TEXTO AUREO
“E disse-lhes Pedro:
Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para
perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.”
(At 2.38)
VERDADE PRÁTICA
A Igreja é a família de Deus,
comprada com o sangue de Cristo e selada com o Espírito Santo.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Atos 2.1,2; 37,38
1 – Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos
reunidos no mesmo lugar;
2 – e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e
encheu toda a casa em que estavam assentados.
37 – Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e
perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos?
38 – E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome
de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo.
PLANO DE AULA
INTRODUÇÃO
O propósito deste trimestre é estudar a respeito da doutrina da Igreja segundo
a sua origem, natureza e missão neste mundo. Nesta primeira lição, abordaremos
o tema da origem da Igreja. Procuraremos responder as seguintes questões: Como
o povo de Deus é formado na Bíblia? Como a Igreja foi planejada por Deus? O que
a Igreja de fato é? Para tratar desses e outros assuntos, contaremos com
o Pastor José
Gonçalves, líder da Assembleia de Deus em Água Branca (PI), mestre em
Teologia, graduado em Filosofia, escritor de diversas obras editadas pela CPAD
e membro da Comissão de Apologética da CGADB.
2- APRESENTAÇÃO DA LIÇÃO
A) Objetivos da Lição:
I) Descrever a trajetória do
povo de Deus na Bíblia e na história;
II) Apresentar a Igreja como criação
divina;
III) Identificar a Igreja como a
comunidade de salvos.
B) Motivação: Uma das imagens bíblicas mais interessantes a respeito da
Igreja pode ser contemplada a partir desta expressão: “o Corpo de Cristo”. Tal
expressão revela que a Igreja não é uma mera associação, mas uma instituição
orgânica e divina que foi estabelecida pelo próprio Deus. Você se sente
conscientemente parte desse Corpo?
C) Sugestão de Método: O primeiro tópico desta lição apresenta o
desenvolvimento do Povo de Deus ao longo da Bíblia. No Antigo Testamento, ele
aparece como a nação de Israel; no Novo, como a Igreja de Cristo. Para
enfatizar o desenvolvimento do conceito de Igreja, expanda o conteúdo do
subtópico “Na história cristã”, mostrando como esse conceito foi desenvolvido
ao longo do tempo. Para isso, consulte obras especializadas como “Deus e o Seu
Povo”, editada pela CPAD, e, a partir do conceito apresentado na lição,
aprofunde o conceito de Igreja ao longo da história com a classe. Você pode
apresentar esse conceito expandido da Igreja por meio de projeção digital ou de
notas distribuídas previamente a cada aluno.
3- CONCLUSÃO DA LIÇÃO
A) Aplicação: Só faz parte da Igreja, o Corpo de Cristo, quem é regenerado,
justificado, santificado pelo Senhor Jesus e selado pelo Espírito Santo. Aqui,
é muito importante afirmar que a natureza da Igreja é celestial, pois não nos
congregamos a ela por mera vontade humana, mas pela obra de Cristo na cruz
mediante ao arrependimento e fé, na força do Espírito Santo.
4- SUBSÍDIO AO PROFESSOR
A) Revista Ensinador Cristão. Vale a pena conhecer essa revista que traz
reportagens, artigos, entrevistas e subsídios de apoio à Lições Bíblicas
Adultos. Na edição 96,p.36, você encontrará um subsídio especial para esta
lição.
B) Auxílios Especiais: Ao final do tópico, você encontrará auxílios que darão
suporte na preparação de sua aula:
1) O texto “O Termo EKKLÊSIA”, localizado depois do primeiro tópico, aprofunda
a compreensão técnica a respeito da origem bíblica da Igreja;
2) O texto “A Origem da Igreja”, ao final do segundo tópico, amplia a reflexão
a respeito da origem da concreta da Igreja de Cristo.
INTRODUÇÃO
Uma rápida leitura do Novo
Testamento é sufi ciente para percebermos o que a Igreja é de fato e que
importância ela tem. Para os apóstolos e os primeiros cristãos a Igreja era
relevante. Paulo, por exemplo, a denominou de “coluna e firmeza da verdade” (1
Tm 3.15); e Pedro a chamou de “geração eleita” (1 Pe 2.9). Nesta lição,
mostraremos o que a Bíblia, de fato, revela sobre a Igreja de Deus. Veremos que
a ekklesia, a Igreja de Deus, longe de ser meramente uma associação de pessoas,
é uma instituição divina.
AUXÍLIO TEOLÓGICO
O TERMO EKKLÊSIA “Jesus
assevera, em Mateus 16.18: ‘Edificarei a minha igreja’. Esta é a primeira entre
mais de cem referências no Novo Testamento que empregam a palavra grega
primária para ‘igreja’: ekklêsia, composta com a preposição ek (“fora de”) e o
verbo kaleõ (“chamar”). Logo, ekklêsia denotava originalmente um grupo de
cidadãos chamados e reunidos, visando um propósito específico. O termo é conhecido
desde o século V a.C., nos escritos de Heródoto, Xenofontes, Platão e
Eurípedes. Este conceito de ekklêsia prevalecia especialmente na capital,
Atenas, onde os líderes políticos eram convocados como assembleia constituinte
até quarenta vezes por ano.
1- O uso secular do termo também aparece no Novo Testamento. Em Atos 19.32,41,
por exemplo, ekklêsia refere-se à turba enfurecida de cidadãos que se reuniu em
Éfeso para protestar contra os efeitos do ministério de Paulo.
2- Na maioria das vezes, porém, o termo tem uma aplicação mais sagrada e
refere-se àqueles que Deus tem chamado para fora do pecado e para dentro da
comunhão do seu Filho, Jesus Cristo, e que se tornaram “concidadãos dos santos
e da família de Deus” (Ef 2.19). Ekklesia é sempre empregada às pessoas e
também identifica as reuniões destas para adorar e servir ao Senhor” (HORTON,
Stanley. Teologia Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1.ed. Rio de
Janeiro: CPAD, 2023, p.536).
AUXÍLIO TEOLÓGICO
A ORIGEM DA IGREJA “Várias são as razões para
crermos que a Igreja teve sua origem, ou pelo menos foi publicamente
reconhecida pela primeira vez, no dia de Pentecostes. Embora na era pré-cristã
Deus certamente se associasse a uma comunidade pactual de fiéis, não há evidências
claras de que o conceito de Igreja existisse no período do Antigo Testamento.
Ao citar expressamente ekklêsia pela primeira vez (Mt 16.18), Jesus falava de
algo que iniciaria no futuro (‘edificarei’ [gr. oikodomêsõ] é um verbo no
futuro simples, não uma expressão de disposição ou determinação). Na condição
de corpo de Cristo, é natural que a Igreja dependa integralmente da obra
concluída por Ele na Terra (sua morte, ressurreição e ascensão) e da vinda do
Espírito Santo (Jo 16.7; At 20.28; 1 Co 12.13). Millard J. Erickson observa que
Lucas não emprega ekklêsia no seu evangelho, mas a palavra aparece 24 vezes em
Atos dos Apóstolos. Este fato sugere que Lucas não tinha nenhum conceito da
presença da Igreja antes do período abrangido em Atos. Imediatamente após
aquele grande dia em que o Espírito Santo foi derramado sobre os crentes
reunidos, a Igreja começou a propagar poderosamente o Evangelho, conforme fora
predito pelo Senhor ressurreto em Atos 1.8. A partir daquele dia, a Igreja
continuou a propagar-se e a aumentar no mundo inteiro, mediante o poder e
orientação daquele mesmo Espírito Santo” (HORTON, Stanley. Teologia
Sistemática: Uma Perspectiva Pentecostal. 1.ed. Rio de Janeiro: CPAD, 2023,
p.538,39).
CONCLUSÃO
Nesta lição vimos como surgiu a
Igreja fundada por Jesus Cristo. Ela existiu, primeiramente, no plano de Deus
até se estabelecer no Novo Testamento após a morte, ressurreição de Cristo e a
infusão dos Cristãos no Corpo de Cristo por meio do Espírito Santo. A Igreja,
portanto, não foi idealizada por homem algum, nem tampouco está fundada sobre
teses humanas. O seu fundamento é Cristo, que é a cabeça da Igreja. Por isso, é
um grande privilégio fazer parte da Igreja, o Corpo de Cristo.
| CPAD –
TEMA: O CORPO DE CRISTO – Origem, Natureza e Missão da Igreja no Mundo
Lição 01: A Origem da Igreja
Sumário
Agradecimentos
...................................................................................
5
Prefácio
................................................................................................
9
Introdução...........................................................................................13
Capítulo
1
A Origem
da Igreja .................................................................. 15
Capítulo
2
Imagens
Bíblicas da Igreja ...................................................... 25
Capítulo
3
A
Natureza da Igreja
............................................................... 35
Capítulo
4
A Igreja
e o Reino de Deus ..................................................... 45
Capítulo
5
A Missão
da Igreja de Cristo .................................................. 55
Capítulo
6
Igreja:
Organismo e Organização .......................................... 65
Capítulo
7
O
Ministério da Igreja
............................................................. 77
Capítulo
8
A
Disciplina na
Igreja.............................................................. 89
Capítulo
9
O
Batismo — A Primeira Ordenança da Igreja ................... 97
Capítulo
10
A Ceia
do Senhor — A Segunda Ordenança da Igreja....... 109
Capítulo
11
O Culto
da Igreja Cristã ........................................................ 119
Capítulo
12
O Papel
da Pregação no Culto ............................................. 129
Capítulo
13
O Poder
de Deus na Missão da Igreja................................. 141
Referência
.........................................................................................
157
Prefácio
A tradição evangélica, nascida no berço da
era moderna, está profundamente imersa na corrente do individualismo ocidental.
Este ethos, embora tenha as suas virtudes, também gerou uma compreensão
excessivamente personalizada da fé. Em nossos louvores, orações e pregações, o
“eu” frequentemente prevalece sobre o “nós”. Esse fenômeno também é evidenciado
pelo crescente número de “desigrejados” — indivíduos que, talvez ingenuamente
ou não, acreditam que podem viver a sua fé de forma isolada, sem a necessidade
de uma comunidade de crentes.
Deus certamente nos ama como indivíduos
únicos e preciosos; no entanto, a sua visão para nós é que sejamos parte de um
corpo maior, enraizados numa comunidade de fé que reflete a diversidade e a
unidade do próprio Deus-Trino. Somos chamados a ser um povo, não apenas
pessoas. É no contexto da comunidade que a graça, a misericórdia e a justiça de
Deus manifestam-se de formas que transcendem a experiência individual.
Nesse sentido, estudar eclesiologia — a
doutrina da igreja — não é um luxo teológico, mas uma necessidade urgente.
Compreender a
Igreja
como o Corpo de Cristo, a Noiva, o Templo do Espírito Santo, entre outras
imagens bíblicas, ajuda-nos a equilibrar o individualismo inerente à nossa
cultura com a visão coletiva e comunitária das Escrituras. Traz também luz para
a missão e o propósito da igreja no mundo, algo que se estende muito além da
salvação pessoal para incluir a transformação social e cultural, sempre sob a
orientação e o poder do Espírito Santo.
Nesse contexto, é com grande satisfação que
apresento o livro de apoio escrito pelo pastor José Gonçalves, uma autoridade
no campo da Teologia e um líder respeitado da Assembleia de Deus piauiense.
Este
livro surge como uma ferramenta essencial para alunos e professores que
utilizam as Lições Bíblicas da CPAD, trazendo claridade e profundidade aos
temas abordados. O seu enfoque está bem alinhado com as preocupações e ênfases
teológicas das Assembleias de Deus e da tradição pentecostal como um todo.
Estudar a igreja é estudar o enfoque
comunitário da fé cristã. A eclesiologia bíblica ajuda-nos a reconhecer e
valorizar práticas que podem ser negligenciadas numa fé excessivamente
individualista, como a disciplina eclesiástica e a participação regular na Ceia
do
Senhor. Além disso, ajuda-nos a valorizar a liturgia voltada para a edificação uns dos outros; afinal, como diz o autor deste livro, o “culto deve refletir a santidade de Deus”. Todas essas práticas servem para fortalecer a identidade coletiva da igreja e lembrar-nos de que estamos intrinsecamente conectados uns aos outros e a Cristo.
Abraçar a eclesiologia bíblica é combater o
mal do antropocentrismo. O antropocentrismo, a crença de que o ser humano é o centro
do Universo e o ponto focal de todas as considerações, tem penetrado de maneira
insidiosa em muitas esferas da vida, inclusive na espiritualidade e na prática
eclesiástica. No âmbito da igreja, o antropocentrismo pode manifestar-se de
várias maneiras: em um foco excessivo no bem-estar individual em detrimento da
comunidade, na prevalência de uma Teologia da Prosperidade que enxerga Deus principalmente
como um meio para alcançar sucesso pessoal, ou até na forma como estruturamos
nossos cultos e liturgias para agradar aos congregantes em vez de glorificar a
Deus.
Afinal, o coração da mensagem cristã é a
história da redenção divina, e não simplesmente um manual para a felicidade
humana ou sucesso pessoal. O chamado cristão não é primariamente sobre a autossatisfação,
mas sobre a entrega de si mesmo em serviço a Deus e aos outros. Confrontar e
corrigir o antropocentrismo na igreja não é uma tarefa fácil, mas é vital para
que a comunidade cristã reflita mais fielmente o caráter e os propósitos de
Deus. É um chamado para voltar ao centro, ao coração do evangelho, onde nos
encontra- mos não a nós mesmos, mas a Cristo e a sua missão redentora para o
mundo. A Bíblia lembra-nos de que somos parte de uma narrativa maior, enraizada
na eternidade e voltada para o Reino de Deus, e não apenas protagonistas de
nossas próprias histórias.
Em um
mundo cada vez mais fragmentado e polarizado, nunca foi tão crucial entender e
viver a realidade de que a igreja é, verdadeiramente, um corpo composto de
muitos membros, cada um com a sua função, mas todos indispensáveis para a saúde
e a missão do todo. O teólogo assembleiano Simon Chan lembra que “corpo” é mais
do que metáfora; é a natureza essencial da igreja.
Entre os diversos tópicos explorados, o livro
começa estabelecendo as bases da igreja, situando a sua origem no evento do
Pentecostes conforme descrito em Atos 2. A partir daí, explora diversas imagens
bíblicas que nos ajudam a compreender a rica tapeçaria que é a igreja— Corpo de
Cristo, Noiva do Cordeiro, Sacerdócio Real, entre outras.
Um dos aspectos mais valiosos desta obra é a
sua habilidade em equilibrar aspectos teóricos e práticos da eclesiologia. O
autor não apenas descreve a natureza da igreja, como também delineia a sua
missão intrínseca, destacando a necessidade do enchimento do
Espírito
Santo para o cumprimento eficaz dessa missão
Nesse contexto, o livro faz uma análise
minuciosa da tensão entre a igreja como um “organismo” vivo e espiritual e a
igreja como uma
“organização”
estruturada e institucionalizada. Ele mostra que essas duas dimensões,
frequentemente vistas como antagônicas, podem e devem conviver em equilíbrio
para o bem da missão da igreja no mundo.
Não menos importante é a discussão sobre a
disciplina eclesiástica e a sua importância para a saúde espiritual e
doutrinária da igreja. Ademais, o autor traz uma reflexão sobre a Ceia do
Senhor, um dos sacramentos mais fundamentais da fé cristã, ressaltando a sua importância
tanto como um ato de lembrança quanto de comunhão.
Cada capítulo desta obra é um convite à
reflexão teológica e à aplicação prática, sempre embasados na infalível Palavra
de Deus.
O pastor
José Gonçalves, com a sua formação em Filosofia, mestra- do em Teologia e
experiência como professor de grego, mostra-se plenamente capacitado para
conduzir o leitor por essas questões complexas, porém essenciais a qualquer
cristão.
Por fim, enquanto escrevo este prefácio,
lembrei-me de leituras passadas. Durante meus anos de adolescência, tive o
privilégio de mergulhar em duas obras fundamentais do pastor José Gonçalves que
moldaram minha compreensão da vida eclesiástica: As Ovelhas Também Gemem e Por
que Caem os Valentes?. Esses livros foram pedras angulares em minha jornada
espiritual, lançando luz sobre as complexidades e desafios da liderança na
igreja, bem como sobre a responsabilidade intrínseca de cada membro da
comunidade de fé.
Este novo livro parece ser a peça que
faltava no quebra-cabeça, um complemento natural aos dois trabalhos anteriores.
Se os primeiros livros respectivamente abordaram os anseios e necessidades do rebanho
e os desafios enfrentados pelos líderes, este novo volume apresenta-se como uma
exploração abrangente do próprio conceito de igreja — a sua origem, natureza,
missão e os delicados equilíbrios que a sustentam.
Juntos, os três livros formam uma trilogia
não oficial, mas pro- fundamente coesa, que fornece uma visão abrangente da
vida na comunidade cristã. Cada um, à sua maneira, realça aspectos distintos que
são fundamentais para a compreensão e a prática da vida em uma igreja. E o que
é ainda mais impressionante é que todos são imbuídos de uma sensibilidade
pastoral profunda, tornando-os não apenas academicamente robustos, como também
profundamente práticos e aplicáveis.
Portanto, quer você seja um estudante de
teologia, um ministro do evangelho ou um leigo buscando entender mais profundamente
a Igreja de Jesus Cristo, este livro será um recurso inestimável. Prepare-se para
uma jornada de descobertas que fortalecerão sua fé e ampliarão sua compreensão
sobre a maravilhosa entidade que é a igreja.
Em
Cristo,
Gutierres
Fernandes Siqueira
São
Paulo, inverno de 2023
Introdução
De acordo com uma pesquisa feita pela
Confederação Nacional dos Transportes (CNT), a “Igreja se mantém como
instituição que os brasileiros mais confiam. Dados da 143a Pesquisa CNT MDA mostram
que 34,3% dos entrevistados citam a Igreja”.1
Mesmo esses
números sendo bastante otimistas, revelam, contudo, a crise de confiança dos
brasileiros em relação às instituições. Essa dês confiança é refletida também
em relação à igreja. De acordo com essa mesma pesquisa da CNT, a avaliação do
brasileiro em relação à igreja vem caindo em “pontos percentuais nos últimos
anos”.
Esses
dados ficam mais claros quando contrastados com o número daqueles que se
professam cristãos no Brasil. Segundo as últimas estatísticas, mais de 80% da
população identifica-se como cristã.2
Diante
de uma cifra tão grande de cristãos, esperava-se que a igreja fosse mais bem
avaliada. No mínimo, esses números revelam um paradoxo. Temos 80% de cristãos;
contudo, somente cerca de 34% acredita que a igreja é a instituição mais
confiável. A meu ver, essa contradição reflete uma tendência que vem aumentando
cada dia em relação à igreja: as pessoas dizem admirar e gostar de Jesus, mas não
da igreja! Evidentemente, há muitos fatores que contribuem para esse fenômeno.
Grosso modo, as pessoas enxergam a igreja por meio dos óculos da tradição e da
história, e não da sua imagem refletida pelo Novo Testamento.
Este livro é um estudo sobre a igreja e a
sua natureza a partir da perspectiva da Teologia Sistemática. Não é, portanto,
um trabalho de natureza apologética. O seu enfoque será doutrinário. Estamos interessados
em apresentar uma eclesiologia a partir da revelação bíblica, e não apenas histórica. Para que tal
fim seja alcançado, o livro foi dividido em treze capítulos. No capítulo 1,
abordamos a questão relacionada a origem da igreja. Ali mostramos que a igreja foi
idealizada por Deus e como tal, sempre fez parte de seu projeto para a
humanidade. Não foi algo criado de improviso e de última hora. No capítulo 2,
expomos as imagens que retratam a igreja. Essas imagens acabam revelando o que
a igreja é na sua essência e natureza. No capítulo 3, discorremos especificamente
sobre a natureza da igreja e apresentamos no seu aspecto visível e invisível,
local e universal. No capítulo 4, mostramos a relação que há entre o Reino de
Deus e a igreja. Destacamos a importância da igreja, pontuando, contudo, que
ela não é o Reino, mas que faz parte dele. No capítulo
5, detalhamos sobre no que se constitui a missão da igreja, tomando os textos da Grande Comissão e a narrativa da Igreja Primitiva como uma comunidade de crentes e expomos a sublime missão da qual a igreja faz parte. Nos capítulos 6 e 7, abordamos as questões relacionadas à igreja como organismo e organização e o seu ministério local, respectivamente. Nesses capítulos, abordamos a igreja no seu aspecto funcional e institucional. No capítulo 8, fizemos uma exposição sobre a disciplina na igreja. Mostramos que uma igreja sem disciplina é fraca e sem autoridade. Nos capítulos 8 e 10, discorremos sobre as ordenanças da igreja, o batismo e a Ceia. Mostramos que essas ordenanças não são sacramentos e que, portanto, não têm “poderes mágicos”. No capítulo 11, tratamos sobre o culto na igreja, enfocando a sua natureza e propósito. No capítulo 12, tratamos sobre o papel da pregação na igreja. Destacamos a grande importância que tem o ministério da Palavra para a edificação da igreja. No capítulo 13, focamos a necessidade do poder de Deus para que a igreja cumpra a sua missão. Nesse capítulo, enfatizamos a necessidade do revestimento de poder na vida do crente e da igreja.
Cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; e, de repente, veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados [...] Ouvindo eles isto, compungiram-se em seu coração e perguntaram a Pedro e aos demais apóstolos: Que faremos, varões irmãos? E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados, e recebereis o dom do Espírito Santo. Porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos e a todos os que estão longe: a tantos quantos Deus, nosso Senhor, chamar. E com muitas outras palavras isto testificava e os exortava, dizendo: Salvai-vos desta geração perversa. De sorte que foram batizados os que de bom grado receberam a sua palavra; e, naquele dia, agregaram-se quase três mil almas. (At 2.1,2; 37-41)
O Povo de Deus na Bíblia e na História
Há uma série de palavras no Antigo Testamento
para referir-se ao povo de Deus. A mais frequente delas é qahal, que a Septuaginta
traduz, na maioria das vezes, como ekklesia. O sentido é o de uma
“convocação”
ou de uma “reunião’. Dessa forma, uma assembleia, qualquer que fosse o seu
objetivo ou propósito, poderia ser descrita como uma qahal. Exemplos podem ser
vistos em Gênesis 49.6, 1 Reis
2.3 e Juízes 20.2. Nesses textos, vemos qahal sendo usada em relação a uma assembleia reunida em conselho; para cuidar de assuntos de natureza civil e em contextos de conflitos militares. Nesse último sentido, também encontramos a referência ao combate entre Davi e Golias (1 Sm 17.47). Assim, qahal era o termo preferido quando se queria referir a qualquer ajuntamento de pessoas (Gn 28.3; Pv 21.16; Jr 31.8; Ed 10.12). Contudo, o uso de qahal no texto hebraico também possui uma conotação notadamente religiosa. Nesse sentido, qahal é traduzido como “congregação” em referência à entrega da Lei ao povo (Dt 9.10; 10.4). Quando o povo, isto é, a “congregação”, estava em festa, era a qahal que se ajuntava (2 Cr 20.5; 30.25; Ne 5.13; Jl 2.16). Esses exemplos mostram a qahal como um ajuntamento seletivo de pessoas, e não de todo o povo. Dessa forma, o seu sentido religioso é posto em destaque:
Qahal também pode designar a congregação como um corpo organizado. Existe o qehal yisrael (Dt 31.10), o qehal YHWH (Nm 16.3) e o qehal elohim (Ne 13.1), e então, em outras vezes, simples- mente “a assembleia” (haqqahal). Ainda se veem as expressões “a assembleia da congregação de [qehal ‘edat] Israel” (Êx 12.6, IBB) e a “assembleia do povo de Deus” (Jz 20.2, IBB). De especial interesse é a expressão “congregação do SENHOR [qehal YHWH]”, da qual existem 13 exemplos (Nm 16.3; 20.4; Dt 23-2-4; Mq 2.5; 1 Cr 28.8). É, no AT, o mais próximo equivalente de “igreja do Senhor”. A Septuaginta traduz a expressão por ekklesia kuriou.
O Novo Testamento usa a palavra ekklesia para referir-se, na grande maioria das vezes, à igreja de Deus. A palavra ekklesia, portanto, é o termo preferido por Lucas em Atos dos Apóstolos e por Paulo nas suas cartas para darem destaque a igreja de Deus. Assim, Lucas escreve: “[...] E houve um grande temor em toda a igreja” (At 5.11); “[...] E fez-se naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja” (At 8.1); “[...] E Saulo assolava a igreja” (At 8.3); “Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia, e Samaria tinham paz e eram edificadas [...]” (At 9.31); “[...] a igreja fazia contínua oração por ele a Deus” (At 12.5). Da mesma forma, Paulo destaca: “à igreja de Deus que está em Corinto [...]” (1 Co 1.2); “[...] E não só isso, mas foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem” (2 Co 8.19); “[...] como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava” (Gl 1.13); “[...] pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10); “segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp 3.6).
Como observam os léxicos, a expressão “congregação do Senhor” (qehal Yhwh) usada no Antigo Testamento é o equivalente mais próximo da expressão neotestamentária “igreja do Senhor” (ekklesia kuriou) Contudo, convém destacar que o significado de qahal como “congregação” ou “congregação do Senhor”, embora mantenha alguma semelhança semântica com a ekklesia neotestamentária, não significa dizer que a igreja já existia no Antigo Testamento. Na verdade, qahal apenas diz que o Senhor tinha um povo debaixo do Antigo Pacto. As diferenças entre a “congregação” do Antigo Testamento e a “igreja” do Novo Testamento podem ser encontradas tanto na forma como na função. No Antigo Testamento, o uso do termo qahal refere-se ao povo de Deus no seu sentido étnico, enquanto no Novo Testamento ekklesia não possui esse sentido. A ekklesia do Novo Testamento é constituída por pessoas de todas as raças, línguas e povos (Ap 5.9). E o mais significativo é que a ekklesia no Novo Testamento tem a função de tornar-se a habitação, o templo, do Espírito Santo (1 Co 3.16), o que não acontece com o povo do Antigo Pacto. Assim, podemos destacar que, no Novo Testamento, a ekklesia refere-se a crentes nascidos de novo, e não simplesmente a um ajuntamento de pessoas.
Nesse contexto, Israel e a igreja ocupam
papeis distintos no plano da salvação. Uma não é a extensão do outro. Como
observa Gregg R. Alisson: “ambos participam, à sua maneira, do reino de Deus e
de suas bênçãos multiformes”. A igreja foi idealizada por Deus para ocupar um
lugar de destaque na plenitude dos tempos (Ef 1.4). A sua importância é
inegável (At 20.28). Israel, contudo, não ficou esquecido por Deus (Rm 8.25). A
seu tempo, terá cumprimento aquilo que o Senhor projetou para essa nação (Rm
11.26).
A
Igreja na Tradição Católica e Protestante
Dentro desse contexto sobre a origem da igreja, é importante compreendermos também como o catolicismo enxerga a igreja e = o seu fundamento. Isso ajudará a fazermos um contraste com a fé evangélica herdeira da Reforma do século XVI. No contexto católico, isso pode ser mostrado, por exemplo, a partir da Profissão de Fé Tridentina de 1564, conforme exposta na Bula de Pio IV, Injunctum nobis, de novembro daquele mesmo ano. Esse documento católico foi publicado para ser recitado publicamente por todos os bispos e clérigos. A redação do seu texto diz: “A Igreja Santa, Católica, Apostólica e Romana como a mãe e mestra de todas as igrejas [...] o Pontífice Romano, o sucessor do bem-aventurado Pedro, chefe dos apóstolos e representante [vicarius] de Jesus Cristo [...] Esta verdadeira fé católica (sem a qual ninguém pode estar em estado de salvação)”.6
Nesse documento, observa-se que a igreja católica é posta como sendo a Igreja-mãe; o Papa, como sendo o sucessor do apóstolo Pedro e vigário de Cristo, e a fé católica, como garantia de salvação. Esse documento verbera os dogmas católicos de que o apóstolo Pedro é a pedra fundamental sobre a qual Cristo edificou a igreja e de que “fora da Igreja não há salvação”.7 Esse tipo de eclesiologia existe em razão da crença romana de que a igreja católica é vista como a única Igreja verdadeira e “sacramento de salvação”. Assim, não existiria salvação fora do catolicismo e, caso exista, será de alguma forma, instrumentalizado por ele. Dessa forma, a conclusão mais lógica é que a igreja católica torna-se meritória no processo da salvação. Partindo desse raciocínio, o padre Miguel Maria Giambelli (1920–2010) parafraseia as palavras de Jesus que foram ditas ao apóstolo Pedro em Mateus 18.19 como segue:
Nesta minha
Igreja, que é o reino dos céus aqui na terra, eu te darei também a plenitude
dos poderes executivos, legislativos e judiciários, de tal maneira que qualquer
coisa que tu decretares, eu a ratificarei lá no Céu, porque tu agirás em meu
nome e com a minha autoridade. (GIAMBELLI, Miguel M. A Igreja Católica e os
Protestantes, p. 68)
O apóstolo Pedro, portanto, segundo Giambelli,
é o fundamento sobre o qual a igreja foi edificada. O entendimento da fé
evangélica é que o único fundamento da igreja é Cristo, e não Pedro. “Porque ninguém
pode pôr outro fundamento, além do que já está posto, o qual é Jesus Cristo” (1
Co 3.11). Dessa forma, a igreja é criação divi- na e tem Cristo, e não o homem,
como o seu fundamento. Por outro lado, a igreja só se mantém fiel e verdadeira
quando tem Cristo como cabeça e é fiel à sua Palavra, e uma igreja fora da
Bíblia não pode reivindicar ser verdadeira, qualquer que seja ela.
Os catecismos, confissões de fé e credos herdeiros da Reforma de 1517 tem procurado mostrar a centralidade da Bíblia e Cristo como o único fundamento da igreja.
Confissão
Batista de New Hampshire de 1833:
“[Cremos] que uma Igreja visível de Cristo é uma congregação de crentes batizados, associados por aliança na fé e comunhão do Evangelho; observando as ordenanças de Cristo; governado por suas leis; e exercendo os dons, direitos e privilégios investidos neles por sua palavra”.9
Conjunto de Verdades Fundamentais das Assembleias de Deus de 1916:
A Igreja é o corpo de Cristo, a habitação de Deus através do Espírito, com divinas nomeações para cumprimento de sua Grande Comissão. Cada crente, nascido do Espírito, é parte integrante da Assembleia Universal e da Igreja do Primogênitos, que estão inscritos no Céu (Ef 1.22,23; 2.22; Hb 12.23).10
A Igreja como Criação Divina
De acordo com o apóstolo Paulo, a igreja não
foi uma criação humana nem tampouco uma ação de última hora. Ela foi um projeto
feito por Deus desde a eternidade: “Como também nos elegeu nele [Cristo] antes
da fundação do mundo, para que fôssemos santos e irrepreensíveis diante dele em
amor” (Ef 1.4). Essa afirmação de Paulo esvazia por completo a ideia de um
improviso divino na criação da igreja. Fica o fato de que Deus, na sua
onisciência, sabia de antemão da Queda do homem e, para salvá-lo através da
obra de Cristo, criou a igreja. Assim, Paulo, na sua Carta aos Efésios, destaca
esse mistério que estava oculto (Ef 3.3-6) e que foi revelado, a igreja! Na
mente de Deus, portanto, a igreja já existia. Sendo ela um mistério que estava oculto
que somente se revelou na plenitude dos tempos, fica claro que ela não existia
no Antigo Testamento. Deus tinha um povo debaixo do Antigo Pacto, só que esse
povo, embora fazendo parte do seu Reino, não era a igreja. Esta, portanto, tem
a sua origem na Nova Aliança.
Ela
nasce no Pentecostes.
Tomando por base Efésios 3.1-6, Norman
Geisler pontua algumas razões por que a igreja começou no Pentecostes:
Diversos fatos deixam claro que a igreja não começou até depois da ascensão de Cristo. Primeiro, ela envolvia um “mistério”, o que significa algo antes escondido, oculto, e agora revelado. Segundo, o mistério não foi revelado até o período dos “apóstolos e profetas do Novo Testamento. Terceiro, este período teve lugar depois do Antigo Testamento, uma vez que não foi em “outros séculos” antes do período em que Paulo escreveu. Quarto, gramaticalmente, “apóstolos” e “profetas” estão ambos precedidos por um artigo (“aos seus santos apóstolos e profetas”), indicando que devem ser considerados como uma única classe. Quinto, os “apóstolos e profetas do Novo Testamento” eram a base da igreja, o que mostra que a igreja se iniciou com eles. Sexto, Cristo é a “principal pedra da esquina” (Ef 2.20), e o edifício não pode existir, a menos que a pedra da esquina esteja no lugar. Sétimo, e finalmente, Efésios 3.4,5 (juntamente com passagens paralelas) revela que esta igreja do “mistério” não existiu antes do tempo de Cristo: A igreja é o mistério de Cristo, não revelado em outras gerações “como, agora, tem sido revelado pelo Espírito aos seus santos apóstolos e profetas” [...]. A igreja simplesmente não existia no Antigo Testamento. Os gentios não eram co-herdeiros das bençãos de Deus, mas estavam “separados da comunidade de Israel” (Ef 2.12); e a parede de separação que estava no meio não foi derrubada (v. 14) até que a Cruz recebesse o suporte de Romanos 16.25,26: “[Ele] é poderoso para vos confirmar segundo o meu evangelho e a pregação de Jesus Cristo, conforme a revelação do mistério que desde tempos eternos esteve oculto, mas que se manifestou agora”. O contraste é claro: o mistério de como judeus e gentios se uniriam em um corpo em Cristo não estava presente no Antigo Testamento, que revelou que os gentios receberiam as bênçãos do evangelho; o Novo Testamento deu a conhecer como isto seria possível (Ef 3.6). A igreja não começou até depois que Jesus veio, morreu, ressuscitou e a estabeleceu sobre o fundamento dos apóstolos.11
A Igreja como Comunidade dos
Salvos
Podemos, então, falar da igreja como sendo a comunidade dos salvos pelo sangue de Jesus. A igreja é uma comunidade de pessoas regeneradas, que tiveram uma experiência de salvação. Os verbos gregos usados no contexto da conversão são metanoeo (At 2.38) e epistrepho (At 3.19), respectivamente. O primeiro indica uma mudança de mentalidade, enquanto o segundo, de rumo. A igreja não é formada, portanto, por adesão, mas por conversão. Não existe salvação sem cruz. Da mesma forma, não existe igreja verdadeira sem o selo do Espírito. A igreja, nasce, portanto, no Pentecostes. Nas palavras de E. S. Williams, superintendente geral das Assembleias de Deus norte-americanas e autor da obra Sistematic Theology:
A Igreja foi fundada no Pentecostes. Foi quando se cumpriu o dia de Pentecostes que os discípulos foram cheios do Espírito Santo (At 2.1-4) e que a igreja do novo Testamento passou a existir. A partir de então, “Igreja” torna-se uma palavra proeminente no novo Testamento — “E todos os dias acrescentava o Senhor à igreja aqueles que se haviam de salvar” (At 2.47); “grande temor veio a toda a igreja (At 5.11); “os presbíteros ordenados em cada igreja” (At 14.23).12
Myer
Pearlman declara:
A igreja veio existir como igreja no dia de Pentecostes, quando foi consagrada pela unção do Espírito. Assim como o tabernáculo foi construído e depois consagrado pela descida da glória divina (Êx 40.34), também os primeiros membros da igreja foram congregados no cenáculo e consagrados como igreja pela desci- da do Espírito Santo [...] essa obra foi feita pelo Espírito Santo, operando mediante os apóstolos, que lançaram os fundamentos e edificaram a igreja por sua pregação, ensino e organização. Portanto, a igreja é descrita como edificada “sobre o fundamento dos apóstolos (Ef 2.20)”.13
Michael
L. Dusing alega:
Várias são as razões para crermos que a Igreja teve sua origem ou pelos menos foi publicamente reconhecida pela primeira vez no dia de Pentecostes. Embora na era pré-cristã Deus certamente se associasse a uma comunidade pactual de fieis, não há evidências claras de que o conceito de Igreja existisse no período do Antigo Testamento. Ao citar expressamente ekklesia pela primeira vez (Mt 16.18), Jesus falava de algo que iniciaria no futuro (“edificarei” [gr. oikodomêső] é um verbo no futuro simples, não uma expressão de disposição ou determinação). Na condição de corpo de Cristo, é natural que a Igreja dependa integralmente da obra concluída por Ele na Terra (sua morte, ressurreição e ascensão) e da vinda do Espírito Santo (Jo 16.7; At 20.28; 1 Co 12.13). Millard L. Erickson observa que Lucas não emprega ekklesia em seu evangelho, mas a palavra aparece 24 vezes em Atos dos Apóstolos. Este fato sugere que Lucas não tinha nenhum conceito da presença da Igreja antes do período abrangido em Atos. Imediatamente após aquele grande dia em que o Espírito Santo foi derramado sobre os crentes reunidos, a Igreja começou a propagar poderosamente o Evangelho, conforme fora predito pelo Senhor ressurreto em Atos 1.8. A partir daquele dia, a Igreja continuou a propagar-se e a aumentar no mundo inteiro, mediante o poder e orientação daquele mesmo Espírito Santo.14
É relevante o fato de que o apóstolo Paulo
afirma: “Pois todos fomos batizados por um só Espírito, a fim de sermos um só
corpo, quer judeus, quer gregos, quer escravos, quer livres; e a todos nós foi dado
beber de um único Espírito” (1 Co 12.13, KJV). A preposição en, que aparece no
texto grego e que a versão ARC traduz como “em” é mais bem compreendida no seu
sentido instrumental, isto é, “por”, como o faz a versão da Bíblia King James.
A tradução mais fiel ao texto grego, que possui um sentido instrumental nesse
aspecto, é “por um Espírito”. Quando recebemos a Cristo como Salvador, é o
Espírito Santo que nos batiza no Corpo de Cristo. Esse é um batismo de
iniciação. Ele faz de nós membros do Corpo de Cristo. A igreja, isto é, o Corpo
de Cristo, é o elemento em que somos batizados, e o Espírito Santo (1 Co 12.13)
é o agente desse batismo. Por outro lado, o batismo no Espírito, no qual Cristo
é o agente, é um batismo de capacitação (At 2.1-4; 10.44-46; 19.1-6). São,
portanto, duas coisas diferentes.
O Corpo de Cristo (Livro de Apoio Adulto)
Jose Goncalves
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