não
era possível jamais esse homem en[1]trar no Céu, pois isso
só é para quem é nova criatura (Jo 3.3). Sem a nova natureza não há como
resistir à natureza pecaminosa (1 Jo 3.9), pela nova natureza, o cristão pode
seguir em frente de cabeça erguida, pois é consciente de que tem uma vida agora
justificada, reta, diante de Deus (1 Jo 2.29). Lendo João 5.24, encontramos os benefícios
da nova vida: vida eterna e vida presente com Cristo neste mundo. É por meio
dela que vivemos com a expectativa da vida no porvir, que é chamada de vida
espiritual. A nova vida tem o espírito humano fortalecido pelo Espírito de
Deus, assim não se cumpre os desejos da carne (Gl 5.16). A vida que nos é
comunicada pelo Espírito Santo gera em nós comunhão com Deus, pois não vivemos
mais para a vida neste mundo pecaminoso (Rm 6.11). Haverá uma plenitude ainda
maior dessa vida que já se vive aqui com Cristo neste mundo, pois quando o
mortal se revestir da imortalidade, então seremos glorificados, sendo como
Cristo é (1 Jo 3.2,3).
Em se tratando da nova natureza, o cristão
vive agora na esperança da glória de Deus. Como sua vida é espiritual e
desenvolve comunhão com Deus, ainda que esteja neste mundo, essa nova natureza
lhe concede poder, pela ação do Espírito Santo, para não pensar mais nas coisas
desta vida, mas ter atitudes diferentes para com elas, como, por exemplo, passa
a ter ódio do pecado, priorizando em seu viver diário a vida em Cristo Jesus.
Pedro é bem categórico em afirmar que agora possuímos a natureza divina (1 Pe
1.4).
É importante dizer que, ainda que tenhamos a
nova vida e uma nova natureza, a velha natureza não foi debelada de uma vez por
todas, de modo que o cristão terá que lutar contra o pecado e a tentação, mas,
doravante, pela nova natureza implantada, vinda do Espírito Santo, não se
inclinará mais para carne, como era antigamente (Rm 8.8), e sim para as coisas
do Espírito (Gl 5.16). Essas duas naturezas sempre estarão em conflito, a
espiritual penderá para as coisas de Deus, ao passo que a carnal para as coisas
pecaminosas (Gl 5.17), na verdade, é uma guerra constante (Rm 7.21), que é
vencida pelo poder do Espírito de Deus (Rm 6.16).
4. O
novo nascimento e seu processo
O homem por si mesmo jamais poderá desenvolver
o novo nas[1]cimento. Todo esse
processo, como já dito antes, trata-se de algo sobrenatural, uma ação direta do
Espírito Santo de Deus. No texto do profeta Jeremias, objetivamente ele
salienta que o homem não pode, por si mesmo, alterar sua natureza pecaminosa,
da mesma forma que um etíope não pode mudar a cor de sua pele, nem tampouco o
leopardo suas manchas (Jr 13.23). Por vezes, há da parte do homem uma luta para
controlar seus desejos e não praticar coisas ruins, ou procurar fazer coisas
boas, mas isso não quer dizer que sua natureza foi mudada. É claro, essa ação é
limitada pela força humana, como acontece com uma represa, tenta por certo
tempo segurar a água parada, mas não demorará para que haja um rompimento
brusco. O profeta Zacarias disse: “Não por força, nem por violência, mas pelo meu
Espírito, diz o Senhor dos Exércitos” (Zc 4.6). Quando a transformação vem pelo
Espírito Santo de Deus, implantando a nova natureza, de fato aconteceu a real
transformação no homem interior, o que acontece teológica e biblicamente de
três maneiras:
Por meio da ação de ouvir a Palavra
A regeneração ou o novo nascimento acontece
quando o homem ouve a Palavra de Deus, o evangelho de Jesus Cristo, o qual tem
o poder de transformar o pecador em uma nova criatura. Devemos pregar o
evangelho a todos, pois somente ele tem o poder de agir no coração do homem.
Por meio da mensagem do evangelho, o homem toma conhecimento dos seus pecados e
da necessidade de ter o Salvador, Cristo Jesus (Rm 1.16).
A definição que se pode dar do evangelho é a
seguinte: a mensagem de salvação anunciada por Jesus Cristo e pelos apóstolos
(Rm 1.15). “Evangelho” em grego quer dizer “boa notícia”. É preciso entender
que a Palavra de Deus age poderosamente no coração do homem porque ela é viva e
eficaz (Hb 4.12). O apóstolo Pedro esclarece que o homem é gerado não da semente
corruptível, mas da incorruptível, a Palavra de Deus, a qual, vive e é
permanente (1 Pe 1.23). O apóstolo Tiago afirma que nós somos gerados pela
Palavra da verdade (Tg 1.18). Essas verdades nos levam a refletir sobre a
importância que devemos dar à mensagem do evangelho, pois somente ela pode
salvar. Assim, jamais desprezemos a real pregação da Palavra.
Por
meio da ação de crer e receber a Palavra
É preciso que aquele que ouviu a Palavra não
apenas manifeste uma grande alegria, mas que procure responder positivamente à
mensagem pregada, rendendo-se a Cristo, crendo nEle de todo o coração e
aceitando-o pela fé. É tão somente dessa forma que a real transformação é
possível. O apóstolo João é bem claro em dizer que “quem tem o Filho tem a vida;
quem não tem o Filho de Deus não tem a vida” (1 Jo 5.11-13).
Comunicação da vida verdadeira pelo Espírito
Santo
Após os dois passos mencionados é que o
milagre da regeneração, como uma ação transformadora do Espírito Santo, irá se
processar cabalmente, resultando na nova vida e nova natureza oriundas do Espírito
Santo. Esses dois primeiros processos listados foram citados por Jesus a
Nicodemos: nascer da água e do Espírito (Jo 3.5,6). Quando se ouve e crê na
Palavra, recebendo-a de todo o coração, conforme fez o Eunuco (At 8.36,37), a
regeneração acontece como ato instantâneo, abrindo-se a porta para se
desenvolver uma vida de santificação, a qual é inicial, progressiva e final.
Vale ressaltar que, no momento da regeneração, o novo convertido recebe a nova
vida e a nova natureza, e, por meio da santificação, ele é capacitado a
desenvolver na prática um novo comportamento.
III – O
Novo Testamento e a Caminhada de Fé do Cristão
1. O
Novo Testamento
De posse da Bíblia Sagrada, de imediato, o
cristão vai se deparar com duas expressões adjetivais: Antigo e Novo
Testamento. Ambas fazem menção a pactos, o da Antiga Aliança e o da Nova
Aliança. Aqui nos deteremos em analisar o Novo Testamento, que é a revelação de
Deus para o bem de todos os povos. Jesus Cristo, o Messias e Salvador, veio na
plenitude dos tempos (Gl 4.4), e com Ele teve início a Igreja, fundada sobre o
alicerce do testemunho dos apóstolos. O Novo Testamento compõe-se de 27 livros,
assim classificados: Livros históricos: Evangelhos e Atos (5); Epístolas de
Paulo (13); Epístolas Gerais (8); Apocalipse (1).
Ao nos voltarmos para o Antigo Testamento,
vemos que ele está repleto de profecias messiânicas, isto é, atinentes à pessoa
de Jesus Cristo. O número é de, aproximadamente, quarenta profecias com o tema.
Os homens que a predisseram, alguns eram de alto nível cultural, outros, de
baixo nível cultural. A abertura da profecia envolvendo a pessoa de Cristo
começou com Gênesis 3.15, sendo que o desfecho delas se dá em Malaquias 3.
O período que separa o Antigo e o Novo
Testamento é de quatrocentos anos. Isso quer dizer que Deus, em sua sabedoria,
onisciência e onipotência, escolheu o momento certo para que tudo tivesse seu
pleno cumprimento. Tudo o que os santos da Antiga Aliança falaram de Jesus
Cristo, envolvendo seu nascimento, obra, caráter, humildade, amor, morte e
ressurreição, cumpriu-se cabalmente.
Jesus
mesmo deixou claro aos seus discípulos o que a Lei, os profetas e os Salmos
disseram sobre Ele (Lc 24.44). Os livros bíblicos que mais falaram
profeticamente da vinda de Jesus Cristo como o Messias foram: Salmos, Isaías,
Zacarias, sendo que o destaque maior vem para Isaías, no qual constam
aproximadamente 16 referências em relação ao Messias. Em destaque, o mais lido
é o capítulo 53. Essas profecias falando de Jesus Cristo jamais o exaltaram
como um chefe político, um grande filósofo, um camponês normal, um
revolucionário, como desejam os estudiosos liberais que buscam desfazer de
Cristo. Antes, as profecias bíblicas falando da vinda de Jesus como Messias o
desta[1]cavam de duas maneiras:
primeiramente, o Rei Messias (Sl 2.6-8; Dn 2.44; Zc 6.12,13); em segundo lugar,
Jesus é descrito como um Servo Sofredor (Is 50.6-52; Dn 9.26; Zc 11.12).
Por meio dessa conceituação precisa do Novo
Testamento, o caro leitor poderá compreender que, ao tomar em mãos o Novo Testa[1]mento para fazer uso,
não se tem uma obra qualquer, mas, sim, a revelação perfeita de Cristo Jesus.
São 27 livros totalmente inspirados (2 Tm 3.16), os quais revelam o cumprimento
do programa de Deus para o bem da vida humana, pois é pela doação de Cristo ao
mundo por parte do Pai que a revelação perfeita e desejada para os homens se
realiza (Mt 1.23).
No Novo
Testamento constam as verdades que antes estavam ocultas, profetizadas, mas
agora totalmente reveladas (Hb 1.1). As obras do Novo Testamento tiveram a
supervisão plena do Espírito Santo de Deus no processo de inspiração. Deus protegeu
de erros os seus escritores (2 Tm 3.16; 1 Co 2.13; 2 Pe 1.20,21). Pelo conceito
de Novo Testamento somos ensinados que o Novo Pacto, firmado com Deus para a
nossa salvação, não se origina nem se modela no Antigo, quando animais
inocentes eram mortos. Destarte, a Nova Aliança que vi[1]vemos
com Cristo é resultado de seu sacrifício, seu sangue (Mt 26.28; 1 Pe 1.18; 1 Co
6.20), por meio do qual passamos a ter uma nova vida, um novo relacionamento
com o Pai, de modo que nos tornamos agradáveis a Ele.
2. O
tema principal do Novo Testamento
Para a
existência de um grande prédio é preciso uma base sólida, um firme fundamento.
Semelhantemente, o Novo Testamento não seria o que é sem a pessoa de Jesus
Cristo; sua origem, tema e alvo orbitam em torno dEle. Nas páginas dos quatro
Evangelhos, Jesus é apresentado não apenas como um ser humano comum, mas como o
Verbo que se fez carne (Jo 1.14), o que já existia antes de todas as coisas,
antes de Abraão (Jo 8.58), maior do que Moisés (Jo 5.46) e Sa[1]lomão (Mt 12.42), o
Emanuel (Mt 1.23), o caminho a verdade e a vida (Jo 14.6), igual ao Pai (Jo
10.30), o único por meio do qual o homem pode ter a vida verdadeira (Jo 6.66).
O tema da mensagem dos apóstolos, a doutrina
que passaram a ensinar, tudo se firmava em Cristo Jesus, a Pedra Principal (Ef
2.21- 22; 1 Co 3.16; 1 Pe 2.5), pois dEle depende a nossa salvação. Paulo mesmo
esclarece que não propunha falar outra coisa, se não de Jesus (1 Co 2.2). O
destaque que se pode notar nas palavras de Cristo é: Eu Sou. Por diversas vezes
disse: Eu sou a luz, a vida, a verdade, o pão do céu, perdoador, salvador; só
quem realmente poderia ser o cria[1]dor da Igreja verdadeira
seria Ele. Afirmamos que o cristianismo tem sua base bem alicerçada em Cristo
Jesus. Assim, afirmamos que os Evangelhos só falam de Jesus Cristo, o Ser
Perfeito. Como Ele mesmo disse: “Eu sou a videira, vós, os ramos. Quem
permanece em mim, e eu nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis
fazer” (Jo 15.5, ARA). Pela leitura do Novo Testamento, por intermédio dos
quatro Evangelhos, logo a pessoa concluirá que a alusão que se faz ao seu
protagonista principal, Jesus Cristo, é que Ele não é comum, seu nascimento foi
diferente, seu viver foi diferente, seu ensino era com autoridade (Lc 4.32),
jamais se igualando às frias normas farisaicas, ou aos farrapos do velho
judaísmo contaminado de tradições próprias, que para ter o novo ensino de Jesus
Cristo precisaria ser odre novo e veste nova, pois os odres velhos e podres dos
judeus não suportariam os novos ensinos de Jesus (Mt 9.14-17), os quais só
podem frutificar na vida de pessoas que se tornam novas criaturas (2 Co 5.17). [1]
3. A importância do Novo Testamento na
caminhada do cristão
Pelo
que anteriormente já foi exposto, prontamente o cristão já pôde concluir sobre
a importância do Novo Testamento para a sua vida, pois Cristo é a base, o
assunto geral desses 27 livros. Todas as histórias narradas nos Evangelhos, nas
Epístolas, envolvendo Cristo, foram inspiradas e são plenamente verdadeiras.
O Novo Testamento reveste-se de grande
significado para o cristão pelo fato de ele ser o maior documento original da
nossa fé, pois em suas páginas constam a mensagem de que precisamos para viver
uma vida de fé e santidade. Esse maravilhoso documento divino não está no nível
histórico de qualquer outra obra, sendo visto apenas como uma peça literária
que se perdeu no tempo. O escritor aos Hebreus diz que a Palavra de Deus é viva
e eficaz (Hb 4.12).
De posse do conhecimento e da prática do Novo
Testamento, o cristão poderá desenvolver uma vida de comunhão e salvação com
Deus, por intermédio de Cristo, para ter a vida eterna (Jo 20.31; Lc 1.4; Jo
3.15,16; 5.24; At 3.6; 1 Co 4.10). Além do mais, poderá desenvolver a defesa de
sua fé, posto que seu conteúdo é também apologético, pois cada página lida do
Novo Testamento leva o cristão a viver a verdade de Cristo, a qual liberta (Jo
8.32), colocando-o em perfeita condição espiritual, prevenindo-o das heresias e
doutrinas erradas, como as vãs filosofias e superstições. Mas, em essência,
como já supracitado, o conhecimento do Novo Testamento e seus ensinos levam o
crente a pender para um viver santo, conforme o proceder de Cristo Jesus. Os
que querem conduzir-se na jornada cristã para o Céu precisam viver os ensinos
neotestamentários. É por meio do ensino do Novo Testamento que o cristão passa
a ter e a compreender os verdadeiros padrões do real cristianismo,
desenvolvendo uma vida santa e de frutificação, pois segue o personagem
principal de todo o seu conteúdo, Jesus Cristo (Hb 12.2). Para falar da
relevância do Novo Testamento, além de todo o seu conteúdo interno, envolvendo
as provas da inspiração, o cumprimento das profecias, o testemunho dos
apóstolos, bem como de Pedro, João e Paulo, os quais asseguravam a importância
da morte e ressurreição de Cristo Jesus (At 13.30), acrescenta-se a isso o
testemunho da história, na qual o Senhor Jesus, conforme prometeu em Mateus
28.20, sempre esteve presente com a Igreja, desenvolvendo uma comunhão íntima
com Ele e vencendo as vicissitudes, as forças opositoras (Mt 16.16-18).
Um cristão que vive a sua vida de fé firmado
no Novo Pacto, na Nova Aliança, procurando atentar para os ensinos de Cristo
presentes no Novo Testamento, jamais se abrirá aos novos modismos, as novas
doutrinas comprometedoras, visto que o conteúdo desse livro lhe concederá a
verdadeira liberdade (Jo 8.36). Quando Jesus entrou no cenário humano, o mundo
religioso da época se configurava dominado pelo animismo, culto aos
imperadores, religiões místicas, práticas de ocultismo, mas, pela mensagem
pregada, o evangelho, as Boas Novas, uma nova fé verdadeira brotava do coração
daqueles que se arrependiam, pois como bem disse Paulo: o evangelho é poder de
Deus (Rm 1.16).
Conclusão
Compreendemos
que a vida humana começou com Deus e precisa de Deus constantemente, porém, ao
longo do caminho, o homem afastou-se do Senhor, tomando atalhos
comprometedores, passando a ter uma natureza pecaminosa, corrupta, daí a
necessidade do novo nascimento em Cristo Jesus. Ao começar a nova vida, ela tem
que ser guiada e orientada pela Trindade divina — Pai, Filho e Espírito Santo —
procurando ter como regra de fé e de prática a Bíblia Sagrada, em especial o
Novo Testamento, que é a base da nossa nova aliança em Cristo Jesus.
A carreira que nos está Proposta – O Caminho da
Salvação, Santidade e Perseverança para chegar no Céu
Osiel Gomes
2° TRIMESTRE DE 2024
A carreira que nos está
Proposta – O Caminho da Salvação, Santidade e Perseverança para chegar no Céu
COMENTARISTA: Osiel Gomes
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