TEXTO AUREO
“Porque, todas as vezes que comerdes
este pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha.”
(1 Co 11.26)
VERDADE
PRÁTICA
A Ceia do Senhor, como uma ordenança,
celebra a comunhão do crente com o Senhor ressuscitado.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
1 Corintios 11.17-34
17- Nisto, porém, que vou dizer-vos, não vos louvo, porquanto vos ajuntais,
não para melhor, senão para pior.
18- Porque, antes de tudo, ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre
vás dissensões: e em parte 0 creio.
19- E até importa que haja entre vós heresias, para que os que são
sinceros se manifestem entre vás.
20- De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a Ceia do
Senhor.
21- Porque, comendo, cada um toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim
um tem fome, e outro embriaga-se.
22- Não tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais a
igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei?
Nisso não vos louvo
23- Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o Senhor
Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
24- e, tendo dado graças, o partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo
que é partido por vós; fazei isto em memória de mim.
25-Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este cálice
é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que beberdes, em
memória de mim.
26- Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes este cálice,
anunciais a morte do Senhor, até que venha.
27- Portanto, qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor,
indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor.
28- Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste
cálice.
29 – Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para sua própria
condenação, não discernindo o corpo do Senhor.
30- Por causa disso, há entre vós muitos fracos e doentes e muitos que dormem.
31- Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
32- Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo Senhor, para não sermos
condenados com o mundo. 33- Portanto, meus irmãos, quando vos ajuntais para
comer, esperai uns pelos outros.
34- Mas, se algum tiver fome, coma em casa, para que vos não ajunteis para
condenação. Quanto às demais coisas, ordená-las-ei quando for ter convosco.
PLANO DE AULA
1- INTRODUÇÃO
A Ceia do Senhor é outra importante ordenança
prática da Igreja de Cristo. E um rito que foi instituído pelo próprio Senhor
Jesus e perpassou toda a Igreja até a atualidade. Ao longo dos séculos, essa
celebração também tem sido uma identidade da Igreja. Nesta lição, procuraremos
compreender o propósito bem como a forma da Ceia do Senhor de acordo com
Bíblias Por isso, faremos шпа exposição da doutrina biblica da Ceia do Senhor e
também consideraremos suas implicações históricas.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da lição:
I) Apresentar a natureza da Ceia do Senhor na Tradição Cristã
II) Mostrar o propósito da Ceia do
Senhor
III) Refletir a respeito do modo de
celebração da Ceia do Senhor
B) Motivação A Cela do Senhor traz uma perspectiva passada, pois nos remete ao
perdão dos pecados e à obra salvífica de Jesus Cristo: ela traz uma perspectiva
presente, pois realça a nossa comunhão com Cristo com sua igreja e, finalmente,
aponta para o futuro esperançosamente, pois somos lembrados da promessa da
vinda de Cristo.
C) Sugestão de Método. Para introduzir o segundo tópico desta lição, sugerimos
que você leia atentamente a seção Motivação e o segundo subsidio com o titulo ‘A
Tríplice Lembrança da Ceia do Senhor Em seguida, antes de expor o segundo
tópico, pergunte a classe a respeito do símbolo da Ceia do Senhor, o que os
alunos pensam a respeito do seu significado. Após ouvir as respostas, exponha o
tópico e aprofunde a perspectiva da tríplice lembrança da Ceia do Senhor de
acordo com a leitura que você já fez na seção “Motivação” e o “segundo auxilio.
3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Leve o (a) aluno(a) a refletir a respeito do valor do
privilégio de participar da celebração da Ceia do Senhor. De acordo com a
natureza, os símbolos e propósito dessa grande celebração cristã, mostre o
quanto a Cela do Senhor tem um significado espiritual para a nossa fé.
4- SUBSIDIO AO PROFESSOR
A) Revista
Ensinador Cristã. Vale a pena conhecer essa revista que traz
reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas
Adultos. Na edição 96, p. 41, você encontrará um subsidio especial para esta
lição
B) Auxílios Especiais. Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “A Ordenança da Ceia do Senhor”, localizado depois do primeiro
tópico, aprofunda a compreensão da Ceia do Senhor como uma ordenança de Cristo
2) O texto ” Tríplice Sentido da Ceia do Senhor”, ao final do segundo tópico,
amplia a reflexão a respeito do propósito da Ceia do Senhor.
INTRODUÇÃO
Assim como a Batismo em águas, a Ceia do
Senhor também é uma ordenança dada por Jesus à sua Igreja. Ao longo da
história, a Igreja tem a Ceia do Senhor como uma das celebrações mais
significativas. Nesse sentido, o cristão pode contemplar a Cela sob três
perspectivas:
Primeira, um olhar para trás, quando contempla Cristo entregando-se em
sacrifício vicário na cruz, segunda, um olhar para o presente, quando vê sua
real condição diante de Deus e como foi alcançado pela graça de Deus; terceira,
um olhar para o futuro, quando mantém sua expectativa e esperança na Segunda
Vinda de Cristo. Nesse sentido, a Ceia do Senhor é uma cerimônia que
deve ser celebrada com reverência, júbilo e expectativa.
Palavra
chave:
Comunhão
AUXILIO TEOLÓGICO
A
ORDENANÇA DA CEIA DO SENHOR
A segunda ordenança da Igreja é a Santa Ceia ou
Santa Comunhão. Assim como o batismo, esta ordenança tem feito parte do culto
cristão desde o ministério terrestre de Cristo, quando Ele próprio instituiu o
rito na refeição da Páscoa, na noite em que foi traído. A Ceia do Senhor tem
alguns paralelos em outras tradições religiosas (tais como a Páscoa judaica:
outras religiões antigas também se valiam de refeições sacramentais para se
identificar com suas deidades), mas ela vai muito além quanto ao seu
significado e importância. Seguindo as instruções dadas por Jesus, os cristãos
participam da Comunhão em ‘memória’ dEle (Lc 22.19,20; 1 Co 11.24,25). O termo
traduzido por lembrança (gr. ananınésis) talvez não signifique exatamente o que
o leitor está imaginando. Hoje, lembrar-se de alguma coisa é pensar numa
ocasião passada. O modo neotestamentários de entender anamnesis é exatamente o
inverso significava transportar uma ação enterrada no passado, de tal maneira
que não se percam a sua potência e a vitalidade originais, mas sejam trazidas
para a momento presente Semelhante conceito é refletido até mesmo no Antigo
Testamento (DI 16.3; 1 Rs 17.18) (HORTON, Stanley. Teologia Sistemática: Uma
Perspectiva Pentecostal 1. ed. Rio de Janeiro CPAD. 2023, pp. 573-74).
AUXÍLIO TEOLÓGICO
O TRÍPLICE SENTIDO DA LEMBRANÇA DA CEIA DO SENHOR
Na Ceia do Senhor, talvez possamos sugerir um
tríplice sentido de lembrança passado, presente e futuro. A Igreja se reúne
como um só corpo à mesa do Senhor, relembrando a sua morte. Os próprios
elementos usados de modo simbólico па Comunhão representam o derradeiro
sacrifício de Cristo, no qual Ele entregou seu corpo e sangue para redimir os
pecados do mundo. Existe ainda um sentido bem presente, o convívio espiritual
com Cristo à sua mesa. A Igreja vem proclamar não um herói morto, mas um
Salvador ressuscitado e vencedor. A expressão “mesa do Senhor” sugere estar Ele
presente como o verdadeiro anfitrião, aquele que transmite o sentido de terem
os crentes, nEle, segurança e paz (ver SI 23.5). Finalmente, há um sentido
futuro neste relembrar, sendo que a comunhão da qual o crente agora participa
com o Senhor não é o ponto final. Neste sentido, a Ceia do Senhor tem uma
dimensão escatológica. Ao participarmos dela, antecipamos a alegria pela sua
segunda vinda e pela reunião da Igreja com Ele para toda a eternidade (Mc
14.25; 1 Co 11.26)” (HORTON, Stanley. Teologia Sistemática. Uma Perspectiva
Pentecostal Led. Rio de Janeiro CPAD, 2023, p.573-77).
CONCLUSÃO
Nesta lição, sob diferentes perspectivas, vimos
alguns aspectos que revelam o sentido e propósito da Ceia do Senhor. Não é um
sacramento, que de forma mágica concede graça aos que dela participam nem
tampouco uma vacina para dar comunhão a quem não tem. Na verdade, o direito de
celebrar essa importante ordenança é o resultado da graça que foi concedida a
cada crente. É necessário ter esse discernimento quando se participa desse rito
cristão. Trata, pois, de um ato que não pode ser celebrado de qualquer jeito ou
maneira, nem tampouco por quem vive deliberadamente em pecado.
CPAD
: O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo
| Lição 10: A Ceia do Senhor – A
Segunda Ordenança da Igreja
Nisto, porém, que vou dizer-vos,
não vos louvo, porquanto vos ajuntais, não para melhor, senão para pior.
Porque, antes de tudo, ouço que, quando vos ajuntais na igreja, há entre vós
dissensões; e em parte o creio. E até importa que haja entre vós heresias, para
que os que são sinceros se manifestem entre vós. De sorte que, quando vos
ajuntais num lugar, não é para comer a Ceia do Senhor. Porque, comendo, cada um
toma antecipadamente a sua própria ceia; e assim um tem fome, e outro
embriaga-se. Não tendes, porventura, casas para comer e para beber? Ou desprezais
a igreja de Deus e envergonhais os que nada têm? Que vos direi? Louvar-vos-ei?
Nisso não vos louvo. Porque eu recebi do Senhor o que também vos ensinei: que o
Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão; e, tendo dado graças, o
partiu e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que é partido por vós; fazei
isto em memória de mim. Semelhantemente também, depois de cear, tomou o cálice,
dizendo: Este cálice é o Novo Testamento no meu sangue; fazei isto, todas as
vezes que beberdes, em memória de mim. Porque, todas as vezes que comerdes este
pão e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor, até que venha.
Portanto, qualquer que comer este pão ou beber o cálice do Senhor,
indignamente, será culpado do corpo e do sangue do Senhor. Examine-se, pois, o
homem a si mesmo, e assim coma deste pão, e beba deste cálice. Porque o que
come e bebe indignamente come e bebe para sua própria condenação, não
discernindo o corpo do Senhor.
Por causa disso, há entre vós muitos fracos
e doentes e muitos que dormem. Porque, se nós nos julgássemos a nós mesmos, não
seria- mos julgados. Mas, quando somos julgados, somos repreendidos pelo
Senhor, para não sermos condenados com o mundo. Portanto, meus irmãos, quando
vos ajuntais para comer, esperai uns pelos outros. Mas, se algum tiver fome,
coma em casa, para que vos não ajunteis para condenação. Quanto às demais
coisas, ordená-las-ei quando for ter convosco". (1 Co 11.17-34)
Assim como o batismo em águas, a Ceia do
Senhor também é uma ordenança de Cristo à igreja. Não é um sacramento conforme
entende o catolicismo e alguns segmentos do protestantismo histórico. Isso
significa dizer que a Ceia do Senhor não se reveste de "poderes må- gicos
capazes de conferir beneficio espiritual independentemente da condição
espiritual de quem participa dela. Nesse aspecto, a Ceia não pode ser vista
como uma "vacina" que o cristão toma regularmente para provar que é
um membro ativo da igreja. Em outras palavras, a Ceia não é para dar comunhão a
quem não está em comunhão, mas para celebrar a comunhão de quem tem comunhão.
Por outro lado, ela não é um rito vazio de significado que deve ser praticado
somente porque se trata de uma ordem dada à igreja por Jesus. A Ceia, assim
como o batismo em águas, é um símbolo visível que ex- pressa uma realidade
espiritual invisível. É, portanto, a celebração de nossa comunhão com o Cristo
vivo. Dessa forma, ela não pode ser vista simplesmente como um rito opcional que
pode ser praticado ou não. Nela, Cristo não se encontra fisicamente presente,
contudo, espiritualmente, sim.
1. Páscoa versus Ceia
O real sentido da última Ceia celebrada por
Jesus narrada em Lucas 22.19,20 só é totalmente compreendida quando analisada à
luz da Páscoa judaica (hb. Pessach). Essa festa, que era uma das mais
grandiosas do antigo judaísmo, era celebrada pelos judeus como o "tempo da
sua liberdade". Era, sem dúvida, o mais querido de todos os dias
santificados pelos judeus. O sentido simbólico desse rito está associado com a
ideia de liberdade conforme expressado no livro de Êxodo capítulo 12.
A Páscoa judaica era apenas um tipo do qual
Jesus era o antitipo. Paulo disse isso quando escreveu: "Cristo, nossa
páscoa, foi sacrificado por nós" (1 Co 5.7). O escritor Gerard Van
Groningen (1921-2014) destaca que:
O cordeiro da
Páscoa, em si mesmo, tem significação messiânica como tipo. Seu caráter e
qualidade tinha de ser sem mancha ou defeito. Nenhuma das evidências dos
efeitos ruinosos do pecado e seus resultados poderia estar presente. O próprio
cordeiro tinha de ser perfeito para ser aceitável a Yahweh como um substituto
para o povo oprimido a sofrer sobre o cativeiro egípcio. Ele tinha de ser
completamente consumido, sem que seus ossos fossem quebrados, para indicar a
extrema necessidade de uma total libertação e integral submissão a este
requisito.
Ainda de acordo com Groningen, o cordeiro da
Páscoa também possuía um aspecto escatológico definido. Ele devia ser morto não
somente no tempo do êxodo, mas também anualmente. Yahweh, falando por meio de
Moisés, ordenou que o cordeiro da Páscoa fosse selecionado, morto e consumido a
cada ano (Ex 12.14) em cada família. Assim, as familias deveriam considerar,
retrospectivamente, a sua libertação. Isso, por sua vez, falava
prospectivamente de uma liberta- ção plena, total, que viria por meio de um
Cordeiro Pascal cuja morte sacrificial, uma vez cumprida na história, traria
completa redenção e, portanto, tornaria desnecessário qualquer novo
derramamento de sangue do cordeiro pascal.
Quando Jesus pediu aos seus discípulos que
preparassem a Páscoa, não há dúvida de que Ele tinha em mente esses fatos. Não
devemos, contudo, confundir essas duas cerimônias como se fossem uma coisa só.
Gregg Alisson chama a atenção para esse importante fato quando escreve:
O que Jesus estava
instituindo ao se reunir com seus discípulos na celebração da Páscoa na Última
Ceia? A igreja a chama de "ceia do Senhor". Não é a mesma coisa que a
Páscoa judaica; embora a ceia do Senhor tenha sido instituída durante uma
celebração da Páscoa dos judeus, ia surpreendentemente além da Páscoa. Em
contrapartida, a ceia do Senhor não é a mesma coisa que a Última Ceia. Antes, a ceia do Senhor foi instituída por
Jesus como rito contínuo que a Igreja deve observar entre a primeira e a
segunda vindas de Cristo, na expectativa de sua volta. Essa celebração
apresenta elementos simbólicos: o pão partido, um cálice de vinho e a
distribuição de ambos os elementos para a igreja. Essas ações retratam
vividamente o corpo partido de Cristo e o seu sangue derramado seu sacrificio
substitutivo em favor de pecadores, por meio do qual experimentam o perdão dos
pecados e a apropriação pela igreja da obra salvífica de Cristo. A Igreja
observa a Ceia do Senhor em memória da morte sacrificial de Jesus na cruz do
Calvário e do seu sangue que ratificou o relacionamento de nova aliança da
igreja com Deus.
2. Paulo e a
Ceia do Senhor
O propósito de Paulo quando deu instruções
sobre a Ceia do Senhor à igreja de Corinto foi corrigir alguns abusos que
estavam acontecendo durante a celebração. O contexto é bastante claro em dizer
que havia individualismo, egoísmo e até mesmo quem se em- briagasse durante a
cerimônia. Os coríntios não estavam discernindo o propósito da Ceia, pois participavam
como se estivessem participando de uma refeição qualquer. O escritor Warren
Wiersbe (1919-2019) observa que o cristão deve olhar em quatro direções ao
participar da Ceia. Em primeiro lugar, ele deve olhar para trás. Esse olhar é o
que nos fará lembrar o motivo da morte de Jesus carregar nossos pecados.
Lembrará também que Ele morreu de forma voluntária, demonstrando, assim, o seu
amor por nós. Em segundo lugar, o crente deve olhar para frente. Fazendo isso,
ele lembrará o sacrifício do Senhor "até que ele venha". Trata-se de
um olhar escatológico, rumo ao futuro da igreja. Em terceiro lugar, o crente
deve olhar ao seu redor. Esse olhar fará com que ele enxergue o outro e não
seja um egoista espiritual. De fato, esse é o verdadeiro propósito da Ceia, que
é celebrar uma festa em família. Em quarto lugar, o cristão deve olhar para
dentro. Esse olhar para dentro fará com que se examine a si mesmo:
"Examine-se, pois, o homem a si mesmo" (1 Co 11.28).
Ao fazer esse olhar introspectivo, o crente
deve ter o cuidado para não se abster desnecessariamente da Ceia do Senhor.
Muitos crentes deixam de participar da Ceia por motivos banais. Essa não é a
atitude correta. Na verdade, o que tem levado muitos crentes a proceder dessa
forma é a má interpretação feita das instruções dadas pelo apóstolo em 1
Coríntios 11.29: "Porque o que come e bebe indignamente come e bebe para
sua própria condenação, não discernindo o corpo do Se- nhor". No livro de
minha autoria Defendendo o Verdadeiro Evangelho, fiz uma exegese desse texto à
luz do texto grego. Mostrei que a palavra grega anaksiós, traduzida em
português como "indignamente", é um advérbio, e não um adjetivo. Como
sabemos, os advérbios indicam "modo" ou "maneira", enquanto
os adjetivos indicam "estado" ou "qualidade". Se Paulo
tivesse usado o adjetivo "indigno" (anaksiós) no lugar do advérbio
"indignamente" (anaksiôs), então ninguém, de fato, poderia participar
da Ceia do Senhor, pois ninguém é ou será digno. A salvação é pela graça, e não
por meio de nosso mérito ou dignidade. Da mesma forma, a participação da Ceia
do Senhor por parte dos crentes também é uma manifestação da graça de Deus.
Voltando ao texto, o advérbio
"indignamente" (anaksiós) mostra que Paulo referia-se ao modo
irreverente dos corintios ao celebrarem a Ceia do Senhor, isto é, enquanto
alguns se embriagavam durante a reunião, outros comiam demais, além do fato de
não esperarem uns pelos outros. Essa maneira de celebrar a Ceia do Senhor não
estava correta e precisava da correção por parte do apóstolo. Os escritores Guy
P. Duffield e Nathaniel M. Van Cleave dizem isso com outras palavras:
Há necessidade de
uma explicação sobre a advertência contra "comer ou beber indignamente"
(1 Co 11.27-29). Muitos crentes, por não entenderem bem essas advertências, abstiveram-se
desnecessariamente da Ceia do Senhor. Deve ser notado que
"indignamente" é um advérbio que modifica os verbos "comer"
e "beber", e está ligado à "maneira" de participar, e não à
in- dignidade das pessoas. A advertência referia-se à atitude ávida e
descontrolada dos coríntios, descrita em 1 Coríntios 11.20-22. Ninguém é digno,
por si mesmo, de ter comunhão com Jesus, mas possuímos esse privilégio em
virtude da obra expiatória que os elementos simbolizam. Todavia, os
participantes precisam examinar a si mesmos com relação ao modo como tomam a
ceia e à sua atitude para com os outros crentes; além disso, devem verificar se
estão discernindo o corpo do Senhor, sem demonstrar irreverência ou frivolidade
em suas maneiras. A participação com fé pode resultar em grandes bênçãos e até
na cura espiritual e física (1 Co 11.29,30).
Biblicamente, portanto, a Ceia do Senhor é
uma cerimônia de que devemos participar com discernimento. Se, por um lado, os
elementos não se convertem literalmente no corpo e no sangue de Jesus, conforme
afirma o ritual católico, por outro lado, a Ceia do Senhor não pode ter o seu
verdadeiro sentido esvaziado que é a presença espiritual de Jesus. Os extremos
são perigosos. No século XIII, por exemplo, o ritual católico concernente à eucaristia
foi alterado radicalmente quando só o pão passou a ser entregue aos leigos, mas
não o vinho. Havia o medo de o vinho - no caso, o "sangue real" de
Jesus - ser derramado durante a cerimônia e, dessa forma, ser profanado.
Alisson
destaca que
A partir do século
13, a Igreja Católica começou a entregar aos leigos o pão, mas não o cálice.
Essa prática era justificada teologicamente pela doutrina da concomitância,
explicada por Boaventura: "Uma vez que o bendito e glorioso corpo de
Cristo não pode ser dividido em suas partes e não pode ser separado da alma nem
da mais sublime divindade, assim em cada ele- mento está o Cristo todo, inteiro
e indivisível, a saber, o corpo, a alma e Deus. Portanto, em cada um está
presente o único e mais simples sacramento que contém todo o Cristo. E, uma vez
que cada parte dos elementos representa o corpo de Cristo, todo o corpo está
presente em todos os elementos e está em cada parte dele, quer inteiro, quer
separado" (Bonaventura, Breviloquium, 6.9 [5], in: E. E. Nemmers, Breviloquium
of St. Bonaventura [St. Louis: B. Herder, 1946), p. 199-200). Portanto, se os
leigos recebem somente um dos elementos, ainda assim recebem todo o Cristo. De
modo prático, essa mudança foi instituída em virtude de uma preocupação com a
profanação do sagrado sacramento. A igreja temia que servir o cálice
repetidamente levaria parte do vinho (e da água) a serem derramados; com isso,
o sangue de Cristo seria profanado. Para evitar que isso acontecesse, a igreja
restringia a participação do cálice ao padre que celebrava a missa. Essa foi
chamada comunhão em uma espécie, pois apenas um elemento, o pão, era dado aos
leigos durante a missa.
Por outro lado, para esse extremo ser
evitado, acaba sendo criado outro o de destituir a Ceia de qualquer significado
e relevância. Sobre isso, o teólogo Millard Ericson advertiu:
Por zelo, para
evitar a ideia de que Jesus está presente de algum modo mágico, alguns, por
vezes, foram a extremos a ponto de dar a impressão de que o lugar em que Jesus
mais certamente não está presente é na Ceia do Senhor."
Portanto, para evitar a doutrina católica da presença real de Jesus,
alguns protestantes criaram a doutrina da "ausência total" de Jesus
na Ceia. É um equívoco que deve ser terminantemente evitado.
Participantes
da Ceia
Aqui cabe a pergunta: quem deve participar da
Ceia do Senhor? Há três posicionamentos que resumiremos aqui.
1. Comunhão fechada. Essa posição defende que
a Ceia deve ser servida somente a membros batizados e em dia com as suas
obrigações em determinada igreja local. Isso significa que des. crentes,
crentes não batizados e crentes que estão cumprindo algum processo disciplinar
são excluídos da Ceia.
2. Comunhão aberta. Essa
posição defende que todos os cristãos autênticos, quer sejam batizados, quer
não; quer sejam membros de outra igreja diferente daquela que ministra a Ceia;
quer estejam em dia ou não com as suas obrigações com a igreja local podem
participar da Ceia.
3. Comunhão próxima. Essa
posição afirma que a Ceia deve ser ministrada a quem for batizado e está em dia
com as suas obrigações na sua respectiva igreja. Contudo, contrariamente à
comunhão fechada, a Ceia não é restrita apenas à igreja que a ministra. Membros
de outras igrejas podem participar. Assim, não é necessário, portanto, que o
que participa seja membro da igreja que está servindo a Ceia. Contudo,
contrariamente à comunhão aberta, exige que o que participa da Ceia seja
batizado. É, portanto, um meio-termo entre as duas primeiras posições.
Os argumentos em favor da comunhão fechada
podem ser resumidos assim:
4. Jesus mandou, em primeiro
lugar, pregar o evangelho e batizar os convertidos (Mt 28.18-20).
5. No livro de Atos, os
crentes eram, a princípio, batizados e, só depois disso, participavam da Ceia
do Senhor.
Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu
coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões
irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em
nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espirito
Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós a vossos filhos e a todos os
que estão longe: a tantos quantos Deus nosso Senhor, chamar. E com muitas
outras palavras isto testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta
geração perversa.
De sorte que foram batizados os que de bom
grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil
almas. E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do
pão, e nas orações. (At 2.37-42)
Esse relato mostra sem sombras de dúvidas que
as pessoas, em primeiro lugar, convertiam-se; eram batizadas em águas e depois
participavam da Ceia do Senhor, denominada aqui de "partir do pão".
6. Essa é a prática seguida
pela igreja também na Patristica."
Não há como minimizar o valor
que a Ceia tem para a igreja. A sua importância está no fato de que foi uma das
ordenanças deixadas por Jesus para a sua igreja. Contudo, como ficou
demonstrado, ela não é um sacramento capaz de conferir graça a quem dela
participa independentemente da sua condição espiritual. Assim, a Ceia deve ser
celebrada por quem está em comunhão, e não para dar comunhão a quem não tem.
Quando praticada com o devido discernimento exigido pelas Escrituras, a Ceia é
uma bênção para o cristão, uma vez que ela rememora o sacrificio de Jesus.
O CORPO DE CRISTO – Origem,
Natureza e Missão da Igreja no Mundo
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