TEXTO ÁUREO
“[…] O tempo está
cumprido, e o Reino de Deus está próximo. Arrependei-vos e crede no evangelho.”
(Mc 1.15)
VERDADE
PRÁTICA
Pregar a mensagem do
Reino de Deus é uma importante missão da Igreja.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Marcos 1.14-17
14 – E, depois que João foi entregue à
prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do Reino de Deus
15 – e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos e crede no evangelho.
16 – E, andando junto ao mar da Galileia, viu Simão e André, seu irmão, que
lançavam a rede ao mar, pois eram pescadores.
17 – E Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de
homens.
PLANO DE AULA
1- INTRODUÇÃO
Professor(a),
a lição desta semana tem como finalidade apresentar a natureza universal do
Reino de Deus e a Igreja como parte integrante e representativa desse Reino no
mundo. Nesse sentido, a Igreja faz parte da realidade presente do Reino de Deus
e, por conseguinte, fará parte também da realidade vindoura.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Relacionar a natureza do Reino de Deus com a nação de Israel, bem como o seu
propósito com a existência da Igreja;
II) Apontar as dimensões do Reino de Deus nas realidades presente e futura;
III) Destacar a Igreja como projeto de Deus e expressão de seu Reino na
plenitude dos tempos.
B) Motivação: Nosso Senhor afirmou que o Reino de Deus não tem aparência
visível como se estivesse localizado em uma posição geográfica. Antes, o Reino
de Deus, disse Jesus, está entre vocês (Lc 17.20, 21). Isso significa que a
natureza do Reino é espiritual. Ele se manifesta por meio da justiça, paz e
alegria do Espírito. A maior vitória do Reino de Deus é sobre o pecado, a morte
e Satanás.
C) Sugestão de Método: Nesta lição, a classe aprenderá que há uma distinção
entre Igreja e Reino de Deus. Ambos possuem características específicas que
estão presentes nas Escrituras Sagradas. Para estimular a participação dos
alunos, elabore na lousa duas colunas. Em cada uma delas, com a ajuda da
classe, relacione as características específicas da Igreja e do Reino de Deus
respectivamente. Ao final, ressalte que, nesta lição, vamos estudar com maiores
detalhes que o Reino de Deus é mais abrangente. A Igreja, porém, está inserida
no Reino de Deus.
3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: A Igreja tem a responsabilidade de transmitir a mensagem do
Reino de Deus ao mundo. Essa missão só pode ser alcançada a partir do
testemunho vivo dos crentes, que coadune os ensinamentos da Palavra de Deus com
um estilo de vida que expresse a prática de boas obras.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que
traz reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas
Adultos. Na edição 96, p.38, você encontrará um subsídio especial para esta
lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “O Reino e a Vinda do Filho do Homem”, localizado depois do primeiro
tópico, destaca a qualidade invisível do Reino de Deus, porém, presente no que
Jesus dizia e fazia;
2) O texto “Jesus Voltará”, ao final do terceiro tópico, destaca a importância
do serviço cristão em prol do Reino de Deus enquanto nosso Senhor não retorna
para buscar a sua Igreja.
INTRODUÇÃO
A Bíblia apresenta Deus como um
rei (Sl 47.6; 52.7) que exerce o seu governo e domina sobre tudo o que há (Sl
22.28). Sobre o seu reino, governa soberanamente. Nesta lição, apresentaremos
uma compreensão do Reino de Deus a partir de sua natureza e da sua relação com
a Igreja. Nesse aspecto, mostraremos o reino divino na sua dimensão universal e
soberana, bem como sua realidade presente e futura. A Igreja é vista como parte
desse reino e, por isso, Deus a estabeleceu para viver, pregar e manifestar a
vida do reino divino.
PALAVRA
CHAVE:
REINO
AUXÍLIO TEOLÓGICO
O REINO E A VINDA DO FILHO DO HOMEM (Lc 17.20-37)
Jesus
explica que o Reino de Deus é distinto dos reinos com os quais os fariseus
estão familiarizados. Sua vinda não corresponderá com sinais visíveis para que
ninguém possa predizer o tempo exato de sua chegada. As pessoas entendem mal o
caráter do Reino de Deus, quando dizem: ‘Ei-lo aqui! Ou: Ei-lo ali!’ Tais
predições são arrogantes e mostram-se falsas e decepcionantes as pessoas
persuadidas por elas (cf. At 1.6, 7). Jesus afirma que a fase inicial do Reino
não vem desse jeito; de fato, já veio (Lc 17-21). Jesus usa a palavra ‘entos‘
para descrever sua presença — palavra que significa ‘dentro’ de vocês ou
‘entre, no meio de’ vocês. Jesus está falando a fariseus, que sem dúvida o
rejeitaram. Ele não diria que o reinado de Deus está dentro dos corações deles.
Contudo, o Reino é um fato histórico. Jesus quer dizer que o Reino está ‘entre
vós’ — presente no que Ele faz e diz —, ainda que os fariseus permaneçam cegos
diante dessa realidade (cf. Lc 11.20). Eles esperam ver sinais da vinda do
Reino algum dia futuro. Mas não há necessidade de procurar sinais futuros da
vinda do governo de Deus. Hoje pode-se entrar nele, embora sua consumação final
venha depois” (ARRINGTON, French L; STRONSTAD, Roger (Eds). Comentário Bíblico
Pentecostal – Novo Testamento. Vol. 1 – Mateus-Atos. Rio de Janeiro: CPAD,
2003, p.432).
AUXÍLIO TEOLÓGICO
JESUS VOLTARÁ
“O ensino
sobre a Segunda Vinda de Cristo também estimula o serviço cristão. Os crentes
que ardentemente aguardam a volta de Cristo, reavaliam constantemente as
prioridades que lhes governam a maneira de viver. Sempre colocam, em primeiro
lugar, o Reino de Deus e a sua justiça. Não querem ser surpreendidos tendo as
mãos vazias. Eles sabem que, um dia, todos teremos de comparecer ante o
Tribunal de Cristo. Por isso alertam constantemente seus parentes, amigos,
conhecidos e os demais pecadores, a que estejam preparados à vinda do Senhor
(Mt 24.45,46; Lc 19.13 e 2 Co 5.10, 11).
Mas como Jesus voltará? Ele voltará pessoalmente (Jo 14.3; 21.20-23; At 1.11) e
de forma inesperada (Mt 24.32-51; Mc 13.33-37). Ele voltará em glória (Mt
16.27; 19-28 e Lc 19.11-27) e de maneira visível como o anunciou o anjo à
multidão no monte da Ascensão: ‘Esse Jesus, que dentre vós foi recebido em cima
no céu, há de vir assim como para o céu o vistes ir’ (At 1.11). O retomo real,
visível e literal do Senhor Jesus Cristo a esta terra, exclui qualquer
interpretação espiritualizada, como se a sua vinda tivesse ocorrido quando da
descida do Espírito no Pentecoste, ou quando da conversão de alguém, ou ainda
por ocasião da morte do crente” (MENZIES, Willian W.; HORTON, Stanley M.
Doutrinas Bíblicas: Os Fundamentos da Fé Pentecostal. Rio de Janeiro: CPAD, p.
178).
CONCLUSÃO
Nesta lição aprendemos um pouco
mais sobre o Reino de Deus. Como disse alguém, a Igreja não é idêntica ao Reino
de Deus, pois este é maior do que ela; todavia, a Igreja é o instrumento
presente do reino e herdará o reino (2 Pe 1.11). Assim, o Reino de Deus, em sua
plenitude, ou na sua manifestação final, incluirá todos os crentes que
professaram e professarão sua fé em Cristo, o Filho de Deus.
CPAD Adultos – TEMA: O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da
Igreja no Mundo
| Lição 04: A Igreja e o Reino de Deus
E depois que
João foi entregue à prisão, veio Jesus para a Galileia, pregando o evangelho do
Reino de Deus e dizendo: O tempo está cumprido, e o Reino de Deus está próximo.
Arrependei-vos e crede no evangelho. E, andando junto ao mar da Galileia, viu
Simão e André, seu irmão, que lançavam a rede ao mar, pois eram pes- cadores. E
Jesus lhes disse: Vinde após mim, e eu farei que sejais pescadores de homens.
(Mc 1.14-17)
John Walvoord observou acertadamente que
"sistemas teológicos podem frequentemente ser caracterizados por sua
eclesiologia". Isso significa dizer que a compreensão que temos sobre a
igreja, sobre aquilo que ela é e sobre o papel que ocupa na história da
salvação afetará a forma como definiremos nossas crenças.
Essa constatação fica bem evidente quando se
procura estabelecer a relação existente entre o Reino de Deus e a igreja.
Agostinho (354-430), bispo de Hipona, por exemplo, partindo de uma
interpretação equivocada sobre a Parábola do Joio e do Trigo, entendeu que a
igreja seria o Reino de Deus em toda a sua extensão. Essa interpretação moldou
a de Deus, tradução de Oscar Paes Leme (Petrópolis: Vozes, 2014), 2 partes):
The Letters of Petilian, the donatist 3.4-5). Essa identificação equivocada se
tornou a base para sua convicção de que a igreja é e deve ser uma sociedade
mista de cristãos (o trigo) e de não cristãos (ojoio). A Igreja Católica seguiu
os passos de Agostinho ao considerar a igreja o reino de Deus e começou a vê-la
como uma entidade semelhante a reinos terrenos (e.g., Bonifácio VIII. Unam
Sanctam, 302; citado em Allison, Historical theology, p. 599-600). À medida que
a igreja se tornou, cada vez mais, uma potência política, o modelo de
Igreja-Estado começou a monopolizar a eclesiologia medieval. Esse desdobramento
preparou o caminho para empreitadas militares como as Cruzadas; a perseguição
religiosa a não cristãos e hereges pela Inquisição; as tramas políticas como a
investidura (i.e., autoridade do papa para coroar o imperador com os símbolos
de autoridade civil) e outras interferências da igreja em questões seculares
alimentadas por asserções papais de superioridade acima do Estado. De maneira
diferente, mas também com base na Parábola do Trigo e do Joio, a teologia
reformada associa estreitamente a igreja e o reino (e.g., John Calvin,
Institutes of the Christian religion, edição de John T. McNeill, tradução para
inglês de Ford Lewis Battles [Philadelphia: Westminster, 1960], 4.1.13)
[edições em português: João Calvino, As institutas, tradução de Waldyr Carvalho
Luz (São Paulo: Cultura Cristă, 2006), 4 vols., e A instituição da religião
crista, tradução de Carlos Eduardo Oliveira; José Carlos Estêvão (São Paulo:
Ed. Unesp, 2008)] e, por conseguinte, a eclesiologia reformada considera a
igreja uma comunidade mista de crentes e incrédulos".3
O Reino de Deus como Manifestação do seu
Domínio e Soberania
Como já destacamos, partimos do princípio de
que a igreja não é o Reino de Deus em toda a sua extensão, mas uma expressão
dele. Isso é importante para evitarmos equívocos como o cometido pelo bispo de
Hipona. Por outro lado, ajuda-nos também a entender ou- tro importante
enunciado teológico: a relação existente entre Israel e a igreja no contexto
desse Reino.
Quando a igreja é vista como a manifestação
do Reino em toda a sua extensão, como fez Agostinho, Israel acaba por deixar de
ter importância no plano escatológico desse Reino. Essa discussão é importante,
por exemplo, quando estivermos tratando dos aspectos futuros do Reino de Deus.
Biblicamente,
Deus é retratado como um Rei (Sl 47.7). Isso significa que Ele possui um Reino
e governa soberanamente sobre ele. Nesse aspecto, os teólogos definem o Reino
de Deus como sendo o governo soberano de Deus. Dessa forma, o Senhor governa
soberanamente sobre a sua criação e sobre todos os governos humanos (Dn 4.25).
Nada, portanto, está fora do seu controle. Aqueles que advogam que Deus não
está no controle ou perdeu o controle das coisas não creem na sua onipotência e
soberania. Biblicamente, seria correto dizer que o Senhor não exerce um
controle meticuloso ao ponto de excluir as ações livres dos homens; Ele,
contudo, não perdeu o controle de nada.5
Quando tratamos do Reino de Deus, os seus
aspectos presente e futuro precisam ser contemplados. O Reino de Deus é
retratado nas Escrituras como uma realidade presente e futura. Jesus deu início
ao seu ministério dizendo que o Reino de Deus havia chegado (Mt 3.2). Sendo
assim, Jesus cumpria a predição dos profetas que haviam apontado para o Messias
como aquele que inauguraria a realidade do Reino. No seu aspecto presente, o
Reino de Deus
significa
Deus intervindo e predominando no mundo, para manifestar seu poder, sua glória
e suas prerrogativas contra o domínio de Satanás e a condição atual deste mundo
[...]. O reino é antes de tudo uma demonstração do poder divino em ação. Deus
inicia seu domínio espiritual na terra, nos corações do seu povo e no meio
deste (Jo 14.23; 20.22). Ele entra no mundo com poder (Is 64.1; Mc 9.1; 1 Co
4.20). Não se trata de poder no sentido material ou político, e sim espiritual.
O reino não é uma teocracia relígiopolítica; ele não está vinculado ao domínio
social ou político sobre as nações ou reinos deste mundo (Jo 18.36). Deus não
pretende atualmente redimir e reformar o mundo através de ativismo social ou
político, ou de ação violenta (26.52; ver Jo 18.36, nota). O mundo, durante a
presente era, continuará inimigo de Deus e do seu povo (Jo 15.19; Rm 12.1,2; Tg
4.4; 1 Jo 2.15-17; 4.4). O governo de Deus mediante o juízo direto e à força só
ocorrerá no fim desta era [...]. O fato de Deus irromper no mundo com poder
abrange: (a) seu poder divino sobre o governo e domínio de Satanás (12.28; Jo
18.36); a chegada do reino é o começo da destruição do domínio de Satanás (Jo
12.31; 16.11) e do livramento da humanidade das forças demoníacas (Mc 1.34,39;
3.14,15; At 26.18) e do pecado (Rm 6); (b) poder para operar milagres e curar
os enfermos (4.23; 9.35; At 4.30; 8.7); (c) a pregação do evangelho, que produz
a convicção do pecado, da justiça e do juízo (11.5; Jo 16.8-11; At 4.33); (d) a
salvação, a santificação daqueles que se arrependem e creem no evangelho (ver
Jo 3.3; 17.17; At 2.38-40; 2 Co 6.14-18); e (e) o batismo no Espírito Santo,
com poder, para testemunhar de Cristo (ver At 1.8 notas; 2.4 notas)."6
Podemos dizer, portanto, que o Reino de Deus
no seu aspecto presente já pode ser sentido. Isso fica claramente demonstrado
na resposta de Jesus aos fariseus que o acusaram de estar possuído por Belzebu
quando Ele libertava um oprimido pelo Diabo. Naquela passagem bíblica, Jesus
assegurou que a libertação do endemoninhado era uma prova cabal da presença do
Reino entre eles (Mt 12.28). Assim também, inúmeras outras Escrituras destacam
o Reino de Deus como uma realidade presente como, por exemplo, Colossenses
1.13. Há, contudo, outra dimensão do Reino que ainda não foi manifestada.
E a dimensão futura ou escatológica do Reino.
Para que possamos compreender essa realidade, farei aqui um resumo sobre a
história da interpretação no contexto da escatologia do Reino de Deus.
O Reino de Deus no Contexto
Escatológico
No século II, Irineu de Lião ainda mantinha a
esperança escato- lógica e sobre ela escreveu com entusiasmo. Por outro lado,
Orígenes (184-253) já não mantinha o fervor. Os elementos apocalípticos não
estão totalmente ausentes dos seus escritos, mas de forma mais tênue. Essa é
uma tendência nos séculos seguintes. De acordo com Gary Cohen, a igreja perdeu
logo a expectativa escatológica:
O milenarismo predominou no meio da igreja cristă enquanto os cristãos
eram uma minoria rejeitada e ameaçada por perseguições.
Quando, no século IV, o cristianismo ascendeu a uma
posição de supremacia no mundo mediterrâneo e se tornou a religião oficial do
império, a igreja passou a sufocar as crenças milenaristas"."
A partir do século IV, a esperança
escatológica desvanece-se com maior intensidade ainda. No alvorecer da Idade
Média, o método alegórico de interpretação permeia a igreja, e os seus teólogos
passam a ver a escatologia bíblica através das suas lentes. O literalismo
bíblico é substituído pelo alegorismo. Dessa forma, a escatologia é trazida do
céu para a terra. Dentro desse contexto, Agostinho de Hipona tornou-se o seu
principal porta-voz. Como já foi destacado, na sua obra A Cidade de Deus
(Vozes, 1990), Agostinho rejeita a ideia de um Reino milenar de aspecto físico
e literal sobre a terra.
Essa também foi a postura dos reformadores
protestantes do século XVI. Os reformadores destacaram mais a presença espiritual
de Cristo na igreja do que a ideia de um Reino milenar e literal sobre a terra.
De acordo com Roger Olson,
A maioria dos reformadores da chamada ala principal, ou magiste- riais,
como Lutero e Calvino, desvalorizou o imaginário apocalíptico do NT em favor do
senhorio e reino presentes, mas ocultos, de Cristo, e de um tipo de reverente
agnosticismo sobre o futuro".
Excetuando grupos da reforma radical, que
mantinha uma ex- pectativa escatológica, o protestantismo histórico não
enfatizaria o elemento escatológico em séculos posteriores. Anthony Hoekema
(2001, pp. 339-377) mostra que essa também foi a tendência da teologia em
relação à escatologia nos séculos XIX e XX.
Há, portanto, um eixo principal em volta do
qual se movem as interpretações escatológicas: o Reino de Deus. Toda
expectativa es- catológica ou falta dela ao longo dos anos tem-se movido em
torno do entendimento do que, de fato, significa o Reino de Deus. Seria o Reino
de Deus uma realidade presente ou futura? Seria ele temporal ou atemporal?
Manifestaria o Reino em forma visível ou invisível, física ou espiritual? Que
importância isso tem? São essas as principais perguntas que têm surgido no
debate escatologico. Dentro desse espectro, no que concerne à natureza do Reino
de Deus, o debate escatológico tem girado em torno do seu aspecto presente e
futuro.
A teologia da ala liberal do século XIX não
acreditava numa dimensão futura do Reino. Não via isso como importante; por
isso, pouco ou nenhum valor foi dado a isso. Para esses intérpretes, o Reino de
Deus assume aspectos de natureza ético-moral, mas não escatológica. Dessa
forma, não há uma segunda vinda de Cristo pela qual o cristão deva esperar.
Esse modelo escatológico formou e influenciou o que viria posteriormente no
debate escatológico.
Albrecht Ritschl (1822-1889), um dos
principais teólogos do século XIX, não via importância alguma na escatologia.
Ritschl en- tendia o Reino de Deus como uma tarefa humana. O cristianismo
resume-se a um código moral a que o cristão deve conformar-se. Como Hoekema
destacou:
Uma vez que Ritschl vê a religião cristă como consistindo essencial- mente
de moralidade, o reino representa aqueles valores e alvos éticos que são ensinados
pelo Novo Testamento e exemplificados por Jesus Cristo valores e alvos que o
redimido deve continuar a tentar alcançar. Para Ritschl o reino de Deus é,
portanto, essencialmente deste mundo; significa fazer a vontade de Deus aqui e
agora. Jesus veio para fundar o reino de Deus no sentido descrito acima; como
fundador do reino ele é também nosso grande exemplo.
A partir de Ritschl, outros teólogos
procuraram desenvolver as suas concepções escatológicas, adaptando, modificando
ou revisando o que anteriormente fora dito. Adolf von Harnack (1851-1930), por
exemplo, despiu o aspecto futuro da escatologia vendo em Jesus um simples
mestre da moralidade. Em 1906, o teólogo Albert Schweitzer (1875-1966) entrou
no debate no que viria a ser conhecido como "es- catologia
consequente". No entendimento de Schweitzer, conforme destacou Hoekema
(2001, p. 343), "Jesus esperava que a Parousia e a vinda do reino
ocorressem antes que os discípulos tivessem termi- nado sua jornada de
pregação", mas, como isso não ocorreu, "Jesus convenceu-se de que
estivera enganado". Em reação a Schweitzer, Charles H. Dodd (1884-1973)
argumentou que o Reino havia che- gado e esteve presente em Jesus. Dessa forma,
Dodd entendia que Jesus ensinou a realidade do Reino como realizada no seu próprio
ministério. Assim sendo, no entendimento de Dodd (1935, p. 50), "o
scchaton moveu-se do futuro para o presente, da esfera da expectativa para a da
experiencia realizada".
Até aqui, foi mostrado que o entendimento
escatológico ficou limitado à dimensão terrena do Reino de Deus, quer seja no
aspecto moral, quer no espiritual. Quer Jesus estivesse consciente, quer não,
da sua missão sobre o Reino de Deus, esses intérpretes veem a es- catologia
sempre a partir do seu plano terreno. Nada ficou para um futuro imediato ou
longinquo. Em outras palavras, não resta muito ou nada pelo qual a igreja ou o
cristão deva esperar. Desnecessário dizer que esse entendimento acabou por
esvaziar a importância do Reino de Deus no plano escatológico. Todavia, como
outros intérpretes irão destacar, essa não é a perspectiva escatológica
neotestamentária.
Da perspectiva do Novo Testamento, o cristão
da Primeira Igreja vivia uma tensão na esfera escatológica do Reino entre o
"já" e o "ainda não". Isso significa dizer que o Reino de
Deus já era uma realidade presente para eles, já havia chegado, mas ainda não
em toda a sua plenitude. Dessa perspectiva, a escatologia é vista como uma
realidade de suma importância porque vê o Reino de Deus nas suas dimensões
presente e futura. No entendimento de Geerhardus Vos (1862-1949), o crente
neotestamentário vive simultaneamente tanto nesta era ou mundo como na era do
mundo por vir. Nesse aspecto, a era por vir já chegou, isto é, aquilo que fora
predito no Antigo Testamento sobre Cristo e o seu Reino, mas haverá uma
consumação futura, onde todas as potencialidades serão consumadas.
Roger
Olson (2000, p. 480, 481) destacou que, ao longo da história, três posições
escatológicas são objeto de consenso dentro do cristianismo ortodoxo. A
primeira delas é que Jesus Cristo retornará à terra. Nesse aspecto, os cristãos
de todas as tradições esperam a segunda vinda de Cristo. A segunda é que,
quando Cristo retornar, Ele há de estabelecer ou manifestar completamente a
ordem e a soberania de Deus - o Reino de Deus, que já está operando na
história. A terceira é que, no fim, Deus criará um novo céu e uma nova terra
que durarão para sempre.
Os
cristãos que mantêm uma expectativa escatológica encontram sentido para a
história. Esses cristãos oram: "Venha o teu Reino. Seja a história tem
feita a tua vontade [...]" (Mt 6.10). Eles oram e esperam pelo Reino Olson
(2004, p. 476) observa que "Deus está no controle. Nada acon tece a menos
que Deus permita". Em outras palavras, sentido porque Deus é o Senhor da
história. Hoekema (2001, p. 31-52) mostra de que forma a escatologia alimenta a
esperança dos cristãos por encontrar na história um sentido.
Israel versus Igreja no
Contexto do Reino
No contexto do Reino de Deus, o sistema de
interpretação pré- -milenista usado pelas Assembleias de Deus vale-se de uma
eclesiologia que faz distinção entre Israel e a Igreja. Esse entendimento é
importante para que se possa compreender tanto o papel de Israel como da Igreja
no contexto do Reino de Deus. Em outras palavras, ver a Igreja como um corpo
distinto da nação de Israel é importante por duas razões. Em primeiro lugar,
para que a Igreja não seja vista apenas como um adendo ou apêndice no plano da
salvação. Um tipo de "puxadinho escatológico" que o Senhor resolveu
criar de última hora. John Walvoord, por exemplo, destaca que "a igreja é
um parêntesis no programa de Deus, conforme foi revelado no Antigo Testamento
[...] todos os que fazem distinção entre a Igreja e Israel têm reconhecido a
presente era como um inesperado e imprevisto parêntesis no que diz respeito às
profecias do Antigo Testamento" (itálicos meus). 10 A meu ver, enxergar a
Igreja como um parêntese "imprevisto" e "inesperado" é
problemático por duas razões. Primeiro porque ignora a presciência de Deus em
relação ao futuro, em especial em relação à criação da Igreja (1 Pe 1.2). Por
outro lado, sem dúvidas, acaba diminuindo a im- portância da Igreja, que,
segundo a Bíblia, foi idealizada pelo Criador desde a eternidade (Ef 1.4) e que
Cristo comprou com o seu próprio sangue (At 20.28).1" Walvoord entende que
o conceito de "parêntesis não é absolutamente essencial para o
pré-tribulacionismo [mas], se esse ensino for aceito, fortalecerá o argumento
pré-tribulacionista"."
Nesse aspecto, concordo com ele. Do ponto de
vista humano, pode haver um parêntese ou hiato escatológico, mas não da
perspectiva divina. Não há nenhum problema em enxergarmos um parêntese
escatológico em relação ao surgimento da Igreja, como sugere o livro de Daniel,
desde que isso leve em conta a onisciência e presciência divina em relação à
origem da Igreja e não a diminua em importância. Não podemos minimizar o grande
valor que a Igreja tem e muito menos reduzi-la a um remendo escatológico criado
de última hora.
Em segundo lugar, quando não se faz
distinção entre Israel e Igreja, essa nação deixa de ter relevância no plano
escatológico. Quando isso acontece, Israel torna-se um casulo que se esvaziou.
Evidentemente, esse tipo de entendimento não tem base bíblica. De acordo com a
Bíblia, o "endurecimento" de Israel é temporário e durará até que se
cumpra a plenitude dos gentios (Rm 8.25). Israel tem, sim, um papel dentro do
plano escatológico do Reino de Deus.
A meu ver, a ideia de continuidade e
descontinuidade, conforme destaca Gregg Allison, ¹13 é muito importante para
fazer-nos compreender a relação existente entre Igreja e Israel. Allison tem
razão quando destaca que há teólogos dispensacionalistas que enxergam a Igreja
como
um elemento essencial do plano de Deus de estender a salvação a todos:
tanto judeus quanto gentios [...]. Igreja e Israel fazem parte de um só povo de
Deus, como retrata de modo vívido a metáfora da oliveira apresentada por Paulo
(Rm 11.13-24). As dessemelhanças, porém, são relevantes o suficiente para
manter a distinção entre a Igreja e Israel [...] também sustentam um futuro
cumprimento das profecias do Antigo Testamento votadas para o Israel nacional,
entre elas a salvação de muitos judeus e a restauração da terra a Israel."
O teólogo sistemático Eurico Bergstén expôs
a relação entre Israel e Igreja à luz da escatologia dispensacionalista e
pré-milenista da seguinte forma:
Com a rejeição de Israel começou o tempo dos gentios. Enquanto Paulo
falava da rejeição dos judeus, como sendo os ramos naturais da oliveira que
foram quebrados, ele também falava dos ramos de zambujeiro que foram enxertados
na oliveira, Rm. 11:17,19,22,24, Esta linguagem figurada é muito instrutiva e
profunda. Primeiro, nos faz saber que Jesus, pela Sua morte redentora, derribou
a parede de separação que separava judeus e gentios, Ef. 2:15-18: os gentios
que antes estavam longe, agora pelo sangue de Cristo podem se aproximar do
santuário, Ef. 2:13. O caminho que leva ao Santo dos Santos foi aberto, Hb.
10:19-22. Cumpriu-se assim a profecia de Amós, que Tiago citou durante a
assembleia de Jerusalém, como prova de que Deus chamou os gentios para deles tomar
um povo para louvor do Seu Nome, Am. 9:11,12; At. 15:13-17; Rm. 1:5. Hoje é a
Igreja que é o povo especial de Deus, Tt. 2:14: é a Igreja que se constitui em
sacerdócio real, I Pd. 2:9-10, acerca da qual Pedro escrevia aos judeus
dispersos, 1 Pd. 1:1. A Igreja tomou o lugar do povo rejeitado, e é o
representante de Deus na terra enquanto durar a presente dispensação, II Co.
5:18-20. Ef. 3:10. Esta visão acerca dos tempos dos gentios é representada na
visão de Daniel como o período intermediário entre a 69ª e a 70 semanas, quando
o Messias seria tirado, e quando Israel estará em aliança com o Anticristo. Dn.
9:24-27. Já está no fim o tempo dos gentios, pois a vinda de Jesus para
arrebatar a Sua Igreja está bem próxima!15
Ao dizer que "hoje a Igreja que é o povo
especial de Deus", o teólogo finlandês põe em destaque a importância que
ela tem. A Igreja não é um encarte escatológico. Por outro lado, ao dizer que a
"Igreja tomou o lugar do povo rejeitado", Bergstén vê isso dentro de
um contexto em que há um "período intermediário" na "presente
dispensação". Em outras palavras, esse "período intermediário" é
bem mais compreendido se visto a partir da criação da Igreja, isto é, desde a
eternidade ou antes da criação do mundo (Ef 1.4; 1 Pe 1.2). Nunca como um
improviso feito de última hora. Assim, Deus, na sua onisciência, viu a rejeição
de Israel e criou a Igreja como um agente especial dos seus propósitos na
expressão do seu Reino no fim dos tempos. Dessa forma, criou a Igreja não para
substituir Israel (no sentido de torná-lo sem função no plano escatológico do
Reino), nem tampouco a fez como uma extensão dele. São, portanto, realidades
distintas desempenhando cada um à sua maneira papeis diferentes dentro da
dinâmica do Reino.
O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da
Igreja no Mundo
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