TEXTO ÁUREO
“E ele mesmo deu uns para apóstolos, e
outros para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e
doutores.” (Ef 4.11)
VERDADE PRÁTICA
Os dons ministeriais foram dados com o
objetivo de edificar a Igreja e promover a maturidade de seus membros.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Efésios 4.11-16
11 – E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros
para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
12 – querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo,
13 – até que todos cheguemos à unidade da fé e ao conhecimento do Filho de
Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa de Cristo,
14 – para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo
vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam
fraudulosamente.
15 – Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a
cabeça, Cristo,
16 – do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo auxílio de todas as
juntas, segundo ajusta operação de cada parte, faz o aumento do corpo, para sua
edificação em amor.
PLANO DE AULA
1- INTRODUÇÃO
Prezado (o) professor(a), nesta lição, veremos
a natureza do ministério sacerdotal praticado entre os hebreus na Antiga
Aliança, bem como do exercício ministerial na Nova Aliança. De modo geral, todo
crente é chamado a exercer o sacerdócio universal conforme o propósito divino
predeterminado para sua Igreja. Em contrapartida, quanto aos ofícios
ministeriais, o Senhor escolheu pessoas específicas para edificar a igreja por
meio dos dons ministeriais, visando o aperfeiçoamento dos santos.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Apresentar a doutrina bíblica do
ministério sacerdotal observada na Antiga Aliança e praticada pelos crentes na
Nova Aliança;
II) Elencar os cargos ministeriais
instituídos na Igreja Primitiva;
III) Explicar as qualificações de
natureza moral e social exigidas para o exercício ministerial.
B) Motivação: O crente foi chamado por Deus para exercer o sacerdócio real e,
como nação santa, anunciar as virtudes do Reino Celestial. Como sacerdote da
Nova Aliança, o crente oferece a Deus sacrifícios agradáveis, isto é, a própria
vida em serviço santo e o louvor como fruto dos lábios. Além disso, o crente
intercede pelos salvos e proclama a salvação aos que precisam ser alcançados.
C) Sugestão de Método: Nesta lição, a classe estudará a natureza dos dons
ministeriais e suas respectivas características. Para verificar o nível de
conhecimento dos seus alunos acerca dos dons ministeriais, solicite que a
classe registre em uma folha de papel à parte quais são as qualificações exigidas
para o exercício ministerial, conforme estão registradas nas Cartas Pastorais
de Timóteo, 2 Timóteo e Tito.
3 – CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A multiforme sabedoria de Deus encarregou a cada crente com
qualificações específicas para o exercício de dons ministeriais e espirituais
específicos. Cabe ao crente buscar o discernimento para identificar a natureza
do seu chamado espiritual.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista
que traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições
Bíblicas Adultos. Na edição 96, p. 39, você encontrará um subsídio especial
para esta lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “‘A Geração Eleita, o Sacerdócio Real’ (1 Pe 2.9,10)”, localizado
depois do primeiro tópico, aponta para a natureza do chamado sacerdotal da
Igreja e sua missão como anunciadora das virtudes do Reino de Deus;
2) O texto “O chamado para o Ministério”, ao final do terceiro tópico, destaca
a rica diversidade, produzida pela obra do Espírito Santo, dentro da admirável
unidade do Corpo de Cristo.
INTRODUÇÃO
Nesta lição, veremos o ministério em suas
diferentes funções e ofícios, bem como as qualificações que, biblicamente, são
exigidas para o seu exercício. Primeiramente, mostraremos que, de modo bíblico,
todo cristão exerce um ministério sacerdotal que o habilita a ministrar diante
de Deus. Nesse sentido, não há diferença entre o membro e a liderança. Todos
são sacerdotes de Deus. Por outro lado, as Escrituras mostram claramente que
Deus escolheu determinadas pessoas para funções e ofícios específicos. Esses
ministros chamados por Deus têm a função de servir à Igreja de Cristo e
trabalhar no aperfeiçoamento dos santos.
Palavra-Chave: Ministério
AMPLIANDO O CONHECIMENTO
SACERDÓCIO UNIVERSAL DO CRENTE
“A Igreja, no decurso dos séculos, sempre
tendeu a dividir-se em duas categorias gerais: o clero (gr. klêros – ‘sorte,
porção’, isto é, porção que Deus separou para si) e o laicato (gr. laos –
povo). O Novo Testamento, no entanto, não faz uma distinção tão marcante. Pelo
contrário, a ‘porção’ ou klêros de Deus, sua própria possessão, refere-se a
todos os crentes nascidos de novo, e não somente a um grupo seleto.” Amplie
mais o seu conhecimento, lendo a obra Teologia Sistemática: Uma Perspectiva
Pentecostal, Editora CPAD, p.564.
AUXÍLIO DEVOCIONAL
A GERAÇÃO ELEITA, O SACERDÓCIO REAL’ (1 PE 2.9,10)
É simplesmente correto que nós decidamos viver
de acordo com os valores de Deus, pois Ele nos escolheu. No Antigo Testamento,
os sacerdotes oficiavam em sacrifícios e lideravam a adoração a Deus. Na
cultura romana do século I, os sacerdotes pagãos também lideravam os adoradores
na oferta de sacrifícios e louvores aos deuses. Em ambos os contextos, servir
como sacerdote era considerado uma grande honra. Assim, a imagem de sacerdócio
real cristão era clara e poderosa. Nós, que, por causa do pecado, nem mesmo
éramos um povo de Deus, fomos chamados das trevas e recebemos a posição mais
elevada!
Nos tempos antigos, a pedra de esquina era a
âncora do alicerce de um edifício. Os textos de Salmos 118.22 e Isaías 28.16,
que se referem a pedras de esquina, foram interpretados, por rabinos de Israel,
como tendo implicações messiânicas e são aplicados a Jesus nos Evangelhos (Mt
24.42; Mc 12.10; Lc 20.17), por Paulo (Rm 9.33; Ef 2.20) e por Pedro. Jesus
Cristo é 0 alicerce da nossa fé, como também da igreja; nEle, os crentes são
pedras vivas (1 Pe 2.4-7). É simplesmente apropriados, então, que sirvamos como
sacerdotes e ‘anunciemos as virtudes’ daquele que nos chamou das trevas para a
luz” (RICHARDS, Lawrence O. Comentário Devocional da Bíblia. Rio de Janeiro:
CPAD, 2012, p.965).
AUXÍLIO TEOLÓGICO
O CHAMADO PARA O MINISTÉRIO
Paulo salientou, com muito critério, uma
importante verdade concernente à diversidade de ministérios (Rm 12.3-8; 1 Co
12.1-30). Dentro da admirável unidade do Corpo de Cristo, produzida pela obra
do Espírito Santo, há uma rica diversidade. Nem todos os ministérios têm a
mesma função, o mesmo dom ou o mesmo ofício. Assim como o corpo humano tem uma
grande variedade de órgãos a fim de funcionar apropriadamente, o Corpo de
Cristo requer diversidade de ministérios para que a Igreja possa cumprir com
eficiência as ordens de Cristo. Na ‘diversidade da unidade’, brilha o interesse
de Deus pelo indivíduo. A despeito de função, dom ou ofício: a despeito de quão
atraente, ou oculta, seja a tarefa confiada a alguém, todos, aos olhos de Deus,
são importantes. Cada crente será recompensado de acordo com a sua fidelidade”
(MENZIES, Willian W.; HORTON, Stanley M. Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da
Fé Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, 1996, p.153).
CONCLUSÃO
Nesta lição, vimos o ministério sob diferentes
aspectos. Vimos que a doutrina do sacerdócio universal dos crentes é
inteiramente bíblica. Todo crente tem o privilégio de apresentar a si mesmo e a
outros diante de Deus, sem a necessidade de mediadores terrenos. Vimos também
que Deus pôs na Igreja alguns para o exercício de determinadas
funções específicas. Esses ministérios devem ser vistos como dons de Deus à Igreja.
CPAD – O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo
| Lição 07: O Ministério da Igreja
E ele mesmo deu
uns para apóstolos, e outros para profetas, e outros para evangelistas, e
outros para pastores e doutores, querendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra
do ministério, para edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à
unidade da fé e ao conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura
completa de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em
roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia,
enganam fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo
naquele que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado
pelo auxílio de todas as juntas, segundo a justa operação de cada parte, faz o
aumento do corpo, para sua edificação em amor. (Ef 4.11-16)
Neste capítulo, estudaremos sobre o
Ministério da Igreja. Faremos isso, em um primeiro momento, analisando a
doutrina do sacerdócio universal de todos os crentes por acreditarmos que, além
de ser um dos pilares da Reforma do século XVI, é uma doutrina genuinamente
bíblica (1 Pe 2.9). Mostraremos que, no
contexto neotestamentário, embora houvesse hierarquia ministerial, não havia
uma distância abissal entre leigos e clérigos. Num segundo momento, faremos uma
análise da estrutura ministerial tal como aparece nas páginas do Novo
Testamento.
Devemos destacar que a doutrina do sacerdócio
universal de todos os crentes é uma das doutrinas mais belas do Novo
Testamento. Essa doutrina é nitidamente mostrada na Bíblia (1 Pe 2.9; Ap 1.5,6;
5.10). Sem exceção, todo crente agora é um sacerdote, podendo exercer com
eficácia, por exemplo, o ministério de intercessão (Hb 10.19-22). A Nova
Aliança permitiu que cada crente diferentemente do Antigo Testamento, em que só
uma classe escolhida podia oficializar-se como sacerdote - pode agora entrar
sem medo diante da presença de Deus.
À medida que conhecemos essa doutrina tanto
na sua dimensão bíblica como na histórica, mais conscientes ficamos da sua
impor- tância. Dessa forma, teremos uma compreensão melhor sobre ela se a
conhecermos a partir dos seus fundamentos, que são encontrados no Antigo
Testamento, e como ela é compreendida em o Novo. Feito isso, precisamos
acompanhar como a igreja interpretou em diferentes épocas essa importante
doutrina cristă. Isso porque, assim como aconteceu com inúmeras outras doutrinas,
o sacerdócio universal de todos os crentes também sofreu desvios.
O catolicismo é um exemplo vivo disso. Dentro
dessa comuni- dade religiosa, o exercício do sacerdócio é tirado do leigo e
posto numa classe especialmente escolhida para isso, que são os padres. Convém
destacar que o Papa, também denominado de "Santo Padre", está no topo
da hierarquia sacerdotal católica. Somente aos padres cabe a função de
intercessor. Dessa forma, a função sacerdotal de intercessor, que cabia a todo
cristão (1 Pe 2.9), foi elitizada - aqui na Terra, pelos clérigos católicos, e
no Céu, pelos "santos". Essa crença, por exemplo, está na base da
"confissão auricular", na qual um fiel confessa-se com um clérigo.
Evidentemente, essa prática é diametralmente oposta ao ensino bíblico que diz
que qualquer cris- tão pode confessar as suas falhas diretamente a Deus (1 Jo
1.9) e a qualquer outro cristão (Tg 5.16). Posteriormente, outros segmentos
religiosos, como, por exemplo, o mormonismo, concentraram em torno de si a
função sacerdotal. Somente os seus membros, segun- do apregoam os seus adeptos,
são os verdadeiros detentores das chaves do sacerdócio.
É oportuno pontuar aqui que o resgate do
sacerdócio universal dos crentes, sejam eles leigos, sejam clérigos, tal qual
se encontra nas páginas neotestamentárias foi uma conquista da Reforma Luterana
do século XVI. Em uma das suas 95 teses afixadas na porta da Igreja do Castelo
de Wittenberg em 1 de outubro de 1517, Martinho Lutero dizia: "Qualquer
cristão verdadeiro participa dos benefícios de Cristo e da Igreja". A
Reforma apregoava um retorno radical às Escrituras, como bem definiu o seu lema
Sola Scriptura (somente a Escritura). São nas páginas das Escrituras Sagradas
que podemos ver a magnitude dessa doutrina.
Sucintamente, os teólogos esboçam a doutrina
do sacerdócio (hb. koheri) bíblico nas páginas do AT da seguinte forma: (1) no
início, levando-se em conta a necessidade de oferecer-se sacrificio, os homens
eram os seus próprios sacerdotes (Gn 4.3 e Jó 1.5); (2) na era patriarcal, o
sacerdócio era exercido pelo chefe da família (Gn 8.20; 12.8; Jó 1.5); (3) de
certo modo, todo Israel era sacerdote do Senhor para outras nações (Êx 19.6);
(4) e, no Monte Sinai, o Senhor limitou o sacerdócio a Arão e à tribo de Levi
(Êx 28.1; 40.1-15).
Dessa
forma, J. Barton Payne (1922-1979), professor de Antigo Testamento, observa
oportunamente que "os sacerdotes do AT eram tipos de Cristo (Hb 8.1), que
operou a derradeira propiciação pelos pecados do povo" e que "a
Igreja do NT apresenta um sacerdócio universal dos crentes (1 Pe 2.5; Ap 5.10;
Jr 31.34)".2
É
importante, portanto, compreendermos a função sacerdotal nas páginas do Antigo
Testamento e como ela formata-se ao Novo. Se o sacerdote era no Velho Concerto
um ministro das coisas sagra- das (sacrificio de animais, intercessão pelo
povo, consulta a Deus e ensino da Lei), por outro lado, dentro do Novo
Concerto, os sacerdotes, entre outras coisas, devem: oferecer o seu próprio
corpo em sacrifício vivo (Rm 12.1-2); ministrar o louvor, como fruto dos seus
próprios lábios (Hb 13.5); interceder pelos outros (I Tm 2.1; Hb 10.19,20);
proclamar as virtudes daquele que os chamou das trevas para a sua maravilhosa
luz (1 Pe 2.9); e manter comunhão direta com o seu Deus (2 Co 13.13).
Esses fatos revelam-nos a grande importância
que essa doutrina tem hoje para os crentes. Em todos eles, o cristão é o agente
ativo da ação. Mas é bom lembrar aqui que, infelizmente, nem todos os crentes
ainda tiveram o correto discernimento da magnitude dessa verdade. Uma das principais
funções sacerdotais, a de intercessor, tem sido negligenciada. Permita ilustrar
o que quero dizer citando duas passagens do Novo Testamento.
A primeira encontra-se em Lucas 1.8,9. A
segunda, em Apocalipse 5.8-10. Temos nessas passagens o exercício do sacerdócio
cobrindo as duas alianças. Na primeira, temos um homem escolhido, Zacarias,
para oficiar como sacerdote. Embora vivesse no limiar no Novo Concerto, ele
ainda pertencia ao Antigo. Na segunda, temos todos os crentes, sem distinção
alguma, exercendo a função sacerdotal. Há, contudo, uma prática que é comum no
desempenho da função sacerdotal revelada nessas passagens: a queima do incenso.
Tanto os sacerdotes da Velha Aliança como os da Nova queimavam incenso. O texto
é claro em dizer que o sacerdote Zacarias entrou no santuário para queimar
incenso (Lc 1.9) e que, hoje, o incenso são as orações dos santos (Ap 5.8). Se
somos sacerdotes como, de fato, o somos, então estamos exercendo nossa função,
isto é, "queimando o incenso"? Infelizmente, há muitos sacerdotes
hoje que não queimam mais incenso! Você já queimou incenso hoje? "Suba à
tua presença a minha oração, como incenso, e seja o erguer de minhas mãos como
oferenda vespertina" (SI 141.2, ARA).
O
Ministério Quintuplo
E ele mesmo deu uns para apóstolos, e outros
para profetas, e outros para evangelistas, e outros para pastores e doutores,
que- rendo o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para
edificação do corpo de Cristo, até que todos cheguemos à unidade da fé e ao
conhecimento do Filho de Deus, a varão perfeito, à medida da estatura completa
de Cristo, para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por
todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam
fraudulosamente. Antes, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele
que é a cabeça, Cristo, do qual todo o corpo, bem-ajustado e ligado pelo
auxílio de todas as juntas. segundo a justa operação de cada parte, faz o
aumento do corpo. para sua edificação em amor. XVI (Ef 4:11-16)
Na carta aos Efésios, o apóstolo Paulo
relaciona o que comumente já se denominou de dons quintuplos: apóstolos,
profetas, evangelistas, pastores e mestres. São os chamados dons ministeriais.
É interessante observar que a ênfase dada a esses dons está na função que eles desempenham
na igreja de Cristo. Dessa forma, esses dons foram postos para a
"edificação do corpo de Cristo". O alvo é que a igreja alcance
crescimento e maturidade. Em nenhum momento, esses dons aparecem como um ofício
destituído de função. Em outras palavras, não são vistos como meros cargos
eclesiásticos, mas como dons de Deus que são reconhecidos pela capacitação
divina que os acompanham. Nesse aspecto, não estão relacionados a status
eclesiásticos, mas ao serviço cristão. Na verdade, no contexto bíblico,
observamos que é a unção, isto é, a capacitação dada por Deus, que determina o
ofício, e não o contrário. Possivelmente, uma das grandes tragédias do
ministério hoje está no fato de termos tantos obreiros exercendo algum ofício
ministerial para os quais não foram chamados, nem capacitados por Deus para
tal. Possuem o oficio, mas não a unção.
Muito
se tem discutido se há apóstolos e profetas hoje. Essa era uma questão que
ficou adormecida por muito tempo na História da Igreja. O entendimento que prevalecia
era que esses dons ministeriais ficaram restritos ao Novo Testamento, da mesma
forma como os dons espirituais. Contudo, com o aparecimento do Movimento
Pentecostal no início do século XX, surgiu uma nova ênfase em torno do assunto.
Uma ala dentro do pentecostalismo começou a divulgar a ideia de que uma das
marcas dos últimos dias da igreja era justamente a restauração dos dons
quíntuplos. Assim, não somente pastores, evangelistas e mestres continuavam
vigentes, mas também os dons de apóstolos e profetas.
Esse tipo de entendimento não é consenso
entre os pentecostais. Muitos pentecostais preferem ver essa questão a partir
de uma perspectiva funcional. Não é incomum, por exemplo, vermos na literatura
esses dons sendo retratados a partir da função exercida, e não propriamente do
ofício ocupado por alguém. Nesse caso, alguns tendem a reconhecer que a função
continua existindo, mas não o oficio. Exemplificaremos mediante dois casos
extraídos de nossa literatura. Um exemplo da literatura produzida por um grande
segmento do Movimento Pentecostal, enquanto o outro, de uma denominação
histórica.
Em 1934, foi lançado na Suécia o livro
Despertamento Apostólico no Brasil. O livro examina as primeiras décadas do
pentecostalismo na América Latina, com especial destaque para os missionários
suecos Gunnar Vingren (1879-1933) e Daniel Berg (1884-1963). A obra desses
primeiros missionários é retratada nesse livro como sendo de natureza
apostólica. Contudo, nenhum desses missionários via-se como apóstolo e nem
reivindicou isso para si. Eles simplesmente se viam como servos de Deus que
haviam sido capacitados para a obra missionária. Todavia, a literatura, devido
à natureza missional dos seus trabalhos, viam-nos como verdadeiros apóstolos.
Sven Lidman (1882-1960), literato sueco e pioneiro do pentecostalismo
escandinavo, ao referir-se a Gunnar Vingren, escreveu:
A lembrança do
irmão Gunnar Vingren tornou-se muito vívida em meu coração [...] numa semana de
estudo bíblico em Kölingared, em 1921, quando pela primeira vez estive junto
com um grupo maior de amigos pentecostais e participei de uma série de reuniões.
Lá conheci um missionário que era do Brasil e se chamava Gunnar Vingren. Não
posso dizer o quão tremendamente ele conquistou meu coração. Tive a sensação de
que aqui em Kölingared, em 1921, encontrei um apóstolo do Senhor como aqueles
sobre os quais lemos nos Atos dos Apóstolos. É impossível descrever com que
alegria e gratidão ouvi a muita sabedoria e experiência que ele obteve da obra
de Deus, tanto nos corações humanos como no campo missionário.
Outro exemplo vem da obra do historiador José
Reis, que se refere ao trabalho de evangelização de Eurico Nelson na bacia do
Amazonas como também sendo de natureza apostólica. Reis escreveu em 1945 uma
biografia desse missionário, intitulada Eurico Nelson: o apóstolo da Amazônia.
Nelson, assim como outros missionários do seu tempo, nunca se viram com
apóstolos; entretanto, é inegável que o que fizeram levou-os a serem avaliados
dessa forma. Evidentemente que o termo apóstolo usado tanto em relação a Gunnar
Vingren como em relação a Eurico Nelson refere-se à função que esses homens
exerceram, e não a um ofício apostólico que desempenharam.
A
Relevância do Ministério
Vejamos, portanto, uma exposição sobre o
ministério cristão a partir das qualificações especificadas nas Escrituras.
Nossa análise tomará por base a Chave Linguistica do Novo Testamento e outras
literaturas que ajudam a lançar luz sobre esse importante assunto.
1 Timóteo 3.1-13:
Esta é uma palavra fiel: Se alguém
deseja o episcopado, excelente obra deseja. Convém, pois, que o bispo seja
irrepreensível, marido de uma mulher, vigilante, sóbrio, honesto, hospitaleiro,
apto para ensinar; não dado ao vinho, não espancador, não cobiçoso de torpe
ganância, mas moderado, não contencioso, não avarento; que governe bem a sua
própria casa, tendo seus filhos em sujei- ção, com toda a modéstia (porque, se
alguém não sabe governar a sua própria casa, terá cuidado da igreja de Deus?);
não neofito, para que, ensoberbecendo-se, não caia na condenação do diabo.
Convém, também, que tenha bom testemunho dos que estão de fora, para que não
caia em afronta e no laço do diabo. Da mesma sorte os diáconos sejam honestos,
não de língua dobre, não dados a muito vinho, não cobiçosos de torpe ganância,
guardando o mistério da fé em uma pura consciência. E também estes sejam
primeiro provados, depois sirvam, se forem irrepreensíveis. Da mesma sorte as
mulheres sejam honestas, não maldizentes, sóbrias e fiéis em tudo. Os diáconos
sejam maridos de uma mulher e governem bem seus filhos e suas próprias casas.
Porque os que servirem bem como diáconos adquirirão para si uma boa posição e
muita confiança na fé que há em Cristo Jesus. (1 Tm 3.1-13)
Tito 1.5-9:
Por esta causa te
deixei em Creta, para que pusesses em boa ordem as coisas que ainda restam e,
de cidade em cidade, estabelecesses presbíteros, como já te mandei: aquele que
for irrepreensível, marido de uma mulher, que tenha filhos fiéis, que não
possam ser acusados de dissolução nem são desobedientes. Porque convém que o
bispo seja irrepreensível como despenseiro da casa de Deus, não soberbo, nem
iracundo, nem dado ao vinho, nem espancador, nem cobiçoso de torpe ganância;
mas dado à hospitalidade, amigo do bem, moderado, justo, santo, temperante,
retendo firme a fiel palavra, que é conforme a doutrina, para que seja
poderoso, tanto para admoestar com a să doutrina. (It 1.5-9)
1. O fundamento -"fiel é a
palavra", isto é, digna de ser recebi- da (1 Tm 3.1; 4.9; 2 Tm 2.11; Tt
3.8). Essa frase tem a ver com as doutrinas vitais da fé cristã. A vocação
ministerial está na categoria das doutrinas vitais do Novo Testamento. Todo
ministério bem-sucedido tem como fundamentação a Palavra de Deus. Dietrich
Bonhoffer dizia que "a palavra de Deus não necessita de enfeites"."
2. O propósito - "aspira ao
episcopado" e tem a ver com aspira- ção e vocação. O termo grego significa
"esticar-se", "estender a mão". A palavra grega oregetai
refere-se ao desejo externo. Alguém que se esforça para alcançar algo. Já a palavra
grega epithymei refere-se ao desejo interno, uma paixão forte. Essas duas
palavras ilustram o tipo de homem que pode exercer o ministério, aquele que
busca com dinamismo porque está mo- tivado por um desejo forte no seu interior.
Como dizia Charles Spurgeon: "Se você puder fazer outra coisa, faça, mas
se não, então abrace o ministério".
3. A função-episkope, episkopeo, significa
"dar atenção a", "prover". Também significa "inspeção",
"visitação", "cargo de supervisão". Esses significados
deram o sentido de cargo de liderança. Tem a ver com a função ou ofício, e não
com a hierarquia. (At 20.17; 20.28; Tt 1.5-9; 1 Pe 5.1,2). A. T. Robertson diz
que a palavra episkope refere-se a "condição de supervisor" como em
Atos 1.20. Judas, por exemplo, "estava na condição de apóstolo", mas perdeu
isso quando agiu de forma contrária à sua vocação. No Novo Testamento, essa
palavra não tem o sentido monárquico como se encontra em Inácio de Antioquia.
4. A padronização -"dei", "é
necessário". Tem a ver com o dever, custo, preço. Paulo, em primeiro
lugar, fala da relevância do ministério e aqui mostra o que é necessário para
alguém exer- cê-lo. A palavra fala da necessidade lógica de acordo com as
necessidades prementes das circunstâncias. Nos dizeres de Ed Murphy: "Se
não podes viver a altura das normas e exigências do ministério, sai dele. Esse
não é o teu lugar".
5. A qualificação-Aqui Paulo lista as
qualidades que um ministro precisa possuir:
(1) Irrepreensível (gr. Anepilemptos). "Que não pode ser preso
como delinquente". Sem acusação válida. Anenkletos - Não se refere a
perfeição livre de pecado, mas a uma vida pessoal que está acima de qualquer
acusação legítima e de todo escândalo público. Alguém além da possibilidade de
ser apanhado em falta, em um escândalo ou em algum vício. Charles Swindoll
destaca que "integridade moral arruinada significa que o líder renunciou a
capacidade de liderar".
(2) Marido de uma só mulher (gr. Mias gynaikos aner). "Homem de
uma única mulher". Alguns intérpretes acreditam que essa recomendação não
se refere ao estado civil, mas à pureza moral e sexual. Contudo, o contexto
favorece o sentido de "fiel a sua esposa". Um obreiro infiel está
desqualificado para ser ministro de Cristo.
(3) Temperante (gr. Nephalios). "Sóbrio, de mente limpa, equilibrado".
O grego original diz "sem vinho", mantendo aqui, portanto, o sentido
metafórico para comunicar a qualidade de "alerta",
"vigilante", "cuidadoso ou com a mente livre". Os líderes
sempre devem estar com a capacidade de
pensar com clareza.
(4) Sóbrio (gr. Sophron). Autocontrolado, moderado, prudente e
sensato. John MacArthur diz que "um homem prudente é disciplinado, sabe
ordenar as suas prioridades e é sério em assuntos espirituais".
(5) Modesto (gr. Kósmios). Ordeiro ou de boa conduta, decente ou
honrado. Os líderes não podem levar uma vida desordenada. Se não podem ordenar
a própria vida, como porão ordem na igreja de Deus?
(6) Hospitaleiro (gr. Philoksenos). O termo
grego é um composto de duas palavras que significa literalmente "amar os
estra- nhos". Aqui significa que a vida e o lar do líder devem estar
abertos para que todos possam ver o seu caráter espiritual. A sua casa deve
sempre estar aberta tanto aos viajantes como aos membros da igreja.
(7) Apto para ensinar (gr. Didaktikos). Capaz de
ensinar, habilidoso ou apto para ensinar. Significa "qualificação e disposição
para ensinar". Essa palavra no original só aparece aqui e em 2 Timóteo
2.24. John MacArthur observa que essa "é a única qualificação que se
relaciona com os talentos e dons espirituais de um presbítero, e a única que
distingue um presbítero de um diácono". A pregação e o ensino da Palavra
de Deus é o dever principal do supervisor, pastore presbítero (1 Tm 4.6,11,13;
5.17; 2 Tm 2.15,24; Tt 2.1).
(8) Não dado ao vinho (gr. Paroinos). Embriagado,
apegado à bebida. O obreiro deve manter-se abstêmio. Há um paralelo com o que
Paulo disse em Efésios 5.18: "E não vos embria
gueis com vinho [...]".
A expressão grega mé methyskesthe (não vos embriagueis) é formada pelo presente
do imperativo acompanhada da partícula negativa: mé (não). O sentido é:
"parem de beber vinho". O obreiro que é reprovado, por exemplo, no
teste do bafômetro, também está reprovado como ministro do Senhor.
(9) Não violento (gr. Plektes). Truculento,
briguento, homem violento. O original grego mantém o sentido de "um dador
de murros". Isso significa que os líderes devem analisar as situações
difíceis com calma e amabilidade (2 Tm 2.24,25), e em nenhuma circunstância com
violência física..
(10) Não avarento (gr. Aphilargyros). Não
apegado nem amante do dinheiro; altruista; não ganancioso. Os falsos mestres e
falsos profetas são os que agem sempre motivados pelo dinheiro ou pelo que vão
ganhar. O obreiro não deve exercer o seu ministério, sob hipótese alguma,
motivado pelo dinheiro. O dinheiro é importante, mas não pode tornar-se um deus
na vida do cristão.
(11) Governe bem a própria casa (gr. Tou
idiou oikou kalos proistámenon). Liderar, administrar, dirigir ou cuidar bem da
família. Um obreiro que não sabe conduzir a sua casa está totalmente
desqualificado para conduzir a igreja de Deus. Como um obreiro conduzirá a casa
de Deus se a sua casa está totalmente desordenada?
(12) Não neófito (gr. Neophytos). Recém-plantado, novo convertido. Os líderes devem ser selecionados dentre os que possuem maturidade dentro da congregação. Os neófitos estão sujeitos a cair na "sentença recebida pelo Diabo". Colocar um novo convertido na posição de liderança é garantia certa de desastre espiritual.
O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo
José Gonçalves
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