sábado, 10 de fevereiro de 2024

CPAD – O CORPO DE CRISTO | Lição 07: O Ministério da Igreja

                                               


                                                           TEXTO ÁUREO

“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores.” (Ef 4.11)

VERDADE PRÁTICA

Os dons ministeriais foram dados com o objetivo de edificar a Igreja e promover a maturidade de seus membros.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Efésios 4.11-16
11 – E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
12 – querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo,
13 – até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,
14 – para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.
15 – Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo,
16 – do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo ajusta operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor.

PLANO DE AULA

1- INTRODUÇÃO
Prezado (o) professor(a), nesta lição, veremos a natureza do ministério sacerdotal praticado entre os hebreus na Antiga Aliança, bem como do exercício ministerial na Nova Aliança. De modo geral, todo crente é chamado a exercer o sacerdócio universal conforme o propósito divino predeterminado para sua Igreja. Em contrapartida, quanto aos ofícios ministeriais, o Senhor escolheu pessoas específicas para edificar a igreja por meio dos dons ministeriais, visando o aperfeiçoamento dos santos.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Apresentar a doutrina bíblica do ministério sacerdotal observada na Antiga Aliança e praticada pelos crentes na Nova Aliança;
II) Elencar os cargos ministeriais instituídos na Igreja Primitiva;
III) Explicar as qualificações de natureza moral e social exigidas para o exercício ministerial.
B) Motivação: O crente foi chamado por Deus para exercer o sacerdócio real e, como nação santa, anunciar as virtudes do Reino Celestial. Como sacerdote da Nova Aliança, o crente oferece a Deus sacrifícios agradáveis, isto é, a própria vida em serviço santo e o louvor como fruto dos lábios. Além disso, o crente intercede pelos salvos e proclama a salvação aos que precisam ser alcançados.
C) Sugestão de Método: Nesta lição, a classe estudará a natureza dos dons ministeriais e suas respectivas características. Para verificar o nível de conhecimento dos seus alunos acerca dos dons ministeriais, solicite que a classe registre em uma folha de papel à parte quais são as qualificações exigidas para o exercício ministerial, conforme estão registradas nas Cartas Pastorais de Timóteo, 2 Timóteo e Tito.
3 – CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A multiforme sabedoria de Deus encarregou a cada crente com qualificações específicas para o exercício de dons ministeriais e espirituais específicos. Cabe ao crente buscar o discernimento para identificar a natureza do seu chamado espiritual.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas Adultos. Na edição 96, p. 39, você encontrará um subsídio especial para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “‘A Geração Eleita, o Sacerdócio Real’ (1 Pe 2.9,10)”, localizado depois do primeiro tópico, aponta para a natureza do chamado sacerdotal da Igreja e sua missão como anunciadora das virtudes do Reino de Deus;
2) O texto “O chamado para o Ministério”, ao final do terceiro tópico, destaca a rica diversidade, produzida pela obra do Espírito Santo, dentro da admirável unidade do Corpo de Cristo.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos o ministério em suas diferentes funções e ofícios, bem como as qualificações que, biblicamente, são exigidas para o seu exercício. Primeiramente, mostraremos que, de modo bíblico, todo cristão exerce um ministério sacerdotal que o habilita a ministrar diante de Deus. Nesse sentido, não há diferença entre o membro e a liderança. Todos são sacerdotes de Deus. Por outro lado, as Escrituras mostram claramente que Deus escolheu determinadas pessoas para funções e ofícios específicos. Esses ministros chamados por Deus têm a função de servir à Igreja de Cristo e trabalhar no aperfeiçoamento dos santos.

Palavra-Chave: Ministério

AMPLIANDO O CONHECIMENTO

SACERDÓCIO UNIVERSAL DO CRENTE
“A Igreja, no decurso dos séculos, sempre tendeu a dividir-se em duas categorias gerais: o clero (gr. klêros – ‘sorte, porção’, isto é, porção que Deus separou para si) e o laicato (gr. laos – povo). O Novo Testamento, no entanto, não faz uma distinção tão marcante. Pelo contrário, a ‘porção’ ou klêros de Deus, sua própria possessão, refere-se a todos os crentes nascidos de novo, e não somente a um grupo seleto.” Amplie mais o seu conhecimento, lendo a obra Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal, Editora CPAD, p.564.

AUXÍLIO DEVOCIONAL

A GERAÇÃO ELEITA, O SACERDÓCIO REAL’ (1 PE 2.9,10)
É simplesmente correto que nós decidamos viver de acordo com os valores de Deus, pois Ele nos escolheu. No Antigo Testamento, os sacerdotes oficiavam em sacrifícios e lideravam a adoração a Deus. Na cultura romana do século I, os sacerdotes pagãos também lideravam os adoradores na oferta de sacrifícios e louvores aos deuses. Em ambos os contextos, servir como sacerdote era considerado uma grande honra. Assim, a imagem de sacerdócio real cristão era clara e poderosa. Nós, que, por causa do pecado, nem mesmo éramos um povo de Deus, fomos chamados das trevas e recebemos a posição mais elevada!

Nos tempos antigos, a pedra de esquina era a âncora do alicerce de um edifício. Os textos de Salmos 118.22 e Isaías 28.16, que se referem a pedras de esquina, foram interpretados, por rabinos de Israel, como tendo implicações messiânicas e são aplicados a Jesus nos Evangelhos (Mt 24.42; Mc 12.10; Lc 20.17), por Paulo (Rm 9.33; Ef 2.20) e por Pedro. Jesus Cristo é 0 alicerce da nossa fé, como também da igreja; nEle, os crentes são pedras vivas (1 Pe 2.4-7). É simplesmente apropriados, então, que sirvamos como sacerdotes e ‘anunciemos as virtudes’ daquele que nos chamou das trevas para a luz” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 2012, p.965).

AUXÍLIO TEOLÓGICO

O CHAMADO PARA O MINISTÉRIO
Paulo salientou, com muito critério, uma importante verdade concernente à diversidade de ministérios (Rm 12.3-8; 1 Co 12.1-30). Dentro da admirável unidade do Corpo de Cristo, produzida pela obra do Espírito Santo, há uma rica diversidade. Nem todos os ministérios têm a mesma função, o mesmo dom ou o mesmo ofício. Assim como o corpo humano tem uma grande variedade de órgãos a fim de funcionar apropriadamente, o Corpo de Cristo requer diversidade de ministérios para que a Igreja possa cumprir com eficiência as ordens de Cristo. Na ‘diversidade da unidade’, brilha o interesse de Deus pelo indivíduo. A despeito de função, dom ou ofício: a despeito de quão atraente, ou oculta, seja a tarefa confiada a alguém, todos, aos olhos de Deus, são importantes. Cada crente será recompensado de acordo com a sua fidelidade” (MENZIES, Willian W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Fé Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.153).

CONCLUSÃO

Nesta lição, vimos o ministério sob diferentes aspectos. Vimos que a doutrina do sacerdócio universal dos crentes é inteiramente bíblica. Todo crente tem o privilégio de apresentar a si mesmo e a outros diante de Deus, sem a necessidade de mediadores terrenos. Vimos também que Deus pôs na Igreja alguns para o exercício de determinadas funções específicas. Esses ministérios devem ser vistos como dons de Deus à Igreja.

CPAD – O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo

| Lição 07: O Ministério da Igreja

 


  E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de    Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua edificação em amor. (Ef 4.11-16)

  Neste capítulo, estudaremos sobre o Ministério da Igreja. Faremos isso, em um primeiro momento, analisando a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes por acreditarmos que, além de ser um dos pilares da Reforma do século XVI, é uma doutrina genuinamente bíblica (1 Pe 2.9).   Mostraremos que, no contexto neotestamentário, embora houvesse hierarquia ministerial, não havia uma distância abissal entre leigos e clérigos. Num segundo momento, faremos uma análise da estrutura ministerial tal como aparece nas páginas do Novo Testamento.

  Devemos destacar que a doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes é uma das doutrinas mais belas do Novo Testamento. Essa doutrina é nitidamente mostrada na Bíblia (1 Pe 2.9; Ap 1.5,6; 5.10). Sem exceção, todo crente agora é um sacerdote, podendo exercer com eficácia, por exemplo, o ministério de intercessão (Hb 10.19-22). A Nova Aliança permitiu que cada crente diferentemente do Antigo Testamento, em que só uma classe escolhida podia oficializar-se como sacerdote - pode agora entrar sem medo diante da presença de Deus.

  À medida que conhecemos essa doutrina tanto na sua dimensão bíblica como na histórica, mais conscientes ficamos da sua impor- tância. Dessa forma, teremos uma compreensão melhor sobre ela se a conhecermos a partir dos seus fundamentos, que são encontrados no Antigo Testamento, e como ela é compreendida em o Novo. Feito isso, precisamos acompanhar como a igreja interpretou em diferentes épocas essa importante doutrina cristă. Isso porque, assim como aconteceu com inúmeras outras doutrinas, o sacerdócio universal de todos os crentes também sofreu desvios.

  O catolicismo é um exemplo vivo disso. Dentro dessa comuni- dade religiosa, o exercício do sacerdócio é tirado do leigo e posto numa classe especialmente escolhida para isso, que são os padres. Convém destacar que o Papa, também denominado de "Santo Padre", está no topo da hierarquia sacerdotal católica. Somente aos padres cabe a função de intercessor. Dessa forma, a função sacerdotal de intercessor, que cabia a todo cristão (1 Pe 2.9), foi elitizada - aqui na Terra, pelos clérigos católicos, e no Céu, pelos "santos". Essa crença, por exemplo, está na base da "confissão auricular", na qual um fiel confessa-se com um clérigo. Evidentemente, essa prática é diametralmente oposta ao ensino bíblico que diz que qualquer cris- tão pode confessar as suas falhas diretamente a Deus (1 Jo 1.9) e a qualquer outro cristão (Tg 5.16). Posteriormente, outros segmentos religiosos, como, por exemplo, o mormonismo, concentraram em torno de si a função sacerdotal. Somente os seus membros, segun- do apregoam os seus adeptos, são os verdadeiros detentores das chaves do sacerdócio.

  É oportuno pontuar aqui que o resgate do sacerdócio universal dos crentes, sejam eles leigos, sejam clérigos, tal qual se encontra nas páginas neotestamentárias foi uma conquista da Reforma Luterana do século XVI. Em uma das suas 95 teses afixadas na porta da Igreja do Castelo de Wittenberg em 1 de outubro de 1517, Martinho Lutero dizia: "Qualquer cristão verdadeiro participa dos benefícios de Cristo e da Igreja". A Reforma apregoava um retorno radical às Escrituras, como bem definiu o seu lema Sola Scriptura (somente a Escritura). São nas páginas das Escrituras Sagradas que podemos ver a magnitude dessa doutrina.

   Sucintamente, os teólogos esboçam a doutrina do sacerdócio (hb. koheri) bíblico nas páginas do AT da seguinte forma: (1) no início, levando-se em conta a necessidade de oferecer-se sacrificio, os homens eram os seus próprios sacerdotes (Gn 4.3 e Jó 1.5); (2) na era patriarcal, o sacerdócio era exercido pelo chefe da família (Gn 8.20; 12.8; Jó 1.5); (3) de certo modo, todo Israel era sacerdote do Senhor para outras nações (Êx 19.6); (4) e, no Monte Sinai, o Senhor limitou o sacerdócio a Arão e à tribo de Levi (Êx 28.1; 40.1-15).

   Dessa forma, J. Barton Payne (1922-1979), professor de Antigo Testamento, observa oportunamente que "os sacerdotes do AT eram tipos de Cristo (Hb 8.1), que operou a derradeira propiciação pelos pecados do povo" e que "a Igreja do NT apresenta um sacerdócio universal dos crentes (1 Pe 2.5; Ap 5.10; Jr 31.34)".2

   É importante, portanto, compreendermos a função sacerdotal nas páginas do Antigo Testamento e como ela formata-se ao Novo. Se o sacerdote era no Velho Concerto um ministro das coisas sagra- das (sacrificio de animais, intercessão pelo povo, consulta a Deus e ensino da Lei), por outro lado, dentro do Novo Concerto, os sacerdotes, entre outras coisas, devem: oferecer o seu próprio corpo em sacrifício vivo (Rm 12.1-2); ministrar o louvor, como fruto dos seus próprios lábios (Hb 13.5); interceder pelos outros (I Tm 2.1; Hb 10.19,20); proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa luz (1 Pe 2.9); e manter comunhão direta com o seu Deus (2 Co 13.13).

  Esses fatos revelam-nos a grande importância que essa doutrina tem hoje para os crentes. Em todos eles, o cristão é o agente ativo da ação. Mas é bom lembrar aqui que, infelizmente, nem todos os crentes ainda tiveram o correto discernimento da magnitude dessa verdade. Uma das principais funções sacerdotais, a de intercessor, tem sido negligenciada. Permita ilustrar o que quero dizer citando duas passagens do Novo Testamento.

   A primeira encontra-se em Lucas 1.8,9. A segunda, em Apocalipse 5.8-10. Temos nessas passagens o exercício do sacerdócio cobrindo as duas alianças. Na primeira, temos um homem escolhido, Zacarias, para oficiar como sacerdote. Embora vivesse no limiar no Novo Concerto, ele ainda pertencia ao Antigo. Na segunda, temos todos os crentes, sem distinção alguma, exercendo a função sacerdotal. Há, contudo, uma prática que é comum no desempenho da função sacerdotal revelada nessas passagens: a queima do incenso. Tanto os sacerdotes da Velha Aliança como os da Nova queimavam incenso. O texto é claro em dizer que o sacerdote Zacarias entrou no santuário para queimar incenso (Lc 1.9) e que, hoje, o incenso são as orações dos santos (Ap 5.8). Se somos sacerdotes como, de fato, o somos, então estamos exercendo nossa função, isto é, "queimando o incenso"? Infelizmente, há muitos sacerdotes hoje que não queimam mais incenso! Você já queimou incenso hoje? "Suba à tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como oferenda vespertina" (SI 141.2, ARA).

  O Ministério Quintuplo

  E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores, que- rendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as juntas. segundo a justa operação de cada parte, faz o aumento do corpo. para sua edificação em amor. XVI (Ef 4:11-16)

  Na carta aos Efésios, o apóstolo Paulo relaciona o que comumente já se denominou de dons quintuplos: apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres. São os chamados dons ministeriais. É interessante observar que a ênfase dada a esses dons está na função que eles desempenham na igreja de Cristo. Dessa forma, esses dons foram postos para a "edificação do corpo de Cristo". O alvo é que a igreja alcance crescimento e maturidade. Em nenhum momento, esses dons aparecem como um ofício destituído de função. Em outras palavras, não são vistos como meros cargos eclesiásticos, mas como dons de Deus que são reconhecidos pela capacitação divina que os acompanham. Nesse aspecto, não estão relacionados a status eclesiásticos, mas ao serviço cristão. Na verdade, no contexto bíblico, observamos que é a unção, isto é, a capacitação dada por Deus, que determina o ofício, e não o contrário. Possivelmente, uma das grandes tragédias do ministério hoje está no fato de termos tantos obreiros exercendo algum ofício ministerial para os quais não foram chamados, nem capacitados por Deus para tal. Possuem o oficio, mas não a unção.

   Muito se tem discutido se há apóstolos e profetas hoje. Essa era uma questão que ficou adormecida por muito tempo na História da Igreja. O entendimento que prevalecia era que esses dons ministeriais ficaram restritos ao Novo Testamento, da mesma forma como os dons espirituais. Contudo, com o aparecimento do Movimento Pentecostal no início do século XX, surgiu uma nova ênfase em torno do assunto. Uma ala dentro do pentecostalismo começou a divulgar a ideia de que uma das marcas dos últimos dias da igreja era justamente a restauração dos dons quíntuplos. Assim, não somente pastores, evangelistas e mestres continuavam vigentes, mas também os dons de apóstolos e profetas.

  Esse tipo de entendimento não é consenso entre os pentecostais. Muitos pentecostais preferem ver essa questão a partir de uma perspectiva funcional. Não é incomum, por exemplo, vermos na literatura esses dons sendo retratados a partir da função exercida, e não propriamente do ofício ocupado por alguém. Nesse caso, alguns tendem a reconhecer que a função continua existindo, mas não o oficio. Exemplificaremos mediante dois casos extraídos de nossa literatura. Um exemplo da literatura produzida por um grande segmento do Movimento Pentecostal, enquanto o outro, de uma denominação histórica.

   Em 1934, foi lançado na Suécia o livro Despertamento Apostólico no Brasil. O livro examina as primeiras décadas do pentecostalismo na América Latina, com especial destaque para os missionários suecos Gunnar Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1884-1963). A obra desses primeiros missionários é retratada nesse livro como sendo de natureza apostólica. Contudo, nenhum desses missionários via-se como apóstolo e nem reivindicou isso para si. Eles simplesmente se viam como servos de Deus que haviam sido capacitados para a obra missionária. Todavia, a literatura, devido à natureza missional dos seus trabalhos, viam-nos como verdadeiros apóstolos. Sven Lidman (1882-1960), literato sueco e pioneiro do pentecostalismo escandinavo, ao referir-se a Gunnar Vingren, escreveu:

  A lembrança do irmão Gunnar Vingren tornou-se muito vívida em meu coração [...] numa semana de estudo bíblico em Kölingared, em 1921, quando pela primeira vez estive junto com um grupo maior de amigos pentecostais e participei de uma série de reuniões. Lá conheci um missionário que era do Brasil e se chamava Gunnar Vingren. Não posso dizer o quão tremendamente ele conquistou meu coração. Tive a sensação de que aqui em Kölingared, em 1921, encontrei um apóstolo do Senhor como aqueles sobre os quais lemos nos Atos dos Apóstolos. É impossível descrever com que alegria e gratidão ouvi a muita sabedoria e experiência que ele obteve da obra de Deus, tanto nos corações humanos como no campo missionário.

  Outro exemplo vem da obra do historiador José Reis, que se refere ao trabalho de evangelização de Eurico Nelson na bacia do Amazonas como também sendo de natureza apostólica. Reis escreveu em 1945 uma biografia desse missionário, intitulada Eurico Nelson: o apóstolo da Amazônia. Nelson, assim como outros missionários do seu tempo, nunca se viram com apóstolos; entretanto, é inegável que o que fizeram levou-os a serem avaliados dessa forma. Evidentemente que o termo apóstolo usado tanto em relação a Gunnar Vingren como em relação a Eurico Nelson refere-se à função que esses homens exerceram, e não a um ofício apostólico que desempenharam.

  A Relevância do Ministério

  Vejamos, portanto, uma exposição sobre o ministério cristão a partir das qualificações especificadas nas Escrituras. Nossa análise tomará por base a Chave Linguistica do Novo Testamento e outras literaturas que ajudam a lançar luz sobre esse importante assunto.

1 Timóteo 3.1-13:

  Esta é uma palavra fiel: Se alguém deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro, apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua própria casa, tendo seus filhos em sujei- ção, com toda a modéstia (porque, se alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?); não neofito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo. Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não caia em afronta e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos, não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância, guardando o mistério da fé em uma pura consciência. E também estes sejam primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os diáconos sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas próprias casas. Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e muita confiança na fé que há em Cristo Jesus. (1 Tm 3.1-13)

Tito 1.5-9:

  Por esta causa te deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e, de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei: aquele que for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância; mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante, retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja poderoso, tanto para admoestar com a să doutrina. (It 1.5-9)

1. O fundamento -"fiel é a palavra", isto é, digna de ser recebi- da (1 Tm 3.1; 4.9; 2 Tm 2.11; Tt 3.8). Essa frase tem a ver com as doutrinas vitais da fé cristã. A vocação ministerial está na categoria das doutrinas vitais do Novo Testamento. Todo ministério bem-sucedido tem como fundamentação a Palavra de Deus. Dietrich Bonhoffer dizia que "a palavra de Deus não necessita de enfeites"."

2. O propósito - "aspira ao episcopado" e tem a ver com aspira- ção e vocação. O termo grego significa "esticar-se", "estender a mão". A palavra grega oregetai refere-se ao desejo externo. Alguém que se esforça para alcançar algo. Já a palavra grega epithymei refere-se ao desejo interno, uma paixão forte. Essas duas palavras ilustram o tipo de homem que pode exercer o ministério, aquele que busca com dinamismo porque está mo- tivado por um desejo forte no seu interior. Como dizia Charles Spurgeon: "Se você puder fazer outra coisa, faça, mas se não, então abrace o ministério".

3. A função-episkope, episkopeo, significa "dar atenção a", "prover". Também significa "inspeção", "visitação", "cargo de supervisão". Esses significados deram o sentido de cargo de liderança. Tem a ver com a função ou ofício, e não com a hierarquia. (At 20.17; 20.28; Tt 1.5-9; 1 Pe 5.1,2). A. T. Robertson diz que a palavra episkope refere-se a "condição de supervisor" como em Atos 1.20. Judas, por exemplo, "estava na condição de apóstolo", mas perdeu isso quando agiu de forma contrária à sua vocação. No Novo Testamento, essa palavra não tem o sentido monárquico como se encontra em Inácio de Antioquia.

4. A padronização -"dei", "é necessário". Tem a ver com o dever, custo, preço. Paulo, em primeiro lugar, fala da relevância do ministério e aqui mostra o que é necessário para alguém exer- cê-lo. A palavra fala da necessidade lógica de acordo com as necessidades prementes das circunstâncias. Nos dizeres de Ed Murphy: "Se não podes viver a altura das normas e exigências do ministério, sai dele. Esse não é o teu lugar".

5. A qualificação-Aqui Paulo lista as qualidades que um ministro precisa possuir:

(1) Irrepreensível (gr. Anepilemptos). "Que não pode ser preso como delinquente". Sem acusação válida. Anenkletos - Não se refere a perfeição livre de pecado, mas a uma vida pessoal que está acima de qualquer acusação legítima e de todo escândalo público. Alguém além da possibilidade de ser apanhado em falta, em um escândalo ou em algum vício. Charles Swindoll destaca que "integridade moral arruinada significa que o líder renunciou a capacidade de liderar".

(2) Marido de uma só mulher (gr. Mias gynaikos aner). "Homem de uma única mulher". Alguns intérpretes acreditam que essa recomendação não se refere ao estado civil, mas à pureza moral e sexual. Contudo, o contexto favorece o sentido de "fiel a sua esposa". Um obreiro infiel está desqualificado para ser ministro de Cristo.

(3) Temperante (gr. Nephalios). "Sóbrio, de mente limpa, equilibrado". O grego original diz "sem vinho", mantendo aqui, portanto, o sentido metafórico para comunicar a qualidade de "alerta", "vigilante", "cuidadoso ou com a mente livre". Os líderes sempre devem estar com a capacidade de

pensar com clareza.

(4) Sóbrio (gr. Sophron). Autocontrolado, moderado, prudente e sensato. John MacArthur diz que "um homem prudente é disciplinado, sabe ordenar as suas prioridades e é sério em assuntos espirituais".

(5) Modesto (gr. Kósmios). Ordeiro ou de boa conduta, decente ou honrado. Os líderes não podem levar uma vida desordenada. Se não podem ordenar a própria vida, como porão ordem na igreja de Deus?

(6) Hospitaleiro (gr. Philoksenos). O termo grego é um composto de duas palavras que significa literalmente "amar os estra- nhos". Aqui significa que a vida e o lar do líder devem estar abertos para que todos possam ver o seu caráter espiritual. A sua casa deve sempre estar aberta tanto aos viajantes como aos membros da igreja.

(7) Apto para ensinar (gr. Didaktikos). Capaz de ensinar, habilidoso ou apto para ensinar. Significa "qualificação e disposição para ensinar". Essa palavra no original só aparece aqui e em 2 Timóteo 2.24. John MacArthur observa que essa "é a única qualificação que se relaciona com os talentos e dons espirituais de um presbítero, e a única que distingue um presbítero de um diácono". A pregação e o ensino da Palavra de Deus é o dever principal do supervisor, pastore presbítero (1 Tm 4.6,11,13; 5.17; 2 Tm 2.15,24; Tt 2.1).

(8) Não dado ao vinho (gr. Paroinos). Embriagado, apegado à bebida. O obreiro deve manter-se abstêmio. Há um paralelo com o que Paulo disse em Efésios 5.18: "E não vos embria

gueis com vinho [...]". A expressão grega mé methyskesthe (não vos embriagueis) é formada pelo presente do imperativo acompanhada da partícula negativa: mé (não). O sentido é: "parem de beber vinho". O obreiro que é reprovado, por exemplo, no teste do bafômetro, também está reprovado como ministro do Senhor.

(9) Não violento (gr. Plektes). Truculento, briguento, homem violento. O original grego mantém o sentido de "um dador de murros". Isso significa que os líderes devem analisar as situações difíceis com calma e amabilidade (2 Tm 2.24,25), e em nenhuma circunstância com violência física..

(10) Não avarento (gr. Aphilargyros). Não apegado nem amante do dinheiro; altruista; não ganancioso. Os falsos mestres e falsos profetas são os que agem sempre motivados pelo dinheiro ou pelo que vão ganhar. O obreiro não deve exercer o seu ministério, sob hipótese alguma, motivado pelo dinheiro. O dinheiro é importante, mas não pode tornar-se um deus na vida do cristão.

(11) Governe bem a própria casa (gr. Tou idiou oikou kalos proistámenon). Liderar, administrar, dirigir ou cuidar bem da família. Um obreiro que não sabe conduzir a sua casa está totalmente desqualificado para conduzir a igreja de Deus. Como um obreiro conduzirá a casa de Deus se a sua casa está totalmente desordenada?

(12) Não neófito (gr. Neophytos). Recém-plantado, novo convertido. Os líderes devem ser selecionados dentre os que possuem maturidade dentro da congregação. Os neófitos estão sujeitos a cair na "sentença recebida pelo Diabo". Colocar um novo convertido na posição de liderança é garantia certa de desastre espiritual.

O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo

José Gonçalves 



 

































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