domingo, 21 de janeiro de 2024

CPAD O CORPO DE CRISTO – Lição 03: A Natureza da Igreja

 



Porque, assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Pois todos nós fomos batizados em um Espírito, formando um corpo, quer judeus, quer gregos, quer servos, quer livres, e todos temos bebido de um Espírito. Porque também o corpo não é um só membro, mas muitos. Se o pé disser: Porque não sou mão, não sou do corpo; não será por isso do corpo? E, se a orelha disser: Porque não sou olho, não sou do corpo; não será por isso do corpo? Se todo o corpo fosse olho, onde estaria o ouvido? Se todo fosse ouvido, onde estaria o olfato? Mas, agora, Deus colocou os membros no corpo, cada um deles como quis. E, se todos fossem um só membro, onde estaria o corpo? Agora, pois, há muitos membros, mas um corpo. E o olho não pode dizer à mão: Não tenho necessidade de ti; nem ainda a cabeça, aos pés: Não tenho necessidade de vós. Antes, os membros do corpo que parecem ser os mais fracos são necessários. E os que reputamos serem menos honrosos no corpo, a esses honramos muito mais; e aos que em nós são menos decorosos damos muito mais honra. Porque os que em nós são mais honestos não têm necessidade disso, mas Deus assim formou o corpo, dando muito mais honra ao que tinha falta dela, para que não haja divisão no corpo, mas, antes, tenham os membros igual cuidado uns dos outros. De maneira que, se um membro padece, todos os membros padecem com ele; e, se um membro é honrado, todos os membros se regozijam com ele. Ora, vós sois o corpo de Cristo e seus membros em particular. (1 Co 12.12-27)

Neste capítulo, estudaremos sobre a natureza da igreja a partir da sua dimensão confessional: local, universal e comunitária. A igreja, como um organismo vivo cuja cabeça é Cristo, possui os seus próprios fundamentos. Nesse aspecto, a igreja possui crenças e práticas que lhes são próprias e que revelam o que ela é na essência. Assim, dizemos que uma igreja genuinamente cristã é confessional porque possui como fundamento a Palavra de Deus. Essa Palavra pode ser descrita como o próprio Cristo, a Palavra Encarnada, e a Bíblia, a Palavra Ins- pirada. Dizemos que outro aspecto que reflete a natureza da igreja pode ser visto nas suas dimensões local e universal, visível e invisível. Nesse aspecto, a igreja possui um aspecto temporal e atemporal. Ela é formada tanto pelos santos vivos como os que já estão na glória. Por último, podemos nos referir à dimensão comunitária da igreja como expressão da sua natureza. A igreja não existe fora da sua dimensão comunitária. Ela é um corpo e, como corpo, existe pela união de seus membros. A igreja é logocêntrica. Isso significa dizer que ela é centrada na Palavra de Deus. Aqui nos referimos tanto à Palavra Viva, Cristo, como à palavra escrita, a Bíblia. No capítulo 12 de Coríntios, temos uma das mais belas analogias sobre a igreja quando Paulo compara-a com o corpo humano. Ali o apóstolo vai tratar sobre a unidade da igreja no contexto dos carismas do Espírito. Esse capítulo, contudo, não está isolado, sendo escrito num contexto em que Cristo deve ser visto como o centro. Anteriormente, o apóstolo escreveu: "Porque ninguém pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo" (1 Co 3.11). Isso significa que Jesus, a Palavra Viva, é, de fato, o centro da igreja.

Nesse sentido, Gregg Alisson observa:

João, no início de seu Evangelho, apresenta a seus leitores o Logos (Jo 1.1): na ocasião em que o Universo foi criado ("no princípio", uma expressão que lembra Gn 1.1), algo o Logos - já existia e se relacionava com Deus ("a Palavra estava com Deus"); além disso, o Logos era o próprio Deus ("a Palavra era Deus"). Ademais, o Logos também foi o agente da Criação (Jo 1.3), bem como a fonte de vida eterna (v. 4). Em certo sentido, a verdadeira luz, o Logos, ao se tornar encarnada, ilumina todas as pessoas em toda parte a partir desse acontecimento (v. 9). Infelizmente, embora todos em toda parte devam sua existência ao Logos, "o mundo não o conheceu" (v. 10). Mais especificamente, "ele veio para o que

A NATUREZA DA IGREJA

era seu, e seu próprio povo não o recebeu. Mas a todos os que o receberam, que creram em seu nome, deu-lhes o direito de se tornarem filhos de Deus" (v. 11,12). Esse Logos não é outro senão o Filho eterno de Deus, a segunda pessoa da Trindade que, na encarnação, assumiu natureza humana (v. 14). Aliás, esse Logos encarnado, o Deus-Homem Jesus Cristo (v. 17), é a revelação vi- sível do Deus invisível (v. 18). Uma vez que o Logos é tudo isso o próprio Deus, o Criador de todas as coisas, a vida eterna dos seres humanos, o Filho encarnado de Deus, a revelação do Pai, não é preciso dizer que a igreja é centrada nele como Palavra de Deus. As Escrituras deixam esse fato claro: Jesus chama o que ele está edificando de minha igreja" (Mt 16.18). Com respeito à constituição da igreja, Paulo acrescenta que ela é "edificada sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, sendo o próprio Cristo Jesus a pedra angular" (Ef 2.20; cf. 1 Pe 2.4-6). A imagem da pedra angular tem como objetivo enfatizar a centralidade de Jesus Cristo para a igreja: como pedra principal do edifício, pela qual todo o restante do prédio se alinha, a pedra angular ocupa um lugar de suprema importancia .

  Nesse aspecto, toda a eclesiologia bíblica só existe em função da cristologia. Cristo, a Palavra Encarnada, é o centro da Igreja. Se Cristo, como o eixo sobre o qual a igreja está centrada, for retirado ou des- locado, então a igreja perde não só a sua identidade, como também a sua essência. Todo ataque contra a igreja acontece primeiramente na esfera cristológica. Se Cristo for tirado do centro da Igreja, esta perde a sua essência e, portanto, a sua confessionalidade. Há outro aspecto da logocentricidade da igreja, a Palavra Inspirada. Faz parte da na- tureza da igreja verdadeiramente cristă ser centralizada na Bíblia, a inspirada Palavra de Deus. Se por um lado a igreja é atacada na sua cristologia, da mesma forma as Escrituras, como Palavra Inspirada. O sola escriptura, lema propagado pela Reforma do século XVI, ecoou como um grito de retorno à Bíblia. Assim como um distanciamento da luz lança um corpo na escuridão, da mesma forma o afastamento da Bíblia deixa o homem em trevas. Assim, Alisson destaca:

ALISSON, Gregg R. Eclesiologia: uma teologia para peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.

A graça salvadora de Deus é revelada por meio da Palavra de Deus com um sentido diferente de logos. Também nesse segundo sentido a igreja é logocêntrica, centrada nas Escrituras, a Palavra inspirada. Especificamente, as Escrituras canônicas são inspira- das, suficientes, necessárias, verdadeiras (ou inerrantes), claras, imbuídas de autoridade e produtivas. Quando Paulo fala dos "escritos sagrados que podem fazer-te sábio para a salvação  pela fé em Cristo Jesus", ele explica que "toda a Escritura é inspirada por Deus e proveitosa para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, a fim de que o homem de Deus seja competente, preparado para toda boa obra" (2Tm 3.15. 17). A inspiração das Escrituras pode ser declarada em razão da supervisão pelo Espírito Santo dos autores bíblicos ao redigirem pessoalmente seus escritos (2Pe 1.19-21); portanto, a redação das Escrituras foi uma processo confluente ou cooperativo do qual participaram os autores humanos, que construíram suas narrativas, seus salmos, suas cartas e outros escritos ao usarem suas aptidões gramaticais, escolhas de gênero literário e perspectivas teológicas, e a direção específica do Espírito Santo sobre eles e seu trabalho. O resultado desse processo humano de redação supervisionado pelo Espírito foi o conjunto de palavras inspi- radas por Deus que proporciona grande benefício para todos os cristãos: as Escrituras são proveitosas para o ensino, ou para a comunicação de verdade teológica imbuída de autoridade e que inculca sabedoria; para a repreensão, ou destaque das atitudes e ações pecaminosas das quais o cristão deve se arrepender: para a correção, ou indicação do caminho certo a seguir; e para a ins- trução na justiça, ou preparo de seguidores maduros de Cristo.

Acho precisa essa descrição que Gregg Alisson faz sobre as Escrituras. A Bíblia é o parâmetro sob o qual devemos medir todas as nossas crenças e práticas. Qualquer afastamento do solo bíblico é escorregadio e perigoso. Infelizmente, há um evangelho sensorial que tem produzido uma fé doentia nos cristãos, porque o seu fundamento não está nas Escrituras. Já vi pessoas simples sendo traídas pelos seus sentimentos ao não medir o que diziam por aquilo que

ALISSON, Gregg R. idem, p. 120.

está revelado no texto canônico. Vi também grandes pregadores sendo traídos pelos seus sentidos porque deixaram de lado as Es- crituras. Outro aspecto confessional da natureza da igreja é que ela é pneumodinâmica. Já vimos que o Espírito mergulha o cristão na igreja. Isso significa que, na regeneração, o crente torna-se membro do Corpo de Cristo ao ser selado com o Espírito Santo. Esse é um batismo no corpo, a igreja. Esse batismo de iniciação na fé cristã, que tem o Espírito como o seu agente (1 Co 12.13), é diferente do batismo no Espírito Santo, que é de capacitação e que tem Cristo como o seu agente (At 2.33). Isso nos mostra a dinâmica do Espírito na igreja. Mais uma vez, citando Alisson:

A igreja é pneumodinâmica, ou criada, reunida, dotada e capa- citada pelo Espírito Santo. Não se trata de uma negação da obra muito importante do Espírito de estabelecer, libertar, santificar e conduzir o povo de Israel debaixo da antiga aliança; ao mesmo tempo, a obra do Espírito Santo na nova aliança é pronunciada- mente mais extensiva e intensiva (como tratamos no cap. 2). Na igreja, essa obra do Espírito Santo consiste em diversos ministérios, e pode se dizer que eles abarcam a totalidade da experiência de salvação dos seguidores de Cristo. Na realidade, mesmo antes de as pessoas aceitarem Jesus Cristo para a salvação, o Espírito Santo já está trabalhando poderosamente para convencê-las do pecado, da justiça própria e do falso juízo (Jo 16.8-11). À medida que esse convencimento se consolida, o Espírito Santo produz regeneração, ou a concessão de uma nova vida espiritual em lugar da morte espiritual (Tt 3.5,6). As pessoas são "nascidas de novo" e refeitas em uma "nova criação" (Jo 3.3-5; 2Co 5.17). Esses novos cristãos também são selados com o Espírito Santo (Ef 1.13,14) para mostrar que pertencem a Deus e têm o Espírito como os primeiros frutos (Rm 8.23) ou como penhor (2Co 1.22; 5.5), a garantia de que, um dia, experimentarão a plenitude da presença e da benção de subjetivo, o Espírito Santo dá testemunho para os seguidores de Cristo de que verdadeiramente pertencem a Deus para sempre (Rm 8.16).3

Da mesma forma como o cristão pode perder o rumo espiritual quando sai da esfera da Palavra de Deus, assim também o cristão in- corre em erro quando se deixa levar por "carismatismos". Esse é um termo usado pelos teólogos para referir-se às supostas manifestações atribuídas ao Espírito Santo. Muito do que se tem passado como obra do Espírito no contexto do movimento evangélico brasileiro não passa de carismatismos. Não é o fogo do Pentecostes, mas uma fumaça cinzenta proveniente da carne. Os resultados estão aí: falsas profecias, falsos milagres e profissionais do púlpito enriquecendo-se à custa da fé dos incautos. Nesse aspecto, temos pregadores demais e santos de menos. Não posso atribuir ao Espírito Santo uma obra contaminada pela carne. Também faz parte da natureza da igreja ser local e visível; universal e invisível. No seu aspecto local, a igreja também é visível. É a igreja da qual todos temos consciência de que existe e da qual fazemos parte. Nesse sentido, a igreja local pode ser conhecida na sua dimensão geográ- fica: "À igreja de Deus que está em Corinto, aos santificados em Cristo Jesus, chamados santos, com todos os que em todo o lugar invocam o nome de nosso Senhor Jesus Cristo, Senhor deles e nosso" (1 Co 1.2); "A todos os que estais em Roma, amados de Deus, chamados santos: Graça e paz de Deus nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo" (Rm 1.7). Como expôs Guy P. Duffield:

A igreja local é composta de cristãos identificados com um corpo constituído, adorando em uma localidade (Rm 16:1; Cl 4:16; Gl 1:2,22; At 14:23). Os membros de uma igreja local formam a igreja mesmo quando não estão reunidos, fato que pode ser verificado em Atos 14:27: "Ali chegados, reunida a igreja, relataram quantas cousas fizera Deus com eles..." Todos os crentes autênticos são membros do corpo universal de Cristo; todavia, todos os crentes fiéis devem estar identificados com uma igreja local onde se reúnam para adoração, confraternização e serviço com alguma regularidade (Hb 10:24,25). Os cristãos não podem ser propria- mente crentes no isolamento, pois não são apenas crentes; são também discípulos, irmãos e membros de um corpo.5

*SUENENS, Joseph Leon. A Renovação Carismática: um novo pentecostes? São Paulo: Paulus, 1999.

DUFFIELD, Guy P. Fundamentos da Teologia Pentecostal. São Paulo: Quadrangular, 1991.

No seu aspecto invisível e universal, a igreja não se limita a um espaço ou região. Há muitas expressões no Novo Testamento mostrando a igreja tanto no seu aspecto local como no universal. Contudo, quando Jesus disse que edificaria a sua igreja (Mt 16.18), fica claro que Ele se refere à igreja na sua dimensão universal. Da mesma forma, vemos o apóstolo Paulo referindo-se à igreja como aquela que Deus comprou "[...] com seu próprio sangue" (At 20.28). Nesse aspecto, referimo-nos à catolicidade da igreja, isto é, à sua universalidade. A igreja, portan- to, é universal e invisível. Nesse último sentido, dizemos que a igreja invisível é "aquela como Deus a vê". De acordo com Wayne Grudem:

A igreja é invisível, ainda que visível. Em sua realidade verdadeira- mente espiritual como a comunidade de todos os cristãos genuínos, a igreja é invisível. Isso se dá porque não podemos ver a condição espiritual do coração de ninguém. Podemos ver os que frequentam a igreja e perceber sinais externos de uma mudança espiritual interior, mas não podemos de fato ver o coração das pessoas nem enxergar o estado espiritual em que se encontram - algo que só Deus pode fazer. Foi por isso que Paulo afirmou: "O Senhor conhece os que lhe pertencem" (2Tm 2.19). Mesmo em nossas igrejas e em nossa vizinhança só Deus sabe, com toda a certeza e sem errar, quem são os verdadeiros cristãos. Falando da igreja como invisível, o autor de Hebreus fala da "assembleia (literalmente, 'igreja') dos primogênitos arrolados no céu" (Hb 12.23) e diz que os cristãos do presente unem-se àquela assembleia em adoração.

É importante aqui fazer uma distinção entre igreja e denominação. É atribuído a Watchman Nee a ideia de que só pode haver uma igreja numa cidade. Era o que ele denominava de igreja local. Tomando como princípio o Novo Testamento, essa ideia parece bíblica. De fato, no Novo Testamento, só havia uma igreja local em cada cidade. Assim, havia a igreja que estava em Éfeso, Roma, Corinto, Colossos, Filipos, etc. Nee disse:

A igreja de uma localidade não pode unir-se com a igreja de outra localidade, para ambas se tornarem uma igreja. Cada cidade só pode ser ajustada a uma igreja, assim como um esposo só pode ser combinado com uma esposa. Portanto, em Antioquia, temos a igreja de "Antioquia" e não as "igrejas de Antioquia" (At 13:1). Seria errado dizer as "igrejas de Antioquia". De acordo com a determinação de Deus, uma localidade só pode ser combinada com uma igreja, nunca com muitas igrejas. Na Bíblia você jamais encontrará as igrejas em Corinto, ou as "igrejas de Antioquia". Mas a Bíblia, na verdade, diz: a "igreja de Antioquia", a "igreja... em Corinto" (I Co 1:2), a "igreja em Filadélfia", todas no singular. Não havia "igrejas" em Antioquia, em Corinto ou em Filadélfia?

A meu ver, o problema com essa afirmação é que ela confunde denominação com igreja. Nos dias bíblicos, não havia denominações, O denominacionalismo surgiu em tempos posteriores. No atual contexto, o princípio bíblico continua válido - em cada local, só existe, de fato, uma igreja de Cristo, mas essa igreja, como corpo místico de Cristo, pode ser formada por crentes de várias denominações verdadeiramente cristãs. Todos nós somos conscientes de que há outras denominações cristās além da nossa que também fazem parte da igreja de Cristo. Isso, contudo, não quer dizer que toda denominação cristă faz parte da igreja verdadeira. Há muitas denominações ou grupos religiosos - e não são poucos - afastados dos princípios bíblicos e que, portanto, não podem ser consideradas como fazendo parte das igrejas cristās. São denominações e grupos que negam, por exemplo, a divindade de Jesus e a personalidade do Espírito Santo, não podendo ser vistos como igreja de Cristo. Todavia, ao mesmo tempo em que não podemos validar todas as denominações como cristās, também não podemos considerar somente a nossa denominação como sendo o único Corpo de Cristo numa cidade, pois isso não passa de puro sectarismo.

A natureza da igreja também pode ser vista na sua dimensão comunitária. Aqui, o principal aspecto a ser observado está relacio- nado à unidade da igreja. Cristo tem um só corpo, que é a sua igreja.

"NEE, Watchman. Palestras Adicionais sobre a Vida da Igreja. São Paulo: Árvore da Vida, 1992. Ao que se sabe, Watchman Nee escreveu apenas uma obra: O Homem Espiritual. Contudo, aquilo que ele ensinou teria sido anotado e compilado pelos seus seguidores. Essa obra seria uma dessas compilações. 

pode ser ajustada a uma igreja, assim como um esposo só pode ser combinado com uma esposa. Portanto, em Antioquia, temos a igreja de "Antioquia" e não as "igrejas de Antioquia" (At 13:1). Seria errado dizer as "igrejas de Antioquia". De acordo com a determinação de Deus, uma localidade só pode ser combinada com uma igreja, nunca com muitas igrejas. Na Bíblia você jamais encontrará as igrejas em Corinto, ou as "igrejas de Antioquia". Mas a Bíblia, na verdade, diz: a "igreja de Antioquia", a "igreja... em Corinto" (I Co 1:2), a "igreja em Filadélfia", todas no singular. Não havia "igrejas" em Antioquia, em Corinto ou em Filadélfia.

A meu ver, o problema com essa afirmação é que ela confunde

denominação com igreja. Nos dias bíblicos, não havia denominações.

O denominacionalismo surgiu em tempos posteriores. No atual

contexto, o princípio bíblico continua válido - em cada local, só

existe, de fato, uma igreja de Cristo, mas essa igreja, como corpo

místico de Cristo, pode ser formada por crentes de várias denomi-

nações verdadeiramente cristãs. Todos nós somos conscientes de

que há outras denominações cristãs além da nossa que também

fazem parte da igreja de Cristo. Isso, contudo, não quer dizer que

toda denominação cristã faz parte da igreja verdadeira. Há muitas

denominações ou grupos religiosos - e não são poucos - afastados

dos princípios bíblicos e que, portanto, não podem ser consideradas

como fazendo parte das igrejas cristãs. São denominações e grupos

que negam, por exemplo, a divindade de Jesus e a personalidade

do Espírito Santo, não podendo ser vistos como igreja de Cristo.

Todavia, ao mesmo tempo em que não podemos validar todas as

denominações como cristās, também não podemos considerar so-

mente a nossa denominação como sendo o único Corpo de Cristo

numa cidade, pois isso não passa de puro sectarismo.

A natureza da igreja também pode ser vista na sua dimensão comunitária. Aqui, o principal aspecto a ser observado está relacio- nado à unidade da igreja. Cristo tem um só corpo, que é a sua igreja.

Nesse aspecto, a igreja como Corpo de Cristo é indivisível. Escreven- do aos Coríntios, o apóstolo Paulo indagou: "Está Cristo dividido?" (1 Co 1.13). No capítulo 12 da sua primeira Epístola aos Coríntios, Paulo mostra uma analogia da igreja com um corpo humano a fim de destacar a sua harmonia e unidade. Assim como o corpo é unido, havendo harmonia entre os seus membros e órgãos, assim também é a igreja. Contudo, unidade não significa uniformidade. R. L. Omanson observou:

Em 1 Co 1.10-30, Paulo adverte contra divisões na igreja e concla- ma os membros a serem unidos em Cristo. Nesta mesma epístola (cap. 12), declara que, embora haja muitos dons, há um só corpo (cf. Rm 12.3-8). O Evangelho Segundo João fala de um só Pastor e um só rebanho (10.16), e Jesus ora para que Seus seguidores sejam um, assim como o Pai e o Filho são um (17.20-26). Em Gl 3.27-28, Paulo declara que em Cristo todos são um, sem distinção de raça, condição social ou sexo. At 2.42 e 4.32 também dão testemunho da unidade da igreja. Talvez a passagem mais emocionante sobre esta questão seja Ef 4.1-6: "Há somente um corpo e um Espírito, como também fostes chamados numa só esperança da vossa vocação; há um só Senhor, uma só fé, um só batismo; um só Deus e Pai de todos, o qual é sobre todos, age por meio de todos e está em todos" (vv. 4-6). A união, no entanto, não exige uniformidade.

Omanson tem razão. Unidade não significa uniformidade. A estrutura de uma determinada igreja não necessariamente é de ou- tra. Há uma série de coisas a serem consideradas nessa questão. Isso pode ser visto, por exemplo, dentro até mesmo de um mesmo corpo denominacional. No contexto das Assembleias de Deus no Brasil, por exemplo, embora se possua a mesma base governamental e doutri- nária comum, é possível, contudo, perceber-se liturgias e costumes diferentes. Isso se deve, muitas vezes aos regionalismos característicos de cada lugar. Se princípios bíblicos não estão sendo quebrados, então é possível manter-se a unidade dentro dessa diversidade.

O Corpo De Cristo  Cpad





















 











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